terça-feira, 23 de agosto de 2022

Merval Pereira - Bolsonaro distorce a verdade em entrevista ao Jornal Nacional

O Globo

Bolsonaro foi desmentido diversas vezes pelos fatos mostrados por William Bonner ou Renata Vasconcellos, como quando negou que tivesse xingado ministros do Supremo, ou que tivesse imitado pessoas com dificuldade de respirar devido à Covid

O presidente Bolsonaro saiu da bancada do Jornal Nacional sem grandes prejuízos, embora tenha repetido afirmações inverídicas e dado números sobre a economia que não refletem a realidade. Sua grande virtude foi não ter perdido as estribeiras, como costuma fazer quando é contrariado.

Houve no Rio um professor universitário famoso por seu conhecimento, mas também por seus muitos tiques, que se sobrepunham ao que ensinava. Certo dia, ele resolveu se controlar e passou a aula inteira sem tiques, surpreendendo seus alunos. No final da aula, ele foi visto atrás de um biombo tendo um ataque de tiques.

Com o presidente Bolsonaro acontece o mesmo. Há dias, ele está se controlando para não ter ataques nervosos, pois sentiu que seu ataque às urnas eletrônicas estava lhe tirando apoios dos eleitores. Ontem, na bancada do Jornal Nacional, ele, relutantemente, aceitou afirmar que aceitará o resultado das eleições, mesmo que perca. Tentou recuar, — “desde que as eleições sejam limpas” —, mas viu que não seria um bom passo.

Minimizou os ataques de seus seguidores às instituições, atribuindo-os à liberdade de expressão. Mas em nenhum momento ele perdeu o controle, mesmo quando defendia uma indefensável política de combate à pandemia de Covid. Nem mesmo a política ambiental tirou Bolsonaro do sério, embora tenha defendido que a ação do governo não é responsável pelo maior desmatamento da Amazônia. Mas admitiu que será preciso fazer um trabalho para mudar a má imagem que o Brasil tem hoje no exterior.

Míriam Leitão - Um candidato nas cordas

O Globo

Bolsonaro falou para a sua bolha, repetiu mentiras e ameaças e não aproveitou a entrevista do JN para convencer os indecisos

entrevista no jornal mais visto do país tem que ter o objetivo de atrair eleitores que não votam no candidato. Nesse aspecto, Jair Bolsonaro fracassou. No JN, ele voltou a levantar dúvidas sobre as urnas eletrônicas, defendeu a cloroquina, criticou o Ibama por ter destruído equipamentos de criminosos ambientais, defendeu, como padrão de ministro, Ricardo Salles, que chegou a ser investigado pela polícia americana, e negou que tivesse havido o escândalo no MEC, pelo qual Milton Ribeiro foi derrubado. E pior, manteve seu compromisso com a ameaça às eleições, dizendo que reconhecerá “se as eleições forem limpas”.

O que se viu foi um homem entrincheirado em sua realidade paralela, que confirma o que os seus seguidores querem ouvir, mas não constrói pontes para além dos que hoje, em torno de 30%, estão dispostos a votar nele. E mais uma vez mantém a dúvida sobre se respeitará o resultado das eleições.

Normalmente, a estratégia de qualquer candidato num espaço como esse é avançar sobre eleitores indecisos ou de outros candidatos, persuadindo-os. E o faz através de falas novas e convincentes ou ataques a adversários mais próximos. O presidente Bolsonaro nada falou do ex-presidente Lula. Não pareceu proposital, parte de estratégia, mas sim resultado de ele ter ficado na defensiva durante quase o tempo todo.

Carlos Andreazza - Haja formol

O Globo

'Não é simplesmente que deputados e senadores queiram a reeleição. O que se quer reeleger é o arranjo; o domínio sobre o Orçamento'

As eleições chegam e concentram as atenções; como se a atividade pública, de resto suspensa, só existisse na dimensão das campanhas eleitorais. É erro. Há um governo. Um cujos movimentos todos são por continuar governo. Há um governo pela reeleição. Não somente um presidente em busca de se reeleger. Note-se a diferença; a que estabelece o vale-tudo. Há um governo se alargando, colhendo — ainda mesmo plantando, à margem do que tiver sobrado da lei eleitoral.

Há um governo sem limites, que maquia postos de gasolina para forjar deflação ao mesmo tempo que estimula artificialmente o consumo e contrata endividamento e inflação prolongada. Contrata juros altos por mais tempo, juros que já impõem que brasileiros pobres e de classe média distratem financiamentos pela casa própria. Não está boa a vida de quem vai ao mercado. Boa está a dos generais, comendo antes do povo.

Há um governo — militar, lembre-se — pela reeleição. E ainda alguns meses, até dezembro, para que opere, aberta a porteira — arrombada — pela PEC Kamikaze. A boiada passa. Está passando.

Cristovam Buarque* - Nosso Guerra e Paz

Correio Braziliense

A leitura das 1.584 páginas dos três volumes do livro Escravidão, de Laurentino Gomes, passa a sensação das 1.575 páginas (na edição Nova Aguilar) do Guerra e paz, de Tolstói: um gostinho de quero mais. O leitor fica instigado a conhecer mais do tema e a continuar o prazer de ler. No caso de Guerra e paz, o leitor quer conhecer a continuação da história do povo russo. Com o Escravidão, queremos saber sobre a continuação desse sistema, mesmo depois da abolição. O próprio Laurentino Gomes conclui o livro com o capítulo "O dia seguinte", ao Treze de Maio, mostrando a abolição incompleta, 130 anos depois. Ele indica a desigualdade nas condições de vida entre negros e brancos e afirma que "o racismo se mantém como um traço característico da sociedade brasileira".

Fica faltando a história da escravidão no pós-abolição, como se os três volumes não bastassem para contar a saga do escravismo não terminado, cuja maldade tem o porte da barbárie do holocausto, do apartheid, persistindo sob a forma da desigualdade crescente, e durou muito mais e atingiu mais pessoas. A Lei Áurea foi duplamente escamoteada: não ofereceu educação, que não contemplava, e pagou indenização, que prometeu não fazer.

Luiz Carlos Azedo - O Centrão esvazia a terceira via para ocupar seu lugar

Correio Braziliense

Manter o controle do Congresso e garantir a reeleição de parlamentares aliados fazem com que o Centrão avance em direção aos parlamentares dos partidos de oposição

Com a entrevista do presidente Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional (TV Globo), ontem à noite — que pretendo comentar amanhã, porque escrevo antes que aconteça —, iniciamos uma semana na qual as propostas dos candidatos a presidente da República chegarão ao amplo conhecimento dos eleitores. Ciro Gomes (PDT) participará na terça; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta; e Simone Tebet (MDB), na sexta. André Janones (Avante), que seria entrevistado na quarta, retirou a candidatura. As entrevistas esquentarão o clima político. O horário eleitoral de propaganda obrigatória de rádio e tevê começará no dia 26, sexta-feira.

Enquanto a disputa pela Presidência monopoliza as atenções nacionais, a disputa eleitoral pelas 513 cadeiras da Câmara Federal e 51 assentos no Senado ocorre numa espécie de lusco-fusco: é acompanhada nos respectivos estados, mas não em seu conjunto, como deveria. É sempre assim, o balanço vem depois do primeiro turno, quando se avalia se houve muita ou pouca renovação. No Senado, com certeza, será limitada pelo fato de que está sendo disputado apenas um terço das cadeiras, uma vaga para cada um dos 26 estados e Distrito Federal; na Câmara, é possível que a renovação seja a menor dos últimos tempos, porque o processo eleitoral e seus mecanismos de financiamento foram blindados para dificultar ao máximo a renovação política.

Andrea Jubé - Por que o voto das evangélicas será decisivo

Valor Econômico

“PT deve recuperar memória afetiva” dos governos Lula, diz pesquisadora

Impulsionador do presidente Jair Bolsonaro nas recentes pesquisas sobre a sucessão eleitoral, o voto evangélico foi decisivo na eleição presidencial de 2018. Para muitos analistas, aquele pleito foi a materialização da estatística de que aproximadamente 20% dos brasileiros, ou 31 milhões de eleitores, se identificavam como evangélicos.

Naquela disputa, pelo menos 21 milhões de evangélicos votaram no deputado Jair Bolsonaro, enquanto 10 milhões optaram pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Reparem que a diferença entre ambos no segundo turno foi justamente de 10 milhões de votos: Bolsonaro obteve 57,7 milhões de votos (55,1%), contra 47 milhões (44,8%) do petista. Citado pelo antropólogo Juliano Spyer no livro “Povo de Deus”, o doutor em demografia José Eustáquio Alves afirmou: “Não há dúvida de que o voto evangélico foi fundamental para a eleição de Bolsonaro”. Segundo ele, “mesmo sendo um terço do eleitorado, as lideranças evangélicas são muito atuantes e estão colhendo o resultado de anos de ativismo religioso”.

Pedro Cafardo - As novas ‘missões’ de um Estado planejador

Valor Econômico

Planejamento, palavra maldita, precisa voltar à discussão

Quase um ano atrás, apontamos aqui alguns temas básicos na área da economia que exigiriam definições claras dos candidatos à sucessão presidencial, entre eles o teto de gastos, a reforma tributária e a emergência ambiental.

Agora que a campanha começou, chegou a hora de aprofundar a discussão. Já está claro que o teto de gastos, seja quem for o eleito, está com os dias contados e terá de ser substituído por outro mecanismo. Ele é uma trava ao crescimento e já foi desmoralizado seguidas vezes.

Forma-se também um quase consenso a favor de uma reforma tributária que aumente mais a taxação sobre impostos diretos, como o Imposto de Renda, e menos a dos indiretos, que atingem principalmente os pobres. Existe entendimento ainda a respeito da necessidade de taxação de dividendos.

Eliane Cantanhêde - Medo

O Estado de S. Paulo

Sem alegria nem propostas, esta é a eleição do medo de golpes e retrocessos

Esta não é uma eleição alegre, propositiva, na base do “ganhe o melhor”. Até aqui, o que prevalece são ataques e falta de compromisso, numa competição insana sobre a rejeição, e chama a atenção o medo que a manutenção do presidente Jair Bolsonaro e a volta do PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva despertam nos brasileiros.

Pela pesquisa Quaest para a Genial Investimentos, 45% têm medo de mais um governo Bolsonaro e 40%, da volta de Lula ao poder, o que comprova uma das muitas peculiaridades da atual eleição: a forte, intensa, busca por uma terceira via que não veio.

Demanda para o produto havia de sobra, mas os líderes políticos foram incapazes de produzir esse produto, engalfinhados em disputas internas, guerrinhas de vaidades, interesses pessoais se sobrepondo ao interesse nacional. Quando finalmente apresentaram opções, era tarde demais.

Rafael Cortez - Sabatina de Bolsonaro ao JN expõe componente pessoal no no desafio da reeleição

O Estado de S. Paulo

Presidente ainda precisa convencer de que ‘fez o melhor’ diante da mal-estar da maioria do eleitorado com a direção do País

A campanha presidencial entra na fase na qual os partidos diretamente buscam influenciar as preferências do eleitor, após o processo de seleção das candidaturas, estrutura de campanha e da construção dos palanques nos estados. Sob a ótica da campanha presidencial, a campanha serve basicamente para impactar a visão do eleitor em relação ao desempenho do governo, uma vez que uma corrida presidencial é fundamentalmente o plebiscito da atual administração. Quando a maioria do eleitorado aprova o atual mandatário, a tendência é de continuidade do grupo no poder. Se o eleitor não gostou dos resultados gerados pelo governo e encontra uma alternativa segura na oposição, a direção da eleição aponta para alternância de poder.

A sabatina com o presidente Bolsonaro no Jornal Nacional, então, foi bastante desafiadora para o presidente, dado que o “sentimento natural” do eleitor é de reprovação à atual administração. A tarefa do presidente, então, simultaneamente mudar a cabeça do eleitor sobre o seu governo e ainda desgastar seu principal adversário, o ex-presidente Lula.

Hélio Schwartsman - Salvos pela incompetência

Folha de S. Paulo

Se Bolsonaro tivesse acertado melhor timing de intervenções eleitoreiras, seria candidato imbatível

Não sou religioso, mas agradeço aos céus pela incompetência do atual governo. Fossem Jair Bolsonaro e seus sequazes um pouco mais inteligentes, seria dificílimo tirá-los do poder.

A democracia tem um forte viés situacionista. Cerca de 80% dos líderes que se reapresentam para um segundo mandato consecutivo têm sucesso. Para que percam, é preciso que algo grave tenha acontecido. Em geral, isso ocorre por força de crises econômicas.

É verdade que Bolsonaro teve de enfrentar dois problemas a que não deu origem, que foram a pandemia e a guerra na Ucrânia. A conjunção dos dois acabou favorecendo o empobrecimento da população e um processo inflacionário difícil de debelar.

Cristina Serra - Bolsonaro e o coração das trevas

Folha de S. Paulo

Nada mais simbólico do governo Bolsonaro que o culto mórbido ao coração de dom Pedro 1°. Tão macabro quanto zombar de quem morreu por falta de oxigênio em Manaus. Tão sombrio quanto incentivar criminosamente a imunidade de rebanho, promover remédios inúteis e desprezar a compra de vacinas, o que levou 700 mil brasileiros aos cemitérios. O prazer de Bolsonaro é a morte.

Governo funesto que celebra o colonizador e a pilhagem da terra, encharcada com o sangue do povo. Não fosse o formol, o pedaço de carne do imperador já teria se desmanchado na poeira dos séculos. É como Bolsonaro, conservado no formol do consórcio mais pavoroso de poder e rapina a tomar conta do país depois da ditadura.

Igor Gielow - Entrevista morna ao JN acaba em empate razoável para Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Presidente mentiu como sempre e não conseguiu furar nicho, mas escapou de desastre

Jair Bolsonaro (PL) sobreviveu sem grandes arranhões à morna entrevista que concedeu ao Jornal Nacional, abrindo o antecipado ciclo de conversas dos principais candidatos à Presidência ao principal telejornal da TV aberta brasileira.

Há uma regra não escrita para eventos jornalísticos do gênero: se o candidato não cometer nenhum erro grosseiro, o empate está dado, e 0 a 0 no campo adversário sempre pode ser lido como um bom resultado. Foi isso que aconteceu nesta noite de segunda (22).

Poderia ter dado bem errado para o presidente. Assim que o tom professoral de William Bonner foi substituído pela assertividade de Renata Vasconcellos, Bolsonaro ameaçou sair do prumo. Pior, contra uma mulher, o que só estragaria ainda mais sua por ora estancada tentativa de melhorar as intenções de voto nesse eleitorado.

Bolsonaro ameaçou, mas não repetiu o estratagema da entrevista que concedeu em 2018. Ali, muito mais nervoso, foi para cima dos jornalistas e lembrou o apoio do patrono da casa, Roberto Marinho, à ditadura de 1964.

Bolsonaro mente no JN e coloca condição para aceitar resultado das eleições

Presidente deu relato falso sobre atuação na pandemia e disse que nunca xingou ministro, mas já chamou Moraes de 'canalha'

Matheus Teixeira, Renato Machado, Ricardo Della Coletta / Folha de

S. Paulo

BRASÍLIA - presidente Jair Bolsonaro (PL) colocou condições para aceitar os resultados das eleições e mentiu, durante sabatina no Jornal Nacional nesta segunda-feira (22), ao tratar de ações na pandemia da Covid-19 e ao negar que tenha xingado ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Ele foi o primeiro candidato ao Planalto a participar da série de entrevistas com presidenciáveis no programa da TV Globo. Durante a sabatina, houve panelaços em diversas capitais do país.

No ano passado, Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de "canalha". Além disso, diante de apoiadores, já chamou o ministro Luís Roberto Barroso de "filho da puta".

Após ter dito no JN que nunca xingou algum magistrado do Supremo, o apresentador do programa, William Bonner, recordou do episódio em que chamou Moraes de "canalha".

Bolsonaro, então, admitiu que atacou o magistrado, mas disse que o entrevero teria sido apenas com ele —e omitiu o xingamento a Barroso.

No Jornal Nacional, Bolsonaro também mentiu sobre as ações do governo na pandemia, ao negar ter barrado a compra de vacinas.

O mandatário começou a entrevista mais calmo, dando respostas em um tom sereno. No decorrer do programa, porém, ficou mais irritado, principalmente após ser questionado se tinha algum arrependimento por ter imitado pessoas sem ar ao comentar os problemas da Covid-19.

Malu Gaspar - Bolsonaro mostrou que sabe se enquadrar - quando precisa

O Globo

Para quem se negou a fazer media training, presidente seguiu à risca conselhos de auxiliares da campanha

Nada do que Jair Bolsonaro disse ao longo da entrevista para o Jornal Nacional chegou a surpreender quem acompanha suas aparições em lives, no cercadinho do Palácio da Alvorada e nas longas entrevistas que deu ultimamente a podcasts.

A versão fantasiosa sobre o inquérito que apurou a invasão de hackers ao site do TSE, a cantilena sobre liberdade para médicos prescreverem cloroquina a pacientes de Covid, a lorota de que quem ficou em casa se contaminou mais do que quem foi às ruas durante a pandemia, o argumento sem sentido de que a Europa desmata suas florestas mais do que o Brasil. Estava tudo lá.

A novidade estava na forma. O tom de voz baixo e controlado não só contrastava com o da entrevista de 2018, mas parecia o de alguém muito bem instruído por assessores – especialmente para quem se negou a fazer media training para a entrevista.

Bolsonaro pode não ter feito treinamento tradicional. Mas seguiu à risca as instruções dos auxiliares para não esbravejar com William Bonner e Renata Vasconcellos chacoalhando bandeiras radicais (como o famigerado "kit gay"), para não assustar os indecisos.

Bela Megale - Por que a participação de Bolsonaro no JN tem ‘sabor de derrota’

O Globo

Defendida e celebrada pela maior parte dos membros de sua campanha, pelo menos em público, a entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional na noite de ontem também teve sabor de derrota. Isso porque o presidente não atingiu aquele que era o seu principal objetivo: conseguir novos votos.

Bolsonaro tentou se mostrar mais moderado sobre o Judiciário e disse, em referência à sua relação com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que “pelo que tudo indica, está pacificado”.

O presidente evitou encarnar sua versão mais bélica, mas disse que só aceitará o resultado das eleições “desde que sejam limpas”, ao ser questionado sobre o tema. Na prática, ameaçou novamente o processo eleitoral. Também colocou, mais uma vez, sobre os militares a responsabilidade pela vigilância da transparência das eleições. Esse processo cabe, no entanto, ao próprio TSE,

O fato é que Bolsonaro seguiu pregando para sua base, ou seja, não ganhou nem perdeu votos. Para um candidato que está 15 pontos percentuais atrás do principal adversário e corre risco de uma derrota no primeiro turno, segundo o último Datafolha, não há muito o que comemorar.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Um valor popular

Folha de S. Paulo

Em mais de 30 anos de pesquisas, Datafolha atesta o enraizamento da democracia

O autoritarismo em voga no Ocidente procura atribuir aos interesses egoístas de uma pequena elite a defesa dos valores da democracia liberal. Seria uma forma de esse grupo minoritário manter seus privilégios, a contrapelo dos anseios da maioria da população.

Uma série de pesquisas realizadas pelo Datafolha desde 1989 fulmina essa mistificação. O instituto mostra que o apoio à democracia como a melhor forma de governo sempre foi prevalente entre os brasileiros e veio se tornando francamente majoritário conforme os anos se passaram. Quanto mais se experimenta o regime, mais ampla, profunda e firme é sua aceitação.

Os pesquisadores que foram a campo na semana passada colheram a preferência irrestrita pelo sistema democrático de três em cada quatro entrevistados no país. O indicador retomou o nível mais elevado dos 33 anos em que a mesma pergunta tem sido realizada.

Já o movimento dos que entendem ser melhor a ditadura em algumas circunstâncias descreveu a trajetória oposta nesse longo período. A ideia chegou a ser apoiada por 23% em setembro de 1992, mês em que a Câmara dos Deputados abriu o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, mas agora recebe o endosso de apenas 7%, a cifra mais baixa já atingida.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Sete faces (Voz de Paulo Autran)

 

Música | Chico Buarque - Fado Tropical (Chico Buarque e Ruy Guerra)