terça-feira, 23 de junho de 2015

Opinião do dia – Ricardo Noblat

A crise deriva de erros cometidos por Lula e Dilma. O pai da crise é ele. A mãe, ela. De nada adianta Lula sugerir a Dilma que vá para a rua falar com o povo. Ela não tem o que dizer. O PT, tampouco. Envelheceram o discurso e os métodos do Sr. "Brahma", como Lula foi chamado por alguns empreiteiros. É um ciclo político que se esgotou. Apenas isso, e nada mais.

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Ricardo Noblat é jornalista. No artigo ‘Fini!’. O Globo, 22 de junho de 2015.

Pela 1º vez, maioria é contra norma que permite reeleição

• 67% são contra instituto que possibilita recondução ao cargo, diz Datafolha

• Oposição ao voto obrigatório bate recorde histórico, mas modelo foi mantido na reforma política da Câmara

Ricardo Mendonça Editor-adjunto de "Poder" – Folha de S. Paulo

Pesquisa Datafolha mostra alterações contundentes de opinião da população a respeito de dois temas da reforma política, pacote hoje em discussão no Congresso.

Primeira: o apoio majoritário ao instituto da reeleição desapareceu. Segunda: a rejeição à obrigatoriedade do voto bateu o recorde da série de pesquisas a respeito.

O apoio maciço ao fim da reeleição é inédito. Na primeira pesquisa sobre o tema, em 2005, 65% foram a favor do direito do presidente concorrer a um novo mandato. Era véspera do ano eleitoral que teria o então presidente Lula concorrendo mais uma vez.

Dois anos depois, com Lula já reeleito, o apoio à reeleição recuou sete pontos, mas continuava sendo uma opinião compartilhada por mais da metade do eleitorado.

Agora, com a presidente Dilma Rousseff recém-reeleita batendo recorde de rejeição (65% a desaprovam), só 30% são favoráveis à reeleição.

Já os contrários pularam de 39% para 67% desde o último estudo. Opiniões sobre reeleição para governadores e prefeitos são quase idênticas.

"A rejeição a Dilma pesa, mas não só. Há um contexto muito forte de rejeição geral à política, que vem desde junho de 2013", diz o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino,

Na Câmara, a extinção da reeleição foi aprovada em maio pelo elástico placar de 452 votos a 19. Para vigorar, a regra precisa passar por nova votação na Casa e, depois, ser aprovada pelo Senado.

Outro resultado que coaduna com o sentimento de rejeição à política é o recorde de oposição ao voto obrigatório, que passou de 54% para 66% desde outubro de 2014.

O comportamento da Câmara, nesse caso, foi na contramão da opinião popular. A ideia do voto facultativo foi derrotada por 311 votos a 134.

O Datafolha também perguntou aos eleitores se eles iriam votar se não fosse obrigatório. De cada dez, seis responderam que não votariam.

É importante notar, nesse caso, que não se trata de uma opinião homogênea na sociedade. Se o voto fosse facultativo, são os mais pobres e os os menos escolarizados os que mais deixariam de votar.

Na fatia dos que têm renda familiar mensal acima de dez salários mínimos, 62% votariam mesmo se fosse opcional. Entre os que estão abaixo de dois salários, só 35% votariam. Diferenciação parecida ocorre na segmentação por escolaridade. Entre os que têm ensino superior, 56% votariam. No grupo dos que têm até o fundamental, 34%.

Nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório, o fenômeno é conhecido. Os mais pobres têm, proporcionalmente, participação menor.

O Datafolha também perguntou sobre a alteração do tempo de mandato dos políticos. A maioria (53%) disse ser favorável a cinco anos para todos os cargos eletivos, como aprovado pela Câmara.

A pergunta feita pelo instituto, porém, pode ter contaminado parte das respostas, admite Paulino. Isso porque, antes de colocar a questão, os entrevistadores informavam aos entrevistados que "políticos eleitos têm um mandato de quatro anos, com exceção de senadores, que têm mandato de oito anos".

Assim, fica impossível separar os que responderam mais motivados pelo desejo de reduzir os mandatos de senadores daqueles que podem ter respondido motivados pelo desejo de aumentar os mandatos dos demais políticos com cargo eletivo.

O Datafolha ouviu 2.840 pessoas nos dias 17 e 18 de junho. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

Câmara deu aval a 14 mudanças em reforma política

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Prometida como resposta aos protestos de rua iniciados em junho de 2013, a atual reforma política na Câmara já aprovou parcialmente 14 alterações.

Uma das principais é o fim da reeleição para cargos do Executivo a partir das eleições de 2016. Os deputados também aprovaram a unificação dos mandatos eletivos em cinco anos, com prazo de transição até 2027.

Essas duas medidas, porém, correm risco de serem derrubadas no Senado, já que estabelecem, ao final, a redução do mandato dos senadores de 8 para 5 anos.

Outra mudança aprovada pelos deputados é a inclusão de doações eleitorais de empresas na Constituição. Essa alteração deve ser mantida pelos senadores.

Os deputados aprovaram também a obrigatoriedade de impressão do voto e regras de alcance restrito como a permissão para que policiais militares e bombeiros possam voltar à ativa caso não sejam reeleitos.

Por serem propostas de emenda à Constituição, essas alterações precisam ser votadas de novo pelo plenário da Câmara, o que deve ocorrer no próximo mês.

Registros apontam encontros de 21 políticos investigados na Lava Jato com direção da Petrobrás

Beatriz Bulla e Talita Fernandes - O Estado de S. Paulo

• Ao todo foram 121 visitas, a maioria do deputado Aníbal Gomes a Paulo Roberto Costa, um dos delatores da operação

BRASÍLIA - Registros de entrada e saída do edifício-sede da Petrobrás no Rio de Janeiro, solicitados por investigadores da Operação Lava Jato, apontam encontros de parlamentares investigados por suposta participação no esquema com o ex-diretor da petroleira Paulo Roberto Costa e outras autoridades, inclusive com a ex-presidente da estatal, Graça Foster.

A Polícia Federal solicitou os registros da portaria do prédio a partir de 2007. Não foram verificados dados do escritório da estatal em Brasília. Os investigadores analisaram o registro de entrada dos 39 investigados no inquérito que corre perante o Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar suposta formação de quadrilha. No total, dos investigados, 21 políticos estiveram na sede da estatal em 124 visitas.

A investigação aponta mais de 45 registros de entrada do deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE). O parlamentar é apontado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos delatores da Operação Lava Jato, como um "interlocutor" do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no contato com a diretoria da estatal. A maioria dos encontros de Gomes foi com o próprio Paulo Roberto Costa.

Gomes se reuniu também com o ex-diretor Néstor Cerveró, com o ex-gerente executivo de Comunicação Institucional da estatal Wilson Santarosa e com o ex-diretor José Alcides Santoro. Não foram encontrados registros de entrada de Renan Calheiros no período analisado.

Depois de Aníbal Gomes, o político investigado no inquérito relativo a formação de quadrilha que esteve mais vezes na Petrobras foi o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), que tem 12 registros de entrada no prédio da estatal, onde esteve reunido com Paulo Roberto Costa. O parlamentar do PP também se encontrou com o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, que já confessou ter recebido propinas em contratos da Petrobras com empreiteiras, além de ter se reunido segundo os registros com o ex-presidente da empresa José Sérgio Gabrielli e com o ex-gerente Djalma Rodrigues.

Foram contabilizados ainda no prédio da empresa dez registros de entrada do senador Ciro Nogueira (PP-PI) com visitas a Paulo Roberto, Djalma Rodrigues, Barusco e também à ex-presidente da estatal Graça Foster. Também foram registradas dez entradas do deputado José Otávio Germano (PP).

O lobista Fernando Baiano esteve cinco vezes no prédio da estatal, sendo que os investigadores destacam um encontro com Paulo Roberto Costa no qual ele estaria representando a empresa Iberbras. "É possível que se trate da empresa Iberbras Integración de Negócios Y Tecnologia S.A., citada na denuncia do MPF como uma das destinatárias dos pagamentos oriundos da offshore Piemon Investment Corp, no Banco Winterbothan, no Uruguai, de propriedade de Julio Camargo", escrevem um agente e um escrivão da PF que analisaram o material.

O senador Edison Lobão (PMDB-MA) esteve no prédio como ministro de Minas e Energia duas vezes, uma com Gabrielli e outra com Graça. Mais dois senadores peemedebistas estiveram no prédio da Petrobras: Romero Jucá (RR), cinco vezes, e Valdir Raupp (RO), três vezes.

PP. Vários parlamentares e ex-parlamentares do PP investigados frequentaram a Petrobras. O deputado do PP e ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PB) teve duas entradas para falar com Paulo Roberto Costa. Também foram duas vezes ao prédio da Petrobras no Rio o senador do PP Benedito de Lira (AL), o deputado do partido Jerônimo Goergen (RS) e o ex-deputado da sigla, Luiz Argôlo . O ex-deputado do PP João Pizzolatti entrou três vezes na Petrobras.

Entraram uma vez no prédio os deputados do PP Arthur de Lira (AL); Waldir Maranhão (MA); Luiz Fernando Faria (MG), Nelson Meurer (PR), Roberto Egídio Balestra (GO), Simão Sessim (RJ) e os ex-deputados do partido Pedro Corrêa e Pedro Henry.

Também do PP, a ex-deputada Aline Corrêa tem registro de entrada na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Já os deputados Sandes Júnior (GO) e Luiz Carlos Heinze (RS) têm cadastro na sede da estatal, mas não possuem registro de entrada. Não foram encontrados registros de entrada dos demais investigados, caso, por exemplo, de Calheiros e do ex-tesoureiro do PT João Vaccari.

Outro lado. O advogado do deputado federal Aníbal Gomes não atendeu a ligação da reportagem. Já o responsável pela defesa de Eduardo da Fonte (PP), Hamilton Carvalhido, afirmou que o cliente esteve em vários dias na Petrobras para tratar de assuntos do interesse dos eleitores dele e foram "visitas institucionais".

Marcelo Bessa, advogado de José Otávio Germano e de Luiz Fernando Faria, ambos do PP, afirmou que os clientes já prestaram os devidos esclarecimentos sobre o assunto. O advogado Nélio Machado, que defende Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, afirmou que o fato de o cliente nunca negou conhecer pessoas da Petrobras e o fato de ter entrado na estatal não é comprovação de irregularidade.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que seus clientes visitaram a Petrobrás para tratar de assuntos de interesse dos Estados que eles representam e que as visitas foram confirmadas pelos parlamentares nos depoimentos prestados à Polícia Federal. "A Petrobrás ainda não era um ser que passava câncer para quem a visitava. Ela não era leprosa.
Naquela época nós estávamos falando da maior empresa do Brasil", disse. Kakay atua na defesa dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB-MA).

O advogado do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o criminalista Roberto Podval, disse à reportagem que a quantidade de vezes que o deputado foi à Petrobrás "só demonstram a sua inocência". "Durante todo esse período ele só foi duas vezes", disse. Segundo o advogado, uma das visitas foi feita para manter os serviços de um porto na Paraíba e outra para apresentar um projeto para que a mão de obra de seu Estado fosse aproveitada em uma unidade da Petrobrás, projeto que não foi para frente. Os demais advogados não foram localizados em razão do horário.

Em acareação, delatores confirmam pedido de R$ 1 milhão de ex-ministro

• Paulo Roberto Costa ficou frente a frente com o doleiro Alberto Youssef por 10 horas, na Polícia Federal, em Curitiba, para tratar de pontos conflitantes de delações

Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Fausto Macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa sustentou em acareação com Alberto Youssef nesta segunda-feira, 22, em Curitiba, que o ex-ministro de Comunicação Paulo Bernardo solicitou R$ 1 milhão para o esquema de cartel e corrupção na Petrobrás. Peças centrais nas investigações da Operação Lava Jato, os dois ficaram frente a frente por cerca de 10 horas para confrontar versões conflitantes de suas delações premiadas, em relação ao envolvimento de políticos.

Nesta terça-feira, 23, os dois vão detalhar o suposto pagamento de R$ 2 milhões a pedido do ex-ministro Antônio Palocci em 2010. A Lava Jato apura se a beneficiária foi a campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010.

Os dois farão acareação ainda na quarta-feira e na quinta-feira, tratando de outros pontos que não são convergentes entre as duas delações, como o envolvimento do ex-ministro Edison Lobão, do PMDB.

Os três ex-ministros são alvos de inquéritos abertos a partir de março dentro do conteúdo das delaçõres premiadas fechadas por Costa e Youssef no Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, os pedidos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foram para abertura de inquérito contra Lobão e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) – suposta beneficiária do pedido feito por Bernardo. No caso de Palocci, o STF remeteu o caso a Curitiba, onde foi aberto inquérito.

A acareação é conduzida por um delegado da PF de Brasília, onde são conduzidos os inquéritos sob a guarda da força-tarefa criada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os termos são colhidos no âmbito dos inquéritos que sobrem no Supremo Tribunal Federal (STF), envolvendo políticos, e que estão em fase inicial.

O ex-diretor e o doleiro são condenados da Lava Jato acusados de serem braços do PP no esquema de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro na Petrobrás, entre 2004 e 2012 – com pagamentos acontecendo até 2014.

Costa cumpre prisão em regime domiciliar no Rio. Ele chegou por volta das 9h30 na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba – sede das investigações da Lava Jato. Deve permanecer em um hotel de Curitiba, durante a semana.

Confirmação. Em relação a Paulo Bernardo, os delatores apontam o pagamento de R$ 1 milhão para a campanha de 2010 da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), que foi eleita senadora naquele ano. Bernardo, que é marido da senadora, fez a solicitação
Um dos pontos de divergência explicado foi o de quem efetivamente teria entregue os valores pedidos por Paulo Bernardo. O doleiro não ter sido ele pessoalmente o efetivador das entregas.
Os depoimentos dos dois delatores foi convergente na maioria dos pontos abordados. “São informações que não chegam a ser contraditórios”, afirmou um dos advogado de Youssef, Tracy Reinaldet.

Com a palavra, a defesa
Paulo Bernardo não foi encontrado para comentar o assunto nesta segunda-feira. Em outras ocasiões, ele afirmou que “não pediu nem recebeu qualquer importância” do doleiro Alberto Youssef.

A senadora Gleisi Hoffmann tem sustentando que desconhece Youssef e que “todas as doações constam na prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral.”

Empreiteiras fizeram repasses suspeitos a operador que contratou Dirceu

• Consórcio formado por Odebrecht e UTC repassou R$ 1,5 milhão para empresa de alvo da Lava-Jato

Cleide Carvalho – O Globo

SÃO PAULO - A Jamp Engenheiros Associados, empresa de Milton Pascowitch que pagou cerca de R$ 1,4 milhão à consultoria do ex-ministro José Dirceu, também recebeu dinheiro de consórcio formado pelas empreiteiras Odebrecht e UTC. Segundo o juiz Sérgio Moro, há “fundada suspeita” de que o repasse tenha sido direcionado a dirigentes da Petrobras.

O consórcio PRA 1-Módulos repassou, em 2004, R$ 1.533.375 para a Jamp. O mesmo valor teria sido transferido pelo consórcio à Rio Marine, de Mário Goes, também apontado pelo Ministério Público Federal como operador de propinas pagas com dinheiro de obras da Petrobras. Goes teria atuado também para a Andrade Gutierrez, outro alvo da 14ª fase da Lava-Jato.

“Em ambos os casos, há fundada suspeita de que esses repasses, efetuados por pagamentos de consultoria, visavam apenas dar aparência lícita do pagamento de propinas a operadores, depois direcionados aos dirigentes da Petrobras”, escreveu Moro no despacho que levou à prisão dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, na última sexta-feira.

Goes e Pascowitch, diz o MPF, “eram responsáveis por intermediar pagamentos de propinas e lavar o dinheiro oriundo dos crimes de fraude à licitação e cartel. A partir dos recebimentos de valores das empreiteiras em suas contas, fundamentados em contratos falsos de consultoria que buscavam conferir aparência lícita aos pagamentos, eles repassavam os valores” a servidores e políticos.

Pascowitch é um dos investigados da Lava-Jato e está preso no Complexo Médico Penal do Paraná. Semana passada, o advogado de Dirceu, Roberto Podval, disse que Pascowitch pagou R$ 400 mil como entrada para compra do escritório da consultoria do ex-ministro, a JD. Podval disse que Dirceu prestou serviços à Engevix, onde Pascowitch trabalhou, e que posteriormente o cliente resolveu transferir o contrato de consultoria da JD para a Jamp. Segundo ele, nos dois casos Dirceu prestou serviços de prospecção de negócios no exterior, sobretudo na América Latina.

O MPF identificou pagamentos de R$ 78.753.337,58 feitos pela Engevix à Jamp entre 2004 e 2014. A PF já havia identificado também pagamento de R$ 2,6 milhões feito pela UTC à Jamp.

A empresa de Pascowitch também recebeu R$ 281.465 da GDK, a mesma que doou um Land Rover a Sílvio Pereira, ex-secretário geral do PT, fato apurado no mensalão. A Jamp também transferiu dinheiro à D3TM, de Renato Duque, e à Costa Global, controlada por Paulo Roberto Costa.

A Odebrecht disse que “nunca manteve contrato com a Jamp nem com a Rio Marine”. A UTC afirmou não comentar “investigações em andamento”. O advogado de Pascowitch não foi encontrado.

Doleiro Youssef identificou a investigadores pagamentos da Odebrecht

• Montante seria de US$ 4 milhões, repassado a uma empresa de fachada

Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - O doleiro Alberto Youssef identificou para os investigadores da Operação Lava-Jato depósitos de US$ 4 milhões que teriam sido feitos pela Odebrecht para uma empresa de fachada usada no esquema. Segundo o doleiro, o montante fazia parte de acordo para o pagamento de R$ 7,5 milhões em propinas no exterior. A Odebrecht nega ter feito pagamentos a ex-diretores da Petrobras ou a “supostos intermediários”. Os documentos referentes aos depósitos fazem parte do processo que levou à prisão de dirigentes da empreiteira semana passada.

Os depósitos identificados por Youssef são em uma conta da RFY Import & Export, empresa de fachada controlada por Leonardo Meirelles, dono do laboratório Labogen. Meirelles admitiu ter feito operações superiores a US$ 100 milhões para Youssef no exterior, mas disse que precisava ir ao exterior para tentar identificar nos extratos a origem dos pagamentos. Youssef apontou aos investigadores oito repasses entre setembro de 2011 e maio de 2012 que teriam a Odebrecht como fonte originária.

Os extratos são de uma conta no Standard Chartered, de Hong Kong. Não há nomes de quem fez o depósito, apenas números. Os extratos foram anexados ao inquérito que levou à prisão dos executivos. Foram destacados com caneta marca-texto os depósitos que seriam da Odebrecht. Os extratos foram apreendidos pela PF em março de 2015, no escritório de uma das empresas de Youssef, a GFD Investimentos.

Youssef afirma que Cesar Rocha, diretor financeiro da holding da Odebrecht, era o responsável pelos pagamentos. Diz que o acerto era referente a propinas devidas pela empresa pelos contratos firmados para obras na refinaria Abreu e Lima (PE) e no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj).

Em nota, a Odebrecht contestou Youssef e negou ter feito os pagamentos: “A CNO reafirma que não fez nenhum tipo de pagamento ou depósito para ex-diretores da Petrobras e seus supostos intermediários. As acusações de réu confesso em dezenas de processos que tramitam na Justiça Federal do Paraná são mentirosas. Todos os contratos obtidos, há décadas, pela CNO junto à Petrobras seguiram estritamente o que estabelece a legislação vigente”.

Nova acareação entre Youssef e Costa será centrada em doação para campanha de Dilma

• Após ficar frente à frente por oito horas, doleiro e ex-diretor da Petrobras divergiram em diversos pontos

Germano Oliveira, Enviado Especial, e Thais Skodowisk* - O Globo

CURITIBA. A acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa durou oito horas, sem que as principais divergências entre eles tenham sido resolvidas. Cada um manteve basicamente o que havia dito antes. O principal ponto de conflito entre os dois nem chegou a ser apreciado pelos delegados da Polícia Federal e Procuradoria da República que vieram de Brasília só para acompanhar a acareação. Eles resolveram marcar nova rodada de acareação só para resolver a polêmica entre os dois sobre a doação de R$ 2 milhões para a campanha da Dilma Rousseff em 2010.

O ex-ministro Antônio Palocci teria pedido o dinheiro para Paulo Roberto Costa, que confirma ter recebido o pedido. Mas Costa disse que mandou o doleitro Youssef dar o dinheiro a Palocci. É aí que vem a primeira grande contradição entre os dois. Youssef nega ter dado o dinheiro a Palocci e diz que nem conhece o ex-ministro. Na acareação desta segunda-feira seria uma oportunidade para dirimir essa dúvida, mas ela vai permanecer até a próxima rodada de acareação entre os dois. Segundo o advogado de Youssef, Tracy Reinaldet, todos já estavam cansados com a longa audiência e preferiram deixar para nova data, que ainda não foi marcada.

- Além do mais, o inquérito contra Palocci ainda está bem no início e os delegados da PF acharam melhor deixar isso para outra etapa. Tem também o aspecto de que a presidente Dilma não pode ser investigada por doações de campanha de 2010 - disse Tracy.

Uma das divergências que também não foram equacionadas é o pagamento de R$ 2 milhões para a campanha de Roseana Sarney (PMDB-MA) em 2010. Segundo a versão de Paulo Roberto Costa, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) lhe pediu o dinheiro para ser usado na campanha de Roseana. Costa disse que mandou Youssef entregar o dinheiro a Roseana, mas Youssef diz que quem entregou o dinheiro não foi ele, mas o próprio Paulo Roberto Costa. Ficou um jogo de empurra.

- Chegou a haver um clima de tensão entre os dois, mas pusemos panos quentes, para evitar que os ânimos se exaltassem - revelou o advogado de Youssef, Tracy Reinaldet.

Uma divergência, no entanto, pode ser esclarecida, segundo o advogado.

- Na questão da compra de nafta pela Brasken, do grupo Odebrecht, os dois deixaram claro que houve pagamento de propina para o PP, de 1 a 3% dos contratos. Ambos chegaram à mesma versão, que antes era diferente. Agora os dois concordaram que houve o pagamento de propinas nessas contratos de nafta. E os dois citaram o nome de 17 deputados do PP que receberam as propinas nesse contrato. Não surgiu nenhum nome novo do PP. São os mesmos, como o Pedro Correa, o Nelson Meurer, etc, os que já estão denunciados pelo STF - explicou o advogado.

Assim, a acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, não mudou a essência do que cada um dos dois disso em suas delações premiadas feitas tanto na Justiça do Paraná, quanto no Supremo Tribunal Federal (STF) ao longo do ano passado. A acareação foi determinada pelo STF para esclarecer pontos divergentes do que cada um dos dois disse em suas delações premiadas e que envolve políticos com foro privilegiado.

A audiência, que não teve pausa nem para o almoço, começou às 10h e terminou às 18h, foi acompanhada por delegados da Polícia Federal de Brasilia e da Procuradoria Geral da República, também de Brasilia, coordenados pelo procurador Andrey Borges de Mendonça.

Segundo outro advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, os dois mantiveram suas versões iniciais e isso não significa que correm riscos de perderem as vantagens da delação premiada.

- Não houve nenhum modificação do perfil. Eles mantiveram integralmente suas versões, mas com o detalhe de que ambos estão imbuídos de falar a verdade. Mostra que não houve acerto entre eles para prejudicar ou ajudar quem quer que seja - disse Basto.

Ele revelou ao GLOBO que na acareação, Youssef confirmou que deu R$ 1 milhão para a campanha da senadora Gleisi Hofmmann (PT-PR), em 2010, a pedido do então ministro Paulo Bernardo.

- Foi o próprio Youssef quem fez o pagamento. No processo tem data e local de onde o dinheiro foi entregue- disse Basto.

Ele não acredita que os dois possam perder as garantias da redução de pena por causa das divergências que ainda não foram resolvidas.

- As delações são muito sólidas. E eles não ficaram só na palavra. Mostraram documentos e outros meios de prova. Os depoimentos isoladas teriam pouco valor jurídico, mas eles apresentaram provas inequívocas. Há também interceptações telefônicas e provas documentais. Não vejo como sustentar essa versão de que podem perder as garantias da colaboração premiada - afirmou Basto.

O advogado de Paulo Roberto Costa, João Mestieri, disse que hoje cedo o ex-diretor da Petrobras retorna à PF de Curitiba para nova rodada de esclarecimentos aos policiais federais e ao MPF de Brasilia, enquanto Youssef será inquirido na parte da tarde. Os dois falarão separadamente aos policiais para o esclarecimento dos pontos ainda divergentes entre os dois. Cada um dará sua versão dos fatos. Nesse caso, é possível que a questão do dinheiro para Palocci venha a ser colocado novamente.

Mestieri disse, ainda, que “como as divergências não eram grandes, também não foram grandes as surpresas”.

Paulo Roberto Costa, que está em prisão domiciliar no Rio, chegou a Curitiba na noite de domingo escoltado pela PF. Youssef já estava detido na carceragem da Polícia Federal de Curitiba. Hoje, Paulo Roberto Costa depõe ao juiz Sérgio Moro, na Justiça Federal do Paraná, na parte da tarde. Ele passou a noite de ontem hospedado num hotel no centro de Curitiba, com escolta da PF do Rio.

A Braskem reafirma que "todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia. É importante lembrar que os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira".

*Especial para O Globo

Lula diz que PT está 'velho' e 'só pensa em cargo'

Ricardo Galhardo e José Roberto Castro - O Estado de S. Paulo

• Para ex-presidente, PT está velho, viciado em poder, apegado a empregos e vitórias eleitorais e perdeu capacidade de gerar sonhos

SÃO PAULO - Menos de dez dias depois de o PT realizar seu 5.º Congresso Nacional, em Salvador, onde decidiu manter o status quo partidário frustrando os setores que esperavam por mudanças radicais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma das mais duras críticas públicas à legenda que ajudou a fundar há 35 anos e o levou ao poder nacional.

Em palestra ao lado do ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe Gonzalez, Lula disse que o PT está velho, viciado em poder, apegado a cargos, empregos e vitórias eleitorais, perdeu sua capacidade de gerar sonhos e utopias, não mobiliza mais as multidões, a não ser em troca de dinheiro, se afastou perigosamente da juventude e hoje está diante de uma encruzilhada. “Temos que definir se queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto”, disse Lula.

O ex-presidente comparou as origens do PT ao Podemos, movimento nascido nas manifestações de rua que elegeu neste ano as prefeitas de Madri e Barcelona, desbancando o centenário PSOE na preferência do eleitorado de esquerda espanhol. “É mais ou menos que nem o PT quando ganhou Diadema em 1982”, comparou Lula, antes de defender uma “revolução interna” que permita ao PT abrir espaços para a participação da juventude que foi às ruas em 2013.

No Congresso do PT encerrado dia 13, na Bahia, diversos setores encaminharam propostas de mudanças expressivas nas práticas partidárias, entre elas o rompimento da coligação com o PMDB em troca de uma aliança popular com movimentos de rua e a sociedade organizada. No final a corrente integrada por Lula atropelou os descontentes e aprovou um documento final considerado tímido pelos petistas que cobravam mudanças capazes de tirar o PT do “volume morto”, na expressão do próprio ex-presidente.

Nesta segunda-feira, 22, Lula cobrou publicamente uma mudança efetiva criticando a estrutura do partido. “Não sei se o defeito é nosso, se o defeito é do governo. Mas eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Hoje a gente só pensa em cargo, em emprego em ser eleito. Ninguém hoje trabalha mais de graça”, afirmou.

De acordo com Lula, o PT perdeu a capacidade de mobilização e hoje depende da estrutura dos mandatos parlamentares para levar gente às ruas. “Hoje se os candidatos não liberarem as pessoas dos gabinetes deles ninguém vai porque as pessoas só querem ir ganhando. Isso é um vício de um partido que cresceu e chegou ao poder”, disse.

Segundo o ex-presidente, aos 35 anos o PT já demonstra fadiga e precisa urgentemente de sangue novo.

“O PT está velho. Eu que tenho 69 já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que falava em 1980, fico pensando se não está hora de a gente fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna, colocar gente nova, gente que pensa diferente”.

A fala de Lula foi recebida com palmas pela plateia formada por dirigentes petistas, os ministros Juca Ferreira (Cultura) e Renato Janine Ribeiro (Educação) e integrantes de movimentos sociais tradicionais (Movimento dos Sem Terra) e recentes (Levante Popular da Juventude e Fora do Eixo).

Venezuela. Parte da plateia cobrou Gonzalez por sua aproximação com setores da oposição ao governo Nicolás Maduro, na Venezuela. O espanhol causou surpresa ao enfrentar as críticas e separar o governo chavista dos demais regimes de esquerda do continente. “A Venezuela é um modelo diferente. Fico assustado quando dizem que é a mesma coisa. Se não estivermos convictos disso, estamos no caminho errado”, disse ele.

Depois das discordâncias, o espanhol demonstrou solidariedade apontando os riscos de um “comando formado por jornalistas, juízes e procuradores dispostos a tudo que pode acabar com qualquer governo”.

Saddam e Kadafi. Já Lula preferiu destacar as encruzilhadas da democracia mundial seguindo por um caminho tortuoso, no qual chegou a citar o ditador líbio Muamar Kadafi, assassinado em 2011. “A morte do Kadafi é uma daquelas coisas que não têm explicação para a democracia. Porque a Líbia estava quieta, não incomodava ninguém. O Iraque tinha o Saddam Hussein. Por acaso o Saddam alguma vez causou algum problema? Para mim nunca criou problema. Ele estava lá acreditando nas mentiras dele quando os americanos inventaram que era preciso invadir o Iraque”, disse.

Segundo o ex-presidente, o Foro de São Paulo foi criado em 1990 para “educar a esquerda latino-americana a praticar a democracia”

Para dissidentes, ex-presidente tem culpa na atual crise da sigla

• Luiza Erundina e Ivan Valente, que deixaram o partido, apontam erros de Lula na condução do PT; tucanos fazem críticas

Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo

Para fundadores do PT que deixaram a legenda e petistas insatisfeitos com os rumos do governo da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Iná- cio Lula da Silva tentou se eximir da crise vivida pela sigla em sua intervenção, feita ontem em tom de desabafo durante uma palestra em seu instituto.

“Não dá para ele se isentar e jogar toda a culpa no PT. Lula ainda é a principal liderança e foi o principal condutor desse processo, desde a origem até hoje”, afirma a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).

Uma das primeiras prefeitas de capitais eleitas pelo partido em 1988, quando venceu a disputa em São Paulo, Erundina deixou o partido em 1997 depois de um longo processo de desgaste interno por ter aceitado um cargo no primeiro escalão do governo Itamar Franco.

Para a deputada, ao afirmar que e o PT “perdeu um pouco a utopia” e que os petistas “só pensam em cargo”, Lula está refletindo um quadro grave vivido pelo País. “A fala dele foi um sintoma da falência do PT. E esse sintoma chega para mim com muito mais contundência”, concluiu a ex-prefeita.

Também integrante da primeira geração de dirigentes políticos do Partido dos Trabalhadores, o deputado Ivan Valente, hoje no PSOL, faz a mesma leitura.“Esse é um discurso para consumo interno no partido, mas o Lula não pode se eximir da responsabilidade pelo PT estar vivendo essa crise monumental.

O partido rebaixou o seu programa por orientação dele”, diz. O parlamentar também comentou a reclamação do ex-presidente sobre a redução drástica da militância espontânea petista que marcou a sigla antes da chegada ao poder.

“O maior responsável por tirar do PT o caráter da contribuição militante foi o próprio Lula. Foi ele quem implantou a lógica de ganhar eleição a qualquer custo”, conclui Valente.

Correlação de forças. Integrante da segunda maior corrente interna do PT, a Mensagem ao Partido,e membro do diretório nacional da sigla, o deputado Paulo Teixeira (SP) faz outra leitura das recentes autocríticas de Lula.“Há um sentimento de mudança no partido. A correlação de forças internas já mudou. A fala do ex-presidente converge para isso.

Teixeira se refere à redução da influência do chamado grupo majoritário que comanda o PT desde sua fundação e o consequente fortalecimento de correntes mais à esquerda no espectro partidário.

Já o senador Paulo Paim (RS) avalia que o discurso do ex-presidente corroborou um fenômeno que vem ocorrendo no partido desde a chegada ao poder central em 2003. “É lamentável que alguns setores do PT tenham se encantado com o poder. Tem gente com mais de 100cargosindicados”,diz o parlamentar. Paim deve mudar de sigla até o fim deste ano. Ainda segundo o senador, Lula “assumiu a responsabilidade” pela crise petista com seu discurso.

Tucanos. Os discursos recentes de Lula serviram de munição para os tucanos reforçarem a artilharia contra o PT. Para o senador Cássio Cunha Lima, líder tucano no Senado, o ex-presidente fez um “reconhecimento” tardio das mazelas petistas. Vice-presidente nacional do PSDB, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman vai além. “O Lula é realista e pragmático. Ele vê um quadro desastroso para o partido. ”Presidente do DEM, o senador José Agripino diz que as falas do ex-presidente são “o reconhecimento da falência do PT.

Lula diz que PT só pensa em cargos: petistas não reagem

• ‘A gente acreditava em sonhos, hoje a gente só pensa em emprego’

'A gente só pensa em cargo'

Julianna Granjeia, Tatiana Farah e Fernanda Krakovics – O Globo

• Depois de criticar Dilma, ex-presidente Lula diz que o partido que fundou envelheceu
Integrantes do partido, que evitaram rebater publicamente as declarações, apostam que o ex- presidente tenta se descolar da presidente Dilma, que ficou irritada com as críticas, segundo relato de um ministro

Após criticar a presidente Dilma e o PT num encontro fechado com religiosos, o ex- presidente Lula atacou publicamente o partido em seminário organizado por seu instituto, em São Paulo, com a presença do ex- primeiro ministro espanhol Felipe González. “A gente acreditava em sonhos. Hoje a gente só pensa em cargo, em emprego”, disse. Lula afirmou que o partido “perdeu a utopia”: “O PT está velho. Já estou com 69. Já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que falava em 1980.” Segundo um ministro, a declaração de que ele e Dilma já estão “no volume morto” e que o PT está abaixo do “volume morto” chateou a presidente. Alguns petistas, que só comentaram sob anonimato, acham que Lula tenta se descolar de Dilma. 

SÃO PAULO e BRASÍLIA- Quatro dias depois de criticar abertamente a presidente Dilma Rousseff e o governo numa reunião com religiosos católicos, o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou as baterias ontem para o PT, em uma nova autocrítica bastante contundente. Para Lula, o partido que fundou há 35 anos “está velho”, sem projeto e paralisado pela burocracia porque “só pensa em cargos”. A avaliação foi feita durante debate promovido pelo Instituto Lula, em São Paulo, com o ex- presidente de governo espanhol Felipe González. Para o petista, o PT “perdeu um pouco a utopia”.

O partido não reagiu diante das declarações. O presidente da legenda, Rui Falcão, que estava no mesmo debate, não quis falar com a imprensa na saída. Dirigentes petistas ouvidos ontem pelo GLOBO dizem que o ex- presidente tem mostrado insatisfação nos últimos meses tanto com a acomodação da legenda quanto com o desempenho de Dilma no segundo mandato. O tom, no entanto, tem subido a cada desabafo.

— Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje, precisamos construir isso, porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito, e ninguém hoje mais trabalha de graça — disse Lula ontem.

O ex- presidente disse estar “cansado” e falou que o partido precisa se renovar com pessoas mais jovens e “mais ousadas, com mais coragem”.

— O PT está velho. Eu, que sou a figura proeminente do PT, já estou com 69 ( anos), já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que eu falava em 1980. Fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna — disse o expresidente, e completou: — Temos que decidir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos, ou se queremos salvar nosso projeto.

Desabafos preocupam o partido
Na quinta- feira, conforme O GLOBO revelou, Lula disse a religiosos católicos, em um encontro no seu instituto, que é um “sacrifício” convencer Dilma a viajar pelo país e defender o projeto petista. 

Ele afirmou que, em relação à popularidade, ele e ela estão no “volume morto”, enquanto o PT está “abaixo do volume morto”. Ontem, ele concentrou no partido a sua insatisfação.

A escalada de desabafos de Lula tem preocupado o partido. Dirigentes ouvidos pelo GLOBO, que preferiram não se manifestar publicamente, disseram que o diagnóstico de Lula é certeiro, mas o vazamento das críticas, sobretupartido. do contra Dilma, no momento em que a presidente amarga a sua pior avaliação, serve para dar munição à oposição e aumentar o fosso entre a presidente e o partido. A interlocutores, Lula diz que nenhuma dessas críticas é novidade para Dilma, já que ele não esconde sua posição quando os dois se reúnem, de forma privada, em São Paulo.

As reclamações sobre Dilma, principalmente em relação às medidas que afetam direitos trabalhistas, são endossadas por dirigentes da sigla. No entanto, o congresso do PT, há menos de duas semanas em Salvador, eliminou do documento final até mesmo a expressão “ajuste fiscal”.

Para alguns petistas, essa narrativa pode ser um ensaio de Lula para iniciar um descolamento de Dilma. Já um dirigente diz que eles são inseparáveis como “a corda e a caçamba”. Em outra frente, as críticas de Lula encontraram ressonância em alas do PT que fazem esse debate interno desde as manifestações de junho de 2013. O problema é que, na instância do partido em que essas questões deveriam ser discutidas, Lula não foi por esse caminho.

— Eu acho que ele está certo. Isso já vem sendo discutido principalmente no âmbito das redes sociais, área que eu coordeno. A militância vem criticando o excesso de burocratização e de institucionalização do Ele está vocalizando a militância. Há crítica muito grande à acomodação dos petistas. O partido precisa voltar- se mais para a juventude — disse um dos vicepresidentes do PT, Alberto Cantalice.

Para o deputado Paulo Teixeira ( PTSP), um dos líderes do grupo Mensagem ao Partido, o teor da fala de Lula é o mesmo de uma carta divulgada recentemente por 35 parlamentares, mais da metade da bancada, que pedia a renovação da legenda, inclusive com novas eleições internas. A carta foi rejeitada pela maioria do último congresso do PT, cuja corrente interna mais numerosa, a Construindo um Novo Brasil ( CNB), é a de Lula.

— A gente esperava que o congresso decidisse por aí, mas decidiu por nada — reclamou o deputado.

Novas críticas à imprensa
Ao lado de González, Lula também voltou a reclamar da imprensa e acusou veículos de “fazer oposição pelo editorial”.

— Aqui no Brasil nós reclamamos muito da mídia. A oposição é a imprensa. Em alguns jornais, eles fazem oposição pelo editorial. Ao invés de brigar com isso, temos de saber usar melhor a internet, as redes sociais — disse Lula, que defendeu mais uma vez a regulação da mídia.

Gestão petista está próxima ao fundo do poço, diz Cunha

Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

• Presidente da Câmara quer descolar PMDB do desgaste do governo

SÃO PAULO – O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) está vivendo um processo de desgaste que talvez já tenha colocado a gestão petista próxima ao fundo do poço. “O governo (Dilma) está chegando a um nível de patamar próximo ao fundo do poço, portanto, não tem muito onde cair mais”, disse Cunha, ao chegar para um evento com investidores em São Paulo, na noite desta segunda-feira,

Ao comentar o baixo índice de aprovação do governo petista, segundo pesquisa Datafolha deste final de semana, o presidente da Câmara disse que o fato de seu partido, o PMDB, ser o principal aliado da gestão Dilma Rouseff não significa que eles terão um projeto eleitoral conjunto no futuro. “Não quer dizer que todo desgaste do governo seja nosso também. A responsabilidade de governar é do PT e não nossa.”

Apesar da avaliação de que o desgaste é do governo petista e não do PMDB, Cunha admitiu que quando se está caminhando junto, pode ocorrer algum desgaste.

Na avaliação de Cunha, pesa contra o governo também o fato de a economia estar deteriorada e estar implementando medidas que não foram debatidas na campanha eleitoral. “Houve um desgaste amplificado pela deterioração da situação econômica”, disse, citando como exemplo a elevada inflação e o baixo desempenho da economia, além do ajuste fiscal.

Além de eximir o seu partido, Cunha procurou também defender o parlamento, dizendo que o Congresso está fazendo a sua parte no esforço de recolocar o País na rota do crescimento, com a votação do pacote fiscal. “Não estamos deixando de votar nenhuma medida do governo, estamos fazendo a nossa parte.”

Para o presidente da Câmara, cabe agora ao governo fazer a sua parte, implantando uma agenda positiva e dizendo ao País o que irá fazer após o ajuste fiscal, na mesma linha das críticas que vem sendo feitas pelo ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Aécio diz que Lula tem responsabilidade e não pode descolar de ‘sua criatura’ Dilma

• Para ele, TCU deve rejeitar contas da presidente, abrindo caminho para uma ação do Ministério Público

Cristiane Jungnlut – O Globo

BRASÍLIA — O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse nesta segunda-feira que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode se "descolar" da presidente Dilma Rousseff. O tucano argumentou que Lula não pode fugir à sua responsabilidade pela situação atual ao usar como estratégia os ataques à sua sucessora. Aécio disse que Dilma é "criatura" de Lula e que é um "acinte" o governo continuar adotando as chamadas pedaladas fiscais depois do parecer prévio do Tribunal de Conats da União (TCU). Para ele, o governo Dilma está "sitiado".

No sábado, O GLOBO informou que o ex-presidente, em tom de desabafo, criticou duramente a presidente Dilma Rousseff em reunião no instituto que leva o seu nome. Para Lula, “Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto” e ele próprio está no volume morto. Nesta segunda-feira, o ex-presidente voltou a criticar o partido, e disse que os petistas só pensam em cargo e eleições.

O TCU deu prazo de 30 dias para Dilma dar explicações sobre as contas públicas de 2014. Para Aécio, o TCU deve rejeitar as contas de Dilma, afirmando que caberá ao Ministério Público da União decidir se abre uma ação contra a presidente. Ele lembrou que o PSDB já ingressou com uma ação a esse respeito, mas evitou falar em impeachment.

— Acho que o presidente Lula, mais do que ataques à atual presidente, sua criatura, tem que reassumir sua parcela de responsabilidade pelo que vem acontecendo no Brasil. E não há como descolar uma coisa da outra: o governo é o PT, o governo é Dilma, o governo é Lula. Foi assim nos momentos positivos e será assim nesse momento de grandes dificuldades. Lamentavelmente, essa obra é uma obra conjunta do ex-presidente Lula, da presidente Dilma, e, obviamente, do PT — disse Aécio.

Aécio disse que já tinha denunciado, durante a campanha eleitoral, as manobras fiscais do governo Dilma.

— Continuar a fazer isso é um acinte, um desrespeito absoluto àquilo que foi de mais valioso que nós conseguimos construir do ponto de vista da administração no Brasil que foi a Lei de Responsabilidade Fiscal. É um governo que age como se estivesse acima da lei e não está. E o governo federal de forma continuada fez isso com o único objetivo de vencer as eleições e hoje é um governo sitiado: não pode andar nas ruas e está nas barras dos Tribunais. Se o Tribunal de Contas, como todos nós esperamos, vier a agir de forma técnica como vem agindo, não há como aprovar as contas da Presidente da República — disse Aécio, acrescentando:

— Essa reiterada prática delituosa pode levar até o Ministério Público, a Procuradoria Geral da República, onde existe ação do PSDB, a se manifestar e quem sabe abrir uma investigação contra a presidente da República.

Candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2014, Aécio lembrou que denunciou o fato das pedaladas fiscais.

— Durante a campanha eleitoral, denunciei essas pedaladas, dizendo que a Caixa Econômica Federal pagava o Bolsa Família, ou parcela dele, e o governo não repunha por parte do Tesouro esses recursos. A presidente ignorou esse assunto. Agora, tentam transferir para um membro da equipe econômica (o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin) essa responsabilidade. A responsabilidade é da presidente da República — disse Aécio.

Segundo ele, um dos pilares da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) era justamente evitar que bancos públicos financiassem seus controladores.

— Essa não é uma questão que está sendo discutida agora. O que há é uma definição da votação do relatório do ministro Nardes que é pela reprovação das contas da Presidente da República. Isso deve ocorrer em menos de 30 dias.

Aécio comparou a crise econômica vivida pelo país à jabuticaba, alegando que apenas o Brasil vive momentos de dificuldade e não o mundo.

— Essa crise é como a jabuticaba, é uma fabricação aqui do Brasil feita pelo governo do PT — afirmou o tucano.

Queda na pesquisa
Aécio disse ainda que o resultado da pesquisa Datafolha é um reflexo de o Brasil estar vivendo uma das maiores crises econômicas da sua história. A pesquisa Datafolha indicou que Dilma tem 65% de reprovação, entre ruim e péssimo. Para ele, o país vive três crises: a econômica, a moral e a de credibilidade.

— Grande parte da desaprovação da presidente da República recorde no nosso período democrático se dá em razão dessa crise moral sem precedentes — disse Aécio.

O tucano disse ainda que sua candidatura à Presidência não é "agenda do momento", ao comentar a pesquisa Datafolha que lhe coloca em primeiro lugar, com 35% dos intenções, à frente do ex-presidente Lula.

— Essa não é a agenda do momento, O PSDB tem outras responsabilidades que antecedem a disputa eleitoral de 2018, que é fiscalizar as ações do governo, denunciar as irregularidades cometidas e apresentar alternativas. É obvio que eu recebo como reconhecimento a responsabilidade, a seriedade do nosso trabalho essa minha posição nas pesquisas — disse ele.

Aécio disse que PSDB estará "unido" na sua decisão. Ele e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disputam nos bastidores o posto de candidato.

— Ao contrário do que acreditam alguns ou torcem outros, no momento da definição de quem será o candidato do PSDB, vamos estar absolutamente unidos, porque o PSDB sabe que a sua unidade é que vai inspirar outros aliados a estarem conosco. Eu, pessoalmente, no que depender de mim, não vou antecipar esse debate eleitoral — disse o senador.

Preferência pelo PSDB cresce, e sigla empata com PT, mostra Datafolha

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha feita na semana passada mostra que, em meio à crise do PT, a preferência pelo PSDB bateu seu recorde. Conforme o instituto, 9% dos eleitores manifestaram simpatia pela sigla.

Em fevereiro, 5% citavam o PSDB como o partido preferido. Em abril, 7%.

Os simpatizantes do PT, segundo a mesma pesquisa, são 11%. Configura-se, portanto, um empate técnico entre as duas siglas que polarizam as disputas pela presidência desde 1994 --a margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais.

A preferência partidária do eleitorado é investigada pelo Datafolha desde 1989. O PT liderou as 137 pesquisas do gênero em 26 anos. Seu melhor desempenho ocorreu em março de 2013, quando foi citado como partido preferido por 29%. O piso foi atingido em março deste ano, quando marcou 9%.

Depois de PT e PSDB, o único partido com algum ativo relevante é o PMDB, com 6% das preferências nacionais.

Desde 1989, o maior grupo sempre foi o dos que não têm preferência partidária. Nesta última sondagem, 67% responderam assim. O Datafolha ouviu 2.840 pessoas em 174 cidades entre 17 e 18 de junho.

Críticas do ex-presidente incomodam Dilma, que busca dar boas notícias

Geralda Doca, Fernanda Krakovics e Cristiane Jungblut (Colaboraram Catarina Alencastro e Washington Luiz) – O Globo

• Para Planalto, Lula prejudica o governo e seu próprio projeto para 2018

BRASÍLIA- A ex- presidente Dilma Rousseff ficou bastante incomodada com as críticas abertas do ex- presidente Lula à sua gestão no encontro que ele teve com religiosos na semana passada. As declarações de que Dilma está no “volume morto”, por causa da baixa popularidade, e, principalmente, de que ela mentiu na campanha à reeleição ao dizer que não mexeria em direitos trabalhistas e não faria ajuste fiscal foi o que causou mais mal- estar no governo.

A presidente confidenciou a ministros próximos não ter gostado do que Lula disse, mas que entende o discurso. Na avaliação do Planalto, Lula falou para agradar à plateia, sem se dar conta de que a Igreja Católica tem mantido uma visão crítica do governo. Ele também teria tentado agradar aos lulistas, as correntes do PT que têm se posicionado contra o ajuste fiscal. Mas, para os mais próximos a Dilma, ao bater no governo, Lula acaba atingindo também a construção de sua candidatura para 2018 — o que só agradaria à oposição. Ainda assim, ministros petistas defenderam Lula. Para um deles, Lula foi traído pelo vazamento da conversa:

— Teremos uma semana de ruídos.

A principal preocupação é com o trecho em que o ex- presidente afirma que Dilma errou ao dizer, durante a campanha, que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. E mexeu, disse Lula, contrariando a versão do governo de que houve apenas ajustes em benefícios como seguro- desemprego, abono salarial e pensões. Na conversa revelada pelo GLOBO, Lula também lembrou que Dilma afirmou na campanha que não faria ajuste, que era “coisa de tucano”. Lula disse que Dilma não só fez, como mereceu ser alvo de propaganda do PSDB na TV que a acusou de mentir. Sobraram queixas até para o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

Diante das críticas abertas de Lula, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), fez questão de “colar” o ex- presidente ao governo de Dilma. O tucano argumentou que Lula não pode fugir à responsabilidade pela situação atual ao usar como estratégia os ataques à sua sucessora. Para ele, o governo está “sitiado”.

— Acho que o presidente Lula, mais do que ataques à atual presidente, sua criatura, tem que reassumir sua parcela de responsabilidade pelo que vem acontecendo no Brasil. E não há como descolar uma coisa da outra: o governo é o PT, o governo é Dilma, o governo é Lula. Foi assim nos momentos positivos e será assim neste momento de grandes dificuldades. Lamentavelmente, essa obra é uma obra conjunta do ex- presidente Lula, da presidente Dilma e, obviamente, do PT — disse Aécio, derrotado por Dilma na eleição presidencial de 2014.

Aécio atribuiu à “crise moral sem precedentes” a aprovação de apenas 10% de Dilma na última pesquisa Datafolha. Na sondagem, o tucano aparece na liderança das intenções de voto para a Presidência em 2018 com 35%, contra 25% de Lula.

— Essa não é a agenda do momento. O PSDB tem outras responsabilidades que antecedem a disputa de 2018, que é fiscalizar as ações do governo, denunciar as irregularidades e apresentar alternativas — desconversou.

No Planalto, a expectativa é que Dilma só recupere sua popularidade quando a economia começar a reagir, o que é projetado para o ano que vem, talvez com uma pequena retomada no final deste ano.

Enquanto isso, o governo pretende apostar na agenda positiva, como o lançamento da terceira fase do Minha Casa Minha Vida, o programa Banda Larga para Todos, investimentos no setor energético e o já lançado plano de concessões em infraestrutura.

Ontem, Dilma lançou o Plano Safra para a agricultura familiar. Cobrada por Lula por não oferecer “boas notícias”, Dilma fez um esforço ontem ao anunciar aumento de 20% nos recursos em relação a 2014, mesmo percentual aplicado ao Plano Safra para médios e grandes produtores. No total, serão liberados R$ 28,9 bilhões para os pequenos. Ao lado de Dilma, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, anunciou a ampliação do Minha Casa Minha Vida em áreas rurais e um novo plano de reforma agrária, um aceno para movimentos sociais. Dilma é criticada por ter assentado, em média, menos da metade de famílias do que Lula e Fernando Henrique.

Para Planalto, críticas de ex-presidente desagregam

Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - A avaliação interna no Palácio do Planalto é de que os posicionamentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias, com críticas duras ao governo e ao PT, só contribuiram para agravar a crise que contamina o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Num cenário de queda de popularidade, novas prisões de executivos na Operação Lava-Jato e disseminação de boatos até sobre a saúde de Dilma, sobressai a percepção de palacianos e governistas de que os comentários de Lula desagregam num momento em que governo e partido deveriam enfrentar juntos a turbulência.

O Valor apurou que Lula já havia usado, em ocasião anterior, a expressão "volume morto", em uma análise reservada da conjuntura com Dilma e um grupo seleto de ministros há algumas semanas, em Brasília. Segundo uma fonte que testemunhou o episódio, Lula recorreu à metáfora para afirmar, na presença de Dilma, que o PT e o governo já estavam no "volume morto", e que abaixo disso, "só o pré-sal", em alusão ao petróleo das águas profundas.

As críticas de Lula têm trazido constrangimento aos petistas que integram o governo. O jornal "O Globo" revelou que no sábado, em um encontro com religiosos no Instituto Lula, que o ex-presidente afirmou que "Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto", e ele também se vê na mesma situação. Ontem, em evento público, no Instituto Lula, o ex-presidente afirmou que o PT envelheceu, perdeu a utopia e hoje só pensa em cargo (ver reportagem nesta página).

Um ministro que participa das reuniões de coordenação política no Planalto disse aoValor, em condição de anonimato, que a atitude do ex-presidente de fazer críticas - e muitas delas levadas a público por interlocutores ou diretamente pela imprensa - apenas "desagrega politicamente", fragilizando, simultaneamente, o PT e o governo. "Uma coisa é enfrentar a crise com unidade, outra, mais difícil, com desagregação política", lamentou.

Ontem a presidente Dilma reagiu com irritação aos boatos que circularam nas redes sociais no fim de semana, de que teria sido internada, após supostamente ingerir grande quantidade de remédios. Os boatos espalharam-se com a divulgação da pesquisa Datafolha de que 65% dos brasileiros rejeitam o governo e apenas 10% o consideram ótimo e bom.

"Fui informada de um boato que eu estava internada", disse a presidente aos jornalistas ao final da solenidade de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar. "Vocês acham que eu estava?", tripudiou, apontando para a sua nova silhueta, com ar saudável, que conquistou após uma dieta aplicada e os passeios de bicicleta.

Coube ao ministro da Secretaria da Aviação Civil - que acumula funções de articulador político - minimizar ontem os efeitos da nova pesquisa Datafolha. Em entrevista após reunião da coordenação política, Padilha ressaltou que o levantamento tem aspectos positivos. Segundo ele, houve melhora discreta na avaliação da economia e do combate à inflação. Ele disse que há expectativa no governo de que esses aspectos positivos reflitam na imagem de Dilma, embora o processo seja lento. "Isto não acontece por milagre, existe um governo, existe a chefia de um governo, que precisa capitalizar esse aspecto positivo", ponderou. "Queríamos que fosse ontem, vamos trabalhar para que seja hoje, no menor espaço de tempo possível", afirmou.

Padilha reconheceu, contudo, que o governo atravessa um momento desfavorável, que não favorece a pronta recuperação da imagem da presidente. "Quando se tem o clima que nós estamos convivendo hoje no Brasil, essas coisas caminham de forma lenta".

O ministro acrescentou que os últimos episódios da Operação Lava-Jato - as prisões dos executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez - não deverão impactar o novo pacote de infraestrutura lançado no início do mês. "Temos um programa de concessões em andamento que não tem absolutamente nada a ver com a Operação Lava-Jato, são concessões futuras", sublinhou. "Temos um Programa de Investimentos e Logística (PIL) que não pode de forma nenhuma ser comprometido por isso ou aquilo da Lava-Jato, até porque se trata de operação futura", enfatizou.

Merval Pereira - Volume morto

- O Globo

Lula vê que vaca está indo para o brejo e por isso ataca. Enquanto os políticos petistas acionam seus fantoches no mundo virtual para tentar desqualificar os senadores oposicionistas que foram à Venezuela marcar uma posição democrática que repercute até hoje, num inegável sucesso político, o ex- presidente Lula mostra que ainda é o mais esperto de todos.

Convidou para um debate no seu instituto ninguém menos que o ex- primeiro- ministro espanhol Felipe González, que estivera em Caracas dias antes com o mesmo objetivo, e teve os mesmos problemas que os brasileiros. Ou os mesmos problemas que qualquer liderança democrática terá se quiser enfrentar a ditadura venezuelana.

Políticos ligados ao governo de Maduro, ou apoiadores de Diosdado Cabello, que tanto Lula quanto Dilma receberam prazeirosamente em dias recentes, não terão dificuldades. Nem mesmo as acusações cada vez mais sérias a Cabello, sobre envolvimento com um cartel de drogas, inibiram os petistas. Mas, na hora de parecer democrata, Lula chama mesmo González.

Lula ultimamente tem sido o mais rigoroso crítico do PT, porque, na qualidade de pragmático- mor da República, está vendo que a vaca está indo para o brejo. Ele, que já havia constatado que tanto ele quanto Dilma estão no “volume morto”, e o PT, “abaixo do volume morto”, ontem fez a constatação mais objetiva de todas: “já estou com 69 ( anos), já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que eu falava em 1980”.

Não por acaso, mas por retratar a verdade, no mesmo dia o presidente da Mercedes- Benz no Brasil, Philipp Schiemer, em entrevista à “Folha”, constatou, por outras palavras, o mesmo que Lula: “O país perdeu a previsibilidade com as mudanças nas premissas da política econômica. Voltamos uns 20 anos no tempo”.

Essa volta na máquina do tempo tem muito a ver com o modo como o governo se comportou a partir do 2 º mandato de Lula e no 1 º de Dilma. Após passarem vários anos se comportando dentro das regras da boa governança, respeitando o equilíbrio fiscal e se aproveitando de momento raro na economia mundial, com os preços das commodities lá no alto, Lula e seus seguidores ouviram o canto da sereia e acharam que já podiam voltar ao ponto em que, para vencer a eleição de 2002, tiveram que abdicar de suas ideias.

Guido Mantega, que se notabilizara nos anos em que o PT esteve na oposição por ser o porta- voz econômico do partido, nunca havia assumido o comando real da área até a saída de Antonio Palocci, em 2006. A partir daí, a política de equilíbrio fiscal foi sendo paulatinamente substituída pelo que viria a ser chamado de “nova matriz econômica”, que se aproveitou da crise financeira de 2008 para, a pretexto de uma política anticíclica, permitir um pouco mais de inflação para estimular o consumo interno como motor do desenvolvimento, política essa exacerbada no governo Dilma.

Hoje, sabemos que diversos parâmetros econômicos foram quebrados nesse processo, com práticas ilegais de criação de despesas sem autorização do Congresso, que acabaram produzindo um descalabro nas contas públicas.

Quando o ex- governador Anthony Garotinho apelidou o PT de “partido da boquinha”, a muitos pareceu que era apenas uma disputa política a mais. Mas não é que o próprio Lula admite que o PT hoje “só pensa em cargo, em emprego, em se eleger”?

Não é à toa que Lula vem insistindo na tese de que é preciso fazer uma reorganização partidária no país, tema a que voltou ontem. A mesma pesquisa Datafolha que mostrou que a presidente Dilma tem 65% de oposição também revelou que o ex- presidente Lula perderia a eleição presidencial se o candidato do PSDB fosse o senador Aécio Neves.

Se o candidato fosse o governador paulista Geraldo Alckmin, Lula o bateria, mas a ex- senadora Marina Silva ganharia densidade eleitoral para empatar com ele. Feitas as contas, há hoje uma maioria oposicionista no país que procura o melhor candidato para derrotar o PT, mesmo que ele seja Lula.

Outro aspecto da pesquisa é o que mostra que o PSDB, como sigla mais organizada da oposição, pela primeira vez nos últimos 13 anos empata na preferência do eleitorado com o PT, que vem em franca decadência, pois já foi o preferido por cerca de 30% do eleitorado. É o tal “volume morto” a que Lula se referiu.

Bernardo Mello Franco - Lula e os pés de barro

- Folha de S. Paulo

Quando Marina Silva virou favorita na tumultuada campanha de 2014, Lula confidenciou a aliados que uma derrota do PT não seria tão ruim assim. "Ruim mesmo é a Dilma ganhar e não mudar", disse, segundo o relato de um petista.

Dilma ganhou, e as coisas mudaram para pior. Ela perdeu o controle da economia, viu sua base se esfarelar no Congresso e se tornou a presidente mais rejeitada desde Collor.

Na semana passada, Lula reclamou da sucessora e disse a religiosos que os dois chegaram ao "volume morto". Ele reconheceu que Dilma mentiu para se reeleger e agora está fazendo o oposto do que prometeu.

Nesta segunda, o ex-presidente estendeu as queixas ao PT. Afirmou que o partido "está velho", "só pensa em cargo" e sucumbiu ao "cansaço". Só faltou dizer que seria melhor ter perdido a eleição do ano passado.

Lula deixou o poder como o governante mais popular da história recente. Recebeu homenagens, manteve o discurso triunfalista e foi descrito como um "Pelé no banco de reservas". Seu retorno ao Planalto parecia ser questão de vontade. Bastaria estalar o dedo para voltar nos braços do povo, como Getúlio em 1950.

A guinada no discurso sugere que o ídolo se descobriu com pés de barro. O Datafolha confirmou que ele ainda é forte, mas deixou de ser imbatível. Se a eleição de 2018 fosse hoje, teria apenas 25% dos votos.

O ex-presidente fez o desabafo aos religiosos na quinta-feira, antes de a Lava Jato atingir os chefes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Seria interessante vê-lo de volta ao confessionário no dia seguinte, depois da prisão dos amigos empreiteiros.

Em março, o ex-ministro Cid Gomes caiu por apontar "300 ou 400 achacadores" na Câmara. Nesta segunda, os repórteres Natuza Nery e Ranier Bragon mostraram como um grupo de 243 deputados ameaçou o governo para arrancar a liberação de emendas. Se Cid errou, foi na conta.

Luiz Carlos Azedo - Vai de bicicleta

Correio Braziliense

• A boataria de domingo preocupou os meios políticos porque a semana que passou foi um desastre para o governo. Culminou com uma pesquisa de opinião na qual Dilma amarga os piores índices de aprovação

A presidente Dilma Rousseff deu uma demonstração de que tudo vai muito bem, obrigado, com ela: ontem, saiu bem cedo para mais uma de suas pedaladas nas imediações do Palácio da Alvorada. Não confundir com as “pedaladas fiscais”, que continuaram no primeiro trimestre deste ano, apesar das advertências do Tribunal de Contas da União (TCU) de que são uma ilegalidade.

A volta de bicicleta seria uma resposta suficiente para a onda de boatos que inundou as redes sociais e agitou os bastidores da política nacional no domingo. Com duas versões fantasiosas, uma de que a presidente da República havia renunciado e outra de que tentara o suicídio com consumo de remédios. A imprensa ignorou o boato, mas Dilma não se deu por satisfeita e resolveu comentar o assunto publicamente pela manhã.

Foi ao final da cerimônia de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar: “Eu vim falar com vocês hoje, apesar de não ter tempo. Disseram há pouco que havia um boato de que eu estava internada. Vocês acham que eu estava?”, indagou a presidente. Em seguida, sorriu e mandou um beijo para os jornalistas. Na sequência, deixou o recinto e se dirigiu para o gabinete.

Tem alguma coisa de estranha no comportamento da presidente da República. A bicicleta é um veículo que, simplesmente, não para em pé sozinho. Seu equilíbrio somente é alcançado quando está em movimento. A regra para aprender a andar de bicicleta é “olhe para frente e não para o chão”. As crianças aprendem a andar de bicicleta, andando. Algumas coisas também são assim, para que aconteçam é preciso que o processo esteja em pleno funcionamento.

Os mestres em administração de empresas gostam do exemplo para discutir mudanças em uma organização. A empresa não vai parar, absorver a mudança e reiniciar a operação. Ela precisa ser implementada com os negócios fluindo e as pessoas trabalhando. É mais ou menos o que precisa ser feito pelo atual governo, mas parece que Dilma resolveu levar o princípio da bicicleta ao pé da letra. É mais fácil andar de bike.

Terreno pedregoso
A boataria de domingo preocupou os meios políticos porque a semana que passou foi um desastre para o governo. Culminou com uma pesquisa de opinião que confirmou o que todo mundo já sabia: Dilma amarga os piores índices de aprovação de um presidente da República desde a campanha do impeachment contra Collor de Mello, que o levou à renúncia. No sábado à noite, acompanhada do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, Dilma compareceu ao casamento da filha do líder do PMDB, Eunício de Oliveira (CE), uma festa que reuniu toda a corte de Brasília.

O vestido da noiva não era o assunto mais comentado. Só se falava da pesquisa DataFolha, na qual Dilma tinha 10% de bom e ótimo, 24% de regular e 65% de ruim e péssimo, e das declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o prestígio de Dilma estava igual ao “volume morto” da Cantareira. E da prisão do presidente da Odebrecht. Marcelo Odebrecht, que ameaçara implodir a República. Os mais gaiatos comparavam a festa de casamento ao baile da Ilha Fiscal, o último grande evento do Império.

O vice-presidente Michel Temer deixou a festa junto com Dilma Rousseff. Passara o sábado preocupado com situação política do país, segundo revelou a correligionários. A semana havia começado com a expectativa de rejeição das contas do governo de 2014 pelo Tribunal de Contas da União.

Na Câmara, a aprovação da revisão da desoneração da folha de pagamento para alguns setores da economia foi novamente adiada. Os números da economia também vão de mal a pior: a recessão pode chegar a menos 2% do PIB brasileiro neste ano, a inflação rondará os 9%, e o desemprego superará 10% da população que trabalha.

Dilma tenta criar uma agenda positiva. Sua grande cartada para reverter as expectativas negativas dos investidores será o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no próximo dia 29, mas a realidade é cruel. O ajuste fiscal é meia-boca, pouco pode se fazer quanto isso, por causa da fraqueza do governo, que não tem como bancar a meta de superavit fiscal.

E tem a Operação Lava Jato, que parece um trem fantasma, no qual Dilma leva um susto a cada estação por causa do envolvimento do PT. É uma variável completamente fora de controle do Palácio do Planalto. Dilma pedala num terreno pedregoso, à beira de um precipício.

Raymundo Costa - Expectativas e apreensão

- Valor Econômico


• "A minha popularidade fica para depois"


Lula poderia esvaziar a pressão política, se anunciasse hoje que não é candidato 2018? Há dúvidas, mas a controvérsia é ampla e atinge até setores que há exatamente um ano cerravam fileiras no "Volta Lula".

A pesquisa Datafolha arruinou o fim de semana da presidente Dilma Rousseff. Ela já esperava pelo resultado, mas ele sempre fica pior depois da divulgação. Dilma poderia entrar mais sossegada na segunda-feira.

Lula está apreensivo com os rumos da Operação Lava-Jato. Dilma aposta suas fichas no ministro Joaquim Levy e na reversão das expectativas econômicas, coisa pra mais de ano. O PT que não conte com ela em 2016.

Apesar da apreensão de Lula, amigos do ex-presidente fizeram uma minuciosa leitura da nota que a Odebrecht emitiu sobre a prisão de seu presidente, Marcelo Odebrecht. Concluíram que não está em seus planos a delação premiada.

A expectativa é que o empreiteiro tente se livrar da prisão pelo caminho convencional de um habeas corpus. Na hipótese de algum dia achar que não tem outra saída, os amigos de Lula apostam - ou têm esperança - que ele falará também de outros governos. A Odebrecht tem um passado que não se esgota no capítulo Lula.

Lula e seus amigos mais e mais falam mal de Dilma. Discorrem sobre um certo descontrole de um governo que não fala nem pra dentro nem pra fora. Cada ministério é uma ilha; o governo não tem conexões no Supremo, no Ministério Público Federal, OAB, CNBB, Conselho de Pastores e nem com as ONGs.

Dilma teria há muito sido advertida de que o governo deveria tomar a iniciativa e dizer bem mais que as empreiteiras podem contratar com a União, já que não estão condenadas, e até mesmo questionar prisões que não se justificariam.

No entanto, ao contrário do que sugere o vazamento de declarações de Lula de que ambos atingiram o volume morto, nem ele nem o PT devem abandonar o barco da presidente, apesar da reprovação recorde de Dilma.

A corrente majoritária do PT foi amplamente vitoriosa no congresso do partido, e Lula ajudou nas articulações que levaram à redação da "Carta de Salvador", na qual o partido, apesar de todas as ressalvas, dá seu apoio às medidas econômicas. Aliás, até ontem não havia sido divulgada a redação final da "Carta", tal o cuidado que o PT está tomando com seus termos. O PT insiste que vai defender o mandato de Dilma nas ruas, se for necessário.

Em conversa da presidente com líderes e ministros, em uma das muitas discussões sobre medidas para reativar a economia, como as concessões, o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), se manifestou. "A senhora precisa antecipar o Minha Casa Minha Vida", disse, segundo um dos presentes. "É um programa emblemático para a popularidade da senhora".

Dilma deu uma resposta curta, mas esclarecedora, de acordo com a fonte: "A minha popularidade fica para depois". Por esse "depois" entenda-se algo como o fim de 2016, início de 2017, segundo a interpretação de quem acompanhou a reunião.

Os interlocutores da presidente explicam que Dilma fez uma inflexão no governo e hoje não tem dúvida nenhuma sobre o caminho apontado por Joaquim Levy.

Foi ela quem escolheu Levy, quando os preferidos de Lula eram Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central em seus dois mandatos, e Luiz Carlos Trabuco, executivo do Bradesco.

Isso não quer dizer que, à época, Dilma assinasse embaixo da receita que seria servida pelo ministro da Fazenda. Ou de tudo o que ele defendia.

O fato é que Dilma não tinha inteira convicção sobre Levy. O interlocutor da presidente lembra das vezes que o ministro defendia ou anunciava alguma coisa e Dilma não defendia e às vezes nem aparecia para a fotografia conjunta.

Isso mudou por completo. O próprio Levy parece bem mais à vontade nas reuniões de governo. E Dilma expressa confiança no ministro nas questões discutidas, dá atenção, procura o diálogo.

É Levy quem está montando o "road show" de Dilma pelos EUA, viagem que começa no fim deste mês de junho.

A expectativa real do governo é de recuperação ali por volta do 3º ou 4º anos de mandato, mas nada espetacular. Se for possível 2% de crescimento já seria "um espetáculo".

Nos cálculos do governo há expectativa de mudança na relação de forças na segunda metade da legislatura, quando Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) devem ser substituídos nas presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, mantidas as regras atuais.

"Mas já no segundo semestre é possível a fragilização de alguns que hoje parecem fortes e o fortalecimento de outros que parecem fracos", diz o interlocutor de Dilma, fazendo mistério. Renan e Eduardo Cunha estão na alça-de-mira da Lava-Jato. É possível também uma recomposição do ministério, mas nunca é demais lembrar que o governo Dilma até agora foi um desastre na articulação política. Nem é visível que carta a presidente pode ter para tirar da manga.

Levy não estimula versões de que possa vir a fazer eventuais concessões ao Congresso. Ao contrário, quando o vice-presidente Michel Temer, durante a viagem da titular, assinou o decreto liberando as emendas parlamentares em restos da pagar, um líder governista anotou o sarcasmo - marca registrada do ministro - com que Levy tratou do assunto. Ele confirmou que as emendas seriam liberadas "muito gradualmente", dando sinais de bem atender às demandas federativas.

A preocupação de Dilma hoje é o desemprego. "É claro que se a economia for para o brejo esse projeto de reorganização vai atrás", diz um integrante das reuniões de articulação política do governo. Pode-se esperar um programa específico do governo federal nessa área.

Sobre sua nova candidatura, Lula ora sai com a bazófia de costume, de que se for provocado entrará numa sexta campanha presidencial, ora diz que somente será candidato se Dilma estiver bem. O ex-presidente só não tem dúvidas de que já está "na história", diga-se o que se disser dele agora.