Apesar de elogiar Dilma, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) diz a Eliane Cantanhêde que foi criada a ideia de que todo governante tem de buscar a reeleição, mas não é "conceito absoluto". "O que vai acontecer em 2014 está distante." Temer afirma ainda que é natural haver inveja pelo fato de seu partido ocupar a Vice-Presidência
Reeleição não é conceito absoluto, diz Temer
Vice-presidente faz elogios a Dilma, mas afirma que "o que vai acontecer em 2014 está ainda muito distante"
Em recado indireto às pretensões do PSB nas eleições presidenciais, o peemedebista diz que "o apressado come cru"
Eliane Cantanhêde
Apesar de elogiar o desempenho da presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer, principal líder do PMDB, disse que se criou a ideia de que todo governante tem de se candidatar à reeleição, "mas esse não é um conceito absoluto".
Segundo ele, "tudo" está em jogo nas próximas eleições presidenciais. "Quem foi bem deve se reeleger. Agora, o que vai acontecer em 2014 está ainda muito distante."
Em entrevista à Folha, na última quarta-feira, em seu gabinete, Temer também mandou um recado indireto ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, cujos movimentos sugerem uma corrida ou à Vice ou à Presidência em 2014: "O apressado come cru".
Folha - Por que, enquanto o PT e o PSB estão às turras em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, o PMDB anda tão calado?
Michel Temer - Acho melhor agir do que falar e, na qualidade de vice-presidente, eu tenho de ser discreto, mas essa discrição não significa uma inação política.
O melhor exemplo é Belo Horizonte?
É. Contribuímos muitíssimo para a solução em Belo Horizonte, que é muito importante para o PT. Eu percebi, aliás todos nós do PMDB, inclusive o candidato Leonardo Quintão, percebemos, que deveríamos abrir mão da candidatura própria, que tinha muito significado e peso eleitoral, para fazer a aliança sólida com o PT. Uma aliança com repercussão nacional.
Para neutralizar os arroubos do PSB e do governador Eduardo Campos?
O PSB tem um papel a desempenhar no Brasil e no apoio importantíssimo que dá ao governo e acho natural que busque ampliar seu raio de ação, especialmente nas eleições municipais. Veja o PMDB: é um partido forte, significativo, pelo número de governadores, prefeitos, vereadores, por ter a maior bancada na Câmara e no Senado.
A disputa do PSB com o PT nas eleições municipais é parte do jogo de 2014 e de 2018?
Disputas locais não podem contaminar a aliança nacional. Isso precisa ficar claro.
Quando Dilma reuniu líderes de PT e PSB, dois de cada lado, as orelhas do PMDB arderam?
Se arderam, foi do lado direito, porque, quando é do lado direito, dizem que é porque falaram bem. Suponho que PT e PSB, juntos, só podem ter falado bem do PMDB.
O sr. tem certeza?
Tenho. O PMDB colabora muito com o governo e com essa aliança. Então, se se reuniram PT e PSB, eu tenho cá comigo, talvez com uma certa ingenuidade, eles só podem ter falado bem do PMDB.
E se não?
Problema deles, porque o PMDB é um partido que tem vida própria, significação política histórica.
Ao sair do encontro com o PT e Dilma, Eduardo Campos disse que querem inventar um "inimigo oculto" só para obterem favores fisiológicos da presidente. Todo mundo entendeu que falava do PMDB.
Pois o PMDB entendeu que o governador só poderia estar falando de outro partido porque, para nós, essa história de fisiologia está superada. Nesses governos de coalizão, é mais do que natural que os partidos participem do governo. Veja aí, PT, PSB, PMDB, todos participam. E, comparada numericamente com os outros partidos, a participação do PMDB é a menor.
Já que Campos falou genericamente sobre "fisiológicos", vamos falar também em tese: tem gente na aliança botando o carro à frente dos bois?
Cada um tem seu estilo. Eu acho que, em política, é preciso administrar o tempo, porque quem se apressa acaba se dando mal. O apressado come cru. A afoiteza e, mais do que a afoiteza, as palavras duras e deselegantes, acabam gerando um clima muito desfavorável para as instituições. Numa democracia, as instituições -e os partidos são instituições- deverão ser sempre preservadas.
Isso tudo é recado para Eduardo Campos?
Não... o Eduardo Campos sabe muito mais do que eu.
Como o sr. vê o embate do PSB com o PT?
Todas as notícias eram de que as queixas do PSB eram contra o PT. Depois de umas conversas é que, veladamente, começaram a dizer que a relação com o PT era boa e o problema era com os outros. Como esses outros eram indefinidos, você tem de ignorar.
O PSB recuou de atacar o PT e se virou contra o PMDB?
Sabe que eu acho que não? Até porque todas as conversas do Eduardo Campos comigo e com todos do PMDB são sempre de parceria. Então, não vejo clima de beligerância, pelo menos nas manifestações dele.
Quem estaria, então, criando esse tal inimigo oculto do PSB e do PT?
Confesso que não sei dizer. É preciso perguntar ao próprio Eduardo Campos. Aliás, seria útil, até, que houvesse uma definição, porque essa coisa, digamos, muito insinuante, em matéria política, não é nada bom.
Fala-se muito que o que está por trás é a Presidência em 2014, mas não seria a Vice?
O que está em jogo é tudo em 2014! Primeiro ponto é que, depois de instituída a reeleição no Brasil, a ideia é a seguinte: quem foi eleito tem de concorrer à reeleição, para não perder o poder. Estabeleceu-se esse conceito que não é um conceito absoluto. Segundo ponto é que, havendo a reeleição, quem foi bem no governo deve se reeleger. Agora, o que vai acontecer em 2014 está ainda muito distante. Quem está pensando só em 2014 está sendo afoito, apressado. E, aí, come cru.
Tem muita gente com inveja do PMDB e da vaga de vice?
Ser vice-presidente, em especial na atual conjuntura, tendo como companheira a presidente Dilma, é uma coisa muito boa, produtiva institucionalmente. É natural, portanto, que haja inveja, mas é um sentimento negativo. Ela se volta contra o invejoso. As pessoas devem é trabalhar de uma maneira que as habilite a ocupar os lugares, seja de vice, seja de presidente.
A disputa do PSB com o PT fortalece o PMDB?
O PMDB já está fortalecido. A grande preocupação que existe em torno do PMDB já revela sua força. Se você me perguntar se há divergências internas no PMDB, eu vou dizer: há. Mas nós sabemos administrar essas divergências.
Como o sr. se posiciona diante da resistência de Dilma aos nomes de Henrique Eduardo Alves à presidência da Câmara dos Deputados e de Renan Calheiros e Romero Jucá para a do Senado?
Posso assegurar que não há isso, até porque no Senado é regimental, a presidência cabe ao maior partido, e, na Câmara, há até um documento assinado por PT e PMDB estabelecendo que a presidência será do PMDB no próximo biênio. Dizer que a presidente Dilma não quer o Henrique é equivocado. Ela jamais me disse isso.
Foi isso que o sr. acertou com Dilma e o presidente do PT, Rui Falcão, na terça-feira?
A presidente me chamou para fazer uma avaliação geral do quadro, só isso.
Se o sr. fosse de outro partido e presidente, acharia conveniente ter o PMDB no comando das duas Casas?
Acharia, em face da lealdade do PMDB. Quando Sarney presidiu o Senado e eu presidi a Câmara, foram tempos de muita tranquilidade para o presidente Lula.
Haverá reações no PMDB se Dilma tentar impor o ministro Edison Lobão para o Senado?
Quanto à presidente ter uma ou outra preferência, é mais do que legítimo, não caracteriza interferência, mas quem decide é o Poder Legislativo.
Campos disse que Lula está acima dos partidos e não deveria entrar na campanha. Obviamente, um pedido para o ex-presidente não entrar na campanha do PT em Recife. O que o sr. acha?
Em São Paulo, seria muito útil para o [Gabriel] Chalita [candidato do PMDB] que ele não entrasse, mas não acredito nisso.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO