DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Lançamento da pré-candidatura da ministra Dilma aumenta a irritação de oposicionistas com a demora do governador paulista para entrar no páreo. Impasse prejudica a formação de palanques regionais do PSDB
Daniela Lima
O PT já tem um nome: Dilma Rousseff. Também tem um líder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última semana, aprovou uma proposta de programa de governo que prevê, por exemplo, um estado forte e o compromisso com a estabilidade econômica. Até uma polêmica a campanha da ministra-chefe da Casa Civil já tem: a participação de José Dirceu, antecessor da petista no ministério, líder influente no PT, mas que monopoliza os holofotes devido ao escândalo do mensalão. Enquanto isso, no reino dos tucanos, o governador de São Paulo, José Serra, ainda se esquiva do lançamento oficial de seu nome como pré-candidato à Presidência da República.
A demora — que já irritou o maior aliado do PSDB, o DEM, e as bases do tucanato — agora enerva integrantes da cúpula do partido. “Enquanto a Dilma ocupou lugar de destaque em todos os jornais no fim de semana, nós ficamos assistindo”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). A fala de Dias ilustra o dilema que o PSDB vive. A aparente paralisia de José Serra, deixada um pouco de lado durante o carnaval, provoca inquietude. Aparente porque, nas palavras do presidente da legenda, senador Sérgio Guerra (PE), o governador paulista tem se movimentado nos bastidores.
“Posso listar para você pelo menos 10 estados em que o Serra está atuando para auxiliar na montagem dos palanques.” Citou seis: Paraná, Pará, Alagoas, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.
Essa mobilização de bastidor não está satisfazendo alguns tucanos. Há entre os integrantes do partido um sentimento de que, enquanto o PSDB ainda toca a sucessão presidencial em compasso de espera, Dilma cresce nas pesquisas (1)e divulga a candidatura governista. “Todo mundo tem a sua hora. Nós temos uma estratégia e vamos segui-la. Não podemos olhar para o lado, ver o que o adversário está fazendo e tentar copiar. Isso não funciona. Temos de confiar no partido nesse momento”, declarou o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA).
Turbulência
Entre as unidades da Federação citadas por Sérgio Guerra como alvo da movimentação de Serra, estão aquelas em que um imbróglio político incomoda tanto a petistas quanto a tucanos. No Rio de Janeiro, no Pará e no Paraná, o PSDB tem centrado esforços mais para embaralhar do que ajeitar o jogo eleitoral. A estratégia atrapalha pretensões pessoais que afloram no tucanato. Ainda assim, Guerra garante que a sigla não está em crise. Para reforçar o discurso, ele passou a repetir como um mantra que ter pressa é bobagem. Para o senador, a movimentação de Serra só deve ganhar corpo após o fim do prazo de desincompatibilização, em 4 de abril.
“Depois disso, Dilma terá que deixar o cargo de ministra e descer para a planície onde estão todos os outros pré-candidatos. Não adianta começar agora (a campanha) enquanto ela anda com Lula para cima e para baixo, usando a máquina pública para divulgar a candidatura”, disse Guerra. Mas a demora de Serra em assumir sua posição acaba colocando o partido em situações sensíveis. Essa postura e o crescimento dos índices alcançados por Dilma nas pesquisas de intenção de voto inflam os ânimos daqueles que acreditam na possibilidade de Serra desistir da sucessão presidencial.
“Sempre que ela cresce, as pessoas começam a falar disso. Mas é uma besteira”, rechaçou Guerra. “Ele tem um compromisso partidário e tem um compromisso com a biografia também. Essa possibilidade não existe”, endossou João Almeida. Como que para afastar a crise, Guerra continuará repetindo a cantilena da paciência tucana, a fim de acalmar os ânimos dos aliados. “Eu já estive matriculado no bloco dos afoitos. Depois, me convenci do contrário. Mesmo que ele (Serra) se apresente como candidato, não poderá barrar o caminho da outra (Dilma)”, afirmou João Almeida. “Por enquanto, estamos no ‘deixa como está para ver como é que fica’. Mas isso depois pode se tornar irreversível”, alertou o senador Álvaro Dias.
Disputa acirrada
Divulgada no último dia 18, a mais recente pesquisa Ibope sobre a corrida presidencial trouxe o governador José Serra (PSDB) na liderança, com 36% das intenções de voto, seguido da ministra Dilma Rousseff (PT), com 25%, e de Ciro Gomes (PSB), com 11%. A primeira sondagem realizada pelo instituto sobre a sucessão, em julho do ano passado, trazia Serra com 38% da preferência do eleitorado, e a candidata do presidente Lula com 18%. Em oito meses, Dilma cresceu sete pontos percentuais, e Serra perdeu dois.
"Eu já estive matriculado no bloco dos afoitos. Depois, me convenci do contrário. Mesmo que Serra se apresente como candidato, não poderá barrar o caminho da outra”
João Almeida, líder do PSDB na Câmara
Indefinição nos estados
O PSDB espera que, a partir de abril, a campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), à Presidência perca velocidade. Para a cúpula do partido, sem a possibilidade de percorrer o país inaugurando obras ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a petista ficará em igualdade de condições com os outros pré-candidatos. “A Dilma começou a fazer campanha há mais de um ano. Essa declaração oficial da pré-candidatura é uma mera formalidade. O PSDB não está fazendo esse jogo. Está seguindo a lei e sendo ético, mas sofre um prejuízo por isso”, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Dias representa a ala dos que têm pressa, porque têm pretensões eleitorais em seu estado. Quer ser candidato ao governo e critica a posição de seu partido. Segundo ele, líderes locais começaram a agir por conta própria diante da falta de direcionamento do comando nacional da legenda. “Em alguns estados, estão agindo de forma provinciana, sem pensar no projeto maior, que é a candidatura do Serra. Evidente que, se candidato, ele assume a liderança desse processo e toma frente nas negociações.”
No Paraná, o prefeito de Curitiba, Beto Richa, disputa com Dias a preferência do partido pela candidatura ao governo. Richa aparece melhor nas pesquisas de intenção de voto, mas Dias alega ser capaz de agregar mais apoio. Isso porque o senador Osmar Dias (PDT-PR), irmão de Álvaro, está na lista de concorrentes ao Executivo paranaense. “A minha candidatura contaria com o apoio do Osmar e de parte do PMDB”, declara Álvaro Dias.
Xadrez
Osmar Dias aparece em segundo lugar nas intenções de voto. Quer que Gleisi Hoffmann, presidente do PT no Paraná, esteja ao seu lado na campanha, como vice da chapa. Para o Senado, teria a companhia do governador Roberto Requião (PMDB). Os petistas, no entanto, sonham com Gleisi no Senado, não como vice de Osmar Dias. Os outros dois estados da Região Sul também estão com o jogo indefinido. No Rio Grande do Sul, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, do PT, enfrentará o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB). Ambas as siglas integram a base aliada governista. Segundo Tarso, Dilma terá dois palanques no estado.
“O PMDB sempre foi contra o PT no Rio Grande do Sul. Ela terá dois palanques, e não vejo problemas nisso”, defendeu o ex-ministro no último sábado. Fustigada por uma crise política e por denúncias de corrupção, a governadora gaúcha, Yeda Crusius, é pressionada, mas resiste a desistir da tentativa de reeleição. Em Santa Catarina, a senadora Ideli Salvatti (PT) e a deputada Ângela Amin (PP) devem disputar o governo. Os tucanos aguardam os desdobramentos da crise que se abateu sobre o vice-governador catarinense, Leonel Pavam (PSDB), para fechar uma estratégia. O DEM, partido aliado do PSDB, também tem um nome: o senador Raimundo Colombo. (DL)