Raphael Di Cunto e Vandson Lima | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), intensificou contatos no mercado financeiro desde o agravamento da crise política, num movimento visto por analistas, economistas e agentes do setor que se reuniram com ele como uma tentativa de mostrar que, caso o presidente Michel Temer seja afastado, ele estaria preparado para assumir a função, com a manutenção da equipe econômica e das reformas.
Maia tem elogiado a equipe econômica, deixando de lado divergências que já tiveram. O discurso é interpretado como sinalização de que manteria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fiador das reformas junto ao mercado. Ele também diz que não há clima para aumento de impostos no curto ou médio prazos.
A agenda de Maia coincide com a avaliação, por parte dos agentes de mercado, de que Temer não terá mais condições de aprovar nenhuma reforma - com exceção da trabalhista, no Senado - enquanto estiver ocupado em reagir às denúncias de corrupção contra ele.
A "alternativa Rodrigo Maia" está longe de ser motivo de euforia no mercado financeiro e entre empresários. Mas a fragilidade do atual governo tem levado muitos a enxergar no presidente da Câmara maior possibilidade de avanço da agenda de reformas. Com ele, dizem, haveria um fôlego, mesmo que curto, para avançar uma reforma da Previdência realista, com idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres.
O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), comparou o momento atual ao período que antecedeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "Entre as razões que levaram Dilma a cair, a principal foi a falta de governabilidade. Agora está acontecendo a mesma coisa. Eu não tenho condições de dizer se Temer é culpado ou não. Mas tenho capacidade para dizer que estamos chegando na ingovernabilidade".
Ele relata que os partidos estão conversando sobre um pacto de governabilidade: "Tem que haver agora qualquer tipo de acordo que dê ao país estabilidade mínima até as eleições. Isso não é difícil". Se Temer for afastado, "Maia é presidente por seis meses. Aí ele tem condições, até pelo cargo que exerce como presidente da Câmara, de juntar os partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade". O principal, diz, é manter a equipe econômica.