domingo, 26 de outubro de 2014

Opinião do dia – Aécio Neves

"Nós assistimos ontem um atentado contra a democracia e a liberdade de expressão. Essa é uma marca extremamente preocupante dos nossos adversários.

Ao tentar proibir a circulação desta revista, há uma demonstração clara do descompromisso do Partido dos Trabalhadores com a democracia. É um atentado que deve receber o repúdio da população.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República, Entrevista em BH, 25 de outubro de 2014.

Aécio volta a subir e eleição está indefinida

• Ibope aponta vantagem para Dilma, e Datafolha mostra empate técnico no limite da margem de erro

- O Globo

RIO - As pesquisas divulgadas neste sábado pelo Ibope e pelo Datafolha mostram que a presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), segue à frente do adversário, Aécio Neves (PSDB), nas intenções de voto. Para o Ibope, a diferença entre os dois candidatos está fora da margem de erro de dois pontos para mais ou para menos; o Datafolha aponta empate técnico.

Segundo o Ibope, Dilma tem 49% das intenções de voto, contra 43% de Aécio. A diferença, que era de oito pontos percentuais (49% a 41%) no levantamento anterior, caiu para seis pontos. Já o Datafolha mostra a presidente com 47%, e seu adversário, com 43% – a diferença, que era de seis pontos (48% a 42%) passou para quatro pontos percentuais.

Os eleitores que declararam ao Ibope que votariam nulo ou em branco somaram 5% do total – dois pontos percentuais a menos que na pesquisa anterior –, e 3% não souberam dizer ou não quiseram responder. A pesquisa do Datafolha trouxe números idênticos.

Considerando apenas os votos válidos – ou seja, excluindo os votos em branco e nulos, como é feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para divulgar os resultados oficiais das eleições – a petista tem 53% e o tucano, 47%, segundo o Ibope. O Datafolha mostra Dilma com 52%, novamente empatada no limite da margem de erro com Aécio, que tem 48%.

Pesquisas anteriores
Os levantamentos anteriores dos dois institutos, divulgados no último dia, apontavam vantagem maior para Dilma.

O Ibope ouviu eleitores em municípios, e o Datafolha, eleitores em municípios. Em ambos os casos, o nível de confiança – a probabilidade de que o resultado, considerando a margem de erro, reflita a realidade – é de 95%.

A pesquisa do Ibope foi registrada no TSE sob o protocolo BR-01221/2014; a do Datafolha, sob o protocolo BR- 01210/2014.

Dilma, com 52%, e Aécio, 48%, estão em empate técnico, aponta Datafolha

Ricardo Mendonça - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha com entrevistas realizadas nesta sexta (24) e neste sábado (25) mostra que o segundo turno da eleição presidencial chega ao final com uma disputa bastante acirrada entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB).

Na conta dos votos válidos, que exclui brancos, nulos e indecisos, Dilma marcou 52%, Aécio alcançou 48%.

Trata-se de um empate técnico no limite máximo da margem de erro, que é de dois pontos para mais ou para menos.

A probabilidade maior que é Dilma esteja à frente. Isso porque a situação de empate efetivo só ocorre numa combinação que considera os máximos da margem de erro para cada um em sentidos opostos (Dilma para baixo, Aécio para cima).

Na pesquisa anterior do Datafolha, nos dias 22 e 23, Dilma tinha 53%, Aécio 47%, uma diferença fora da margem. A oscilação negativa da petista mostra agora que ela parou de abrir vantagem sobre o rival.

Em votos totais, o placar da última pesquisa do segundo turno é Dilma 47% ante 43% de Aécio. Brancos e nulos somam 5%. Outros 5% não sabem em quem votar.

Os números da atual pesquisa não podem ser confundidos com uma tentativa de previsão dos resultados da eleição deste domingo. O levantamento é um retrato da corrida eleitoral no período em que as entrevistas foram feitas. Com a maior das entrevistas foram realizadas nesta sexta, o levantamento não é capaz de captar com precisão eventuais mudanças de opinião no sábado. Nem tem como identificar eventuais alterações no próprio domingo.

O Datafolha também investigou as taxas de rejeição e convicção dos candidatos.

Aécio é rejeitado por 41% (eram 40% na pesquisa anterior). Acerca de Dilma, 38% dizem não votar nela "de jeito nenhum" (eram 39%). Sobre a certeza do voto, 46% responderam que "votariam com certeza" na petista, enquanto 41% "votariam com certeza" no tucano.

Por encomenda da Folha e da TV Globo, o Datafolha ouviu 19.318 eleitores em 400 municípios. O nível de confiança é 95%. O registro da pesquisa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é BR-1210/2014.

CNT/MDA: Aécio inverte queda, volta a subir e passa à frente de Dilma

• Considerando votos válidos, levantamento aponta que Aécio Neves tem 50,3% das intenções e Dilma Rousseff tem 49,7%.

Agência CNT de Notícias

Intenção de voto para presidente (espontânea)
Aécio Neves (44,4%), Dilma Rousseff (43,3%)

2º Turno - intenção de voto para presidente (estimulada)
Aécio Neves (PSDB) – 45,3%
Dilma Rousseff (PT) – 44,7%

Votos válidos
(percentual calculado excluindo os percentuais de branco, nulo e indecisos)
Aécio Neves (PSDB) – 50,3%
Dilma Rousseff (PT) – 49,7%

Limite de voto
Dilma Rousseff: é a única em que votaria (37,9%); é uma candidata em que poderia votar (17,3%); não votaria nela de jeito nenhum (43,3%); não conhece/não sabe quem é/ nunca ouviu falar (0,1%).

Aécio Neves: é o único em que votaria (38,4%); é um candidato em que poderia votar (16,3%); não votaria nele de jeito nenhum (42,8%); não conhece/não sabe quem é/ nunca ouviu falar (1,1%).

A 126ª Pesquisa CNT/MDA mostra que Aécio Neves está numericamente à frente de Dilma Rousseff. Importante ressaltar que Aécio inverteu a curva de queda e voltou a subir.

Provavelmente, o debate da Rede Globo definiu as eleições, com grandes possibilidades de Aécio ser eleito presidente da República neste domingo.

A Pesquisa realizada 23 e 24 de outubro de 2014 e divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR - 01199/2014. Foram entrevistadas 2.002 pessoas de 137 municípios de 25 Unidades da Federação.

Campanha chega ao fim com resultado em aberto e disputa mais acirrada desde 1989

• Petista para de subir, mas mantém vantagem acima da margem de erro sobre tucano; Datafolha aponta empate técnico entre candidatos

José Roberto de Toledo – O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff (PT) chega à véspera da eleição com 53% das intenções de votos válidos, contra 47% de Aécio Neves (PSDB), segundo a última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo da campanha presidencial. A diferença está fora da margem de erro, de 2 pontos, para mais ou para menos. No levantamento anterior, concluído na quarta-feira, Dilma tinha 54% e Aécio, 46%. As entrevistas da última pesquisa Ibope desta campanha foram feitas na sexta-feira e sábado.

Em votos totais, Dilma segue com 49% das intenções de voto, enquanto Aécio passou de 41% para 43%. Esses dois pontos a mais vieram dos brancos e nulos, que oscilaram negativamente de 7% para 5%. Os indecisos são 3%. Eles se decidirão praticamente no momento de votar.
A pesquisa mostra uma interrupção da tendência de crescimento que as intenções de voto em Dilma tiveram entre a semana passada e quarta-feira. Como é um ponto isolado na curva, não é possível saber se a diminuição da diferença entre ela e Aécio indica uma reversão da tendência em favor do tucano ou se é oscilação estatística.

Entre uma pesquisa e outra houve o debate na TV Globo, na noite de sexta-feira, que alcançou 30 pontos de audiência - média alta para o horário. O tucano questionou a petista sobre reportagem da revista Veja, segundo a qual o doleiro Alberto Youssef teria dito em depoimento à Justiça que Dilma sabia da corrupção na Petrobrás. A presidente refutou a acusação e disse que processaria a revista por injúria e calúnia.

A pesquisa Ibope foi contratada pelo Estado e pela TV Globo. Foram ouvidos 3.010 eleitores, em 206 municípios de todas as regiões, entre sexta-feira e ontem. A margem de erro é dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, em um intervalo de confiança de 95% - se a mesma pesquisa fosse realizada ao mesmo tempo 100 vezes, em 95 delas o resultado esperado estaria dentro da margem de erro. A pesquisa foi registrada no TSE com o protocolo 01195/2014.

Empate. Pesquisa Datafolha divulgada no sábado mostra Dilma e Aécio em empate técnico, no limite da margem de erro. A presidente aparece com 52% das intenções de voto, ante 48% de Aécio, considerando-se os votos válidos. No levantamento anterior do instituto, de quinta-feira, Dilma tinha 53% e Aécio, 47%. Levando em conta os votos totais, Dilma tem agora 47% e Aécio, 43%. Os votos em branco e nulos somam 5%, o mesmo porcentual dos indecisos.

A pesquisa, encomendada pela TV Globo e pelo jornal Folha de S. Paulo, fez 19.318 entrevistas em 400 municípios sexta-feira e ontem. Com margem de erro de dois pontos porcentuais e intervalo de confiança de 95%, está registrada no TSE sob o número BR-01210/2014.

O momento é de conciliação – O Globo / Editorial

• Dividir o país prejudica todos, a começar pelo próximo presidente. Apesar da agressividade da campanha, tem de haver o convívio civilizado entre forças políticas

As eleições de 2014 têm características marcantes. Como no momento histórico da volta dos civis ao poder, em 1985, ainda pelo voto indireto, o país sofreu o baque de uma tragédia. Naquele tempo, foram a agonia e a morte de Tancredo Neves, eleito e não empossado, substituído pelo vice José Sarney. Quase 30 anos depois, enquanto os candidatos iniciavam a disputa, ocorreu o trágico acidente aéreo com Eduardo Campos, candidato pelo PSB, presidente do partido, ex-governador de Pernambuco.

O destino colocou Marina Silva, sua vice, na corrida presidencial — tudo o que o PT, há quase 12 anos no Planalto, não desejava, depois dos 20 milhões de votos que a ex-petista e ex-ministra de Lula obteve em 2010 sob a legenda do PV. Sem conseguir fundar o próprio partido, a Rede, Marina se aliou a Campos, e uma fatalidade ressuscitaria seu planos políticos para 2014.

A campanha recebeu uma overdose de emoções enquanto Marina, como temia o PT, era confirmada pelas pesquisas como grande e real ameaça ao projeto petista de manter Dilma Rousseff por mais quatro anos no Planalto e, assim, completar quatro mandatos consecutivos no controle do Executivo.

Neste ponto, a campanha começou a ganhar em agressividade, e passou a se aproximar do que foi o segundo turno das eleições de 1989, as primeiras com voto direto depois do fim da ditadura militar.

Naquele embate entre Fernando Collor e Lula , o PT foi vítima de golpes abaixo da linha de cintura, desfechados pela equipe do político alagoano, vencedor do pleito para vir a sofrer impeachment três anos depois.

A vítima de 1989 seria o algoz em 2014. Já na reeleição de Lula, em 2006, o PT dos aloprados aderira ao vale-tudo eleitoral. O modelo de campanha continuou o mesmo, mas se sofisticou nas técnicas de “desconstrução” dos adversários, sob o comando da marquetagem política, com a mobilização de ferramentas digitais à disposição na internet e fora dela.

A campanha de 2014 resvalou para a infâmia quando, por exemplo, explorou a relação política e pessoal entre Marina e Neca Setúbal, especialista em Educação, mas usada pelos petistas por ser herdeira do Itaú-Unibanco.
Ou ao transformar a aceitável veemência com que o tucano Aécio Neves debateu com Luciana Genro e Dilma, na TV, numa ameaça dele contra mulheres, assunto que passou a ser explorado, de forma sibilina pelo discurso petista. Há outros exemplos de vilanias.

Outro aspecto pernicioso das eleições de 2014 foi a exploração do perigoso e conhecido discurso de divisão do país entre “nós” e “eles”, entre Norte/Nordeste e o resto do país, entre ricos e pobres.

Trata-se de um viés que prejudica todos. O país e, em particular, o presidente que sai hoje das urnas, herdeiro de um extenso inventário de ressentimentos e que precisa governar no efetivo sentido da palavra.

A agressividade desmedida da campanha coloca a sociedade e, em especial, os políticos diante da imprescindível necessidade de desarmar espíritos e construir bases para um convívio civilizado.

Nada deve interessar a qualquer força política, vitoriosa ou derrotada, a não ser a conciliação, com o devido respeito às leis, às instituições. Independentemente do número de votos que tenha esta ou aquela corrente político-ideológica.

O Brasil completa 26 anos, um quarto de século, sob a vigência do estado democrático de direito. A sétima eleição geral consecutiva depois do fim da ditadura, com voto direto, solidifica esta marcha. Mas ela precisa ser sancionada no exercício cotidiano dos mandatos concedidos pelo voto popular, sem conflitos que não sejam aqueles normais em qualquer democracia, mediados pelas regras constitucionais aplicadas pelos poderes republicanos.

Um voto pela reconciliação nacional – O Estado de S. Paulo / Editorial

A responsabilidade que a eleição presidencial de hoje coloca sobre os ombros dos cidadãos brasileiros se estende para muito além dos quatro anos do novo mandato do chefe de governo. Ao cabo de 12 anos do PT no poder e de uma campanha eleitoral em que predominou o mais inescrupuloso marketing em prejuízo do embate de ideias, o Brasil se acha dividido. Por enquanto, apenas em termos eleitorais.

Mas o terreno está ameaçadoramente preparado para fazer germinar a cizânia social. Mais quatro anos de PT podem significar a transformação da cada vez mais aguda hostilidade da polarização "nós" versus "eles" num conflito social escancarado cuja primeira vítima será a democracia.

Essa perspectiva assustadora será a consequência natural da política de deliberada divisão da Nação sobre a qual o lulopetismo tenta consolidar seu projeto de poder. O PT, criado há 35 anos com a generosa ideia de promover o fim das injustiças sociais, perdeu-se ao longo da jornada. Seus melhores quadros, plenos de idealismo político, abandonaram a legenda ou foram dela descartados ao sabor das conveniências dos donos do partido.

O PT transformou-se numa enorme máquina que, para permanecer no poder, se aliou àqueles que antes combatia ferozmente como inimigos do povo. E, nessa linha, não tem o menor escrúpulo de focar sua ação, tanto na vida partidária como no exercício do poder, tão somente naquilo que rende votos. O discurso petista, do qual Lula é o principal mentor e melhor exemplo, tem três matrizes: dizer exclusivamente o que as pessoas desejam ouvir; quando na defensiva, assumir o papel de vítima; e, na ofensiva, tratar os adversários como inimigos a serem destruídos.

Em sua defesa, o PT não pode nem mais alegar que a mudança de rota em relação ao curso originalmente traçado ocorreu por imposição das circunstâncias e da necessidade de garantir com pragmatismo a governabilidade em benefício dos despossuídos. A tal história dos fins que justificam os meios.

Esse argumento desmorona quando todos os indicadores sociais e econômicos revelam que os últimos quatro anos de governo petista, sob o comando de Dilma Rousseff, significaram retrocesso. O Brasil está hoje muito pior do que quando a atual candidata à reeleição assumiu o poder.

Nessas circunstâncias, manipular importantes realizações petistas dos últimos 12 anos - pois é claro que existem, principalmente na área social - como se fossem obras do incompetente governo Dilma é um dos embustes a que o marketing eleitoral companheiro recorreu durante a atual campanha. Mas a peça de resistência da campanha eleitoral petista é aquela estocada no departamento dos recursos escusos. Primeiro, a tentativa - que contra Marina Silva deu certo no primeiro turno - de destruir a imagem do adversário com ataques infames e mentirosos. A tática foi insistentemente repetida agora contra Aécio Neves.

O mais infame da campanha lulopetista, no entanto, é o discurso em que os dirigentes do partido, imitando Lula, se especializaram: a instigação do conflito social, colocando "nós" contra "eles", e situando o PT como o último bastião de resistência do povo oprimido contra a ambição desmedida e a insensibilidade das "elites".

Qual o sentido de Lula declarar, desnudando sua natureza, que ao "agredir as mulheres" nos debates eleitorais Aécio Neves demonstrou que é capaz também de "pisar nos pobres"? Ou ao classificar o candidato tucano de "filhinho de papai"? E de equiparar seus adversários eleitorais a nazistas? É assim que se dissemina o ódio entre pessoas que deveriam, civilizadamente, apenas expor firmemente suas divergências programáticas com adversários políticos.
Quando a divergência se transforma em ódio, o caminho está aberto para o agravamento de tensões sociais e elas podem se tornar explosivas.

Hoje, cada brasileiro tem a oportunidade de conter essa ameaça, votando no candidato que se propõe - e está credenciado para a tarefa - a reconciliar o Brasil consigo mesmo: Aécio Neves.

Recomeço – Folha de S. Paulo / Editorial

• Reconciliação política, ajustes econômicos e conquista do apoio parlamentar são tarefas que esperam quem vencer a eleição de hoje

Encerra-se hoje uma disputa presidencial marcada, de forma inédita desde a redemocratização, pela imprevisibilidade e pela emoção.

Depois da morte trágica de Eduardo Campos (PSB), a 13 de agosto, três ondas sucessivas se registraram nas preferências do eleitorado, beneficiando inicialmente Marina Silva (PSB), levando Aécio Neves (PSDB) ao segundo turno e, agora, restituindo à presidente Dilma Rousseff (PT) leve favoritismo na reta final da campanha.

Fosse o conjunto dos eleitores uma só pessoa, é como se assistíssemos à busca, simultaneamente desesperada e repleta de esperança, de uma saída para problemas que não têm, por sua própria natureza, uma única resposta.

A persistência de sérias desigualdades sociais, a estagnação econômica, a ameaça de um recrudescimento inflacionário, a corrupção, a péssima qualidade dos serviços públicos e os desequilíbrios insustentáveis da vida rural e urbana não poderiam encontrar nas propostas de um único candidato a sua solução indubitável.

O que poderia haver de messiânico e de conciliador na ideia de uma "terceira via", tal como apresentada por Marina, soçobrou nas fragilidades da candidatura, exploradas de resto por uma impiedosa campanha de contrainformação.

Bastou começar o segundo turno para que a "terceira via" se esvanecesse. Ressurgiu, intensificada pela estreita diferença entre Dilma e Aécio nas pesquisas, a clássica polarização PT-PSDB. Não foram pequenos os reflexos na violência verbal da campanha e no lamentável desvio do debate público para o plano dos ataques pessoais.

A imagem do eleitorado como uma só pessoa, hesitando entre diversas saídas, revelou-se inadequada. Voltou a metáfora de um Brasil dividido, ilustrada nos mapas eleitorais em que o vermelho e o azul preenchiam as regiões mais ricas e mais pobres do país.

O lema dos "pobres" contra os "ricos", na enganosa propaganda do PT, ou dos "informados" contra os "desinformados", numa infeliz sugestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), tem valor quase nulo quando se contam em dezenas de milhões os simpatizantes de cada candidatura.

Nem seria possível haver tantos "ricos" apoiando Aécio nem se pode creditar à ignorância o respaldo que Dilma encontra em parte expressiva dos brasileiros.

Quem quer que vença hoje terá pela frente o desafio de reconciliar uma sociedade atualmente friccionada pelas paixões eleitorais.

Terá de reconciliar, ainda, as aspirações pela mudança com a necessidade de obter, espera-se que com mais limpidez, sua base de apoio num Congresso esfacelado.

O próximo ano virá com dificuldades na área econômica que o improviso não conseguirá contornar. Tanto Dilma Rousseff como Aécio Neves são dignos da tarefa; que um deles a empreenda, porém, é algo que nem mesmo seus apoiadores podem assegurar com confiança.

TSE censura 'Veja' e concede direito de resposta ao PT

• Ministro que já atuou para a sigla em 2010 proíbe publicidade da revista a pedido da campanha de Dilma; editora Abril recorre

• A presidente e Aécio repudiaram atos de vandalismo na editora por simpatizantes da candidatura petista

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ministro do Tribunal Superior Eleitoral Admar Gonzaga decidiu censurar a revista "Veja", impedindo-a de veicular publicidade em rádio, TV, outdoor e internet de sua edição desta semana, e concedeu direito de resposta ao PT contra a publicação.

O veto à publicidade foi determinado na sexta-feira (24) a pedido da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT). A concessão do direito de resposta foi decidida em sessão extraordinária na noite deste sábado (25).

A decisão é liminar e tem efeitos imediatos, mas ainda será julgada pela corte. Como a próxima sessão do TSE ocorre só após as eleições deste domingo (25), a resposta deve ser publicada "de imediato" no site da revista.

O ministro também ordena que o PT use o espaço da revista na próxima semana para esclarecimentos. A editora Abril, que publica a "Veja", recorrerá das decisões.

Para o ministro, a publicidade da revista transformou-se em "publicidade eleitoral" em favor de Aécio Neves (PSDB). Gonzaga foi advogado de Dilma durante a campanha de 2010 e nomeado por ela para o TSE em 2013.

Segundo apuração da "Veja", confirmada pela Folha, o doleiro Alberto Youssef disse à Polícia Federal e ao Ministério Público que Dilma e o ex-presidente Lula tinham conhecimento do esquema de corrução na Petrobras. Ambos negam e ameaçam ir à Justiça contra a revista.

O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Domingos Meirelles, chamou de "inconstitucional" a decisão do TSE de vetar a publicidade da revista.

Para ele, a intervenção, além de extemporânea, "fere a liberdade de imprensa e agride o Estado de Direito". A "Veja" não se manifestou até a conclusão desta edição.

Ataques à Abril
Na noite de sexta, um grupo de aproximadamente 200 pessoas que foi protestar contra a revista espalhou lixo na entrada da empresa e fez pichações. Entre os manifestantes, estavam integrantes da UJS (União da Juventude Socialista), entidade que apoia o PT. Três pessoas foram detidas pela polícia para averiguações e, depois, liberadas.

A presidente Dilma e o candidato do PSDB, Aécio Neves, repudiaram neste sábado os atos na sede da Abril. "Isso é barbárie, deve ser coibido", disse Dilma, em Porto Alegre.

Em São João del-Rei (MG), Aécio disse que o país assistiu "um atentado à democracia" com as depredações e tentativa de "censura". Para ele, a intolerância é "marca de nossos adversários".

Sobre o ataque à sede da Abril, a ABI disse que são "condenáveis num regime democrático". "A História tem mostrado como manifestações de intolerância política dessa natureza costumam terminar. Nosso passado recente é rico de exemplos do que sempre acontece quando a imprensa é impedida de cumprir sua missão."

A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) e a Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas) divulgaram nota em que repudiaram os ataques.

A Folha apurou que a editora Abril imprimiu mais exemplares para repor a falta da "Veja" em algumas bancas do país. Militantes radicais teriam retirado cópias da revista de estabelecimentos e intimidado jornaleiros, o que prejudicou o fluxo normal das vendas do título

Associações de imprensa repudiam ataque a prédio da Editora Abril em São Paulo

• Sede da empresa, que publica "Veja", foi pichada na noite de sexta-feira

- O Globo

SÃO PAULO — O ataque à sede da editora Abril, que publica a revista "Veja", na noite desta sexta-feira, foi duramente criticado por jornalistas e associações de imprensa. A fachada do prédio, na Marginal Pinheiros, em São Paulo, foi pichada. A depredação seria uma resposta à reportagem de capa da revista, publicada na última quinta-feira, que afirma que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma estariam cientes de atos de corrupção praticados na Petrobras, segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef à Justiça do Paraná.

Em nota, o atual presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), José Roberto de Toledo afirmou que "defende a liberdade de expressão sem limitações. Essa liberdade só existe quando todos, sem exceção, expressam seus pontos de vista - concorde-se ou não com eles. A contrapartida dessa liberdade é a responsabilização perante a lei de quem expressou esses pontos de vista. Qualquer veículo de imprensa tem o direito de publicar o que apurou. Quem não concorda com o publicado tem o direito de protestar - respeitados os limites legais. Excessos de parte a parte devem ser julgados e, se for caso, punidos pela Justiça.".

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) afirmou em nota que “repudia veementemente os ataques”. “A Abert acompanha com preocupação episódios como o de sexta-feira, pois a entidade considera grave qualquer “ato de intimidação à liberdade de imprensa”. A Abert lembra que a Declaração de Chapultepec, da qual o Brasil é signatário, aponta uma imprensa livre “como uma condição fundamental para que as sociedades resolvam os seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam sua liberdade”, disse a associação em nota.

Em nota, o diretor executivo da ANJ, Ricardo Pedreira, qualificou a ação como “uma lamentável tentativa de intimidação própria de quem não sabe conviver na democracia e num país com liberdade de imprensa”.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também emitiu nota sobre o caso, qualificando como “inconstitucional” a decisão do TSE que impediu a veiculação de publicidade da edição. Assinada pelo presidente da entidade, Domingos Meirelles, o texto diz que a ação do TSE “além de extemporânea, fere a liberdade de imprensa, agride o Estado de Direito e conspurca os princípios que regem a atividade econômica em nosso país”. Ainda para a organização, o argumento do tribunal é “inconsistente e falacioso”. O ataque foi igualmente condenado pela organização.

Segundo um representante da editora que registrou boletim de ocorrência no 14º DP, cerca de 200 pessoas participaram do protesto,na sexta-feira. Um caminhão de som União da Juventude Socalista, ligada ao PCdoB, também estaria no local. Três pessoas foram detidas pela Polícia Militar, levadas para a delegacia e liberadas em seguida. Além de picharem os muros do prédio com dizeres como “Veja mente”, também rasgaram revistas e jogaram lixo na porta da editora.

Neste sábado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atendeu pedido de liminar da coligação da candidata Dilma Rousseff e proibiu a revista “Veja” de fazer publicidade da edição deste fim de semana. De acordo com a decisão do ministro do TSE, Admar Gonzaga, a revista Veja está proibida de utilizar rádio, televisão, outdoors e link patrocinado para divulgar a capa.

Em Minas, Aécio critica 'descompromisso' de Lula com democracia

• Antes de visitar o túmulo de Tancredo, tucano também afirma que petista cometeu 'atentado' e que pesquisas terão que 'se reciclar'

Elizabeth Lopes e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

SÃO JOÃO DEL REI - Em seu último evento oficial de campanha, neste sábado, 25, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, voltou a criticar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criticou os atos de vandalismo contra a sede da Editora Abril, que edita a revista Veja, e também reclamou dos institutos de pesquisas eleitorais.

O tucano classificou como um 'atentado contra a democracia' a reação do petista à reportagem de capa da publicação, divulgada nesta sexta-feira, 24, segundo a qual ele e a candidata Dilma Rousseff (PT) sabiam do esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás, de acordo com depoimento do doleiro Alberto Youssef à Justiça Federal.

"Nós assistimos ontem um atentado contra a democracia e a liberdade de expressão. Essa é uma marca extremamente preocupante dos nossos adversários", afirmou o tucano em entrevista concedida dentro do Solar das Neves, como é conhecida a residência da família Neves em São João del Rei, no interior de Minas Gerais, onde Tancredo Neves começou sua carreira política.

"Ao tentar proibir a circulação desta revista, há uma demonstração clara do descompromisso do Partido dos Trabalhadores com a democracia. É um atentado que deve receber o repúdio da população", disse o tucano.

Aécio Neves, sua mãe, Inês Maria Neves da Cunha, sua esposa, Letícia Weber, e os filhos na Igreja de São Francisco de Assis, no centro histórico de São João del Rei, no interior de MG

Ainda sobre o ex-presidente Lula, Aécio voltou dizer que ele se "apequenou" na campanha. "O ex-presidente Lula se apequenou nesta campanha. Sai muito menor do que entrou. Como sou um homem generoso, vou buscar sempre na minha memória os rasgados elogios que ele fez a mim no nosso convívio."

O tucano creditou as críticas que vem recebendo de Lula, que chegou a chamá-lo de filhinho de papai em um comício, ao "desespero final da campanha". "Perceberam que, pela primeira vez em 12 anos, há uma possibilidade real de derrota" , afirmou Aécio.

O candidato falou sobre os números divergentes das pesquisas de opinião. "Todos os institutos terão que se reciclar. Os erros foram grosseiros no primeiro turno." No final desta semana, os institutos Ibope e Datafolha apontaram Dilma à frente do tucano.

Depois da entrevista, o presidenciável visitou o túmulo de Tancredo Neves ao lado da Igreja de São Francisco, cumprindo uma tradição de todas as eleições.

Zander Navarro - A tragédia petista

- O Estado de S. Paulo

Peço licença, inicialmente, para um breve relato pessoal. Nos anos 1980 contribuí mensalmente com parte do meu salário para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Os depósitos duraram de dois a três anos, quando a campanha foi encerrada, por falta de adesão. Com sacrifício, cheguei a oferecer até 10% do meu ganho e ainda guardo os recibos. Por que fiz isso? Naqueles anos, saindo do ciclo militar e ansioso pela democracia, ingenuamente entendi ser o MST uma força que renovaria a oligárquica política rural. Como os seus militantes passaram a ameaçar as famílias em assentamentos, o sonho desmoronou e retornei à vida universitária.

Na época, quase todos nós apoiávamos o PT, mesmo não sendo filiados. Imaginávamos que o partido também forçaria transformações em alguma direção positiva. Ou a reforma social ou, ao menos, a democratização da sociedade. Vivíamos então um período febril de debates plurais e de experiências práticas. Lembram-se do "modo petista de governar"? Era simbolizado pelo orçamento participativo, que prometia a livre participação dos cidadãos em decisões públicas sobre os orçamentos municipais. Na campanha de 2002, contudo, o candidato petista mal falou do assunto e, no poder, o tema se esfumaçou.

O assombroso escândalo da Petrobrás, que nos deixa estupefatos, é apenas o efeito inevitável da história do Partido dos Trabalhadores. A causa original é um mecanismo que o diferencia das demais agremiações partidárias. Trata-se de um processo de mobilidade social ascendente, inédito em sua magnitude. Movimento que poderia ser virtuoso, se aberto a todos, pois seria a consequência do desenvolvimento social. Mas, na prática, vem sendo uma odiosa discriminação, pois é processo atado à filiação partidária.

O núcleo pioneiro do PT recrutou segmentos das classes baixas e mais pobres, mobilizados pelo campo sindical, pelos setores radicalizados das classes médias, incluindo parte da intelectualidade, e pela esquerda católica, ampliando nacionalmente o grupo petista inicial. À medida que o partido, já nos anos 90, foi conquistando nacos do aparato estatal, vieram os cargos para os militantes e, assim, a chance arrebatadora de ascender às vias do dinheiro, do poder, das influências e do mando pessoal. Esse foi o degenerativo fogo fundador que deu origem a tudo o que aconteceu posteriormente.

Inebriados, cada vez mais, pelo irresistível prazer do novo mundo aberto a essas camadas, até mesmo impensáveis formas de consumo, todos os sonhos fundacionais de mudança foram sendo estilhaçados ao longo do caminho, incluídos a razoabilidade e os limites éticos. O PT gerou dentro de si uma incontrolável ânsia de mobilidade, uma voragem autodestruidora inspirada na monstruosa desigualdade que sempre nos caracterizou. Conquistado o Planalto, não houve nem revolução nem reforma e o fato serviu, particularmente, para saciar a fome histórica dos que vieram de baixo.

Instalou-se, em consequência, o arrivismo e a selva do vale-tudo: foi morrendo o padrão Suplicy e entrou o modelo Delúbio-Erenice. Logo a seguir, ante a inépcia da ação governamental, também foi necessário impor a mentira como forma de governo. Por fim, o PT mudou de cabeça para baixo o seu próprio financiamento. Abandonou o apoio miúdo e generoso dos milhões que o sustentaram na primeira metade de sua história, pois se tornara mais cômodo usar o atacado para ancorar-se no poder. Primeiro, o mensalão e, agora, os cofres da Petrobrás.

Nessa espiral doentia de mudanças, a partir de meados dos anos 1990 o partido enterrou o seu passado. Sua capacidade de reflexão, por exemplo, deixou de existir e o imediatismo passou a prevalecer. Assim, um projeto de nação ou uma estratégia de futuro não interessavam mais. O pragmatismo tornou-se a máxima dessa nova elite e sob esse caminho o subgrupo sindical e seus militantes vêm pilhando o que for possível dentro do Estado. Examinados tantos escândalos, invariavelmente a maioria veio do campo sindical. E foi assim porque da tríade original dos anos 80, a classe média radicalizada e os religiosos abandonaram o partido.

Deixaram de reconhecê-lo como o vetor que faria a reforma, sobretudo moral, da política brasileira.

Entrando neste século, o PT não tinha nada mais para oferecer de distintivo em relação aos demais partidos. A aliança com o PMDB ou Lula abraçando Maluf foram decorrências naturais. Também por tudo isso, o campo petista reivindicar o monopólio da virtude é o mesmo que fazer de idiotas todos os cidadãos. No primeiro turno, a fúria das urnas demonstrou a reação indignada dos eleitores à falsidade.

O que vemos atualmente é a soma dessa descrição com as nossas incapacidades políticas de construção democrática em favor do bem comum. O PT é hoje uma neo-Arena que promove, sobretudo, o clientelismo nos grotões. Não aqueles definidos geograficamente, mas os existentes nos interstícios sociais, confundindo as pessoas por meio da mentira, do bolsismo e das mistificações de toda ordem. É uma trajetória vergonhosa para um partido que prometeu a lisura republicana, o aprofundamento democrático, a reforma de nossas muitas iniquidades e, especialmente, prometeu corrigir a principal deformação de nossa História, que é um padrão de desigualdade que nos infelicita desde sempre. É ação que igualmente vem abastardando o Estado, atualmente tornado disfuncional e semiparalisado em inúmeros setores.

Por todas essas razões, incluindo o benéfico aperfeiçoamento que, fora do poder, sofrerá o próprio PT, é preciso mudar. E com urgência, pois o Brasil se esfarinhará sob outros quatro anos dessa gigantesca manipulação política, o desprezo pela democracia, o primado da lealdade partidária sobre a meritocracia e a fulgurante incompetência técnico-administrativa do campo petista no poder.

Sociólogo, é professor aposentado da UFRGS

Ferreira Gullar - O futuro em jogo

• Não pretendo afirmar que o lulismo é a mesma coisa que o chavismo, uma vez que o Brasil não é a Venezuela

Neste domingo, quando cada um de nós depositará na urna o voto que elegerá ou não o seu candidato, sou levado a fazer algumas considerações a respeito desta eleição, cujo resultado, conforme creio, terá decisiva importância para o nosso futuro.

É verdade que em todas as eleições, particularmente nas presidenciais, interesses contraditórios estão sempre em jogo e o resultado do pleito sempre influirá no curso que a sociedade trilhará.

Creio, não obstante, que na disputa atual, a vitória ou a derrota deste ou daquele candidato terá consequências muito importantes para o futuro do país.

Isso se deve ao caráter que os governos do PT, nestes últimos 12 anos, imprimiram ao seu trato dos negócios públicos, seja no campo da economia, dos acordos partidários ou das relações internacionais.

Não há nenhum exagero em situar o governo petista como simpatizante do neopopulismo latino-americano, intitulado por Hugo Chávez de socialismo bolivariano.

De fato, com o desmoronamento do socialismo real, os partidários dessa ideologia viram-se diante da seguinte opção: ou aceitar o seu fim ou fazer de conta que ele continua vivo.

Sucede que, em consequência daquela derrocada, os partidos comunistas mais importantes, fora da URSS, como o francês e o italiano, a aceitaram.
Certamente, para outros partidos, sem a mesma consistência e sem o mesmo compromisso com aquela ideologia, foi mais difícil admitir que o sonho acabou. Optaram por um arremedo da opção marxista revolucionária, a que chamo de neopopulismo, ou seja, o populismo vindo da esquerda. O PT, sem outra alternativa, seguiu esse caminho.

Não pretendo afirmar que o lulismo é a mesma coisa que o chavismo, uma vez que o Brasil não é a Venezuela. E, por isso mesmo, não seria possível implantar aqui as mesmas medidas autoritárias que foram implantadas ali.

Em consequência disso, ao chegar ao poder, o lulismo teve que adotar as medidas básicas do Plano Real, do governo Fernando Henrique, que combatera ferozmente, como também a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Bolsa Alimentação e o Bolsa Escola. Criou o Bolsa Família, que juntava aqueles programas, sob outro nome. Ao mesmo tempo, para viabilizar seu governo, financiava generosamente grandes empresas capitalistas.

Como tinha que jogar com um pau de dois bicos, obrigado a privatizar, por exemplo, os aeroportos, estabeleceu regras que inviabilizaram a transação. Por outro lado, para aparentar que não deixara de ser de esquerda, tomava atitudes, no plano internacional, sempre contrárias às dos norte-americanos.

Assim, o Brasil punha-se ao lado de regimes antidemocráticos, como o do Irã, da Líbia, da Síria. Para deixar clara sua posição antinorte-americana, chegou a convidar para visita oficial ao Brasil o iraniano Ahmadinejad, célebre por afirmar que não houve o Holocausto.

Nessa mesma linha, na última Assembleia Geral da ONU, Dilma Rousseff tomou posição em defesa do Estado Islâmico, ao propor, em vez da repressão militar, o diálogo com os fanáticos que degolam inocentes diante das câmeras de televisão.

Acrescente-se a isso as propostas que os governos petistas têm feito com o propósito de controlar a ação da Polícia Federal, do Ministério Público e das decisões judiciais.

A vitória da Dilma pode significar um fortalecimento desse esquerdismo populista e, consequentemente, a crescente restrição aos princípios democráticos que regem a vida brasileira atualmente.

A tentativa de coibir a liberdade de imprensa caracteriza esse tipo de regime, a exemplo do que acontece na Venezuela e na Argentina.

Por outro lado, se Aécio Neves vencer as atuais eleições, o projeto petista sofrerá um sério golpe, uma vez que o aparato montado pelo PT, aparelhando ministérios e empresas estatais, será inevitavelmente desmontado.

Se é verdade que o propósito petista é se eternizar no poder, a derrota de Dilma poderia significar o retorno do Brasil ao caminho sensato, sem ameaças à liberdade de imprensa e à autonomia dos órgãos do Estado, do que resultaria a entrega da máquina governamental a técnicos e funcionários competentes.

Poeta, ensaísta, critico de arte. Eleito para ABL

Merval Pereira - A boca está fechando

- O Globo

No jargão dos institutos de pesquisa, os gráficos de pontuação formam o desenho da boca de um jacaré. Quando os índices de um candidato são maiores que os do adversário, o desenho é de uma boca de jacaré se abrindo, e geralmente essa tendência se mantém ao longo da disputa. A boca do jacaré se abrindo é sinal de vitória.

Ao contrário, quando a boca do jacaré vai se fechando, devido à redução da diferença entre os dois candidatos, é sinal de que a eleição pode estar caminhando para uma vitória apertada de quem está na frente, ou para uma reviravolta, dependendo do tempo existente até as urnas e as circunstâncias da disputa.

As pesquisas apresentadas ontem pelo Datafolha e pelo Ibope mostram a boca do jacaré se fechando, embora os dois institutos indiquem que o mais provável é a vitória da presidente Dilma. O Ibope é mais ousado e afirma que a presidente está muito perto de ser reeleita. Já o Datafolha mostra um empate técnico no limite da margem de erro, e diz que o mais provável é que a presidente esteja na frente, sem, no entanto, cravar nada.

Os dois institutos mostram uma parada do crescimento da presidente Dilma e um movimento ascensional do candidato do PSDB Aécio Neves. Além dos erros que os dois mais conhecidos institutos de pesquisa cometeram no primeiro turno, há uma série de outros institutos menores ou menos conhecidos que apontam resultados distintos.

A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) apresentou uma pesquisa do instituto MDA que mostra Aécio Neves na frente por uma pequena margem: 50,3%
49,7% A seu favor está o fato de que foi o primeiro instituto a registrar a virada da presidente Dilma no segundo turno, de 50,5% a 49,5%.

Já no Vox Populi, ligado ao PT, os números são 53,4% para Dilma e 46,5% para Aécio. O instituto Sensus, ligado ao PSDB, dá o contrário: Aécio 54,6% e Dilma 45,4%. Tudo indica, portanto, que a disputa está muito acirrada e chegaremos hoje nas urnas sem uma definição do resultado, como em eleições anteriores.

Fatores aleatórios poderão influenciar no resultado, como abstenção causada por chuvas ou dificuldade de condução em regiões mais distantes. Também há uma indefinição sobre votos nulos e em branco e ainda há um número de indecisos que podem mudar o resultado numa eleição tão apertada como aparenta ser esta.

Por região, na pesquisa do Ibope, temos alguns dados importantes. Dilma lidera com folga no Nordeste (68% a 27% dos votos totais), sem alterações na margem de erro em relação à última pesquisa, mas Aécio cresceu 3 no Sudeste, passando a vencer por 50% a 39%. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, ele parece estar recuperando a maior votação que chegou a ter, de 67%. Está no momento com 63% a 37%. Em Minas, tem 54% a 46%. No Rio, a diferença a favor de Dilma é grande: 51% a 37%.

Há empate técnico no Norte/Centro-Oeste (Dilma 48%, Aécio 45%) e no Sul Aécio subiu 2 pontos e a presidente perdeu 3, ficando com 43%, enquanto o candidato do PSDB tem 47%.

A mais recente polêmica da eleição é a da edição antecipada da revista Veja com uma reportagem que revela que o doleiro Alberto Yousseff disse aos promotores que o ouvem na delação premiada que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma sabiam de todo o esquema de corrupção na Petrobras.

O PT denunciou a reportagem como golpista e membros da Juventude Socialista vandalizaram a sede da Editora Abril, que publica a revista, em São Paulo. O partido tentou ainda impedir a circulação da revista e conseguiu no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma proibição de divulgar a capa em qualquer mídia, o que foi denunciado pelos órgãos de defesa da liberdade de imprensa como um atentado à livre informação.

O PT mostrou nesse caso, além da habitual intolerância à imprensa independente, que tem dois pesos e duas medidas, pois no debate do SBT a presidente Dilma perguntou a Aécio sobre uma denúncia que acabara de ser publicada no site da Folha de S. Paulo, de que o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, já falecido, havia recebido dinheiro do esquema da Petrobras para boicotar a CPI sobre a estatal.

A notícia foi negada dias depois pelo próprio Yousseff, mas já fora utilizada no debate sem que ninguém do PT achasse golpe sua publicação em meio à campanha eleitoral.

Dora Kramer - Foi ruim, mas foi bom

- O Estado de S. Paulo

Foi bom, mas foi ruim. Ou vice-versa. O lado bom: o interesse, engajamento, entusiasmo do eleitorado, volta de comícios, despertar de setores recolhidos ao silêncio nos últimos tempos e a competição acirrada que demonstra a inexistência de hegemonia de uma só força política no País. Há polarização, o que é bem melhor que unanimidade. Há vigor, o que é bem melhor que a apatia.

O lado ruim: a rudeza recorrente e crescente na maneira de as pessoas se relacionarem com os fatos, as ideias, as divergências; a vulgaridade na linguagem, a incapacidade de formular raciocínios, a substituição do argumento pela agressão, enfim, a completa ausência de compostura que chegou ao auge na eleição que hoje se encerra em clima de esgotamento e hostilidade.

Decorrente, a meu ver, da noção de que na política - notadamente quando o poder está em disputa - tudo é permitido. Inclusive a revogação da norma de que respeito é bom e todo mundo gosta. Política, assim, deixado de ser a arte de conciliar, influenciar e construir consensos mediante o convencimento para se transformar numa espécie de arena de leões onde a lógica do jogo é matar ou morrer.

Não se trata aqui de tecer considerações sobre a tão falada divisão do País e suas supostas consequências. A partir de amanhã, ganhe quem ganhar, nada de extraordinário vai acontecer em decorrência dessa exacerbação. O Brasil não entrará em guerra civil, a vida vai continuar.

Passado o estresse pós-eleitoral os ânimos vão se acomodar e o eleito, ou eleita, terá de dar conta do repuxo que vem pela frente.

Se quiser, o (a) presidente, poderá também tomar para si a tarefa de conduzir o País a um processo de reabilitação civilizatória no campo das relações políticas. Até para que não se perca esse momento de entusiasmo e que o esgotamento com o excesso de agressividade não se transforme em distanciamento e desinteresse da população.

Sem um bom pavimento social, não será possível chegar à tão desejada reforma política. Pelo simples e conhecido fato de que na mão de suas excelências, sem a participação da sociedade, a coisa não anda a contento. Agora, como falar em atuação política se as pessoas confundem isso com o exercício da hostilidade absolutamente gratuita?

O debate tanto foi estéril entre os candidatos quanto tem sido improdutivo entre os partidários de um e de outro. Hoje, qualquer auditório onde se reúnam plateias adversárias ninguém deixa ninguém falar e terminam todos reduzidos a “coxinhas” e “petralhas”.

Francamente, nós jovens quando começamos a nos dividir logo após o fim da ditadura fazíamos bem melhor. Mesmo no vazio da ausência do inimigo comum, as discussões não se limitavam às trocas de adjetivos nem se precisava recorrer aos palavrões para manifestar veemência. Para isso há muitas palavras à disposição na língua portuguesa.

Quando a coisa começou a degringolar? Nessa altura não muda nada lembrar quem começou a guerra, uma vez que o ambiente é de chumbo trocado. Apenas para retomar o fio da meada em nome da clareza dos fatos: aquele ensaio de “fora FHC”, em boa hora desestimulado pela direção do PT, foi o primeiro sinal.

Tudo pareceu se acalmar na vestimenta do “Lulinha paz e amor” e depois na transição civilizada do sociólogo para o governo do ex-operário. Praticamente no dia seguinte o novo presidente retomou o tom da prática sindicalista da vida inteira ao carimbar a gestão do antecessor como “herança maldita” e submeter o embate político ao conceito de que o lugar da oposição é o gueto e seu destino, o aniquilamento.

Todo contraditório deveria ser castigado com desaforos e desqualificações, enquanto os submissos eram agraciados com toda a proteção; por mais desqualificadas que fossem suas ações. Uma receita que não poderia dar certo. Até porque um dia haveria reação.

Eliane Cantanhêde - Eleição é paixão

- Folha de S. Paulo

A eleição de 2014 entra para a história com variados adjetivos: tensa, imprevisível, agressiva, surpreendente, polarizada. Apaixonante até os últimos minutos.

O debate invadiu a internet e transbordou para ônibus e periferias, chacoalhando a hora da sesta de pintores, pedreiros e marceneiros, esquentando os horários de dentistas e manicures, criando saias justas em prosaicas festas de família. Crianças e idosos tinham o que falar.

Todo mundo teve certezas, todo mundo teve dúvidas, todo mundo aprendeu, com igual virulência, tanto a atacar os candidatos como a condenar quem ataca os candidatos. Amigos de décadas quebraram o pau, conhecidos de dois minutos viraram amigos desde criancinha.

É a democracia em ação, com tudo o que ela promove de avanços e com tudo o que ela carrega de retrocesso. Nesse turbilhão, mais de 140 milhões de eleitores poderão votar hoje pelo continuísmo de políticas sociais que deram certo ou pela mudança da política econômica para um futuro melhor para todos.

A eleição, aliás, teve até o ineditismo de um morto-vivo na Fazenda. Mas quem apanhou foi o ex-quase-futuro ministro da oposição.

Numa montanha russa política e até emocional, Dilma foi disparada a favorita até junho de 2013, depois vieram um longo período de incertezas, a morte chocante de Eduardo Campos, o vendaval Marina, a reviravolta espetacular de Aécio e, enfim, a lógica da polarização PT-PSDB --que não vai passar tão cedo.

Dê Dilma ou dê Aécio, porém, a festa vai durar pouco. Com Dilma, o dólar vai disparar e as Bolsas vão despencar, pelo temor da estagflação. Com Aécio, MST, CUT, UNE vão acordar --e voltar a infernizar. E a investigação da Petrobras continua...

A eleição passa, mas a divisão do país, meio a meio, fica. E vá se preparando, porque 2015 será de amargar. Só não se esqueça da frase mestra dessa eleição tão fascinante:
"Não vamos desistir do Brasil!"

Luiz Carlos Azedo - A maioria silenciosa

• Hoje, o Brasil se orgulhará de escolher seu presidente da República pelo voto direto e secreto, de forma pacífica e ordeira

- Correio Braziliense

Com pesquisas desencontradas, que apontam tanto a vitória do candidato de oposição, Aécio Neves (PSDB), como a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), o Brasil vai às urnas num clima de grande incerteza. O país parece mergulhado naquele nevoeiro descrito por Fernando Pessoa em seu poema épico intitulado Mensagem: “Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro.Tudo é disperso, nada é inteiro.”

É uma travessia que depende do voto do eleitor. Embora o debate eleitoral no segundo turno tenha sido pautado pelo retrovisor — a comparação dos dois mandados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com os dois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, o que está em jogo é a continuidade do governo de Dilma Rousseff, que termina o primeiro mandato com crescimento zero e o país pior do que aquele que recebeu, ou a formação de um novo governo, das forças de oposição, sob o comando do senador Aécio Neves (PSDB), ex-governador de Minas.

Há que se considerar a crise mundial, sem dúvida, pois ela impõe limitações ao país, mas um olhar ao redor, para a própria América Latina, desnuda nossas vicissitudes: as escolhas feitas pelo atual governo não deram muito certo. São um rosário de erros: a recusa aos acordos bilaterais de comércio com nossos parceiros europeus; a submissão às chantagens dos nossos vizinhos do Mercosul; a desastrada redução dos juros sem o necessário ajuste nas contas públicas; a volta da inflação e a desindustrialização; as maquiagens e manipulações de dados estatísticos; a incapacidade de enfrentar os problemas de infraestrutura; a tentativa ingênua de estabelecer os lucros das empresas nas parcerias público-privadas; a má-qualidade dos serviços prestados na Saúde, na Educação, nos Transporte e na Segurança; e os escândalos na administração direta e nas estatais, particularmente na Petrobras.

Tudo isso foi varrido para debaixo do tapete durante a maior parte da campanha eleitoral, principalmente no primeiro turno, quando a enorme vantagem em termos de tempo de televisão permitiu ao PT e à presidente Dilma Rousseff mostrar o “outro lado”: os bem-sucedidos programas Bolsa Família; Minha Casa, Minha Vida; Pronatec; Prouni; Mais Médicos, principalmente. Eles “fidelizaram” parcelas expressivas do eleitorado. Desde a origem, miravam a disputa eleitoral, mas é inegável o impacto positivo na vida dos que deles se beneficiam. Não fosse isso, a eleição estaria decidida a favor da oposição.

Desde junho do ano passado, quando ocorreram as grandes manifestações de jovens nas principais cidades do país, há uma insatisfação difusa na sociedade e um forte desejo de mudança na relação entre o Estado e os contribuintes. Além da má-qualidade dos serviços, a degeneração das práticas políticas e a escalada da corrupção na administração pública revoltam os cidadãos. É iminente uma crise política na Praça dos Três Poderes, devido às denúncias contra autoridades e políticos envolvidos na Operação Lava-Jato. Em segredo de Justiça, as delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa e do doleiro Alberto Yousseff pautaram os últimos dias da campanha eleitoral. E podem, após as eleições, causar um strike no Congresso e na atual equipe de governo.

Há um senso comum entre os políticos de que o caixa dois de campanha eleitoral é uma prática inevitável e as urnas purgam os erros cometidos na disputa política. Para o Ministério Público e a Justiça não é bem assim; nem tudo o que é real na luta política é legal no Estado democrático, digamos assim. Muito provavelmente, após a eleição, a discussão sobre o fim do financiamento de empresas às campanhas eleitorais ressurgirá com força no Congresso, mas como uma espécie de anistia para a sujeira que emerge das relações entre órgãos e empresas públicas, grandes empreiteiras e políticos.

Por essas e outras, a eleição está indefinida. Em circunstâncias normais, a presidente Dilma seria reeleita. É bem-intencionada e dedicada à vida pública. Corre, porém, o risco de perder para o candidato de oposição, Aécio Neves (PSDB), devido aos erros que cometeu e ao envolvimento de seu partido, o PT, e dos principais aliados, o PMDB e o PP, com tantos malfeitos, para usar a palavra de sua preferência quando trata da roubalheira.

Os eleitores que ainda estão indecisos vão ponderar o que está certo e ao que está errado na vida nacional de acordo com a sua consciência. Sem o alarido dos militantes, a maioria silenciosa decidirá os destinos do Brasil nos próximos quatro anos. Apesar de tudo o que aconteceu durante a campanha, mais um vez o Brasil se orgulhará de escolher seu Presidente da República pelo voto direto e secreto, de forma pacífica e ordeira, em eleições à prova de fraudes eleitorais. Assim é a nossa democracia.

João Bosco Rabello - Mandato sob céu escuro

- O Estado de S. Paulo

O país chega ao dia da votação para presidente da República com o céu político nublado, prenúncio de uma tempestade de proporções desconhecidas, porém, imagináveis, com origem em um quadro de corrupção sistêmica entranhado no governo desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula.

Ao lado do cenário de corrupção que, a exemplo do mensalão, mostra digitais das cúpulas dos governos do PT, um contexto econômico não menos preocupante, que o marketing oficial tenta esconder desde o início da campanha, na esperança de que não servisse à contestação da imagem de gestora da presidente Dilma Rousseff.

A gravidade que a soma desses dois cenários estabelece só ficará clara aos eleitores após a cívica ida às urnas hoje, dado que o governo obteve êxito parcial no esforço de minimizar o quadro econômico e que as investigações judiciais já avançadas no Supremo Tribunal Federal só produzirão efeitos objetivos , estima-se, em 2015.

É quando começa o mandato do eleito hoje para presidir o país que terá de iniciar a construção de sua base parlamentar em um provável quadro de desagregação partidária provocada pela etapa judicial de identificação e responsabilização dos envolvidos no esquema montado na Petrobrás, cujo grau de veracidade nem mais a presidente Dilma conseguiu negar.

A presidente passou da etapa da negação dos fatos na Petrobrás, à fase de defesa própria, desde que o doleiro Alberto Yousseff, peça-chave do esquema, disse sob o regime da delação premiada, que ela e seu antecessor, o ex-presidente, Lula, tinham conhecimento do que se passava na empresa.

O depoimento vazou e sua publicação, pela revista Veja, levou o PT a recorrer, mais uma vez, à teoria conspiratória, com a própria presidente mencionando golpe e terrorismo eleitoral. Com as bravatas de sempre, que vão de ação contra a revista até a sua retirada de circulação, o governo volta a atacar o mensageiro e ignorar o conteúdo.

Combinada com a distorção de fundamentos econômicos posta a serviço da causa eleitoral, tem-se um cenário oposto àquele prometido ao eleitor, saído da fábrica do ilusionista João Santana, em que a autonomia do Banco Central se traduz por falta de comida no prato do brasileiro, ou em, que debelar a inflação compromete a preservação de empregos.

Na vida real, o país enfrentará um difícil e traumático período de ajustes de contas nos campos econômico e político que exigirá do presidente eleito habilidade e espírito conciliatório, além da disposição de governar orientado pela aplicação da receita necessária sem se deixar conduzir pela bússola eleitoreira.

O populismo que caracteriza o período do PT no poder desautoriza otimismos em eventual reeleição de Dilma Rousseff com relação a essa combinação de virtudes. A presidente, em nenhum momento da campanha, acenou com a mudança de rumos na economia e se fechou na negação dos episódios de corrupção que ganha no seu vocabulário o sentido mais ameno de “malfeitos”.

O caso da Petrobrás a opõe ao seu padrinho político, Lula, na condução do roteiro de defesa, que começa na acusação da presidente à diretoria da estatal no período de seu antecessor, de ter omitido aos conselheiros informações indispensáveis com o intuito de aprovar a compra da refinaria de Pasadena, operação comercial no epicentro do rumoroso escândalo de corrupção política na empresa.

Lula não queria essa versão e sua imposição por Dilma, que o compromete, deu inicio a uma ruptura entre ambos, posta de lado na campanha.

A eleição chega ao seu dia sem que Dilma e Lula tenham dado qualquer garantia de que as investigações sobre a Petrobrás, homologadas pelo STF, não atingirão seus governos nesses 12 anos de governos do PT.

Elio Gaspari - Saem Aécio e Dilma, volta Paulinho

• O “amigo Paulinho” e Youssef merecem fé porque, pelos seus acordos com a Viúva, ficarão anos na cadeia se forem apanhados mentindo.

- O Globo

Hoje à noite será conhecido o nome do próximo presidente, e a partir de amanhã as petrorroubalheiras voltarão a ter o destaque que merecem. Trata-se do maior e melhor documentado escândalo da História. Diante dele, o mensalão é coisa de flanelinhas.

Pela primeira vez, o Ministério Público e o Judiciário terão a oportunidade para desvendar, expor e punir uma rede que envolve burocratas, operadores, políticos e grandes empresas. A colaboração de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef com as autoridades já gerou um lote de inquéritos que se desdobrarão em diligências e prisões.

No vértice dessa pirâmide, estará o relator do processo no Supremo Tribunal Federal, ministro Teori Zavascki. Faltou sorte aos envolvidos, pois se trata de um magistrado silencioso, rápido e eficiente como a lâmina de uma guilhotina.

Até agora, pelos vazamentos desordenados, as investigações estão poluídas por acusações que produzem mais calor do que energia. Por exemplo: o “amigo Paulinho” disse que, em 2009, repassou R$ 10 milhões ao presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, para que ele ajudasse a travar uma CPI destinada a investigar a Petrobras.

O capilé teria sido pago pela empreiteira Queiroz Galvão, uma das donatárias da obra da refinaria Abreu e Lima, aquela que deveria ter custado US$ 2,5 bilhões, já custou US$ 20 bilhões e ainda não está pronta. Prova, até agora, nenhuma

Paulinho contou também que, em 2010, derramou R$ 1 milhão na campanha da petista Gleisi Hoffmann para o Senado. Essa acusação ampara-se numa anotação existente em sua agenda: “PB 0,1”. Seriam as iniciais de Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, marido de Gleisi e alto comissário do PT paranaense.

Esse dinheiro teria sido entregue, em espécie, a um intermediário. O Ministério Público e o Judiciário sabem que, com esses elementos, as duas acusações valem rigorosamente nada. Se a Queiroz Galvão pagou a Guerra, será preciso rastrear o ervanário.

O mesmo sucede no caso da senadora. Ou aparece a grana, ou “PB” tanto pode ser Paulo Bernardo como Papa Bergoglio, e “0,1” pode significar 1 milhão ou uma esmola de dez centavos.

O “amigo Paulinho” e Youssef merecem fé porque, pelos seus acordos com a Viúva, ficarão anos na cadeia se forem apanhados mentindo. O que vazou não é tudo o que eles contaram, e o Ministério Público e a Polícia Federal deverão aprofundar as investigações, documentando-as. Só esse trabalho poderá converter em acusação aquilo que por enquanto é um “ele me disse”.

A exposição das petrorroubalheiras criou uma situação paradoxal. Ao mesmo tempo em que se fala numa negociação das grandes empreiteiras para conseguirem um acordo de leniência com a Viúva, tanto a Odebrecht como a Camargo Corrêa negaram terem se metido em qualquer ato ilícito. No máximo, teriam sido extorquidas. Como?

O procurador-geral Rodrigo Janot matou essa charada chamando a proposta de “cartel da leniência”. O “amigo Paulinho” deu à Justiça os nomes dos representantes de Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão com quem traficava. Só as investigações poderão mostrar do que tratavam e por quanto tratavam.

Samuel Pessôa - Duas narrativas

• É a Constituição de 1988 que explica o crescimento dos gastos sociais, e não os governos petistas

- Folha de S. Paulo

Hoje é dia de votar. Segundo turno, dois candidatos. Cada campanha eleitoral construiu a sua narrativa.

A narrativa petista reconhece os ganhos da estabilização da economia promovido pelo governo FHC, mas assevera que houve forte descuido da área social. O gasto social não cresceu.

Adicionalmente, as políticas sociais, principalmente o programa Bolsa Família e a política de valorização do salário mínimo, promoveram ganhos de renda nas classes menos favorecidas, o que gerou uma virtuosa dinâmica de crescimento econômico.

O ganho de renda impulsionou o aumento da demanda por consumo, principalmente por produtos manufaturados. A indústria aumentou sua produção e, nesse processo, os custos foram decrescentes, pois as manufaturas geralmente trabalham com retornos crescentes de escala. Isto é, quando a quantidade produzida se eleva, o custo unitário se reduz.

Esse ciclo virtuoso foi potencializado pelas reformas microeconômicas do ministro Palocci, que aumentaram a eficiência do setor bancário na concessão de crédito.

A crise econômica promoveu forte desaceleração da economia mundial e gerou grande excesso de oferta na indústria internacional. A desaceleração do mundo, as dificuldades de nossa indústria manufatureira (fruto do excesso de oferta mundial) e choques cambiais promovidos pela política monetária muito expansionista dos países centrais quebraram a trajetória virtuosa na qual estávamos.

O governo respondeu com política econômica fortemente contracíclica --estímulo ao consumo e ao investimento, com os bancos públicos facilitando o crédito, e medidas de desoneração tributária-- e conseguiu impedir o mal pior, que seria o aumento do desemprego e a perda de renda. No entanto, como consequência da crise internacional, o crescimento diminuiu.

Seguindo com a narrativa petista, vivemos agora um momento de transição, em que a recuperação (mesmo que lenta) da economia internacional e um novo ciclo de investimentos em infraestrutura garantirão a retomada do crescimento em bases mais sólidas.

A narrativa tucana discorda de que a distinção entre os modelos seja o investimento na área social. A distinção encontra-se no papel do Estado na promoção do desenvolvimento econômico. O modelo tucano prefere um Estado regu- lador, o modelo petista um Estado interventor.

Na Constituinte de 1988, a sociedade tomou a decisão de construir um Estado de bem-estar social padrão europeu continental. É essa decisão que explica o crescimento do gasto social. Não os governos petistas. Aconteceria de qualquer forma.

Adicionalmente, o ganho de renda associado à política social é mais resultado do crescimento do que causa. Isto é, se aumento do gasto social produzisse crescimento apreciável da economia, como sugere a narrativa petista, o problema do subdesenvolvimento seria relativamente simples de ser resolvido. Bastava imprimir papel na Casa da Moeda e distribuir para as pessoas elegíveis aos diversos programas.

Infelizmente a vida insiste em ser mais complexa do que essa alternativa.

Para a narrativa tucana, os ganhos sociais são mais tributários da estabilização da economia e de toda a construção institucional promovida nos anos FHC --na qual as instituições fiscais como a Lei de Responsabilidade Fiscal e a negociação das dívidas dos Estados têm proeminência absoluta-- do que do ativismo das políticas sociais do atual governo.

A grande preocupação com um possível retrocesso nas políticas sociais é que, nos últimos quatro anos, houve leniência com a inflação e piora nas instituições fiscais. Já há deficit primário de aproximadamente 0,5% do PIB.

Adicionalmente o excesso de intervencionismo em todas as áreas da política econômica reduziu a capacidade de crescimento de nos- sa economia. A desaceleração no quadriênio de Dilma tem causas domésticas.

A política econômica dos últimos anos deu-se em bases não sustentáveis e, se nada for feito, corremos, sim, o risco de forte retrocesso nos ganhos sociais.

O eleitor escolhe a sua narrativa e, portanto, o seu voto.

Samuel Pessôa, formado em física e doutor em economia pela USP, é pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.

Miriam Leitão - Debate impedido

- O Globo

Nunca houve uma eleição como esta. O drama da morte de Eduardo Campos, as reviravoltas vividas por Marina, as oscilações das intenções de voto em Aécio que caíram, subiram, passaram a presidente Dilma e diminuíram na reta final. Pareceu thriller, filme de ação, e era só um país votando, como sempre acontece a cada quatro anos. Uma grande democracia vivendo seu momento de escolha.

Poderia ter sido bom, mas o país sai com sequelas da eleição. Não pelo resultado, mas pelo processo. A polarização em um segundo turno é normal e tem como consequência a formação de dois grupos com musculatura para assumir os papéis definidos pelo eleitor: um governará legitimado pelas urnas e ao outro será entregue o papel de oposição, fundamental em qualquer democracia.

Houve, infelizmente, pouco espaço para discutir propostas e ideias. E o país precisava deste debate. Vive uma grave crise econômica, um crescente passivo no setor elétrico e sua maior empresa está sangrando em praça pública. Mas a presidente não apresentou suas ideias de como enfrentar a crise, negou sua existência e todas as propostas feitas pelos candidatos de oposição foram distorcidas na publicidade oficial. O Banco Central independente viraria falta de comida para o povo; a derrubada da inflação elevaria o desemprego; a redução do papel dos bancos públicos seria o fim de programas habitacionais.

A presidente Dilma não quis falar sério sobre economia e sua campanha impediu qualquer tentativa de procurar saídas para os reais problemas do país.

Os métodos do marketing da presidente Dilma foram eficientes do ponto de vista eleitoral, tanto que ela chega hoje no lugar de favorita, mas enfraqueceram a democracia. A estratégia do marqueteiro João Santana foi a de fazer ataques violentos e sistemáticos a tal ponto que ao oponente só restasse se defender.

Marina teve que explicar que não era um novo Collor, que não acabaria com o Bolsa Família, que não entregaria o país aos banqueiros, entre outras barbaridades. Aécio teve que enfrentar estas e outras acusações descabidas e ataques à sua vida pessoal. Em 1989, Collor dizia que Lula planejava desapropriar a poupança das famílias. Agora, o governo disse que Marina e Aécio acabariam com o Bolsa Família.

Não houve o cenário previsto pelo marqueteiro João Santana: o de Dilma flanar no Olimpo enquanto os “anões” se atracariam. Os oponentes cresceram, fizeram alianças e a presidente teve que baixar o nível da campanha a um ponto que só se assemelha — de novo — ao que ocorreu em 1989, em que as insinuações ou ataques diretos à vida pessoal desestabilizaram Lula no último debate.

O país retrocedeu na qualidade das políticas sociais. O sonho das últimas décadas era acabar com o assistencialismo e a prática obsoleta de apresentar políticas sociais como benemerência dos governantes. Os programas voltados para os pobres passaram a ser direitos do cidadão.

Esse avanço foi desfeito. Em um debate, a presidente Dilma bateu no peito e disse “a minha Bolsa Família”. O dinheiro é dos contribuintes, a escolha de reduzir a pobreza e a miséria foi da sociedade brasileira e a tecnologia do programa foi desenvolvida pelo país. O caminho era o de dar certeza aos pobres que eles têm direito à rede de assistência social e às transferências de renda. Nesta eleição, eleitores beneficiários da política foram clara e diretamente chantageados de perder o benefício caso votassem na oposição. Em que isso se diferencia daquela velha política dos coronéis que imperou nos grotões e nas vilas dos confins? Em nada! Em um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff nada salva o Bolsa Família da degradação assistencialista.

O TSE se omitiu nesse vale-tudo e termina a eleição menor do que começou. Falou tarde e fez acusação genérica sobre o baixo nível. O percentual de brancos e nulos cresceu, após um período em que estava em queda. Mais relevante: foi desperdiçado o tempo para debater o futuro, que reserva desafios cada vez mais difíceis para o Brasil.

Seja qual for o resultado da eleição haverá muito trabalho a fazer para limpar o lixo eleitoral, consertar os estragos, impedir os retrocessos e preparar o país para avançar em direção ao futuro nos próximos anos.