segunda-feira, 6 de julho de 2015

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

Tudo somado, em que pese a gravidade da crise atual, ela, como se diz, pode abrir uma janela de oportunidade para a afirmação da atividade política, como se pode entrever no retorno à ribalta do tema do federalismo, calcanhar de aquiles desde o Império, do autoritarismo político entre nós, nas mudanças com que os partidos políticos já se empenham em busca de enraizamento na vida social, na reforma política, ainda em andamento no Parlamento, cujo desenlace pode ser mais feliz do que os céticos preveem. E last but not least, com a constatação de que acaba de soar o canto de cisne do capitalismo de Estado que, ora mais, ora menos, informou nosso longo processo de modernização, pavimentando o caminho para a cultura da estatolatria, que medra melhor quando se reduz a sociedade à passividade.

São transformações relevantes ao alcance da mão, se encontrarem o tempo necessário para sua maturação, que, com os auxílios da virtude da serenidade, podemos garantir. Tanto no front político ou judicial, nesse pandemônio em que nos metemos, não há bala de prata que nos livre, de um só golpe, dos males que nos afligem.

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Luiz Werneck Vianna é sociólogo e professor da PUC-RJ. O pandemônio e o elogio da serenidade. O Estado de S. Paulo, 5 de julho de 2015.

Nas urnas, Grécia diz 'não' a acordo

• Após pesquisas indicarem empate, veto vence plebiscito com folga, somando 61,3% dos votos

• Uma reunião foi convocada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, para terça-feira (7)

Leandro Colon, Fernanda Godoy – Folha de S. Paulo

ATENAS - Numa votação histórica na Grécia, a população mandou um recado à zona do euro e rejeitou a proposta dos credores em um plebiscito realizado neste domingo (5).

A diferença contrariou as pesquisas que indicavam uma disputa apertada: 61,3% votaram "não", contra os credores, e 38,7% a favor do "sim". A taxa de comparecimento às urnas foi de 62%, patamar semelhante ao da eleição em janeiro (63%).

O resultado é uma mensagem contra medidas de austeridade e gera, ao mesmo tempo, uma série de incertezas no país e na Europa.

Por um lado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que convocou a consulta de última hora e fez campanha pelo "não", sai fortalecido internamente. Para conduzir o futuro da Grécia, no entanto, ele espera a reação dos líderes da zona do euro, a quem desafiou chamando de "chantagistas".

A postura deles é crucial para determinar o rumo das relações e as reais chances de a Grécia ser empurrada para fora do grupo. O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, afirmou que o resultado é "lamentável para o futuro da Grécia".

Uma reunião foi convocada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, para esta terça-feira (7), em Bruxelas. O grupo da moeda única suspendeu as conversas à espera do plebiscito e na torcida pelo voto "sim".

O novo encontro, que deve contar com a presença de Tsipras, foi solicitado pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente francês, François Hollande. Se os líderes europeus cederem, temem dar um mau exemplo a outros países que estão muito endividados.

O primeiro-ministro grego afirmou que o povo deu uma resposta de apoio a "solidariedade e democracia" na Europa. "Não recebi o mandato para romper com a Europa, mas para me colocar numa posição mais forte de negociação", disse. "Ninguém pode ignorar a vontade do povo".

Grécia e credores não chegaram a um acordo depois de semanas de negociação para que o país evitasse um calote de € 1,6 bilhão no FMI e desbloqueasse uma parcela de € 7,2 bilhões do socorro recebido desde 2010.

Em troca, exigiu-se da Grécia aumento de impostos, corte de gastos e reforma profunda da Previdência. O governo não aceitou, não pagou a dívida com o fundo e convocou uma consulta popular em busca de apoio.

Argumentos
Agora, a Grécia usará dois argumentos para negociar: o respaldo local à resistência em aceitar rígidos ajustes fiscais e o recente relatório do FMI reconhecendo que a dívida grega, em 177% do PIB (€ 320 bilhões), precisa de um perdão de pelo menos 30%.

O governo tem urgência porque quer reabrir seus bancos a partir desta terça (7), depois do controle de capital imposto no dia 29, que fechou agências e restringiu saques a € 60 por dia para a maioria e € 120 para aposentados.

Tsipras prometeu normalizar a situação, mas teme a insolvência das instituições e o colapso do sistema bancário porque o dinheiro em caixa está acabando. Há rumores de que não seria suficiente nem para terminar a semana.

Para se salvar dentro do euro depende de um apoio do BCE (Banco Central Europeu) em aumentar a ajuda emergencial de liquidez usada pelos bancos para repor o dinheiro sacado. A autoridade monetária congelou o limite em € 89 bilhões até o plebiscito e deve decidir nesta segunda-feira (6) se atende ou não ao apelo de Atenas.

Se o BCE não ajudar e os bancos ficarem sem dinheiro, o governo terá de avaliar emitir moeda própria, nem que seja temporariamente. O boicote da autoridade monetária seria o primeiro passo para isolar e obrigar o país a deixar a zona do euro.

Grécia diz 'não' a condições impostas pela União Europeia

Fernando Scheller - O Estado de S. Paulo

• Mais de 60% dos gregos que foram às urnas neste domingo se mostraram insatisfeitos com as medidas de austeridade impostas em troca de ajuda ao país

ATENAS - Os gregos disseram um sonoro "não" nas urnas a seus credores. O plebiscito convocado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras para avaliar se a população concorda com as condições impostas pela União Europeia para liberação de ajuda financeira ao país teve uma resposta clara: 61,31% da população se disse contrária às medidas de austeridade impostas pelo bloco econômico.

A vitória apontou uma rejeição bem mais ampla do que a esperada às políticas da UE. As pesquisas feitas no sábado apontavam um resultado dentro da margem de erro.

Embora o plebiscito fizesse uma pergunta específica, por trás da negativa da população pode estar a chance de que, pela primeira vez, um país possa sair da zona do euro - uma situação que coloca pressão sobre o Eurogrupo, a chanceler alemã Angela Merkel (que governa o país que direciona a maior parte da ajuda à Grécia) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Todos precisam decidir se o fluxo de dinheiro para o país seguirá aberto apesar do que disseram as urnas. Na terça-feira, a Grécia se tornou a primeira nação desenvolvida a dar um calote ao FMI. O país deixou de pagar uma dívida de € 1,6 bilhão.

O governo grego tenta dar outra interpretação à situação. Para o premiê, com o aval popular, a Grécia terá mais força para negociar acordos melhores. O objetivo de Tsipras é que o país não precise cortar tantos custos e benefícios sociais em troca da ajuda que tanto precisa.

A rejeição da população grega ao acordo proposto pela UE tem razão de ser: nos últimos cinco anos em aceitou o plano de austeridade do bloco econômico, a economia do país recuou nada menos do que 24%. O desemprego entre os jovens é superior a 50%.

Segundo pesquisas de opinião divulgadas ao longo da semana e também neste domingo, embora a maioria da população tenha votado "não" neste referendo, cerca de 75% da população grega é contrária à saída do país da UE.

Vitória. O resultado é uma vitória considerável para Alexis Tsipras. Na última semana, ele fez uma ferrenha campanha para que os gregos dissessem não às regras do pacote de ajuda impostos pela UE. O objetivo do referendo, segundo ele, é conseguir condições mais favoráveis de negociação para que o bem-estar social grego não tenha de ser tão sacrificado. Ao votar, Tsipras afirmou que a democracia venceria o "medo" e a "chantagem" - recado direto para o que considera uma posição intransigente da UE.

Quase 10 milhões de eleitores na Grécia estavam aptos a votar no plebiscito. Pela lei, o voto é obrigatório no país, mas na prática o texto não é aplicado há bastante tempo - o que deixa a escolha livre para a população. O ministro do Interior grego, Nikos Voutsis, afirmou, em declaração à imprensa, que o governo considera o plebiscito um sucesso - com mais de 50% dos eleitores comparecendo às urnas. O ministro das Finanças, Iannis Varoufakis, já falando sobre a vitória do "não", disse que o resultado ajuda a Grécia a buscar uma solução mútua com a Comissão Europeia para seus problemas financeiros.

Depois de um verdadeiro duelo de protestos na sexta-feira, quando os que advogam pelo "sim" e pelo "não" reuniram milhares de pessoas em diferentes pontos de Atenas, o clima da cidade se acalmou entre sábado e este domingo. O clima era calmo na maioria dos locais de votação e não havia filas. A panfletagem, tão comum nos pleitos brasileiros, tampouco sujou as ruas da capital grega. Como havia poucas seções eleitorais nas proximidades dos pontos turísticos, os turistas mal percebiam que este era um domingo vital para a economia grega.

Bancos. Depois de avaliar que não conseguiria aprovar em sua base legislativa as condições impostas pelos credores para as contrapartidas para a liberação de uma nova parcela da ajuda ao país, Tsipras resolveu jogar a decisão para a população. O referendo foi convocado e organizado em menos de dez dias.

Como o dinheiro novo não chegou - e para evitar uma corrida às agências bancarias para saques -, o governo determinou feriado bancário até a próxima terça-feira e estabeleceu um teto diário de € 60, expondo a fragilidade do sistema bancário nacional.

Há relatos de que o dinheiro pode 'secar' nos caixas eletrônicos na segunda-feira caso o Banco Central Europeu (BCE) não faça uma nova injeção de capital para que as máquinas possam ser abastecidas. Embora o limite para saques não valha para turistas, o Estado ouviu no sábado relatos de visitantes que tiveram dificuldade de sacar dinheiro e usar o cartão de crédito em ilhas como Mykonos e Santorini. Uma reunião entre o Banco Central da Grécia e o Banco Central da Europa (BCE) está marcada para a manhã de segunda-feira.

Cansaço. Entre os gregos que advogavam pelo voto contra a UE, um discurso comum era o "cansaço" de esperar por uma promessa de desenvolvimento que nunca se concretiza. É o caso de Thanassis Negas, 60 anos, que trabalha com importação e exportação de tecidos. "Eu não me enquadro na categoria 'desempregado' para o governo, mas essa é a minha real situação. Eu ganho muito pouco, menos do que o suficiente para me sustentar."

Para Negas, que pertence ao movimento Enam (uma espécie de resposta grega ao espanhol Podemos), o voto no 'não' é uma alternativa para priorizar as pessoas em detrimento do capital. "Em toda a Europa, mesmo na Alemanha, há informações de que as camadas mais pobres da sociedade estão sofrendo. Está claro que a receita econômica atual está trazendo só pobreza, e não desenvolvimento."

Em comentários sobre resultados da eleição, especialistas afirmaram que os jovens gregos tiveram um papel fundamental no resultado do voto no "não". Este foi o caso do estudante de economia Grigorios Adamapoulos, de 26 anos, duas vezes na última semana.

Na noite da última segunda-feira, ele era um dos últimos manifestantes a se desmobilizar em uma grande manifestação pelo voto contrário às condições impostas pela União Europeia para renegociar a dívida e liberar mais ajuda financeira para a Grécia. Dentro de casa, ele vivia uma divisão: enquanto ele acreditava que era possível mandar um recado de insatisfação ao bloco econômico, seus pais achavam que era melhor garantir a ajuda da UE e votar "sim".

Na sexta-feira, Grigorios parecia ter conseguido "virar" a tendência dos pais: "Pode escrever: toda a família de Helen (nome da mãe de Grigorios) vai votar não." Tanto o estudante de economia quanto seus amigos acreditam no discurso do governo de que uma vitória no "oxi" no plebiscito de hoje não deverá acarretar a saída da Grécia da União Europeia e a substituição do euro pelo antigo dracma - apesar de esse ter o temor de muita gente no país.

Ele deixa claro: "Nós não somos contra o euro e nem contra a Europa, não importa o que os outros digam." Na noite deste domingo, à medida que o voto no "não" ficava clara, a reportagem recebeu uma mensagem de Grigorios. "Vencemos! Vamos para a Syntagma (praça do parlamento grego, no centro de Atenas)", referindo-se à festa da vitória do "oxi" (não, em grego) no plebiscito.

Gregos dizem não ao acordo: Líderes europeus convocam reunião de emergência

BCE discute hoje se mantém liquidez para o sistema bancário da Grécia
Resultado do referendo será analisado em cúpula da zona do euro amanhã. Governo quer retomar negociações com credores imediatamente, e aposta sobre saída da moeda única divide economistas

Com 61,31% de votos "não" para novas medidas de austeridade, o premier grego, Alexis Tsipras, é considerado o vitorioso político do referendo. "Provamos que a democracia não pode ser chantageada", disse na TV A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, se encontram hoje para articular uma estratégia para a reunião de cúpula da zona do euro, marcada para amanhã. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) decide se mantém ou não uma linha de crédito emergencial para o sistema bancário grego, que deve reabrir amanhã. Atenas prevê rápida retomada das negociações. Analistas de mercado elevam apostas numa possível saída da Grécia da zona do euro, enquanto economistas brasileiros veem solução pelo diálogo.

Europa em busca de respostas

  • Grécia recusa, nas urnas, austeridade imposta por credores e põe em xeque futuro do euro

Cláudia Machado – O Globo

ATENAS - O comparecimento às urnas foi alto - 62,4%, quase como o do pleito que, em janeiro passado, levou o partido Syriza ao poder (63,9%). Numa votação histórica, a Grécia mandou à Europa uma mensagem inequívoca contra a austeridade e pela soberania nacional. A apuração das urnas mostrou que 61,31% dos gregos disseram "não" às propostas europeias que significariam mais cortes e ajustes na já combalida economia grega. Os eleitores do "sim" foram 38,69%, e o número de votos brancos ou nulos representou apenas 5,8% das cédulas. Esse resultado deixou sem respostas a União Europeia (UE), já dividida internamente sobre o futuro das negociações para salvar - ou não - Atenas de uma iminente bancarrota. Em meio a discursos desencontrados, líderes da zona do euro concordaram em um ponto: realizar amanhã uma reunião de emergência em Bruxelas para tentar debater os próximos passos.

- Nós provamos que a democracia não pode ser chantageada. A vitória do "não" é o mandato do qual precisávamos para buscar uma solução viável - comemorou o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, considerado o grande vitorioso político do plebiscito.

Analistas insistiam que o triunfo do "não" nas urnas significava um passo a mais rumo à eventual saída grega do euro. Mas Tsipras fez questão de ressaltar que esse não é o caso. E não houve tempo para celebrações oficiais. Enquanto milhares de pessoas corriam para comemorar na Praça Syntagma, em Atenas, Tsipras convocou uma reunião na madrugada com o presidente do Banco Central da Grécia, Yanis Stournaras, e o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, para tentar traçar as primeiras medidas de alívio aos bancos do país, há uma semana sob controle de capitais. A promessa é que as instituições bancárias sejam reabertas amanhã e sem o limite de saques de ¬ 60 por dia.

- Este é um "sim" à Europa democrática. A partir de amanhã (hoje), a Europa, cujo coração está batendo na Grécia, começará a cicatrizar suas feridas. Vamos buscar um comum acordo com nossos parceiros - declarou Varoufakis.

Essas promessas, porém, dependem de Frankfurt. Cabe ao Banco Central Europeu (BCE) decidir, hoje, se manterá uma linha emergencial de crédito que, há meses, vem sustentando o sistema bancário grego. Além dessa discussão, uma outra, em Paris, poderá dar o tom dos próximos dias: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, vai pessoalmente ao Palácio do Eliseu discutir o futuro das negociações com o presidente francês, François Hollande. E sob rumores de que os dois já apresentam sinais de discordância sobre as exigências a serem feitas para socorrer Atenas.

A vitória do "não" deixou desnorteadas as lideranças europeias. Em Berlim, onde são grandes as vozes favoráveis à saída grega do euro, coube ao vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, condenar o resultado do referendo. Para ele será difícil negociar um novo socorro, pois Atenas se recusa a "jogar segundo as regras da zona do euro".

"Tsipras e seu governo romperam as últimas pontes para um acordo entre a Grécia e a Europa. Eles conduzem a Grécia a um caminho de abandono e desesperança", afirmou ele ao diário berlinense "Tagesspiegel".

Autoridades da UE divergem
Hollande, que no sábado afirmara que "continuaria a defender que a Grécia fique no euro", telefonou ontem aos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Parlamento Europeu, Martin Schulz. Enquanto Junker preferiu apenas dizer que "respeita o resultado do referendo", Schulz adotou um tom conciliatório.

- A União Europeia deve lançar já um programa de ajuda humanitária à Grécia. Os mais pobres dos pobres não devem sofrer com a incapacidade política do governo esquerdista de Atenas de fechar um acordo - afirmou ele à rede de TV estatal alemã ARD.

Outro que se pronunciou rapidamente foi o presidente do Eurogrupo - que reúne os ministros das Finanças da zona do euro -, Jeroen Dijsselbloem, responsável pelas negociações com Atenas nos últimos meses. Após o resultado, fontes diplomáticas disseram que sequer havia previsão de uma nova data para a próxima reunião, porque "os ministros não sabem nem sobre o quê discutir".

- É muito lamentável para a Grécia. Para a recuperação da economia grega são inevitáveis reformas e medidas difíceis - afirmou Dijsselbloem, acrescentando que vai agora esperar "pelas iniciativas das autoridades gregas".

Em Paris, uma manifestação na Praça da República mostrou solidariedade com os gregos. Mas, dividida, a Europa parecia refletir o estado de espírito dos gregos antes de irem às urnas. A professora Ana Georgiopolou, por exemplo, teve brigas em casa por causa do referendo:

- Eu votei "sim", meu marido anulou e meu filho foi no "não". Imagina o quanto brigamos por isso? Votei "sim" pois me senti humilhada como grega.

Ninguém se sente, de fato, seguro.

- Votei "não", mas isso não significa que quero que a Grécia sem o euro ou que não pague as dívidas - justificou a aposentada Ana Karavitis. - Meu voto foi um manifesto contra o desespero. Não aguentamos mais essa escravidão. Quero acreditar que os meus filhos terão um futuro. Não aceito ler que, desde 2009, cerca de 10 mil gregos se suicidaram por perder patrimônios, empregos e dever aos bancos.

Em convenção do PSDB, FH diz que governo está paralisado

Em convenção, Aécio diz que Dilma não concluirá mandato e faz apelo por unidade no PSDB

• Para senador, reconduzido à presidência do partido, escândalos de corrupção mostram ‘vale tudo’ pelo poder

Isabel Braga e Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Em discurso após ser reeleito presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) apostou, neste domingo, em convenção do partido, que a presidente Dilma Rousseff não concluirá seu mandato. O tucano disse em Brasília que os atuais escândalos de corrupção mostram que há um “vale tudo” para se manter no poder; e voltou a afirmar que perdeu as eleições presidenciais para “uma organização criminosa”, e não para um partido político. Preocupado com a disputa interna pela candidatura à Presidência da República em 2018, Aécio aproveitou para fazer um apelo pela unidade no partido.

- Uma das heranças da presidente Dilma nós já conhecemos: meia década perdida. Ao final de seu governo, que não sei quando ocorrerá, talvez mais breve do que alguns imaginem, os brasileiros estarão mais pobres - disse Aécio, sendo aplaudido pelo auditório.

Cobrado por uma parte do PSDB e por organizações da sociedade civil, que são favoráveis a um pedido de impeachment, o tucano voltou a apostar, em outro trecho de seu discurso, que Dilma não ficará mais quatro anos no Palácio do Planalto.

- Esse grupo político que está aí caminha a passos largos para a interrupção do seu mandato. A oposição não se omitiu, não esmoreceu, vem lutando muito, e está cada vez mais sintonizada com o sentimento amplamente majoritário na sociedade brasileira.

O presidente do PSDB traçou um cenário sombrio da atual crise por que passa o país, tanto na política quanto na economia:

- Convivemos hoje com o dramático aparelhamento da administração federal, tomada de assalto por ativistas e amigos do poder. Com o compadrio que se estabeleceu como norma básica de conduta e funcionamento da máquina pública. Com a corrupção endêmica, que grassa no serviço público, gerando escândalos em série, intermináveis e vergonhosos, como os revelados quase diariamente pela Operação Lava-Jato. Convivemos com o uso de truques contábeis, as chamadas "pedaladas fiscais", para fechar as contas do governo. Uma prática que pode levar a Presidente da República a ter suas contas rejeitadas.

Para o senador tucano, na raiz de todos esses problemas está “a crise moral de um governo afundado em contradições, desvios e crimes de toda ordem”.

- Não perdemos a eleição para partido politico, e sim para uma organização criminosa que se instalou no seio do Estado nacional.

Aécio pediu unidade interna para derrotar o PT:

- A nossa unidade é o mais valioso instrumento para colocar fim a esse perverso ciclo do PT.

Ladeado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio fez questão de entrar pelo corredor do salão. Os dois foram saudados pelos militantes, que gritavam “Aécio, Aécio”. O locutor fez questão de avisar que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também estava presente porque ele não estava com o senador e FH na chegada à convenção.

O PSDB reelegeu Aécio em clima de divisão interna. Ele é apresentado pela maioria dos diretórios como candidato natural à Presidência em 2018. Mas, na eleição do diretório estadual do São Paulo, em meados de junho, o nome de Alckmin foi lançado. O senador José Serra (PSDB-SP), que também já foi candidato do partido à Presidência, não deixou de lado o sonho de novamente concorrer ao Planalto e, segundo aliados, cogita deixar a legenda e ir para o PMDB.

Esforçando-se para demonstrar unidade, Aécio e Alckmin foram recebidos por uma guerra de claques. Um grupo gritava “Aécio” e “Minas”, enquanto outro gritava “Geraldo presidente” e “São Paulo”.

Para FH, PSDB ‘está pronto para assumir o País’
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou o atual governo, disse que perdeu a credibilidade e está paralisado. O tucano afirmou que a crise de confiança que atinge o país exige a união da sociedade ao redor da oposição para que encontre uma solução, dentro dos parâmetros constitucionais. O tucano afirmou que o partido sabe governar e está pronto para assumir o país.

- Estamos assistindo simultaneamente um início de um mal estar que tem tudo, eu não gostaria que assim fosse, de se agravar, assistindo a paralisação do Executivo - afirmou o tucano.

Segundo ele, muitas crises ao mesmo tempo exigem uma resposta: a união do povo brasileiro ao redor das oposições para que se encontre uma saída para o país.

- Uma saída que só pode ser com respeito à Constituição Federal. Que se puna os culpados. 

Precisamos assistir esse Brasil com a cara que sempre teve de decência, de humildade. De dirigentes nacionais que possam andar nas ruas sem estar cercado de pessoas, não ter medo de ser agredido. Queremos o Brasil outra vez confiante e, para isso, o PSDB não poderá fugir do seu papel de responsabilidade. Não somos donos do que vai acontecer nas próximas semanas, nos meses seguintes. Mas estamos prontos para assumir. O PSDB sabe governar - disse Fernando Henrique.

O ex-presidente disse que vivenciou várias crises enfrentadas pelo país no passado, citando Getúlio Vargas, Jango, os governos militares,o impeachment de Fernando Collor. Segundo ele, foram muitos momentos tensos, mas nenhum como o atual, com a paralisação do Executivo.

- Eu raramente vi um momento como esse em que se acumulam crises de vários tipos: crise econômica, expressão mais direta o sofrimento do povo. Estamos assistindo um Congresso fragmentado, um governo que, para se manter, cria ministérios. O sistema que se chamava de coalizão, hoje é cooptação, de compra - criticou FHC.

Numa referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique disse que durante 13 anos ouviu a expressão “nunca antes”, mas que “a verdade é que nunca como antes se roubou tanto no Brasil”. FHC disse que o PT, que criticava as privatizações, agora apela para a cooperação entre estado e o setor privado.

Segundo ele, o Proer (programa de recuperação de bancos), duramente criticado pelo PT à época, é reconhecido hoje como programa que salvou não só bancos, mas o país de uma falência.

- É isso que o Brasil precisa. Não queremos facção, não queremos o Brasil de eles e nós. Não. Queremos um só país - disse o tucano.

Segundo FHC, o atual governo perdeu o rumo, apostando no consumo:

- O Brasil foi quebrado pelo PT e pelo lulopetismo. Essa crise que vai custar caro para o povo brasileiro é dele e não nossa. Não virá aliança externa para nos ajudar, mas temos força como brasileiros e brasileiras de reconstruir o Brasil. Queremos reconstruir o Brasil, tirá-lo dessa tragédia para a qual fomos levados pela incompetência de quem não sabe governar.

Fernando Henrique disse que enfrentou, na presidência, situações difíceis que culminaram na queda de popularidade de seu governo, mas que nunca perdeu credibilidade.

- Quando se perde a credibilidade não há mais como recompô-la. E esse governo perdeu a credibilidade. Não explicou nada, deu volta de 180 graus, mudou sua política sem dizer nada. Não dá mais para acreditar. Quebrou o cristal.

De acordo com FH, o PSDB tem a responsabilidade de dizer qual o rumo a ser tomado, mantendo a democracia e fazendo a "limpeza ética".

- Vamos tentar, junto com o povo, levar o país a um caminho de ética, de bem-estar. Não estamos sozinhos, juntos vamos vencer e nos recompor.

Ao iniciar seu discurso, Fernando Henrique fez questão de destacar sua empolgação com a convenção. Segundo ele, nunca viu tanta responsabilidade nos discursos e tantos jovens. A juventude puxou um coro: "FHC, a juventude tem orgulho de você!".

- Obrigado, isso dá energia.

Serra: governo Dilma é mais fraco ao de Jango
Com o slogan “oposição a favor do Brasil”, a convenção do PSDB começou pela manhã. Na entrada, foram distribuídos lenços com a bandeira do Brasil e adesivos com o slogan do evento. Algumas faixas foram penduradas na parede, no final do salão, pedindo a retomada do crescimento e criticando a corrupção.”Santa Catarina quer ver o Brasil investindo”, “Goiânia, a favor do Brasil e contra a corrupção”.

Aécio chegou por volta de 11h30m. O senador estava acompanhado de caciques da legenda, e foi ovacionado pelos militantes que gritavam e se espremiam para tentar fazer imagens com o celular.

No entanto, os ataques ao governo Dilma e ao PT dominaram a convenção. No discurso, Alckmin afirmou que o PT “chegou ao fundo do poço”. Para o governador paulista, o PSDB é o partido que está verdadeiramente ao lado dos trabalhadores e dos mais pobres, enquanto os petistas estariam ao lado “da especulação financeira e dos rentistas”.

- O PT chegou ao fundo do poço e cabe a nós a missão de não deixá-los carregar o país junto com eles. Afastado o flagelo do petismo no poder, o Brasil poderá reencontrar sua vocação para o crescimento - disse Alckmin.

De acordo com o governador, o PSDB “nunca usou e nunca usará o nome do trabalhador em vão”.

- Somos o partido dos mais humildes, dos trabalhadores, do povo. O PSDB é o partido da educação, que emancipa; da saúde, que cuida de gente; o partido da segurança pública, que salva vidas. O partido daqueles que mais precisam. O partido que nunca usou e nunca usará o nome do trabalhador em vão.

O senador José Serra ressaltou que a crise em que passa o Brasil é a maior que ele já viu, e que a oposição precisa oferecer saídas ao país:

- O Brasil está atravessando a pior crise desde que me conheço por gente, sem nenhum catastrofismo. Cabe a nós oferecer saídas para a crise. Vai ser difícil, porque o estrago feito pela era petista é gigantesco.

Para o senador e ex-ministro da Saúde, o governo Dilma é mais fraco do que o de João Goulart, de 1964:

- O Jango era de uma solidez granítica perto do governo Dilma, pelo menos sabia escolher gente, era um gigante na administração perto do governo Dilma.

Ecoando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Serra cobrou responsabilidade do PSDB nas votações no Congresso. Os tucanos votaram a favor, por exemplo, do reajuste salarial entre 53% e 78% para os servidores do Judiciário.

- Claro que às vezes há tentação, que precisamos afastar de aprovar loucuras fiscais irreversíveis, mas elas comprometem o futuro.

O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), defendeu o impeachment da presidente Dilma Rousseff como solução para curar "a saúde" do Brasil.

- Pensei em sair do lugar comum do PT e falar sobre saúde, segurança no Brasil. Quando eu pensei em saúde, pensei que foi o PT que deixou nosso país doente e a melhor coisa que poderíamos fazer para curar o país é o TSE cassar o mandato da presidente Dilma. Quando eu pensei em segurança, lembrei do Petrolão que saqueou os cofres públicos. O PSDB quer ver na cadeia esses petistas corruptos que desviaram dinheiro dos nossos bolsos. Temos que manter a oposição combativa até afastar esse governo que tanto mal faz ao nosso povo - afirmou Sampaio.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), pregou que a oposição se mantenha nas ruas:

- O Brasil vive a mais grave crise de sua história. Aumentos de energia, de preços, desemprego. Um golpe que eles praticaram contra o Brasil. Contamos com vocês. Estão sendo convocados para ir às ruas do país defender essa bandeira de ética - disse Cunha Lima.

O deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS e que compareceu à convenção tucana, disse que o melhor caminho, segundo ele, é que a chapa de Dilma seja cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral e sejam convocadas novas eleições:

- Precisamos nos preparar para saber o que precisamos fazer, se a pedalada (fiscal) for reconhecida e o TSE rejeitar as contas, o que pode dar impeachment. Não é o desejo de ninguém, mas a ingovernabilidade crescente talvez aponte esse caminho.

Mensalão tucano
Com pena de 22 anos de prisão pedida pela Procuradoria Geral da República, o ex-deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) subiu ao palco da convenção, entre os convidados de honra. Ele renunciou ao mandato de deputado federal no início do ano passado para evitar um desgaste político maior para a pré-campanha presidencial de Aécio. Azeredo foi acusado de peculato (desvio de dinheiro público) e lavagem de dinheiro no escândalo do mensalão mineiro. Além de sair dos holofotes, a renúncia de Azeredo funcionou como uma manobra para protelar o processo, que saiu do Supremo Tribunal Federal (STF), com a perda do foro privilegiado, e foi para a primeira instância.

Entre os convidados também está o senador Magno Malta (PR-ES), cujo partido faz parte da base aliada da presidente Dilma Rousseff.

- Sou desobediente. Meu partido é da base do governo, mas eu sou da base do povo - discursou.

Sem falar de impeachment, FHC diz: 'estamos prontos'

Daniela Lima, Flávia Foreque e Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em um discurso duro, no qual não cita o nome da presidente Dilma Rousseff, mas menciona o de Lula, Fernando Henrique Cardoso acusou o PT de "quebrar" o Brasil.

Sem falar em impeachment, o ex-presidente afirmou neste domingo (5), durante a convenção do partido realizada a poucos quilômetros do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente da República, que o PSDB tem a receita para "passar o país a limpo".

"Estamos prontos, sim (...), para assumir o que vier pela frente", disse FHC. E seguiu em tom cifrado. "Precisamos ir até o fim para que o Brasil seja passado a limpo." O ex-presidente continuou: "Seja qual for o caminho pelo qual tenhamos que passar, o PSDB e seus aliados terão um caminho", concluiu.

O tucano afirmou que "o rumo foi perdido", "o Brasil foi quebrado pelo PT, pelo "'lulopetismo'".

Nos bastidores, correligionários afirmavam que Fernando Henrique se sentia algo "vingado" por ter tido um governo melhor avaliado que o de Dilma hoje. Um trecho de seu discurso indica isso. "Eu perdi a popularidade algumas vezes. Popularidade se perde e se ganha. O que eu nunca perdi foi a minha credibilidade". A plateia vibrou.

Em convenção, Alckmin diz que PT chegou ao fundo do poço

Isadora Peron e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

• Num ataque direto a Lula, ele afirmou que o 'povo não é bobo' e que sabe que o petista também é responsável pela situação do País

BRASÍLIA - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fez duras críticas ao PT durante o seu discurso na convenção nacional do PSDB neste domingo, 5. O tucano afirmou que o partido da presidente Dilma Rousseff chegou ao "fundo do poço" e que o governo deixará como único legado o "petrolão".

"O PT chegou ao fundo do poço e cabe a nós a missão de não deixar carregar o Brasil junto com eles", disse.

Um dos nomes cotados para ser candidato do partido nas próximas eleições presidenciais, Alckmin defendeu que o PSDB, por ser o maior partido de oposição, tem que questionar qual é seu papel diante da crise pela qual passa o país.

O tucano também atacou uma das principais bandeiras do PT, de ser um partido identificado com as classes mais baixas. "Ficou claro que o PT não gosta dos pobres, do social, gosta do poder a qualquer preço", disse.

Para Alckmin, o PT "contaminou" o Estado, como um "parasita", e agora, ao propor o ajuste fiscal, tenta "debelar a doença com os remédios errados", porque a conta vai ficar com os mais pobres.

Num ataque direto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele afirmou que o "povo não é bobo" e que sabe que o petista também é responsável pela atual situação do País.

Parlamentarismo. Diante do enfraquecimento do governo da presidente Dilma, o senador José Serra (PSDB-SP) defendeu, durante a convenção nacional do PSDB, que o partido adote a bandeira do "parlamentarismo".

Segundo o senador, essa é a melhor forma de governo, porque permite a troca, "sem traumas", do primeiro-ministro, diferentemente do que acontece hoje no presidencialismo. A ideia vem sendo defendida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "No parlamentarismo, quando o governo vai mal, ele é trocado, sem traumas", afirmou Serra.

Em seu discurso, o tucano afirmou que o País atravessa a pior crise que ele já vivenciou e defendeu que cabe às "forças democráticas oferecer alternativas" para que o Brasil saia dessa situação. "E não vai ser fácil, porque o estrago feito pela era PT foi gigantíssimo", disse.

O tucano comparou o governo da petista com a do presidente João Goulart, destituído do cargo pelos militares. "Infelizmente não é só uma crise econômica, é uma crise política, de valores. Esse é o mais fraco governo que eu tenho memória em toda a minha vida. O de Jango, em 1964, era de uma solidez granítica se comparado com o de Dilma", afirmou.

Roberto Freire defende 'intervenção das forças democráticas' e fala em 'pós-Dilma'

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

• Deputado diz que Congresso tem que estar preparado para analisar processo de impeachment caso TCU rejeite contas do governo

Ao participar da convenção nacional do PSDB, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), defendeu neste domingo uma "intervenção das forças democráticas" para tirar a presidente Dilma Rousseff do poder.

"Já não se fala mais em governo, se fala de pós-Dilma", afirmou.

Segundo Freire, a melhor alternativa seria a convocação de novas eleições após a cassação do mandato da presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas ele afirmou que o Congresso tem que estar preparado para analisar um processo de impeachment caso o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeite as contas do governo.

Apesar de ter apoiado o PSB na campanha presidencial do ano passado, Freire afirmou que o " PSDB, como maior partido de oposição, tem que estar preparado para qualquer das alternativas".

Lideranças e outros partidos aliados do PSDB também fizeram discurso neste domingo. A presidente do PTB, deputada Cristiane Brasil (RJ), fez duras críticas ao PT. Ela acusou o partido de "privatizar o dinheiro público" e disse que a única coisa boa de Aécio não ter ganhado a eleição era ver o "PT na lama".

Cristiane é filha do ex-deputado Roberto Jefferson, delator do mensalão, que atualmente cumpre prisão domiciliar por conta do julgamento do caso.

Apoio. Em discurso no evento, o deputado Izalci Ferreira (PSDB-DF) disse ter certeza que a presidente vai ser afastada do cargo, seja através de um impeachment ou pela cassação do mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Eu sei que logo, logo nós estaremos governando este País, porque eu tenho certeza absoluta que o TSE, e depois a Câmara e o Congresso Nacional, vão fazer o impeachment e o afastamento deste governo", afirmou.

A presidente também foi criticada por outros deputados que fizeram discursos. Marcus Pestana (MG) lembrou da baixa popularidade de Dilma revelada pelas últimas pesquisas. Já Bruno Araújo (PE) afirmou que o PT ganhou as eleições "na base da mentira" e acusou o partido de "passar a mão no dinheiro das estatais".

Fora do palco principal, dirigentes da sigla também defendiam que construir alternativas à saída de Dilma da presidência não pode ser visto como "golpe". "O acirramento da crise econômica e o aprofundamento da crise política obrigam partidos com alguma perspectiva de poder a traçar cenários, mas isso não significa que seja golpe", disse Silvio Torres, que vai assumir a secretaria-geral do partido.

Como mostrou o Estado, na última semana interlocutores do PMDB procuraram a cúpula do PSDB para conversar sobre um eventual afastamento da presidente do cargo.

Aécio diz que é preciso ter coragem e que PSDB em breve 'será governo'

Daniela Lima, Flávia Foreque e Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em meio às especulações sobre o desfecho para a crise que atinge o PT e a presidente Dilma Rousseff, e a possibilidade de afastamento da petista do poder, o senador Aécio Neves (MG) disse que seu partido, o PSDB, terá "coragem para fazer o que precisa ser feito" e que deve se preparar porque, "em breve", deixará de ser oposição para "ser governo".

"Hoje, grande parte do Brasil espera uma posição do PSDB. Um partido como o nosso não pode temer o futuro. Nós vamos ter coragem para fazer o que precisa ser feito", disse o mineiro.

"E podem se preparar, porque dentro em breve vamos deixar de ser oposição e vamos ser governo. O PSDB é o futuro", concluiu.

A fala encerrou o discurso de Aécio na convenção nacional dos tucanos, neste domingo (5), em Brasília.

Derrotado por uma pequena margem de votos na última eleição presidencial, ano passado, Aécio voltou a dizer que não foi "derrotado por um partido, mas por uma organização criminosa".

Ele disse que "este grupo político caminha a passos largos para a interrupção do mandato", numa referência ao impeachment de Dilma.

Aécio disse que o PT optou pela "política de terra arrasada" e que "ajuste sem reforma não é ajuste, é arrocho".

Como antecipou a Folha, ele apresentou uma carta de princípios da sigla, defendendo a retomada do crescimento econômico, as liberdades individuais, e a atuação dos órgãos de fiscalização.

A fala ocorre num momento em que a cúpula do PT crítica a atuação da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal.

Não cabe ao PSDB antecipar saída da presidente, não somos golpistas, diz Aécio

Isadora Peron, Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

• Reconduzido à presidência do partido, senador não mencionou impeachment, mas afirmou que oposição 'não esmoreceu' e prometeu resposta 'corajosa e responsável' à sociedade

Reeleito hoje presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) afirmou que não está conversando com o PMDB sobre a possibilidade de uma aliança caso a presidente Dilma Rousseff seja alvo de um impeachment. "Não cabe ao PSDB antecipar a saída da presidente. Não somos golpistas", disse o tucano.

Reportagem do Estado revelou no sábado, 4, que representantes do PMDB procuraram tucanos para costurar uma aliança em caso de um eventual impedimento da presidente. O presidente da Câmara Eduardo Cunha negou.

Apesar de afirmar que o desfecho da crise política "não depende do PSDB", Aécio disse em entrevista na saída da convenção do partido que a sigla está pronta para "assumir sua responsabilidade".

Em um evento marcado por discursos inflamados, Aécio sinalizou que a legenda pretende por fim ao atual governo. Sem falar em impeachment, o senador afirmou que a oposição "não esmoreceu" e que o PSDB pretende dar uma resposta "responsável e corajosa" à sociedade.

Em sua fala, ele acusou o PT de montar um "modos operandi", no qual "vale tudo" para continuar no poder, e que isso colocava sob suspeita os recursos recebidos pela campanha que elegeu Dilma e o vice-presidente, Michel Temer, no ano passado.

"Os sucessivos escândalos que aí estão consolidam a ideia de que se instalou no Brasil um modos operandi organizado e sistematizado em que vale tudo para se manter no poder, e que agora coloca sob gravíssima suspeição a campanha que elegeu a atual presidente da República e seu vice", disse.

Em diversas oportunidades, Aécio sugeriu que Dilma deixaria o governo antes de 2018, quando estão previstas as novas eleições presidenciais. "Ao final do seu governo, que eu não sei quando ocorrerá, talvez mais breve do que alguns imaginam, os brasileiros terão ficados mais pobres", afirmou.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acusou o PT de "quebrar o Brasil" e deixou claro que o PSDB vive hoje a expectativa concreta de chegar ao poder antes de 2018. "Estamos prontos para assumir o que vier pela frente. Precisamos ir até o fim para que o Brasil seja passado a limpo", afirmou.

'Fundo do poço'. Em seu discurso na convenção, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin fez duras críticas ao partido da presidente Dilma Rousseff e afirmou que o único legado da sigla foram os escândalos de corrupção na Petrobrás. "O PT chegou ao fundo do poço e cabe a nós a missão de não deixar carregar o Brasil junto com eles", disse.

Alckmin emendou críticas ao ajuste fiscal e apontou que a conta pesa no bolso dos mais pobres: "Ficou claro que o PT não gosta dos pobres, do social, gosta do poder a qualquer preço", disse. Ele não poupou o ex-presidente Lula, afirmando que o "povo não é bobo" e que sabe que o petista também é responsável pela atual situação do País.

Parlamentarismo. O senador José Serra (SP) também discursou no evento e defendeu o parlamentarismo como forma de governo. Segundo ele, essa é a melhor forma de governo porque permite a troca "sem traumas" do primeiro-ministro, diferentemente do que acontece hoje no presidencialismo.

A ideia vem sendo defendida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "No parlamentarismo, quando o governo vai mal, ele é trocado, sem traumas", afirmou Serra.

O tucano comparou o governo Dilma ao do presidente João Goulart, destituído do cargo pelos militares. "Infelizmente não é só uma crise econômica, é uma crise política, de valores. Esse é o mais fraco governo que eu tenho memória em toda a minha vida. O de Jango, em 1964, era de uma solidez granítica se comparado com o de Dilma", afirmou.

Intervenção. Presidente do PPS, o deputado Roberto Freire (SP) participou da convenção e somou sua fala ao coro. Mais radical, porém, ele defendeu a "intervenção das forças democráticas" para tirar a presidente Dilma do poder. "Já não se fala mais em governo, se fala de pós-Dilma", disse.

Segundo Freire, a melhor alternativa seria a convocação de novas eleições após a cassação do mandato da presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas ele afirmou que o Congresso tem que estar preparado para analisar um processo de impeachment caso o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeite as contas do governo.

Apesar de ter apoiado o PSB na campanha presidencial do ano passado, Freire afirmou que o " PSDB, como maior partido de oposição, tem que estar preparado para qualquer das alternativas".

Rede, de Marina, já tem assinaturas para registro, informa porta-voz


  • TSE deve dar parecer em agosto, segundo Bazileu Margarido; Congresso da sigla será em novembro

- O Globo

BRASÍLIA - O congresso nacional da Rede Sustentabilidade, partido que está sendo criado por Marina Silva, deverá ocorrer no fim de novembro, quando também deverá ser eleita a nova Executiva. As convenções estaduais foram marcadas para o período de 10 de setembro a 15 de outubro. O calendário foi acertado no encontro Elo Nacional da Rede, no fim de semana, em Brasília.

O porta-voz do partido, Bazileu Margarido, disse que os líderes da Rede tiveram a informação de que a Secretaria Judiciária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu a validação para as cerca de 55.700 assinaturas que faltavam para o registro da Rede como partido. O grupo entregou as assinaturas ao Tribunal em 28 de maio deste ano. Ele crê que o ministro relator do processo no TSE, João Otávio de Noronha, deverá dar seu parecer em agosto, quando o Judiciário retornar do recesso:

- Na volta do recesso, o registro deverá ser julgado pelo TSE.

O Elo Nacional aprovou um manifesto contra a redução da maioridade penal. Foram criados grupos de trabalho que vão se articular com outros movimentos também contrários à redução da maioridade.

Meta do 'novo PMDB' é conquistar Presidência

Alberto Bombig e Caio Junqueira – O Estado de S. Paulo

Enquanto busca ampliar desgaste de Dilma, partido trabalha para construir imagem de "realizador" e "anti-PT", de olho em candidatura própria em 2018.

Com ou sem Dilma Rousseff, o PMDB decidiu que vai trabalhar para manter-se no poder a partir de 2018, mas trocando o Palácio do Jabuti, sede da Vice-Presidência, pelo do Planalto. A despeito da crise que engole a atual gestão da presidente e dos rumores de encurtamento do mandato dela, os líderes peemedebista traçaram um projeto para ter um candidato forte na disputa pela Presidência daqui a três anos e meio.

Se Dilma permanecer até o fim de seu mandato, o caminho do PMDB rumo ao Planalto passará pelas gestões de Renan Calheiros (AL) e de Eduardo Cunha (RJ) nos comandos das duas Casas do Congresso e pela administração do prefeito Eduardo Paes no Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Antes de falar em nomes, a cúpula peemedebista acha que precisa utilizar essas três frentes para imprimir uma imagem de partido "pragmático", capaz de criar um terceira via entre a polarização tucano-petista das últimas décadas.

A intensa agenda imposta por Cunha e Renan no Legislativo, aliada ao sonhado sucesso dos Jogos, daria ao partido a oportunidade de construir um discurso "realizador" em 2018. Se isso der certo, o mais provável é que Paes e Cunha disputem a indicação para ser o candidato.

Até lá, Cunha e Renan devem trabalhar para manter Dilma fragilizada, pois uma presidente fraca significa um Executivo fraco, o que abre espaço para um Legislativo forte, avaliam. A estratégia dos dois é desgastar Dilma mediante sucessivas derrotas no Congresso.

A pauta de Cunha e de Renan busca o apelo popular, setorial e "federativo". Enquanto isso, Cunha cresce e se consolida como o "anti-PT". Segundo apurou o Estado, ele encomendou uma pesquisa de intenção de voto para presidente na qual aparece com 5%. Esse porcentual aumenta quando o nome do PSDB é Geraldo Alckmin (SP), e não Aécio Neves (MG).

No caso de Cunha, porém, antes de qualquer pretensão eleitoral, ele tem de ser inocentado na investigação dos desvios e da corrupção na Petrobras, em que é acusado de ter recebido dinheiro do esquema. Quanto a Renan, também implicado nesse caso, o próprio partido avalia que ele tem uma imagem desgastada.

Serra e empresários. Outra alternativa discutida dentro do PMDB inclui uma aproximação com o senador José Serra (PSDB-SP). Veterano em disputais presidenciais (ficou em segundo em 2002 e em 2010), ele garantiria ao PMDB uma candidatura competitiva e agregaria ao partido, ao qual já foi, inclusive, filiado, o discurso da "experiência" para lidar com momentos de turbulência política e econômica – o PMDB ainda precisa conquistar a confiança do empresariado nacional.

Serra mantém bom relacionamento com o PMDB no Congresso, mas a missão de convencê-lo a deixar o PSDB ainda é o maior entrave para esse "plano b". Serra tem respondido às sondagens com afirmação de "ainda é cedo para falar sobre 2018".

Temer. O próximo passo do projeto peemedebista de voltar ao Planalto após o fim da gestão Sarney (1985-1990) é a saída do vice-presidente Michel Temer da função de articulador político de Dilma. O grupo do vice não estaria disposto a esperar as eleições de 2018.

O combinado é que Temer deixe a função após o recesso parlamentar para que o PMDB posso discutir com mais desenvoltura uma eventual saída de Dilma da Presidência. A avaliação entre os líderes peemedebistas é de que "a crise atual é a própria presidente" e de que Temer funciona como uma proteção a Dilma. Por esse raciocínio, sem Temer, Dilma ficaria desprotegida e abriria um canal de comunicação para que ela mesma possa ouvir sugestões sobre a possibilidade da renúncia. Renan e Cunha são contra a estratégia.

2016 será laboratório para ruptura eleitoral

• Dirigentes do PMDB pregam Lançamento de candidatos próprios nas capitais, reduzindo as alianças locais com o PT.

Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo

O discurso separatista cada vez mais forte do PMDB nacional já começa a apresentar reflexos no mapa eleitoral que se desenha nas capitais para 2016. Se em 2012 a legenda marchou ao lado do PT em oito capitais no 1.° turno, esse número deve cair ao menos 50% no próximo ano. Levantamento do Estado em todas as 26 capitais brasileiras mostra que a tendência é de que haja aliança em quatro delas. Em 15, PT e PMDB devem ficar em lados opostos. A situação é indefinida em sete capitais.

A ideia entre lideranças do PMDB é de que a cisão se inicie pelas duas cidades de maior eleitorado no Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, e contamine as demais capitais. A intensa agenda legislativa que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pretendem imprimir no segundo semestre com vistas a aliviar a situação financeira de Estados e municípios se insere nessa estratégia de criar um discurso para atrair prefeitos para a legenda, que detém o maior número de gestões municipais do País.

Em São Paulo, a sigla trabalha com três nomes: Gabriel Chalita, atual secretário de Educação da gestão Fernando Haddad (PT) e candidato derrotado no 1.° turno em 2012; Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e segundo lugar nas eleições pelo governo do Estado em 2014, e o deputado estadual Jorge Caruso. "Não vamos deixar de dialogar com os outros partidos, mas a tendência é ter candidatura própria", disse o deputado Baleia Rossi, presidente do diretório paulista do PMDB.

O vice-presidente Michel Temer, que é presidente nacional do PMDB, defende cautela antes do rompimento e ainda analisa as reais condições de vitória.

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, também acredita que não será difícil para o partido explicar ao eleitorado no Rio o rompimento com o PT. "O PMDB está no governo para garantir a governabilidade. Não está como um aliado entusiasmado. Acho que a população tem compreendido bem isso." Pupilo de Cunha e filho de Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio e do PMDB fluminense, o deputado federal quer disputar a prefeitura carioca, mas terá de enfrentar a disputa interna com outro possível candidato, o deputado federal licenciado Pedro Paulo, secretário-executivo de Coordenação de Governo do atual prefeito carioca e seu padrinho político, Eduardo Paes (PMDB). O PT tem a vice-prefeitura do Rio e está dividido quanto à manutenção da aliança.

O descolamento do PT e do Planalto também começa a afetar o debate em outras capitais. "Temos boa relação com o PT, mas a imagem do partido está muito desgastada", disse o deputado João Arruda (PR). O PMDB paranaense deve lançar o filho do senador Roberto Requião, Requião Filho, à prefeitura de Curitiba. Nas últimas eleições, PT e PMDB foram aliados em oito capitais: Maceió, Manaus, Goiânia, São Luís, Cuiabá, Belo Horizonte, Rio e Aracaju. Em São Paulo, Chalita apoiou Haddad no 2.° turno.

Agravamento da crise política ameaça o mandato de Dilma

Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Cercada pelo parlamento, afastada dos movimentos sociais e no curso de um arrocho fiscal que suprimiu direitos trabalhistas e previdenciários, quando prometeu exatamente o contrário na campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff aposta suas últimas fichas no PMDB, a fim de recuperar governabilidade e se manter no cargo, onde está mais fraca a cada dia. O compromisso do PMDB, segundo seus dirigentes, é com a aprovação do ajuste fiscal e só depois analisar o leque de alternativas.

Dilma ampliou os poderes do vice-presidente Michel Temer, presidente do PMDB, na coordenação política, o que não é levado muito a sério pelos próprios pemedebistas. O vice agora pode também cobrar diretamente dos ministérios a nomeação das indicações partidárias para os cargos no primeiro escalão. As nomeações acertadas por Temer ou param na Casa Civil ou são boicotadas pelos próprios ministros de cada área. O resultado é a rebelião da base nas votações.

"O problema é que o governo não cumpre nada", disse um dos integrantes da coordenação política ao Valor. "O Aloizio [Mercadante, ministro da Casa Civil] segura o que o Michel combina com as bancadas e o Joaquim Levy [ministro da Fazenda] não libera emendas. Tem prefeituras em estado lastimável". O argumento que o ministro usa para não pagar, segundo esse líder, é que o Orçamento agora é impositivo para as emendas parlamentares. Ele não teria muito a fazer. Mas as demandas da base concretamente se referem aos restos a pagar dos exercícios de 2013 e 2014.

A crise já é discutida pelas cúpulas dos principais partidos, inclusive da oposição - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deve ter um papel importante nas discussões. É consensual que a crise do governo se acelerou na última semana, após a delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, e da popularidade da presidente despencar para a casa de um dígito nas pesquisas. O afastamento da presidente é hoje uma possibilidade maior que um mês atrás, quando Temer conseguiu reunir uma maioria para aprovar as medidas do ajuste fiscal, ao preço de ceder algumas mudanças.

Não fosse a aprovação do ajuste - falta ainda votar a medida das desonerações -, Dilma teria perdido de vez o controle da agenda do Congresso, que lhe impõe derrota em cima de derrota. Para ficar apenas em duas delas, Dilma perdeu o poder de indicar pelo menos mais quatro ministros do Supremo tribunal Federal, com a aprovação da PEC da Bengala, e na semana passada o Senado aprovou um aumento para o Judiciário que põe em xeque o ajuste fiscal. "A presidente está perdendo as condições de governar", disse o senador José Serra (PSDB), mais sobretudo com a liberalidade fiscal do Congresso, nos últimos dias.

Do ponto de vista de aliados da presidente, a situação de Dilma se complica objetivamente por uma crise que se desdobra em três níveis. Num deles estão as manobras do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em parceria com o PSDB do senador Aécio Neves, candidato derrotado por Dilma na eleição de 2014, para desgastar e inviabilizar o governo. Cunha é a voz mais influente na defesa do afastamento de Temer da coordenação política. Argumento: ele é parte da solução do problema.

Outro nível é a Operação Lava-Jato. Ao fazer sua delação premiada, o empreiteiro Ricardo Pessoa definitivamente complicou o governo e o PT, ao colocar dinheiro da corrupção na Petrobras na reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, mas também na da presidente Dilma em 2014. Aliados de Dilma reconhecem que foi um erro a nomeação do ministro Edinho Silva (Comunicação de Governo, tesoureiro da campanha), citado na delação. Levou a Lava-Jato para dentro do Palácio do Planalto.

O terceiro nível é o ministro do STF Gilmar Mendes, relator de uma ação de impugnação da chapa Dilma-Michel feita pelo PSDB por abuso de poder econômico na campanha presidencial. Mendes estaria pronto para ouvir pessoas no âmbito da Lava-Jato, inclusive o dono da UTC, segundo informações chegadas ao PT. Há uma preocupação grande com as planilhas entregues por pessoa em sua delação premiada: relaciona a oposição, o fato é que os mais prejudicados serão o governo e o PT.

No quadro de agravamento da crise, já se discute as hipóteses para a sucessão antecipada de Dilma. A solução considerada menos traumática é que o cargo seja assumido pelo vice Michel Temer. Isso ocorreria no caso de a presidente renunciar ou sofrer o impeachment. No caso de impedimento, Dilma seria o segundo mandatário a ser afastado pelo Congresso num espaço de 30 anos de democracia contínua, o mais longo já vivido no país.

A pior solução seria a impugnação da chapa Dilma-Michel, o que deixaria o governo nas mãos de Eduardo Cunha - o presidente da Câmara é o segundo na linha sucessória -, num momento em que o deputado está particularmente forte. Cunha teria de convocar novas eleições, num prazo de 30 dias, se a impugnação da chapa ocorrer antes da metade do mandato, numa conjuntura delicada de um país dividido. Além disso, Cunha não é confiável para as elites políticas. Se o afastamento da chapa ocorrer depois da metade do mandato, o Congresso elege diretamente um sucessor.

A aposta de Dilma é o PMDB, apesar de suas divisões internas. A presidente ainda pode tentar mudar todo o ministério para se recompor com o Congresso, o que é improvável no caso de um governo fraco e agonizante, mas possível se recuperar popularidade.

De imediato, seria necessário unir o PT e se acertar com Lula. O problema, segundo um líder, é que "Dilma está cercada por um grupo que hostiliza o Lula e o Lula por um grupo que hostiliza a Dilma. E um não tem a humildade de se aproximar do outro".

Dilma demonstra impaciência e passa a questionar Levy em reuniões

Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Joaquim Levy tem recebido pouca atenção da presidente. Recentemente, um funcionário notou que nem os incontáveis e-mails diários ela anda respondendo.

Nas reuniões internas de governo, o ministro da Fazenda passou a ser constantemente questionado pelos colegas e pela própria chefe. A discordância aumentou à medida que a crise econômica acelerou a queda na popularidade de Dilma Rousseff.

Auxiliares definem o "climão". Há apenas seis meses no cargo, Levy foi parar na "geladeira". Trata-se de um destino comum para quem convive com a presidente. Quando ela se aborrece com algo, manda o assessor para a "Sibéria", como se brinca no Planalto, até que sua paciência seja restabelecida.

Ministros explicam que tem sido difícil para ela renegar as suas próprias convicções para devolver, com um ajuste fiscal que fatalmente condenaria em tempos normais, a estabilidade econômica. A situação política, dizem, acentua essa ansiedade.

Quem observa as discussões do Executivo afirma que Levy costumava ganhar a maioria das disputas internas. Agora, tem obtido bem menos vitórias.

Recentemente, foi contrário a diversos pontos do plano de exportações. Não ganhou todos e, incomodado, não foi ao evento do anúncio. O comportamento turrão, contam assessores presidenciais, não vem agradando.

Mais e mais, o ministro tem deixado reuniões de governo antes de elas terminarem. Não raro, aparece atrasado. O hábito surpreende aos que perseguem a pontualidade com medo de pitos da chefe.

Cansada de ouvir "não" do auxiliar, e envenenada por queixas de ministros classificando-o de "arrogante" e "solista", por nunca dividir a bola, Dilma começou a transparecer alguma insatisfação.

Nos bastidores, Levy já foi visto se referindo ao PT como "aquela agremiação". Também não esconde, por vezes, o aborrecimento com o partido do governo, contrário a várias medidas do ajuste fiscal.

Em reunião de coordenação, grupo que reúne presidente, ministros e líderes do Congresso, o governo quebrava a cabeça sobre o que fazer com a criação de alternativa ao fator previdenciário, que terá forte impacto futuro sobre os cofres públicos.

Levy, como de hábito, reagiu às propostas. Dilma retrucou no ato. "Estou aqui tentando encontrar uma solução. O que você quer que eu faça, Levy?", indagou ela ao ministro, conforme contaram três pessoas presentes.

Há meses, o titular da Fazenda repete em conversas reservadas que o governo precisa dar a mensagem de dificuldade, e não de otimismo, pois o cenário é muito difícil.

"Aviso o que dá para ficar de pé e o que não adianta prometer", disse a um interlocutor ouvido pela reportagem.

Pescaria
Dono de agenda cheia, Levy imprimiu um ritmo grande de trabalho à sua equipe. Outro dia, liberou os secretários do ministério às 4h. Duas horas depois, estava de volta.

Não por acaso, é frequentemente flagrado "pescando" em reuniões. No governo, há quem relacione tal ritmo com a embolia pulmonar identificada na semana retrasada.

A "pescaria", contudo, não é a válvula de escape de Levy. Quando está no Rio, e estressado, costuma desaparecer por uma hora. Para encontrá-lo, basta ir à baía de Guanabara. Lá estará o ministro, feliz, com seu "Fusquinha". Não, Levy não tem um Volks vintage, nem sua nova encarnação modernizada. "Fusquinha" é seu barco a vela.

Outro dia, reagindo a rumores de redução iminente da meta do superavit primário, o dono do "Fusquinha" apressou-se para alertar: "Não pode é deixar o barco bater nas pedras".

Troca de partido cresce entre senadores

Vandson Lima - Valor Econômico

BRASÍLIA - A decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a regra da fidelidade partidária não se aplica a mandatos majoritários desencadeou no Senado mais de uma dezena de negociações de parlamentares para trocar de legenda.

De malas prontas para o PMDB, o ex-governador do Mato Grosso, senador Blairo Maggi, que está no PR, puxa a fila dos que se viram livres para seguir outro rumo político. "No meu caso, não tenho pretensão de voltar a ser governador, nada disso. Vou para o PMDB porque quero um partido sem dono, maior, com mais influência nas grandes questões nacionais", diz. O dono do PR ao qual Maggi se refere é Valdemar Costa Neto, ex-deputado federal condenado no escândalo do mensalão.

As pretensões do PMDB de ter candidatura própria a presidente nas eleições de 2018 são levadas em conta pelo senador. Ele se diz ciente do burburinho corrente na cúpula da sigla que aponta José Serra (PSDB-SP) como candidato ideal na disputa pelo Palácio do Planalto.

"Tem vários nomes no PMDB que seriam fortes, mas é claro que uma ida do Serra coloca a conversa em outro patamar. Aumenta muito a chance de vencer. Sou totalmente favorável", atesta. Uma eventual migração de Serra, no entanto, é vista como um movimento a ser feito mais adiante.

O PMDB, diz Maggi, não desistiu ainda de filiar Marta Suplicy ao partido, em que pese a iminente ida da senadora ao PSB.

O partido, aliás, é o mais ativo nas negociações no Salão Azul, por onde transitam os senadores entre seus gabinetes, a Câmara e o plenário da Casa: além de Marta, o PSB já acertou a adesão da ex-tucana Lúcia Vânia (GO) e negocia com pelos menos mais três nomes: Alvaro Dias (PSDB), rompido com o correligionário e governador do Paraná, Beto Richa; e dois senadores considerados as "noivas" mais disputadas do parlamento: os petistas Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA). Insatisfeitos com o rumo da política econômica tocado pelo governo Dilma, os senadores, ambos filiados ao PT há aproximadamente três décadas, avaliam as ofertas de desembarque.

Paim recebeu convites de praticamente todas as legendas, inclusive do PSDB, feito pessoalmente pelo presidente do partido, Aécio Neves (MG). Diz que sua propensão é aceitar o desafio em uma sigla nova, como a Rede, da presidenciável Marina Silva, mas não descarta o PSB.

"Conversei com a Marina e claro que me atrai a possibilidade de construir um partido com outra proposta, outras prioridades" diz. "Minhas diferenças são principalmente com o governo Dilma, mas também com o PT, que deveria se pautar por levar o governo para outro caminho que não esse, de ajuste fiscal nas costas do trabalhador somado a distribuição de cargos", avalia.

Pinheiro é outro cujas sondagens não cessam. Do PSD, do também senador baiano Otto Alencar, ao PRB, foram vários convites. Até o PTB, de Fernando Collor, procurou-o. Caso deixe o PT, o que só deve ocorrer a partir de 2016, o caminho natural seria o PSB.

Presidente do PSB, Carlos Siqueira vislumbra que a sigla, que conta com seis senadores e agregará mais duas com Lúcia Vânia e Marta, pode chegar a uma dezena. "Nosso partido tem um espaço a ocupar nesse momento da vida política brasileira. Fomos atrás de alguns senadores com bandeiras do nosso gosto, mas temos sido até mais procurados do que estamos procurando", garante.

Além dos nomes citados, Siqueira diz que há outros, mas que "se determinadas conversas forem a público, atrapalham a negociação".

Potencial candidato à Prefeitura do Rio em 2016, Marcelo Crivella é sondado no PDT, partido mais estruturado para a disputa na cidade que o seu PRB. No entanto, a garantia do presidente do PRB, Marcos Pereira, de que lhe dará legenda para concorrer no próximo ano esfriou as negociações.

Presidente do PSDB, Aécio tem atuado fortemente nos bastidores para angariar nomes e tentar fazer dos tucanos a segunda maior força da Casa. Hoje o PT tem 13 senadores e o PSDB, 11. O PMDB segue como o maior partido do Senado, com 17 cadeiras - 18, a contar a ida de Blairo.

Foram sondados recentemente pelo partido, além de Paim, Ana Amélia (PP-RS), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Reguffe (PDT-DF) e Eduardo Amorim (PSC-SE). Só está acertada a transferência deste último, no fim do ano, por conta de compromissos assumidos no Estado com a sua atual sigla. A mudança na correlação de forças no Senado, no entanto, não altera a regra de proporcionalidade na distribuição de espaços nas comissões da Casa.

De acordo com o artigo 78 do regimento interno, em seu parágrafo único, para fins de proporcionalidade, as representações partidárias são fixadas na diplomação, no início da legislatura, salvo nos casos de posterior criação, fusão ou incorporação de partidos.


Crise chega ao comércio popular, e vendas têm queda de até 40%

• Com medo de perder emprego, consumidor corta gasto com "lembrancinha"

João Sorima Neto e Marcello Corrêa – O Globo

Mesmo oferecendo preços mais baixos que a média do varejo, o comércio popular já sente os efeitos da crise econômica brasileira. Nos grandes centros de São Paulo, Rio, Nova Friburgo e Petrópolis, lojistas relatam queda de até 40% nas vendas. Segundo os próprios comerciantes e analistas do setor, o quadro negativo é causado pela piora no mercado de trabalho e alta da inflação — que consome a renda disponível do consumidor, sem dinheiro nem crédito sequer para os gastos menores.

Rio e São Paulo fecham lojas
Normalmente, quem vende barato demora a sofrer quando a economia vai mal, já que a tendência do consumidor é cortar primeiro as despesas maiores. Agora, no entanto, nem a lembrancinha escapa do período de seca, o que tem levado ao fechamento de lojas e corte de vagas. Na tradicional Rua 25 de Março, em São Paulo, a estimativa é que o faturamento recue de R$ 13 bilhões para R$ 8 bilhões, segundo a previsão mais otimista. Na Saara, no Rio, já há lojistas fechando as portas — e com dificuldades para passar o ponto.

Segundo analistas, a tendência é que o movimento continue fraco, à espera de alguma recuperação só no Natal, data mais importante para o setor.

— O consumidor está muito desmotivado. A gente não tem nenhuma atividade que incentive a compra nos próximos meses. As pessoas não vão gastar com risco de desemprego. A esperança é que algo mude na economia — afirma o consultor de varejo Marco Quintarelli.

Na Saara, lojistas enfrentam dificuldade para passar o ponto

• Em Madureira, lojistas apostam em mais propaganda para atrair clientela

Desde o ano passado, lojistas da Saara, maior polo de comércio popular do Rio, atribuem a forte queda nas vendas às obras na cidade. Nos últimos meses, o agravamento da crise econômica tornou a vida dos comerciantes da região ainda mais difícil. Segundo o Polo Centro Rio, que representa os varejistas da associação, o faturamento já recuou cerca de 30% desde o início do ano.

A retração é ainda mais significativa quando se considera que, entre junho e julho de 2014, o setor já havia sofrido com os feriados durante a Copa do Mundo. Ou seja, há uma piora em relação a um período que já havia sido muito fraco.

— A crise é generalizada. A obra é só um agravante — avalia Denys Darzi, presidente do Polo.
Segundo levantamento do Polo Centro Rio, a crise já causou o fechamento de pelo menos 24 lojas nas três principais ruas da Saara: Alfândega, Senhor dos Passos e Buenos Aires. O cálculo é conservador, já que o complexo ocupa 11 vias da região.

Quem fecha as portas tem dificuldade para passar o ponto. André Gonçalves, dono da Palácio Encantado, de tecidos, está quase desistindo. Há um ano, ele tenta vender sua loja. No começo, pedia R$ 400 mil. Hoje, o preço do imóvel está em R$ 150 mil, mas não há propostas. — Jogo a toalha — desabafa. Sem as obras que atrapalham a vida dos comerciantes na Saara, o varejo de rua em Madureira, Zona Norte do Rio, também vive um momento ruim. Os lojistas falam em queda de até 30% no movimento. Na Estrada do Portela, principal rua do bairro, a maior parte dos estabelecimentos é focada em roupas e acessórios: itens que tendem a perder espaço quando os preços de alimentos e energia sobem.

— O movimento caiu há uns três meses. Com tudo aumentando, as pessoas dão prioridade a outras coisas — afirma Andrea Gomes, vendedora da MF Modas, que recorre, sempre que possível, aos descontos para atrair a clientela.

Promoção e propaganda, aliás, são palavras de ordem na crise em Madureira. Luis Armando Bento da Silva, que agencia locutores para porta de lojas, estima aumento de 40% na procura pelo serviço em um ano.
— Trabalho em três lojas por semana — conta Elvis Azevedo, que trabalha com Luis.

"Entram, mas não compram"

Mas o esforço para chamar atenção nem sempre compensa:

— É sempre bom, mas as pessoas estão sem dinheiro. Entram, mas não compram — diz a vendedora Sandra Oliveira.

Aldo Gonçalves, presidente do Sindicato de Lojistas do Comércio do Rio (Sindilojas), confirma que a saída é ser criativo: — Mas não tem receita de bolo. A retração afetou até cidades que se beneficiam do tempo frio. Em Nova Friburgo, o sindicato dos lojistas estima queda de 17% nas vendas no primeiro semestre. Na Rua Teresa, em Petrópolis, 200 lojas fecharam.

— Antes, vendia-se até R$ 300 mil num mês. Hoje, se chega a R$ 100 mil é comemoração — diz Cláudia Pires, presidente da Associação da Rua Teresa, que trabalha na região há 24 anos.

'Formigueiro de compradores' mais vazio na 25 de Março

• Associação estima queda no movimento diário de ao menos cem mil clientes

O achatamento da renda dos brasileiros e o medo do desemprego já se refletem no maior centro de comércio popular da América da Latina, a Rua 25 de Março. Na região, as vendas caíram de 30% a 40% entre janeiro e junho ante o mesmo período de 2014, segundo comerciantes e a União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco). Alguns lojistas estimam que é a maior retração nas vendas dos últimos 25 anos, desde que o Plano Collor confiscou o dinheiro dos brasileiros depositado nos bancos. O quadro contrasta com "a era de ouro" do varejo no país, quando as vendas cresceram, em média 8% ao ano de 2004 a 2012.


— Com a crise externa em 2008, houve estímulos ao consumo no mercado interno, com juros baixos e isenções tributárias. Esse quadro mudou com a crise econômica. As pessoas estão evitando comprar itens supérfluos e se endividar. — explica o economista Vitor França, assessor da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio).

Vagas fechadas
Antes, as 16 ruas da região da 25 de Março recebiam cerca de 400 mil consumidores por dia. Hoje, segundo a Univinco, são de 280 mil a 300 mil clientes.

No ano passado, essa multidão movimentou R$ 13 bilhões. Até dezembro deste ano, se o faturamento chegar a R$ 8 bilhões, o número será comemorado, diz a Univinco. A perda é mais expressiva ante 2013, quando a receita foi de R$ 17 bilhões. Se a previsão da Univinco se confirmar, será uma queda de mais de 50%.

— É umas das crises mais sérias que já tivemos. Só nas últimas semanas, pelo menos 18 lojas fecharam. Isso é inédito aqui na 25 de Março — diz Claudia Hurias, diretora da Univinco.

As vendas fracas afetaram o emprego: dos cerca de 40 mil funcionários, calcula-se que 15% tenham perdido o emprego desde o início do ano, o equivalente a 6 mil vagas fechadas.

Na visita do GLOBO à Rua 25 de Março foi possível observar os sinais da queda de movimento. Havia quiosques fechados com a placa "aluga-se" e avisos de "passa-se o ponto". O "formigueiro de compradores" característico da região também estava menos intenso.

O faturamento é afetado ainda pela alta dos aluguéis e pela escalada do dólar, já que boa parte das mercadorias é importada da China. Isso acaba elevando o preço final dos produtos.

— Uma loja com dez metros quadrados custa por mês R$ 60 mil. É um valor muito alto numa crise — diz Claudia, da Univinco.

Segundo o gerente da Armarinhos Fernando, Ondamar Antonio Ferreira, o movimento não caiu, mas os clientes estão gastando menos. Na loja Doural, que vende de utilidades domésticas a produtos têxteis, o gerente Marcelo Queiroz notou que os principais clientes que "sumiram" são da nova classe C.

Na Rua Santa Ifigênia, reduto de venda de eletrônicos em São Paulo, Joseph Riachi, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas da Santa Ifigênia, estima queda de vendas de até 30% desde janeiro.

— Aqui já está todo mundo no vermelho — diz o dirigente.