terça-feira, 5 de maio de 2015

Opinião do dia - Carmen Lúcia

A Constituição brasileira é taxativa. Não se tolera censura no Brasil. Qualquer marco que de alguma forma possa restringir ou ser uma forma camuflada de censura será considerada inconstitucional.

O que se chama às vezes de marco regulatório acabam sendo formas camufladas de censuras, e isso não privilegia em nada a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e principalmente o pluralismo político de uma sociedade multidiversificada como é a brasileira.

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Carmen Lúcia é ministra do STF

Salários mais baixos nas novas contratações

• Com maior procura por vagas, contracheque nas admissões formais cai pela 1ª vez desde 2003

Marcello Corrêa, Clarice Spitz – O Globo

O aumento da procura por vagas já faz empresas contratarem trabalhadores por salários menores. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, os salários iniciais registrados no três primeiros meses do ano estão 1,26% menores do que há um ano, retirados os efeitos da inflação. O salário de admissão caiu em todas as regiões do país. Pernambuco foi o estado com maior perda real: quem entrou em uma nova empresa este ano está ga nhando 8,94% menos do que aqueles que conseguiram sua vaga nos três primeiros meses do ano passado. O valor médio de contratação entre janeiro e março deste ano foi de R$ 1.080,65, contra R$ 1.186,76 pagos em igual período de 2014. No Rio, a queda foi de 3,87%.

Por regiões, a maior perda de renda foi registrada no Nordeste, -3,48%, e a menor , no Centro-Oeste, - 0,15%. No Sudeste, o recuo foi de 1%. Foi a primeira queda nos salários iniciais num primeiro trimestre do ano desde 2003. Mesmo em anos de desaceleração como 2009, quando a economia sentiu os efeitos da crise global, o salário de admissão havia crescido. Agora, porém, economistas veem uma tendência de redução salarial nos próximos meses em consequência do aumento do desemprego. — Enquanto a economia não começar a crescer, a situação não deve mudar — afirmou o economista Raone Costa, da Fipe. Ele explica que, ao contrário de 2009, quando houve um período mais curto de baixo crescimento, mas onde as empresas retiveram mão de obra, o cenário atual é consequência de um longo período de economia em ritmo fraco.

Troca de sênior por júnior
Ao considerar apenas os dados de março, o setor que registrou a maior queda no salário inicial na comparação com o ano passado foi o de construção civil, com recuo de 2,43%, de acordo com levantamento feito pela Catho/Fipe, com base nos dados do Caged. Costa pondera que apesar de os dados mensais serem mais voláteis, o setor tem puxado a desaceleração no mercado de trabalho em 2015. — A construção civil tende a ir muito bem quando a economia está bem, e a ir muito mal quando a economia está mal. Ele é justamente o setor da inovação, que é aquecido quando você precisa criar novas fábricas, novas plantas. Vale lembrar que a construção civil foi um dos setores que mais cresceram de 2008 para cá, então, é natural que seja o que mais sofra — afirma Costa.

Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de Pernambuco Jairo Santiago, a forte queda salarial no estado tem influência do fraco desempenho da construção civil. No Nordeste, o salário médio da construção é R$ 1.173,41. — Muitos trabalhadores foram demitidos em 2014, e esse processo continuou em 2015. Como a metade é formada por pedreiros e ajudantes de pedreiros, esse pessoal continua desempregado ou se mantém ocupado, mas precariza seu trabalho — destaca Santiago. — Em Pernambuco, o apogeu aconteceu entre 2010 e 2012. Vínhamos num ritmo de frevo de rua, e agora estamos com ritmo de frevo cantado, mais lento, para falar "pernambuquês".

No Rio, o vendedor Fernando Garcia, está desde fevereiro procurando uma nova oportunidade de se reinserir no mercado, mas sem sucesso. Com experiência de dez anos no setor de venda de automóveis, esta é a segunda vez que Garcia foi dispensado desde 2008. No seu último emprego, ele recebia um salário de cerca de R$ 3.500. Hoje, diz estar disposto a aceitar R$ 2.500. — Estou mandando currículos para vendas em geral, fiz entrevistas e, como sou otimista e tenho experiência, espero ser chamado logo . Por enquanto, tenho me sustentado com as economias que fiz enquanto trabalhava, mas elas não vão durar mais do que um mês — afirma Garcia. Outro indicador observado por especialistas para medir o mercado de trabalho é a pressão salarial, relação entre os salários de admissão e de desligamento, que vem caindo desde 2012.

Com a economia aquecida, essa proporção fica mais próxima de 1, indicando que os salários de contratados e demitidos estão mais parecidos. Em março, o indicador ficou em 0,9, abaixo da média de 2006 a 2015, que foi de 0,916. Significa que as empresas estão pagando salários 10% menores aos novos funcionários, na comparação com o que pagavam aos antigos. — Quando as empresas estão em um momento de dificuldade, normalmente o que se faz é jogar para baixo o padrão de funcionários. Demite-se uma pessoa cara e contratam duas pessoas mais baratas. Esse indicador resume esse tipo de estratégia. A troca do sênior pelo júnior — afirma Costa, da Fipe.

Efeito da crise da Petrobras
Segundo o economista da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e da Opus Gestão de Recursos, José Marcio Camargo, a relação entre os salários de admissão e de demissão é um bom indicador prévio do comportamento da taxa de desemprego. Quanto menor a relação entre o salário de quem começa a trabalhar e aquele que está sendo desligado, maior a perspectiva de elevação da taxa de desemprego. —A aceleração inflacionária derruba o salário dos trabalhadores. Não chega a surpreender o salário cair 3% no Rio, mas em Pernambuco, sim, foi bem forte. É possível que tenha havido um efeito da crise do setor do petróleo, mas não é só isso , porque o Rio de Janeiro tem mais petróleo que Pernambuco e teve uma queda menor — afirma Camargo.

Segundo o consultor trabalhista do site Trabalho Hoje e ex-diretor do departamento de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho, Rodolfo Torelly, a maior quantidade de pessoas à procura de emprego explica a queda no salário de admissão , e a tendência vai continuar nos próximos meses. Ele lembra que nos últimos 12 meses, os dados do emprego formal do Caged apontam um saldo líquido (diferença entre contratações e demissões) negativo em 50 mil vagas, o pior resultado para 12 meses desde janeiro de 2000, quando houve uma perda de 123,6 mil empregos. —Enquanto o mercado estiver demitindo mais que contratando, a tendência éo salário continuar a cair — afirma Torelly — É um momento horrível para se mudar as regras trabalhistas, porque significa pessoas sem emprego e sem nenhuma renda para se segurar .

Freio nas vendas leva Volks e GM a afastar 8.500 metalúrgicos no ABC

• Em fábrica de São Bernardo, 61% entram em férias coletivas

Ronaldo D’Ercole – O Globo

SÃO PAULO- Com a retração de vendas de veículos, duas montadoras do ABC paulista anunciaram novos afastamentos de empregados. A Volkswagen colocou todos os funcionários das linhas de produção de sua fábrica em São Bernardo do Campo em férias coletivas, medida que começou a valer ontem. Os trabalhadores, aproximadamente oito mil dos cerca de 13 mil funcionários da unidade, ou 61% do total, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, só retornarão à atividade daqui a dez dias. Apenas os funcionários da área administrativa permanecem trabalhando.

Na unidade são produzidos os modelos Gol, Saveiro e Jetta. "A Volkswagen tem feito uso de ferramentas de flexibilização para adequar o volume de produção à demanda do mercado", informou a montadora em comunicado. Também no ABC, a General Motors anunciou que colocará, a partir de hoje, 467 funcionários da fábrica de São Caetano do Sul em licença remunerada.

A empresa já tem 850 funcionários daquela unidade em lay off (suspensão temporária do contrato de trabalho). — Está difícil a situação aqui. Estamos tentando evitar este tipo de coisa, vamos conversar — disse Agamenon Nunes, diretor-executivo do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Os metalúrgicos da unidade da Volks no ABC ficaram em greve por dez dias em março, e a montadora recuou da decisão de demitir 800 empregados que estavam em lay off. Um novo plano de demissões voluntárias (PDV), com mais benefícios, foi adotado.

Assim, a montadora conseguiu a adesão de cerca de 800 trabalhadores, de acordo com o Sindicato. A Volks tem ainda outros 940 empregados — 370 de sua fábrica em Taubaté (SP) e 570 da unidade de São José dos Pinhais (PR) — em lay off. A unidade da montadora em Taubaté produz os modelos Up!, Voyage e Gol. No dia 30 de março, a Volks colocou 4.200 funcionários da unidade em fér ias coletivas, além de paralisar a produção no local por 20 dias. Ainda no Vale do Paraíba, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, 470 empregados da fábrica da chinesa Cherry , inaugurada há menos de um ano, estão em greve há 29 dias. A Mercedes também já concedeu dez dias de férias coletivas no início do ano, tanto no ABC de Juiz de Fora (MG), onde trabalham 900 pessoas.

Produção deve cair 10% quanto na unidade
No mês passado, a montadora alemã chegou a anunciar a demissão de 500 dos 715 empregados de sua fábrica do ABC que estavam em lay off. Mas recuou, depois que os empregados entraram em greve e paralisaram a fábrica por um dia. Os trabalhadores, então, voltaram ao lay off. Na fábrica de caminhões da Ford, em São Bernardo do Campo, 424 trabalhadores estão afastados do trabalho por folgas acumuladas no banco de horas. De acordo com a Anfavea, a associação que reúne as montadoras, as vendas recuaram mais de 17% nos três primeiros meses do ano. Os dados sobre vendas e produção da indústria em abril serão divulgados nesta semana. Depois dos dados negativos do primeiro trimestre, a entidade revisou suas projeções para o ano.

A Anfavea prevê produção de 2,8 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus em todo o país, o equivalente a uma queda de 10% em relação aos 3,1 milhões produzidos de 2014. A projeção é mais pessimista do que a alta de 4,1% prevista em janeiro. O segmento que mais deve sofrer é o de veículos pesados, que inclui caminhões e ônibus. Já para as vendas , a nova previsão da entidade é que sejam comercializados 3,03 milhões de veículos este ano, número que representa queda de 13,2% na comparação com 2014. Em janeiro, a Anfavea estimava que os licenciamentos de veículos novos ficariam estáveis em 2015

Para GM, crise atual é pior do que a de 2008

• Presidente diz que não há mais ferramentas da época, como a redução de impostos

Cleide Silva - O Estado de S. Paulo

O presidente da General Motors América do Sul, Jaime Ardila, considera a crise atual na indústria automobilística pior que a de 2008, provocada por dificuldades financeiras internacionais.

Segundo ele, na época, havia diversas ferramentas que ajudaram o Brasil a não ser drasticamente afetado, como a redução de impostos (o IPI, no caso), os juros estavam mais baixos e os consumidores estavam menos endividados. "Hoje não temos essas ferramentas e está mais difícil de arrumar a situação", diz o executivo, que projeta para o ano queda de 13% a 17% nas vendas, mesmo apostando numa melhora no cenário a partir do segundo semestre.

Em 2008, enquanto Estados Unidos e Europa enfrentaram forte queda nas vendas, o Brasil conseguiu crescer quase 12% ante 2007 e mais 8,4% em 2009.
Atualmente, a maioria das montadoras opera com alta ociosidade, está dando férias coletivas e reduzindo empregos - só no primeiro trimestre, foram fechadas 3,6 mil vagas.

A partir de hoje, 467 trabalhadores da fábrica da GM em São Caetano do Sul entram em licença remunerada por tempo indeterminado, informa Francisco Nunes, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano.

A produção será reduzida de 55 para 38 carros por hora dos modelos Classic, Cobalt, Cruze, Montana e Spin. A unidade também mantém pouco mais de 800 funcionários em lay-off - contratos suspensos por cinco meses, com vencimento em junho.

Nos primeiros quatro meses do ano, as vendas totais de veículos novos no País, incluindo caminhões e ônibus, acumulam queda de 19,2%, com 893,3 mil unidades, ante 1,1 milhão em igual período de 2014, segundo dados preliminares do mercado.

O mês que terminou foi o pior abril em oito anos, com vendas de 219,3 mil veículos. Em relação ao mesmo mês de 2014, a queda foi de 25% e de 6,5% se comparado a março passado.

"Os estoques em nossa rede de revendas estão entre 45 e 50 dias de vendas, o que não é saudável", afirma Ardila, que projeta a mesma situação para o mercado como um todo. O setor considera razoável estoques médios de 30 dias.

O presidente da GM do Brasil, Santiago Chamorro, afirma que o ajuste fiscal que está sendo promovido pelo governo "é bem visto para o futuro, mas, no curto prazo, terá efeitos negativos no bolso e no psique dos consumidores".

Ele vê 2015 como ano difícil para o setor, 2016 gradativamente melhor e espera para 2017 a retomada do mercado.

A GM, informa Ardila, segue com planos de desenvolver e produzir um carro compacto no País, mas afirma que não será neste ano. O projeto prevê investimento de R$ 2,5 bilhões.

Nesta segunda-feira, 4, a GM realizou evento em São Paulo para comemorar a produção de 500 milhões de veículos da marca em todo o mundo. Desse total, 21 milhões foram feitos na América do Sul, sendo 14 milhões no Brasil.

Caminhões. Em abril, segundo dados preliminares, o segmento de caminhões registrou queda de 45,5% ante igual mês de 2014, para 5,8 mil unidades. O segmento de automóveis e comerciais leves vendeu 211,9 mil unidades, 24,3% menos que há um ano. A Fiat liderou as vendas, com 17,8% de participação, seguida por GM (16,1%), Volkswagen (14,7%) e Ford (11%). Os modelos mais vendidos no mês foram Palio (8.841 unidades), Onix (8.783), HB20 (8.753), Strada (8.598) e Uno (8.013).

Temer ameaça com corte ‘radical’ se não houver ajuste

Contingenciamento será muito radical se não houver ajuste, diz Michel Temer

• Declarações do vice-presidente e novo articulador do governo foram feitas antes de reunião com líderes partidários do Congresso

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer admitiu na tarde desta segunda-feira, 4, que, quanto maior forem as mudanças feitas nas medidas provisórias do ajuste fiscal pelo Congresso, maior será o contingenciamento que será anunciado pelo Executivo nos próximos dias.

"Se não houver um ajuste, o contingenciamento será muito radical. Se houver, o contingenciamento será muito menor", disse Temer, o novo articulador político do governo Dilma Rousseff, antes do início da reunião com líderes partidários do Congresso.

O governo está numa semana decisiva para o ajuste, uma vez que está prevista a votação no plenário da Câmara da Medida Provisória 665, que altera benefícios trabalhistas, como o seguro-desemprego.

A MP 665 já tranca a pauta do Plenário da Casa e, junto com uma outra, a MP 664, faz parte do ajuste fiscal do governo, promovendo mudanças trabalhistas e previdenciárias. A MP 664 ainda está em análise na comissão mista, com previsão de ser votada nesta terça. Depois, seguirá para o plenário da Câmara.

As declarações de Temer reforçam discurso do ministro da Secretaria da Comunicação Social, Edinho Silva, que no início da tarde relacionou o tamanho do contingenciamento orçamentário à aprovação das medidas provisórias.
Segundo Edinho Silva, se o ajuste fiscal for aprovado como pretendido pelo Planalto, a meta de superávit primário "fica mais fácil de ser alcançada". "Senão, o governo tem de buscar recursos em outras fontes e é evidente que isso tem impacto sobre o contingenciamento", ressaltou.

Nas próximas semanas, o governo deve publicar um decreto em que bloqueia verbas do orçamento para garantir o cumprimento da meta de superávit primário - de 1,2% do PIB.

A perspectiva do governo é que o contingenciamento fique entre R$ 60 e R$ 70 bilhões, mas conforme o próprio ministro, a definição do bloqueio vai depender do resultado da negociação das MPS do ajuste fiscal no Congresso Nacional.

Vice enquadra PT pelo ajuste fiscal

Governo tem prova de fogo

• Articulação política pressiona PT e partidos da base para aprovar hoje MP do pacote fiscal

Catarina Alencastro, Simone Iglesias e Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - Na véspera do início da votação do ajuste fiscal no plenário da Câmara, o vice-presidente Michel Temer tentou enquadrar publicamente o PT para votar unido sobre o tema, considerada pelo governo como primordial para a retomada do crescimento econômico. Será o primeiro teste de fogo de Temer desde que foi alçado ao posto de coordenador político do governo.

Na reunião que a presidente Dilma Rousseff teve ontem com ministros para articular a votação, Temer pediu que petistas "vistam a camisa" do ajuste fiscal. No encontro, ele alertou que, se isso não ocorrer, será difícil aprovar as duas medidas provisórias que restringem o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários, com o objetivo de gerar uma economia de R$ 18 bilhões. Mais tarde, antes de se reunir com líderes da base aliada para amarrar a estratégia do governo, Temer deu um recado ao partido da presidente:

- Estou até sugerindo ao PT, que tem entrosamento com os trabalhadores, com as centrais, que o PT por inteiro se dedique a essa aprovação, assim como os demais partidos da base aliada. Tenho certeza de que o PT e os demais partidos da base aliada estarão convencidos e unificados. É importante que haja unidade dos partidos nessa matéria. De vez em quando, ouço dizer que há uma ou outra divergência em um ou outro partido. Acho que não é possível fazer isso num momento que o país precisa de um ajuste econômico - disse Temer.

PT pretende "fechar questão"
O vice relatou, na reunião com Dilma, que os partidos aliados têm reclamado da postura do PT de não defender de forma objetiva as medidas, enquanto as demais legendas estão se expondo e trabalhando pela aprovação de pontos considerados impopulares. Petistas presentes no encontro disseram que o partido deverá "fechar questão" em torno da matéria. Ou seja, todos os deputados deverão ser obrigados a votar a favor das medidas do governo.

- Seria uma demonstração de elevadíssima consideração o PT fechar questão, mas isso é uma questão interna do PT. E penso que o partido tem tanto ou mais compromissos que os demais com os ajustes e fará de tudo para entregar todos os votos da sua bancada. É isto que se espera dele - disse o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), que vem ajudando Temer na articulação política, referindo-se ao PT.

Até o fim da tarde de ontem, a posição da bancada petista era incerta. O líder, Sibá Machado (AC) disse ao GLOBO que o fechamento de questão era sua prioridade, mas que não há ainda uma decisão do partido. Segundo Sibá, as discussões amadureceram nos últimos dias, o que poderá levar a um consenso.

Vários petistas, porém, resistem ao fechamento de questão, por serem contra a restrição de benefícios trabalhistas e previdenciários, especialmente na atual crise econômica. As medidas atingem em cheio a base eleitoral sindicalista do partido.

Os 64 deputados do PT serão instados, hoje, a apoiar o governo, mas boa parte está desconfortável. A situação piorou ontem, com a convocação da reunião por Sibá, que incluiu no comunicado da reunião o aviso que ela será para "fechar questão".

Reservadamente, os deputados petistas dizem que estão se sentindo com a faca no pescoço e que a votação das medidas de ajuste deixará sequelas na bancada. O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), admitiu ser preciso "pacificar" seu partido:

- A meta é termos 100% dos votos dos partidos da base. O PT e o PMDB puxam a marcha. O PT engata a primeira marcha, o PMDB engata a segunda e, da terceira para frente, é embalar o carro para votarmos. Para a base, a posição do PT é estratégica. Amanhã (hoje) teremos uma reunião para pacificarmos a bancada do PT - disse Guimarães.

No PMDB, Temer disse que está trabalhando para que seu partido vote, em peso, em favor das matérias. Ao fim da reunião de líderes, Padilha fez um cálculo:

- Teremos defecções, mas trabalhamos com a probabilidade de termos, dos 67, algo entre 50 e 55 (votos).

Ontem, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse estar confiante na aprovação do ajuste fiscal. Ele espera que a votação de todo o pacote aconteça neste primeiro semestre. Falando na cerimônia das comemorações de 15 anos do jornal "Valor Econômico", Levy frisou que é muito importante fazer o ajuste o mais rápido possível.

- Temos que fazer rapidamente porque a estabilização do quadro sem pressões inflacionárias vai nos ajudar a avançar numa outra agenda.

Correção do FGTS também na pauta
Não é só a votação do ajuste fiscal que pressionará o governo hoje. O blocão aliado ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apresentará o projeto de correção do FGTS pela poupança, anunciado na semana passada.

O projeto é um movimento de Cunha para diminuir seu desgaste junto às centrais sindicais, após ter patrocinado a aprovação da terceirização sem restrições. A ideia é aprovar a urgência na tramitação do projeto para votá-lo na próxima semana, mesmo sem aval do governo, que teme um rombo nas contas públicas.

Antes de definir o texto sobre a correção do FGTS, o deputado Paulinho da Força (SDD-SP) cobrou de Cunha a votação de dois projetos polêmicos que há anos são evitados pelo governo: a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais ou o fim do fator previdenciário.

Cunha, porém, disse que não poderia colocá-los na pauta, sob risco de piorar consideravelmente a situação econômica, mas que traria um projeto como alternativa para contemplar os trabalhadores. Foi quando apresentou a ideia da correção do FGTS, pleito antigo das centrais, que acumula centenas de processos judiciais e duas ações diretas de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF).

Galerias abertas na votação da MP
No plenário, aliados rebeldes e deputados da oposição, comandados por Cunha, prometem criar dificuldades para o governo na votação hoje da MP 665. Ao contrário do que fez na votação da terceirização, Cunha deixará as galerias abertas para manifestantes protestarem contra a votação da medida, o que servirá para constranger o PT.

Paulinho da Força disse que programou levar sindicalistas para a Câmara, que terão placas com a provocação: "Cadê a CUT? Cadê o PT?".

Sem consenso no PT sobre a votação das medidas do ajuste fiscal, Cunha afirmou ontem que dificilmente as matérias do ajuste fiscal serão aprovadas se o PT não estiver fechado em torno ao tema:

- Se o PT não tiver acordo, vai ficar difícil convencer os partidos da base a acompanhar. Dificulta muito a posição - afirmou Cunha.

Cunha trabalha com uma possível obstrução da votação hoje, mas disse que tentará finalizar a apreciação da MP 665. O PT queria o adiamento da votação para que o governo tivesse mais tempo de convencer o eleitorado sobre as medidas, mas Cunha negou o pedido.

As medidas polêmicas
MP 664.
Deverá ser votada hoje por uma comissão mista do Congresso. Se aprovada, vai para o plenário da Câmara com prioridade de votação. Na pensão por morte, cria limitações, como o tempo mínimo de 18 meses de contribuição e de dois anos de casamento ou união estável para o pagamento da pensão. Antes, não havia prazos. No auxílio-doença, o valor não poderá exceder a média das 12 últimas contribuições. Antes, o cálculo tinha por base a média dos 80% maiores salários de contribuição.

MP 665.
Deverá ser votada hoje no plenário da Câmara. Eleva de seis para doze meses o tempo necessário de trabalho ininterrupto para o primeiro acesso ao seguro-desemprego. No abono salarial, antes, o trabalhador que recebia até dois salários-mínimos e permanecia por 30 dias no emprego tinha direito ao benefício de um mínimo por ano. Agora, são necessários três meses de trabalho ininterrupto para acesso ao benefício, pago de forma proporcional ao tempo trabalhado.

Para garantir apoio a ajuste fiscal, governo apressa nomeações

• Temer cobra atendimento de demandas de aliados na véspera da votação de medidas provisórias na Câmara

• Demora para preencher vagas no segundo escalão deixa inseguros deputados dos partidos que apoiam o Planalto

Valdo cruz, Marina Dias, Flávia Foreque – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA -O vice-presidente Michel Temer, articulador político do governo Dilma Rousseff, cobrou pressa nas nomeações de cargos do segundo escalão e empenho dos partidos aliados, principalmente do PT, para evitar uma derrota do Palácio do Planalto na votação das medidas do ajuste fiscal.

O vice-presidente defendeu em reuniões do governo acelerar a publicação das nomeações, alegando que alguns parlamentares estão "ansiosos" na semana em que começam a ser votadas no plenário da Câmara as medidas provisórias do ajuste fiscal.

Temer disse também que pediu ao PT que "se dedique por inteiro a essa aprovação" e que telefonou para "todos os ministros do PMDB" para que orientassem os deputados do partido com esse objetivo.

Na mesma linha, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fez cobranças ao partido da presidente. "Se o PT não tiver acordo [sobre o tema], vai ser difícil convencer os partidos da base a acompanhá-lo", disse Cunha.

Um assessor presidencial disse à Folha que cerca de 50 cargos foram encaminhados para nomeação, dentro dos acordos fechados por Temer, mas estão demorando para serem publicados no "Diário Oficial" da União por causa de dificuldades burocráticas.

Segundo ele, a demora é "compreensível" porque havia um "represamento" nas nomeações e que, agora, o fluxo de indicações aumentou muito para a Casa Civil, gerando uma "fila normal".

Dúvidas
A ordem é tentar acelerar a burocracia para acabar com "dúvidas" em parlamentares da base aliada, que temem votar a favor do governo e não terem seus pleitos atendidos.

Além dos 50 cargos encaminhados à Casa Civil, a área política espera concluir nesta semana negociações para preencher mais 70 a 100 postos de segundo escalão.

As tratativas de Temer para acelerar as nomeações resultaram, nesta segunda (4), na publicação no "Diário Oficial" da nomeação do economista Marcos Costa Holanda como presidente do Banco do Nordeste. Holanda é ligado ao líder do PMDB no Senado, Eunício de Oliveira (CE), e substituirá Nelson de Souza, funcionário de carreira da Caixa e considerado da cota do PT.

Temer também alertou aos partidos aliados que, "se não houver o ajuste, o contingenciamento [bloqueio de gastos] será muito radical. Se houver o ajuste, o contingenciamento será muito menor".

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse, após reunião com a articulação política do Planalto, que tudo já havia sido negociado nas MPs do ajuste fiscal e não havia mais espaço para novas negociações.

Sobre as cobranças dirigidas ao PT, o líder afirmou: "É claro que, para a base, a posição do PT é estratégica. [...] O PT engata a primeira marcha, o PMDB, a segunda, e a partir da terceira colocamos o carro para andar para a votação".

A medida provisória que restringe o acesso ao seguro-desemprego deve ser votada no plenário da Câmara nesta terça-feira (5). Na quarta (6), o governo espera levar ao plenário a medida que muda as regras da pensão por morte.

Colaborou Ranier Bragon, de Brasília

Fusão entre PSB e PPS é louvável, são partidos programáticos, diz Alckmin

• Tucano elogiou redução no número de siglas e disse que eles possuem programas muito próximos

Ana Fernandes e Juliana Diógenes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, comentou nesta segunda-feira, 4, brevemente o anúncio da provável fusão entre PSB e PPS, anunciada pelas legendas na semana passada. Nos bastidores, fala-se que a fusão pode beneficiar uma candidatura presidencial de Alckmin em 2018 - o movimento envolve duas legendas de apoio ao governador em São Paulo e a fusão foi em grande parte articulada pelo vice de Alckmin, Márcio França. França é o presidente do PSB no Estado e teria planos de suceder o tucano quando esse alçasse voo presidencial.

O governador evitou qualquer comentário sobre 2018, mas elogiou a fusão de PPS e PSB como uma medida "louvável" para a redução do número de partidos no País. "Não é razoável ter 32 partidos, mais três para ter o registro agora, mais 26 na fila, isso é ingovernabilidade, isso não existe no mundo. Então esta fusão do PSB com o PPS é louvável duplamente, porque são menos partidos, partidos mais estruturados e mais programáticos. São dois partidos que não são iguais, mas que têm um programa muito próximo, então acho que é bom pra democracia."

Dia do trabalho. Alckmin disse apoiar a decisão da presidente Dilma Rousseff de não ter feito um pronunciamento de rádio e TV no dia do trabalhador, celebrado em primeiro de maio. Alckmin não quis comentar se foi ou não um sinal de acuamento do governo federal, mas disse que deveria se aproveitar para abolir a prática dos pronunciamentos para "proselitismo político".

"A presidente Dilma acertou em não fazer pronunciamento. Infelizmente a situação é muito ruim do ponto de vista social e econômico neste momento e, em segundo lugar, sou contra essa 'fala do trono', essa questão de você invadir a casa das pessoas pra falar platitudes ou fazer proselitismo político. Isso não é necessário, devia ser abolido", disse o governador.

Depois do silêncio no Dia do Trabalho, Dilma fica fora de programa do PT na TV

• Pela segunda vez em 5 dias, presidente evita aparecer em rede nacional

Simone Iglesias e Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA e RIO - A presidente Dilma Rousseff resolveu, mais uma vez, manter distância dos holofotes. Contrariando o PT, ela decidiu não gravar participação no programa do partido, que irá ao ar esta noite, em cadeia de rádio e TV, repetindo decisão de semana passada quando, pela primeira vez em seu governo, abriu mão de fazer um pronunciamento em cadeia nacional pelo Dia do Trabalho.

Na ausência dela, a estrela será o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em sua fala atacará as novas regras para terceirização aprovadas na Câmara, que a liberam para a atividade-fim. O presidente da legenda, Rui Falcão, dirá que o partido não compactua com corrupção e que passou a proibir o recebimento de doação de empresas.

A ausência da presidente, no entanto, não afastará as manifestações dos eleitores que pedem o "Fora, Dilma". O comando do Movimento Brasil Livre (MBL) e blogs antipetistas estão fazendo mobilização nas redes sociais e convocando os internautas a participarem do "maior panelaço do Brasil" para às 20h30m - horário em que irá ao ar a propaganda partidária -, contra o PT, Dilma e Lula.

Para Rubens Nunes Filho, um dos coordenadores do MBL, não dá para responsabilizar só a presidente Dilma, porque ela governou nos últimos quatro anos, mas também o PT e o Lula:

- Mesmo Dilma sendo covarde e fugindo mais uma vez da cadeia de rádio e TV, não podemos cessar nosso descontentamento com ela e o PT, responsáveis pela corrupção e desmandos desses últimos 12 anos, que levaram à situação caótica que o Brasil vive hoje. Vamos bater panelas no Brasil inteiro para mostrar nosso repúdio a Dilma, ao PT e ao ex-presidente Lula, que vive hoje da sombra do que foi - afirmou Rubens.

No PT, a decisão da presidente de não gravar, antecipada ontem pela "Folha de S.Paulo", foi considerada um equívoco. Nas palavras de um parlamentar petista, é o segundo erro da presidente em apenas cinco dias, referindo-se à decisão do Dia do Trabalho.

Internamente, a avaliação é que Dilma não deveria se acovardar, deixando de falar para milhões de brasileiros. Eles criticaram especificamente o fato de ela dizer que não teme manifestações mas, na prática, deixar de se comunicar porque ouvirá "bateção de panelas".

A decisão da presidente representa uma guinada na estratégia de comunicação da petista. Há um ano, em maio de 2014, o marqueteiro João Santana preparava o PT para a disputa eleitoral e estreou o programa que explorava o medo de uma possível vitória da oposição. Atores interpretaram trabalhadores que lembravam de um passado sombrio, quando não tinham emprego, comida ou remédios. O locutor, então, anunciou:

- Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo que conseguimos com muito esforço.

No vídeo, Dilma dizia que não se poderia "dar um salto no escuro para o futuro".

- Mudar não é fácil. Todo governo de mudança encontra obstáculos. Só vence quem insiste e não desanima nunca. É por isso que o Brasil está vencendo - disse Dilma.

Em 2013, o programa foi dedicado às comemorações dos dez anos do partido no poder.

- Hoje, quase ninguém tem mais dúvida. Depois de quase dez anos de governo do PT, o Brasil decolou - disse o locutor. (Colaborou Bruno Góes)

Instituto nega que Lula atue como lobista


- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O Instituto Lula negou nesta segunda (4) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atue como lobista ou consultor. Numa nota em resposta a uma reportagem da revista "Época", negou ainda que ele seja alvo de investigação da Procuradoria da República.

Segundo a revista, que classifica o ex-presidente como "o operador" em sua capa, Lula é suspeito de usar sua influência para ajudar a empreiteira Odebrecht no exterior. Algumas obras seriam financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

De acordo com a nota, há um "procedimento preliminar" iniciado por um procurador. A iniciativa pode virar um inquérito ou pode terminar arquivada.

O instituto diz que a revista "mente" ao dizer que a maioria das viagens de Lula foi bancada pela Odebrecht. E nega que Cuba, Gana, Angola e República Dominicana sejam seus principais destinos. Ele foi seis vezes aos EUA, diz.

A nota afirma ainda que o Instituto Lula foi contatado pela revista três horas antes do fechamento da edição, sem oportunidade de esclarecer as dúvidas pessoalmente.

O procurador Anselmo Lopes, do 4º Ofício de Combate à Corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal, confirmou que há apuração: uma análise de reportagens sobre as relações de Lula com empreiteiras e contratos fora do país. O objetivo é verificar se houve tráfico de influência.

Até agora, diz a procuradora Mirella Aguiar, não há provas contra o petista.

‘Não se tolera censura’

Cármen Lúcia: qualquer censura é inconstitucional

• Ministra do STF diz que Marco Regulatório pode ser "forma camuflada" de restringir a liberdade

André de Souza – O Globo

BRASÍLIA e RIO - A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia repudiou ontem qualquer tentativa de restringir a liberdade de expressão, mesmo que de forma camuflada. Segundo ela, medidas desse tipo não passam de censura e serão consideradas inconstitucionais. Cármen Lúcia participou da abertura do 7º Fórum Liberdade de Imprensa & Democracia, realizado em Brasília.

No Rio de Janeiro, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) promoveu uma série de debates para celebrar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. No ato, o ministro Edinho Silva (Comunicação Social) também falou sobre a importância dos profissionais de imprensa para a consolidação da democracia brasileira.

Em Brasília, Cármen Lúcia citou a Constituição para marcar sua posição sobre o assunto:

- A Constituição brasileira é taxativa. Não se tolera censura no Brasil. Qualquer marco que de alguma forma possa restringir ou ser uma forma camuflada de censura será considerada inconstitucional - afirmou a ministra.

Em outro momento, ela disse que deve partir dos jornalistas o consenso sobre um eventual marco regulatório sobre o tema. Mas destacou que, muita vezes, a expressão "marco regulatório" é usada apenas para camuflar uma tentativa de censura.

- O que se chama às vezes de marco regulatório acabam sendo formas camufladas de censuras, e isso não privilegia em nada a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e principalmente o pluralismo político de uma sociedade multidiversificada como é a brasileira. Mas, se os jornalistas chegarem a um consenso sobre isso, eu acho que o papel é muito mais dos senhores. A nós juízes, vai competir apenas, posto isso como necessário para dar densidade àquela norma constitucional, se não frustrou outro direito - disse Cármen Lúcia.

Ela destacou ainda a interdependência entre democracia e imprensa livre:

- Não há democracia sem imprensa livre, e não há imprensa livre sem democracia. Dito de outra forma, a opressão não tolera a imprensa. Ponto.

O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, também criticou um marco regulatório da mídia, mesmo que restrito à esfera econômica. Segundo ele, não tem como garantir que isso não vá afetar a liberdade de imprensa.

- O que eles (o governo) querem dizer (com regulação econômica)? Ainda não está claro. O que não dá para dissociar, para achar é que uma regulação econômica não pode atingir a liberdade de imprensa - disse Slaviero.

2014, um ano violento
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido como Kakay, criticou a forma como a imprensa cobre julgamentos de grande repercussão. Kakay representou, por exemplo, o publicitário Duda Mendonça no julgamento do mensalão no STF. Ele também defendeu o doleiro Alberto Youssef nos processos da Operação Lava-Jato, que investiga principalmente irregularidades na Petrobras. Ele saiu do caso após o doleiro concordar em fazer um acordo de delação premiada para colaborar com a Justiça em troca da redução da pena.

- Defendo pessoas que são massacradas pela mídia, que acusa, julga e condena. A defesa normalmente não aparece, mas faz quase um ciclo completo de um julgamento. E essas pessoas, quando têm a superexposição e são absolvidas, a regra é que elas sequer apareçam - afirmou.

O evento, realizado pela Imprensa Editorial e patrocinado pelo Grupo Globo, tem o apoio da Imprensa Nacional, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Abert, Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), ABI, Agência Radioweb, Associação Nacional de Jornais (ANJ) e Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

No ato da ABI, no Rio, o ministro Edinho Silva defendeu a imprensa de forma taxativa:

-Não existe democracia sem liberdade de imprensa, sem liberdade de expressão. Não existe democracia sem que, efetivamente, a sociedade possa manifestar aquilo que ela pensa, aquilo que ela sente, aquilo que ela entende como opinião, como capacidade de criação, como capacidade de formulação de suas ideias. E não existe liberdade de imprensa sem profissionais de comunicação.

Os casos de ameaça e de assassinatos, como o do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, em junho de 2002, e do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, em fevereiro do ano passado, foram lembrados na palestra.

- O ano de 2014 foi um dos mais violentos na história da imprensa contemporânea - afirmou o presidente da ABI, Domingos Meirelles. - Uma ONG chamada Artigo 19 contabiliza 15 assassinatos só em 2014, entre jornalistas, radialistas e blogueiros. Quem perde é o país.

Executivo diz que Vaccari o procurou e pediu propina em forma de doação eleitoral

• Eduardo Leite, da Camargo Corrêa, confirma depoimento à força tarefa da Lava Jato e aponta encontro com ex-tesoureiro do PT

Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

O executivo Eduardo Leite, da Camargo Corrêa, afirmou à Justiça Federal no Paraná, nesta segunda feira, 4, que “por volta de 2010″ foi procurado pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e que durante uma reunião sugeriu a ele se “não desejava fazer repasse direto (de propinas) para o PT em forma de doação eleitoral”. Leite, réu da Operação Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro, confirmou os termos de seu depoimento à força tarefa do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, realizado em março.

“Em determinada ocasião, por volta de 2010, fui procurado pelo João Vaccari, tesoureiro do PT, que me chamou para um encontro. Ele me informou que tinha ciência de que a Camargo Corrêa estava atrasada para pagamentos (de propinas) na área de Serviços (da Petrobrás, unidade dirigida pelo engenheiro Renato Duque, indicado pelo PT). Ele disse que a área de Serviços tinha obrigação de pagar para o Partido dos Trabalhadores e se eu não desejava fazer o repasse direto ao partido em forma de doação eleitoral.”

Leite disse que comunicou o tesoureiro do PT que “essa decisão não cabia a ele”.
“Levei (a sugestão de Vaccari) para nossa área (na Camargo Corrêa) responsável por doação, não teve andamento”, declarou Eduardo Leite, que está preso em regime domiciliar desde que fez delação premiada, sob monitoramento de tornozeleira eletrônica. Ele disse que “a gente sabia que o Renato Duque era indicação do PT”.

Eduardo Leite confirmou que entre 2007 e 2012 a empreiteira pagou cerca de R$ 110 milhões em propinas. “Mais ou menos R$ 63 milhões para a Área de Serviços e R$ 47 (milhões) para a Área de Abastecimento.”

“Nada era feito sem conhecimento (dos outros diretores) da nossa corporação. É grande a dificuldade. Existe um processo extremamente delicado para aprovação de pagamento.”

“A propina dentro da Camargo Corrêa era um custo para a questão Petrobrás”, declarou o empresário.

 “Eu tinha um custo que representava 1% do contrato. Era custo e a empresa estava passando por uma situação desgastante que foi uma operação anterior, fez com que a empresa mudasse alguns procedimentos”, disse, em referência à Castelo de Areia, emblemática operação deflagrada pela Polícia Federal em 2009.

Ele disse acreditar que os acionistas não tinham conhecimento das propinas. “Em nenhum momento, da minha parte, tratei com acionistas.”

O empresário admitiu que recebeu R$ 500 mil do doleiro Alberto Youssef, peça central da Lava Jato. “O sr. Youssef era um cobrador costumaz, tinha uma capacidade de cobrança muito forte. Ele tinha muita criatividade, ela trazia várias soluções para viabilizar pagamentos e muitas dessas soluções por nós foram reprovadas. Em alguns momentos, eu disse a ele que havia um impedimento para fazer pagamento. Ele dizia: ‘Pô, eu trago a solução e você não quer, então estou chegando à conclusão que você não quer me pagar’.”

Eduardo Leite declarou que nas obras das refinarias da REPAR e da Abreu e Lima “houve um período similar de acumulação de repasses”. Ele disse que não fazia interlocução com políticos. “Quem fazia eram esses operadores, eu sei que representavam o PP (Partido Progressista) porque ouvia falar. Acho que ouvi do próprio Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás) uma vez.”

Indagado se além da Camargo Corrêa outras empreiteiras pagavam propinas, ele esclareceu que nas reuniões “isso era falado”. Quem comentou?, perguntou o juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato. “Por exemplo, o Márcio Farias, da Odebrecht, comentou, o Ricardo Pessoa, da UTC comentou, todo mundo tinha um desconforto até em comentar, embora chegue um momento que acha normal, havia esse desconforto. Um por cento sobre contrato de R$ 3 bilhões, por exemplo ,é significativo.”

Terceirização vai achatar salários, diz professor de Dilma

Entrevista - João Manuel Cardoso de Mello

• Para João Manuel Cardoso de Mello, que lecionou na Unicamp, ajuste fiscal do governo causa recessão e desemprego

Eleonora de Lucena  - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ajuste fiscal promovido pelo governo provocará uma recessão brutal: o PIB pode despencar para -3%. O desemprego vai a 10% ou 12%. Se aprovada, a terceirização em debate no Congresso devastará o mercado de trabalho e achatará salários. Protestos virão, e a popularidade da presidente cairá a 7%

A previsão é de João Manuel Cardoso de Mello, 73, em entrevista à Folha. Autor do clássico "O Capitalismo Tardio" (1975), ele foi professor da presidente Dilma Rousseff na Unicamp. Fundador do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas daquela universidade, ele criou a Facamp (Faculdades de Campinas), na qual hoje é diretor-geral.

Crítico da política econômica, ele diz que o governo cedeu a pressões do mercado financeiro e define como ilusão a ideia de que a recuperação virá no final deste ano.

Folha - Como vai o Brasil

João Manuel Cardoso de Mello - Estamos numa estagnação há 30 anos, crescendo a taxas ridículas de 2% ao ano. A agricultura vai bem. O problema é a indústria. Temos 20 anos de câmbio valorizado. Não há quem resista. Câmbio valorizado, juros absurdos e um sistema tributário torto, que pune a produção.

Por que há estagnação?

Não temos estratégia nacional de desenvolvimento. Os problemas não foram enfrentados e se acumularam. Apareceu tudo agora. Vemos a cristalização de 30 anos de falta de estratégia, de projeto, de coordenação estatal.

Qual sua avaliação do ajuste fiscal de Joaquim Levy?

Isso entra na cabeça de alguém? Ele dá um choque de câmbio, um choque de custos, faz corte de gastos. Vai produzir uma recessão brutal. Está produzindo. Está tudo parado. Há preocupação com a perda do grau de investimento. E daí? É uma chantagem do mercado financeiro, que diz que precisa fazer um ajuste. Algum ajuste precisava fazer, mas não nessa violência. O governo cedeu à chantagem do mercado com a ameaça da perda do grau de investimento.

O que o governo deveria fazer?

Um ajuste mais moderado. Não precisa fazer uma barbaridade dessas. Isso vai jogar o negócio a -3% neste ano. A popularidade cairá ainda mais, vai chegar a 7% de aprovação.

Qual o impacto da terceirização em debate no Congresso?

Vai acabar com o mercado de trabalho. Estão achando que as pessoas vão fazer empresas. Vão é fazer cooperativas, que não pagam imposto. O estrago da terceirização é enorme em cima de uma crise desse tamanho. É uma devastação no mercado de trabalho. Vai desestruturar tudo e jogar os salários para baixo. É o que Levy quer: ajustar a relação salário/câmbio.

A população vai aceitar a mudança?

Acredito que não, portanto viveremos tempos interessantes, muito difíceis. As pessoas foram para a rua porque estão cheias. A economia já vinha mal, não foi de agora. Ela [Dilma] perdeu dois terços dos seus eleitores e vai perder mais um outro pedaço. É uma ilusão dizer que vai haver recuperação no fim do ano. Com essa recessão terrível, a arrecadação está despencando. Se se precisava de R$ 60 bilhões, agora são R$ 80 bilhões, amanhã R$ 100 bilhões. Aí se corta mais e se joga para baixo outra vez.

Aonde isso vai parar? Não haverá recuperação. As apostas [para o PIB] vão de -1,5% e -3%. No ano que vem não recupera. Alguém investe algum centavo? Os bancos estão cortando crédito, os juros, subindo, uma loucura.

Como fica o nível de emprego?

As demissões ainda não começaram porque existem os acordos coletivos. Em maio e junho vai começar a demissão em massa. O desemprego vai para 10%, 12% neste ano [está em 7,4%]. E vai rápido. A alta dos juros está paralisando a construção civil residencial. Não tem investimento em construção pesada, está se desmontando a cadeia de óleo e gás, a indústria continua encolhendo. Isso vai pegando os serviços. De onde vem a recuperação? Não sei de onde. Das concessões? Os filés aeroportos, estradas já foram feitos. Sobrou a carne de pescoço. Vão colocar dinheiro a 30 anos?

A operação Lava Jato está colocando em risco empreiteiras de capital nacional. Qual o impacto disso na economia?

Ninguém sabe. Tem corrupção. Tem que pôr os caras na cadeia, mas a empresa tem que ser mantida. Mas isso tem sido impossível. Os investimentos estão paralisados. E não é só na cadeia de óleo e gás. Todo o negócio de infraestrutura está sendo desarticulado.

Marco Antonio Villa – O PT e seu projeto de poder

- O Globo

Na política é indispensável, ao enfrentar um adversário, conhecê-lo. O petismo, nos últimos tempos, foi transformado em algo que nunca foi. Ora é bolivariano, ora comunista, ora populista, ora — para os mais exaltados e néscios — bolivariano-comunista-populista. Puras e cristalinas bobagens.

O "bolivarianismo" nunca passou de um amontoado mal articulado de chavões esquerdistas associados à velha retórica caudilhesca latino-americana. Não é possível sequer imaginar Simón Bolívar como um marxista avant la lettre. Basta ler as páginas devastadoras que Karl Marx dedicou ao "libertador da América": o venezuelano nada mais foi do que um representante das oligarquias que desejavam se libertar do jugo espanhol. E só. Quando Hugo Chávez transformou Bolívar em símbolo anti-imperialista e ideólogo da sua revolução, o fez no momento que a crise do socialismo real tinha chegado ao seu ponto máximo e não havia mais nenhuma condição de ter como referência o velho marxismo-leninismo. Outros movimentos na América Latina já tinham realizado esta imersão na história nacional, mais como fachada, como os montoneros, na Argentina, e os sandinistas, na Nicarágua. A extensão do conceito, vá lá, "bolivarianismo" à Bolívia — um país com maioria de população indígena e com uma história recente fundada, para o bem ou para o mal, na Revolução de 1952 — serve somente ao discurso panfletário. A simples comparação das duas constituições (venezuelana e boliviana) demonstra claramente as distinções.

O PT nunca foi bolivariano. O percurso dos seus líderes (Lula e Chávez) é muito diferente e as histórias de cada país são processos absolutamente distintos. Basta recordar que Chávez chegou ao poder precedido por uma tentativa fracassada de golpe de Estado e com a desmoralização das instituições democráticas, especialmente durante a segunda presidência Carlos Andrés Pérez. Lula venceu as eleições de outubro de 2002 em um país que tinha obtido a estabilização econômica com o Plano Real (1994) e em plena vigência do Estado Democrático de Direito. E nos 12 anos do poder petista não houve um ataque frontal às liberdades de expressão e de imprensa como foi realizado por Chávez — sem que isso signifique que o petismo morra de amores pelos artigos 5º, 7º e 220º da nossa Constituição. Também o choque com frações da elite venezuelana por aqui não ocorreu. No Brasil houve cooptação: os milionários empréstimos do BNDES serviram para soldar a aliança do petismo com o grande capital, e não para combatê-lo.

O petismo impôs seu "projeto criminoso de poder" — gosto sempre de citar esta expressão do ministro Celso de Mello — sem que tivesse necessidade de tomar pela força o Estado. O processo clássico das revoluções socialistas do século XX não ocorreu. O "assalto ao céu" preconizado por Marx —tendo como referência a Comuna de Paris (1871) — foi transmutado numa operação paulatina de controle da máquina estatal no sentido mais amplo, o atrelamento da máquina sindical, dos movimentos sociais, dos artistas, intelectuais, jornalistas, funcionando como uma correia de transmissão do petismo. O domínio dos setores fundamentais do Estado deu ao partido recursos e poder nunca vistos na história brasileira. E a estrutura leninista — só a estrutura, não a ação — possibilitou um grau de eficácia que resistiu aos escândalos do mensalão, às inúmeras acusações de corrupção das gestões Lula-Dilma e, ao menos até o momento, ao petrolão.

Se, no seu início, o PT flertou com o socialismo, logo o partido — e suas lideranças — se adaptaram à dolce vita do capitalismo tupiniquim. Já nos anos 1980, prefeituras petistas estiveram envolvidas em mazelas. Quando Lula chegou ao Palácio do Planalto, o partido só tinha de socialista o vermelho da bandeira e a estrela. A prática governamental foi de defesa e incentivo do capitalismo. Em momento algum se falou em socialização dos meios de produção, em partido único, em transformar o marxismo-leninismo em ideologia de Estado, nada disso. Como falar em marxismo se Lula sequer leu uma página de Marx? Transformar Lula em Lênin é uma piada. Brasília não é Petrogrado. Aqui, o Cruzador Aurora são as burras do Estado.

Considerar o PT um partido comunista revela absoluto desconhecimento político e histórico. É servir comida requentada como se fosse um prato novo, recém-preparado. Não passa de conceder sentido histórico ao rançoso discurso da Guerra Fria. O Muro de Berlim caiu em 1989 mas tem gente em Pindorama que ainda não recebeu a notícia. Ao retirar do baú da História o anticomunismo primário, passam a exigir soluções fora do contexto legal como a intervenção militar travestida com um manto constitucional — outra sandice, basta ler o artigo 142 da Constituição.

O projeto criminoso de poder foi aperfeiçoado no exercício da Presidência da República. Não tem parentesco com o populismo varguista, muito menos com o peronismo ou cardenismo. É um mix original que associa pitadas de caudilhismo, com resquícios da ideologia socialista no discurso — não na prática —, um partido centralizado e a velha desfaçatez tupiniquim no trato da coisa pública, tão brasileira como a caipirinha — que seu líder tanto aprecia.T

O desafio dos democratas é combater o petismo utilizando todos os instrumentos legais. Para isso, é necessário conhecer o adversário e abandonar conceituações primárias que não dão conta do objeto. E tendo como prioridade a mobilização da sociedade civil. Sem ela, o país não muda. Pior: teremos a permanência deste governo antidemocrático, antipopular e antinacional por muitos anos.
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Marco Antonio Villa é historiador

Merval Pereira - Polícia Federal e democracia

- O Globo

A disputa entre a Polícia Federal e o Ministério Público, que se tornou explícita com o sucesso da Operação Lava-Jato, continua forte nos bastidores, e uma frase da coluna de sábado provocou várias re ações de delegados da PF, algumas destempera das, outras se valendo do bom senso para refutar a afirmação de que "houve até tentativas de acordos com os políticos por parte de membros da PF, que, ao mesmo tempo em que acenavam com facilidades para o interrogatório dos políticos, faziam lobby para aprovar Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que dá autonomia à PF".

Os delegados da PF alegam, com certa dose de razão, que não os ouvi e adotei a versão que interessava ao Ministério Público sobre o caso. A base da divergência é o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 412, que transforma a PF em agência autônoma, com independência administrativa e orçamento próprio , apoiada pelos delegados, mas rejeitada por outras categorias da própria PF , como agentes , escrivães, papiloscopistas e peritos . Como registrei em outra coluna, o perigo de promiscuidade ficou evidente quando o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio, reuniu-se com o senador Humberto Costa , do PT , com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do PMDB, e com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, deputado Arthur Lira, do PP , todos acusados na Operação Lava-Jato.

É claro que, no mínimo, o momento não era apropriado para pedir favores a parlamentares, muito menos àqueles investigados pela corrupção na Petrobras, o que gerou o ruído sobre troca de favores entre PF e políticos, que assumi como verdade pela qualidade das informações recebidas, e não apenas ligadas ao Ministério Público. Não tenho nenhum in ter esse em adotar um lado nesse debate , muito menos desmerecer o trabalho da PF ou do MP. Ao contrário , preocupa-me essa dissintonia entre duas instituições fundamentais à democracia. A PF já deu inúmeras demonstrações de independência, e por isso mesmo atrai a admiração da sociedade . O debate sobre a autonomia da PF tem lados positivos, como a necessidade de "garantir a previsibilidade necessária à execução dos planejamentos estratégicos e operacionais", como escreveu o delegado de Polícia Federal Edson Garutti, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Desvio de Verbas Públicas - SP .

Segundo ele, a oscilação das verbas se deve exclusivamente à gestão política dos recursos da Segurança Pública, e impede planejamento de ação de curto ou médio prazo. O delegado Garutti garante que a autonomia administrativa e financeira "em absolutamente nada interfere no controle externo da atividade policial, exercido pelo MP com relação à atividade fim de Polícia Judiciária da União ". OMP, no entanto, considera que a autonomia da PEC "concede ao gestor da Polícia Federal poderes para gerir verbas ilimitadas e para fazer qualquer modificação administrativa, inclusive normatizar as diferentes funções do órgão, sem que isso passe pela análise do Congresso", razão pela qual as demais categorias da Polícia Federal são contrárias a ela. Os procuradores consideram também que ela "impede o constitucional controle externo da atividade policial pelo MP", e advertem que "não há exemplo histórico de democracia que tenha sobrevivido intacta quando Forças Armadas ou polícias tenham se desvinculado de controles.

Em suma, não há democracia com braço armado autônomo e independente." Os delegados consideram que a Polícia Federal tem tido sua atuação fortemente limitada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, cujo intuito se aproximaria mais à criação de uma "Polícia Ministerial", submissa e subordinada, do que em bem atuar com suas atribuições perante o caso mais importante do Brasil nos últimos anos, o petrolão. Tendo a achar descabida uma autonomia da Polícia Federal sem que fiquem bastante claros os limites de sua atuação e a sua subordinação ao controle externo . Mas louvo a atuação da PF na democracia e reconheço como essencial sua ação, ao lado do MP , para o desvendamento de casos como o petrolão e outros afins . A democracia só ganharia se essas duas instituições essenciais à sua proteção encontrassem um caminho comum para suas atuações, sem essa disputa que só beneficia os bandidos.

Bernardo Mello Franco - Solidariedade à brasileira

- Folha de S. Paulo

Na Polônia, Solidariedade é o nome do sindicato que enfrentou a ditadura comunista e abriu caminho para a volta da democracia. No Brasil, Solidariedade é o nome do partido criado por Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força.

O deputado é um dos principais defensores da terceirização geral e irrestrita do trabalho. Ex-metalúrgico, empunha uma bandeira que agrada aos empregadores e ameaça os direitos dos empregados. Não é a primeira vez que muda de lado.

Paulinho controla a Força Sindical, fundada em 1991 sob as bênçãos de Fernando Collor e da Fiesp. A central foi idealizada para rivalizar com o petismo e a CUT. Quando seus adversários chegaram ao poder, aderiu ao governo em troca de cargos no Ministério do Trabalho.

Em 2010, o dublê de deputado e sindicalista pediu votos para Dilma Rousseff. Agora recolhe assinaturas pelo impeachment da presidente. Entre uma coisa e outra, aproximou-se do tucano Aécio Neves e do peemedebista Eduardo Cunha.

Na sexta, os dois prestigiaram o aliado no "maior 1º de Maio do mundo", em São Paulo. A festa foi embalada por shows do cantor Latino e da dupla sertaneja Bruno e Marrone. Para atrair mais público, a Força sorteou 19 carros zero quilômetro.

O Solidariedade é o mais novo dos 32 partidos brasileiros. Seu breve retrospecto, que inclui uma tentativa de fusão com o DEM, mostra como novas legendas podem conviver com velhos vícios da política.

A sigla se envolveu na Operação Lava Jato por abrigar o ex-deputado baiano Luiz Argôlo, que pertencia ao PP. Ele disputou a última eleição pelo partido de Paulinho e só foi afastado em abril, depois de ser preso.

Na semana passada, o Solidariedade deixou sua impressão digital no ataque aos professores do Paraná. O secretário de Segurança do Estado, Fernando Francischini, é deputado federal pelo partido. Está licenciado do cargo para comandar a polícia do governo Beto Richa.

Míriam Leitão - Quinze anos, esta noite

- O Globo

O Brasil vive um momento difícil na área fiscal, mas tem a comemorar o fato de que a lei que foi pensada para controlar as contas públicas chega aos 15 anos sendo parte integrante do ordenamento político e econômico do país. Ela criou uma nova cultura, diz o ministro Joaquim Levy. A equipe que a redigiu preparou a economia com mudanças que permitiram que a lei fosse cumprida.

Antes da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), várias providências tiveram que ser tomadas. O governo Fernando Henrique negociou com os estados e os municípios a dívida enorme que eles tinham em mercado. Teve que fechar ou federalizar bancos estaduais e empresas de energia porque essas instituições haviam se transformado em financiadoras de seus controladores. Estados e municípios foram beneficiados com a negociação da dívida porque passaram a pagar juros menores dos que eram cobrados pelos credores. É bom lembrar isso , porque foi com base na ideia de que o Tesouro cobrava indevidamente que estados e municípios pressionaram para a mudança do indexador , no ano passado. Isso já foi aprovado, e o que se discute é a partir de quando estará em vigor . Ontem, em conversa com a CBN, o ministro Joaquim Levy disse que a alteração do índice de correção das dívidas com a União foi precipitada.

A LRF tem sido ameaçada e ao mesmo tempo tem muito a comemorar . Os indicadores fiscais herdados do primeiro mandato são horrorosos: subiu a dívida bruta, aumentou o déficit nominal, o superávit primário se transformou em déficit. O pior , no entanto , foi o detectado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) na relação entr e o Tesouro e as instituições financeiras públicas. Os atrasos nos pagamentos aos bancos mostraram que, na prática, eles estavam financiando o governo, o que é proibido. O ministro Joaquim Levy disse ontem na CBN, quando perguntei sobre o tema, que será preciso esperar o resultado final do julgamento do TCU antes de se pronunciar a respeito. Levy disse que no regime democrático é cada vez mais necessário prestar contas do gasto, informando o motivo de cada despesa e qual é a prioridade da ação do governo. Ele defendeu em entrevista ao GLOBO que haja um sistema de avaliação da qualidade do gasto.

Perguntei a ele, ontem, se isso seria através de uma mudança de atitude ou uma nova lei. Ele respondeu que poderia ser as duas coisas. A complexa questão de como o governo arrecada, gasta, se endivida, escolhe prioridades para usar os recursos do contribuinte para cada área está em plena evolução. Contudo , é importante registrar o quanto já se caminhou. A LRF , para ser aprovada, exigiu um trabalho prévio de limpeza e, ao passar a vigorar , criou constrangimentos para os governos, ainda que, como disse este jornal, não tem havido punição para as autoridades que a descumprem. Levy tem razão, há uma nova cultura no país. O tema árido das contas públicas é debatido, mobiliza, faz o governo se explicar . Deixou de ser assunto que interessa apenas a meia dúzia de economistas especializados em finanças públicas. Quanto mais o contribuinte exigir , cobrar , fiscalizar , melhor será para a saúde financeira do Estado brasileiro. Não basta não gastar demais.

Como explicou Levy, é preciso pensar numa nova etapa do mesmo esforço de controle das contas, que é o de ter um sistema de avaliação do desempenho em áreas fundamentais para o país, como educação e saúde. A LRF foi atacada três vezes nos últimos tempos: quando o Congresso permitiu que o governo fechasse o ano sem cumprir a meta que ele mesmo havia proposto e, por isso, o objetivo de superávit primário virou "resultado primário ". No fim do ano passado, a presidente Dilma sancionou a lei que altera o indexador das dívidas. O governo descumpriu a determinação de que o Tesouro não se endivide junto às instituições financeiras estatais. No meio dessas sombras, a Lei de Responsabilidade Fiscal chega aos 15 anos. Parece viver , no momento, uma coleção de más notícias, mas quem não a respeitou está sendo duramente cobrado e terá que se explicar e corrigir seu rumo. Em vez de se enfraquecer , a lei está ficando mais forte diante dessa tentativa de descumpri-la.

Vinicius Torres Freire - Ânimo nos endinheirados

• Clima no país despiora, Brasil fica barato e donos do dinheiro animam mercado financeiro em abril

- Folha de S. Paulo

Os donos do dinheiro grosso ficaram um pouco mais calminhos em relação ao Brasil, desde o início de abril.

Em algumas partes do mercado financeiro, houve até grande animação, caso da Bolsa, no nível mais alto em seis meses. O balanço de entradas e saídas de dólar no país, dito "fluxo cambial", foi o melhor também desde outubro de 2014. A taxa de juros real (juro futuro descontada a inflação esperada em 12 meses) está meio horrível, a mais alta desde meados de 2011, primeiro ano de Dilma 1. No entanto, de março para cá o juro real sobe mais porque a inflação esperada tem caído de modo considerável --menos pior assim.

No "lado real" da economia, o naufrágio continua. O comércio do Brasil com o exterior caiu 16% neste primeiro terço do ano (ante período igual de 2014), soube-se ontem. A importação de bens de capital baixou 12%, péssimo sinal, pois muito associada ao ritmo do investimento em equipamentos e instalações produtivas. Pelo andar da carruagem das importações, deveremos ter dados catastróficos de investimento em capital neste primeiro semestre (por ora, temos números até fevereiro).

Ainda assim, o ar anda menos empesteado pelos lados da finança. Passou mais um ciclo de especulação histérica com a data do aumento dos juros americanos, o que vem provocando tumulto por aqui desde maio de 2013. Porém, exceto na hipótese improvável de letargia da economia americana, haverá mais paniquito, talvez a partir de junho.

Por aqui, alguns medos e exasperações refluíram.

Colocou-se ordem mínima na Petrobras. Apresentou-se um balanço, com o que se afastou o risco de cobrança antecipada da dívida da empresa, o que levaria o governo já na pindaíba a cobrir os papagaios, um desastre.

Parece que o fim do mundo político foi adiado. O governo está no pântano com lama pelo nariz, mas parou de afundar, por enquanto, ao menos.

Na ausência de impeachment, "crise institucional", quebra da Petrobras e racionamentos de água e luz, o ar pareceu mais respirável. Considere-se também que o preço dos ativos brasileiros, ações em particular, estava em nível de fim de feira, ainda mais se cotados em dólares. O Brasil pareceu barato.

Em abril, entrou dinheiro "estrangeiro" como nunca na Bovespa, que voltou ao nível mais alto desde outubro de 2014. No trimestre encerrado em abril ou nos 12 meses contados até então, os não residentes puseram dinheiro como não o faziam pelo menos desde 2010.

Quanto a entradas de dólar, o resultado no trimestre encerrado em abril não era tão alto desde julho de 2013 (ainda faltando computar os dados da última semana de abril).

Depois da corrida histérica, pois rápida demais, até R$ 3,30, o preço do dólar recuou para a casa dos R$ 3, dando um pulinho nos últimos dias porque o Banco Central talvez reduza suas intervenções e porque, bidu, houve algum agito no mercado americano de juros. Mas dólar a R$ 3 e subindo aos poucos a partir daí é, para o conjunto do país, bom negócio. Trata-se de um nível de câmbio que pode daqui a um pouco dar algum impulso à economia por meio do aumento da produção de produtos exportáveis na indústria.

Sim, a coisa está feia. Mas, com tumulto na finança, poderia ficar pior.

Paulo Fábio Dantas Neto – Inércia política e portas de saída

• Crise pede novo centro político e renovada oposição

- Valor Econômico

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Inércia política e portas de saída

Carlos Matheus – Por um novo plebiscito

- O Estado de S. Paulo

Acaba de ser implantado um parlamentarismo improvisado, incompleto e apressado. A presidente da República entregou o cargo de chefe de governo a um primeiro-ministro. A um, não, dois. Levy e Temer são alheios ao seu partido e não foram eleitos para tais cargos. Dilma deixou de governar e recolheu-se à função de chefe de Estado.

Trata-se de um parlamentarismo incompleto porque falta uma reforma política para instituí-lo, porque faltam partidos preparados para governar e porque falta um Poder Legislativo capaz de representar as várias correntes da opinião pública. É um parlamentarismo disfarçado ao qual se recorre mais uma vez para remendar a ineficiência do presidencialismo vigente. Com isso a democracia brasileira continua demonstrando sua incapacidade de se ajustar às inevitáveis crises do mundo contemporâneo.

A recente eleição mascarou os graves problemas surgidos logo depois do pleito. O chamado "marketing eleitoral" ofereceu uma imagem maquiada da candidata vencedora, encobrindo sua incapacidade para governar. Propaganda eleitoral é atualmente uma demagogia cara que estimula a corrupção, deturpando um dos princípios básicos do sistema democrático, que é governar com base na vontade da maioria. Se o atual caso da Petrobrás tivesse vindo à tona antes da eleição, Dilma não teria sido reeleita. A maioria de outubro de 2014 não é mais a maioria de 2015, o que retira legitimidade ao atual governo e aos seus "primeiros-ministros".

A ineficiência do presidencialismo brasileiro continua pondo em risco o próprio regime democrático. A insatisfação popular com a presidente recém-reeleita desperta o desejo de um golpe militar ou, pelo menos, de uma deposição constitucional. Acontece que os militares não existem para governar, mas para defender a Nação contra inimigos externos. A deposição constitucional torna-se difícil porque a presidente, a exemplo de seu antecessor, se refugia sob a máscara de falsa inocência, dizendo que "não sabia de nada". Erros e atos de corrupção ocorrem em todos os governos. O que não se pode permitir é a permanência no poder de governantes incapazes de impedi-los. Os inevitáveis erros dos governantes não podem ser julgados pela opinião pública apenas de quatro em quatro anos: precisam ser julgados imediatamente, isto é, logo que ocorrem. Uma democracia viva exige canais pelos quais a população possa manifestar a sua vontade, sem ter de aguardar a data em que o calendário eleitoral a convocará.

Para agravar a atual crise política os partidos presentes no Poder Legislativo não representam, de fato, a vontade popular. São partidos sem conteúdos programáticos definidos e sem capacidade de oferecer soluções alternativas para a atual crise política. São, em sua maioria, partidos criados por interesses pessoais de indivíduos sem efetivo conhecimento dos grandes problemas nacionais e sem ligação com seus eventuais eleitores.

O presidencialismo brasileiro apoia-se sobre a falsa ideia de que uma única pessoa é capaz de governar. É impossível. Embora seja necessário um chefe de Estado para representar a Nação dentro e fora do território nacional, não se lhe pode atribuir a responsabilidade de exercer também a função de governar. As funções de um governante são complexas. Exigem uma equipe homogênea com amplo conhecimento dos problemas e agilidade para solucionar os conflitos de cada do momento. No atual presidencialismo, quem ocupa a Presidência da Republica fica distante dos problemas, com ministros nomeados para conciliar interesses, mas sem diretrizes harmônicas e sem uma visão de conjunto dos problemas do momento.

Há um abismo entre o atual governo e o povo. A insatisfação que tomou conta do País gera manifestações nas ruas, porque o regime atual não oferece canais para que a população se possa expressar. O País ingressou numa fase de paralisia sob a qual há frustração, desânimo e uma inquietação latente.

Enquanto não for feita uma verdadeira reforma política, as crises estarão sempre rondando o exercício do poder, a corrupção estará sempre aberta aos aventureiros, a população estará cada vez mais descrente de seus governantes e a democracia estará sempre ameaçada. O voto distrital e o fim da reeleição são insuficientes para assegurar a governabilidade. Somente um regime capaz de conciliar as circunstâncias oscilantes da vida política com o princípio da rotatividade do exercício do poder será capaz de amortizar as inevitáveis crises inerentes à democracia e à política em geral. Esse regime, como tem sido comprovado em toda a Europa, é o parlamentarismo. Além de ser mais adequado às sociedades de massa, tem maior capacidade de se ajustar às rápidas mudanças políticas dos tempos atuais.

O parlamentarismo exige partidos políticos com efetiva representatividade popular, com conteúdos programáticos definidos e com soluções alternativas para cada momento da vida política do País. Os partidos, para se manterem, precisam tornar-se canais de comunicação entre a opinião pública e os governantes. E os governantes devem ser demitidos ao perder o apoio da opinião pública. No parlamentarismo isso é possível.

Essa reforma política terá passar inevitavelmente pela decisão popular. Um novo plebiscito precisa ser convocado para informar aos brasileiros sobre as diferenças entre o presidencialismo atual e um futuro parlamentarismo. É preciso mostrar aos brasileiros que no parlamentarismo a troca de governo é feita em função dos resultados, e não de quatro em quatro anos nem por meio de golpes de Estado. É preciso mostrar aos brasileiros que no parlamentarismo quem governa é uma equipe homogênea dirigida por um único primeiro-ministro (não dois como atualmente). Chegou a hora de mudar: mudar de regime, para superar as futuras crises e para preservar a democracia.

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*Carlos Matheus é ex-diretor do Instituto Gallup e foi professor titular de Ética e Filosofia Política da PUC-SP.

Luiz Inácio e as elites – Editorial / O Estado de S. Paulo

Luiz Inácio Lula da Silva é hoje um homem rico, um destacado membro da elite brasileira - se se definir assim pessoas de posses que dedicam boa parte de seu tempo a voos de primeira classe ou jatinhos executivos, hospedagem em hotéis de luxo ou, para o lazer, em mansões de amigos -, fruidor, entre outras coisas, de apartamento tríplex no Guarujá e aprazível e bem equipado sitio em Atibaia. Mas os tempos andam difíceis para tudo o que Lula representa politicamente. Então é hora de exercitar o velho discurso de ataques às "elites", da qual fazem parte a imprensa livre e quem mais ouse mostrar que o rei está nu.

Lula exerceu dois mandatos presidenciais e é inegável que nos seus oito anos de governo o País obteve importantes conquistas sociais e econômicas. Um chefe de governo não faz nada sozinho, sem o apoio e a cooperação da sociedade. Lula teve o mérito de conduzir o processo.

Lula tem responsabilidade também sobre o que veio depois dele. E depois dele vieram a incompetência de Dilma Rousseff e, principalmente, os efeitos negativos de uma política econômica populista e o escancaramento - a Petrobrás que o diga - das práticas políticas nefastas que implantou e estimulou em nome da "governabilidade". Em português claro: a corrupção endêmica. Ninguém pratica a corrupção sozinho. Lula teve o demérito de assistir ao processo.

Os próprios petistas e seus apoiadores sabem disso. Não o admitem explicitamente, mas escudam-se no argumento falacioso de que é impossível governar sem fazer concessões a um "sistema" que é essencialmente corrupto. Então, a verdadeira opção do PT diante da corrupção foi aderir a ela e não combatê-la "sem tréguas", como repetem Dilma Rousseff em seus discursos e o PT em sua propaganda. Lula nem se dá ao trabalho.

É nesse cenário que se encaixa a retórica maniqueísta de que o País se divide entre o bem e o mal, "nós" e "eles". E como o partido do "nós" está precisando de um salvador da Pátria, em sua arenga comemorativa do 1.º de Maio Lula não se encabulou de colocar sutilmente a questão de sua volta à Presidência: "O que me deixa inquieto é o medo que a elite brasileira tem que eu volte à Presidência. É inexplicável, porque eles nunca ganharam tanto dinheiro na vida quanto no meu governo". Nem todo mundo, é claro, mas quem ganhou, ganhou para valer, como a sucessão de escândalos está aí para comprovar.

E como o País precisa de alguém com grande valentia para domar a atual crise, Lula expôs, como de hábito, suas credenciais: "Estou quietinho no meu lugar, mas estão me chamando para a briga e sou bom de briga. Eu volto para a briga". Está, como se vê, obcecado pela ideia da "volta". Quanto à sua criatura, Dilma Rousseff, que não teve coragem de gravar o tradicional pronunciamento presidencial do Dia do Trabalho, Lula foi compreensivo: "A gente tem que ter paciência com a Dilma, como a mãe da gente tem com a gente. Ela foi eleita para governar quatro anos. Esperem o resultado final do governo". Quer dizer: fiquem todos bem comportados, como um rebanho de ovelhas, que tudo se resolve. Se não, ele volta e dá um jeito.

Os argumentos de palanque de Lula são tão falsos quanto uma nota de três reais. Assim o são também aqueles expostos na propaganda partidária do PT veiculada na mídia eletrônica. Por exemplo, o de que o atual governo colocou mais gente importante na cadeia do que qualquer outro. Não é verdade. Quem investiga e pune criminosos não é o governo do PT, são as instituições do Estado. O governo do PT tem é fornecido um monte de criminosos importantes.

Alegam ainda os petistas que seu governo possibilitou, a quem antes não podia, viajar de avião, comprar carro, morar em casa própria. De fato, a política econômica populista focada no crédito fácil para o consumo produziu de imediato efeitos positivos. Mas foi uma das responsáveis pela gastança desenfreada do governo, que descuidou do controle de suas contas e de administrar as prioridades de investimentos de infraestrutura em benefício do bem comum. O resultado é que a economia brasileira está à beira do abismo e, pressionada pela queda do nível de emprego, dos salários e da crescente inadimplência, a classe média começa a despertar do sonho efêmero das prestações mensais a perder de vista. Nem todos da perversa elite são culpados por isso.