quarta-feira, 16 de abril de 2014

Opinião do dia: Eduardo Campos

O Brasil perdeu o rumo estratégico. Dizia que ia para um lado e ia para o outro. Foi perdendo seus fundamentos macroeconômicos, na inclusão social. E a gente viu que esse processo nos conduziu ao cabo de três anos a um diagnóstico que é voz corrente: o Brasil parou, o povo perdeu a fé. E nós não podemos deixar o povo brasileiro desanimar da nossa luta.

O Brasil precisa de mais do que um gerente. O país quer uma liderança que construa o diálogo, que respeite os diferentes, que não divida o Brasil, que não amesquinhe a luta política, que não reduza o país a um partido. Este país é muito maior do que todos os partidos que existem nele.

Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB. O Globo, 15 de abril de 2014.

Refinaria de Pasadena não foi um bom negócio, diz presidente da Petrobrás

Em estratégia do Planalto para tentar esvaziar a criação de uma CPI que investigue a estatal, Graça Foster presta depoimento no Senado, defende Dilma e tenta restringir erros do negócio

Eduardo Bresciani e Débora Álvares - O Estado de S. Paulo

Brasília - Em audiência de mais de seis horas no Senado, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, reconheceu nesta terça-feira, 15, que a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, "não foi um bom negócio". Ao responder a perguntas dos parlamentares, ela procurou blindar a presidente Dilma Rousseff e restringir a culpa pelo negócio fracassado a ex-diretores da estatal.

O objetivo do governo é esvaziar as CPIs que a oposição tenta emplacar. O Planalto ficou satisfeito com o desempenho de Graça Foster, mas senadores da base reconhecem ser difícil evitar a criação de uma comissão parlamentar de inquérito.

A compra de 50% da refinaria de Pasadena teve o voto favorável de Dilma em 2006, quando ela estava à frente do Conselho de Administração da Petrobrás, conforme revelou o Estado há um mês. Dilma justificou que a decisão foi tomada com base em um resumo executivo com "informações incompletas".

Nesta terça, a presidente da Petrobrás corroborou a versão de Dilma e culpou o responsável pelo parecer, o ex-diretor da Área Internacional da estatal Nestor Cerveró pela omissão de duas cláusulas do negócio: a Put Option, que obrigava a empresa brasileira a comprar a parte da sócia belga Astra Oil em caso de desacordo em investimentos, e a Marlim, que garantia um repasse mínimo aos belgas mesmo que a refinaria não tivesse lucro.

"É absolutamente certo que essas cláusulas não foram levadas ao conhecimento do Conselho de Administração da Petrobrás e quem tinha a obrigação de levar era o diretor internacional", afirmou Graça Foster.

Cerveró, que após a polêmica de Pasadena voltar à tona em março acabou demitido do cargo que ocupava na BR Distribuidora, vai falar hoje no Congresso.

Segundo Graça, a compra de toda a refinaria envolveu US$ 1,25 bilhão e já foram gastos US$ 685 milhões desde 2006 na modernização. Ela destacou que a Astra não teria adquirido a refinaria em 2005 por US$ 42,5 milhões. Com investimentos e outros acordos, o valor teria chegado a US$ 360 milhões.

A presidente da Petrobrás destacou que as margens de lucro em refinarias nos EUA incentivavam o negócio em 2006. Reconheceu, porém, o prejuízo e destacou que a Petrobrás já deu baixa em seus balanços de US$ 530 milhões em relação a este ativo.


Outra gestão. Foster afirmou que a estatal tem de aprender com erros e reconheceu que o processo da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco se encaixa na mesma reflexão de "lição aprendida". Reconheceu que a ampliação do orçamento de US$ 2,5 bilhões para US$ 18 bilhões é um problema, mas ressaltou que nos últimos dois anos o negócio tem sido mantido dentro do valor proposto. Ou seja, deu a entender que tudo vem correndo bem em sua gestão, iniciada em 2012, sem garantir os resultados obtidos pelo antecessor no cargo, Sérgio Gabrielli.

Citando Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), Graça afirmou que a companhia tem procurado evoluir na elaboração de novos projetos para que não se repitam denúncias de sobrepreço. "Quando a gente vai para a rua com projetos que não estão acabados, o sobrepreço é inevitável", disse.

Graça Foster evitou se estender quando questionada sobre as atividades de Paulo Roberto Costa na companhia. O ex-diretor de Abastecimento foi preso no mês passado na Operação Lava Jato da Polícia Federal sob suspeita de receber propina, inclusive quando estava na estatal. Graça limitou-se a dizer que a prisão causa "constrangimento" e que estão sendo "avaliadas" as ações do ex-diretor enquanto estava na estatal. / Colaboraram Ricardo Brito e Nivaldo Souza

Entre o constrangimento, o mau negócio e a CPI...

Em audiência no Senado, Graça Foster reconhece que a compra da Refinaria de Pasadena, quando Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras, resultou em prejuízo para a estatal. Oposição volta a defender criação de CPI

Paulo de Tarso Lyra, Étore Medeiros – Correio Braziliense

Graça Foster, no Senado: Planalto classifica como "excelente" a atuação da presidente da estatal

Senadores conversam após a audiência: crise na Petrobras alimenta discurso eleitoral

A visita da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, ao Senado teve efeitos distintos para governo e oposição. Enquanto as explicações sobre os problemas na estatal foram suficientes para convencer a base aliada, os opositores não ficaram satisfeitos com as declarações da comandante da maior empresa brasileira — pivô de uma crise que ganhou contornos eleitorais nos últimos dias — e acreditam que as justificativas apresentadas apenas reforçam a necessidade de instalar uma comissão parlamentar de inquérito para apurar irregularidades na companhia.

Em quase seis horas de audiência, Graça Foster, como é conhecida, discordou do antecessor José Sérgio Gabrielli ao afirmar que a compra da Refinaria de Pasadena (Texas) não foi um bom negócio. Entretanto, ressaltou que a transação foi conduzida pela área internacional da empresa, comandada, à época, por Nestor Cerveró, que estará hoje na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara para prestar esclarecimentos.

Graça Foster admitiu que, em 2006, ano em que a compra foi discutida, o negócio poderia parecer vantajoso. Hoje, não mais. "Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. O projeto se transformou em um de baixa probabilidade de recuperação do resultado", disse. Mesmo assim, ela defendeu a presidente Dilma Rousseff, que presidia o Conselho de Administração da Petrobras no ano em que a compra foi efetivada.

A presidente da Petrobras reforçou o argumento de que, durante as reuniões do colegiado que aprovaram o negócio, não foram apresentadas as cláusulas marlim e put option. "Em nenhum momento do resumo executivo, ou da apresentação feita pela diretoria executiva ao conselho de administração, foram apontadas essas duas questões, muito importantes. Não se falou da cláusula put option nem da cláusula marlim." Ela reforçou ainda que, ao contrário do que tem sido publicado na imprensa, a Astra Oil pagou US$ 360 milhões por metade da refinaria texana antes de vendê-la à Petrobras, e não US$ 42,5 milhões.

Em outro ponto questionado por parlamentares, Graça Foster reconheceu que a prisão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, detido durante a Operação Lava-Jato por envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, causou desconforto para a estatal. "Essa é uma situação que gera um enorme constrangimento para a empresa. E, para mim, que veio da base, é maior ainda, porque não vivi apenas no mundo da diretoria."

Apesar da pressão dos senadores que questionaram o envolvimento de Paulo Roberto Costa no processo de compra da Refinaria de Pasadena, Graça Foster lembrou que o processo foi conduzido pela área internacional da Petrobras, na época comandada por Nestor Cerveró. "Não é justo, só porque o Paulo Roberto está preso, colocar todos os problemas nas costas dele", disse. Ela ainda negou que haja um abismo ético na empresa, e rebateu o senador Pedro Taques (PDT-MT): "A Petrobras não é uma quitanda".

Pressão
Para os parlamentares da oposição, que aguardam decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a amplitude da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras (leia mais na página 3), Graça Foster não conseguiu responder por que Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró permaneceram tanto tempo na diretoria da empresa após terem induzido a presidente Dilma Rousseff ao equívoco da compra da refinaria. "Paulo Roberto Costa permaneceu por vários anos no cargo, mesmo após a presidente Dilma e a senhora constatarem que ele tapeou, omitiu dolosamente fatos", constatou o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Ao assumir a presidência da estatal, em 2012, Graça Foster exonerou Paulo Roberto. Cerveró foi transferido para o cargo de diretor financeiro da BR Distribuidora, um posto, segundo Foster, mais modesto. "A direção da BR Distribuidora (é modesta)?", ironizou Aloysio, para, em seguida, emendar: "Permaneceram (nos cargos) seguramente porque têm costas quentes, padrinhos políticos fortes, não há outra resposta possível".

Apesar dos ataques da oposição, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) acredita que a presidente da Petrobras conseguiu esclarecer todas as dúvidas sobre a compra da Refinaria de Pasadena. Um ministro próximo da presidente Dilma Rousseff classificou de "excelente" a postura e as explicações de Graça Foster no Senado.

As explicações
Confira os principais comentários de Graça Foster sobre a crise na Petrobras

Prejuízos com Pasadena
» "Hoje, olhando aqueles dados, não foi um bom negócio, não pode ser um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. O projeto se transformou em um de baixa probabilidade de recuperação do resultado"

Cláusulas omitidas
» "Em nenhum momento do resumo executivo entregue ou da apresentação feita pela diretoria executiva ao conselho de administração foram apontadas essas duas questões, muito importantes. Não se falou da cláusula put option nem da cláusula Marlim"

Divergências com José Sérgio Gabrielli
» "Não ouvi Gabrielli (ex-presidente da Petrobras) dizer que foi um excelente negócio, mas que, à época, foi considerado um bom negócio. Sou engenheira e, quando todas as cartas estão na mesa, nossa decisão de engenharia fica mais fácil"

Paulo Roberto Costa
» "É um grande constrangimento para a Petrobras a prisão do ex-diretor Paulo Roberto (Costa). Todos os contratos com a participação dele estão sendo apurados. É o trabalho que podemos fazer, de melhoria da governança da diretoria"

Nestor Cerveró
» "Foi removido para uma posição modesta. Todo o processo de Pasadena foi conduzido pela área internacional. Teve participação da área de abastecimento, mas a área internacional é que conduziu. É injustiça colocar tudo nas costas do Paulo Roberto Costa só porque ele está preso"

Aparelhamento da diretoria
» "O que eu digo na diretoria da Petrobras é que nós temos técnicos, engenheiros da casa, tanto atualmente quanto na diretoria anterior, e sempre tivemos um número bastante grande em outras diretorias no passado de bons técnicos da companhia"

Contratos
As cláusulas marlim e put option, que teriam sido, segundo Dilma Rousseff e Maria das Graças Foster, omitidas nos debates sobre a compra da Refinaria de Pasadena, são comuns em contratos de compra e venda de empresas ou de ativos em sociedade. A put option serve para proteger o vendedor de um negócio do qual ele seguirá como sócio. Caso haja desentendimentos com o novo parceiro, o comprador de uma fatia da empresa ou do ativo (como no caso da refinaria norte-americana), o vendedor pode obrigar o sócio a comprar o restante. Já a cláusula marlim garante um pagamento de dividendo mínimo a um dos sócios, mesmo em caso de prejuízo.

"Paulo Roberto Costa permaneceu por vários anos no cargo, mesmo após a presidente Dilma e a senhora constatarem que ele tapeou, omitiu dolosamente fatos"
Aloysio Nunes Ferreira, líder do PSDB no Senado

Refinaria não foi bom negócio, diz Graça Foster

Na avaliação do governo, depoimento não conseguiu esvaziar pressão por CPI

Presidente da Petrobras endossou Dilma ao afirmar que relatório que norteou a aquisição estava incompleto

Aguirre Talento e Matheus Leitão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em seis horas de depoimento ontem no Senado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, admitiu que a compra da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006, "não foi um bom negócio", mas endossou a versão de Dilma Rousseff ao afirmar que estava incompleto o resumo em que se baseou a aquisição.

"Não existe operação 100% segura, imagino que em nenhuma atividade comercial e certamente não na indústria de petróleo e gás", afirmou.

Na avaliação de parlamentares da oposição e do próprio governo, as explicações não surtiram o efeito desejado pelo Palácio do Planalto, que era esvaziar a pressão para a instalação de uma CPI da Petrobras no Congresso.

Senadores de oposição voltaram a defender a investigação durante e após o depoimento de Graça. Já os governistas reconheceram, nos bastidores, que ela conseguiu apenas reforçar a versão da presidente Dilma, que deu o aval ao negócio em 2006.

Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da estatal e apoiou a compra. Em março, no entanto, afirmou que o fez com base em um parecer jurídica e tecnicamente "falho".

Assim como a presidente, Graça criticou o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, que fez o resumo executivo "sem citação a duas cláusulas contratuais completamente importantes".

"Quando fazemos uma apresentação ao Conselho de Administração e tratamos o resumo executivo, ele deve conter todas as informações necessárias e suficientes para a devida avaliação do que se pretende fazer. Além disso, é obrigação apontar os pontos fracos e frágeis", disse a presidente da Petrobras.

A executiva foi cobrada pela oposição a explicar qual foi a punição dada ao então diretor quando se descobriu o parecer supostamente falho.

Graça deu então a entender que a transferência de Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora representou uma espécie de rebaixamento, por se tratar, segundo ela, de um cargo menor, mais modesto.

Mau negócio
Segundo Graça, a refinaria de Pasadena provocou perdas de US$ 530 milhões à estatal e só começou a dar lucro neste ano, contabilizado em US$ 58 milhões nos dois primeiros meses.

"Não foi um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. É um projeto de baixa probabilidade de recuperação do resultado", afirmou.

Ela, porém, ressaltou que as informações que o conselho tinha à época apontavam que a aquisição aparentava ser um bom negócio.

Graça ainda rebateu a informação de que a Astra Oil, de quem a Petrobras comprou inicialmente a metade de Pasadena, havia adquirido a refinaria anteriormente por apenas US$ 42,5 milhões.

Segundo ela, a Astra Oil pagou ao menos US$ 360 milhões, incluindo US$ 112 milhões em investimentos. Já a Petrobras desembolsou, ao fim do negócio, ao menos US$ 1,25 bilhão.

O esforço de Graça em responder os questionamentos de 27 senadores não evitou a queda de 3,83% das ações da estatal na Bolsa de Valores.

Em dos embates com a oposição, a presidente da estatal rebateu a afirmação do senador Pedro Taques (PDT-MT), que insinuou que a estatal estaria sendo gerida como uma quitanda. "Quando os senhor fala que a Petrobras é uma quitanda quero dizer que não é uma quitanda. Mas uma [empresa] absolutamente séria pelo desafio que enfrentamos todos os dias."

A presidente da estatal também reconheceu que a prisão do ex-diretor Paulo Roberto Costa pela Polícia Federal provocou "grande constrangimento" na empresa.

Costa é um dos alvos da Operação Lava Jato, que apura esquema de lavagem de dinheiro e de repasse de dinheiro de empreiteiras e fornecedoras da Petrobras a partidos políticos.

Colaborou Samantha Lima, do Rio

TCU aponta ‘gestão temerária’ na Petrobras

Segundo o tribunal, senador e ex-diretor da estatal assinaram acordos ‘desfavoráveis’

Chico de Gois - O Globo

BRASÍLIA — O senador Delcídio Amaral (PT-MS) e o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, foram apontados, em acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) de 10 de novembro de 2010, como responsáveis por assinar contratos “expressivamente desfavoráveis à Petrobras”, como anotaram os técnicos do tribunal, caracterizando o que o relatório chama de gestão temerária.

Cerveró é o mesmo que foi o responsável por fazer um resumo “falho e incompleto”, nas palavras da presidente Dilma, que levaram o conselho de administração da Petrobras a aprovar a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, Estados Unidos, gastando, no total, US$ 1,18 bilhão numa empresa que custava US$ 42 milhões.

Delcídio era diretor de Gás da Petrobras em 2001, enquanto Cerveró era o gerente-executivo de Energia na época, quando a petroleira firmou contratos para construção e operacionalização das termelétricas Barbosa Lima Sobrinho e Mário Lago, no Estado do Rio, e Termoceará, no Ceará. As transações consumiram R$ 2,8 bilhões em cinco anos, somente a título de contribuição de contingência para as empresas contratadas, segundo consta do acórdão do TCU.

Em 2001, quando os contratos foram assinados, o país vivia o drama do apagão e do racionamento de energia. Para minimizar o problema para suas operações, a Petrobras firmou contratos para participar em consórcios de usinas merchant — termelétricas que vendem energia no mercado de curto prazo. A diferença entre as usinas merchant e as demais é que, nas primeiras, os compradores são produtores independentes de energia, enquanto nas demais geralmente são indústrias e o mercado distribuidor.

A Petrobras não participou da construção das plantas nem detinha participação acionária na época, mas, por contrato, obrigou-se a ressarcir eventuais prejuízos dos consórcios. As usinas pertenciam totalmente à iniciativa privada (Enron, El Paso e MPX). A participação da Petrobras se daria, em dois dos consórcios, apenas para fornecimento do gás. No caso da usina da MPX, de Eike Batista, que operava no Ceará, nem isso — ela forneceria para uma estatal cearense que, por sua vez, repassaria para a termelétrica.

Senador contesta relatório
No entanto, de acordo com o TCU, os contratos assinados foram totalmente desfavoráveis à estatal. “A distribuição dos riscos dos consórcios das usinas merchant foi definida de forma desfavorável à Petrobras, expondo a empresa a riscos desnecessários e caracterizando ato de gestão temerária”, afirma o relatório.

O senador Delcídio contestou o acórdão do TCU. Segundo ele, as medidas adotadas na época se deram por causa do momento que o país vivia, de racionamento e risco de apagão.

— O mercado de energia sofreu muito na época. Todas as operadoras tiveram prejuízo. Quando em 2002 acabou o racionamento, o mercado de energia havia diminuído 25%, voltando aos níveis de 1998 — declarou o senador.

Segundo ele, as usinas criticadas pelo TCU foram projetadas para enfrentar o racionamento:

— Quando terminou o racionamento, as hidrelétricas foram se recuperando aos poucos, mas o mercado de energia ainda demorou a retornar aos níveis anteriores.

A reportagem não conseguiu falar com Nestor Cerveró.

Graça endossa versão para 'mau negócio'

André Borges e Rafael Bitencourt – Valor Econômico

BRASÍLIA - Durante seis horas de audiência pública no Senado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, tratou de defender a tese emanada pelo Palácio do Planalto, para justificar a compra desastrosa da refinaria americana de Pasadena, em 2006. Repetindo a versão do governo, Graça pôs todo o ônus pela decisão do "mau negócio" nas omissões de cláusulas "muito importantes", que deveriam ter sido apresentadas pelo então diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. As cláusulas put e marlim sequer teriam aparecido em "power point" ou mesmo "verbalizadas" para o conselho da estatal, o qual era comandado pela presidente Dilma Rousseff. Tudo seria diferente, disse Graça, se as informações fossem conhecidas previamente.

O fato é que o rombo deixado pela aquisição da refinaria nas contas da estatal já se aproxima de US$ 2 bilhões. Isso porque, ao custo total de US$ 1,245 bilhão que a Petrobras acabou desembolsando pela compra total da refinaria e sua trading, somam-se os investimentos que a petroleira fez em Pasadena desde 2006, para manter a operação em condições de produção. Isso já custou US$ 685 milhões adicionais à Petrobras. Trata-se, portanto, de um aporte total de US$ 1,930 bilhão em uma planta de refino que, ao menos até dezembro do ano passado, só deu prejuízo à estatal, como reconheceu Graça Foster. O tamanho desse prejuízo não foi detalhado.

A executiva admitiu que dificilmente a Petrobras verá a cor do dinheiro despejado em Pasadena. "O tempo transformou [a realidade do negócio], e não foi só por causa do pré-sal. As margens desceram, transformou o projeto em um projeto que não recuperará, tem baixa probabilidade de recuperação do investimento", disse.

Além de endereçar toda a culpa a Nestor Cerveró, que hoje comparece à Câmara dos Deputados para dar a sua versão da história, Graça Foster tentou desconstruir a ideia de que a Petrobras teria pago uma verdadeira fortuna por uma refinaria que, um ano antes, custou meros US$ 42,5 milhões à Astra Oil. Esse custo, disse Graça, conta apenas parte da história de desembolsos feitos pela companhia belga entre 2004 e 2005 à empresa Crown, então dona da refinaria.

Pelos cálculos apresentados por Graça, o aporte total feito pela Astra teria chegado a US$ 360 milhões antes de a Petrobras entrar no negócio. Esse valor inclui US$ 104 milhões em compra de estoques, US$ 80 milhões em serviços de refino, US$ 64,5 milhões em compra dos ativos e US$ 112 milhões em investimentos feitos pela Astra. A transação entre Astra e Crown englobava diversas operações, por meio de dois principais contratos ("processing agreement" e "refinery purchase and sale agreement"), com parcelas distintas de pagamento pela Astra.

Após comprar a planta da Crown, a Astra obteve recursos no mercado para investimentos e capital de giro. Esta dívida, em setembro de 2006 - quando a Petrobras comprou 50% da operação - era de US$ 180 milhões, conforme um balanço auditado pela PricewaterhouseCoopers. "Apuramos, até o momento, que a transação entre Astra e Crown foi muito superior a US$ 42,5 milhões", disse Graça. A executiva comentou que um balanço final e detalhado sobre as transações deverá ser concluído em 30 dias.

O discurso agradou o Palácio, que ficou satisfeito com o desempenho de Graça Foster no Senado. A avaliação, segundo uma fonte, é que a executiva fez uma defesa segura da estatal, capaz de reduzir as expectativas de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a empresa. Em linhas gerais, o Planalto comemorou o depoimento, avaliando que a executiva "recolocou as coisas no lugar" e defendeu as ações do conselho de administração entre 2006 e 2010, quando Dilma comandava o colegiado. A expectativa, no fim do dia, era que o depoimento esfriaria a onda de denúncias contra a Petrobras e reduziria as chances de CPI. Não é o que pensa a oposição (veja abaixo).

Para demonstrar que a Petrobras não ficou de braços cruzados diante da "omissão" de cláusulas de contrato por Nestor Cerveró, Graça chegou a dizer que, ao tomar conhecimento do problema, só em 2008, ficou decidido que o executivo deveria ser "rebaixado" para outro cargo no grupo. Cerveró deixou a diretoria da área internacional da Petrobras para assumir o comando da área financeira da BR Distribuidora, da qual foi demitido no mês passado. Oficialmente, porém, o executivo chegou a ser até elogiado por sua gestão na Petrobras, quando trocou de posto. "É inquestionável a posição de um diretor da Petrobras e a posição dentro da estrutura da companhia de um diretor de uma subsidiária. É sim uma diferença de ocupação, é sim uma diretoria muito mais restrita", tentou justificar Graça. "Eu fui presidente da BR Distribuidora, acumulei a direção financeira da BR, e ela é muito mais restrita."

As polêmicas de Pasadena dominaram a maior parte da audiência. Assuntos espinhosos como a atuação na estatal do ex-diretor de refino e abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, acabaram sendo pouco discutidos com os parlamentares. No dia 21 de março, Costa foi preso pela Polícia Federal. A prisão faz parte da Operação Lava Jato, deflagrada pela PF em 17 de março. Ele está detido em presídio no Paraná. A PF investiga as ligações de Costa com o doleiro Alberto Youssef, também preso preventivamente. Youssef é suspeito de coordenar um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e de manter conexões em órgãos do governo federal, como a Petrobras e o Ministério da Saúde.

"Aconteceu um grande constrangimento para a Petrobras com a prisão do ex-diretor Paulo Roberto", comentou Graça. "Isso cria muita tristeza, muito constrangimento dos nossos colegas."

Para oposição, explicações de Graça Foster não trazem ‘nada de novo’

Aécio, que não compareceu à audiência, diz que governança da Petrobras está em xeque e presidente da estatal estimulou criação da CPI

Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Washington Luiz – O Globo

BRASÍLIA - As exposições da presidente da Petrobras, Graça Foster, sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Estados Unidos, ainda não foram suficientes para convencer os senadores da oposição a deixarem de lado a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a estatal. Governistas e oposição travaram embate durante a sessão. Apesar de não ter comparecido à audiência no Senado com a presença da presidente da Petrobras, Graça Foster, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que a governança da estatal está em xeque. Para o tucano, Graça Foster tem idoneidade, mas deu autonomia excessiva aos diretores, que cometeram erros.

— A presidente da Petrobras é uma mulher respeitável. Não é ela que está em xeque, mas a governança da Petrobras. Há um fato. A governança da Petrobras está em xeque, assim como os fatos pontuais. Ela deixou claro que foi um mau negócio (a compra da refinaria em Pasadena). Acho que ela estimula (a instalação de uma CPI). Ninguém questiona a Graça Foster na sua competência, na sua idoneidade. Mas, na governança, é falha, com diretores que tomam decisões com autonomia — disse Aécio.

O tucano justificou sua ausência, alegando que quis ter "ter cuidado" e não misturar com questões eleitorais. Aécio será o candidato PSDB à Presidência da República.

Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que Graça Foster convenceu os senadores. Mas, questionado se isso evitava uma CPI, o senador disse apenas que este era um debate político, uma questão adicional.

— Ela (Graça) convenceu a todos de que está procedendo uma rigorosa investigação interna, colaborando com a Polícia Federal. A investigação política é adicional, extraordinária, é uma decisão política.

Otimista, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), senador Lindbergh Farias (PT-RJ), disse que o depoimento dispensa a criação de uma CPI.

— Baixa a temperatura. Foi a Batalha de Itararé — disse o petista.

Para o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), não há como comparar o convite para a presidente da Petrobras prestar esclarecimentos com as investigações de uma CPI:

— A CPI é para fazer as pessoas falarem mais. É outra instância. A exposição de hoje não descarta a continuidade das investigações.

Depois de mais de cinco horas de explicações, o senador Ruben Figueiró (PSDB-MS) afirmou que Graça não trouxe novidade nenhuma para esclarecer o caso:

— Infelizmente, aos olhos e ouvidos do povo brasileiro, sua senhoria (Graça Foster) não conseguiu.

De tudo ficou mais do mesmo: há algo de podre nos gabinetes da Petrobras. E insisto: a CPI exclusiva se impõe! Se o Governo continuar insistindo em criar cortinas de fumaça para não enfrentar de frente este assunto, todos, indistintamente, senadores, deputados, magistrados, governadores, prefeitos, seremos cobrados pelas futuras gerações por nos esquivarmos de um tema tão candente, cobrindo-nos de vergonha e de opróbrio. Não posso crer que esta Casa não veja o que está acontecendo.

Integrante de um grupo de senadores que se denomina independente, Pedro Simon (PMDB-RS) também argumentou que as explicações de Graça não descartam a criação de uma CPI:

— É um exemplo típico de que precisamos de uma CPI. Vamos chamar um representante do metrô de São Paulo, ouvi-lo, e descartar nossa investigação? Vamos ouvir um representante do Porto Suape e ficar por isso mesmo? É claro que não. O que deve ser feito é a nossa CPI — defendeu.

O líder do governo no Senado, José Pimentel (PT-CE), disse acreditar que a participação de Graça na audiência pública vai frustrar a tentativa da oposição de investigar a empresa:

— Aqueles que trabalham com a verdade já estão satisfeitos com o que a presidente Graça Foster respondeu. Ela foi bem clara e soube explicar a verdade sobre o regime de licitação da empresa. O Brasil sai satisfeito com essa audiência pública. Aqueles que tinham a intenção de lapidar a Petrobras ficaram frustrados — defendeu.

Governista versus oposição
Em um momento de embate entre governistas e oposição durante a audiência, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) fez críticas à atuação da oposição na tentativa de implantar investigações no Congresso e foi interrompido pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que destacou que um ex-diretor da Petrobras está preso.

— O papel da oposição é esse mesmo. Eu fui oposição para brigar pela Petrobras. É diferente a oposição que se fazia. E o papel é esse, questionar, buscar fazer o barulho necessário, não pelas questões centrais — dizia Inácio, quando foi interrompido por Cunha Lima:

— Homem de Deus, tem um diretor preso! — rebateu o tucano.

— Mas tem muito diretor que devia estar preso, que não foi investigado coisa nenhuma. Imagina como foi vendida a Vale do Rio Doce na Bacia das Almas, era para prender era todos, aqui tem só um. Nunca se investigou nada — devolveu Inácio Arruda.

Logo depois, foi a vez da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) falar, uma das mais ferrenhas defensoras do governo. A ex-ministra também atacou a oposição, afirmando que a Petrobras não pode ser criticada e que a busca por respostas sobre os casos de irregularidades na estatal serviriam ao embate político.

— A Petrobras não pode ser vista apenas como ativo de mercado, não pode ser julgada, vilipendiada, criticada, atacada como está sendo nesse momento por um aspecto de conjuntura. Todos aqui queremos que os fatos sejam esclarecidos e que as responsabilidades sejam apuradas. Muitos da oposição, no afã de obter respostas e fazer embate político, não se dão conta da campanha que patrocinam para ferir a imagem da nossa grande empresa — disse Gleisi.

Ex-diretor da Petrobrás é esperado nesta quarta na Câmara

Nestor Cerveró foi apontado por Dilma como autor do resumo técnico que omitiu informações sobre Pasadena

– O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-diretor da Área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró é esperado nesta quarta-feira, 16, na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara para expor sua versão sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). A expectativa da oposição é de que ele se contraponha à versão da presidente Dilma Rousseff, corroborada nessa terça, 15, por Graça Foster, da omissão de informações ao Conselho de Administração.

"A presidente da Petrobrás está acusando o Cerveró de ser o responsável pelo prejuízo. É a hora de ele responder", afirmou o vice-líder do PSDB na Casa, Vanderlei Macris (SP).

Edson Ribeiro, advogado do ex-diretor da estatal, encaminhou na tarde de segunda-feira uma confirmação de presença. Foi ele quem procurou a oposição nas últimas semanas colocando o cliente à disposição para dar esclarecimentos.

No começo do mês, Edson Ribeiro que o contrato da operação de compra de metade da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), foi enviado ao Conselho de Administração da estatal com 15 dias de antecedência à reunião na qual o negócio foi aprovado. O Palácio do Planalto rebateu as informações e documentos internos da companhia, anexados à ata da reunião, ficaram prontos às vésperas do encontro.

Planalto teme depoimento de ex-diretor da Petrobras na Câmara

Nestor Cerveró, que deve falar nesta quarta-feira no Congresso, terá de assumir erro para que versão de Graça Foster se mantenha

Danilo Fariello, Luiza Damé e Catarina Alencastro - O Globo

BRASÍLIA — Ao debitar a culpa pelo prejuízo da refinaria em Pasadena à diretoria anterior da Petrobras — estratégia usada ontem no depoimento da presidente da estatal, Graça Foster —, o Palácio do Planalto corre o risco de ser contrariado nesta quarta-feira por quem seria o “bode expiatório” da crise. O ex-diretor Nestor Cerveró, responsável pelo resumo executivo falho enviado ao Conselho de Administração da empresa — na versão do governo —, confirmou que vai depor esta manhã na Câmara dos Deputados.

O governo procurou Cerveró nos últimos dias, após ele ter informado ao Congresso e aos órgãos de controle que teria entregue todas as informações necessárias à decisão do conselho. Apesar dessa interlocução, há um temor no governo sobre o que Cerveró falará.

Para confirmar a versão de Graça , ele teria de assumir que não incluiu duas importantes cláusulas do contrato de compra no resumo executivo e na apresentação ao conselho, o que não condiz com a atuação de um executivo com mais de 30 anos de vida na estatal.

Ontem, na audiência do Senado, ficou clara a contrariedade da antiga diretoria da empresa diante das insinuações de Graça, de que a ação dos antecessores não foi correta. Incomodado, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli teria procurado parlamentares para defender sua gestão, segundo um senador.

A estratégia da presidente Dilma Rousseff de contra-atacar esta semana a onda de acusações contra a Petrobras começou domingo, quando ela telefonou para Graça. Dilma indicou a Graça que usaria o evento de inauguração do navio-cargueiro Dragão do Mar, em Pernambuco, para dizer que ninguém destruirá a Petrobras.

No evento, Dilma abraçou Graça e vestiu-se, como ela, com o uniforme da estatal. Segundo um auxiliar de Dilma, o gesto foi a forma de mostrar que ela e Graça estão juntas. Elas são amigas, e a presidente da Petrobras costuma dormir no Palácio da Alvorada quando está em Brasília.

Admissão de Graça Foster é importante, diz Campos

Clarissa Thomé - Agência Estado

O pré-candidato à Presidência da República pelo PSB, Eduardo Campos, disse nesta terça-feira, 15, considerar importante o reconhecimento público feito pela presidente da Petrobras, Graça Foster, de que a compra da refinaria de Pasadena tenha sido um mau negócio. Mas ele cobrou que sejam tomadas providências a partir desse reconhecimento. Campos evitou aprofundar os comentários alegando não ter acompanhado o depoimento prestado pela presidente da Petrobras durante audiência no Senado.

Eduardo Campos fez à noite uma palestra para estudantes da Universidade Estácio de Sá, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio). No primeiro evento público após formalizar sua pré-candidatura à Presidência, o ex-governador de Pernambuco disse que o Brasil enfrenta uma "crise de expectativa e confiança". "Temos nações, mundo afora, com a mesma expressão econômica e política que o Brasil (e) que têm fundamentos econômicos mais débeis. O problema do Brasil é crise de expectativa e confiança. As pessoas, os agentes sociais e econômicos, têm necessidade de saber qual é a estratégia, qual é o rumo. A gente hoje não percebe que haja estratégias de longo prazo, como grandes blocos e nações estão apresentando", afirmou Campos durante a primeira edição do evento "Presidenciáveis: Ciclo de Debates sobre o Futuro do Brasil", promovido pela universidade.

Na palestra, Campos explorou temas levantados durante as manifestações de rua promovidas no ano passado, como mobilidade urbana e saúde e segurança públicas. Ele disse que, para haver mudanças nessas áreas, é preciso um novo pacto político. "Não dá para fazer um novo ciclo com a velha política. É preciso mudar as pessoas que já deram o que tinham que dar ou que nunca deram efetivamente nada, só tiraram da política. É preciso colocar o fisiologismo, o patrimonialismo na oposição". Para ele, a qualidade de vida deve ser a "grande bandeira, símbolo de mudança".

Perguntado sobre o impacto da Copa do Mundo sobre os brasileiros, Campos disse que as mudanças esperadas em função da Copa provavelmente não vão se concretizar. "A sociedade não quer dizer que não gosta de futebol, não vá torcer pela seleção. O recado que está colocado com clareza é que o futebol não é o assunto número um para a população. É preciso melhorar os serviços de saúde, educação, transporte coletivo e segurança", disse o candidato, fazendo eco às manifestações de rua.

Ao fim do evento, Campos tirou fotos com alunos e recebeu presentes.

No Rio, Campos critica governo e diz que é preciso retirar ‘velhas raposas’ do poder

Para pré-candidato à Presidência, Petrobras é importante para o país, mas não pode haver partidarização na estatal

Raphael Oliveira – O Globo

RIO - Um dia após o anúncio da chapa com Marina Silva para a disputa da presidência da República, Eduardo Campos (PSB) discursou na noite de terça-feira em uma universidade no Rio e falou, já em tom de campanha, sobre a crise na Petrobras, erros nos investimento para Copa do Mundo e da necessidade de retirar “velhas raposas” do poder e extinguir o fisiologismo no país. Campos chegou a cometer a falha de se denominar como candidato, mas logo se corrigiu já que o período de campanha, oficialmente, só acontece no segundo semestre. O pré-candidato criticou, sem citar nomes, os atuais políticos que dirigem o país.

- Aquele arranjo já deu o que tinha que dar. São pessoas que já deram o que tinham que dar ou que nunca deram nada – afirmou Campos que repetiu diversas vezes que é necessário acabar o fisiologismo no país – Quem complica está querendo alguma coisa. Quem simplifica quer entregar algo de qualidade. É necessário um candidato que diga ‘Nós não vamos compactuar com o fisiologismo. Vamos colocá-los na oposição porque eles só sobrevivem no governo. E é necessário extingui-los. Se foi possível derrotar a ditadura porque não é possível acabar com patrimonialismo?
O ex-governador de Pernambuco afirmou que não se pode distribuir ministérios “como cachos de banana”.

- Temos que devolver os ministérios e as estatais ao interesse público.

Sobre a crise na Petrobras, o pré-candidato afirmou, ao final do evento, que não assistiu ao depoimento da presidente da estatal Graça Foster e, antes, durante o discurso, pediu cautela no julgamento da empresa.

- A Petrobras é uma empresa muito importante para o futuro do Brasil e não pode ser confundida com o que está acontecendo em algumas áreas dela agora. A primeira questão necessária é uma governança na Petrobras sem partidarização.

De maneira indireta, Campos criticou a falta de transparência no governo.

- O problema mais sério é você querer esconder o problema. Esconder não resolve. Só aumenta. Temos que colocar luz no problema para resolvê-lo.

A palestra que aconteceu na universidade Estácio de Sá faz parte de uma série de eventos denominada “Presidenciáveis – ciclo de debates sobre o futuro do Brasil” iniciada com Campos que também criticou a condução dos investimentos na Copa do Mundo.

- A atenção que foi dada à Copa do Mundo não é a mesma que foi dada aos serviços públicos, àqueles que não vão entrar em campo.

Sobre a eleição do Rio e o seu palanque no estado, o presidenciável afirmou que o partido já determinou apoio para o deputado Miro Teixeira e que um outro possível nome, Alfredo Sirkis, participou do debate que definiu o apoio de forma “tranquila”, segundo Campos.

Eduardo Campos começa por Campinas périplo para se 'apresentar' a eleitores

Pré-candidato do PSB vai percorrer cidades com mais de 200 mil eleitores para se tornar mais conhecido

Erich Decat - Agência Estado

Numa corrida contra o tempo para tentar se tornar mais conhecido entre os eleitores, o pré-candidato a presidente Eduardo Campos (PSB) começará nesta quarta-feira, 16, em Campinas (SP), um périplo por cidades-polo com mais de 200 mil eleitores até o início da campanha oficial, em julho. A estratégia do partido é levar o discurso de "mudança na política" apresentado nesta segunda-feira, 14, com a confirmação da ex-ministra Marina Silva como vice da chapa da sigla, através de entrevistas nos veículos de comunicação locais, como jornais e rádios, além de debates sobre temas regionais e nacionais.

Em Campinas, Campos vai participar de um encontro com dirigentes do PSB da região. No dia 22, a previsão é que ele percorra algumas localidades da Região Sul, com uma primeira parada em Florianópolis e Chapecó (SC). Também é pré-agendado um giro por algumas cidades do Paraná.

Depois de quatro dias, Campos deverá cruzar o Brasil para ir a Manaus, onde realiza o "encontro de táticas" com integrantes da Rede. Um último encontro está previsto para ocorrer em Brasília, possivelmente em 17 de maio. "Nossa meta é tentar até junho percorrer as 150 maiores cidades em todos os Estados, ora só com Eduardo, ora só com Marina, ou com os dois. O objetivo é ter uma abordagem com a comunidade regional porque uma agenda só de capital não leva a mensagem para o interior, para as cidades-polo", afirmou o líder do partido na Câmara, Beto Albuquerque (RS), um dos coordenadores de campanha do partido.

Segundo maior colégio eleitoral brasileiro, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais também deve ser visitado pelo pré-candidato do PSB no início de maio. A previsão é que Campos compareça no dia 3 na Expozebu, uma das maiores feiras da região e parada obrigatória de concorrentes ao Planalto, que será realizada em Uberaba, no Triângulo Mineiro. No mesmo dia, o pré-candidato do PSB deve participar de uma reunião com integrantes da legenda em Uberlândia, na mesma região, e no dia 5 em Belo Horizonte.

"Agora, é concluir os dois encontros regionais que estão faltando na Região Norte e no Centro-Oeste. Depois disso, a gente vai colocar o Eduardo na estrada. Já estamos trabalhando algumas agendas em Minas, principalmente no interior do Estado", afirmou o deputado Júlio Delgado (MG), presidente estadual da sigla em Minas.

Aécio lança ‘Aezão’ contra Dilma no Rio

Luciana Nunes Leal - Agência Estado

Reunidos pelo presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, líderes de alguns partidos da base do governador Luiz Fernando Pezão, candidato à reeleição, formalizaram nesta segunda-feira apoio ao tucano Aécio Neves na disputa pela Presidência da República e lançaram a chapa "Aezão": Aécio-Pezão.

Em jantar de quase três horas com Aécio, 45 parlamentares, prefeitos e dirigentes partidários prometeram trabalhar pela vitória do tucano no terceiro maior colégio eleitoral do País. "Quero repetir o que ouvi hoje, que vamos ganhar com o Aezão", disse o Aécio na saída do jantar, em um restaurante da zona sul.

Os peemedebistas deixaram o encontro com expectativa de que o PSDB feche uma aliança pela reeleição de Pezão, apesar de os tucanos terem feito oposição ao ex-governador Cabral durante sete anos. "Estamos discutindo essa questão, vamos encontrar a melhor forma de estarmos juntos", afirmou Aécio. "Este é o maior ato político da campanha no Rio de Janeiro. Este é um fato político que demonstra que está acontecendo algo no Brasil que merece reflexão. Setores que em algum momento estiveram na base do governo do PT percebem que quem está sendo punido por esse desgoverno, pelo crescimento pífio, pelo retorno da inflação são os que mais acreditaram no governo do PT", declarou o tucano.

Picciani disse que Aécio "é o candidato que tem mais condição de fazer o Brasil avançar com justiça social e distribuição de renda, pelo seu histórico, por sua história, sua trajetória, seu berço e quase trinta anos de mandato". Ex-aliado do PT, o presidente do PMDB-RJ criticou a presidente Dilma Rousseff e citou a incerteza sobre a candidatura à reeleição ou a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O partido dela não sabe se troca ou não o candidato, porque escolheram mal e fizeram mal ao Brasil. Aécio fará bem ao Brasil e ao Rio de Janeiro", disse Picciani.

O dirigente peemedebista passou a trabalhar pela candidatura de Aécio desde que, no fim do ano passado, o PT-RJ lançou a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Estado. Picciani tem arregimentado correligionários para a campanha do tucano apesar de Pezão e Cabral continuarem aliados de Dilma e terem manifestado apoio à reeleição da presidente. É provável que o PMDB-RJ aprove em convenção apoio a mais de um candidato a presidente: Aécio, Dilma e o pastor Everaldo, candidato lançado pelo PSC, também da base de Pezão.

Entre os presentes no jantar, estava o líder do governo Pezão na Assembleia Legislativa, André Correa, do PSD. "Não estou aqui como líder do governo, mas como secretário-geral do PSD. O melhor para o Brasil e para o Rio é a chapa Aezão. Queremos muito o PSDB e o PPS formalmente na aliança do Pezão, vamos discutir até junho. Se a presidente Dilma pode ter quatro palanques no Rio de Janeiro, por que o Pezão não pode ter três palanques, do Aécio, da Dilma e do pastor Everaldo?", afirmou o líder. Além de Pezão e Lindbergh, outros dois candidatos ao governo do Estado são aliados da presidente: Anthony Garotinho (PR) e Marcelo Crivella (PRB).Também estiveram no jantar dirigentes do Solidariedade e do PSL.

Pezão é vaiado por estudantes, que poupam Dilma

Luciana Nunes Leal - Agência Estado

Vaiado por parte dos mil alunos que recebiam diplomas de cursos técnicos, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), fez um discurso de agradecimento à presidente Dilma Rousseff pelas parcerias do governo federal com o Estado e acabou aplaudido pela plateia que esteve no Clube Esportivo Mauá, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio.

Ao lado da presidente, Pezão afirmou: "Se não fosse a senhora, o governo da senhora, não colheríamos os frutos que estamos colhendo". "Agradecemos muito à senhora por sempre nos tratar com esse carinho, essa dedicação", disse Pezão nesta terça-feira, 15. O governador fez um discurso rápido para os alunos, que, em grande parte, já tinham vaiado o prefeito de São Gonçalo, Neilton Mulim (PR), aliado do ex-governador e pré-candidato ao Palácio Guanabara Anthony Garotinho.

Dilma foi poupada pelos estudantes. Um ou outro ensaiou hostilizar a presidente, mas não foi adiante. Ela exaltou Pezão como "um grande parceiro". Foi a primeira viagem da presidente ao Rio depois que Pezão assumiu o governo do Estado, em 4 de abril, no lugar de Sérgio Cabral. No mesmo Clube Mauá, em setembro do ano passado, Dilma presenciou uma grande vaia a Cabral, durante anúncio investimentos em mobilidade urbana. O então governador reclamou com Mulim, pedindo que o prefeito cobrasse "educação" da claque. Ontem, nem o prefeito escapou a hostilidade.

Temer vai ao Rio após dissidência do PMDB apoiar Aécio no Estado

Vice-presidente atuará junto com Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão para evitar aumento de ala opositora a Dilma no Estado

Clarissa Thomé e Luciana Nunes Leal - Agência Estado

No dia seguinte ao jantar em que políticos e dirigentes do PMDB fluminense anunciaram apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves (PSDB), o vice-presidente Michel Temer deixou claro que pretende trabalhar com o ex-governador Sérgio Cabral e o governador Luiz Fernando Pezão, para evitar a ampliação da dissidência no Estado do Rio. Tanto Cabral quanto Pezão tem se colocado a favor de Dilma. 

"Vou trabalhar no PMDB do Rio, afinado com o governador Pezão e com o ex-governador Sérgio Cabral, para construir um palanque sólido para a presidenta Dilma Rousseff no Estado", afirmou Temer, por meio de sua assessoria de Imprensa.

O jantar reuniu 45 pessoas, entre parlamentares, prefeitos e dirigentes partidários. No encontro, foi lançada a chapa "Aezão": Aécio-Pezão. A ala pró-Aécio do PMDB tem sido organizada pelo presidente da legenda no estado, o ex-deputado estadual Jorge Picciani, em represália à candidatura ao governo do Rio do senador petista Lidbergh Farias. Aécio deixou o encontro otimista. "Quero repetir o que ouvi hoje, que vamos ganhar com o Aezão", disse o pré-candidato tucano.

O ex-governador Sérgio Cabral foi procurado pelo Estado, mas sua assessoria de imprensa informou que ele está descansando, depois de deixar o cargo, e não comentaria o assunto.

Merval Pereira: CPI necessária

- O Globo

O depoimento da presidente da Petrobras, Graça Foster, serviu para reforçar a necessidade da CPI pedida pela oposição, em vez de desanuviar o ambiente político, como pretendia o Palácio do Planalto. Ela confirmou que um mau negócio foi autorizado pelo conselho da empresa sem que seus membros tivessem os dados completos para analisar.

Ao admitir que o prejuízo da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, foi de US$ 500 milhões, Graça só complementou com números o sincericídio da presidente Dilma, que havia admitido semanas antes que desconhecia duas cláusulas contratuais que considerou danosas aos interesses da Petrobras: a que obrigava uma das partes a comprar os demais 50% da companhia em caso de litígio, e a que garantia à vendedora um rendimento fixo ao ano próximo a 7%, independentemente dos resultados.

Não foi à toa que as ações da Petrobras começaram a cair na Bolsa de SP durante o depoimento no Senado. É preciso saber por que um mau negócio foi feito com documentos falhos, e a quem interessou no momento levar o conselho da Petrobras a tomar decisão errada.

É preciso esclarecer também por que diretores nomeados por pressões políticas foram responsáveis por decisões tão delicadas. O governo Dilma tenta se livrar de culpa, mas leva à suspeição de que pelo menos em gestões anteriores, no governo Lula, a política dominou as ações dentro da Petrobras.

Graça garantiu que em sua gestão não há diretores nomeados por critérios políticos, que todos são técnicos reconhecidos na empresa e no mercado profissional. Que assim seja. Mas é preciso que a CPI investigue desde quando, e até quando, as decisões políticas prevaleceram na empresa, e suas consequências.

O ex-diretor Paulo Roberto Costa, por exemplo, está preso e será indiciado por diversos crimes: lavagem de dinheiro, evasão de divisas, fraudes em licitações, corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha. É preciso investigar com independência para saber desde quando ele atuava nesses ramos, e que outros prejuízos causou à Petrobras.

Sabe-se que o indigitado diretor estava anteriormente em situação peculiar na empresa, encostado em cargo desimportante justamente porque era reconhecido no meio em que trabalhava como não confiável.

Por que o presidente José Gabrielli, ao assumir, saído de uma escolha petista, retirou-o do limbo para colocá-lo na importante Diretoria de Operações?

Outro caso intrigante, para dizer o mínimo, é o de outro diretor, Nestor Cerveró, demitido nada menos que oito anos depois dos fatos ocorridos. Ele foi o autor do relatório “tecnicamente falho” que levou o conselho da Petrobras, presidido pela então ministra Dilma Rousseff, e composto por empresários do porte de Jorge Gerdau e Fabio Barbosa, a tomar a decisão errada.

Quando se descobriu, dois anos depois, que a cláusula de obrigatoriedade de compra da outra metade da refinaria seria prejudicial à Petrobras, Cerveró foi punido, segundo explicou ontem Graça: foi transferido para a Diretoria Financeira da Petrobras Distribuidora.

Que poderes tinha Cerveró, ou seu padrinho, para protegê-lo dessa maneira, contra todas as evidências? Como se vê, a necessidade de uma CPI independente só fez aumentar depois que a presidente da Petrobras esteve no Senado tentando acalmar os ânimos.

A renúncia da renúncia
Não é a primeira vez em que alguém do PT renuncia a uma renúncia anunciada. Depois de ter renunciado “irrevogavelmente” à liderança do partido no Senado, pelo apoio do Planalto ao então presidente do Senado, José Sarney, que respondia a um processo, o hoje ministro Aloizio Mercadante deu o dito por não dito após uma conversa com o presidente Lula.

Ontem foi a vez do ainda deputado federal André Vargas, mas sua renúncia atende a seus interesses próprios, e não aos do PT. Acontece que a Constituição determina que a renúncia de um parlamentar não encerra o processo de cassação de mandato a que ele responde.

Essa emenda, de 1994, foi aprovada para impedir que o sujeito escapasse da cassação e pudesse se candidatar de novo na eleição seguinte. Com a Lei da Ficha Limpa, de 2010, essa decisão tornou-se inócua, pois o parlamentar nessa condição fica inelegível por oito anos.

Como sua renúncia não traria benefício, Vargas resolveu tentar a sorte e permanecer no posto, lutando por sua absolvição, mesmo que pareça impossível.

Pior para o PT, que sangrará junto com o ex-vice-presidente da Câmara por mais tempo.

Luiz Carlos Azedo: O melhor negócio do mundo

Com prejuízo de US$ 530 milhões, a Petrobras desistiu de vender Pasadena: "Temos uma refinaria que opera com segurança e que, em janeiro, fevereiro e março, deu resultado positivo", explica a presidente da Petrobras

- Correio Braziliense

John Davison Rockefeller Nixon nasceu em 8 de julho de 1839, nos EUA, em uma família modesta e muito religiosa. Com 16 anos, começou a trabalhar como contabilista num grande armazém de retalho. Três anos mais tarde, pediu demissão e iniciou seu próprio negócio: passou a ser o principal concorrente de seu ex-patrão. Na Guerra Civil americana, vendeu roupa para o Exército da União; também negociava farinha, sal, sementes e carne de porco. Após a guerra, comprou uma refinaria de petróleo e começou a fabricar querosene para os lampiões das residências americanas. Em 1865, fundou a Standard Oil Company.

Chegou a controlar 90% das refinarias instaladas nos Estados Unidos, até a Suprema Corte americana acabar com o seu monopólio e ordenar a criação de mais de 30 companhias petrolíferas, origem das gigantes Exxon, Chevron, Atlantic, Mobil e Amoco. Jonh Rockefeller já era o homem mais rico do mundo, com uma fortuna pessoal de U$ 318 bilhões, e passou a se dedicar a projetos filantrópicos, com destaque para a construção da Universidade de Chicago, além de museus, bibliotecas e do instituto de pesquisas médicas que leva o nome dele. É de Rockefeller a frase de que “o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor é uma empresa de petróleo mal-administrada”.

Pasadena
A frase de Rockefeller serve como uma luva para ilustrar o longo depoimento de ontem da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Com todas as letras, ela disse que o Conselho de Administração da estatal aprovou a compra de Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, sem saber de cláusulas importantes do contrato — a Put Option e a Marlin, que não constavam do resumo executivo apresentado pela diretoria Internacional da estatal na reunião que aprovou a compra de 50% da refinaria em 3 de fevereiro de 2006. “Hoje, olhando aqueles dados, não foi um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. Mesmo que margens voltem a valores mais altos, a Petrobras hoje tem outras prioridades”, disse Graça.

“Pagamos pela refinaria US$ 885 milhões, e a Astra pagou US$ 360 milhões. Fora isso, houve juros, honorários que pagamos por conta desse processo (arbitral e judicial), que caminhou até 2012”, disse Graça. O valor total investido foi US$ 1,25 bilhão. Hoje, a Petrobras avalia Pasadena como um “empreendimento de baixo retorno sobre o capital investido”. Com prejuízo de US$ 530 milhões, a Petrobras desistiu de vender a planta americana: “Temos uma refinaria que opera com segurança e que, em janeiro, fevereiro e março, deu resultado positivo”, explica a presidente da Petrobras.

Fogo cruzado
Ontem, Graça Foster ficou no meio do fogo cruzado entre senadores da oposição e governistas. Os primeiros cobravam mais explicações sobre Pasadena e outros negócios da Petrobras; os segundos, exumavam velhos discursos nacionalistas. A presidente da Petrobras defendeu a presidente Dilma Rousseff. Reiterou que a então presidente do conselho de administração da empresa não fora informada pela diretoria executiva sobre duas cláusulas que contribuíram para o aumento do valor pago pela estatal na aquisição de Pasadena. Pisava em ovos para não jogar o problema no colo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E poupou de críticas diretas o seu antecessor, Luís Sergio Gabrielli. Pura esquizofrenia. Os investimentos feitos em Pasadena não serão recuperados. Mesmo que a refinaria seja “desinvestida”, eufemismo adotado pela Petrobras para a venda de ativos comprados por Gabrielli que não são considerados bons negócios.

O ex-presidente da empresa tinha como homens de confiança os ex-diretores Nestor Cerveró, que ocultou as informações sobre as cláusulas prejudiciais à Petrobras, e Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal (PF) há duas semanas, na Operação Lava Jato, que revelou conexões do doleiro Alberto Youssef e a Petrobras. O governo tenta evitar a instalação de uma CPI exclusiva, a pretexto de investigar também o cartel do Metrô de São Paulo e as obras do Porto de Suape, em Pernambuco. Ontem, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), José Agripino (DEM-RN) e Aloysio Nunes (PSDB-SP) fizeram um apelo à ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que decida favoravelmente ao pedido de CPI exclusiva. A ministra só tomará a decisão depois do feriado prolongado da semana santa. Enquanto isso, o deputado André Vargas (PT-PR), envolvido no caso, resiste a pressões para renunciar ao mandato por medo de ter a própria prisão decretada. Cobra solidariedade do PT para evitar a cassação do mandato e aumenta a tensão nos bastidores do caso.

Fernando Rodrigues: A imagem trincada

- Folha de S. Paulo

A presidente da Petrobras, Graça Foster, fez um depoimento sóbrio ontem no Senado. Falou sobre as péssimas transações realizadas pela estatal. Reconheceu que a compra de uma refinaria nos EUA "não foi um bom negócio".

Numa resposta, Graça Foster rebateu um senador de oposição que chamara a Petrobras de "quitanda", uma empresa na qual todos passariam para dar uma beliscada num produto ou outro. A impressão geral foi a de que ali estava uma servidora dedicada ao bom funcionamento da máquina pública. Até aí, tudo bem. Mas não era esse o ponto.

Observado do ângulo eleitoral, o depoimento foi um desastre. As cenas estão gravadas. Voltarão à TV na campanha. Não houve desculpa a respeito da depreciação do valor da Petrobras. Milhares de brasileiros perderam dinheiro ao comprar ações da empresa com o saldo do FGTS.

O aspecto principal desse episódio da Petrobras é o dano causado na imagem de boa gestora da presidente Dilma Rousseff. A petista se enredou sozinha em um labirinto sem saída. Disse que sua decisão sobre o mau negócio com a refinaria nos EUA foi tomada sem ter acesso a todas as informações. Mas por que, então, o diretor responsável pela omissão só foi demitido agora se o erro tão grave foi causado em 2006?

Graça Foster não teve uma resposta satisfatória a essa indagação. Seria algo indizível. Muitos estiveram ou estão na Petrobras por conveniências políticas. Tome-se o caso do ex-presidente da empresa José Eduardo Dutra. Ex-presidente também do PT, ele é hoje diretor corporativo e de serviços. Político afável, é comum vê-lo postando no Twitter comentários políticos ou sobre futebol durante o horário de trabalho.

Dilma se elegeu em 2010 com dez partidos ao seu lado. Essa gente gosta de dinheiro e de cargos. Lula distribuiu cargos a granel. Dilma sabia de tudo. Inclusive do aparelhamento que persiste dentro da Petrobras.

O dever que Dilma ignorou: O Estado de S. Paulo - Editorial

Se é verdade que a presidente Dilma Rousseff procurou antecipar-se a uma eventual acusação de gestão temerária ao declarar no mês passado que apoiara a compra da Refinaria de Pasadena quando dirigia o Conselho de Administração da Petrobrás, em 2006, com base apenas em um resumo executivo que se revelaria "técnica e juridicamente falho" - e que se conhecesse as cláusulas do contrato que o texto omitia "seguramente" objetaria à transação -, o estratagema parece não ter funcionado.

Um relatório da Procuradoria de Contas, a representação do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), recomendou ao órgão que os responsáveis pela aquisição da refinaria respondam por eventuais prejuízos que o negócio tenha causado à empresa. Ao longo de seis anos, ela desembolsou cerca de US$ 1,2 bilhão pela instalação cujo valor atual de mercado não alcança US$ 200 mil.

O parecer ao qual o Estado teve acesso e do qual publicou os trechos mais importantes na edição de domingo é incisivo.

Pede ao tribunal que a cúpula da Petrobrás - "incluindo os membros do Conselho de Administração" - responda por "danos aos cofres públicos, ato antieconômico e gestão temerária" caso se confirmem os indícios de irregularidades que o documento aponta.

Desde logo, a Procuradoria sustenta que as falhas dos gestores da estatal, no caso, foram "acima do razoável". Elas incluem o veto de Dilma, em 2008, à compra da metade da refinaria que ainda era de propriedade da companhia belga Astra Oil, à qual a Petrobrás se associara.

Essa aquisição estava prevista no contrato cuja íntegra nem Dilma nem, aparentemente, os outros membros do Conselho leram antes de aprovar a parceria com a Astra, dois anos antes. O acordo, na cláusula chamada "Put Option", estipulava que, em caso de desentendimento entre os sócios, um teria de vender a sua parte ao outro. A recusa de Dilma a acatar o "direito líquido e certo" da associada, argumenta o Ministério Público, arrastou a Petrobrás a um litígio que começou com uma arbitragem e terminou em 2009 com a Justiça americana dando ganho de causa aos belgas.

Com isso, a estatal não só teve que fazer o que Dilma não queria, mas foi também obrigada a arcar com multas, juros, honorários e despesas processuais que encareceram a compra da segunda metade da refinaria em US$ 173 milhões. "Caso se constate que não havia razões suficientes para o descumprimento da decisão arbitral", recomenda a Procuradoria, "deve-se apurar a responsabilidade dos gestores e membros do Conselho de Administração". Eles teriam errado, portanto, duas vezes. A primeira, ao aceitar um contrato em que "tudo era possível" para a Astra. A segunda, ao tentar reverter o irreversível.

Como não se sabe como exatamente transcorreu a fatídica reunião do Conselho de 2006 - a Procuradoria, por sinal, pede que a respectiva ata seja verificada, assim como as das decisões subsequentes -, não se pode afirmar se a presidente do colegiado foi quem teve a iniciativa de aprovar o negócio ou se apenas se limitou a acompanhar os votos favoráveis dos demais conselheiros. Seja como for, dada a função que exercia - e a sua condição correlata de ministra da Casa Civil da Presidência da República -, a sua responsabilidade era maior.

Nessa ordem de ideias, é de perguntar por que Dilma não adiou a decisão do Conselho até o recebimento das informações adicionais necessárias à avaliação circunstanciada da operação. Isso partindo da premissa de que tudo o que conhecia objetivamente do contrato era o que constava do resumo executivo de um par de páginas que ela viria a considerar "técnica e juridicamente falho".

A ressalva se impõe porque a primeira reação do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli à alegação de Dilma foi dizer que a documentação completa esteve à disposição dos conselheiros.

Tivesse zelado pelos interesses da maior empresa brasileira, no mínimo faria jus à fama de gestora minuciosa que a acompanhava desde o Ministério de Minas e Energia. Mais do que isso, teria agido de acordo com a legislação que impõe ao administrador público o dever estrito do cuidado e da diligência.

Publicado em 15 de abril de 2014

Miriam Leitão: Em defesa da Petrobras

- O Globo

A Petrobras não é do tamanho do Brasil. Exagero da presidente Dilma. Mas é grande, a maior empresa do país, é importante por sua história, seu esforço de desenvolver tecnologia para encontrar o petróleo no mar em águas cada vez mais profundas. Quem a ataca é a corrupção. Os casos que estão surgindo são escabrosos. Informar o que acontece é a melhor forma de defendê-la.

O truque é velho. Diante das evidências de que houve casos de corrupção na empresa, a presidente-candidata diz que a empresa está sendo atacada por quem revela os fatos. Abraça a bandeira da estatal, que nasceu há 60 anos de um movimento popular, e diz que ela está sendo atacada pelas notícias de que ela teve casos de corrupção. Quer inverter os fatos. Mas o Brasil é mais inteligente do que esse truque de marketing imagina.

A Petrobras tem um lado luminoso que o Brasil conhece e admira. O país aprendeu a conhecer a persistência com que ela foi buscar o petróleo que era difícil em terra. Conhece a sua excelência tecnológica conquistada com muito investimento em pesquisa e desenvolvimento e que a levou à dianteira da exploração em águas profundas.

A conjuntura, no entanto, é de uma empresa que perdeu drasticamente valor de mercado por causa de uma política de preços que a atinge diretamente. Seu principal produto é vendido abaixo do preço que a companhia compra no exterior, todos sabem que a petrolífera não tem autonomia na formação de preços, e isso tem outros efeitos como o de desestabilizar o setor sucro-alcooleiro.

O problema pode ser resolvido com a mudança da política de preços. E se ela for mudada, como quer a atual presidente Graça Foster, a empresa poderá recuperar o valor de mercado que perdeu.

O mais importante, no entanto, é o que aconteceu na compra de Pasadena, nos escabrosos registros apreendidos com o ex-diretor de abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa, hoje na prisão, as relações perigosas entre pessoas da empresa, e do partido, e um doleiro para lá de suspeito. Tudo isso é que ameaça a empresa e não a revelação desses erros e crimes. Não é a notícia, ou a investigação da Polícia Federal, ou eventualmente de alguma outra instituição; o que ameaça a empresa são os fatos em si.

A auditoria interna da empresa e os programas de prevenção de corrupção devem continuar, mas não foram suficientes. É autoritário achar que a investigação externa não deve haver porque existe um sistema interno de auditoria. São esses órgãos, como a Polícia Federal, que encontraram por exemplo os fios que levaram às descobertas das atividades de Paulo Roberto Costa.

- Não ouvirei calada a campanha negativa dos que, por proveito político, não hesitam em ferir a imagem da empresa. A Petrobras é maior do que todos nós. A Petrobras tem o tamanho do Brasil – disse a presidente criando um igualdade entre continente e conteúdo. Uma parte não pode ser do tamanho do todo, ainda que seja uma grande parte.

Os desencontros de versões sobre a compra da Refinaria de Pasadena continuam exigindo que todos se expliquem melhor. Foi um bom negócio como diz o ex-presidente José Sergio Gabrieli ou só foi feito porque a presidente do conselho de administração à época, Dilma Rousseff, não teve todos os dados, ou teve todas as informações como assegura o ex-diretor Nestor Cerveró?

Quem está enfrentando críticas é a administração da empresa, e isso não inclui todos os dirigentes. O que se busca entender são determinados negócios da estatal e nem todos os negócios. Será bom se a presidente Graça Foster for no seu depoimento ao Senado com as respostas certeiras que sempre teve e seu estilo sincero. Como Foster não é candidata, não precisa da estratégia de marketing de acusar as dúvidas, as perguntas, e as investigações de ataques à Petrobras em si. São, na verdade, a melhor forma de defendê-la de quem não entendeu sua grandeza, nem respeita seus acionistas e os contribuintes brasileiros.

O discurso eleitoreiro de Dilma de que o PT resgatou a empresa que estava ameaçada não cola mais. A empresa não foi inventada pelo partido. Ela nos seus 60 anos atravessou vários governos. Cresceu em vários governos. Superou crises. E sempre a melhor forma de superar foi submeter-se aos canais democráticos de dúvida e resposta.

Publicado em 15 de abril de 2014

Elio Gaspari: O PT paga pela sua ‘compreensão’

O isolamento de André Vargas deveria ter vindo quando ele atacou Olívio Dutra, a banda limpa do PT

- O Globo

André Vargas deveria ter sido isolado pelo PT no ano passado, quando atacou o ex-governador gaúcho Olívio Dutra, que defendera a renúncia do deputado José Genoino depois de sua condenação no processo do mensalão. Na ocasião, disse o seguinte:

“Quando ele passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo. Para quem teve a compreensão do conjunto do partido em um momento difícil, ele está sendo pouco compreensivo. Ele já passou por muitos problemas, né?”

Olívio Dutra nunca fora condenado em qualquer instância judicial. Genoino acabava de receber do Supremo Tribunal Federal uma sentença de seis anos e onze meses de prisão. Olívio passou pelo governo e continuou morando no pequeno apartamento que comprou como funcionário do Banrisul.

Em apenas dez anos, entre sua eleição para vereador em Londrina e sua última eleição para a Câmara, André Vargas decuplicou seu patrimônio. Teve um doleiro amigo, redirecionou R$ 836 mil de doações legais para companheiros e chegou à primeira vice-presidência da Câmara dos Deputados. Certamente foi um militante compreensivo. Felizmente, faltou-lhe a compreensão do comissariado. Prestou um serviço ao partido decidindo renunciar ao mandato de deputado.

A reeleição da doutora Dilma, bem como a sua possível substituição por Lula, está ameaçada pelo exercício do que André Vargas chamou de “compreensão”. Esse sentimento, amplo, geral e irrestrito, prevaleceu no PT em 2005 quando ele optou pela blindagem dos mensaleiros. Os partidos têm horror a cortar a própria carne. O PSDB manteve Eduardo Azeredo na sua presidência depois da exposição do mensalão mineiro. Fingiu-se de surdo por quase dez anos diante das sucessivas provas de que funcionara em São Paulo um cartel de fornecedores de equipamentos pesados, liderado pela Alstom.

O comissariado marcha para uma campanha eleitoral onde enfrentará um desejo de mudança. Sua dificuldade estará em mostrar que se pode mudar com mais do mesmo. Se algo mudará com outros candidatos é um problema que caberá a cada eleitor julgar, mas, pela lógica, do mesmo, mudança não sai. Isso fica claro quando a doutora Dilma diz que há uma “campanha negativa” contra a Petrobras. Falso, o que há, desde 2003, é um aparelhamento partidário, com bonificações pessoais, dentro da empresa. Aqui e ali foram tomadas medidas moralizadoras, sempre em silêncio, até que o doutor Paulo Roberto Costa, tentando esconder sua contabilidade, foi parar na cadeia.

Todos os governantes que fizeram campanhas políticas com a bandeira da moralidade, inclusive Lula, enganaram seus eleitores. A ferocidade com que o tucanato se opõe à manobra diversionista do PT para expandir o foco da CPI das petrorroubalheiras, é um indicador dessa “compreensão” generalizada. Os tucanos de boa memória haverão de se lembrar do que foi a administração do doutor Joel Rennó na Petrobras (1992-1999). Em benefício de Fernando Henrique Cardoso, registre-se que ele herdou-o de Itamar Franco e manteve-o no cargo atendendo ao falecido PFL.

O rápido isolamento de André Vargas é boa notícia. Ainda assim, é pouco detergente para muito pano. O que a campanha precisa é da luz do sol, inclusive em cima das propostas dos candidatos.

Rosângela Bittar: Lula e Dilma, o estado da arte

Lula não quer, mas sua candidatura a presidente vive

- Valor Econômico

Duas interpretações dominaram a exegese eleitoral da entrevista que o ex-presidente Lula deu a blogueiros aliados do PT e ao que se seguiu a ela até ontem, nos escalões do partido. A primeira, dos arautos do apelo "Volta, Lula", que viram no discurso do ex-presidente praticamente um lançamento oficial de sua candidatura, com direito a ataques aos culpados de sempre - a oposição, a imprensa e, desta vez, a própria presidente, que precisa atuar mais, ser mais agressiva, partir para cima, acabar com a CPI da Petrobras e dizer ao país o que pretende fazer da economia no segundo mandato, quiçá neste ano, quiçá já...

A segunda, dos que defendem o direito de Dilma se candidatar ao segundo mandato e creem estar a presidente neste caminho, não havendo hipótese de substituição da chapa. A entrevista teria sido, portanto, para Lula dizer que ainda tem a força e reelegerá Dilma. Os que advogam essa tese acham, inclusive, que Lula deixou passar demais o tempo e terá dificuldades de lançar-se pois o mau governo que vem fazendo Dilma Rousseff vai não só derrubá-la, como também a ele. Nesse particular, há especialistas que contrariam a tese, concordam com o acerto do atraso, pois quanto mais demorar mais livre ficará o ex-presidente de ser o alvo dos concorrentes. Tem avaliação para todo gosto.

A virtude, por acaso e só por acaso, está no meio. Lula recusou a candidatura até dezembro do ano passado, de lá para cá ficou suscetível a esse destino, mas oficialmente sua decisão oficial ainda é dizer que não é candidato e não gostaria de ser. Porém, há uma situação em que admite ser candidato.

Informam seus amigos e interlocutores frequentes que não será se Dilma cair mais três pontos nas pesquisas de intenção de voto, ou se o governo ficar pior do que já está na avaliação do próprio ex-presidente e do eleitorado. Lula será candidato no caso de impedimento de Dilma, por uma razão de saúde, por exemplo, a partir da desistência dela, e nunca antes disso. Se ela desistir, não há um terceiro nome, é Lula.

O tom da entrevista, em que a novidade foi ter associado pela primeira vez o projeto antes eufemisticamente chamado de "regulação da mídia" a medidas de controle de conteúdo, ou seja, censura, teria tido o objetivo de dizer-se vivo, atuante, no comando da campanha e em posição de influir em mudanças no governo, para provar que ainda decide.

Mas, para isso, ela precisa ajudar, e não o fez. Dilma não respondeu efetivamente a nenhuma das propostas ou conselhos de Lula.

O seu principal conselho chegou acompanhado de grave constatação pelo peso do analista: a economia não está dando certo e ela precisa dizer ao país o que vai fazer para dar respostas aos problemas como o da inflação. A equipe, também, deveria ser trocada para o governo ganhar credibilidade.

Dilma não só não fez nada disso como emitiu sinais, captados por circunstantes de sua campanha, de que fará exatamente o contrário. O que significa fazer o contrário? Prestigiar o secretário Arno Augustin, alçá-lo a um primeiro posto e realizar um segundo governo, sem preocupações reeleitorais, livre de amarras políticas ou ideológicas.

Ao anunciar ontem a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2015, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo decidiu reduzir o superávit primário do setor público de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2,5% do PIB no próximo ano, um sinal ao mercado sobre o que Dilma pretende na área fiscal.

É alguma notícia, mas não era exatamente isso o que pedia o ex-presidente quando apelou a Dilma para anunciar seus planos destinados a evitar que a inflação dissolva o poder de compra dos salários, fator corrosivo para intenções de voto em candidatos à reeleição.

Além de não ter apresentado nada para o futuro da economia, ao contrário, Dilma está fazendo um governo considerado globalmente ruim: Ricardo Berzoini, na avaliação dos petistas, entrou tarde, e já não há mais tempo para coordenar os partidos aliados, que desconhecem Dilma e suas dificuldades do momento.

Devem estar esperando, como de praxe, a hora de saltar fora; a Polícia Federal está sem comando, fazendo o que quer, mas Dilma não trocará o ministro José Eduardo Cardozo, de quem gosta e admira a fleuma; os ministérios da área social seguem sua rotina; o setor elétrico vive uma crise sem precedentes e não se ouve a voz do ministro das Minas e Energia no momento em que o racionamento de energia ronda a urna; os escândalos de corrupção se multiplicam, atingindo petistas e seus aliados; a presidente não se mostra sensibilizada nem com a CPI da Petrobras lhe batendo à porta.

Dilma não segurou a CPI, como aconselhou Lula, ao contrário, ampliou-a, prejudicando a ambos. A Copa do Mundo, com seu potencial de estrago na candidatura, espera por uma campanha de convencimento do eleitorado, ainda engavetada a um mês e meio do chute inicial. Como criar a agenda positiva? Ninguém sabe. Lula mandou os ministros falarem, Dilma mandou-os se calarem.

Na falta de clareza do cenário, reproduzem-se no PT algumas assertivas que ilustram o estado da arte da disputa entre Lula e Dilma no contexto do quadro eleitoral: "Eduardo Campos e Aécio Neves não têm capacidade de ganhar a eleição, mas Dilma tem capacidade de perder", é um dos teoremas do momento. O outro é "Lula não quer ser candidato, mas não pode assegurar que não será".

Longe de se enfraquecerem, necessidade sinalizada pelo ex-presidente Lula nos conselhos a Dilma, o ministro Guido Mantega e o secretário Arno Augustin se fortaleceram sobremaneira nos últimos dias. Conseguiram levar à demissão Leonardo Rolim, o Secretário de Políticas de Previdência Social do Ministério da Previdência, por ter feito e passado ao ministro Garibaldi Alves, que os passou ao Valor, cálculos que repõem a realidade dos dados do deficit previdenciário. Toda a discussão se deve ao fato de o Ministério da Fazenda projetar um déficit da previdência de R$ 40 bilhões para este ano. Já a estimativa do ministério da Previdência é de um rombo de R$ 49,9 bilhões, o mesmo valor registrado em 2013.

Garibaldi confirmou que o Ministério da Fazenda estava subestimando as despesas e o Ministério da Fazenda mandou degolar o homem que calculava.