O ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) disse que até o fim de abril haverá um “colapso” no sistema de saúde do Brasil por causa da velocidade de propagação do novo coronavírus. O colapso, segundo o ministro, é a falta de capacidade para atendimento de todos os doentes. Ele citou a Itália como um sistema de primeiro mundo que suportou pouco. Ontem foi confirmada a 11.ª morte pela covid-19 e o governo declarou que o País vive estado de transmissão comunitária, quando não é mais possível rastrear a origem da infecção. Na mesma entrevista coletiva da qual participava o ministro, o presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar a pandemia. Questionado pelo Estado se divulgaria o resultado dos exames realizados para saber se havia contraído o novo coronavírus, voltou a se referir à doença como algo menor. “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”, disse. Bolsonaro criticou medidas adotadas por governadores, em especial João Doria (PSDBSP) e Wilson Witzel (PSC-RJ). Em resposta, Doria afirmou que os chefes do Executivo estão tomando atitudes porque o presidente se omite. Na Itália – que ultrapassou a China como o país a registrar mais mortos pela doença –, 627 pessoas morreram em 24 horas. O total de óbitos era de 4.032.
● Governo admite que, no pico da doença, faltará capacidade de tratamento para todos os doentes ● Brasil registra 11 mortes e vive estado de transmissão comunitária do novo coronavírus ● Atrito entre presidente e governadores de SP e RJ se amplia
Bolsonaro confronta ação de Estados, que reagem
Caio Sartori, Emilly Behnke, Gregory Prudenciano, Julia Lindner, Marlla Sabino e Pedro Caramuru | O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA RIO SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro criticou ontem medidas adotadas por governadores para evitar a disseminação do coronavírus. Na visão dele, ações como o fechamento do comércio, adotado nas maiores cidades do País e defendido por especialistas, podem prejudicar a economia e serem usadas para enfraquecêlo politicamente. O paulista João Doria (SP) afirmou que os chefes do Executivo estão tomando atitudes porque o presidente se omite. Wilson Witzel (PSC), do Rio, classificou como “passo de tartaruga” a velocidade do Planalto em dar respostas à crise.
As críticas aos governadores foram feitas nas duas vezes em que Bolsonaro apareceu publicamente ontem. “Tem certos governadores que estão tomando medidas extremas, que não competem a eles, como fechar aeroportos, rodovias, shoppings e feiras”, disse o presidente, pela manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada. Mais tarde, numa entrevista coletiva, ele voltou ao assunto. “Tem um governo de Estado que só faltou declarar independência do mesmo”, afirmou, sem detalhar sobre a que se referia.
“Tem uns falando em liberar pedágio, energia. Aí cria expectativa. O governo federal e estadual não têm condições de bancar isso. Essas falsas expectativas não podem vir no bojo de uma campanha política”, declarou o presidente. Dois dos chefes de Executivo estadual que reagiram às falas de Bolsonaro já demonstraram pretensão de concorrer às eleições em 2022.
“Estamos fazendo o que deveria ser feito pelo líder do País, o que o presidente Jair Bolsonaro, lamentavelmente, não faz. E, quando faz, faz errado”, criticou Doria, que virou adversário do presidente ainda no ano passado, embora tenha vencido a eleição de 2018 amparado no “BolsoDoria”.
Bolsonaro disse ter ficado “preocupado” ao saber que Witzel decidira fechar as divisas do Estado e suspender o transporte de passageiros por terra e ar. A medida afeta voos nacionais e internacionais. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) chegou a divulgar nota dizendo que caberia à União determinar o fechamento. Também adversário político do presidente, Witzel criticou o uso político da crise. “O governo federal precisa entender que não é hora de fazer política”, escreveu o governador fluminense no Twitter. “É hora de trabalhar e ajudar os empresários que vão quebrar, as pessoas que vão perder o emprego e os que vão morrer de fome”.
Apesar dos ataques feitos ontem, o presidente afirmou que está a disposição dos Estados. “Nossos ministros estão todos solícitos, ninguém está orientado a fugir de ninguém. Não terá qualquer discriminação para qualquer governador.”
A crítica aos governadores é só mais um episódio da relação conflituosa entre o presidente da República e a Federação. Bolsonaro entrou em conflito com governadores ao culpá-los por não baixar o preço da gasolina e ao comparar a morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, baleado pela polícia da Bahia, à “queima de arquivo do caso Celso Daniel”.
“É a visão dele (Bolsonaro). Ele, como nós, tem o direito de pensar diferente. Eu pessoalmente estou tratando do assunto (coronavírus) sem politizar, até porque política não deve se misturar com problemas de saúde graves como esse”, disse o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Assim como aconteceu em São Paulo e no Rio, o governo do Distrito Federal determinou o fechamento do comércio por causa do novo coronavírus.