Dino acertou ao separar os papéis de político e juiz
O Globo
Aprovado pelo Senado, seu desafio será
manter-se fiel ao comportamento que disse ser ideal a ministros do STF
Flávio Dino não
foi o primeiro político indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas foi o primeiro político sabatinado num momento de polarização aguda. A
expectativa criada em torno de sua atuação no Ministério da Justiça fazia
antever um clima de conflagração. O que se viu foi o oposto: uma sabatina na
maior parte técnica, em que respondeu de modo sereno e respeitoso às questões.
Ao longo das dez horas em que ele e o indicado à Procuradoria-Geral da
República, Paulo Gonet,
foram submetidos à inquirição dos senadores, Dino abandonou o figurino de
político e demonstrou, na exposição de seu pensamento, estar à altura de
envergar a toga de ministro da mais alta Corte do país.
Logo em sua apresentação inicial, ele fez a distinção essencial entre seu papel atual como político e seu futuro papel como juiz. “Não se pode imaginar o que um juiz foi ou o que um juiz será a partir da leitura da sua atitude como político”, afirmou. “Seria como examinar um goleiro à luz de seu comportamento como centroavante.” Definiu a política como “espaço da pluralidade”, mas lembrou que, no Supremo, “todas as togas são da mesma cor”.