• Planalto teme que rompimento do maior aliado estimule saída de outros partidos
Após diretório fluminense anunciar que apoiará o fim da aliança na próxima terça-feira, ministros e assessores de Dilma já apelam para a negociação de cargos numa tentativa de conter rebelião
O iminente desembarque do PMDB do Rio deixou apreensivo o Planalto, que teme não conseguir conter a debandada de todo o partido. Um integrante do governo resumiu o rompimento como “gravíssimo, um sinal muito ruim”. A presidente Dilma e o ex-presidente Lula tentaram, sem sucesso, reverter a decisão do diretório fluminense. Em meio ao processo do impeachment, o Planalto apela até para negociar cargos diretamente com deputados.
Ficou ainda mais difícil
- Governo assiste ao desembarque do maior aliado, o PMDB, e teme contaminação da base
Leticia Fernandes, Catarina Alencastro e Jeferson Ribeiro - O Globo
BRASÍLIA e RIO - O governo manifestou forte preocupação com a decisão do PMDB do Rio, anunciada anteontem, de abandonar a presidente Dilma Rousseff. A debandada da ala fluminense do partido, principal eixo de sustentação da petista, praticamente sela o desembarque do governo que o partido deverá oficializar na reunião do diretório nacional, na próxima terça-feira, diz um assessor do Planalto. Uma fonte próxima a Dilma avalia ainda que, com a saída do PMDB, fica muito mais difícil vencer a guerra contra o impeachment, inclusive porque o anúncio pode fazer outros partidos aliados, como o PP, seguirem o mesmo caminho.
— É gravíssimo, um sinal muito ruim. Fortalece enormemente o movimento de terça-feira. O PMDB do Rio era o principal eixo de sustentação do governo dentro do partido, não tinha ala mais governista no partido do que a fluminense. Vai nos exigir um esforço imenso de negociar deputado por deputado a manutenção da aliança. Desarma muito o governo — avalia um integrante do governo.
Assim que foi oficializada a posição do PMDB fluminense, tanto Dilma quanto o ex-presidente Lula ligaram para o ex-governador Sérgio Cabral, um dos principais caciques do partido no Estado, para pedir ajuda para estancar a sangria. Segundo relatos de peemedebistas, Lula estava “desesperado” e a conversa foi “fria” e “para falar o óbvio”.
Cabral, que liderou a tomada de posição do partido ao lado de Jorge Picciani, presidente do PMDB no Estado do Rio, e do prefeito do Rio, Eduardo Paes, avisou aos petistas que nada poderia fazer para ajudar, pois já é tarde demais. O PMDB do Rio avalia que não tem nada mais a ganhar com o acúmulo de desgaste de defender o governo, enfrentado principalmente pelo líder do partido na Câmara, o deputado Leonardo Picciani, eleito com auxílio do Palácio do Planalto. Picciani ainda não sinalizou que posição deverá tomar, mas seus passos serão observados com atenção pelo governo.
— Juntou a fome com a vontade de comer. O Lula, desde a eleição do (governador) Pezão, falou com Cabral duas vezes, Dilma nem ligou para o Eduardo Paes nessas semanas difíceis, sequer para pedir qualquer coisa. Aí fica o Leonardo Picciani apanhando e todo mundo carregando desgaste sem ter qualquer tipo de reconhecimento. Essa foi uma prova da importância do PMDB na manutenção ou não de Dilma no poder — disse um integrante do diretório fluminense, resumindo a posição do partido: — A gente pode chegar até a beira da cova, mas não vai para dentro dela.
Apesar do cenário negativo, uma fonte próxima a Dilma diz que o governo ainda tem esperança de reverter votos no PMDB e que o caminho para isso é conversar. Para esse auxiliar, se o PMDB romper a aliança com o governo na próxima terça-feira, ainda há uma pequena chance de resistir ao impeachment atuando no varejo com os deputados diretamente.
— Dizem que nós estamos oferecendo cargos para ter votos. Estamos mesmo. Mas eles (os que querem o rompimento da aliança) também estão — disse, em referência a um eventual governo comandado pelo vice-presidente Michel Temer. O clima entre os gabinetes de Dilma e do peemedebista é de guerra fria. Não há comunicação direta entre os dois e ambos os lados suspeitam dos movimentos do outro.
Pimentel tenta conciliação em Minas
O Planalto considera que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está atuando para ajudar a manter o PMDB dentro da aliança, mas o governo sabe que Renan tem limites para ajudar. Se o governo não conseguir votos para vencer o impeachment na Câmara, diz a fonte, não será o Senado que vai impedir a saída de Dilma.
— Ele tem dado mostras de que vai tentar evitar o desembarque (do PMDB). Mas se a gente não conseguir os votos na Câmara, não adianta pensar que o Senado vai barrar o impeachment.
Após os últimos acontecimentos, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, do PT, foi escalado para tentar evitar que o diretório mineiro do PMDB também vote pelo fim da aliança com o governo. Ele terá uma reunião amanhã com o seu vice e presidente do partido no estado, Antônio Andrade.
Em entrevista ao GLOBO, o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, justificou a decisão do partido de votar pelo desembarque do governo:
— Não existe em política apoio incondicional, você precisa construir consensos mínimos. Na terça- feira, nós vamos defender com nitidez que o PMDB deve tirar o apoio, entregar os cargos e aguardar serenamente o desenrolar dos acontecimentos. Unanimidade não vamos conseguir, mas teremos maioria — disse.
O cacique do Rio contou que almoçou, no último domingo, com o vice-presidente Michel Temer e fez sugestões a ele sobre um eventual governo do vice: que monte um Ministério “enxuto, com no máximo 15 pastas”, recheado de “grandes nomes” e que aponte para um “rigoroso ajuste fiscal”. Picciani disse que, independentemente da decisão que o filho, Leonardo, tomar sobre o apoio ao governo, ele “não deve nada ao governo”:
— Respeito a posição do meu filho, convivendo com a presidenta, mas tem além disso a posição da bancada. Ele está muito à vontade, nada deve ao governo, e o líder deve sempre expressar a vontade da maioria.