quinta-feira, 7 de abril de 2022

Luiz Sérgio Henriques*: A frente democrática, aqui e agora

Política Democrática Online**

“Brasileiro, profissão esperança” – era assim que costumávamos nos autodefinir, na trilha do belo musical de Paulo Pontes sobre Dolores Duran e Antônio Maria, ainda nos anos 1970. A ditadura, afinal, era como que “externa” a nós, imposta de fora. Não a queríamos, só éramos forçados a suportá-la. O que talvez explique certo pessimismo hoje disseminado é a descoberta – terrível – de que a esperança não é necessariamente nossa profissão e muito menos a segunda natureza. De dentro de nós mesmos, de pessoas como nós – amigos, parentes, vizinhos – podem brotar dezenas de milhões de votos capazes de jogar o país, como jogaram em 2018, nos braços da extrema-direita. Uma escolha, historicamente desesperada, de quem quer voltar atrás no tempo, negar conquistas, fugir a incertezas e desafios.

A experiência da luta contra o regime ditatorial nos educou, é verdade, mas é preciso entender bem o que houve. Aprendemos, por exemplo, que o “centro político” é um conceito essencial, pois nele se cruzam, se chocam e, também, se conciliam as tendências fundamentais de toda uma conjuntura. O centro não é um termo médio amorfo, um espaço povoado por mornos ou desmotivados para a luta, mas, sim, o elo que é preciso pegar firmemente com as mãos para fazer mover, num sentido ou no outro, o conjunto das forças políticas e a própria sociedade. De nada adianta autoexilar-se num gueto, batendo a mão no peito e apregoando a condição de “verdadeira” esquerda – condição talvez sincera, certamente impotente.

William Waack: A conspiração contra a terceira via

O Estado de S. Paulo

Regras do jogo eleitoral, sistema de governo e eleitorado difuso ajudam Lula-Bolsonaro

O que conspira contra candidaturas de terceira via é muito mais do que a ausência, até aqui, de nomes fortes entre os candidatos e a hipocrisia/artimanhas de líderes partidários. O que conspira é a combinação das regras da eleição proporcional com o aumento do poder do Legislativo no sistema de governo, e a essencial formação de bancadas nutridas. Situação agravada por um eleitorado que não diferencia “esquerda” ou “direita”.

O voto para deputado federal é “pessoal”, mas vai para a legenda do candidato no imenso distrito (o Estado) no qual disputa a eleição. Os donos do partido precisam de puxadores de voto, pois o que interessa na distribuição das cadeiras é o quociente partidário. “Puxadores” de votos são cada vez mais (sub)celebridades, representantes de corporações (igrejas, por exemplo) e, óbvio, a força do nome de um presidenciável em determinada região. Por isso um mesmo partido se interessa em apoiar Lula numa parte do País e Bolsonaro em outra.

Luiz Carlos Azedo: Saída de Moro da disputa fortaleceu Bolsonaro

Correio Braziliense

Lula parece ter batido no teto, embora continue franco favorito nas pesquisas de segundo turno, em qualquer cenário. Ante Bolsonaro, venceria com 53% dos votos contra 33%

Pesquisa Ipespe divulgada ontem confirmou as expectativas de que a saída do ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro reforçaria muito mais a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro na corrida eleitoral deste ano, na qual o primeiro tenta voltar ao poder e o segundo, busca a reeleição. O mais beneficiado foi Bolsonaro, que subiu de 26% para 30% de intenção de votos, na comparação com o levantamento realizado em 25 de março. Lula manteve-se na liderança, com 44%.

Bolsonaro cresceu entre pobres (de 31% para 35%), no Sul (de 31% para 39%) e no Sudeste (de 25% para 31%). A subida não pode ser creditada apenas ao deslocamento dos eleitores de viés mais ideológico de Moro. Tem a ver, também, com o controle da pandemia da covid-19, a injeção de recursos do Auxílio Brasil e outros benefícios do governo no orçamento das famílias e, ainda, com os investimentos do Centrão em pequenas e médias cidades, por meio do chamado orçamento secreto. Parte dos votos de Moro, como era de se esperar, foi captada por Ciro Gomes (PDT), que passou de 7% para 9%, e pelos candidatos da chamada terceira via: João Doria (PSDB), passou de 2% para 3%, e Simone Tebet (MDB), de 1% para 2%.

A propósito da terceira via, ontem houve um encontro dos presidentes do PSDB, Bruno Araújo, e do Cidadania, Roberto Freire, que formam uma federação; do MDB, Baleia Rossi; e do União Brasil, Luciano Bivar, que lançou sua pré-candidatura, embaralhando mais ainda a busca de uma chapa unificada. O grupo estabeleceu o prazo de 18 de maio para chegar a um denominador comum, o que continua sendo muito difícil. Há duas razões para isso. A primeira é de ordem objetiva: segundo as pesquisas espontâneas, o voto em Bolsonaro (passou de 25% para 27%) e Lula (manteve 36%) está se consolidando, o que mostra cristalização da polarização entre ambos. A segunda é subjetiva: os candidatos precisam demonstrar disposição de se retirar da disputa.

Merval Pereira: Sincericídios a granel

O Globo

Lula e Bolsonaro, no afã de manter a polarização da campanha presidencial, jogam cada qual para seu núcleo radical de eleitores, abrindo mão, neste momento, de tentar ampliar o alcance de suas candidaturas. Lula entra em conflito com a classe média, retomando a tese da filósofa petista Marilena Chaui, que berrava: “Eu odeio a classe média”. Bolsonaro também assusta a classe média, que votou nele em peso em 2018, ao insistir na possibilidade de intervenção militar. Vamos por partes.

Lula se excedeu em sincericídios nos últimos dias, a começar pela exortação a seu pessoal da CUT para que tire “a tranquilidade de políticos”, cercando-os e às famílias em suas residências. Em resposta, vários parlamentares bolsonaristas mostraram suas armas, avisando que os petistas seriam recebidos à bala se tentassem essa intimidação. Quer melhor polarização do que essa? Com quem você fica: com aquele que se defende armado, seguindo a orientação de Bolsonaro, ou com os que, incentivados por Lula, cercarão a casa dos outros? Não há opção boa. Sem contar a bobagem desmoralizante de resolver a guerra da Ucrânia na mesa de um bar.

Malu Gaspar: Arthur Lira, a Petrobras e a ética do arcebispo

O Globo

Tudo o que se refere à Petrobras faz vir à tona o que há de mais íntimo na alma nacional. O último a desabafar em público foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), inconformado com a descoberta de que a existência de conflitos de interesses pode impedir alguém de presidir a petroleira.

“Quer dizer, você tem que pegar um funcionário público para ser diretor da Petrobras? Ou pegar um arcebispo para ser diretor da Petrobras? Um almirante, um coronel? Não, você tem que colocar alguém que entenda de petróleo e gás. Alguém que entenda do setor, que vá ser julgado dali para a frente sobre suas ações.”

Tudo isso porque o consultor Adriano Pires, com quem Lira jura não ter nada a ver, renunciou à indicação do presidente Jair Bolsonaro depois que foram expostos os conflitos que teria no comando da Petrobras.

Para que fique claro: como consultor, Pires trabalha para empresários com interesses na companhia. O mais célebre é Carlos Suarez, sócio da distribuidora de gás do Amazonas, a Cigás, em negociação com a petroleira para encerrar uma lista de litígios judiciais. Só em uma das 11 ações em discussão, a Cigás pleiteia receber R$ 600 milhões da Petrobras.

Outro que foi convidado e desistiu foi Rodolfo Landim. O presidente do Flamengo chegou a ser alvo de uma apuração do Ministério Público da Suíça por causa de um depósito de US$ 643 mil na conta do mesmo Suarez.

Maria Cristina Fernandes: Memórias do Cárcere

Valor Econômico

Munição para as milícias digitais bolsonaristas é o que Lula pode tirar de pior de suas memórias do cárcere

A inédita desistência dos indicados para a presidência da Petrobras e do conselho de administração é decorrência do último bastião dos costumes reformados a partir do mensalão até a Lava-Jato. Alguns caíram por exagerados, como a condução coercitiva, outros por desmoralizados, como o instituto da delação. Há ainda aqueles, como o foro privilegiado, que seguem convenientemente congelados.

Foi a reversão das mudanças na jurisprudência e nos costumes da política suscitadas pela escandalogia que azeitou a política nos últimos seis anos. Esta reversão, porém, esbarrou no muro erguido pela governança da Petrobras e pela Lei das Estatais. Quando a onda foi impedida de avançar para devolver à política o controle da maior empresa brasileira, o sistema travou.

Foi a esta trava que o presidente da Câmara, Arthur Lira, reagiu. Se quer vender a Petrobras é para fazer o bis da Eletrobras, cujo modelo de privatização resultou num retalhamento de interesses com prejuízo público e benefício privado. Na tramitação da medida provisória da Eletrobras, que transcorreu na Câmara sob o comando de Lira, há benesses que dependem da Petrobras para serem abrigadas.

Eugênio Bucci*: Pantanal é pop, Pantanal é agro, mas não é tudo

O Estado de S. Paulo

Uma novela é só uma novela e não dará conta de responder que mudanças históricas estarão por trás das transformações do signo daquele lugar.

Eugênio pronuncia palavras sonoras e precisas para retratar o pai de Zé – e Zé se abespinha. Aos seus ouvidos, aquela história na voz de Eugênio faz alusões que ferem a figura de seu pai idolatrado. Seu coração crispa. Para Zé, o pai é um ente intocável, que existe num plano acima dos mortais. Sim, seu pai deixou a vida, mas não chegou a entrar na morte. Filho dedicado, concebe o pai (isso mesmo, o filho concebe o pai) como um totem que se move além da vista, capaz de agir – invisível, mas real – sobre o destino de seus descendentes. Tomado por tão grande devoção, Zé não compreende as palavras de Eugênio e as repele, agressivo e casmurro. Depois, terá tempo de perceber que, em nome de seu zelo filial e vaidoso, rechaçou nada menos que a verdade – mas, no primeiro momento, seu impulso é rechaçar o que não lhe soa bem.

Estamos em Pantanal, a nova novela de horário nobre da Rede Globo de Televisão. A cena descrita no parágrafo acima foi ao ar na terça-feira. Eugênio, o violeiro interpretado por Almir Sater, canta uma bela moda que fala sobre um velho peão que sumiu sem deixar rastros. Zé Leôncio (Renato Góes), filho do peão de nome Juventino, que desapareceu feito sombra por este mundão de marruás, fica ofendido ao ouvir a cantiga. Detesta a sensação de ver o pai numa narrativa que fuja ao seu controle de herdeiro. Emburrado, fica de pé num repente e se retira da roda de viola.

Vinicius Torres Freire: Melhora do emprego e Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Número de pessoas com algum trabalho aumentou 8 milhões em um ano

O número de pessoas com algum tipo de emprego neste começo do ano voltou ao nível do que se registrava em 2020, logo antes do início da epidemia. Ultrapassou em quase 8 milhões o número de ocupados no início de 2021, em pleno horror da Covid. São os dados da Pnad do IBGE para os trimestres encerrados em fevereiro.

Essa recuperação do emprego pode ser o motivo da recuperação de alguns pontos de Jair Bolsonaro nas pesquisas eleitorais e de avaliação do governo?

"Algum tipo de emprego" inclui bicos, trabalhos que o IBGE chama de por "conta própria" sem registro de CNPJ. Sim, há muito emprego ruim, precário, inseguro. No entanto, o número de empregados formais no total de pessoas com algum trabalho é agora praticamente o mesmo de 2020, pouco mais de 57%.

É verdade que o salário caiu pavorosamente. "O rendimento real do trabalho caiu de R$ 2.741 há dois anos para os atuais R$ 2.511, ou seja, uma perda de 8,4%. Quando observada a massa de salários, a queda é ligeiramente menor, de 7,8%", escrevem os economistas do Bradesco em relatório sobre o assunto divulgado nesta quarta-feira (6).

Maria Hermínia Tavares: Vencer Bolsonaro é difícil, mas possível

Folha de S. Paulo

Esquerda e centro dependerão dos votos que resgatarem da candidatura oficial

Leitura mandatória para todos quantos se preocupam com o país, o artigo "Barômetros ideológicos", dos cientistas políticos Antonio Lavareda e Vinicius Silva Alves, publicado nesta Folha no dia 3 deste mês, contém uma boa tese e uma notícia ruim.

A boa tese: quando se considera a votação obtida pelos grandes blocos ideológicos —esquerda, centro e direita—, os resultados no plano municipal antecipam os das eleições seguintes para o Planalto, o Congresso e os governos e assembleias estaduais.

Baseados em um estudo meticuloso de todos os pleitos desde 1985, os autores demonstram que, embora ocorram dois anos antes, as disputas locais estão articuladas com as seguintes: o que ocorre nos municípios tende a se reproduzir nos outros níveis da Federação. Assim, por exemplo, quem tivesse ouvido com a atenção devida o proverbial recado das urnas em 2016 não teria se surpreendido tanto com o desastre da esquerda em 2018.

Nos municípios —onde realmente vivem as pessoas, como lembrava o sábio Ulysses Guimarães—, vereadores e prefeitos são cabos eleitorais importantes, alicerces de candidaturas aos cargos em jogo nas esferas estaduais e federal.

Thiago Amparo: Falar de aborto como questão de saúde é falar de democracia

Folha de S. Paulo

O acesso seguro ao aborto é a verdadeira política pró-vida

"A mulher pobre fica cutucando seu útero com agulha de crochê, tomando chá de qualquer coisa. Enquanto isso, a madame pode fazer aborto em Paris, ela pode ir para Berlim, encontrar uma boa clínica e fazer um aborto", disse Lula ao defender a legalização do aborto nesta terça (5). Nos idos de 1998, ele se dizia contrário ao aborto e até ao casamento LGBT. Mudou de posição, felizmente.

Não é a primeira vez que Lula tem uma fala pró-aborto: em 2021, em entrevista ao rapper Mano Brown em seu podcast, Lula defendeu ser pessoalmente contra aborto, mas a favor, enquanto chefe de Estado, do aborto como "direito da mulher" e "política pública". Em 2009, como presidente, defendeu o mesmo.

Retórica é uma coisa, política pública é outra: Lula e Dilma, na Presidência, foram ambivalentes na retórica e omissos em intentar mudar a política pública sobre o tema. Engana-se quem pensa que o flerte de Lula com o aborto seja ir longe demais --pensar assim implica naturalizar a política nacional, ditada por homens (85% no Congresso).

Míriam Leitão: A visita rápida dos investidores

O Globo

O Brasil não melhorou, o mundo é que piorou bastante. Isso é o que os economistas explicam, em resumo, sobre a forte entrada de capital nos últimos meses que provocou uma queda grande do dólar. A boa notícia é que investidores estrangeiros que não estavam nem um pouco interessados em Brasil, tempos atrás, agora vieram com força. Mesmo assim, estão entrando de forma temporária e focada. O objetivo principal é a bolsa, e nela, as empresas de commodities e bancos.

Mesmo se a guerra contra a Ucrânia acabasse hoje, a Rússia continuaria sendo vista como um parceiro não confiável. Está fora do radar dos investimentos, até porque centenas de empresas viraram as costas para o país de Vladimir Putin. Outros emergentes estão com problemas. Na Turquia, o presidente intervém no Banco Central na hora que quer. Na América Latina, a Argentina está no FMI, o Chile, que sempre foi o darling do mercado, está com um presidente novo e a Constituição sendo escrita. O Peru está com oito meses de governo, quarto gabinete e terceiro pedido de impeachment. Para se ter uma ideia de como o capital está correndo o mundo atrás de rentabilidade, mesmo o Peru estando nessa enorme crise houve uma entrada de capital na bolsa e a moeda se valorizou. O dólar caiu 7,2% diante do sol peruano.

Mauricio Stycer*: É preciso subir o volume

Folha de S. Paulo

Bolsonaro ameaça a democracia, e a TV não está sabendo mostrar isso

Como reagir quando o presidente da República exalta a ditadura ou seu filho faz chacota com a tortura sofrida por uma jornalista? A reposta não é simples, mas é preciso ter em mente que tempos extraordinários exigem um telejornalismo extraordinário.

Muita gente argumenta que reproduzir as bravatas de Bolsonaro na televisão apenas alimenta a difusão do seu discurso. Seria melhor, segundo esse raciocínio, não mostrar o presidente falando e apenas resumir, mediado pelo texto jornalístico, o que ele quis dizer.

Já acreditei nisso, mas hoje tenho dúvidas sobre a eficácia desta estratégia. Talvez sirva para figuras que dependem basicamente da promoção pessoal, como o deputado que passou uma noite no Congresso para não colocar a tornozeleira eletrônica. Não é o caso do presidente. Esconder os absurdos que profere parece apenas birra. Com as fontes de informação hoje tão difusas, o que ele fala, infelizmente, chega de qualquer maneira ao ouvido de quem deseja ouvi-lo.

Em momentos como o do 31 de março, quando Bolsonaro diz que sem o governo militar "seríamos uma republiqueta", não basta fazer um contraponto, lembrando que houve perseguição, tortura e assassinatos de opositores do regime. Isso é o mínimo.

Luiz Roberto Nascimento Silva*: Um filtro para as fake news

O Globo

As fake news não podem se beneficiar do imenso manto protetor da liberdade de expressão que caracteriza as democracias ocidentais. Claro que, em condições normais, não se deve intervir na liberdade de todo indivíduo de exercer e externar sua opinião ou crítica, não deve haver filtros ou peneiras no livre fluxo do pensamento.

E por que em campanhas políticas a intervenção se justifica? Porque existem provas concretas de uso de fake news alterando a escolha do eleitor, como no Brexit, que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia — decisão que até hoje os ingleses lamentam e de que se arrependem.

O impulsionamento de mensagens falsas pelo WhatsApp em campanha eleitoral é crime porque, para confeccionar e enviar milhares dessas mensagens, é necessário muito dinheiro, o que configura abuso de poder econômico. Fazendas de celulares disparam mensagens para números telefônicos escolhidos. Essas mensagens divulgam “notícias” simétricas às que foram disparadas por outros aplicativos, fazendo que o usuário se convença da veracidade do conteúdo, que, vindo de fontes distintas, parece real.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Licença para mentir

O Globo

A REJEIÇÃO na Câmara do regime de urgência para a tramitação do PL das Fake News, que criminaliza a desinformação nas redes sociais e estabelece regras de transparência e responsabilidade no meio digital, terá efeito desastroso na campanha eleitoral deste ano.

A URGÊNCIA permitiria que o texto fosse votado em plenário sem passar pelas comissões temáticas e daria esperança de que as novas normas entrassem em vigor antes do pleito. Mas nem a imunidade conferida aos parlamentares — uma das falhas do projeto — os incentivou a acelerar a tramitação.

PRENUNCIA-SE AGORA uma repetição da avalanche de desinformação e mentiras a serviço das mais variadas candidaturas. Para não falar no passe livre concedido à campanha do presidente Jair Bolsonaro e de seus seguidores contra as urnas eletrônicas, com o objetivo de tumultuar o país em caso de derrota. A displicência do Legislativo empurra ao Judiciário a responsabilidade (e o ônus) de zelar pela tranquilidade do pleito. Retardar a votação equivale a dar uma licença para mentir.

É urgente investigar as atrocidades na guerra da Ucrânia

O Globo

A guerra é quase tão antiga quanto o ser humano. É também ancestral o esforço para restringir conflitos armados mediante leis que definam quando a guerra é admissível (jus ad bellum) e o que nela é admissível (jus in bello). Esse debate ganhou um novo capítulo a partir da invasão da Ucrânia por tropas russas em fevereiro e, mais recentemente, com os indícios de que soldados de Vladimir Putin torturaram e executaram civis a sangue frio em áreas próximas à capital, Kiev.

Poesia | Vinicius de Moraes: Soneto de contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma…

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.

 

Música | Jorge Aragão: Feitio de paixão