Um
ambiente plural e diversificado é o único antídoto contra aspirantes a ditador
No
momento em que somos tentados a fazer o balanço de perdas e danos, lamentando,
depois de 30 e poucos anos, as ilusões precocemente perdidas, convém lembrar os
bons pressupostos e o início auspicioso deste período mais recente da nossa
História política. A impressão generalizada em seguida ao regime militar era de
que o País estava finalmente pronto para integrar, de corpo e alma, o grupo de
nações que conseguem conjugar, com um grau mínimo de coerência, capitalismo e
democracia, economia de mercado e integração social. Um grupo relativamente
reduzido, é certo, mas habituado a sinalizar rumos e a atrair a esperança de
quem vive sob regimes fechados mundo afora.
Na verdade, essa não era uma ideia surgida aleatoriamente na acidentada trajetória de modernização por que passamos. Na saída de uma dessas ditaduras que conformaram duradouramente as relações entre Estado e sociedade, a ditadura do Estado Novo, um grande conservador como Gilberto Freyre chamava a atenção para a plasticidade da formação social brasileira. Segundo ele, tal plasticidade, própria de um exuberante povo em formação, seria até capaz de irradiar para outras latitudes o amor à diferença, o propósito de conciliar elementos heterogêneos, étnicos ou culturais que fossem.