sexta-feira, 21 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna:’ há sinais de vida nova’

Eppur si muove, mas ao contrário do movimento da Terra, que não sentimos, na frase famosa de Joaquim Nabuco, este movimento que aí está não dá para não perceber. Em cima, em baixo, nas grandes capitais, nas periferias, no coração do Brasil, lá em Belo Monte, entre os índios, os sem-teto, os sem-terra, nas corporações profissionais e entre os estudantes, de dentro dessa crosta encardida que, há anos, a tudo abafava há sinais de vida nova.

Os interesses e as ideias de cada qual são díspares, desencontrados uns dos outros, como seria de esperar numa sociedade que não mais reflete sobre si, que destituiu a política da sua dignidade e converteu os partidos políticos em instrumentos sem vida, máquinas eleitorais especializadas na reprodução política dos seus quadros.

Luiz Werneck Vianna, sociólogo e professor da PUC-Rio, In “O movimento da hora presente”, O Estado de São Paulo, 18/6/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais

O GLOBO
O Brasil nas ruas: Sem controle
Anselmo Gois: Manifestações já fazem pensar sobre Copa de 2014 nos EUA.
Na Copa do protesto: Manifestações crescem em estádios

FOLHA DE S. PAULO
Protestos violentos se espalham e confrontos atingem 13 capitais
Em SP, multidão grita 'fora, partidos' e petistas deixam ato
Dilma desiste de viagens e convoca reunião de cúpula
Desvalorização do real é a maior entre as principais moedas do mundo

O ESTADO DE S. PAULO
Mais de 1 milhão vai às ruas no País; violência marca protestos
Dilma cancela viagens e monta pacote para jovens
Câmara articula barrar PEC do MP e 'cura gay'
STF libera discussão sobre mais partidos

VALOR ECONÔMICO
Petrobras pode ter prejuízo trimestral com alta do dólar
Distorção no câmbio fica fora da OMC
Mais protestos, invasões e violência
Ano infernal para as 'X' de Eike Batista
Remuneração em ações paga INSS

BRASIL ECONÔMICO
População paga por redução das tarifas de ônibus
Oscilações especulativas

ESTADO DE MINAS
O gigante quer muito mais
Sem trégua: Desconfiança põe dólar em novo recorde

O TEMPO (MG)
Cerca de 20 mil pessoas participam do 5º dia de manifestações em Belo Horizonte
Patriotismo hermano: Sorín se diz orgulhoso com manifestações e decepcionado com as falas de Pelé e Ronaldo
Quanto mais pobre, maior é o gasto com material na obra
Dólar fecha em R$ 2,258, maior valor desde abril de 2009

CORREIO BRAZILIENSE
Um gigante fora de controle

GAZETA DO POVO (PR)
Após protestos violentos, Dilma convoca reunião de emergência
Fruet reduz tarifa do ônibus; Richa segura reajuste na luz
Supremo libera projeto contra novos partidos
Alta do dólar contagia preços rapidamente

ZERO HORA (RS)
Dilma convoca reunião de emergência após protestos

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Guerra e paz
Espanha arrasa o Taiti e o Brasil já está em Salvador

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Manifestação no Rio reúne 300 mil e acaba em confusão generalizada

Confronto começou quando multidão chegou à sede da prefeitura

Bernardo Moura, Gustavo Goulart, Márcio Menasce, Rodrigo Bertolucci e Vera Araújo

Com uma multidão estimada em 300 mil pessoas, o protesto no Rio - já sem a bandeira da redução da tarifa das passagens - começou de forma pacífica, mas as tentativas de grupos isolados de criar confusão acabaram, ao final, transformando a manifestação num grande campo de batalha. Se as estimativas da Coppe/UFRJ eram de 300 mil pessoas, os organizadores falaram em 1 milhão de manifestantes, que ocuparam toda a Avenida Presidente Vargas. O ponto de maior tensão foi o entorno da sede da prefeitura do Rio, para onde foi deslocado um grande efetivo de homens das polícias Civil e Militar. A ordem era não deixar os manifestantes passarem daquele ponto, a fim de evitar uma tentativa de invasão do prédio, onde fica o gabinete do prefeito Eduardo Paes.

Ali começou um clima de provocação por parte de manifestantes e de intimidação por parte dos policiais, que logo desencadearia em violência. PMs do Batalhão de Choque chegaram a jogar bombas de efeito moral em direção à multidão. Logo a área foi tomada por fogueiras, bombas de gás e rojões. Um grupo de 200 pessoas, sem camisa e com rostos cobertos, atearam fogo em um carro da emissora de televisão SBT e quebraram motos de funcionários dos Correios.

Por volta das 20h, o Terreirão do Samba foi invadido. Parte do grupo seguiu em direção à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Com a generalização dos confrontos, uma mulher foi ferida no rosto, sendo levada no colo por manifestantes para longe do local. O fotógrafo do GLOBO Marcelo Piu e o repórter do canal GloboNews Pedro Vedova foram atingidos por balas de borracha. Por volta das 21h30m, o Hospital Souza Aguiar já havia recebido 33 feridos.

Os policiais chegaram a avançar com carros para cima da multidão. Um grupo usou tapumes - que haviam sido instalados para evitar depredações no prédio - para se proteger. O policiamento havia sido reforçado, com cerca de cem PMs a cavalo e membros do Grupo de Operações Especiais da Guarda Municipal, tanto na prefeitura como em frente ao prédio do Centro de Operações Rio (COR). Ao ouvir sobre a confusão, muitos manifestantes, na altura da Central, começaram a voltar na direção da Candelária.

Hostilidade contra partidos

A Praça da Bandeira ficou interditada nos dois sentidos. O entorno do Maracanã, isolado por causa do jogo, permaneceu fechado, à medida que os manifestantes buscavam sair do Centro. Foram interditados ainda o Elevado 31 de Março, o túnel Santa Bárbara e uma das galerias do Rebouças. O Metrô Rio fechou várias estações, incluindo Cidade Nova, Praça Onze, Presidente Vargas, Uruguaiana, Central e Cinelândia.

Estudantes da Faculdade de Direito da UFRJ, junto à Praça da República, não conseguiam deixar o prédio. A própria Organização dos Advogados do Brasil aconselhou-os a não deixarem o prédio.

Um homem, identificado apenas como Almir, foi ferido com uma paulada na cabeça no início da noite. Segundo seus amigos, ele teria sido agredido por grupos contrários a sua ideologia. Almir foi atendido na calçada de um posto de gasolina na Presidente Vargas por médicos e estudantes de medicina voluntários.

Mais cedo, durante a concentração na Candelária, um homem vestido de vermelho, com uma bandeira da Central Única dos Trabalhadores (CUT), foi expulso com gritos hostis. Ele pretendia distribuir panfletos com o título "Abaixo a máfia da Fetranspor"". Mas os folhetos foram tomados pelos manifestantes e jogados no chão.

- A gente veio aqui também para protestar democraticamente. E é impedido? - reclamou um militante da CUT.

Já os PMs distribuíram panfletos pedindo aos manifestantes que não participassem de atos de vandalismo ou depredação do patrimônio. "Sem violência. Paz. Ajude-nos a proteger você" eram alguns dos dizeres.

Mas também houve espaço para o bom humor. O protético Eron Melo estava de Batman:

- Não tenho nada contra a Copa, mas precisamos saber para onde esse dinheiro vai e por que ele não é investido na saúde. Vim de Batman porque ele luta pelas pessoas carentes.

A funcionária do Ministério da Saúde Lenira de Araujo Pinheiro, de 69 anos, contou já ter participado de inúmeras manifestações em sua vida:

- Esses jovens estão fazendo aquilo que eu já fiz, em vão.

Fonte: O Globo

FHC; entender as razões dos atos e não desqualificá-los como ação de baderneiros

PT se irrita com ação de Haddad ao lado de tucanos

PSDB também criticou Alckmin por anúncio de redução de tarifa

Rendição conjunta. Haddad anunciou redução da passagem com o PSDB

Silvia Amorim

SÃO PAULO - Quando o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), telefonou, na tarde de anteontem, para São Paulo e informou que anunciaria, ainda naquele dia, a revogação do reajuste da tarifa do transporte público no Rio, o prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) viu ruir a sua última esperança de manter a passagem de ônibus em R$ 3,20 na capital paulista. Isolado e pressionado por líderes do PT, preocupadas com eventuais abalos à imagem da presidente Dilma Rousseff, diante da dimensão que tomou a causa dos estudantes no país, Haddad combinou com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) uma "rendição" conjunta.

O objetivo era evitar que o desgaste, inevitável, não se tornasse ainda maior.

Entretanto, a forma que o prefeito escolheu para resolver a questão - um anúncio ao lado do PSDB - desagradou ao próprio partido. O PT havia organizado ao longo do dia anúncios de redução da tarifa do transporte coletivo por prefeitos petistas em todo o país. Alvo preferencial dos manifestantes na reta final do movimento na capital paulista, Haddad remou contra a maré.

Candidato à reeleição, o governador Geraldo Alckmin também teve a sua atitude criticada por tucanos, que viram nela a criação de um precedente perigoso e estimulante para futuras manifestações. O maior desgaste para o governador, segundo avaliação de líderes tucanos, foi a ação truculenta da polícia na repressão. Mas não foi o único.

Anunciar que usará recursos previstos para obras que estão paradas para pagar a conta pela redução da tarifa também foi visto como um discurso prejudicial politicamente. Para alguns tucanos, isso passou uma mensagem de falta de planejamento no governo.

O próprio discurso adotado por Alckmin no início dos protestos contra os manifestantes soou mal dentro do partido.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reprovou publicamente, embora de forma sutil, a posição do governador, dizendo que governantes e líderes deveriam procurar entender as razões dos atos e não "desqualificá-los como ação de baderneiros".

Alckmin havia usado dias antes a expressão "baderna" para se referir a um dos protestos que terminou em confronto entre policiais e manifestantes. Haddad também viu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rechaçar publicamente a proposta levada por ele à presidente Dilma Rousseff de ampliar as desonerações para o setor de transporte.

- O governo já fez desonerações este ano. Não estão previstas novas desonerações além das que fizemos - disse Mantega.

Foi a pá de cal no plano do prefeito. Haddad contava com a ajuda do governo federal para revogar o reajuste da tarifa e procurava um discurso honroso, já que havia dito horas antes que seria "populista" qualquer decisão tomada a toque de caixa. O ex-presidente Lula e Dilma haviam orientado Haddad a recuar. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, fez apelo no mesmo sentido anteontem

Fonte: O Globo

Dilma cancela viagem ao Japão e marca reunião emergencial

Segundo assessores, governo está 'atônito'; ela deve decidir hoje pela manhã se faz ou não pronunciamento

Ontem, a presidente manteve contato com governadores e prefeitos de cidades onde houve protestos

Valdo Cruz, Andréia Sadi

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff decidiu cancelar sua viagem ao Japão e a Salvador e convocou reunião de emergência hoje pela manhã com sua equipe para avaliar a situação do país diante da onda de manifestações.

Na reunião, a presidente vai fazer um balanço dos protestos e analisar se faz ou não um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV.

Dilma determinou que seus principais ministros estejam hoje em Brasília. Guido Mantega (Fazenda), que viajou ontem à noite a São Paulo, também foi chamado e vai retornar pela manhã para seu gabinete na capital do país.

Assessores presidenciais disseram ontem reservadamente que o governo estava "atônito" e "perplexo" com as manifestações em todo o país, mas monitorava a evolução dos protestos para tomar medidas de emergência em caso de necessidade.

Segundo auxiliares, o governo estava também "preocupado" com o impacto das manifestações sobre os investidores internacionais e na imagem do país no exterior.

Esse temor decorre em particular do fato de o país estar sediando a Copa das Confederações, atraindo atenção da mídia internacional.

Além disso, o governo enfrenta no mesmo momento turbulências na área econômica, com a cotação do dólar em alta e o Banco Central sendo obrigado a fazer intervenções no mercado cambial.

Dilma ficou reunida no Planalto até as 20h30, depois que os manifestantes já não ameaçavam mais chegar ao local --eles concentravam seus ataques ao Itamaraty, seguindo depois para o Palácio da Alvorada.

Ela manteve contato por telefone com governadores, como Sérgio Cabral (PMDB-RJ), e prefeitos de capitais atingidas pelos protestos.

A reunião de hoje está marcada para as 9h30 no Palácio do Planalto. Assessores comentavam ontem que ainda não havia decisão sobre um eventual pronunciamento porque o governo temia trazer para dentro do Planalto a responsabilidade pelos tumultos no país.

O cancelamento da viagem ao Japão --que estava marcada para a próxima semana-- decorreu da avaliação de que Dilma não podia se ausentar do país neste momento.

A visita a Salvador, onde a presidente lançaria o Plano Safra do Semiárido, foi suspensa para que ela pudesse se reunir com sua equipe.

A orientação da equipe de segurança do Planalto também é evitar excesso de exposição pública neste momento em que a tensão está elevada no país, o que poderia fazer da presidente alvo de hostilidade por parte dos manifestantes.

Congresso

Em passagem pelo Congresso, Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados (PMDB-RN), disse, ontem, que "aqui ou acolá minorias que não representam a vontade do povo brasileiro praticam algumas lesões".

Ele estava na Rússia e antecipou em um dia a sua volta.

Na Câmara, ele se reuniu com diretores da Casa e com a equipe de segurança.

Do lado de fora, cerca de 3.500 policiais militares acompanham a movimentação dos manifestantes. O protesto chegou a reunir 30.000 pessoas, de acordo com a PM.

Fonte: Folha de S. Paulo

Mais de 1 milhão vai às ruas no País; violência marca protestos

Atos se espalharam por 75 cidades.


Em Brasília, a polícia reprimiu tentativa de invasão do Itamaraty.



22 ficaram feridos no Rio.


Uma pessoa morreu atropelada em Ribeirão Preto • Em São Paulo, houve incidentes entre militantes do PT e manifestantes.


Mesmo após a redução das tarifas de transporte público em 12 capitais e em dezenas de municípios, novas manifestações levaram ontem mais de 1 milhão de pessoas às ruas de 75 cidades do País. A violência marcou os protestos em diversos pontos. Uma pessoa morreu atropelada em Ribeirão Preto (SP). Em Brasília houve tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty. Manifestantes se aglomeraram na rampa de acesso e tentaram invadir o edifício, mas foram contidos pela polícia. Em São Paulo, protestos tiveram incidentes entre manifestantes e militantes do PT, convocados para uma "onda vermelha", que fracassou. Cinco rodovias no entorno da capital foram bloqueadas. No Rio, confrontos deixaram 22 feridos. Em Porto Alegre houve saques a estabelecimentos comerciais. Em Salvador, manifestantes e Tropa de Choque entraram em confronto. Nas redes sociais, novas bandeiras eram discutidas. Em meio às reivindicações sociais e políticas, se destacou um slogan: "Sem partidos".


Um milhão de pessoas protestam em 75 cidades; 1 morreu em Ribeirão Preto

Tânia Monteiro, João Domingos

• Mesmo com redução da tarifa, atos são violentos em diversos locais • Ao menos 96 pessoas se feriram no País • Em Brasília, multidão ateou fogo a colunas externas do Itamaraty e Esplanada dos Ministérios foi tomada por gás lacrimogêneo • Motorista irritado com manifestação atropelou e matou um no interior • Protesto em SP reuniu 100 mil • Multidão pede atos apartidários.

Mesmo após a redução das tarifas de transporte público em 12 capitais – e em metade das cidades da Região Metropolitana de São Paulo -, novas manifestações levaram ontem mais de 1 milhão de pessoas às ruas de 75 cidades do País. E a violência voltou a se destacar: pela primeira vez desde o início das manifestações, há 15 dias, uma morte foi registrada, quando um motorista avançou sobre um manifestante em Ribeirão Preto. Pelo menos outras 96 pessoas ficaram feridas, 62 só no Rio. Em Brasília, 12 foram hospitalizados.

A cena que mais chamou a atenção, à noite, foi a tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty, em Brasília. A polícia tentou conter os invasores com gás, mas o prédio teve janelas quebradas e focos externos de incêndio. Além disso, a paisagem da Esplanada dos Ministérios foi tomada pelo gás lacrimogêneo e até a Catedral se tornou alvo de vândalos.
Após duas semanas de protestos, foi o ataque mais violento a um centro de poder. Antes, o Congresso Nacional, a Assembleia Legislativa do Rio, o Palácio dos Bandeirantes e o Edifício Matarazzo (sede da Prefeitura de São Paulo) haviam sido alvo de protestos. Ontem, com novas bandeiras para o movimento sendo discutidas no Twitter e no Facebook e em meio às reivindicações sociais e políticas diversas que eram ouvidas, um novo grito destacou-se: "sem partidos". Integrantes dessas agremiações foram proibidos de erguer bandeiras por todo o País e o PT viu fracassar a convocação de sua "onda vermelha". Houve confronto até entre manifestantes dos "sem partido" e os do "sem fascismo". Mas o caráter multifacetado do movimento já preocupa especialistas e analistas políticos, que falam em "mal-estar" da democracia no Brasil.

Em São Paulo, a manifestação chegou à Câmara, à Assembleia e à sede da Prefeitura, mas sem confrontos – na Paulista, o tom de festa venceu. No entanto, as consequências da redução de tarifa ainda eram avaliadas por Fernando Haddad (PT), que passou o dia refazendo contas. Há pelo menos três hipóteses para cobrir o deficit financeiro provocado pela revogação do aumento da tarifa. De certo, o governo municipal aponta que o ritmo dos investimentos na cidade vai cair.

Ainda ontem, a Justiça de São Paulo mandou soltar os quatro estudantes do Mackenzie e outras dez pessoas presas em flagrante e acusados de atos de vandalismo nos protestos de terça-feira, na região da Avenida Paulista. Eles ainda vão responder por formação de quadrilha, resistência, crime de dano, desacato e incêndio. Já a Prefeitura vai cobrar do estudante de Arquitetura Pierre Ramon Alves de Oliveira, de 20 anos, os danos que confessou ter causado à sede do Executivo municipal, na tentativa de invasão, na terça-feira.

Lula suspende ida a Goiânia por temer passeata

Preocupados com manifestações anti-PT, integrantes da cúpula do partido cancelaram a ida do ex-presidente Lula, na quarta-feira, à festa dos 33 anos da legenda em. Goiânia (GO).

O discurso de Lula estava previsto para 19h. 0 partido foi informado de que uma concentração de manifestantes sairia pela Avenida Bandeirantes de Goiânia, a cerca de 0 km do Centro de Convenções, onde ele falaria.

Oficialmente, o ex-presidente informou que o cancelamento se devia a compromissos em Sao Paulo e à preparação de nova viagem à África. Procurados pelo Broüdcast Político, dirigentes do PT em Goiás disseram ter sido informados pelo Instituto Lula de que um dos motivos seria evitar manifestações contra o partido.

“Houve uma avaliação de que nesse momento poderiam usar o evento de forma política. As manifestações seriam levadas até o evento. Para que dar munição para isso? considerou. O secretario-geral do PT em Goiás, Sérgio Alberto Dias.

0 vice-presidente da legenda no Estado, Donisete Pereira, lamentou o adiamento determinado pelo Instituto Lula. “Já estava tudo pronto, já havia uma agenda-mento de dez dias”, lamentou. “É evidente que esse ingrediente (a ameaça de manifestantes se dirigirem ao evento) deve ter pesado.” Ainda não foi marcada nova data para a festa.

Dilma censura chamado do PT para as ruas, lança pacote e cancela viagens

Diante do clima de instabilidade vivido pelo País por causa das grandes manifestações de jovens e praticamente sitíada no Palácio do Planalto, r que teve de ser protegido pelo Exército^ a presidente Dilma Rousseff viu-se ontem í obrigada a enquadrar a direção nacional do PT, que estimulou militantes a se unirem aos protestos das ruas, costurou com urgência um pacote . para a juventude e cancelou as viagens que faria para Salvador hoje, e para o Japão na semana que vem.

Diante do clima político tenso e confuso, Dilma irritou-se e censurou a atitude do presidente do PT, Rui Falcão, que conclamado os militantes do partido, por meio do microblog Twitter, para uma passeata liderada pelo Movimento Passe Livre, na Avenida Paulista. Falcão tinha convocado petistas para as manifestações de ontem em comemoração à redução nos preços das passagens de ônibus, mas recuou e retirou a hashtag "#ondavermelha" no seu perfil do Twitter.

A preocupação do Palácio do Planalto e de vários dirigentes petistas era com a reação dos manifestantes, que rejeitavam a presença de partidos nos protestos. Parte dos políticos do partido previam que a incitação petista poderia dar fôlego a movimentos de hostilidade contra o partido, como de fato acabou ocorrendo (veja a cobertura dos protestos em Metrópole).

Em outro documento, uma nota do PT nacional, Rui Falcão revela a busca do partido por : um novo discurso político, que | vai além da inclusão social tão : destacada pelos governos Lula e Dilma. Em seu primeiro parágrafo, Falcão afirma que os movimentos "colocam na ordem ; do dia uma nova agenda".

O "convite" aos petistas no Twitter, porém, foi considerado um desastre dentro do PT. Dirigentes alertaram o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tem se credenciado como o consultor político de I Dilma, sobre o risco de embate entre petistas e manifestantes.

A principal preocupação de boa parte do partido é que ao ! misturar o PT nas ruas num mo: mento de tensão o próprio parti; do dê munição a adversários pa; ra que transformem parte dos protestos em atos contra o governo e Dilma diretamente, que, até o momento, não são o alvo central.

IMas o assunto divide opiniões, Uma ala de assessores palacianos acha que o PT tem direito de ir para as ruas e de fazer manifestações já que é considerado um partido de massas e de mobilizações, com uma ampla militância e pode ter detectado a necessidade de se conectar melhor com a sociedade. Outra ala, no entanto, acha que o PT tentar se impor em uma manifestação que é apartidária, pode apenas expor o partido, o governo, e a própria presidente.

"Piada" na rede - O chamamento de Rui Falcão foi atacado pesadamente por jovens que rejeitaram a participação do PT nas manifestações."Piada do dia", "somos apartidários", "sai pra lá aproveitadores" e "oportunismo canalha" foram algumas das "críticas que se fizeram seguir à orientação do dirigente petista.

"Eles são contra o governo : Dilma. E o PT é o governo Dilma. Ir para a rua só se for para : apanharmos", disse o deputado ; Domingos Dutra (PT-MA). Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), afirmou que teve : vontade de ir para o meio da multidão. "Não fui porque não fui chamado. Não sei se me aceitariam", disse ele.

Pacote - O pacote para a juventude do governo federal deverá oferecer um reforço no programa Ciências sem Fronteiras, ampliação do acesso às universidades, com a criação de novos programas sociais ou turbinando os já existentes, além da criação de projetos sociais para a i juventude que está se formando, além de aumento nas vagas : do ensino técnico.

Com as manifestações ontem, pelo segundo dia seguido a ! presidente Dilma Rousseff não : saiu do Planalto para almoçar no Palácio da Alvorada, residência oficial, que também recebeu reforços policiais.

Dilma decidiu cancelar a viagem porque avaliou ser temerário ficar fora do País por mais de uma semana,

Oposição- A ex-senadora Marina Silva usou metáforas para falar da intenção de partidos de irem às mas. "Navegar o rio depois que ele transbordou é o que todo mundo faz. Difícil é trabalhar o curso do rio enquanto está cavando a terra." "O PT - vai dizer o quê? Esse é o maior movimento depois do Diretas Já, Contesta os dez anos do governo do PT, Para mim, só se for para o PT fazer o mea culpa", alfinetou o presidente do DEM, senador José Agripino (RN).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Guerra e paz - Um Galo da Madrugada de cidadania

O Recife deu uma lição ao resto do País, ontem, levando dezenas de milhares de pessoas às ruas, que passaram sua mensagem de insatisfação, sem violência. Houve apenas incidentes isolados. O mesmo não pode ser dito de outras capitais, onde houve confronto. Em Brasília, grupo tentou invadir e tocar fogo no Palácio do Itamaraty. No Rio, pancadaria geral. Carro do SBT foi incendiado, houve saques e muita confusão, fato que se repetiu em várias cidades. Até às 23h30, clima continuava tenso.

Uma nação de extremos

Um dia em que o Brasil parou. Um dia de guerra e paz, de vandalismo e cidadania. A onda de protestos que tomou conta do País há duas semanas produziu, ontem, cenas tão distintas que nem pareciam ter sido registradas em um movimento que se propõe a passar a nação a limpo. Uma nação de extremos. No Recife, o grito de revolta encheu de cores e indignação o Centro. O protesto, que entrou para a história da cidade, reuniu 52 mil pessoas, segundo cálculos da PM. Um mar de gente formado por todos os tipos, idades, raças e classes sociais. Pessoas que faziam questão de expressar a opinião e a reivindicação, impressas em faixas e cartazes. Uma voz maciça das ruas que atendeu à convocação e seguiu em paz, condenando, quando podia, atos de grupos mais exaltados e tentativas de atentados ao patrimônio e à integridade física. No início, tudo transcorreu como manda o figurino. Jovens vaiaram vândalos e aplaudiram a polícia, que recebeu flores e retribuiu o gesto. Depois, apareceram os infiltrados, comandando arrastões e provocando prisões, em confrontos ocorridos na dispersão, depois que a maioria dos manifestantes já tinha ido para casa. Mas nada que conseguisse manchar a festa cívica popular. Muito diferente das cenas lamentáveis registradas em Belém (PA), Rio de Janeiro, Ribeirão Preto (SP), onde ocorreu a primeira morte desde o início dos distúrbios, Vitória (ES) e, sobretudo, Brasília, que virou praça de batalha. Saíram da capital federal as imagens mais absurdas de todo o processo, deflagrado por causa dos valores de passagens de ônibus e que tomaram rumo difuso. Quase incompreensível. O princípio de incêndio no prédio do Itamaraty manchou profundamente uma data tão especial para todos os brasileiros.

Um Galo da Madrugada de cidadania

As 52 mil pessoas, segundo estimativa oficial, fizeram o Centro do Recife viver um dia parecido com o do famoso desfile

Um Galo da Madrugada pela cidadania. Um dia em que o Marco Zero do Recife foi, por uma tarde, a Avenida Agamenon Magalhães, na altura do Derby, área central. A cidade toda se encontrou ali. De lá rumou e fez da Avenida Conde da Boa Vista passarela da indignação. Em torno de 52 mil vozes nas contas da Polícia Militar (PM) - e mais de 100 mil na visão dos organizadores - bradaram por de tudo um pouco. De várias cores e tendências, foram unânimes em abraçar a bandeira do pacifismo. A maratona sem vandalismo, no entanto, não escapou de cenas indesejáveis. Gangues espalhadas pela marcha promoveram arrastões, tumulto e correria. O saldo, contudo, foi positivo, sobretudo quando contrastado com a violência que marca protestos Brasil afora.Os primeiros manifestantes começaram a chegar ao Derby no início da tarde. Gritaram palavras de ordem. A metralhadora vocabular tinha alvos definidos: a presidente Dilma Rousseff e o governador Eduardo Campos.

Foi por volta das 16h que a multidão iniciou a passeata ocupando toda a Conde da Boa Vista. Em poucos minutos, o mar de gente lotou a avenida. Sem uma pauta definida, as pessoas carregaram nos milhares de cartazes um emaranhado de críticas. O manifesto foi contra o preço abusivo das tarifas de ônibus, a falta de incentivo na educação, a precariedade da saúde pública, a PEC 37 (que limita a atuação do Ministério Público em investigações criminais), o deputado federal e líder evangélico Marco Feliciano, a corrupção, os gastos excessivos com as competições internacionais a serem disputadas no Brasil, a criação de 28 novos municípios em Pernambuco, a seca, a transposição do Rio São Francisco, a falta de mobilidade urbana no Grande Recife, os problemas com alagamentos e mais um punhado de coisas.

Em frente à Igreja Universal, houve um coro de vaias. Pouco depois, adolescentes subiram no teto de uma banca de revista e foram vaiados pelos manifestantes. Gestos que fugiam do tom pacífico do movimento eram logo reprimidos. "A gente não pode depredar nossa cidade. Mas sempre tem gente para fazer o que não deve", reclamou a estudante Nathália Costa, 22.

A Polícia Militar, estrategicamente com uma braçadeira branca contendo a palavra "paz", recebeu flores de manifestantes. Numa das horas em que o Hino Nacional foi cantado, PMs ajudaram no coral. "Eles estão protestando, e não anarquizando. O que eles estão pedindo a gente pede também", resumiu a soldada Midian Pontes, do 17º Batalhão. Na Avenida Marquês de Olinda, seis homens da Companhia Independente de Policiamento com Motocicleta (CIPMoto) pediram passagem ao povo e foram aplaudidos. Retribuíram buzinando.

A falta de foco e a ausência de um líder geraram indefinição no final. A marcha ficou pulverizada após a chegada ao Marco Zero. Parte dispersou, outros foram até a Assembleia Legislativa, alguns queriam protestar em um Palácio do Campo das Princesas que está em obras e um grupo remanescente acabou na porta da prefeitura. Eles lançaram duas bombas no prédio, estilhaçaram janelas e foram afugentados pelo Batalhão de Choque.

O balanço da Secretaria de Defesa Social revelou 30 ocorrências, entre arrastões, agressões, ameaças e roubos, com 28 pessoas detidas. Nos tumultos, algumas pessoas caíram no chão, mas não houve feridos graves. Novo protesto está sendo marcado para as 16h de hoje, no mesmo local.

Fonte: Jornal do Commercio

O gigante quer muito mais

Protestos crescem no país, mesmo com reduções de passagens, inclusive em Minas.

Confrontos violentos entre polícia e manifestantes voltam a ocorrer em várias capitais.

Ativistas exaltam símbolos nacionais, como hino e bandeira, e repudiam partidos.

Concentrações populares são usadas para divulgar as mais variadas reivindicações.

A exemplo do que fizeram São Paulo e Rio, as tarifas de transporte público estão sendo reduzidas em vários outros pontos do Brasil. Na Grande BH, os ônibus metropolitanos ficam 3,65% mais baratos em 1° de julho, com a passagem predominante passando de R$ 3,45 para R$ 3,30. Contagem e Ibirité também diminuíram o custo dos coletivos, enquanto a capital e Betim caminham para fazer o mesmo. Entretanto, isso não arrefeceu os protestos de rua, que até aumentaram.

Ontem ocorreram grandes manifestações nas principais capitais brasileiras. Na capital mineira, cerca de 20 mil pessoas se reuniram na Praça Sete, seguindo para a Praça da Liberdade e Câmara Municipal, sem maiores incidentes. Mas houve violentos choques entre militantes e policiais, que dispararam bombas e tiros de borracha, principalmente no Rio, onde um grupo tentou invadir a prefeitura, e em Brasília, com tentativas de invasão ao Congresso e ao Palácio do Itamaraty.

Muita gente, muitos pedidos

No quarto dia de passeatas em BH, 20 mil pessoas se reúnem no Centro e na Câmara Municipal com reivindicações variadas

Tiago de Holanda, Mateus Parreiras, Alice Maciel, Landercy Hemerson e Luciane Evans

Cuidado. Querem tirar nosso foco. O protesto é contra a roubalheira", dizia um dos cartazes expostos ontem na Praça Sete, no Centro de BH, onde se reuniram cerca de 20 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar. Mas no quarto dia seguido de manifestações na capital, mais uma vez ficou claro que as queixas são diversas, incontáveis. Parte delas parece ser unânime, como o combate à corrupção, e outras são bem controversas. Algumas, um tanto imprecisas, exigem mudanças vagas. A variedade de reivindicações pode incomodar, mas muita gente prefere que seja assim. O Brasil, dizem, tem problemas em abundância. Na manifestação de ontem, que passou pela Praça da Liberdade e pela Câmara Municipal, no Santa Efigênia, houve menos incidentes do que nas anteriores. Até a 0h, quatro pessoas haviam sido presas. Uma por furto, uma por uso de maconha, uma por agressão e outra por atirar bomba caseira.

"Tem tanta coisa errada, que nem cabe em um cartaz", lia-se na cartolina erguida por Stephanie Messias, de 18 anos. Ela estava acompanhada de outros sete estudantes de direito. "A grande quantidade de objetivos não é ruim. Não dá para resolver tudo de uma vez, mas aos poucos as coisas mudam. A partir de agora, vamos ficar no pé dos políticos", diz a moça. Os colegas concordam. "A principal meta é reduzir o preço da passagem de ônibus, mas há muita coisa errada. A gente está indignada, por exemplo, com o excesso de dinheiro gasto com a Copa do Mundo", disse Blenda Lopes, de 19. "Na verdade, é a união de tudo: corrupção, falta de saúde e educação. A gente não aguenta mais", opina Luiz Fernando, de 19. Ele carregava cartaz criticando a imensa carga tributária brasileira. "Pagamos um monte de impostos e não temos retorno nenhum", apontou.

Como tantos outros, o cartaz segurado pelo vestibulando Wallaggy Ribeiro, de 22, atacava a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que retira do Ministério Público o poder de investigar crimes. Já o primo dele, o estudante de ciências contábeis Michel Warley, de 26, levantava outra bandeira: "Não à Copa, sim à saúde". "Há uma mês, fiquei um dia inteiro esperando em um centro de saúde e, quando fui atendido, o médico errou o diagnóstico. Disse que eu tinha virose, mas descobri que era princípio de pneumonia", contou.

O cartaz da estudante de publicidade e propaganda Luísa Teles, de 20, tinha dizeres irônicos: "Por uma saúde e uma educação nos padrões Fifa". Apesar disso, a mudança mais urgente que deve ocorrer no país é outra, na opinião dela. "O principal é tirar o Marco Feliciano (deputado federal que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara). Você não constrói uma democracia recriminando as pessoas por causa da opção sexual", alegou. A cartolina exposta por uma amiga, a estudante de direito Luiza Barros, de 20, celebrava a realização dos protestos: "País mudo não muda. O gigante acordou". Para a moça, a meta mais importante é outra: "É diminuir o salários dos políticos, os gastos que eles têm à nossa custa. Esse dinheiro precisa ser investido em saúde e educação", disse Luiza. "A galera percebeu que tem muita coisa para ser corrigida. Não tem como concentrar em um único objetivo", acredita.

Outro dizia que "não está certo o que o governo faz com nosso dinheiro". Havia quem antevisse um promissor futuro, ainda que incerto: "Amanhã vai ser outro dia". E outro ameaçava: "Só sairemos da rua quando o último corrupto cair".

Tensão na praça

Apesar dos poucos incidentes, a manifestação de ontem deu mais trabalho à Polícia Militar para organizar o trânsito. A falta de uma coordenação se refletiu em diversos impasses e desvios de trajeto que dificultaram o esquema de segurança para acompanhar o protesto e provocaram engarrafamentos. A primeira indecisão de percurso ocorreu na Praça da Liberdade, na esquina da Avenida Brasil com Avenida Cristóvão Colombo. Alguns manifestantes queriam descer para a Praça da Savassi e outros ir para a Câmara. Foi preciso retornar para a esquina, onde, depois de alguns minutos, o impasse foi resolvido com uma votação que decidiu por uma caminhada até o prédio do Legislativo municipal.

Ao longo do caminho os manifestantes conclamaram a população a piscar as luzes de casa, buzinar e seguir com a multidão. Chamou a atenção a consciência dos manifestantes, que fizeram silêncio ao passar na área hospitalar, próximo aos hospitais Santa Casa e São Lucas. Ao chegar à Câmara, não havia policiais esperando, uma vez que tropas de choque e outras unidades ficaram presas no trânsito. Mas não houve vandalismo. Os manifestantes cantaram o Hino Nacional, escalaram a laje da entrada do prédio e hastearam uma Bandeira do Brasil nos mastros do edifício.

A onda de manifestações impulsiona protestos paralelos, que começam a ganhar as ruas. Entre eles, o dos alunos do ensino médio da Escola Estadual Ordem e Progresso, no Bairro Gameleira, Região Oeste. Durante a manhã e a noite de ontem, cerca de 500 jovens, em cada turno, fecharam a Avenida Amazonas por mais de uma hora. Os alunos protestam contra o uso de um terreno ao lado para a construção de uma sede administrativa do Samu. Os estudantes imaginavam que ali seria um espaço ideal para a expansão do prédio da escola. "As salas estão superlotadas", reclama Mateus Souza, aluno do 2º ano.

Em nota, a Polícia Civil respondeu que a escola tem laboratório de informática, biblioteca, sala de multimeios, entre outras estruturas. "Além disso, toda a infraestrutura da Academia de Polícia Civil (Acadepol), à qual é vinculada, pode e deve ser usada pelos alunos e professores", diz o texto. Ainda segundo a nota, a Acadepol já está acertando com a escola a oferta de outros equipamentos. (Colaboraram Guilherme Paranaiba e Carolina Mansur)

Ator em passeata

O ator Daniel de Oliveira aderiu à mobilização e saiu em passeata pelo Centro de Belo Horizonte, sua terra natal, na noite de ontem. Acompanhado por um amigo, ele seguiu os manifestantes em protesto. Para ele, passou da hora de o povo se unir e cobrar seus direitos.

Fonte: Estado de Minas

Mais de um milhão de pessoas protestam em 75 cidades do País

Uma morte foi registrada, quando um motorista avançou sobre um manifestante em Ribeirão Preto (SP)

Da redação

Mesmo após a redução das tarifas de transporte público em 12 capitais - e em metade das cidades da Região Metropolitana de São Paulo -, novas manifestações levaram na quinta-feira (20) mais de 1 milhão de pessoas às ruas de 75 cidades do País. E a violência voltou a se destacar: pela primeira vez desde o início das manifestações, há 15 dias, uma morte foi registrada, quando um motorista avançou sobre um manifestante em Ribeirão Preto (SP). Pelo menos outras 77 pessoas ficaram feridas - 55 no Rio.

A cena que mais chamou a atenção, à noite, foi a tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty, em Brasília. A polícia tentou conter os invasores com gás, mas o prédio teve janelas quebradas e focos externos de incêndio. Além disso, a paisagem da Esplanada dos Ministérios foi tomada pelo gás lacrimogêneo e até a Catedral se tornou alvo de vândalos.

Após duas semanas de protestos, foi o ataque mais violento a um centro de poder. Antes, o Congresso Nacional, a Assembleia Legislativa do Rio, o Palácio dos Bandeirantes e o Edifício Matarazzo (sede da Prefeitura de São Paulo) haviam sido alvo de protestos. Na quinta-feira, com novas bandeiras para o movimento sendo discutidas no Twitter e no Facebook e em meio às reivindicações sociais e políticas diversas que eram ouvidas, um novo grito destacou-se: “sem partidos”. Integrantes dessas agremiações foram proibidos de erguer bandeiras por todo o País e o PT viu fracassar a convocação de sua “onda vermelha”. Houve confronto até entre manifestantes dos “sem partido” e os do “sem fascismo”. Mas o caráter multifacetado do movimento já preocupa especialistas e analistas políticos, que falam em “mal-estar” da democracia no Brasil.

Em São Paulo, a manifestação chegou à Câmara, à Assembleia e a sede da Prefeitura, mas sem confrontos - na Paulista, o tom de festa venceu. No entanto, as consequências da redução de tarifa ainda eram avaliadas por Fernando Haddad (PT), que passou o dia refazendo contas. Há pelo menos três hipóteses para cobrir o déficit financeiro provocado pela revogação do aumento da tarifa incluindo adiar o bilhete único mensal. De certo, o governo municipal aponta que o ritmo dos investimentos na cidade vai cair.

Ainda na quinta-feira, a Justiça de São Paulo mandou soltar os quatro estudantes do Mackenzie e outras dez pessoas presas em flagrante e acusados de atos de vandalismo nos protestos de terça-feira, na região da Avenida Paulista. Eles ainda vão responder por formação de quadrilha, resistência, crime de dano, desacato e incêndio. Já a Prefeitura vai cobrar do estudante de Arquitetura Pierre Ramon Alves de Oliveira, de 20 anos, os danos que confessou ter causado à sede do Executivo municipal, na tentativa de invasão, na terça-feira.

Fonte: O Tempo (MG)

Um gigante fora de controle

Mais de 1,4 milhão de brasileiros saíram às ruas em 111 cidades, numa das maiores manifestações da história do Brasil. Embora a maioria dos protestos tenham sido pacíficos, houve ataques ao patrimônio, saques, acidentes e confrontos com policiais em pelo menos quatro capitais. Em Brasília, 35 mil pessoas ocupavam a Esplanada dos Ministérios sem maiores incidentes até que um pequeno grupo tentou invadir o Itamaraty, apedrejou a Catedral e destruiu equipamentos urbanos. A presidente Dilma convocou uma reunião ministerial de emergência para discutir a crise.

Revolta em rede

Na maior série de protestos feitos em um único dia, desde as campanhas pelas eleições Diretas Já, em 1984, cerca de 1,4 milhão de brasileiros foram às ruas de pelo menos 109 cidades, em quase todos os estados dos país, ontem. Apesar de a maioria dos atos terem sido pacífica, em muitos municípios as manifestações foram marcadas por confusão no fim da noite. Houve pichações, incêndios, saques e agressões. Pelo menos uma pessoa morreu, por atropelamento, em Ribeirão Preto (SP). Para dispersar a multidão, as polícias estaduais e municipais usaram gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha.

São Paulo reuniu o maior número de manifestantes: pelo menos 356 mil foram às ruas. Na capital paulista, os protestos acontecerem sem a violência que havia ocorrido nos eventos dos últimos dias. As marchas no interior do estado foram marcadas por destruição. Vários prédios públicos e comerciais foram depredados. Em Ribeirão Preto, onde 20 mil saíram em passeata, uma pessoa foi morta por atropelamento, quando um carro tentou furar o bloqueio montado pelos manifestantes. O acidente envolveu ainda outras três pessoas. No Rio de Janeiro, alguns participantes da manifestação tentaram invadir o prédio da prefeitura. O grupo também incendiou o carro de uma emissora de tevê. (assista ao vídeo do atropelamento no Correioweb)

Alguns estados, entretanto, seguiram sem confrontos. No Recife, por exemplo, 52 mil pessoas marcharam no Centro da cidade, mas não houve registros de violência. Em Goiânia, os policiais distribuíram rosas brancas ao grupo.

Os protestos no Brasil e no mundo

Manifestantes no país: 1,4 milhão *
* Estimativa

Sem violência
Alagoas
Maceió
Amapá
Macapá
Maranhão
São Luiz
+ 2 municípios
Mato Grosso
Cuiabá
Mato Grosso do Sul
Campo Grande
Paraíba
João Pessoa
Pernambuco
Recife
+ 2 municípios
Rondônia
Porto Velho
+ 2 municípios
Roraima
Boa Vista
Santa Catarina
Florianópolis
+ 5 municípios
Sergipe
Aracaju
Tocantins
Palmas

Confronto
Amazonas
Manaus
Bahia
Salvador
+ 15 município
Ceará
Fortaleza
+ 1 município
Distrito Federal
Brasília
Espirito Santo
Vitória
Goiás
Goiânia
+ 4 municípios
Minas Gerais
Belo Horizonte
+ 8 municípios
Pará
Belém
Paraná
Curitiba
+ 5 municípios
Piauí
Teresina
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
+ 1 município
Rio Grande do Norte
Natal
Rio Grande do Sul
Porto Alegre
+ 5 municípios
São Paulo
São Paulo
+ 34 municípios

Fonte: Correio Braziliense

Dilma convoca reunião de emergência após protestos

Presidente se reunirá com principais ministros para avaliar conduta do governo e medidas como pronunciamento em rede nacional. Em vários pontos do país, manifestações começaram em paz e se encerraram com violência.

Sob chuva, milhares de pessoas foram às ruas em Porto Alegre para novo ato. Em capitais e pelo interior do Brasil, a cena se repetiu em pelo menos 100 cidades.

O Rio, que concentrou 300 mil pessoas em passeata, teve imagens marcantes de mobilização pacífica, mas também confronto de manifestantes com polícia.

Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, teve parte das vidraças quebrada e princípio de incêndio causado por coquetel molotov.

Presidente convoca reunião emergencial

Depois de acompanhar os protestos no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff decidiu convocar uma reunião de emergência para as 9h30min de hoje com seus principais ministros para discutir os efeitos das manifestações.

No encontro, a presidente avaliará relatos da extensão dos atos. A partir daí, será decidida uma nova conduta de governo, como medidas ao alcance do Ministério da Justiça e um pronunciamento oficial da presidente.

Dilma só fez uma referência pública aos protestos, na terça-feira, durante o lançamento da proposta do Código de Mineração. Disse que apoiava as manifestações pacíficas. Na hora em que Dilma deixava o Planalto, o Itamaraty era atacado pelos manifestantes. O palácio presidencial estava protegido fortemente por policiais e Exército.

Devem participar da reunião de hoje os ministros Gleisi Hoffman (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Aloizio Mercadante (Educação), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Há a informação de que Dilma poderia ser aconselhada a convocar o Conselho da República, um órgão para assessorar o chefe da nação em momentos de crise, presidido por ele e composto pelo vice-presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado e líderes da maioria e da minoria no Congresso.

Mais cedo, Dilma havia decidido cancelar a visita ao Japão na próxima semana. Ela embarcaria na segunda-feira. A presidente avaliou que não deveria sair do país neste momento de instabilidade tanto no cenário internacional quanto interno.

Ontem, o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PR-PR), comandou uma reunião dos líderes partidários. “O presidente em exercício e os líderes partidários manifestam o reconhecimento da Câmara em relação às manifestações pacíficas que estão acontecendo nos últimos dias no Brasil. Este movimento da cidadania é legítimo e gera esperanças de um revigoramento republicano”, diz a nota dos parlamentares. Líder do PSB, Carlos Sampaio (SP) deixou a reunião sem assinar o texto e disse que os manifestantes não esperam nota oficial e sim “mais postura e uma pauta propositiva de matérias de interesse do povo”.

O presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), se reuniu com três estudantes da Universidade de Brasília (UnB) para tentar mediar um encontro com líderes do movimento. Porém, não houve definição.

– A maior demonstração que o parlamento pode dar como casa do povo é estabelecer uma nova agenda em função das manifestações – disse Renan.

Dilma acompanhou as manifestações do Planalto e decidiu chamar os principais ministros para avaliar medidas

Fonte: Zero Hora (RS)

Aprendizado essencial - Marina Silva

Ninguém deveria estar surpreso, sabíamos que iria ocorrer. A internet ajuda a mudar tudo: a cultura, os negócios, as comunicações. Por que só a política não seria afetada?

Carlos Nepomuceno diz que três fatores ajudaram a transformar o mundo: a impressão em papel, a Revolução Francesa e a independência dos EUA. Eles compuseram a realidade de dois séculos e nos trouxeram até aqui, mas são insuficientes para configurar um mundo com 7 bilhões de pessoas e uma ferramenta que quebra as estruturas convencionais para intermediar a informação, a internet.

Tenho falado, aqui mesmo na Folha, daquilo a que chamo movimentos de borda. Eles se afastam do centro político estagnado, das instituições enrijecidas, das disputas por dinheiro e poder. Neles predomina um ativismo autoral, não mais dirigido por partidos ou lideres carismáticos. A presença destes é residual e produz incômoda sensação de oportunismo. Não há comando único, há relação horizontal e lideranças móveis: hoje lidero, amanhã sou liderado; hoje sou arco, amanhã sou flecha.

Esse ativismo não tem porto, carrega sua âncora e estaciona onde quer. Basta ver quantos sites temporários há na internet, usados numa mobilização ou num momento.

O essencial é perceber o que está latente. Não são os 20 centavos no Brasil, as árvores da praça na Turquia, ou qualquer demanda simbólica visível. O que está em pauta é a democratização da democracia. As pessoas não querem ser meros espectadores, lugar em que foram colocadas pelos partidos que detêm o monopólio da política. Querem ser protagonistas, reconectar-se com a potência transformadora do ato político.

Deve-se reconhecer esse desejo e respeitar o sujeito político que surge. Muitos se apressaram em desqualificar os novos movimentos, os abaixo-assinados, a campanha de defesa das florestas, a solidariedade aos índios, o "Fora Renan". Agora se esforçam para descobrir uma forma de interlocução, mas mantendo a ansiedade de liderar, usurpar, controlar.

Não basta dar 20 centavos para tirar o incômodo da sala. O que está havendo é significativo: no país do futebol, durante a Copa das Confederações, as pessoas protestam contra o custo dos estádios e dizem que queremos nosso dinheiro em saúde e educação.

O Brasil pode aprender a fazer diferente: nem transição eterna e lenta nem ruptura brusca, mas o diálogo produtivo e criativo da democracia ampliada. Temor de vandalismo? Ora, cultivemos uma cultura de paz. Prefiro sentir-me representada pelas pessoas que estão nas ruas, dizendo o que não querem, a exigir que tenham projetos definidos.

Não há salvadores da pátria, há homens e mulheres que trabalham juntos. Que seja este nosso aprendizado essencial, nossa maior mudança.

Marina Silva, ex-senadora

Fonte: Folha de S. Paulo

A estrondosa vaia que tomou as ruas do país - Roberto Freire

O mundo de fantasia edulcorado pela propaganda petista começou a entrar em contato com o Brasil real assim que o nome de Dilma Rousseff foi anunciado aos torcedores que compareceram ao Estádio Mané Garrincha, no último sábado (15), para acompanhar o jogo de abertura da Copa das Confederações, e saudado com uma estrepitosa vaia. Ao contrário do que os entusiastas do PT e da presidente poderiam imaginar, as vaias em Brasília foram sucedidas por protestos e manifestações que ganharam as ruas das principais cidades brasileiras.

A indignação generalizada, tão contundente quanto difusa à primeira vista, tem entre suas múltiplas causas justamente os gastos do governo federal para a realização da Copa do Mundo no Brasil. No mesmo sábado em que a presença de Dilma foi repudiada pelos torcedores no Mané Garrincha, milhares de manifestantes deixaram claro, do lado de fora do estádio mais caro do Mundial de 2014, que não aprovavam o dinheiro público torrado para o evento do ano que vem.

Embora o governo do PT tenha prometido inicialmente que a construção das novas arenas seria viabilizada apenas com investimentos privados, os gastos desmedidos devem ultrapassar a exorbitância de R$ 28 bilhões, segundo estimativa do próprio Ministério do Esporte. Somente nos estádios construídos ou reformados para a competição, a conta chega a R$ 7 bilhões, quantia sete vezes maior do que o valor estipulado em 2007 (R$ 1,1 bilhão), quando o Brasil ganhou o direito de receber a Copa. Desse montante, 97% é dinheiro público.

Além do repúdio aos gastos da Copa, a população brasileira tem ido às ruas para manifestar seu descontentamento com a inflação, atitude simbolizada pelos jovens do Movimento Passe Livre que se revoltaram com o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo e espalharam essa causa, como fagulha, por todo o país. O que começou como uma reivindicação localizada rapidamente ganhou dimensão nacional, com mobilizações organizadas pelas redes sociais e que abriram espaço para que os brasileiros empunhassem outras bandeiras como o combate à corrupção e à violência, mais investimentos nas áreas de saúde e educação e reforma política. Na segunda-feira (17), mais de 250 mil pessoas participaram daquela que já é a maior manifestação popular desde o movimento pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992.

Por mais que a propaganda oficial, tão afeita ao ludíbrio da sociedade, tente minimizar o impacto da onda de protestos que tomou conta do Brasil, é evidente que se trata de mais um sinal do esgotamento de um ciclo de poder cujo legado ao país é institucionalmente precário e moralmente indecoroso. A permanente afronta ao Legislativo, ao Judiciário e à imprensa independente, a cooptação de parlamentares escancarada pelo mensalão, a fisiologia na ocupação de cargos públicos, a corrupção simbolizada por dinheiro na cueca, o uso desenfreado da máquina com fins meramente eleitorais e um completo descompromisso com a liturgia republicana são algumas das marcas deixadas nesses dez anos de governos do PT.

É contra tudo isso que o povo vai às ruas, formando um coro uníssono de milhões de vozes, com diversas causas pelas quais lutar, mas um sentimento comum de indignação que estava represado. A vaia, enfim, tomou conta do país.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Partidarismo rejeitado - Merval Pereira

O fato de militantes petistas com suas bandeiras terem sido rechaçados nas manifestações em diversos estados do país ontem é um bom indício de que o movimento que chegou aos corações e mentes da classe média não se deixou contaminar por partidarismos.

Depois de uma reunião da presidente Dilma com o ex-presidente Lula em São Paulo, onde estranhamente estavam presentes o presidente do PT Rui Falcão e o marqueteiro da presidência João Santana, ficou estabelecido que o prefeito Fernando Haddad deveria reduzir os preços das passagens, e o partido entrar nas manifestações ao lado dos movimentos sociais que controla - ONGs de diversos tipos, o MST a CUT, a UNE.

Uma reunião partidária, como se vê, com a presidente da República recebendo instruções de seu tutor político, numa clara demonstração de que depende dele para se posicionar em situações de crise. A desorientação petista é tamanha que há correntes dentro do partido que pressionam o governo a dar uma guinada à esquerda para supostamente se sintonizar com esses movimentos.

Já há movimentos dentro do PT a exigir do governo que deixe de fazer superávit primário para pagar a dívida e use esse dinheiro para investimentos em saúde e educação. Ou então para que o PT deixe de lado as coalizões partidárias com o PMDB e que tais e faça uma ligação direta com as massas. Renasce em alguns setores da esquerda o sonho da democracia direta, tão em voga nos regimes bolivarianos da América Latina.

É difícil saber no que vai dar tudo isso. Não há como definir o que vai prevalecer nessas manifestações. Assim como há baderneiros infiltrados e toda uma gama de manifestantes dispostos ao vandalismo, que consideram a depredação a melhor maneira de enfrentar os governos, há também no próprio movimento do Passe Livre uma predominância de pensamento de esquerda radical. Agora que conseguiram a redução do preço das passagens, querem a tarifa zero e outras reivindicações que não estão na pauta da maioria que foi às ruas.

A tarifa zero é uma utopia do bem, que se pode tentar alcançar, e seria boa para todo mundo, embora me pareça impossível em cidades grandes como São Paulo e Rio. Mas há outras reivindicações que nada têm a ver com a grande massa que participou das manifestações, como o protesto contra o "latifúndio urbano".

E querem introduzir na pauta também a reforma agrária, uma reivindicação bastante discutível hoje no Brasil onde o agronegócio é um dos sustentáculos da economia brasileira e o latifúndio improdutivo praticamente desapareceu. Um processo de modernização agropecuária que, hoje, caracteriza o capitalismo no campo, fez com que nos últimos 30 anos o latifúndio se transformasse em grande empresa rural, tornando-se produtivo.

A maioria não está nem com os baderneiros nem com essa politização que, embora não seja partidária, é política, de grupos que lideram os movimentos. A maioria está nas ruas por causa da melhoria do dia a dia, quer que o dinheiro público seja gasto com transparência e com prioridades claras, esse é o foco central da maioria. E é por isso que as manifestações contra o aumento de ônibus cresceram se ampliaram.

Houve a adesão de um grupo grande da classe média que está sentindo os efeitos da inflação, dos péssimos serviços públicos, da opressão do Estado, que viu nessas manifestações um caminho para extravasar suas frustrações e exprimir suas reivindicações. E eles sabem porque a vida não é melhor: porque o dinheiro público é desperdiçado, roubado; os governos de maneira geral têm projetos imediatistas de poder e não projetos de longo prazo para o país.

Quem quiser levar os protestos para caminhos radicais, vai perder apoio.

Os pontos-chave

1. 0 fato de militantes petistas com suas bandeiras terem sido rechaçados nas manifestações em diversos estados do país ontem é um bom indício de que o movimento que chegou aos corações e mentes da classe média não se deixou contaminar por partidarismos

2. Já há movimentos dentro do PT a exigir do governo que deixe de fazer superávit primário para pagar a dívida e use esse dinheiro para investimentos em saúde e educação. Ou então para que o PT deixe de lado as coalizões partidárias com o PMDB e que tais e faça uma ligação direta com as massas

3. A maioria não está nem com os baderneiros nem com a politização. A maioria está nas ruas por causa da melhoria do dia a dia, quer que o dinheiro público seja gasto com transparência e com prioridades claras, esse é o foco central da maioria se é o foco central da maioria.

Fonte: O Globo

O truque envelheceu - Dora Kramer

A aplicação do velho lema que aconselha adesão ao inimigo que não se pode vencer é o que se evidenciou na convocação da militância petista às ruas feita - e depois negada - pelo presidente do PT, Rui Falcão.

Ousado, foi o primeiro partido a tentar marcar presença nos protestos a despeito do repúdio dos participantes a quaisquer conotações partidárias. "Não temos medo das ruas", disse Falcão.

As ruas, no entanto, não receberam bem essa tentativa do PT de posar de estilingue para se desviar das pedras atiradas nas vidraças. Não as reais, das depredações cada vez mais difíceis de serem qualificadas como atos isolados devido à constância com que têm ocorrido em praticamente todas as manifestações País afora.

As pedras que o PT quer evitar são as simbólicas, atiradas como expressão do descontentamento geral com serviços mal prestados pelo poder público e o mau comportamento de representantes do poder político.

A estratégia é clara e já estava delineada no discurso da presidente Dilma Rousseff logo após reunião de emergência para tratar dos protestos com o ex-presidente Lula, o marqueteiro João Santana, o presidente do PT e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, recentemente levado à condição de eminência parda.

Dilma parou de chamar críticas de "terrorismo" e tratou de demonstrar seu apreço à "mensagem direta das ruas", cuja essência, segundo ela, é "o repúdio à corrupção e ao uso indevido de dinheiro público".

Lula convocou para um encontro as centrais sindicais das quais ouviu - e segundo consta anotou - queixas contundentes aos modos da pessoa que conseguiu eleger convencendo a maioria de que seria a mais preparada para governar o Brasil. Prometeu ajeitar o meio de campo, mas ao que se sabe não defendeu sua criatura.

O partido e o governo fizeram questão de deixar patente a insatisfação com o comportamento do prefeito Fernando Haddad, atribuindo a ele o desgaste por não ter percebido a real dimensão dos movimentos e atuado politicamente no sentido de obter dividendos. Como se qualquer outra autoridade tivesse notado e estivesse preparada para reagir à altura sem prejuízos políticos. Haddad virou o bode expiatório dos companheiros.

Juntem-se esses movimentos e o que se obtém é o desenho de uma manobra na qual o PT é mestre: a transformação do malefício em benefício mediante a manipulação de fatos e falas.

Fez isso diversas vezes ao longo dos últimos dez anos (para não falar da época em que foi oposição na posse da bandeira ética chamada de "udenismo" quando levantada pelos adversários), com destaque para o escândalo do mensalão que conseguiu disfarçar como "defeito do sistema" até o Supremo Tribunal Federal rasgar essa fantasia.

Tentou agora de novo. Em sua nota convocatória, Falcão faz referências à identidade do partido com os "movimentos populares" e diz que a participação do PT impede que a "mídia conservadora" e a "direita" influenciem a pauta das manifestações.

Seria engraçado não fosse mais um exemplo da desfaçatez de um partido que governa o Brasil há dez anos e agora tenta capitalizar insatisfações que ele mesmo transformou em panela de pressão ao obstruir todos os canais de expressão do contraditório mediante o uso abusivo dos instrumentos de poder.

A julgar pela reação das tão queridas ruas, a manipulação encontrou um limite e o velho truque envelheceu.

Que dúvida... O mundo político insiste em dizer que desconhece as causas dos protestos. Recorrendo ao de Nelson Rodrigues: se quem protesta não sabe exatamente no que bate, seus alvos sabem perfeitamente por que apanham.

Fonte: O Estado de S. Paulo

No colo de Dilma - Eliane Cantanhêde

Os governos recuaram, mas a guerra continua, mais forte do que nunca. Os manifestantes se descobrem com imenso poder, multiplicam-se pelo país, desdenham os partidos e, ontem, ameaçaram cercar o Palácio do Planalto.

As tropas fiéis à presidente Dilma Rousseff tiveram de montar duas trincheiras: uma de defesa do Planalto, fisicamente; outra da própria presidente, politicamente.

Enquanto os policiais fazem um cordão de isolamento para evitar que os manifestantes batam às portas ou nas vidraças do Planalto, os (poucos) políticos realmente dilmistas tentam neutralizar a base aliada e buscar um rumo para a presidente. Mas quem está no comando é Lula.

O núcleo do poder já discute a conveniência, ou a emergência, de jogar o ministro Guido Mantega às feras, antes que as manifestações e as notícias desastrosas da economia se embolem numa só bomba e caiam dentro do Planalto, no colo de Dilma.

As ruas do país estão em chamas, enquanto a Bolsa derrete, o dólar dispara e o índice de emprego --que se mantém muito bom-- já não dá para o gasto político. Foi engolido pelas más notícias na economia e pela frustração popular.

O curioso é que, saia Mantega ou não, a protagonista é outra e o filme está ficando repetitivo. Em janeiro, como escrito neste espaço, a ordem de Lula era "destravar" a economia e o governo ou, quem sabe, destravar a própria Dilma. Cinco meses depois, lê-se na própria Folha que agora Lula quer dar uma "chacoalhada" no governo (ou, quem sabe, chacoalhar a própria Dilma?).

De lá para cá, a coisa desandou rápida e surpreendentemente. A acusação a Dilma é que, em dois anos, ela torrou o patrimônio político, econômico e social que herdou de Lula. A família lulista está tão em pé de guerra quanto os manifestantes que, por pouco, não subiram a rampa do Planalto na quinta-feira de fúria. Até o fechamento desta edição.

Fonte: Folha de S. Paulo

Sem favoritos - Denise Rothenburg

Fracassou a ideia do ex-presidente Lula de tentar tirar o PT do sanduíche pela aba das manifestações, misturando os militantes do partido aos sem-bandeiras. Em várias cidades, os defensores partidários foram acuados aos gritos de "mensaleiros". Isso mostra que, pelo menos até aqui, a marca do escândalo de 2005 não saiu, embora os petistas ainda tenham a preferência do eleitorado, de acordo com as pesquisas, e a rejeição não tenha sido privilégio do PT. Todos os partidos que testaram a força nas mobilizações de ontem foram rechaçados. E, se a onda pega, a campanha de 2014 será mais animada do que qualquer outra disputada desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.

Àqueles carecas de conhecer a história política do Brasil, que me perdoem, mas vale um histórico dos motes eleitorais de lá para cá. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso foi guindado ao poder no embalo do Plano Real. Depois, com o discurso de que a economia sofria sérios riscos caso não fosse reeleito, o então presidente conquistou mais um mandato. Em 2002, com a economia enfrentando problemas, foi a vez de o PT chegar com o discurso de equilíbrio social. Assim, Lula, em sua quarta eleição presidencial, conquista o poder não sem antes prometer que seria equilibrado na economia.

Se Fernando Henrique Cardoso conquistou a reeleição com o discurso de que era o melhor para conduzir a economia e evitar aventuras, Lula fez o mesmo com a mensagem de que o PSDB não manteria as conquistas sociais de seu governo e ainda faria uma gama de privatização de serviços públicos. Saiu tão popular que fez a sucessora, Dilma Rousseff, até o início deste ano considerada imbatível do ponto de vista eleitoral. Dilma aos poucos superou o próprio Lula em termos de popularidade e intenção de voto. Ganhou apoios na classe média, hoje mais robusta.

Agora — ufa, vamos ao que interessa! — tudo mudou. O repúdio aos petistas e a todos os partidos nos dá um sinal de que esta eleição que vem por aí em 2014 não terá um nome que predomine a anos-luz dos demais. É precipitado, entretanto, dizer que estejamos chegando novamente àquela temporada que resultou na eleição de Fernando Collor de Mello. A única comparação é a de que o país está farto dos políticos tradicionais.

Desta vez, o que os brasileiros reivindicam de maneira geral são serviços com qualidade e competência, e a boa aplicação de seus impostos. Ou seja, o óbvio. Quem conseguir convencer o eleitor de que é capaz de fornecer isso, certamente terá mais chances numa eleição, seja estadual, seja a própria Presidência da República. Num processo eleitoral tão antecipado, essa corrida já está em curso.

Enquanto isso, nos partidos...

Obviamente, quem está no poder sofre mais as consequências e a queda de avaliação. E, no momento, os partidos que têm candidato a presidente da República são poder. O PT está mais exposto por ter a Presidência, mas o PSDB também terá que prestar conta de serviços nos estados que governa, caso de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. O PSB também será cobrado. Não por acaso, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deflagrou ontem obras em emergências de três hospitais públicos do estado. E Marina Silva, que, a princípio, parece mais beneficiada, ainda não tem partido.

Os manifestantes dizem que se os governantes, de um modo geral, perceberem o perigo da exclusão eleitoral e se agarrarem no serviço de realmente melhorar aquilo que afeta a vida das pessoas, a irritação nos olhos causada pelo gás de pimenta ontem à noite já terá valido a pena.

Fonte: Correio Braziliense

Uma saída para qualquer parte - Maria Cristina Fernandes

Foi a CUT que agitou a reunião das centrais sindicais com o ex-presidente Lula no instituto que leva seu nome. Na véspera, a Prefeitura de São Paulo sacudira como uma bastilha. Naquela tarde em que os sindicalistas procuraram o ex-presidente no instituto, a periferia da cidade, longe da moçada da USP e das câmeras de televisão, aderia às manifestações.

A motivação era queremista, mas a quietude do dono da casa não abriu espaço à pauta. Os sindicalistas desfiaram suas queixas costumeiras da falta de interlocução no Planalto e comunicaram sua adesão às manifestações. Com a hostilidade dos manifestantes às suas bandeiras talvez sejam obrigados a recuar.

A Volvo, uma das maiores fabricantes de ônibus do mundo, pagou R$ 30 mil reais aos funcionários em participação nos lucros e resultados. Os motoristas de ônibus em São Paulo tiveram reajuste acima da inflação. A prefeitura participou da negociação temendo greve, mas o barco adernou do outro lado. Nem a Volvo deve pagar mais um PLR desses nem os motoristas, com o recuo na tarifa, deverão ter dissídio tão generoso. Deve ser por isso que querem aderir, mas é outro o tempo.

Partidos e sindicatos penam para voltar às ruas

Já se passaram oito anos desde que Lula ameaçou chamar os sindicatos para defender seu mandato da turbulência do mensalão. Não foi o carro de som que garantiu o segundo mandato de Lula e a eleição de Dilma Rousseff, mas o gasto de governo e consumidores.

Agora a galera não quer só comida, diversão ou arte. Busca saída para qualquer parte que os Titãs, por tiozinhos, não devem mais saber onde fica.

Naquela época Lula defenestrou Antonio Palocci e se resguardou com a turma do carro de som para se manter no poder. Agora são as duas pontas que parecem unidas para levar o homem de volta. Mercado financeiro e sindicalistas talvez acreditem que só Lula conheça a regência dessa orquestra de acordes dissonantes. O problema é que o ruído agora é novo. Ainda não apareceu um diapasão sintonizado. E não há sinais, pelo que se vê e ouve nas ruas, que o tom esteja em São Bernardo.

O discurso que Dilma e seu partido adotaram mostra que governo e PT querem fazer parte da manifestação como se não exercessem os poderes constituídos. É como se dissessem: queremos as mesmas coisas que vocês e, se não o fazemos, é porque o PMDB e os mercados não deixam. Unam-se a nós que juntos chegaremos lá.

Não é só a presença de Guilherme Afif no governo que obstrui os caminhos do PT.

O marqueteiro sopra no ouvido de Dilma e Rui Falcão e o discurso sai arrumado. Mas não resolve. A nota que a juventude do PT soltou se limita à lógica da dualidade de poder com o PSDB. Não surpreende que tenham sido hostilizados ontem na rua.

Os jovens tucanos soltaram nota que os deixa mais grisalhos que Fernando Henrique Cardoso. Os tucaninhos se recusaram a sair às ruas porque veem nas manifestações um instrumento para desgastar o governo Geraldo Alckmin. Em resposta, os petistinhas redigiram uma nota focada na violência da polícia estadual, como se nela se resumissem as manifestações.

A julgar pela citação solitária na entrevista ao Roda Viva de dois jovens do Movimento do Passe Livre, o economista Ladislau Dowbor talvez seja o que há de mais próximo de "ideólogo" do movimento. Em sua página na internet lê-se uma tentativa de explicar o que se passa na cabeça de uma geração criada longe da rua e cujos pais têm carro na garagem, saem de madrugada de casa, voltam à noite, se jogam no computador ou adormecem em frente à TV: "Se todos nós estamos ocupados em ganhar a vida, em subir nos degraus do sucesso, como as crianças vão entender nosso sacrifício como útil?".

Não é fácil perfilar uma manifestação que trocou as bandeiras por cartolinas escritas a mão. Em sua tentativa, Wanderley Guilherme dos Santos assume o risco de ser rotulado de conservador. Presidente do Diretório Central dos Estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia no final dos anos 1950, mandou confeccionar uma faixa giganteë: "Esta faculdade é nacionalista". O embate daqueles dias era a instalação de uma metalúrgica americana no Rio. A faculdade logo ficou repleta de faixas. E o DCE não demorou a descobrir que o engajamento em massa dos estudantes era patrocinado pela concorrente nacional da American Can.

Wanderley Guilherme nunca viu nada igual ao que está nas ruas, mas nesses 60 anos aprendeu a não comprar os fatos pelo seu valor de face. Não se arrisca a dizer onde a coisa vai parar, mas duvida que, pelos elevados custos de participação, os manifestantes prossigam por tempo indeterminado com o mesmo poder de mobilização.

Vê na rápida mudança na estratificação social a criação de um denominador comum para massa tão amorfa de manifestantes. Não é a miséria que gera mobilização popular. A mudança traz expectativas que não param de crescer mesmo quando a situação material, apesar de melhor, já não segue o mesmo ritmo. Fica sempre aquém do que se aspira.

O altruísmo e a juventude sempre andaram juntos bem antes de Wanderley Guilherme chegar ao DCE. Naquele tempo queriam o socialismo, justiça e a África livre do colonialismo. Mas o altruísmo, diz, não basta para fazer dos jovens portadores de futuro. Os jovens altruístas de sua geração construíram o capitalismo brasileiro que está aí sendo contestado pela moçada de hoje.

O futuro é desenhado. E não necessariamente pelas instituições que estão aí. Da diversidade desse movimento talvez surjam novos canais, desde que não se aceite como canalização a depredação de uma assembleia legislativa ou a invasão do Itamaraty.

Está claro que os presidenciáveis de 2014, a começar pela candidata à reeleição, vão mobilizar todos os recursos para canalizar em seu benefício o barulho das ruas.

Se essa moçada busca um jeito novo de fazer a coisa talvez valha procurar perto de casa, na vizinhança que lhes faltou na infância. Carcomidas câmaras municipais, como a de São Paulo, estão para revisar o plano diretor que rege a ocupação urbana. O trânsito por ali é livre, bem como nas audiências públicas que vão discutir o contrato de R$ 46 bilhões para o transporte público. Que levem os cartazes, a irreverência, a persistência e, sobretudo, o altruísmo. Se conseguirem melhorar o ônibus talvez façam uma melhor escolha para presidente.

Fonte: Valor Econômico