segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Os dilemas regulatórios da inteligência artificial

O Globo

Conferência global conclui haver “potencial para danos graves”. Desafio é garantir avanço reduzindo riscos

Reunidos no Reino Unido na última semana, representantes de 28 países, entre eles Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Brasil e Índia, chegaram a um acordo para tentar entender e gerenciar os riscos trazidos pela tecnologia conhecida como inteligência artificial (IA), a habilidade de computadores processarem linguagens de modo praticamente indistinto dos humanos. “Há potencial para danos graves, até mesmo catastróficos, deliberados ou não intencionais”, diz o texto da Declaração de Bletchley, local da cúpula sediada pelo governo britânico, onde Alan Turing, um dos fundadores da ciência da computação, trabalhou na Segunda Guerra Mundial.

Nas últimas duas décadas, uma técnica chamada “aprendizado de máquina” permitiu que softwares pudessem interpretar, com extrema rapidez, quantidades enormes de exemplos e aperfeiçoassem respostas a desafios complexos sem ser programados especificamente para enfrentá-los. Computadores se tornaram imbatíveis em jogos de estratégia e noutras atividades sofisticadas.

Fernando Gabeira - A guerra contra as crianças

O Globo

Estrategistas não contam com a morte e mutilação infantil. Mas deveriam avaliar os traumas da guerra e da perda da infância

Não quero comover, emocionar, levar às lágrimas. Apenas perguntar: Que mundo é este em que 420 crianças são mortas por dia, sem que nada possamos fazer? Que mundo é este em que, entre 20 mil feridos, 7 mil são crianças? Que mundo é este em que crianças não podem dormir com o barulho das bombas, não podem brincar entre ruínas pontilhadas de corpos despedaçados?

Difícil aceitar um mundo em que não se trocam imediatamente crianças sequestradas pelo Hamas e crianças presas em Israel. Uma troca pura e simples, sem considerações aritméticas, do tipo um por um. Todas deveriam voltar para suas casas, no caso de ainda terem uma.

Alguns diriam que é ingenuidade supor que as guerras não sejam destrutivas. Sempre mataram, mutilaram e separaram entes queridos. Mas, ao longo do tempo, evoluímos. Criamos leis internacionais. A Convenção de Genebra tem quatro versões, precisamente porque não só definia crimes de guerra, como também expressava essa evolução civilizatória.

Miguel de Almeida - poder feminino

O Globo

Gleisi cumpre hoje o papel antes ocupado por Dilma Rousseff

Quiseram os astros (a Lua em gêmeos, presumo), e uma conjunção cósmica alinhou os três partidos maiores de esquerda do Brasil sob o comando de mulheres. Gleisi Hoffmann à frente do PT; Luciana Santos, no PCdoB; e Paula Coradi, eleita há pouco no PSOL. Nunca antes no Brasil ocorrera semelhante sintonia de gênero no meio progressista. Pode ser um sinal dos tempos, como pode não ser absolutamente nada. Talvez uma brincadeira astral. Ou não.

Por alguma injunção planetária, os três partidos apoiam o governo do presidente Lula. Portanto, sócios na alegria e na crise de segurança; na herança econômica de Paulo Guedes e na esperada exploração de petróleo na Margem Equatorial (como já ocorreu com a escravidão, seremos o último país do mundo a abandonar tal atraso); na pauta identitária (sempre me lembro do cãozinho militante subindo a rampa na posse; fofo) e no churrasco com Arthur Lira.

Ricardo Henriques - Transição demográfica e pacto intergeracional

O Globo

A forma como adaptaremos nossas políticas públicas poderá resultar no agravamento de desigualdades

Há dez dias, o IBGE divulgou novos números do Censo de 2022, revelando, entre outros pontos, um crescimento de 57% em 12 anos no número de brasileiros com 65 anos ou mais. É mais um dado a confirmar que caminhamos, em velocidade superior à prevista, na direção de uma estrutura demográfica mais envelhecida.

Essa transição, porém, ocorre em ritmos distintos em diferentes grupos populacionais, gerando implicações cruciais para a formulação de políticas públicas.

Marcus André Melo - Governo e mentira

Folha de S. Paulo

Quem defende a responsabilidade fiscal? Essa defesa é crível?

No governo de Cristina Kirchner (2007-2015), a inflação oficial anunciada pelo Indec (o IBGE argentino) entre 2007 e 2013 era, na média, 15 pontos percentuais inferior à real.

Empresas e instituições começaram a produzir índices alternativos. O governo então passou a multá-las, acusando-as de produzirem fake news.

A oposição reagiu criando o seu próprio índice, o "IPC Congreso". Em 2013, o FMI reagiu com uma moção de censura à Argentina que eventualmente poderia evoluir para proibição de empréstimos. Ou sua expulsão, por deliberadamente produzir informações falsas, como aconteceu com a Tchecoslováquia, em 1954.

Lygia Maria - Ministério da Ignorância

Folha de S. Paulo

Festival de besteira sobre língua e racismo provoca riso e não contribui para a diminuição de desigualdades

Em seu Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País), lançado em 1966, o jornalista Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, criou um sofisticado mecanismo de humor que se baseava na reprodução de notícias com falas e atos de autoridades que, de tão absurdos, sequer precisavam de comentário para fazerem rir.

De lá para cá, o festival tornou-se uma tradição nacional celebrada tanto na direita como na esquerda. Jair Bolsonaro (PL) disse que o peixe, por ser inteligente, foge da mancha de petróleo; já Dilma Rousseff (PT) elogiou as "mulheres sapiens" enquanto saudava a mandioca.

Marcos Vasconcellos - Lula e Haddad jogam o jogo das expectativas

Folha de S. Paulo

Principais projeções para a economia trazem uma realidade melhor do que a inicialmente prevista

Não canso de dizer que o mercado vive de expectativas. Os números na tela do seu aplicativo de investimentos ou homebroker movem-se de acordo com o quanto a realidade se aproximou ou se distanciou do que imaginavam os donos do dinheiro.

Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pareceu jogar com isso, ao despejar água no chope da questão fiscal para 2024. Lula, de certa forma, desautorizou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e disse que "dificilmente chegaremos à meta zero" no ano que vem.

A "meta zero" do déficit fiscal é o governo gastar exatamente o que arrecadar, sem gerar novas dívidas. E Haddad vinha prometendo a perseguição dela a investidores e empresários, como garantia do controle máximo de gastos. Por mais que não acreditem cegamente na promessa, os interlocutores costumam ver com bons olhos a garantia de empenho.

Humberto Saccomandi - A um ano das eleições nos EUA, Trump lidera em Estados decisivos, mas cenário é complexo

Valor Econômico

Mas há muitas incertezas para as eleições marcadas para 5 de novembro do próximo ano, e o cenário político é possivelmente um dos mais complexos da história do país

Daqui a um ano, em 5 de novembro de 2024, os EUA vão escolher o seu próximo presidente e renovar parte do Congresso. As pesquisas continuam a sugerir uma disputa acirrada entre o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump, numa repetição da eleição de 2020. Mas há muitas incertezas, e o cenário político é possivelmente um dos mais complexos da história do país. Para o resto do mundo, é uma espera difícil, pois envolve se preparar para políticas antagônicas nos EUA.

As pesquisas de intenção de voto vêm mostrando um empate técnico entre Biden e Trump no voto popular. Mas pesquisas divulgadas neste domingo (05) pelo jornal “The New York Times” mostram o republicano à frente -- com uma vantagem de 4 a 7 pontos percentuais, pouco acima da situação de empate técnico -- em vários daqueles Estados indecisos, que decidem a eleição nos EUA. Trump lidera hoje na Geórgia, Pensilvânia, em Michigan, Nevada e no Arizona, Estados nos quais Biden venceu em 2020 e que foram decisivos para a sua eleição. O mapa eleitoral, neste momento, não está favorável ao democrata.

Bruno Carazza* - CVM abre precedente perigoso em caso JBS

Valor Econômico

Absolvição de irmãos Joesley e Wesley Batista pela CVM envia mensagem de leniência ao mercado

Na semana passada um amigo compartilhou um meme em seus stories no Instagram. Um rapaz estava com um cachorro grande, da raça golden retriever, num parque, quando uma garota se aproximou. “Moço, ele morde?”, ela perguntou. “Relaxa, ele é bonzinho”, tranquilizou o dono. “Que legal! E qual é o nome do cachorrão?”. “Compliance.”

No final de setembro, a Comissão Parlamentar de Inquérito aberta na Câmara dos Deputados para apurar a fraude de R$ 20 bilhões na Americanas S/A foi encerrada sem apurar a responsabilidade de executivos, do grupo de acionistas “referência” ou das empresas de auditoria externa. Nesta semana, um outro escândalo corporativo, bem mais antigo, viveu o seu capítulo final.

Armando Castelar Pinheiro* - 2024, um ano morno?

Valor Econômico

É pouco provável que as surpresas positivas para o PIB dos últimos dois anos se repitam no ano que vem

Algumas semanas atrás o FMI soltou uma versão atualizada de suas projeções para a economia mundial. No todo, elas sinalizam uma expansão relativamente modesta do PIB mundial em 2024, de 2,9%, abaixo da média observada no período pré-pandemia (3,8% em 2000-19). Em grande medida, seria uma repetição do crescimento pouco brilhante esperado para este ano (3%), com uma pequena desaceleração nas economias avançadas, de 1,5% para 1,4%, e estabilidade nos países emergentes, onde o crescimento ficaria constante em 4%.

Alex Ribeiro - Copom deve evitar ligação direta entre juro e câmbio

Valor Econômico

Política monetária deve ser conduzida dentro dos preceitos do regime de metas de inflação

A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada amanhã, será uma primeira oportunidade para o Banco Central passar a mensagem de que vai se ater aos princípios do regime de metas de inflação - apagando a impressão de que poderia reagir de forma mecânica à piora do cenário externo e ao aumento das incertezas fiscais.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, passou as semanas que antecederam a reunião do Copom chamando a atenção para a alta dos juros dos títulos do Tesouro americano. Uma parte do mercado financeiro, que tem o hábito de simplificar as coisas, entendeu que o Copom está vendo uma espécie de piso para a baixa de juros.

Diogo Schelp - Os militares no combate ao crime

O Estado de S. Paulo

O que o México ensina sobre o uso das Forças Armadas no combate ao narcotráfico

Trata-se de uma medida para brasileiro ver. Ao anunciar a missão de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) para conferir poder de polícia às Forças Armadas em portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo, o governo criou um factoide que não resolve no longo prazo o descontrole da criminalidade. E arrisca-se a gerar novos problemas ao atribuir aos militares funções para as quais não possuem treinamento adequado. Afinal, a doutrina do Exército para as GLOs decretadas desde 2010 é uma adaptação das doutrinas de contrainsurgência, herança da ditadura militar, e de operações de paz.

Denis Lerrer Rosenfield* - Dicionário da ignomínia

O Estado de S. Paulo

Como a esquerda – inclusive o PT e os que em torno dele orbitam – vai viver sob a dominação islâmica? Para que servem as pautas identitárias?

A perversidade no uso das palavras é um sinal inequívoco da maldade. Sob o manto de um suposto humanismo, vagando em abstrações de cunho ideológico, esconde-se um propósito de aniquilação do outro mediante a violência.

Resistentes. Os terroristas se autodenominam resistentes, sob a complacência da esquerda mundial, principalmente a universitária. Entre tantos exemplos horripilantes, tomemos uma fala recente do secretário de Estado americano, Antony Blinken, ao relatar como esses resistentes invadiram a casa de um Kibutz e realizaram o seu feito libertador: extraíram um olho do pai, cortaram um seio da mãe, amputaram o pé de uma menina e cortaram os dedos de um menino. Ato seguinte, todos foram assassinados. Em outro exemplo, um resistente se gaba com seu pai e sua mãe de ter assassinado com suas próprias mãos dez judeus! Como pode a esquerda ainda justificar essas ações?

Jaime Pinsky* - A paz possível

Correio Braziliense

Que tal falar de uma paz que ofereça um futuro, que não discrimine mulheres e crianças, que leve os professores a ensinar sem medo de repressão, que deixe todo mundo orar para o Deus que quiser (e se quiser) e para o profeta que lhe aprouver?

Queremos mesmo? Neste caso, de que paz falamos? Que tal começarmos a falar de uma paz inclusiva? Que tal falar de uma paz que ofereça um futuro? Que tal falar de uma paz que não discrimine mulheres e crianças, uma paz que leve os professores a ensinar sem medo de repressão, uma paz que deixe todo mundo orar para o Deus que quiser (e se quiser) e para o profeta que lhe aprouver, sem medo de retaliação, de vingança, de bombas, de decapitação? Uma paz, enfim, que permita que a história seja contada com liberdade, pois sem liberdade não há história confiável. Que seja fiel ao acontecido, não uma versão engendrada para enganar ingênuos e satanizar o adversário.

Antes de tudo, uma informação aos desavisados ou aos mal-intencionados (aos antissemitas não adianta ensinar, eles são doentes, como qualquer fanático): Israel não é uma manifestação do imperialismo ocidental, uma estrutura política destinada a espoliar riquezas de continentes, povos e nações saqueados por nações industrializadas. Israel não tem nada a ver com ingleses na África do Sul, belgas no Congo, portugueses em Angola, ingleses na Índia, holandeses no Pacífico, russos na Ásia Central e no Báltico e assim por diante.

A origem de Israel é outra. Tem a ver, antes de tudo, com jovens que viviam na Europa, em áreas na periferia do império czarista, onde os judeus eram constantemente vítimas de pogroms (perseguições, massacres). Muitos desses moços, em contato com literatura marxista, inconformados com as perseguições de que eram vítimas, concluíram que esse estado de coisas só mudaria quando os judeus voltassem a trabalhar no campo em atividades produtivas, aceitassem viver em comunidade, a desenvolver atividades produtivas coletivamente. Ou seja, o oposto da dominação imperialista.

Poesia | Ah, o amor - Um poema de William Shakespeare

 

Música | Vou Festejar - Jorge Aragão e Convidados