De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
(...)
Outros que contem
Passo por passo
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
Meu tempo é quando
(Extratos de “Poética I” – Vinicius de
Moraes)
Quando o presidente da República, candidato
à reeleição, disse, ontem, pela primeira vez, 19 dias antes do pleito, que
vencerá a eleição em primeiro turno, a afirmação sinalizou, mais que uma
profecia, ou bravata, dita na contramão das pesquisas, que a sua candidatura,
afinal, somou-se à do seu principal desafiante numa campanha pelo chamado “voto
útil”. Agora tudo indica que o relativo sossego de Simone Tebet como alvo chegou
ao fim. Cientes de que ela conquista muitas intenções de voto que, sem ela,
iriam para o atual presidente, os capitães da campanha pela reeleição deverão
mover sua artilharia para secar a candidatura do MDB/PSDB/Cidadania. Para Simone,
um teste de fogo e um belo desafio.
No mesmo dia, pela boca do desafiante
principal, que há mais de um ano lidera as pesquisas de intenção de voto, saiu
a mesma voz de comando oficial. No caso do líder, sua voz agora apenas
formaliza algo que até as pedras já anunciavam, pois sua campanha pelo voto
útil começou há várias semanas, por muitas centenas, talvez milhares, de vozes informais
espalhadas por redes de militância, mirando eleitores que intencionam votar em
Ciro Gomes. Convergem nesse apelo apoiadores em vários setores da sociedade,
assim como políticos de outros partidos que se juntaram à frente de esquerda
liderada pelo PT.
A pressão, e/ou a convicção, por uma decisão final em primeiro turno tem reunido muito mais gente, além do comitê (ou QG, no jargão bélico da moda) da principal candidatura da oposição. Espalhou-se como fogo no breu pelas redes sociais mobilizadas, penetrou em ambientes onde se faz análises acadêmicas ou jornalísticas e é acolhida com simpatia e mesmo engajamento, por linhas editoriais da grande imprensa (à exceção do “Estadão”), em especial pela mídia televisiva da Globo e da CNN.