Folha de S. Paulo
Problema das frentes políticas remonta ao
início do atual período democrático
O tema das frentes políticas voltou a estar
no centro da discussão no Brasil e tem sido abordado de variadas maneiras desde
que a democracia passou
a ser ameaçada pelo presidente Jair
Bolsonaro.
Porém, o problema remonta ao início do
atual período democrático, em particular ao processo constituinte dos anos 80.
Um dos enfoques recentes aborda o problema na perspectiva das lideranças. O
cientista político Sérgio Abranches, por exemplo, considera que há
"lideranças que se consideram democráticas" mas, no fundo, são intolerantes
frente a "grupos de campos ideológicos distintos".
Segundo este autor, as frentes políticas
deveriam ser formadas com base numa "agenda mínima", deixando-se
de lado diferenças específicas e ideológicas em prol da
"contradição principal", que seria a disjuntiva "neofascismo
versus democracia republicana".
Outra abordagem, proposta pelo ensaísta
Luiz Sergio Henriques, invoca a ameaça protofascista como um processo de
deterioração interno da democracia brasileira.
O remédio apresentado por este autor é o
centro político como um espaço "para fazer mover o conjunto das forças
políticas e a própria sociedade". A pedra no caminho desta alternativa
seria, no dizer de Henriques, a "incerteza sobre o principal partido da
esquerda, sua linha básica e a orientação dos seus simpatizantes, que não foram
treinados na política de frentes". Porém, na sua perspectiva, parece
bastar ao PT acenar simbolicamente ao centro, escolhendo um vice-presidente
conservador, "para acalmar os mercados".
Os problemas e desafios que ambos autores
colocam são reais e necessitam de solução, embora me pareça que o centro
político esteja longe de poder oferecer qualquer alternativa no atual contexto
brasileiro, perdido que está em sua ortodoxia programática e sua catatonia
política.