segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

FELIZ NATAL



Fernando Pessoa: Natal

Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.

Paulinho da Viola - Dança da Solidão

Fernando Gabeira: O bode na sala

- O Globo

Possivelmente, teremos um ano melhor. Se não houver reconciliação, um pouco mais de tolerância já pode ajudar

No final de ano, costumo tirar uma semaninha de descanso. Continuo lendo e escrevendo. Mas tento me libertar dessa gigantesca máquina de informação que nos bombardeia, incessantemente, com notícias, imagens, logotipos, memes, posts e tuítes. É uma forma de sobreviver ao estresse, à produção de cortisol que inibe a glicose no hipocampo e danifica a memória. Com o tempo, um cérebro absolutamente informado corre o risco de ser um cérebro em pandarecos.

Mas, como sou brasileiro, tomo minhas precauções. No início do mês, escrevi um artigo intitulado “Cuidado com dezembro”. É o mês que os políticos preferem para suas decisões absurdas, pois há férias, e o espírito de Natal embala as pessoas comuns. O artigo era resultado de uma experiência de meio século, pois seu ponto de partida foi o AI-5, em 13 de dezembro de 68.

Vivendo e aprendendo. As táticas parecem cada vez mais sofisticadas. Marco Aurélio decidiu numa canetada libertar 169 mil presos (segundo a Procuradoria-Geral da República), Lula inclusive. Não deu certo. Era claro que não daria. Lula nem chegou a arrumar as malas.

No meio do ano, acompanhei da Rússia uma tentativa semelhante. Para mim, era evidente que não daria, mas a cena política teve sua dose de drama. A decisão de Marco Aurélio era tão absurda que durou apenas algumas horas. Foi derrubada, e todos que a temiam respiraram aliviados.

O que há de novo neste dezembro é a tática do bode na sala. A libertação de 169 mil presos cumpriria esse papel. O bode foi retirado, e poucos se deram conta de que Lewandowski autorizou um aumento do funcionalismo, que Rodrigo Maia promulgou uma lei que permite às cidades gastar mais, e os deputados deitaram e rolaram nos projetos de isenção fiscal e aumento do Fundo Partidário. Eles sabem que isso tudo resulta em quebradeira, mas contam, como sempre contaram, com alguma forma de aumentar impostos.

A relativa frieza não é incapacidade de me indignar. Apenas tento economizar energia, sobretudo depois de um ano tão intenso como foi 2018.

Cacá Diegues: Meu caro amigo

- O Globo

Sei que você não deve ter votado nos eleitos. Mas não se agaste. Continue defendendo aquilo em que você acredita

Meu caro amigo. Como todos nós sabemos, mesmo os mais ímpios, hoje é véspera de Natal. Não me lembro se você é cristão, se professa fé ligada ao aniversariante de amanhã, ou se não tem nada a ver com isso. Tanto faz. O importante é a ideia de uma humanidade solidária, um conceito que há dois mil anos vem mexendo com o pensamento ocidental e deixando traços, alguns bem fortes, em outras religiões e ideologias pelo mundo afora. Sei que nessa ideia você acredita.

Gostei muito do texto de Milan Kundera sobre a amizade, texto que você me mandou por WhatsApp, a título de cartão de Natal. Dá vontade de ficar lendo por muito tempo, para ver se o que está lá se torna realidade por milagre divino ou inspiração dos homens. Ali, Kundera diz que a amizade é indispensável para a integridade do próprio eu e que, através dos amigos, podemos nos olhar com mais proximidade. Um amigo não empresta apenas um objeto que nos é necessário; ele empresta também o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo. Na dor, um amigo entra contigo aonde for e sai do fracasso a teu lado. “Que a vida e os amigos nos ensinem a cuidarmos uns dos outros, cada vez mais e sempre”.

E aí o cartão virtual se completa com Zezé Motta a cantar, tendo ao fundo imagens coloridas, desenhos populares sobre costumes brasileiros, com brincadeira de roda, roda de samba, viola nos braços de uma moça, pipas no céu, noites na beira de uma praia. E Zezé canta, naquele seu grave gracioso, sem instrumento musical algum a lhe importunar o canto: “Botei uma flor na janela, pra Iemanjá ver do mar, da lua olhando pra ela, São Jorge vai abençoar, com a força que vem com as ondas, com os raios que vêm do luar, encontro amor e alegria, pro ano que vai começar”.

Ana Maria Machado: Em louvor do livreiro

- O Globo

Tomara que haja muitos livros ao pé de árvores de Natal esta noite. E que uma grande variedade deles se faça presente entre amigos, ocultos ou não. De preferência, comprados em livrarias e escolhidos com atenção e pensamentos voltados para o presenteado, seus gostos, sua personalidade. Faço votos também para que continue viva na memória de quem sai de férias a carta de amor aos livros escrita pelo editor Luiz Schwarcz, que desencadeou tantas manifestações de comovidas lembranças de leituras. Oxalá muitos e variados títulos enriqueçam momentos de lazer neste verão. E que sejam obras de boa qualidade, algo além de meros chicletes da mente — o que não impede que muitas possam ser divertidas e leves.

A crise econômica e as dificuldades gerenciais que se manifestaram na situação falimentar de nossas livrarias (21.000 fecharam em dez anos), como a Saraiva e a Cultura, chamam a atenção para a importância do livro e a fragilidade do setor no atual momento. Algo muito mais complexo do que apenas as constatações rasas — como a de que brasileiro lê pouco, preços são elevados ou a de que há efeitos de má gestão e da concorrência predatória da Amazon e de sistemas de venda direta que, ainda que úteis para pedir um título específico, não permitem tentadoras escolhas de impulso.

Fareed Zakaria: Reação geral ao populismo

- The Washington Post / O Estado de S.Paulo

A preocupação não deve dar lugar ao desespero; há muitas pessoas em todos os países que se opõem à política de raiva e identidade

Emmanuel Macron tem sido a grande esperança para quem teme que a política global seja dominada pelo populismo, o nacionalismo e o racismo. Na campanha presidencial do ano passado, Macron conseguiu mobilizar a França em torno de uma mensagem de reforma e multilateralismo, permanecendo firmemente devotado à União Europeia e a outras alianças e instituições internacionais. No mês passado, ele reuniu 65 líderes mundiais para um grande encontro dedicado à governança global.

Macron aguentou as humilhações causadas pelos protestos dos “coletes amarelos”. Foi forçado a recuar em algumas de suas reformas e adotar novos subsídios para reduzir o orçamento, numa tentativa de apaziguar as multidões. Há a confusão no Reino Unido, que continua tentando (e fracassando) concluir o Brexit. A Itália enfrenta problemas orçamentais. Hungria e Polônia tentam adotar uma democracia não liberal. Tudo isso contribui para uma imagem deprimente da Europa e do Ocidente.

Mas as coisas estão realmente tão sombrias? Como aponta Matthew Karnitschnig, do Politico, o apoio à UE está em seu auge em décadas. E em um exame mais detalhado, enquanto as forças do populismo continuam a crescer em alguns lugares, a história dos últimos meses tem sido principalmente de retrocesso. Considerem a Polônia e a Hungria, os exemplos perfeitos do movimento populista-nacionalista. Na Polônia, os esforços para reformar a Suprema Corte do país provocaram imensos protestos nacionais, e o supremo tribunal da Europa ordenou que a medida fosse revertida. Na segunda-feira, Varsóvia acatou às disposições.

Na Hungria, os últimos passos autoritários do primeiro-ministro Viktor Orbán - mudando a lei trabalhista e a autoridade judicial - também desencadearam protestos generalizados, unindo como nunca antes as forças de oposição. A rebelião de rua representa uma oposição generalizada ao partido no poder, que previsivelmente usou gás lacrimogêneo contra os mais pacíficos manifestantes, condenou-os como anticristãos e acusou George Soros de organizar todo o caso.

Denis Lerrer Rosenfield: O Supremo sou Eu!

- O Estado de S. Paulo

Marco Aurélio estendeu ao limite seu poder decisório, resvalando para o arbitrário

O Brasil é um país que não vive em paz consigo mesmo. Não há um dia sequer em que o cidadão de bem não tenha de estar atento a alguma medida esdrúxula do Judiciário, do Legislativo e do Executivo. Se dependesse do povo, o Supremo Tribunal Federal (STF) não existiria mais, tamanho seu descrédito.

No apagar das luzes do ano judiciário, um dia antes do recesso do Supremo, o ministro Marco Aurélio Mello decidiu, monocraticamente, mandar soltar todos os presos por condenação em segunda instância que não tenham esgotado todas as instâncias recursais. Fez como se seus colegas não contassem para nada. Ele, só ele, seria a encarnação da lei. A sua mensagem foi clara: “o Supremo sou Eu!” – com E maiúsculo.

O ministro Marco Aurélio, por sinal, defendeu a sua decisão “preventivamente” durante a tarde, afirmando que se o presidente do STF, Dias Toffoli, viesse a cassar a liminar, isso significaria uma “autofagia”, pois os ministros estão em posição de paridade. Paridade seria, na verdade, o respeito a decisões anteriores do Supremo, incluídas as colegiadas.

Diante da pressão generalizada – imprensa, sociedade civil, movimentos políticos, setores do Judiciário e do Ministério Público –, o presidente Dias Toffoli decidiu acatar os argumentos para derrubar a liminar apresentados pela procuradora-geral da República, Raquel Dogde, visando a suspender os efeitos da decisão do ministro Marco Aurélio até que o plenário do STF aprecie a matéria de forma definitiva, em abril de 2019.

O rito constitucional voltou ao seu trilho, porém o estrago estava feito. O Supremo mostrou, mais uma vez, não estar à altura de sua missão, que seria a de salvaguardar a Constituição e, por via de consequência, as instituições do País. Expôs a sua falta de coesão e, sobretudo, o seu distanciamento do que pensa e percebe a sociedade. Um Supremo divorciado socialmente cai inevitavelmente no descrédito.

Cida Damasco: Tempo de esperanças

- O Estado de S.Paulo

Mais empregos, menos desigualdade. Desejos que se renovam

Novo ano, novíssimos tempos. Mais que tudo, porém, novas esperanças. Hora de fechar o balanço de 2018, com todas as suas conquistas e decepções, e de retomar a lista de desejos e promessas para 2019. E, na economia, como essa lista é extensa! São expectativas remanescentes dos últimos anos e outras que ganham corpo com a chegada ao poder de um novo governo, depois de uma eleição que derrubou a dualidade política dominante no País ao longo de quase três décadas e trouxe à luz uma agenda social que parecia superada há bom tempo.

Sem perigo de errar, no topo do ranking dos desejos da maioria da população para a economia, está a retomada firme do crescimento. Leia-se a retomada do emprego. Claro que não a volta daquele pleno emprego que andou frequentando algumas áreas do Brasil no período de PIB acelerado, lá pelos idos de 2010/2012, a ponto de representar, para muitos analistas, um risco de descontrole da inflação. Mas a recuperação de um saudável dinamismo do mercado de trabalho, capaz de garantir a absorção das levas de desocupados ainda existentes no País – são cerca de 12,3 milhões, segundo as estatísticas mais recentes do IBGE – e também de ampliar a oferta de vagas de maior qualidade, dentro do circuito da formalidade.

Marcus Pestana: Os cinco núcleos do governo Bolsonaro

- O Tempo (MG)

Todo projeto governamental, para alcançar o sucesso, depende de três fatores básicos internos: ideias claras a partir de um diagnóstico preciso da realidade (planejamento estratégico de qualidade); consistência orçamentária (padrão de financiamento compatível); e capacidade gerencial (liderança, coordenação, recursos humanos, estruturas adequadas, processos eficientes). Também fatores externos interferem: ambiente institucional, base parlamentar, apoio da sociedade, cenário internacional.

Temos grandes desafios a serem enfrentados. Estamos todos cansados dos efeitos negativos da grande recessão recente, das consequências nocivas da corrupção endêmica, da frustração permanente em relação ao crescimento econômico e da perda de motivação e horizonte das novas gerações.

Torcemos pelo êxito do novo governo, independentemente de alinhamentos políticos. Haverá enorme resistência às mudanças necessárias. Se o nível de ambição em relação à profundidade das reformas for muito rebaixado ou mesmo a agenda de transformações for abandonada, por déficit de liderança, convicção ou apoio, poderemos assistir ao agravamento da crise.

No Congresso Nacional, teremos inédita fragmentação, com a presença – sem precedente em qualquer país democrático – de 30 partidos políticos. As eleições para as presidências da Câmara e do Senado serão decisivas.

Marcus André Melo: Bolsonaro é Collor 2.0?

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro pode aprender com a experiência fracassada de Collor.

Os contornos do governo Bolsonaro já podem ser divisados e suas prováveis semelhanças e diferenças com o de Collor pode iluminar questões sobre a governabilidade futura.

A principal semelhança está no estilo de campanha hipersonalizado e sem mediação partidária: ambos foram candidatos de micropartidos. Embora não se trate de outsiders, seus discursos são marcados pelo mesmo caráter antissistema. Mas há também diferenças notáveis: Collor não contou inicialmente com apoio partidário de seu próprio partido, o PRN, criado de forma ad hoc, embora tenha construído uma coalizão majoritária: 253 parlamentares (50,3% da casa), mas aquém do quórum constitucional de três quintos.

Na eleição legislativa de 1990 (os pleitos não foram coincidentes), o PRN elegeu 40 deputados, 36 abandonaram o partido durante o impeachment.

A dinâmica presidencial, centrípeta, desaparece se o presidente se enfraquece.

Bolsonaro montou uma coalizão ainda formalmente minoritária (composta de partidos com 127 deputados), embora seu partido será provavelmente catapultado ao posto de maior da Câmara. O efeito de coattail (impacto da eleição presidencial sobre a legislativa) é produto do alinhamento do calendário eleitoral no país que teve início apenas em 1994.

Celso Rocha de Barros: Brasil dá adeus ao centro

- Folha de S. Paulo

Posse de Bolsonaro será o início da 1ª experiência brasileira com extremismo ideológico eleito

Supondo que arrumem um substituto para Fabrício Queiroz na direção do Rolls-Royce, Jair Bolsonaro deve tomar posse como presidente do Brasil no próximo dia 1º.

Será o fim do intervalo não decorativo de Michel Temer e o início da primeira experiência brasileira com extremismo ideológico eleito democraticamente.

Não sabemos como será o governo Bolsonaro, que compromissos está disposto a fazer, que compromissos será obrigado a fazer. Mas é indiscutível que ninguém até hoje venceu eleições no Brasil com um discurso tão distante do centro.

A formação do ministério não sinalizou qualquer disposição para o compromisso. O governo Bolsonaro começará com mais generais no ministério do que os governos da ditadura —e eles parecem moderados comparados a seus companheiros de gabinete.

Os doentes olavistas emplacaram pastas importantíssimas, o ministro do Meio Ambiente está lá só para liberar licenças, a ministra dos Direitos Humanos está lá porque os evangélicos ainda não tinham emplacado um ministério.

Vinicius Mota: Para que serve o governo?

-Folha de S. Paulo

Presidente instila confiança econômica na população, que será afetada com alongamento do prazo até a aposentadoria

Um novo presidente da República está prestes a tomar posse. Essa é a única variável a explicar a brusca inversão de expectativas sobre a economia —do pessimismo para o otimismo— detectada pelo Datafolha. Tudo mais ficou constante.

Em tais ocasiões pouco frequentes, quando a história propicia um ambiente quase laboratorial ao observador, surge uma pista poderosa da razão pela qual o governo existe. Ele é um grande, talvez o maior, catalisador das esperanças e das desesperanças da comunidade política.

Na longa série do instituto, um outro episódio célebre de reviravolta no humor do eleitorado foi detectado no final de outubro de 2014, pouco antes do segundo turno da eleição presidencial. O mau humor predominante com o futuro de repente despencou —era a senha da disposição da maioria estreita para reeleger Dilma Rousseff—, mas menos de dois meses depois estava reposto.

Para determinar o sucesso e o fracasso de um governante, muitas vezes a convicção coletiva sobre o que vai ocorrer prevalece sobre os outros dados da realidade e sobre os desdobramentos prováveis dos fatos.

Ricardo Noblat: O plano de Queiroz

- Blog do Noblat | Veja

Onde ele está?

É um clássico. À espera de proteção, Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado Flávio Bolsonaro, só irá depor ao Ministério Público do Rio de Janeiro depois que a família mais poderosa da República subir a rampa do Palácio do Planalto no próximo dia 1º.

Ele precisa explicar entre outras coisas como movimentou em um ano pouco mais de 1 milhão de reais em sua conta bancária sem dispor de renda pessoal para tanto. E por que um cheque seu de R$ 24 mil foi parar na conta de Michelle Bolsonaro, a futura primeira dama.

Por duas vezes, Queiroz faltou ao encontro marcado com os procuradores. Alegou problemas de saúde. Está a cuidado de médicos, embora não se saiba aonde, nem desde quando.

Nome de Doria para o PSDB, Bruno Araújo quer guinada conservadora

Aliado do governador eleito, deputado Bruno Araújo (PE) diz que sigla deveria adotar novo discurso nos costumes

Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

Nome preferido do governador eleito de São Paulo, João Doria, para assumir a presidência nacional do PSDB em maio, quando a sigla realizará sua convenção, o deputado federal Bruno Araújo (PE) defende que o partido assuma uma posição mais conservadora nos costumes.
“O PSDB não pode ter o receio de fazer inflexões a pautas mais conservadoras, como, por exemplo, a redução da maioridade penal, que tem apoio da maioria da sociedade e que recebeu votos na Câmara da imensa maioria do partido”, disse Araújo ao Estado.

Ele também defende a garantia de posse de arma nas áreas rurais – bandeira que mobiliza a base do presidente eleito, Jair Bolsonaro –, sugere a adoção de cotas sociais em substituição às cotas raciais, quer “racionalidade na pauta ambiental” e enxugamento do Estado.

A proposta de Araújo contraria o discurso social-democrata histórico do partido, coincide com o projeto de Doria de “tirar o PSDB do muro” e coloca a sigla no centro do debate nacional com uma agenda mais à direita do que a historicamente seguida pelos tucanos.

Doria e Araújo também advogam que o partido vote favoravelmente projetos que Bolsonaro apresente no Congresso e não se opõem aos convites feitos a tucanos para integrar o governo – ao menos quatro assumirão cargos na gestão federal.

FHC e Serra são contra guinada
Já a atual direção do PSDB e nomes históricos do partido, como o senador José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, são contra a essa mudança de discurso e também contra o embarque na administração federal. Em entrevista à revista Veja, FHC declarou que, “se o PSDB virar uma sublegenda do governo, qualquer governo, estou fora”.

Entrevista / Hartung: A hora de um novo partido de centro vai chegar

Governador do Espírito Santo afirma que o momento é de debater propostas para o País e formar novas lideranças

Entrevista com Paulo Hartung, governador do Espírito Santo

Eduardo Kattah, enviado especial, O Estado de S.Paulo

VITÓRIA - Após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para o Palácio do Planalto, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (sem partido), avalia que o papel do centro político neste momento é debater propostas para o País e estimular a formação de líderes. A criação de uma nova legenda, segundo ele, ainda não é prioridade. Hartung, porém, admite: “Acho que esse momento vai chegar”, disse em entrevista ao Estado.

No fim do seu terceiro mandato no Palácio Anchieta – sede do Executivo local –, Hartung lançou recentemente um livro sobre sua experiência na gestão da crise no governo capixaba, o único Estado do País a ser avaliado este ano com a nota máxima no equilíbrio fiscal pela Secretaria do Tesouro Nacional Hartung está sendo convidado a aconselhar governadores eleitos e defende a Lei de Responsabilidade Fiscal. “Toda vez que se mexe na LRF é para piorar.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Data marcada: fusão

- Estado de S. Paulo

A união do PPS com a Rede ficou para 2019 e, se tudo der certo, será em março. O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), não reeleito, preparou uma lista de compromissos. “Estou com medo de que fiquem discutindo a burocracia da fusão, e não o programa”, disse.

Sabático. Após dois mandatos, o senador afirmou que fará “pequenos sabáticos” a partir de janeiro. “Vou escrever, ler e viajar”, afirmou. África do Sul e China estão na lista.

Novo Congresso precisa mudar o sistema partidário: Editorial | O Globo

Deveria ser uma reforma prioritária no Legislativo, a partir de fevereiro, na próxima legislatura

Há consenso sobre a urgência e necessidade de uma reforma política baseada em três aspectos fundamentais: reduzir o custo de se fazer política no Brasil, principalmente nas temporadas eleitorais; melhorar o padrão de representatividade política, deixando-o mais equilibrado em relação à composição social, étnica e de gênero da população; e, ainda, que facilite a formação de maiorias legislativas para governabilidade.

É antiga a agenda desse debate, e recorrente em embates no Legislativo, nas campanhas eleitorais e nas crises de governo. Na prática, não se avança nem mesmo sobre a aplicação da cláusula de barreira, necessária, mas que agora se pretende contornar com “federações” de partidos. O impasse tem origem na aversão dos donos e dos burocratas dos partidos políticos ao substantivo “mudança”.

Para realmente mudar o modo de fazer política, é preciso, primeiro, modificar as regras do jogo partidário. Isso significaria reformatar uma engrenagem viciada na extração de dinheiro dos cofres públicos, em orçamentos nunca questionados, gastos sem transparência e fiscalização quase inexistente.

Há 35 partidos habilitados na Justiça Eleitoral. Não cabem tantas ideologias na História, mas há uma bolada de R$ 7 bilhões reservada no Orçamento de 2019 para repartição entre três dezenas que conseguiram representação no Legislativo.

Exemplo húngaro: Editorial | Folha de S. Paulo

Figura mais proeminente de políticos populistas à direita na Europa, Viktor Orbán enfrenta protestos

Na rota ascendente de políticos populistas à direita na Europa sobressai Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria reeleito em abril para um terceiro mandato (sem contar um período anterior no cargo, entre 1998 e 2002).

A figura mais proeminente desse grupo se vê agora, porém, diante de uma onda de protestos —cuja causa, talvez, seja ironicamente sua confiança excessiva no apoio que lhe foi dado pelas urnas.

Desencadeou as manifestações uma lei que ampliou de 250 para 400 o limite de horas extras por ano que empregadores podem exigir de seus funcionários, como parte de um pacote de flexibilização trabalhista para enfrentar o déficit de mão de obra no país.

Embora o diploma preveja a necessidade de consentimento por escrito do empregado, logo foi tachado de "lei da escravidão".

Pouco habituado a contestações, o premiê classificou os atos de "histeria" e, até o momento, resiste em rever a lei. Fato é que desagradou não só à parcela minoritária da sociedade que já lhe fazia oposição, mas também a seus eleitores, mormente habitantes de cidades menores com perfil conservador.

Esse estrato foi atraído pela plataforma nacionalista anti-imigração de Orbán, para quem o ingresso de muçulmanos fugitivos de guerras no Oriente Médio ameaçaria a identidade cristã do país.

Ainda que mais chamativa, a "lei da escravidão" se soma a diversas medidas controversas e autoritárias do líder húngaro. Há pouco, o Parlamento, de maioria governista, aprovou a criação de um novo sistema de tribunais sob a esfera do Poder Executivo, encarregados de questões da administração pública, como impostos e segurança.

A ingerência evidente e indevida em atribuições do Judiciário é uma das razões pelas quais a União Europeia —da qual a Hungria faz parte— ameaça impor sanções ao governo magiar, sob a acusação de violar princípios do bloco, como a independência dos Poderes.

Está cada vez mais visível o alto custo do Brexit para os britânicos: Editorial | O Globo

Novo referendo é a melhor alternativa para contornar a crise política em torno da saída da UE

Pode ser que, pelo fato de estarem à mesa de negociações pontuais britânicos e perfeccionistas alemães, os entendimentos para a saída da Grã-Bretanha da União Europeia —ou não — cumprem um calendário que aponta para 29 de março, nem mais nem menos, como o dia do desenlace. Tenham chegado a algum acordo ou não. Os europeus do continente, porém, deixaram uma porta de fuga aberta: a qualquer momento, até esta data, os britânicos podem recuar e continuar na UE, no mesmo status atual.

Mas não se vê político na Grã-Bretanha que levante esta bandeira. Por enquanto. O calendário é rígido, mas permite flexibilizações. A primeira-ministra Theresa May, por exemplo, tentou votar no Legislativo, há pouco, o acordo a que chegou com a UE. Percebeu que perderia, recuou e a pauta passou para janeiro. De certeza, até agora, apenas a convicção de que o voto do referendo em 2016, que aprovou o Brexit por estreita margem, 51,9% a 48,1%, foi emocional, impulsionado por promessas irreais do brexitistas na linha de que bastaria comunicar à UE a intenção de sair que a imigração britânica passaria a barrar quem quisesse. Não era nem nunca será tão simples.

A precipitação de Trump: Editorial | O Estado de S. Paulo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou pelo Twitter, seu meio de comunicação predileto, a “derrota” do Estado Islâmico (EI) e a retirada da tropas americanas da Síria. “Nós derrotamos o Isis na Síria, a única razão para estarmos lá durante o meu governo”, escreveu Trump, no dia 19 de dezembro. As manifestações do presidente americano indicam precipitação, para não dizer irresponsabilidade. Nem o EI pode ser dado como derrotado nem a saída dos americanos da Síria pode ser uma boa medida, ao menos por ora.

Há cerca de 2.000 soldados americanos na Síria. Eles apoiam milícias locais que combatem os extremistas do EI e protegem os curdos contra os ataques da Turquia, especialmente ao lado da milícia YPG (Unidades de Proteção Popular, em português).

É fato que o EI perdeu muito espaço e muitos homens na guerra que vem travando contra a coalização formada por cerca de 70 países, liderados pelos EUA, na Síria e no Iraque. As porções de território sob domínio da brutal facção foram significativamente reduzidas nos últimos anos. Entretanto, é prematuro considerar subjugado o grupo terrorista.

A declaração de Trump preocupou países aliados dos EUA na Otan. “Fizemos o EI recuar, mas a ameaça não acabou. Há grande perigo de que a consequência dessa decisão (retirar as tropas americanas da Síria) prejudique a luta contra o EI e destrua o sucesso que foi alcançado até aqui”, disse o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas.

A reação mais contundente, no entanto, foi doméstica. Ninguém menos do que o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, apresentou sua carta de demissão após uma reunião com o presidente em que manifestou sua discordância sobre a política de Trump para o Oriente Médio e tentou, em vão, dissuadi-lo da decisão de sair da Síria. “O presidente merece alguém para comandar o Pentágono que esteja mais bem alinhado com seus pontos de vista”, escreveu Mattis.

Otimismo com juros: Editorial | Folha de S. Paulo

Brasil tem a melhor chance em décadas de deixar para trás a era de taxas aberrantes

Segundo as últimas projeções do Banco Central, o país pode atingir uma auspiciosa marca em 2019 —o mais longo período de juros baixos, ou civilizados ao menos, de sua história documentada.

Trata-se, sem dúvida, de um fator a dar consistência para o otimismo dos brasileiros com a economia. Segundo o Datafolha, 65% creem que a situação nacional vai melhorar nos próximos meses.

A não ser por uma deterioração aguda do ambiente externo, ou na hipótese de fracasso do novo governo em fazer avançar uma reforma da Previdência, o cenário indica que o patamar atual da taxa do BC —os 6,5% anuais vigentes desde março— poderá ser mantido em 2019 sem pressionar a inflação.

Nas estimativas mais consensuais de analistas, a variação do IPCA ficaria em torno de 4% ao ano até 2020, compatíveis com as metas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,25% para o próximo ano e 4% para o seguinte.

A expectativa de evolução benigna dos preços se deve, em parte, à elevada ociosidade no mercado de trabalho, com taxa de desemprego ainda próxima de 12%.

Bombas nas contas de 2019: Editorial | O Estado de S. Paulo

Com mais R$ 4,7 bilhões fora de seu controle, o governo central terá maior dificuldade para frear e tornar mais eficiente o gasto público no próximo ano. Esse dinheiro poderia ser aplicado em funções de enorme importância para os cidadãos, como educação, saúde, segurança ou obras públicas, mas será destinado ao reajuste salarial do funcionalismo. O presidente Michel Temer tentou, por meio de Medida Provisória (MP), adiar o reajuste para 1.º de janeiro de 2020, dando um precioso fôlego financeiro à nova administração. Mas o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu por decisão liminar os efeitos da MP. Tentativa semelhante havia sido bloqueada no ano passado pelo mesmo ministro.

Servidores federais ganhavam em média R$ 8,1 mil por mês em 2016 e acumularam em 20 anos ajustes bem superiores à inflação. Pelos últimos dados disponíveis, a média salarial do trabalhador formal do setor privado chegou neste ano a pouco mais de R$ 2 mil. Esses trabalhadores, ao contrário dos funcionários públicos, são facilmente demissíveis e têm sido as grandes vítimas do desemprego nos últimos anos.

A tentativa do presidente Michel Temer poderia fracassar mesmo sem a intervenção do ministro Lewandowski. Sem aprovação parlamentar, a MP perderia efeito em 8 de fevereiro e, ao descuidar do assunto, mais uma vez a maioria dos congressistas teria jogado contra a gestão responsável das finanças públicas.