Política Democrática Online**
“Brasileiro, profissão esperança” – era
assim que costumávamos nos autodefinir, na trilha do belo musical de Paulo
Pontes sobre Dolores Duran e Antônio Maria, ainda nos anos 1970. A ditadura,
afinal, era como que “externa” a nós, imposta de fora. Não a queríamos, só
éramos forçados a suportá-la. O que talvez explique certo pessimismo hoje
disseminado é a descoberta – terrível – de que a esperança não é
necessariamente nossa profissão e muito menos a segunda natureza. De dentro de
nós mesmos, de pessoas como nós – amigos, parentes, vizinhos – podem brotar
dezenas de milhões de votos capazes de jogar o país, como jogaram em 2018, nos
braços da extrema-direita. Uma escolha, historicamente desesperada, de quem
quer voltar atrás no tempo, negar conquistas, fugir a incertezas e desafios.
A experiência da luta contra o regime ditatorial nos educou, é verdade, mas é preciso entender bem o que houve. Aprendemos, por exemplo, que o “centro político” é um conceito essencial, pois nele se cruzam, se chocam e, também, se conciliam as tendências fundamentais de toda uma conjuntura. O centro não é um termo médio amorfo, um espaço povoado por mornos ou desmotivados para a luta, mas, sim, o elo que é preciso pegar firmemente com as mãos para fazer mover, num sentido ou no outro, o conjunto das forças políticas e a própria sociedade. De nada adianta autoexilar-se num gueto, batendo a mão no peito e apregoando a condição de “verdadeira” esquerda – condição talvez sincera, certamente impotente.