Folha de S. Paulo
Nunca é demais lembrar que fora da lei só
há a barbárie
Como explicar a
união de empresários, sindicalistas e movimentos sociais em torno de
uma ideia tão abstrata como a de "Estado de Direito"? Entre os
inúmeros ideais políticos —como democracia, liberdade ou igualdade— que
historicamente mobilizam milhões de pessoas ao redor do mundo, certamente o
Estado de Direito é dos mais enigmáticos.
Creio que a ampla adesão a esse ideal
decorra das múltiplas dimensões e funções desempenhadas pelo Estado de Direito.
Em uma dimensão elementar, Estado de Direito significa um ambiente em que a
maior parte dos membros da comunidade age em conformidade com a lei, mesmo
quando isso signifique contrariar os próprios interesses ou paixões. Essa é a
dimensão constitutiva da própria ideia de civilização, pela qual o Estado de
Direito se apresenta como contraposição à barbárie.
Numa segunda dimensão —também chamada de burguesa—, o Estado de Direito designa não apenas que as pessoas se conduzam de acordo com a lei, mas que o próprio Estado e aqueles que exercem o poder, que as produzem e aplicam, também se encontram submetidos ao Direito, tal como expresso pela Constituição. A principal virtude desse arranjo, além da contenção do arbítrio por parte dos poderosos, é assegurar a previsibilidade nas relações sociais e especialmente na esfera econômica, indispensável ao desenvolvimento econômico. Essa é a razão pela qual o governo das leis atrai empresários e investidores.