*Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores
das ‘Obras’ de Gramsci no Brasil. “Duas nações, uma crise”, O Estado de S.
Paulo, 20/09/2020.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
terça-feira, 22 de setembro de 2020
Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques*
Carlos Andreazza - O duplo Bolsonaro (e o escada)
- O Globo
Presidente induz a crise e se desincumbe dos prejuízos
Não
haverá mais Renda Brasil. Não para Paulo Guedes. Nisto consistiu a mensagem
daquele vídeo bravinho: o presidente asfixiando a existência política do
Ministério da Economia. Esse foi o recado. O cartão vermelho; que, em política,
não significa, não necessariamente, ser expulso de campo, mas, com frequência,
não ter acesso à bola. O ministro, que queria ser o pai do novo Bolsa Família,
alijado do instrumento competitivo por meio do qual — na corrida com Rogério
Marinho e seus
tarcísios — concorria para
ser protagonista do financiamento à campanha de reeleição do chefe.
O
presidente sabia o que Guedes desejava. E lhe tomou os meios. O ministro
aceitou. Ele aceita. Aceita ser a carcaça reformista para mercado ver, o boi de
piranha liberal — para que avance o populismo reacionário de Bolsonaro. Nesta
altura, já sem qualquer margem para dúvida, quem fica, quem topa encenar o
liberal-guedismo, anui.
O
novo programa virá. Bolsonaro — que só pensa em reeleição —precisa tornar
permanentes, também para si, os efeitos do auxílio emergencial. É questão de
identidade. O auxílio lhe é associado — e traz dividendos. A incorporação do
Bolsa Família ao que se chamou de Renda Brasil, como estabelecimento de nova
etapa de ajuda aos sem- renda, sustenta essa identidade. Não é algo de que se
abra mão.
O
programa, pois, virá. Talvez com outro nome. Decerto com outro centro
viabilizador. O Parlamento, provavelmente. Mas com o beneficiário de sempre:
Jair Bolsonaro. Um mestre em gerar demanda e transferir ônus.
Andrea Jubé - Bolsonarismo à prova nas capitais
- Valor Econômico
“2022 começou agora”, avisa Freixo em ato petista
No evento promovido ontem pelo PT, para o lançamento de seu projeto de reconstrução do país - documento que balizará as campanhas petistas -, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, duas importantes lideranças da esquerda afirmaram que a eleição municipal dá largada para a corrida sucessória de 2022.
“Que a gente tenha a sabedoria de ver como vamos nos comportar no primeiro e no segundo turno, porque 2022 começa agora”, conclamou o deputado federal Marcelo Freixo, do Psol. “Temos que buscar não o que temos de idêntico, mas o que temos em comum”, completou. Ele teria o apoio do PT se mantivesse a candidatura a prefeito no Rio de Janeiro, mas renunciou à vaga, atribuindo o gesto à divisão da esquerda no pleito.
O governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, manifestou-se na mesma linha, e acrescentou que a esquerda tem de se esforçar para abrir diálogo com os diferentes, e não falar apenas para os convertidos. Citou o verso de Caetano Veloso: “Narciso acha feio o que não é espelho”.
Se 2022 começou agora, o cenário da largada no palco principal, que são as capitais, é adverso para o presidente Jair Bolsonaro. É uma conjuntura que emerge na contramão dos resultados da eleição presidencial. Há dois anos, Bolsonaro venceu em 21 das 27 capitais. Três delas, no Nordeste: Natal, João Pessoa e Maceió.
“O antibolsonarismo é maior que o bolsonarismo nas capitais”, afirma o cientista político Fernando Abrucio, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele avalia que a postura de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia, e o envolvimento de sua família nas investigações do suposto esquema do ex-assessor Fabrício Queiroz, afastam o eleitor de classe média, mais escolarizado, e também os jovens, do bolsonarismo.
Alvaro Costa e Silva - Bolsonaro, guardião de Crivella
- Folha de S. Paulo
Presidente faz campanha explícita para que o pior prefeito do Rio fique mais quatro anos no cargo
No boca a boca, ele é o pior prefeito da história do Rio. E acaba de bater um recorde que lhe aumenta a currículo: o quinto pedido (o segundo em menos de 15 dias) para responder a um processo de impeachment na Câmara Municipal. Detalhe do buraco em que a cidade está metida: nem assim Crivella deixou o cargo. Vai disputar a reeleição —com apoio explícito de Bolsonaro.
Primeiro pedido: em 2018, o prefeito apareceu num vídeo, ao lado de lideranças evangélicas, prometendo solucionar problemas de igrejas com IPTU e oferecendo vantagens a pastores e fiéis na rede pública de saúde (cirurgias de catarata e varizes). "Fala com a Márcia", disse ele, referindo-se a uma assessora. Segundo pedido, em abril de 2019: acusação de que a prefeitura comprou um terreno da Caixa Econômica Federal na comunidade de Rio das Pedras --que é controlada por milicianos-- sem abrir licitação.
O único processo de impeachment aprovado, mas que não foi até o fim, ocorreu em junho de 2019, quando Crivella foi acusado de cometer irregularidades ao renovar um contrato de exploração de mobiliário urbano por empresas de publicidade.
Pablo Ortellado* - Política do avesso
Política ambiental de Bolsonaro faz sempre o oposto do que indicam a ciência e o bom senso
Os incêndios que podem ter destruído 15% do Pantanal tiveram origem em queimadas para fazer pasto —pelo menos é o que apontam as investigações da Polícia Federal.
Não são apenas a irresponsabilidade dos fazendeiros e a maior seca na região em 60 anos as causas dos incêndios. A atroz política ambiental do governo Bolsonaro é componente central do colapso ambiental, tanto na Amazônia como no Pantanal —não importa o que o presidente diga hoje na Assembleia-Geral da ONU.
Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro não abraçou uma postura pró-mercado, pragmática, descuidada com a pauta ambiental —adotou uma postura abertamente antiambiental. Nessa matéria, como noutras, a ardorosa adesão às guerras culturais o tornou surdo às críticas e cego às consequências das ações.
Quando o desastre no Pantanal já não podia mais ser minimizado, Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atribuíram os incêndios não às queimadas criminosas dos pecuaristas, que a PF agora investiga, mas a uma suposta redução da atividade pecuária na região.
Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro na ONU
- Nas entrelinhas | Correio Braziliense
Desde que assumiu o poder, o governo brasileiro é alvo permanente de críticas de artistas, intelectuais, personalidades, empresários e governos engajados na causa ambientalista
Qualquer que seja a narrativa do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia-Geral da ONU, hoje, em Nova York, a política externa brasileira será sempre um prolongamento da nossa política interna. Por isso mesmo, pode ser que a sua narrativa caia completamente no vazio, se insistir na retórica de que somos o país que melhor cuida do meio ambiente no mundo, ou provocar mais ojeriza internacional ao governo atual, caso adote o discurso do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
Ontem, em audiência pública no Supremo Tribunal Federal(STF) sobre a aplicação dos recursos do Fundo do Clima, paralisado desde 2019, Augusto Heleno fez um discurso alarmista: “Não podemos admitir e incentivar que nações, entidades e personalidades estrangeiras, sem passado que lhes dê autoridade moral para nos criticar, tenham sucesso no seu objetivo principal, obviamente oculto, mas evidente para os não inocentes, que é prejudicar o Brasil e derrubar o governo Bolsonaro”, disse.
Bolsonaro falará por videoconferência, numa oportunidade privilegiada, que existe desde 1947, sem que nenhuma norma escrita nos estatutos da ONU, criada em 1945, no imediato pós-guerra, assim determine. Há três versões para que isso ocorra: a primeira é de que resultou de o Brasil se inscrever primeiro nas sessões de 1949, 1950 e 1951; a segunda, de que teria sido o reconhecimento pelo papel do chanceler Oswaldo Aranha, que presidiu a Assembleia Geral Especial que criou o Estado de Israel, em 1947; a terceira, de que seria um prêmio de consolação, por termos ficado de fora do Conselho de Segurança da ONU.
Somente nos anos de 1984 e 1985 a regra foi quebrada, pelo presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. O general João Batista Figueiredo, durante o regime militar, foi o primeiro presidente brasileiro a falar na ONU, em 1982, para anunciar a abertura política que resultou na perda do poder pelos militares; até então, a tarefa cabia ao chanceler. A presidente Dilma Rousseff, em 2011, foi a primeira mulher a abrir a Assembleia-Geral.
José Casado - Planos para uma guerra
É novidade a sincronia entre Brasília e
Washington no planejamento do cerco militar ao regime de Caracas
Na sexta-feira, o
secretário de Estado americano, Mike Pompeo, acabou enredado num roteiro quase
cômico. Saiu de Washington, parou em Boa Vista, xingou o ditador vizinho
Nicolás Maduro, desafiando-o a sair no braço, voltou ao avião e foi embora.
Teve como coadjuvante o chanceler Ernesto Araújo, burlesco cruzado do
obscurantismo bolsonarista, para quem um agente “comunista-globalista” é o
responsável pela morte de mais de 137 mil brasileiros — o “comunavírus”.
Da visita de Pompeo,
ex-chefe da CIA, restou o eco da investida contra o líder da cleptocracia
venezuelana, qualificado como narcotraficante. Nada de novo, tudo verdade.
Inovador foi o aval do
governo Jair Bolsonaro a um diplomata estrangeiro para usar o território
brasileiro num ataque a governo vizinho. Esse delito constitucional foi
flagrado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Desde a redemocratização,
interferências indevidas na política dos vizinhos eram feitas no exterior.
Lula, por exemplo, fez comícios na Venezuela pela reeleição do ditador Hugo
Chávez e mobilizou a marquetagem do PT para ajudar a eleger o sucessor Maduro,
enquanto a Odebrecht pagava as contas.
Cristina Serra - Itamaraty acovardado
Governo adotou postura indigna e covarde de submissão aos senhores da guerra
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, usou o território brasileiro para bater os tambores da guerra, hostilizar a Venezuela e desfilar sobre o tapete vermelho da sabujice estendido pelo governo Bolsonaro.
A cruzada persistente de Trump contra nosso vizinho ecoa a de Bush filho contra o Iraque, que resultou na invasão do país, em 2003, em nome das armas de destruição em massa de Saddam Hussein, nunca encontradas. Coincidência que os dois países tenham imensas reservas de petróleo? Curiosa é a preocupação democrática seletiva dos EUA, aliados inabaláveis da Arábia Saudita, um dos regimes mais repressivos do mundo.
Felizmente, a presença de Pompeo aqui, em plena campanha de reeleição de Trump, foi contestada por lideranças das mais variadas filiações políticas e matizes ideológicos.
Hélio Schwartsman - Bolsonaro e a ONU
- Folha de S. Paulo
Governo atual é prova de que mundo acertou ao não conceder vaga no CS ao Brasil
O governo de Jair Bolsonaro e seus posicionamentos na arena internacional são a prova definitiva de que o mundo acertou ao não conceder ao Brasil um lugar como membro permanente do Conselho de Segurança (CS) da ONU, organização que completa 75 anos de existência.
Não que tenha havido uma chance clara de galgarmos tal condição. As discussões sobre reforma da ONU dificilmente passarão de discussões. Mas, durante muito tempo, em especial nos governos petistas, conquistar uma vaga permanente foi meta quase obsessiva do Itamaraty, o que, aliás, nos levou a posicionamentos moralmente discutíveis, incluindo a defesa de ditaduras de olho em seus votos.
Os despautérios
sobre queimadas e pandemia que Bolsonaro deve proferir hoje em seu discurso de
abertura da Assembleia Geral ficam mais ou menos limitados a nos expor ao
ridículo, porque não passamos de um membro ordinário da organização Mas, se
tivéssemos um papel de maior relevo, aí as inconstâncias e insensatezes de
governos brasileiros teriam um impacto negativo mais concreto sobre o mundo.
Uma das funções do CS é promover a moderação e limitar a capacidade das grandes
potências de fazer o que bem entenderem.
Eliane Cantanhêde - Realidade paralela
Oliver Stuenkel* - Por que a derrota de Trump seria um desastre para Bolsonaro
Rubens Barbosa* - Brasil e Venezuela, a quem possa interessar
Armando Castelar Pinheiro* - O contrato social e o teto de gastos
- Valor Econômico
A pandemia e a lógica político-eleitoral do nosso contrato social, renovaram a pressão por mais gastos públicos
Há muito se
debate o porquê e o como do contrato social, entendido como as normas que regem
a vida em sociedade. Desde Sócrates, pelo menos, passando por Platão, Hobbes,
Locke e Rousseau, se analisa porque faz sentido para as pessoas abrirem mão de
parte de sua liberdade, permitindo que se estabeleçam leis, governos que as
façam cumprir, e tributos para financiar a máquina pública e suas políticas.
A resposta é bastante clara: o contrato social pode produzir uma melhor qualidade de vida. É melhor abrir mão da liberdade de poder matar o outro, de fazer barulho depois das 22 horas, ou de jogar seu lixo na rua, se as mesmas regras valerem para todo mundo. Em termos econômicos, o contrato social também pode facilitar a acumulação de capital, físico e humano, e um grau elevado de especialização, gerando padrões de vida superiores aos que seria possível obter de outra forma.
Não há um único modelo de contrato social, nem um que seja superior a todos os demais. Por isso, tem gente que migra de um contrato social para outro, dentro de um mesmo país, ou entre países. E, mesmo nos EUA, para onde muita gente migra, se questiona se seu contrato social não foi construído para favorecer os homens brancos, prejudicando as mulheres e as minorias raciais. O contrato social é, portanto, algo vivo, que pode ser aperfeiçoado.
Nosso atual contrato social é o escrito na Constituição de 1988,
a Constituição Cidadã, assim chamada por sua preocupação em garantir direitos
para o cidadão e impor obrigações ao Estado em servi-lo. Por isso, e por ter
evitado rupturas políticas - essa foi a sexta constituição em menos de 100 anos
-, ela é bem avaliada por vários analistas.
'Estou aqui’, diz Huck sobre possibilidade de candidatura
Apresentador foi questionado se ‘tem coragem’ de ser candidato a presidente durante reunião em São Paulo
Matheus Lara | O Estado de S.Paulo
O apresentador de TV Luciano
Huck (sem partido), cotado para
disputar a Presidência em 2022,
chamou para si nesta segunda-feira, 21, o protagonismo em debater e propor
medidas para transformações sociais, econômicas e ambientais no País. Em
reunião do Conselho Político e Social (Cops) da Associação Comercial de São
Paulo da qual o Estadão participou,
ele disse querer “mobilizar, liderar e fomentar uma geração”.
Huck foi questionado por um integrante do Cops se “tem coragem” de ser
candidato a presidente. “Estou aqui”, respondeu, antes de ponderar que, por
enquanto, se vê como “cidadão ativo” e dizer que atua sem intenções de poder.
“Eu quero mobilizar, liderar, fomentar uma geração para que a gente participe ativamente das transformações que o Brasil precisa. Ninguém vai entregar isso de graça para a gente”, disse Huck em relação a desigualdades sociais no País. “Sobre a questão da coragem (de se candidatar a presidente), estou aqui, não é? Estou aqui conversando sobre temas que não são óbvios para mim, como energia, reformas. Tenho estômago para ouvir opiniões diversas, para estar em cena num momento tão delicado do País. Neste momento, estou sentado aqui como cidadão ativo, que está no debate público.”
O apresentador evitou falar diretamente da próxima eleição presidencial e pediu foco aos temas das cidades em função do pleito deste ano. “(Não quero) personificar ou ‘fulanizar’, em mim ou outra pessoa, um debate eleitoral majoritário que não está em voga neste momento. Isso mais atrapalha que ajuda, e Brasil afora tem gente mais preocupado com a eleição (de 2022) do que em atender as necessidades das pessoas. Temos neste ano um ciclo eleitoral nas cidades e a política começa nas cidades.”
Entusiasta de movimentos de renovação e formação política como o RenovaBR e o Agora!, Huck disse que o caminho para melhorar a situação do País está na política. “Só o Estado, que é gerido pela política, tem o poder exponencial de transformação. E a política é gerida pelos políticos. Acho importante esta convocação geracional, atrair o que tem de melhor na sociedade civil para chegar perto da política.”
Huck afirmou que vê o Brasil sem lideranças que promovam o debate. “A demonização da política e a não harmonia entre Poderes estão ligadas à questão da liderança. (É preciso) uma liderança que concilie e dialogue, e não que assopre brasa com discursos sectários. Precisamos retomar o diálogo.”
A participação de Huck na reunião do Cops estava marcada para acontecer em março deste ano, mas foi adiada por causa da pandemia de coronavírus e por isso aconteceu nesta segunda.
‘O lugar do Brasil é como a maior potência verde do planeta’
Huck também falou sobre sustentabilidade e defendeu que o Brasil se torne uma nação agroindustrial sustentável, aliando o potencial da agronegócio à preservação ambiental. Para ele, esta é uma forma de atrair investimentos e transformar o País em uma “potência verde”.
“O mundo quer investir em economias limpas”, disse. “É uma oportunidade de ouro com o nosso potencial. Precisamos de lideranças que enxerguem com clareza essa oportunidade. O que tem prevalecido nos últimos anos é a visão que endossa o extrativismo predador. A aceleração do desmatamento, a não importância (dada) às queimadas como não as estivéssemos vendo. Essa é a década da bioeconomia, com floresta em pé.”
Huck diz ver convergências entre bandeiras do agronegócio e do ativismo ambiental. “Converso com os dois lados e encontro pontos em comum”, afirmou, sem dar exemplos. “Dá para romper com o litígio. Precisamos romper radicalmente com o debate raso, o litígio entre agricultura e meio ambiente, produção e sustentabilidade.”
Retomada segue sem plano – Opinião | O Estado de S. Paulo
Se o governo tem plano para sustentar a recuperação econômica sem o auxílio emergencial, deve estar empenhado em mantê-lo em segredo
Se o governo tem um plano para sustentar a recuperação sem o
auxílio emergencial, deve estar empenhado em mantê-lo em segredo.
A mera redução do auxílio de R$ 600 para R$ 300, a partir de
setembro, já provoca insegurança entre economistas. A reação econômica iniciada
em maio, depois do tombo em março e abril, tem sido puxada principalmente pelo
consumo. Até julho, a retomada na indústria havia sido insuficiente para levar
a produção de volta ao nível de fevereiro, já muito baixo. Sem auxílio especial
e com o desemprego alto, e de fato ainda em alta, é difícil dizer como será
alimentado o motor da reativação. As condições da economia em 2021 permanecem
obscuras, mas previsões são difíceis até para os meses finais de 2020, como
ontem indicou reportagem do Estado
O cenário de alta incerteza se mantém, com o patamar de atividade
muito baixo e a recuperação muito lenta, disse o economista Claudio Considera,
coordenador do Monitor do PIB-FGV, ao apresentar o quadro geral de julho. Nesse
mês o Produto Interno Bruto (PIB) foi 2,4% maior que em junho e 6,1% menor que
um ano antes, segundo as últimas estimativas. O consumo foi o principal motor,
embora tenha havido alguma reação no investimento produtivo, isto é, no valor
das aplicações em máquinas, equipamentos, obras e outros bens de produção.
Mas é muito difícil, por mais de uma razão, indicar o investimento
como importante motor da atividade, se o consumo perder vigor. Tem aumentado o
uso da capacidade na indústria, mas a ociosidade continua ampla. Em julho,
segundo o Monitor da FGV, o investimento aumentou e correspondeu a 17,1% do
PIB, mas continuou abaixo da média mensal a partir de 2000 (18%). Além disso, o
valor foi 7,8% menor que o de um ano antes, descontada a inflação
Vergonha nacional – Opinião | Folha de S. Paulo
Insegurança alimentar exige políticas que reduzam riscos criados pela pandemia para os mais pobres
Mesmo antes da crise do coronavírus, o país amargava retrocessos nos mais básicos indicadores sociais.
Pesquisa cujos resultados acabam de ser divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que a insegurança alimentar atingiu 37% de 58 mil domicílios observados entre junho de 2017 e julho de 2018.
É um nível semelhante ao registrado em 2004, quando 35% disseram estar nessa situação, e bem superior aos 23% de 2013, o melhor momento captado pela pesquisa.
No grupo que indicou algum grau de insegurança, 24% declararam preocupação com o acesso a alimentos e o risco de perda de qualidade no futuro. Outros 8% enfrentavam escassez temporária, e 5% estavam em situação de fome.
A pesquisa também oferece novas evidências das iniquidades do país. A falta grave de alimentos atingia principalmente famílias chefiadas por negros. Crianças e adolescentes também se mostravam desproporcionalmente afetados.
Reação afirmativa – Opinião | Folha de S. Paulo
Evidências de discriminação racial no mercado de trabalho dão força a iniciativas de empresas
O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, em 1888, e até hoje a maioria de pretos e pardos paga preço exorbitante pelo atraso e pela marginalidade social a que ancestrais libertos foram relegados. Quase um século e meio depois, o preconceito ainda lhes reserva os piores empregos e salários.
Quem mais enfrenta obstáculos para melhorar de vida são as mulheres de pele escura, independentemente da escolaridade alcançada. Um estudo do Insper sobre diferenças salariais de profissionais formados em escolas públicas e privadas oferece novas evidências disso.
O mercado de trabalho valoriza diplomas de universidades estaduais e federais, as melhores do país, garantindo remunerações mais altas para seus egressos. A mulher negra que consegue se formar numa delas, ainda assim, vê colegas brancos do sexo masculino ganharem até 160% mais, em média.
Indústria tem dificuldades para voltar ao nível pré-pandemia – Opinião – Valor Econômico
Os problemas da indústria brasileira se agravaram nos últimos anos com tributação elevada e ineficiente e cenário político e econômico instável
A forte recuperação da indústria nos últimos três meses animou o
setor. No gráfico da produção industrial é possível ver o traçado bastante
nítido de um V: depois de ter mergulhado em março e abril em consequência da
virtual paralisação das atividades causada pela pandemia do novo coronavírus,
voltou a subir de maio em diante. O otimismo, no entanto, tem limites. A
produção ainda está abaixo dos níveis pré-pandemia e a reação não é
generalizada.
Alguns segmentos não respondem com a mesma intensidade,
especialmente os de tecnologia mais elevada. Há perda de espaço da indústria de
transformação.
A necessidade de
isolamento social, o bloqueio aos fluxos de matérias-primas, peças e
componentes e a retração dos mercados interno e externo provocaram a virtual
interrupção das linhas de produção e resultaram em duro golpe no setor, que já
não vinha propriamente bem. Depois de crescimentos módicos em 2017 e 2018, de
2,5% e 1% respectivamente, a produção industrial caiu 1,1% em 2019, puxada pela
queda de 9,7% do setor extrativo, consequência do rompimento da barragem de
Brumadinho no início do ano.
Trainee exclusivo para negros não constitui racismo – Opinião | O Globo
Varejista Magalu acerta ao tentar ampliar a presença das vítimas do preconceito em cargos de liderança
Ao lançar um programa de treinamento exclusivo para negros, o varejista Magalu despertou reação virulenta nas redes sociais. Por usar a cor da pele como critério para seleção, a empresa foi acusada de racismo. Ao mesmo tempo, a iniciativa foi elogiada por movimentos negros, que a veem como um passo necessário na reparação de injustiças históricas.
O Magalu informou que, na empresa, se identificam como “pretos” ou “pardos” 53% dos funcionários, mas só 16% dos que ocupam cargos de liderança. De acordo com o presidente da empresa, Frederico Trajano, apenas 10 dos 250 trainees já contratados eram negros. Usar a cor da pele como critério é um atalho para corrigir a distorção.
Não apenas no Magalu, programas
semelhantes têm sido ocupados por brancos na quase totalidade. Isso é resultado
de políticas que, ao longo da história, garantiram aos brancos privilégios na
formação acadêmica, mas também do racismo que persiste em processos de seleção.
O Supremo Tribunal Federal tem sido consistente ao aprovar as cotas como forma
de ação afirmativa — e o critério do Magalu não passa de uma cota estipulada em
100%. Embora envolvam discriminação pelo fenótipo, as cotas não constituem, no
entendimento do STF, uma forma de racismo.
A autorização temerária de Crivella para volta de torcidas ao Maracanã – Opinião | O Globo
É uma decisão preocupante num momento em que a taxa de ocupação de leitos cresce na cidade
É temerária a decisão do prefeito
Marcelo Crivella que autoriza a volta de torcedores ao Maracanã a partir de 4
de outubro, na partida entre Flamengo e Athletico Paranaense. O episódio expõe
os equívocos da flexibilização como vem sendo implementada e vai além do campo
esportivo, pois envolve questão de saúde pública.
Os argumentos de Crivella não se
sustentam. Para ele, a reabertura do estádio às torcidas é uma forma de
diminuir a presença de gente nas praias, onde as aglomerações têm sido uma
constante, principalmente nos fins de semana. Daí a ideia de pedir à CBF para
que os jogos ocorram às 11h. No estádio haveria, segundo o prefeito, controle
mais rigoroso das multidões.
Ora, não é preciso ter 30 anos de praia
para saber que, ainda que a CBF aceite o horário bizarro, são públicos distintos,
em ambientes distintos. Os campeonatos têm vida própria, e a prefeitura não tem
como controlar o calendário das partidas. A menção às praias parece apenas um
pretexto para justificar a inpcia do governo para discipliná-las. Qualquer um
sabia que a decisão de liberar o banho de mar e proibir que as pessoas ficassem
na areia tinha tudo para dar errado.
Poesia | Ferreira Gullar - Poema
- Ferreira Gullar, em
"Dentro da noite veloz", 1975.