sábado, 10 de agosto de 2013

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: ‘não é farinha do mesmo saco’

"Quando começam a misturar as águas, não é bom. isso pode dar a impressão de que é parecido com o que outros fizeram. (...) A população ficaria pensando que é tudo farinha do mesmo saco. E não é."

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República. In ”PT ataca PSDB e FHC diz não ser 'farinha do mesmo saco'”, O Estado de S. Paulo, 10/8/2013

Dilma recupera 6 pontos de popularidade, diz Datafolha

Após perda de 35 pontos com protestos, aprovação ao governo volta a crescer

Prestígio é maior entre os mais pobres, mas foi entre os mais ricos que a avaliação positiva cresceu mais

Mario Cesar Carvalho

SÃO PAULO - Depois de uma queda de 35 pontos percentuais na aprovação de seu governo, a presidente Dilma Rousseff teve uma ligeira recuperação, segundo pesquisa Datafolha concluída ontem.

O índice dos que consideram o governo ótimo ou bom subiu de 30% no final de junho, no auge dos protestos, para 36% agora.

A aprovação a Dilma é maior entre os mais pobres. Entre os que ganham até dois salários mínimos, 41% aprovam o governo.

Entre os mais ricos, aqueles que ganham acima de dez salários mínimos, a aprovação tem o menor índice (29%), mas foi nessa faixa que Dilma teve o maior crescimento entre aqueles que consideram a sua gestão ótima/boa. O aumento foi de oito pontos percentuais.

O ápice da aprovação de Dilma ocorreu em março, quando 65% consideravam a sua gestão ótima ou boa.

Na pesquisa deste mês, o índice dos que julgam o seu governo ruim/péssimo variou de 25% para 22% e aqueles que o consideram regular oscilou de 43% para 42%.

Há menos otimismo agora dos benefícios que os protestos podem trazer tanto para o entrevistado como para os brasileiros. No fim de junho, 65% diziam que a onda traria mais benefícios pessoais do que prejuízos; agora são 49%. Em relação aos brasileiros, o índice caiu de 67% para 52%.

A avaliação do governo Dilma na área econômica também teve uma pequena recuperação. A aprovação subiu de 27% para 30%, um ponto acima da margem de erro do levantamento, de dois pontos percentuais.

O Datafolha mostra que estancou o movimento dos que acreditam que a inflação vai aumentar. Entre o final de junho e agosto, esse índice oscilou de 54% para 53%. O pessimismo com a inflação estava em crescimento desde dezembro do ano passado.

Há mais otimismo com o emprego, ainda de acordo com a pesquisa. Caiu cinco pontos percentuais o índice de brasileiros que dizem acreditar que o desemprego vai aumentar, de 44% para 39%.

Também houve uma queda no contingente daqueles que acham que o poder de compra dos salários vai diminuir (de 38% para 32%).

Os brasileiros são mais otimistas com a sua situação econômica do que com as expectativas para o país.

Subiu de 44% para 48% os que acreditam que sua situação vai melhorar. Já a opinião sobre a situação do país segue igual a junho (oscilou de 31% para 30%).

A pesquisa foi feita entre quarta-feira e ontem em 160 municípios do país, com 2.615 entrevistados.

Dilma precisa mostrar respostas específicas para reaver aprovação

Percepção favorável de indicadores da economia reflete-se em leve recuperação da popularidade da presidente da República

Nota do governo federal é mais baixa entre os mais ricos e instruídos e nos municípios com mais de 500 mil habitantes

Mauro Paulino diretor-geral do Datafolha, Alessandro Janoni diretor de pesquisas do Datafolha

A leve recuperação da popularidade do governo Dilma Roussef, revelada pelo Datafolha é amparada especialmente por oscilações positivas na percepção dos brasileiros sobre as variáveis econômicas como inflação, poder de compra dos salários e desemprego.

Apesar de a atuação geral da presidente em relação aos protestos dos últimos meses ter dividido a opinião pública, o ambiente favorável às manifestações em si já não apresenta a mesma amplitude captada logo após os atos --a parcela da população que percebe mais prejuízos do que benefícios para o país por causa dos episódios cresceu dez pontos percentuais nos últimos 40 dias.

Em junho

Nas pesquisas anteriores, feitas em junho, já se percebia apoio majoritário aos principais pontos da resposta da presidente às ruas. Na ocasião, as ideias de consulta popular e reforma política eram bem recebidas pela maior parte.

Agora, mesmo identificando a má gestão de recursos como principal problema do setor da saúde no país, cresce em sete pontos percentuais a taxa de brasileiros que se coloca favorável à contratação de médicos estrangeiros para áreas de carência. Com as ações, Dilma descola o Executivo da imagem do Congresso Nacional, que tem desempenho amplamente reprovado frente aos episódios.

Mas é cedo para apostar em retomada acelerada dos índices de popularidade da presidente. Como já se viu, o cenário econômico, especialmente a percepção sobre o desemprego, tem alta correlação com o ânimo do cidadão. Fica a dúvida sobre o limite dos reflexos políticos e eleitorais das medidas e ações adotadas até aqui.

Desigualdade

A distribuição de rejeição e apoio ao governo pelos setores da sociedade tornou-se mais desigual após as ações de junho.

A aprovação da presidente passa dos 40% entre os menos escolarizados e mais pobres, mas permanece abaixo dos 30% entre os mais ricos e instruídos.

Em municípios com menos de 5.000 habitantes metade dos eleitores aprova Dilma, enquanto em cidades com mais de 500 mil moradores somente 27% a apoiam.

Captar as diferentes demandas, demonstrar atenção e se entender com essa diversidade são desafios e caminhos que se impõem ao governo federal neste momento para recuperar a popularidade perdida.

Fonte: Folha de S. Paulo

Mensalão: STF decide se condenações poderão ser revistas

BRASÍLIA - O julgamento dos recursos dos 25 condenados no processo do mensalão começa quarta-feira com a discussão sobre a possibilidade de mudar a sentença de condenação de 11 réus. Os ministros vão decidir se é legítima a análise de embargos infringentes no Supremo Tribunal Federal (STF).

Embora esse recurso esteja previsto no Regimento Interno da Corte, ele não figura em lei desde 1990. Se o STF aceitar julgar os embargos, réus condenados que tiveram ao menos quatro votos pela absolvição terão direito a novo julgamento, com reexame das provas e chance de reverter parte da condenação.

Teriam direito ao recurso João Paulo Cunha, João Cláudio Genú e Breno Fischberg, por lavagem de dinheiro; e José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério, Kátia Rabello, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e José Roberto Salgado, por formação de quadrilha. A discussão deve abrir a nova fase do julgamento. Se o STF aceitar julgar os embargos infringentes, Dirceu poderá passar do regime fechado de prisão para o semiaberto.

Mas, nesse caso, a decisão sobre a revisão ou não das penas só se dará depois de analisados os recursos de outros 14 réus que apresentaram embargos declaratórios questionando o acórdão do julgamento. A ordem do julgamento foi divulgada ontem. O 1º caso a ser analisado será o de Rogério Tolentino, ex-advogado e ex-sócio de Marcos Valério.

Fonte: O Globo

Recursos começam por Delúbio

O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciará o julgamento dos recursos do mensalão na próxima quarta-feira a partir da análise do embargo infringente apresentado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Caso os ministros considerem o pedido cabível, 11 dos 25 réus condenados — aqueles que receberam ao menos quatro votos pela absolvição — poderão ter direito a um novo julgamento. É o caso de Delúbio e do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, em relação ao crime de formação de quadrilha.

Embora esteja previsto no Regimento Interno do STF, o embargo infringente nunca foi usado na Corte. Há ministros que avaliam o recurso como incabível, pois não está previsto na Lei Federal nº 8.038/1990, que regula as ações do Supremo.

O presidente do STF e relator da Ação Penal 470, Joaquim Barbosa, rejeitou em decisão individual tomada em maio os embargos infringentes protocolados pela defesa de Delúbio. Na ocasião, o ministro classificou o recurso de incabível ao apontá-lo como uma ferramenta para "eternizar" o julgamento. A defesa do petista recorreu, apresentando um agravo regimental — instrumento usado para que o caso seja julgado pelo plenário.

"Admitir-se embargos infringentes no caso é, em última análise, apenas uma forma de eternizar o feito, o que seguramente conduzirá ao descrédito a Justiça brasileira, costumeira e corretamente criticada justamente pelas infindáveis possibilidades de ataque às suas decisões", destacou Joaquim Barbosa, na decisão tomada em maio.

O agravo regimental de Delúbio foi incluído pelo presidente do Supremo na pauta divulgada ontem pela Corte. A chegada de dois ministros que não participaram do julgamento do mensalão abre a possibilidade de mudança nas condenações, caso os embargos infringentes sejam aceitos. Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki não deram pistas ainda de como votarão, mas a presença de ambos na apreciação do caso reacende a esperança de réus em diminuir o tamanho da pena a que foram condenados. O formato do julgamento dos recursos do mensalão ainda não foi anunciado por Joaquim Barbosa. A expectativa, no entanto, é de que se inicie pelos infringentes e depois sejam analisados separadamente os embargos de declaração (recursos usados para contestar omissão, contradição e obscuridade no acórdão) apresentados por cada um dos condenados.

Fonte: Correio Braziliense

PT ataca PSDB e FHC diz não ser 'farinha do mesmo saco'

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, chamou de "trensalão" o caso das denúncias de propina em processos de licitação dos trens do metrô em São Paulo. Na outra ponta, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa dos principais quadros do PSDB paulista e afirmou que o partido "não é farinha do mesmo saco", numa referência ao PT. Os petistas trabalham para criar uma CPI na Câmara dos Deputados.

Para PT, caso Siemens é "trensalão"; FHC reage: "PSDB não é farinha do mesmo saco"

Luciana Nunes Leal, Wilson Tosta, Eduardo Brasciani, Débora Alvares, Daiene Cardoso

RIO, BRASÍLIA - PT e PSDB "nacionalizaram" ontem a guerra política originada com a denúncia de pagamento de propinas em processos de licitação dos trens do Metrô nos governos tucanos em São Paulo. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, batizou o caso de "trensalão", numa referência ao esquema do mensalão, que atingiu o PT em 2005. Na outra ponta o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o PSDB "não é farinha do mesmo saco", numa referência ao PT.

Falcão reclamou do tratamento dado pela imprensa ao caso em São Paulo. Se houvesse alguns de nossos partidos envolvidos, seria a maior corrupção da história. Mas dizem que é cartel e que a vítima é o Estado", discursou o petista, no Rio, em seminário que analisava as manifestações de junho no País, "As manifestações não vão cessar. Haverá uma em São Paulo, no próximo dia 14, contra o propinoduto ou o trensalão."

Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique saiu em defesa dos quadros tucanos, apesar de o presidente nacional da legenda, Aécio Neves (MG), não ter dado declarações oficiais pelo partido (mais informações no texto ao lado). Segundo FHC, "há muita agitação, mas pouca coisa concreta a respeito" da denúncia. "Não houve acusação de que o governo de São Paulo tivesse sido favorecido ou que algum político do PSDB tivesse se beneficiado", disse o tucano, que também estava no Rio ontem.

"Quando começam a misturar as águas, não é bom. isso pode dar a impressão de que é parecido com o que outros fizeram. (...) A população ficaria pensando que é tudo farinha do mesmo saco. E não é", disse FHC.

"Do que eu saiba, os governadores de São Paulo Mário Covas (morto em 2001), Geraldo Alckmin e José Serra são pessoas que não entram neste campo de corrupção", enfatizou.

O caso das propinas foi delatado pela multinacional Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A empresa fez com o Cade um "acordo de leniência", ou seja, admite negociatas em licitações e, em troca, fornece provas e informações sobre o ilícito e o suposto esquema de pagamento de propinas a políticos.

Fernando Henrique Cardoso admitiu que licitações podem gerar corrupção e afirmou que o ex-governador José Serra foi transparente ao dar respostas sobre denúncias. Reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo na quinta-feira revelaram a existência de e-mail de executivo da Siemens relatando conversa com o então governador José Serra na qual ele teria sugerido que a empresa fizesse acordo com a primeira colocada, a espanhola CAF, para a licitação não ter de ser cancelada. Serra nega o fato.

"A concorrência para compra de 40 trens de São Paulo, realizada em 2008, foi uma verdadeira ação anticartel (...) Ganhou a CAF, uma empresa espanhola que ofereceu o menor preço. O Estado economizou cerca de R$ 200 milhões (...) A Siemens ofereceu preços bem mais altos. Por isso perdeu, ficando em segundo lugar. Diga-se que não recebeu nenhum tipo de compensação. Não foi subcontratada nem ganhou contratos novos. Ou seja, os fatos sugeridos nesse(s) e-mail(s) de executivo (s) da Siemens não aconteceram", disse Serra, em nota.

Base resiste à CPI. O comando nacional do PT trabalha para criar em Brasília, na Câmara, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias que atingem o PSDB. A estratégia encontra resistência nos partidos da base. A situação não interessa às demais legendas, como o PSB, PDT, PP, PTB, que fazem alianças com tucanos e petistas nos Estados.

Como na Câmara há 17 investigações à espera de instalação, o PT quer emplacar uma Comissão Parlamentar de inquérito Mista, envolvendo deputados e senadores, que teria criação facilitada. "Os fatos estão vindo muito rapidamente, num volume muito grande. Isso requer uma investigação forte", justificou Paulo Teixeira (PT-SP), encarregado pelo partido de recolher as assinaturas,

"Por que vamos nos meter nisso?", questiona o 2.º vice-presidente do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). "O que move isso é uma questão política. Nós não vamos entrar nessa briga", avisou o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE). "Nossa tendência é de não assinar a CPI nesse momento de crise e de véspera de eleição. Há uma investigação grande do Ministério Público e da Polícia Federal. Não estamos afim de participar dessa guerra entre PT e PSDB", emendou o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (SP). "Ninguém vai querer assinar isso agora com uma nuvem de dúvidas sobre a eleição do ano que vem", resumiu um parlamentar da base.

Fonte: O Estado de S. Paulo

FH defende tucanos das acusações do caso Siemens

Declarações de Serra esclareceram para a população que o PSDB “não é farinha do mesmo saco”, avalia ex-presidente

Cláudio Motta

RIO — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB, declarou que “não há nada de objetivo” nas denúncias de conivência de políticos do PSDB com a formação de um cartel em licitações do metrô de São Paulo. Segundo ele, que é presidente de honra do partido, as declarações do ex-governador de São Paulo, José Serra, sobre o caso “foram boas” e esclareceram a situação, evitando que população pense “que é tudo farinha do mesmo saco”.

— Do que eu vi, não há nada objetivo: a questão é evitar formação de cartel, esta é posição do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) – disse o ex-presidente, após evento realizado no Copacabana Palace por médicos cariocas, na manhã desta sexta-feira. – Não houve acusação de que o governo de São Paulo tivesse sido favorecido ou que algum político do PSDB tivesse se beneficiado. Há muita agitação, mas pouca coisa concreta a respeito. É preciso tomar cuidado.

Fernando Henrique também fez questão de defender Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin:

— Do que eu saiba, os governadores de São Paulo Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra são pessoas que não entram neste campo de corrupção, não têm nada a ver com isso. Quando começam a misturar as águas, não é bom. Isso pode dar a impressão de que é parecido com o que outros fizeram. Não há nada que indique isso.

O ex-presidente reconheceu, no entanto, que os processos de licitação pública não estão imunes à corrupção. Para evitar problemas, defendeu o aumento da transparência.

— No mundo inteiro há o mesmo problema: você não tem um mecanismo perfeito para evitar que os grupos se organizem com o objetivo de fraudar de alguma maneira a boa intenção de uma licitação. Mesmo assim, tem que fazer licitação, não tem jeito — afirmou, acrescentando: — Nestas áreas, há pouquíssimas empresas no mundo, acaba sendo difícil separar, mas tem que haver transparência, explicar mais claramente os fatos. As últimas declarações do governador Serra foram boas, explicam bem do que se trata. Caso contrário, a população ficaria pensando que é tudo farinha do mesmo saco. E não é.

Fonte: O Globo

Ex-governador diz que concorrência foi ação anticartel

Em nota, Serra afirma que Siemens perdeu licitação porque ofereceu preço maior

Em nota, o ex-governador de São Paulo José Serra afirmou que a concorrência para a compra de 40 trens do metrô de São Paulo, realizada em 2008, foi uma ação anticartel, de defesa do estado e dos usuários de transportes. Segundo Serra, a concorrência foi vencida pela CAF, empresa espanhola que ofereceu o menor preço. Com o resultado, segundo ele, o estado economizou cerca de R$ 200 milhões e ganhou 40 trens novos para transporte coletivo.

De acordo com a nota do ex-governador, a Siemens ofereceu preços bem mais altos e por isso perdeu, ficando em segundo lugar, sem receber compensação nem ser subcontratada. Serra afirma que não aconteceram os fatos sugeridos no e-mail do funcionário da Siemens, segundo o qual o então governador teria avisado a ele que cancelaria a licitação vencida pela CAF se a Siemens fosse desqualificada.

A nota afirma ainda que a Siemens tentou anular a concorrência sem êxito e que o governo de São Paulo ganhou o caso no Superior Tribunal de Justiça. Segundo a nota, tudo foi aprovado pelo Banco Mundial, que financiou o projeto. Serra reitera que não houve acordo com empresas para limitar a concorrência e que o governo agiu para defender preços menores.

Também em nota, a direção nacional do PSDB reiterou apoio ao governo de São Paulo para que sejam aprofundadas as investigações sobre as denúncias de formação de cartel na licitação do metrô.

O partido condenou o que chama de "vazamento gradual e selecionado de trechos de investigações", o que "reforça a suspeita de uso político de informações".

Fonte: O Globo

Apoio "tímido" de Aécio decepciona tucanos paulistas

Pedro Venceslau

A delicada relação entre o governador Geraldo Alckmin e o senador presidenciável do PSDB Aécio Neves ficou ainda mais fragilizada depois que o caso Siemens veio à tona. O Palácio dos Bandeirantes deseja mais solidariedade combatividade e apoio explícito do mineiro, que também é presidente nacional da legenda e tem a hegemonia da máquina partidária. A reação de Aécio foi considerada tímida, pelo menos até agora.

Alckmistas e pessoas próximas ao senador classificam a relação entre os dois como amistosa no âmbito pessoal, mas politicamente tensa. Entre José Serra e Aécio, o clima é de guerra aberta, Não há interlocução entre os dois. O episódio do cartel ocorre no pior momento para o ex-governador tucano: justamente quando ele conseguiu incluir seu nome nas próximas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de 2014. A avaliação de alckmistas é que Aécio teria visto no episódio Siemens uma oportunidade de eliminar Serra da disputa e ao mesmo tempo forçar o governador paulista e abraçar de fato seu projeto presidencial.

Interlocutores do senador rebatem essa análise. Contam que ele ligou para Serra e Alckmin prestando solidariedade e até elaborou nota oficial em defesa dos tucanos paulistas em conjunto com o Palácio dos Bandeirantes. O texto, que só foi finalizado na noite de ontem, mais de duas semanas depois que o caso foi divulgado, foi postado no site do partido, mas não teve repercussão, "Aecistas" lembram ainda que ele desembarcou em São Paulo na noite de segunda-feira, véspera de uma reunião com todos os presidentes estaduais tucanos para um jantar no Palácio dos Bandeirantes. Na ocasião, teria incentivado a participação da imprensa. Foi nesse dia que o senador deu sua mais contundente declaração: "Me parece extremamente estranho que esses documentos ainda não tenham chegado ao governo. Obviamente não podemos aceitar esse vazamento selecionado".

Na manhã seguinte ao jantar em São Paulo, o encontro dos tucanos em Brasília que selou a candidatura presidencial de Aécio Neves e sepultou a tese de realização de prévias passou ao largo das denúncias de cartel do caso Siemens. Perdeu-se ali uma grande oportunidade de fazer um gesto concreto e público de desagravo ao tucanato paulista.

Fonte: O Estado de S. Paulo

STF decidirá novo julgamento no mensalão

Joaquim Barbosa agendou para quarta-feira um recurso de Delúbio Soares sobre a viabilidade dos embargos infringentes

Se forem aceitos, esses recursos permitirão que 11 dos 25 condenados no caso tenham um novo julgamento

Severino Motta

BRASÍLIA - O STF (Supremo Tribunal Federal) anunciou ontem que vai decidir na próxima semana se 11 dos 25 condenados do mensalão terão direito a um novo julgamento.

O presidente da corte, Joaquim Barbosa, inseriu na pauta de quarta-feira um recurso da defesa de Delúbio Soares que questiona a viabilidade dos chamados embargos infringentes.

Se aceitos, esses recursos permitirão que um novo julgamento seja feito no caso dos condenados que tiveram ao menos quatro votos favoráveis à sua absolvição. Um exemplo é José Dirceu, condenado por 5 votos a 4 no crime de formação de quadrilha.

Os embargos infringentes estão previstos no regimento interno do STF, mas não constam da Lei 8.038 de 1990, que regula a tramitação dos processos no STF e no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Por isso os ministros terão de decidir se esse recurso valerá ou não para o mensalão.

Em maio, quando analisou de forma individual o recurso de Delúbio, Barbosa disse que os embargos infringentes não devem ser aceitos pelo STF, alegando tal recurso é "absolutamente ilegal".

"Admitir o recurso de embargos infringentes seria o mesmo que aceitar a ideia de que o Supremo Tribunal Federal, num gesto gracioso, inventivo, magnânimo, mas absolutamente ilegal, pudesse criar ou ressuscitar vias recursais não previstas no ordenamento jurídico brasileiro, o que seria inadmissível, sobretudo em se tratando de um órgão jurisdicional da estatura desta Suprema Corte", diz trecho de sua decisão.

Como a decisão foi tomada de forma individual, a defesa de Delúbio enviou ao STF um recurso chamado de agravo regimental pedindo para que o plenário se posicionasse.

Caso o STF derrube a viabilidade dos infringentes, a prisão dos condenados pode ficar mais próxima e acontecer logo após o julgamento dos embargos declaratórios, que englobam o primeiro lote de recursos apresentados pelos réus e que não têm poder de reverter condenações.

Esses embargos servem somente para esclarecer eventuais obscuridades, contradições e omissões da sentença. Ministros avaliam que essa fase do julgamento vá durar, no máximo, dois meses.

Mas, caso aceite a legalidade dos embargos infringentes, é grande a esperança dos réus na possibilidade de reversão de algumas condenações, especialmente no crime de formação de quadrilha.

Anteontem, quando o senador Ivo Cassol (PP-RO) foi condenado pelo Supremo, os dois novos ministros da corte, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso, votaram pelo absolvição do político no crime de quadrilha.

Se aplicarem o mesmo entendimento num eventual novo julgamento do mensalão, haverá a possibilidade de reversão da condenação de alguns réus.

Fonte: Folha de S. Paulo

Festejando o atraso - Cristovam Buarque

Nestas duas últimas semanas, além do Messi, dois argentinos estiveram no noticiário brasileiro: o Papa Francisco e o representante das Nações Unidas no Brasil, Jorge Chediek. Há uma correlação nestas duas presenças: o primeiro por defender, entre outras coisas, uma economia mais solidária e humanista; o segundo, porque, como coordenador-residente do Sistema ONU no Brasil e representante-residente do Pnud, apresentou os resultados da evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) entre 1991 e 2010 no Brasil. Este indicador mostra uma melhora no quadro social brasileiro e também o nosso atraso e desigualdade. Mostra, sobretudo, como avançamos devagar nos objetivos aos quais deveríamos nos propor como Nação, especialmente na educação.

O IDH é certamente uma das maiores contribuições ao pensamento social no século XX. Até ele, o mundo moderno utilizava apenas o PIB como indicador de progresso e do avanço social. Concebido pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen e publicado pela primeira vez em 1990, e atualmente coordenado pelo economista Khalid Malik, o IDH permitiu reorientar a visão do desenvolvimento para além da análise do crescimento da produção e da renda. Passou a incorporar também objetivos sociais.

Quando surgiu, o IDH foi esnobado pelos economistas e considerado devaneio pouco científico. Na verdade, o IDH é tão pouco científico, quando comparado com um termômetro, quanto é o PIB. Afinal, se é pouco científico somar renda com saúde e educação como faz a metodologia do IDH, também é pouco científico somar comida com armas e ainda mais considerar como positiva a destruição de florestas ou a produção e venda de armas, como faz o cálculo do PIB.

O IDH dá um passo adiante ao PIB por levar em conta o estado da educação e da saúde, ao lado da renda, para medir o desenvolvimento humano de uma sociedade. De acordo com os dados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 e os dados de Contas Nacionais do IBGE, entre 2000 e 2010, o PIB brasileiro cresceu, a preços constantes, 1,43% e o PIB per capita 1,26%. Por sua vez, o IDH cresceu 1,19% no mesmo período. Isso mostra que ficamos mais ricos em renda do que melhoramos em termos de desenvolvimento humano. Só esta constatação já seria suficiente para justificar o cálculo e o uso do IDH.

Uma análise mais cuidadosa do IDH-M mostra que nossa melhora não foi mais acentuada por causa da educação, que puxou para baixo nosso indicador de bem-estar social. Ainda mais grave, a melhora em educação se deu graças ao aumento no número de matrículas e não graças a uma melhoria na qualidade da nossa educação: apenas cinco cidades, uma em cada 1.000, obtiveram IDH-M-Dimensão Educação "muito alto" (acima de 0,799), e quase 30% das cidades tiveram nota inferior a 0,500 ("muito baixo") em educação.

Isto mostra o nosso atraso e a desigualdade como a educação é oferecida. E, sobretudo, reforça o atraso ao vermos muitos comemorando avanços tão tímidos.

Senador (PDT-DF)

Fonte: O Globo

Falta saber se o ET de Varginha crê no governo - Rolf Kuntz

É quase uma crueldade pedirá presidente Dilma Rousseff a substituição do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Sem ser almas irmãs, são pelo menos espíritos complementares. Ambos atribuem a alta da inflação nos primeiros meses deste ano à quebra da safra americana. Nenhuma relação com a demanda, disse recentemente o ministro. A presidente reafirmou a tese da seca nos Estados Unidos na quarta-feira, ao comentar triunfalmente o resultado de julho, uma alta de apenas 0,03% do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Onde encontrar um parceiro tão adequado para esse dueto?

Talvez no Ministério da Educação, mas essa hipótese tem sido negada no Palácio do Planalto. Outra possibilidade seria chamar o ET de Varginha, merecedor do "maior respeito", segundo a presidente. Mas seria preciso saber, em primeiro lugar, se ele acredita na existência do governo instalado em Brasília ou se o considera mais uma alucinação coletiva ou produto da crendice popular. Mas todos esses detalhes, neste momento, são pouco importantes. Quarta-feira, esta é a grande notícia, foi um dia glorioso para a presidente e para Mantega.

A inflação, disseram os dois, está e sempre esteve sob controle, sem prejudicar a economia. O ministro, no entanto, foi mais cauteloso e admitiu aumentos de preços mais acelerados nos próximos meses - "como em todos os anos", segundo ele. Com a mesma prudência, evitou previsões mais detalhadas. Quando lhe perguntaram se a taxa acumulada no fim do ano será menor que a do ano passado, quase tirou o time de campo. "Não sei, provavelmente sim", foi a resposta registrada pela Agência Estado.

Sem a seca americana e com boa oferta de alimentos no Brasil, fica difícil entender essa hesitação. Talvez ele tenha lido, num momento de folga, as projeções de mercado mantidas no site do Banco Central (BC). Na sexta-feira de manhã o BC ainda registrava a estimativa para o mês de julho: 0,01%, um número pouco melhor que o divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números projetados para os meses seguintes crescem de forma quase contínua: 0,26% em agosto, 0,43% em setembro, 0,55% em outubro, 0,55% em novembro e 0,67% em dezembro.

Para o ano a série indica uma alta acumulada de 5,72%, bem pouco inferior à do ano passado, 5,84%. Talvez se possa falar em convergência para a meta, de 4,5%, mas o avanço é lento e, nesse ritmo, o percurso dificilmente será concluído nos 12 meses seguintes.

Mas o governo parece continuar satisfeito com acumulados anuais abaixo de 6,5%. Sua meta efetiva é qualquer ponto na faixa de 4,5% a 6,5%, um detalhe traído mais de uma vez pelo próprio ministro em suas declarações. Politicamente é este o ponto mais importante: a inflação estará "bastante sob controle", segundo a linguagem presidencial, enquanto as taxas de 12 meses ficarem nessa , área. O "compromisso com a estabilidade", mencionado mais uma vez pela presidente na quarta-feira, tem como referência esse limite.

É um compromisso frouxo, próprio de quem pouco se incomoda com a alta persistente dos preços. Em dez anos, uma inflação anual média de 4,5% resulta numa taxa acumulada de 55,3%. Uma inflação de 2,5%, mais próxima das metas adotadas nos países desenvolvidos e em vários emergentes, produziria uma alta de preços de 28% no mesmo período. Uma das consequências seria um considerável desajuste cambial no País com taxa mais elevada.

O ministro Mantega falou muitas vezes em guerra cambial, nos últimos cinco anos. A presidente Dilma Rousseff acusou os governos dos países desenvolvidos de criarem um tsunami monetário e com isso afetarem o câmbio e o poder de competição dos emergentes. Ambos seriam muito mais realistas, e mais eficientes na política econômica, se dessem mais atenção à diferença entre as taxas de inflação no Brasil e em outros países.

Mas isso parece muito improvável. As pressões inflacionárias, segundo o governo, vêm de fora, juntamente com a crise causadora, também segundo a versão do Planalto, da estagnação brasileira. Além disso, a meta de 4,5% foi estendida até 2015, com a margem de tolerância de 2 pontos para mais ou para menos (na prática, para mais). Um resultado anual de 6,4% continuará sendo alardeado como prova do compromisso com a estabilidade.

Tudo isso combina perfeitamente com o desleixo fiscal. Como os truques de maquiagem estão cada vez mais evidentes, o governo tem desistido, com jeito de criança flagrada em molecagem, de alguns expedientes escandalosos, como a antecipação de recebíveis da Itaipu Binacional. É cada vez mais difícil encontrar meios para entregar no fim do ano um superávit primário de 2,3% do produto interno bruto, já bem menor que a meta inicial de 3,1%. Enquanto isso, continua a política fiscal expansionista apontada mais de uma vez pelo pessoal do BC nas avaliações dos fatores inflacionários.

Sem melhora na gestão das finanças públicas - nem corte de gastos, nem aumento da eficiência no uso do dinheiro mantém-se uma das causas principais do desarranjo dos preços. As possíveis pressões derivadas do aumento do dólar apenas complicarão um quadro já bastante ruim.

A tarefa de frear a inflação continuará entregue aos formuladores da política monetária. Nenhum diretor do BC entenderá a taxa de 0,03% de julho, explicável basicamente pela redução política das tarifas de transportes e pelo recuo temporário dos preços dos alimentos, como um sinal de vitória. Muito mais fácil será declarar respeito ao ET de Varginha e abrir licitação para um ufódromo. Uma nova estatal poderá cuidar do assunto. Em cinco anos as obras estarão incompletas, talvez nem começadas, mas o orçamento terá aumentado barbaramente.

*Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Nicolau Maquiavel: ontem e hoje – Michel Zaidan Filho

A repórter do Jornal paulistano "O Estado de São Paulo", Eliana Cardozo, me pede que fale do que é atual ou ultrapassado na obra do florentino Nicolau Maquiavel, relacionando-o com os políticos brasileiros e particularmente, o pré-candidato à Presidência da República, Eduardo Campos. Em primeiro lugar, é muito difícil comparar o pensamento de Maquiavel com os políticos brasileiros, e particularmente o primeiro mandatário de Pernambuco. A história guardou do ilustre florentino uma caricatura grosseira (e pouco lisonjeira) de seu pensamento que se tornou sinônimo de politicagem, perfídia, traição, ambição a qualquer custo e fingimento profissional. O termo "maquiavelismo" foi - e ainda é - empregado de maneira pejorativa e amoral, como sinônimo de baixas e vis ações praticadas pela pior espécie de gente.

Mas obra de Nicolau Maquiavel inaugura o realismo no pensamento político ocidental. Antes dele, talvez só o grego Tucidedes tenha abertamente defendido que o poder e a força sejam o critério de verdade da história, seja lá quais forem os vencedores de turno. O realismo da teoria política de Maquiavel fez escola, exercendo uma forte influência no pensamento social moderno. E um filósofo tão contemporâneo, como Michel Foucault poderia com facilidade ser definido como herdeiro de Maquiavel. Os revolucionários sociais também se ligam à forte influência da sua teoria política, senão não entenderíamos a obra de Marx, Lênin, Gramsci e outros.

Por que essa obra é um divisor de águas na história do pensamento político e social? - Por conta da chamada "ética das conseqüências" associada às famosas "razões de Estado". Antes de Maquiavel, tínhamos - sob a forte influência da Igreja Católica de Roma - uma "ética das convicções", que prejulgava a moralidade intrínseca das ações humanas, independentemente de seus resultados. Uma ação seria virtuosa e justa se fosse inspirada nos ensinamentos religiosos e morais da Igreja ou de seus interpretes autorizados. Mesmo que essa ação condenasse a morte milhões de súditos, num cálculo ou estratégia errada, ela não deixaria de ser considerada virtuosa, pois estaria em conformidade com os ensinamentos da Igreja. O que Maquiavel fez foi avaliar a moralidade ou a justeza de uma medida ou uma ação pública pelas conseqüências que ela provocou na sociedade ou no reino. A partir de Maquiavel l, a conduta dos homens públicos (chefes, reis e imperadores) passou a ser avaliada pelos resultados concretos, em vista das famigeradas "razões de Estado", e não pelos códigos morais e éticos utilizados pela religião e seus sacerdotes. Passou-se a admitir que na Política, haveria uma "zona cinzenta" onde se moveriam as autoridades públicas de difícil delimitação entre o certo ou errado, a não ser pelos resultados perseguidos pelos governantes; nem sempre muito claros para a maioria da população.

A "ética da conseqüência" levou a popularização e a vulgarização do célebre ditado: "os fins justificam os meios", entendendo-se que não há meios intrinsecamente bons ou maus, independentemente da consecução dos fins. E estes estariam foram de qualquer avaliação moral. Naturalmente, que aceitando tal postulado todo tipo de meio, para a consecução de um fim, poderia ser utilizado, desde que desse resultado. O que pareceria a um adepto de uma moral substancia lista ou metafísica, uma espécie de cinismo descarado. E seria se fôssemos aplicar tal critério às ações humanas no plano da vida privada.

Essa ética se apóia numa certa concepção da natureza humana, segundo o humanismo passional da Idade renascentista. Para esses pensadores humanistas, a natureza humana é imutável e caracteriza por um conjunto de atributos eternos, como a inveja, a ambição, a vaidade, a perfídia, o fingimento, o egoísmo etc. Segundo Maquiavel, os humanos seriam um misto de besta com anjo. E uma sociedade que ensinasse a cada um a se comportar apenas como anjo, estaria entregando os inocentes às garras dos lobos e das cobras. Uma educação realista teria que seguir o modelo do "centauro de Quiron": meio besta meio humano. Sob pena de sucumbir os inocentes diante da maldade dos injustos.

Mas apresentar o pensamento de Maquiavel só por este lado, seria de uma unilateralidade a toda prova. A "ética das conseqüências" definida por nosso autor deveria estar a serviço de um ideal, de uma utopia: a unificação nacional italiana e a República. Maquiavel não era um cínico ou um realista sem alma ou coração. Sua teoria realista da Política de do Estado estava a serviço de um ideal: o pensador florentino era nacionalista e republicano. Seu objetivo era libertar a Itália dos estrangeiros e da influência de Roma e evitar a perigosa desagregação política e territorial entre os diversos reinos italianos, alguns governados pela Igreja ou por príncipes estrangeiros.

Só quem não leu a exortação final de Maquiavel aos Borgias e o livro que escreveu intitulado: “Discursos da Segunda Década de Tito Lívio”, pode ignorar o lado utópico, sonhador, normativo e crítico do pensamento maquiaveliano. Aí, avulta, como diria Gramsci, o elemento criador, não apenas conquistador, do pensamento de Maquiavel. Em seu livro: Maquiavel, a Política e o Estado Moderno, Gramsci redefine o príncipe como o moderno partido político e ilumina o perfil do ilustre florentino, ao contrapor seu pensamento ao de Giuccardini, ao dizer que Maquiavel queria criar um novo equilíbrio de forças na Itália, enquanto o embaixador estava preocupado em manter o que já existia. Este é outro Maquiavel.

Infelizmente, os políticos e a Política contemporânea só ficaram com um pedaço da obra do pensador italiano: o realismo político. Despojaram a política de qualquer base normativa, e a transformaram num mero discurso estratégico, governado por imperativos de poder. Deixaram de fora toda base idealista, utópica, republicana, que ela possuía. Tornaram-se revolucionários sem causa, a serviço do poder pura e simplesmente. E ajudaram a popularizar a triste frase: "o fim justifica os meios", independentemente de que fins e de que meios. Os políticos modernos esqueceram o outro lado da obra. Apossaram-se do menos importante, inclusive abandonando as tipologias de forma de governo, apresentadas por ele. Como se Maquiavel fosse o apologeta das tiranias absolutistas, que perseguiam o poder pelo poder.

Está mais do que na hora de afastar o pensamento do florentino da Política como mero discurso estratégico, desprovido de pretensões de validade ética ou civilizadoras, e aproximá-lo das vertentes iluministas e contemporâneas, que vêm a Política como produção de um consenso democrático em torno de uma agenda do bem comum. Assim estaremos fazendo justiça a ele e dando uma vida à sua obra, destinada a durar muitos e muitos anos.

Sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco

A casa do "soft power" - Merval Pereira

Ao definir a Academia Brasileira de Letras como "a casa do soft power ", na abertura de mais um ciclo de debates, o historiador José Murilo de Carvalho deu a dimensão exata do papel que a ABL está assumindo na cultura nacional. A presidente da ABL, Ana Maria Machado, disse que o ciclo é uma maneira de a Academia tratar a cultura ligando tradição e futuro. O ciclo "Futuros do presente: o Brasil imaginado" começou na última terça-feira com palestra do ex-presidente e acadêmico eleito Fernando Henrique Cardoso sobre "o futuro nacional do Brasil", em que ele ressaltou a importância da cultura brasileira no relacionamento do país com a globalização, destacando que, no mundo multipolar atual, o soft power é mais importante que as guerras tradicionais.

O ciclo será coordenado por José Murilo e terá na sequência, sempre às terças-feiras, palestras de Marcelo Neri, sobre "o futuro social"; do professor da USP Jacques Marcovitch, "o futuro internacional"; e de Salviano Santiago, o "futuro cultural". José Murilo apresentou o ciclo falando sobre como os países tratam seu futuro: "Os países podem ser caracterizados de acordo com sua postura diante do tempo, isto é, pela maneira como veem, no presente, o passado e o futuro, e como tal visão afeta o presente".

Deu diversos exemplos: a China usa lentes poderosas, voltadas tanto para o passado quanto para o futuro. Seu presente é pautado pela consciência de séculos de História e por um projeto de futuro igualmente de longo alcance. Portugal usa um espelho retrovisor, consumindo seu presente na admiração de um passado de glórias. Os Estados Unidos construiu um passado que ajudou a empurrar o país para o futuro. A Inglaterra combinou de maneira pragmática a valorização da tradição com a abertura para a inovação, sem ambições messiânicas para o futuro.

Para José Murilo, o Brasil, "original em muitas coisas, o é também nesse quesito". No que se refere ao passado, "sofremos de Alzheimer precoce, nos esquecemos em alguns meses, no máximo em alguns anos, o futuro a Deus pertence, o presente é regido pela conselho de Horácio "carpe diem", goza o presente. A sequência do verso horaciano acrescenta "e confia o menos possível no futuro"".

Quando nos voltamos para o futuro, diz José Murilo, "é na forma da utopia do grande império, ou da grande potência, que não se conecta a políticas do presente". A intenção deste ciclo da ABL é, segundo José Murilo, "contrariar nossa relação estéril com o tempo e promover o exercício de visualizar o futuro que se relacione com o nosso passado e nosso presente".

O ciclo tem a inspiração no padre Vieira, quer fazer a história do futuro, ou melhor, quer explorar os futuros imaginados no presente. Para tal, "não procurou a ajuda de oráculos ou profetas, mas de especialistas e de pensadores do Brasil. A prospectiva, como a retrospectiva, são condições para o desenvolvimento de uma visão crítica do presente". Na sua visão de historiador, José Murilo citou os acontecimentos de junho de 2013, "que ninguém conseguiu prever", como demonstrações da "precariedade dos exercícios de predição quando estão em jogo ações humanas. Mas o fracasso da predição pode ter sido em parte devido à inadequação dos instrumentos de observação utilizados".

O ex-presidente Fernando Henrique sintetizou sua palestra no fenômeno da globalização, "quando é possível saltar fronteiras, não só no sentido de mercadorias, mas também de informações". Para ele, na situação atual "é muito difícil que os Estados controlem o desenvolvimento social no âmbito de seus territórios. As redes de relacionamento estão aí. Mesmo quando os Estados são autoritários, como na China, há 400 milhões de blogueiros na China. E as consequências estão aí nas ruas do Brasil, é uma coisa que escapa muito a tudo que é organizado, a tudo que é institucional".

Isso quer dizer que o futuro nacional do Brasil precisa, no contexto atual, da interação global. "E essa dialética entre o local e o global, entre o nacional e o internacional, é muito complexa e decisiva. Estamos passando por um momento que permite uma integração internacional, mas ao mesmo tempo reforça aspectos que são nacionais".

Para Fernando Henrique, a cultura passa a ter importância crescente como forma de identidade. Ele citou Joseph Nye, cientista político de Harvard, que chamou a atenção para a importância do soft power , a influência dos fatores culturais, que vai ter mais importância do que o hard power , com as guerras tradicionais. (Amanhã, a importância do soft power )

Fonte: O Globo

Degeneração na política - Fernando Rodrigues

O megaescândalo envolvendo tucanos em São Paulo com fraudes no Metrô é mais um capítulo da purgação pela qual passa o sistema político brasileiro pós-ditadura militar.

Não houve um único governo recente sem grandes escândalos de corrupção. José Sarney teve a licitação combinada da ferrovia Norte-Sul. Distribuiu emissoras de rádio e TV a políticos para garantir um mandato de cinco anos.

Fernando Collor sofreu um processo de impeachment. Seu vice, Itamar Franco, assumiu com reputação de homem limpo, mas, sob seu governo, eclodiu o caso dos "anões do Orçamento", com congressistas roubando à larga o dinheiro público.

Fernando Henrique Cardoso teve a compra de votos a favor da emenda da reeleição. Depois, as suspeitas de intervenção indevida na formação dos consórcios do leilão de privatização das empresas telefônicas.

Luiz Inácio Lula da Silva e o PT chegaram ao poder federal propondo moralizar as coisas. Protagonizaram o mensalão. Dilma Rousseff já demitiu ministros a granel, muitos suspeitos de corrupção.

O caso dos tucanos paulistas ajuda a compor a paisagem. O efeito colateral mais nefando é reforçar o estereótipo segundo o qual "todo político é ladrão". A parte boa é que cada vez mais esses episódios ficam conhecidos.

Observador da política por dever de ofício, não creio haver hoje governos mais corruptos do que no passado. A diferença é que agora ficamos sabendo um pouco mais como são as coisas --embora de maneira modesta.

O Ministério Público atuante, a Justiça implacável e novas regras como a Lei de Acesso à Informação são os melhores remédios contra a corrupção na política. Mas esse receituário só surte efeito de maneira muito lenta. Por essa razão, e essa é uma má notícia, é prudente esperar ainda uma piora do quadro geral antes de tudo melhorar.

Fonte: Folha de S. Paulo

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo

O voo do tucano
Apesar da crise que ronda o PSDB em São Paulo, por causa das denúncias de formação de cartel entre fornecedores do metrô paulista, o PSDB está eufórico com a pesquisa da Sensus sobre o cenário eleitoral nos estados de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro, considerado o Triângulo das Bermudas das eleições presidenciais.

Com 4,5 mil entrevistas, de 25 a 30 de julho, a pesquisa mostrou que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem o maior índice de intenções de voto entre os eleitores que dizem conhecer os quatro principais candidatos. O tucano teria 27,9% dos votos, a presidente Dilma Rousseff (PT), 21,3%; a ex-senadora Marina Silva (sem partido), 17,7%; e o governador Eduardo Campos (PSB), 3,8%.

Vem daí a estratégia de levar Aécio Neves às regiões Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste para torná-lo mais conhecido nos demais estados. A euforia é ainda maior, porque, considerando o total de eleitores — e não apenas os que conhecem os candidatos —, com 22,9% de intenções de voto, o tucano teria encostado em Dilma (25,2%) e ultrapassado, ligeiramente, Marina (21,5%). Esses três colégios eleitorais, os maiores do país, representam 40% dos eleitores.

Segundo turno
Num eventual segundo turno, Aécio abriria grande vantagem em Minas (52,7% a 28,6%), mas perderia para Dilma no Rio de Janeiro (31,4% contra 27,3%) e em São Paulo (33,3% a 27,4%).

Tendências
O diretor presidente do instituto Sensus, Ricardo Guedes, desde a crise do mensalão, vem antecipando com sucesso as tendências das eleições presidenciais.

Campanha, eu?// A presidente rebateu ontem as acusações de que estaria fazendo campanha eleitoral antecipada. "A troco de quê eu vou fazer campanha? Tenho que governar", afirmou Dilma, durante a inauguração de um campus universitário em Osório (RS).

Energia/ O governo federal sofreu a primeira derrota na Justiça para a Votorantim, Gerdau, Alcoa, Cemig e outras empresas na disputa pelo controle de oito usinas hidrelétricas. Por liminar, a juíza federal Cristiane Rentzch, TRF da 5ª região, manteve em poder das empresas as concessões.

Solidariedade/ A Controladoria-Geral da União (CGU) divulgou nota na qual manifesta "total confiança" no secretário de Prevenção da Corrupção do órgão, Sérgio Seabra, que teve a casa revistada na quinta-feira pela Polícia Federal. Ele é suspeito de envolvimento com o desvio de verbas da educação técnica no Paraná.

Contraponto
Dilma Rousseff voltou, ontem, a comemorar a criação de empregos em seu governo. Comparou os números com os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É uma estratégia do seu marqueteiro, o baiano João Santana. Enquanto cola a própria imagem à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma procura grudar a de Aécio Neves ao ex-presidente tucano.

Beiradas
A turnê nordestina de Aécio Neves começará por Salvador. Não é à toa: o tucano quer explorar as contradições entre o governador petista Jaques Wagner (foto) e o PMDB local. O tucano é amigo do ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), desafeto do petista que anda de namoro com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Outro que conversa com Aécio é o ex-ministro das Cidades e presidente do PP na Bahia, deputado Mário Negromonte.

Genéricos
O consumo de medicamentos genéricos para o controle da hipertensão arterial, entre janeiro de 2010 e abril deste ano, cresceu 190%

Fonte: Correio Braziliense

Panorama Político - Ilimar Franco

O sonho e a realidade
A candidatura de Marina Silva está por um fio. Seus aliados jogaram a toalha. Não creem mais na criação da Rede. A data limite, fixada pelo partido, para garantir a burocracia, vai se encerrar na quinta-feira. Nem a metade das assinaturas foi certificada. As portas do PV estão fechadas, e seu principal aliado, Fernando Gabeira, retirou-se da política. Sondado, o PPS está à espera de José Serra.

A mudança de eixo dos tucanos
Desde o fim do mandato do ex-presidente FH que os tucanos penam junto aos eleitores, suspeitos de descaso com as políticas sociais. Mas, agora, os estrategistas políticos do candidato do PSDB, Aécio Neves, sustentam que há "mudança de enfoque em relação às eleições de 2010". Esta foi detectada em pesquisa Sensus, aplicada em São Paulo, Rio e Minas. Nela, "50% (dos entrevistados) priorizam o desenvolvimento do país e 20% acham ser mais importante a continuidade da distribuição de renda". Quanto à área social, a pesquisa conclui: "80% acham que os programas sociais deveriam ser mais bem fiscalizados ou reformulados". Para o PSDB, a realidade mudou.

Não posso fazer uma proposta baseada no que acho. Tenho que sugerir mudanças que tenham o apoio da maioria - Alfredo Sirkis, deputado (PV-RJ), relator informal do grupo de trabalho da Câmara para a reforma política

O império tecnocrata
Está na conta do subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Ivo Corrêa, o alto número de vetos a projetos. Muitos negociados entre Planalto e senadores mas que, na hora de assinar, acabam rejeitados com explicações técnicas.

Guerra nos pampas
O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), que se desfiliou do PT na década de 90 por bater de frente com Tarso Genro, avisou ao seu partido que se licenciará se o PDT apoiar a reeleição do petista ao governo do Rio Grande do Sul.

Pé na estrada
Com a agenda focada no Rio, São Paulo, Ceará e Pernambuco nos dois primeiros anos de governo, a presidente Dilma foi aconselhada a visitar ao menos uma vez os estados em que nunca esteve: Mato Grosso, Roraima, Acre, Amapá e Espírito Santo. E deverá repetir compromissos em lugares onde foi uma ou duas vezes, como Tocantins, Amazonas, Paraíba e Santa Catarina.

Visibilidade
Os pré-candidatos do PSDB ao governo mineiro vão fazer agenda conjunta de viagens. Nenhum desponta nas pesquisas. Pimenta da Veiga, Nárcio Rodrigues, Marcus Pestana, Diniz Pinheiro e Alberto Pinto Coelho querem ser conhecidos.

Mudança de rota
A presidente Dilma antecipou para quinta-feira à tarde a viagem ao Rio Grande do Sul. Pediu ao seu piloto, o brigadeiro Joseli Parente, mapas meteorológicos e viu que a previsão no Sul na sexta-feira pela manhã era de tempestade.

Vou de táxi
A presidente Dilma sinalizou ao Congresso que não vai aceitar goela abaixo a derrubada de todos os seus vetos. O ministro Luís Inácio Adams (AGU) está armado para acionar o STF na maioria dos casos. O único veto que está sendo negociado, entre Planalto e Congresso, buscando evitar a judicialização, é a transferência por herança da concessão de táxis.

Para não dar entrevista
em seu apartamento, ontem, em Porto Alegre, a presidente Dilma transformou o salão de festas do prédio num gabinete.

Fonte: O Globo

Painel - Vera Magalhães

Jogo de empurra
O auditor fiscal Rodrigo Lacombe, que apreciou no Tribunal Superior Eleitoral as contas da campanha de Dilma Rousseff em 2010, afirmou ter apontado, à época, falta de documentos para comprovar R$ 2 milhões em gastos com passagens aéreas. Em depoimento no ano passado, Lacombe acusou a secretária de controle interno do TSE, Mary Ellen Gomide, de ter ordenado a supressão desse trecho do parecer. Segundo ele, Mary atribuiu a decisão ao ministro Ricardo Lewandowski.

Eu, não Ouvida por uma comissão de sindicância interna, em novembro de 2012, a ex-secretária do TSE negou ter pedido que Rodrigo Lacombe fizesse qualquer alteração no relatório. Também negou que Lewandowski tenha pedido mudanças.

Bula Em 2010, em resposta a e-mail da ex-diretora do TSE Patrícia Landi sobre problemas detectados na prestação, o ministro disse que, se o erros fossem de natureza "formal", as contas deveriam ser aprovadas com ressalvas, o que de fato ocorreu.

Como faz? Lewandowski ponderou que o plenário do TSE dificilmente iria contra parecer do órgão de exame de contas. "E, então, vamos estar com um problemão'', escreveu. "Não estamos lidando com as contas de um boteco de esquina, mas de um comitê de uma presidente com mais de 50 milhões de votos", disse, no e-mail.

Ressalva Por fim, na resposta à ex-diretora, o então presidente do TSE diz: "Se as contas apresentarem problemas sérios, como doações de fontes ilegais ou de lavagem de dinheiro, devemos agir com o máximo rigor possível". Lewandowski não foi encontrado ontem pela coluna para comentar o caso.

A favorita 1 Em entrevista ao programa É Notícia'', que vai ao ar à 0h30 de domingo para segunda-feira na Rede TV!, Luis Fernando Veríssimo afirma que Dilma deve ser reeleita e que considera improvável a hipótese de candidatura de Lula.

A favorita 2 "Seria até um erro se tentasse voltar o Lula", diz o escritor, que elogia o governo, mas diz que Dilma perdeu o ímpeto'' de punir casos de corrupção que demonstrou nos primeiros anos de seu mandato.

Redução... Apesar de lutar contra a criação de uma CPI para investigar a formação de cartel em licitações de trem e metrô em São Paulo, a bancada do governo Geraldo Alckmin na Assembleia Legislativa deve aprovar convite para ouvir o secretário Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) na Comissão de Transportes.

... de danos Os tucanos acreditam que, assim, enfraquecem o discurso da oposição, que insiste na criação de uma CPI para apurar as acusações que abrangem as administrações tucanas no Estado desde 1999. A Comissão de Transportes é presidida por João Caramez (PSDB).

Vem... A cúpula do PT admite que as manifestações de junho fortaleceram a imagem do senador Eduardo Suplicy e tornaram de alto risco uma decisão partidária para impedir sua candidatura à reeleição em 2014.

...pra urna Os petistas queriam ceder a vaga na chapa a algum aliado, mas agora dizem que ele pode representar a voz das ruas. Também acham que rifar o senador em nome de uma costura política pode dar uma imagem negativa ao partido.

Visita à Folha Renato Lessa, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de José Castilho Marques Neto, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura do Ministério da Educação.

Tiroteio
"Cármen Lúcia afirma que não sabia do convênio com a Serasa. Será que não se aplica nesse caso a teoria do domínio do fato?"
DO DEPUTADO CARLOS ZARATTINI (PT-SP), comparando a declaração da presidente do TSE à tese usada por ministros do STF para condenar José Dirceu.

Contraponto
Sem perder a viagem

A presidente Dilma Rousseff concedia entrevista a rádios do Rio Grande do Sul ontem, quando foi questionada sobre um novo aporte de recursos do governo federal para a construção do metrô de Porto Alegre.

Como a verba integra o Pacto da Mobilidade, havia expectativa de que Dilma aproveitasse a ida ao Estado para anunciar o investimento, o que não ocorreu.

--Seria correto dizer que desta vez não haverá anúncio? --perguntou um jornalista.

--Claro que tem. Estou anunciando, nesta viagem, que vai ter anúncio na próxima! --respondeu Dilma.

Com Andréia Sadi e Bruno Boghossian

Fonte: Folha de S. Paulo

Sem margem de manobra - Miriam Leitão

Alguns países vizinhos estão com a inflação na meta ou abaixo da meta e, por isso, enfrentam esse período de alta do dólar baixando os juros e permitindo a desvalorização cambial. O Brasil entrou nesse choque externo, da mudança do fluxo de capitais, sem espaço para isso por causa da inflação elevada. Essa é a avaliação de Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco.

Ele acaba de voltar de uma viagem ao Chile e conta que o país está com 2% de inflação, abaixo da meta de 3%. O México, que passou por um período acima da meta, está agora com a taxa convergindo para o centro e lá o espaço de flutuação é de 2% a 4%. A Colômbia está com inflação abaixo da meta; e o Peru, com a taxa em 2%.

- O que mais me preocupa agora é que o Brasil está entrando num período de choque externo sem margem de manobra para a política monetária, por causa da inflação alta.

Por choque externo ele define os primeiros indícios emitidos pelo Federal Reserve de mudança da política de expansionismo fiscal. Ele vai deixar de comprar US$ 85 bilhões por mês de títulos, operação pela qual ele jogava mais dinheiro no mercado. Com o fim dessa política, a tendência é de fortalecimento do dólar. Como o mercado sempre antecipa o movimento, as moedas já estão perdendo valor em relação ao dólar, porque o fluxo de capitais começou a se inverter. Está indo mais dinheiro para os Estados Unidos, saindo dos mercados emergentes.

- Em momentos assim, o ideal é ter espaço para deixar a moeda se desvalorizar. Isso normalmente produz um pouco de inflação, mas se a taxa estiver baixa não há problema. Em compensação, se tem um aumento da competitividade das exportações pela alta do dólar - diz Ilan.

Como o Brasil chegou nesse momento com uma inflação em torno de 6% a 6,5%, está sem espaço para fazer essa política de ajuste.

- México e Chile estão pensando em baixar juros, ninguém está subindo juros, exceto o Brasil, exatamente porque é apanhado neste momento com a inflação alta demais - diz Ilan.

Isso sem falar em outros problemas, como o da gasolina. Porque o governo eliminou a Cide, que era o colchão que amortecia as altas do petróleo e do dólar, todo o custo da desvalorização está sendo pago pela Petrobras, que está importando gasolina a um preço maior do que pode revender às distribuidoras no Brasil. O rombo da Petrobras por causa disso, e pelo adiamento do registro de importações do ano passado, já é de US$ 15 bilhões.
Com isso, o Banco Central não apenas está subindo os juros, como está intervindo quase diariamente no mercado cambial, vendendo contratos futuros de dólar para evitar a apreciação forte da moeda americana que acabe impactando mais a inflação.

O risco Brasil medido pelo CDS - a compra de seguro contra a dívida brasileira - aumentou. O mercado internacional já começa a colocar no preço o risco de um rebaixamento do Brasil. Ilan disse que isso seria preocupante, se estivesse próximo de o Brasil deixar de ser considerado grau de investimento, mas não há essa perspectiva no momento.

- O Brasil está dois níveis acima do ponto em que é considerado grau de investimento (em que a dívida de um país é recomendada como bom investimento). Das três agências de risco, a Standard & Poor´s colocou o Brasil em perspectiva negativa, indicando que pode rebaixar; a Moody´s está com perspectiva positiva; e a Fitch está neutra. Mesmo se for rebaixado, continuará sendo grau de investimento - diz Ilan.

De fato, a perspectiva de perder essa classificação é remota, mas qualquer rebaixamento não será um bom evento. Aumentará o pessimismo em relação ao Brasil num momento em que os capitais estão saindo dos mercados emergentes.

Os pontos-chave
1. Na opinião de Ilan Goldfajn, o Brasil está sem margem de manobra para enfrentar a alta do dólar
2. Alguns vizinhos estão reduzindo juros e com a inflação na meta. No Brasil, é o oposto
3. O dólar subindo aumentaria a competitividade do país, mas a inflação já está alta

Fonte: O Globo

Visões de um pensador generoso - Roberto Romano

Celso Lafer reverencia o filósofo Norberto Bobbio e suas ideias sobre direitos humanos e tragédias da humanidade

Blaise Pascal critica os escritores que, ao falar dos seus textos, enchem o peito e dizem "meu livro, meu comentário, minha história, etc". Doença dupla: personalidade inchada e ignorância da cultura. Eles fariam melhor se grafassem nos títulos: "Nosso livro, nosso comentário, nossa história". Naqueles escritos "há maior parcela do bem alheio do que do próprio". "O eu é odioso" quando se imagina único na ordem física e humana. O ego inflado condena ao papel de "ridicolosissimo eroe".

Corroborando as teses pascalinas, o etnólogo Leroi-Gourhan mostra que o espírito e a técnica negam a originalidade absoluta. Só inventa, diz Gourhan, quem empresta. E só empresta quem sabe inventar. Em tal círculo, a humanidade recolhe indivíduos e coletivos geradores de novos sentidos e significações, gestos e máquinas, signos e filosofia.

A ética evocada acima tem um nome: generosidade. Quem se julga fonte de todos os enunciados é avarento cultural, pois acumula ideias, mas nada produz para os demais seres pensantes. É o intelectual formiga criticado por Francis Bacon: reúne fatos ou temas e não os sintetiza. O pensamento generoso opera como as abelhas. Segundo Bacon, Platão, Horácio, do néctar elas produzem o mel nutritivo. Marca do pensador generoso é a busca, nos que pensaram antes, do alimento que, digerido, nutrirá os vindouros.

Maquiavel é um pensador generoso. Basta recordar sua carta ao amigo Vettori (de 10/ 12/1513). Após um dia rotineiro "entro em meu gabinete; no vestíbulo me despojo das roupas diárias, envergo minhas vestimentas reais e curiais. Coberto decentemente, entro nas cortes antigas dos homens antigos onde, recebido por eles com amizade, sou alimentado pela comida que é só minha e para a qual nasci". E assim, "redigi um opúsculo, De Principatibus...". O "livrinho" modificou o modo de pensar a história, a política, a religião, a moral. Mas foi gerado no banquete com Aristóteles e Platão, os gigantes do pensamento. O pensador generoso não morre, diz Elias Canetti. Ele se oferece "aos vivos como o mais nobre dos alimentos". Assim deve ser lida a advertência de Pascal: quem chega à essência da cultura é saciado pelos que vieram antes, transmite vida aos sucessores, transporta almas e corpos.

No livro publicado pela Editora Perspectiva, escrito com extremo bom gosto e acuidade por Celso Lafer, temos o encontro de vários pensadores generosos. O principal é Norberto Bobbio, homem reto do século 20, dos poucos que podem ser postos ao lado de Sartre, Raymond Aron, Bertrand Russell, no diminuto panteão dos paradigmas éticos e políticos daquele século. Perceptível em todas as páginas a presença de outra generosa escritora, Hanna Arendt.

Após um delicado capítulo inicial, em que trata Bobbio como autoridade (no sentido dado por Arendt e pela tradição humanística), Lafer segue o filósofo na sua vida e reflexão polifacetadas. Bobbio como professor, tal como surge na autobiografia, antecipa os pontos fortes dos seus esforços em busca da paz (reatualização de Erasmo, Kant, Saint-Pierre e outros luminares modernos). A procura da paz verdadeira passa pela compreensão da guerra e, portanto, por um diálogo com Hobbes, eterno aguilhão das consciências adormecidas. Toda a parte segunda do livro é uma inspeção dramática das tragédias vividas pela humanidade no fato bélico, e das contribuições de Bobbio para o entendimento do máximo delírio coletivo. Como dedução lógica e histórica, vêm as belas e realistas visões do pensador sobre os direitos humanos, tão vilipendiados no século 20 e nos dias atuais. Daí, como em imenso silogismo, temos os espinhosos problemas jurídicos e políticos expostos por Bobbio segundo as regras da mais fina sprezzatura, educada claridade sem exibicionismos técnicos ou eruditos que afastem o público dos reais problemas.

Em nenhum prisma Bobbio se encastela no ego ou na seita. Ele expõe com rigor o pensamento do qual discorda, sem reduzi-lo à desimportância ou à hostilidade. A presença de um terceiro como instrumento de acordo e debate é uma das suas intuições mais ricas. A linha retomada por ele é o senso da complexidade, que recorda o anseio pelo concreto em Hegel e Marx: "O concreto é síntese de múltiplas determinações, unidade do diverso". O senso do concreto o distancia dos extremos em sua fúria. Ele pratica a dúvida metódica, odiada pelos entusiastas.

Se Bobbio não se esconde nas prisões do ego, nem por isso deixa de valorizar a ordem subjetiva. A identidade no coletivo, adianta Lafer em sua bela análise, traz as semelhanças. O individual oferta as diferenças. O mundo do espírito não sobrevive sem a tensa harmonia dos opostos, lição antiga como o pensamento do Ocidente.

Em tempos vincados pelos egoísmos, mas paradoxalmente tragados em massas físicas ou virtuais, vale a pena ler Norberto Bobbio reapresentado aos brasileiros por Celso Lafer, um intelectual cujo pensamento é dos mais generosos e agudos no Brasil. "Da observação da irredutibilidade das crenças últimas extraí a maior lição da minha vida. Aprendi a respeitar as ideias alheias, a deter-me diante do segredo de cada consciência, a compreender antes de discutir, a discutir antes de condenar." Bobbio, aduz Lafer, "arremata a frase dizendo em tom confessional que detesta os fanáticos". Entre o liberalismo sem freios e o socialismo sem limites, Bobbio indaga as razões de ambos, busca alternativas que não conduzam ao extermínio do outro pelos arautos do mesmo. Se todos seguissem tal paradigma, o mundo seria mais generoso, cultivado, polido e… humano.

Roberto Romano é professor de filosofia da Unicamp

Fonte: Caderno 2 / O Estado de S. Paulo

O campo inglês - Ivan Alves Filho

Não conheço local mais apropriado para alguém escrever um livro do que o campo inglês. Talvez não haja recanto mais bucólico do que aquelas terras verdejantes cortadas por riozinhos de águas transparentes e atravessadas por estradinhas que serpenteiam vales e montes.

Passear pelo campo inglês é encontrar, perdidas na paisagem, casinhas rústicas de paredes cinzentas e janelinhas pintadas de branco. Acolhedoras, elas provocam no viajante uma imediata sensação de intimidade. Imagens encantadoras povoam então a sua memória. Como esquecer aquelas cenas formadas pelas ovelhinhas que, distraidamente, pastam pelos campos? Ou o vôo livre dos pássaros e das borboletas, em espetáculo quase estonteante? O campo inglês é uma terra de fundos silêncios, onde podemos descansar prazerosamente à sombra de árvores centenárias, fincadas no alto das colinas.

E o melhor é que a literatura captou a beleza e a plenitude da vida campestre inglesa. Nutriu-se dela. A ponto de se desenvolver na Inglaterra uma novelística de base pastoril.

Curiosamente, a maior nação exportadora de produtos manufaturados do planeta voltava-se para o mundo rural. Se a revolução Industrial e o domínio dos mares significavam as principais características da economia inglesa, os vilarejos recônditos e a calma dos campos se apresentavam como a marca maior da sua literatura. Ou seja, mais as cidades se tornavam duras, poluídas e superpovoadas, mais a imaginação dos escritores clamava por lugares sossegados para se viver. Os escritores descobriam as verdadeiras fontes da vida: simplicidade, natureza, paz.

Romances como Tess, de Thomas Hardy, e Razão e sensibilidade, de Jane Austen - para ficarmos apenas nesses dois monumentos da literatura pastoril - nos ensinam que a arte existe para tornar nossas vidas efetivamente aprazíveis e serenas. As mudanças que desejamos por vezes operar no mundo real, nós as realizamos inicialmente na literatura e na arte. O imaginário sempre dá o primeiro passo para a transformação do mundo. Assim penso.

É que os livros, como os lírios dos campos, só podem ser livres.

Ivan Alves Filho, historiador e jornalista.

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Astor Piazzolla, Verano Porteno

Mignon - Goethe

Conheces a terra de limões em flor?
Nas escuras folhas brilha áurea cor,
Um vento débil sopra desde o céu,
Silente murta e alto louro ao léu,
Acaso tu o conheces?
É para lá
Que desejo, meu amor, contigo escapar.

Conheces a casa de salas brilhantes?
Telhas sobre vigas e quartos fulgurantes.
Observam seres pétreos que me pedem
‘Criança, pobre, diz-nos o que lhe fizeram?’
Acaso tu a conheces?
É para lá
Que quero, meu protetor, contigo escapar.

Conheces a montanha e suas nuvens?
A mula busca a estrada entre a névoa,
Dragões em tocas, grassa a velha raça,
Uma pedra cai e sobre ela um dilúvio,
Acaso a conheces?
É para lá
Que nos leva a vida! Ó pai, devemos partir!