O Estado de S. Paulo
Na falta dele, crises se sucedem sem solução, criando condições para a emergência de lideranças autoritárias, salvadores da pátria, tida como ameaçada
Não é difícil entender por que a democracia
corre riscos. Nossa época é de transição. Estão a mudar o modo de produção, a
organização do trabalho, os empregos, as formas de comunicação. Algumas
mudanças já se sedimentaram, como no terreno da produção e circulação de
informações, turbinadas pelas redes e pelas modalidades várias de
autocomunicação de massas. A vida social sofre os espasmos dessas modificações:
se desorganiza, se fragmenta, converte-se num território de indivíduos soltos
que problematizam a participação política e despejam demandas no espaço
público, exigindo sempre mais investimentos e direitos.
Como regime, a democracia está hoje submetida à desconfiança dos cidadãos, insatisfeitos com as respostas que obtêm dos governos. Está, também, sendo maltratada pelas correntes de extrema direita, que a violentam e a descaracterizam, e pelos populistas de variados tipos, que pouco se preocupam com fortalecê-la e protegê-la, ávidos que são pelos aplausos das multidões. Os grandes interesses econômicos, por sua vez, além de explorar a população, buscam manipular os institutos democráticos. Os personagens centrais da democracia representativa – os partidos, os parlamentares, os governantes – nem sempre vão além de proclamações em favor da democracia, deixando de adotar medidas que a blindem contra os ataques dos que a desprezam e a façam funcionar de maneira efetiva.