O Estado de S. Paulo
Pelas condições de vida, somos um país
paupérrimo e obscenamente desigual
A indagação que paira sobre as nossas
cabeças é se o nosso trenzinho caipira começou, finalmente, a subir a serra, ou
se prossegue em seu patético desnorteio, descambando rumo ao abismo.
As últimas semanas trouxeram duas notícias
alvissareiras. Primeiro, a de que o impulso do agronegócio tende a dinamizar o
crescimento econômico nos próximos meses, a ponto até, quem sabe, de estimular
a entrada de investimentos estrangeiros. Segundo, a última pesquisa eleitoral
do Datafolha ofereceu claras indicações de que as urnas mandarão o sr. Jair
Bolsonaro de volta ao lugar de onde nunca devia ter saído.
Chamar de “trenzinho caipira” um país com
um agronegócio poderoso pode soar como um atrevimento. É como chamar de
“carroça” a nona ou décima maior economia do mundo. Pelo critério do volume
absoluto, não há dúvida, podemos sair por aí batendo nosso bumbo caipira. Mas
em seguida precisamos examinar a renda anual por habitante, a catastrófica
situação do nosso sistema de ensino, o desempenho de, no mínimo, 30% dos
indivíduos com mais de 15 anos, já praticamente vitimados pela sentença de
morte do analfabetismo funcional. No tocante ao saneamento – e não precisamos
retomar aqui o tema da covid-19 –, sabemos que quase metade dos domicílios
continua sem ligação com a coleta pública de esgotos.
Ou seja, pelo ângulo das condições de vida, não há o que discutir. Somos um país paupérrimo e obscenamente desigual.