sábado, 4 de setembro de 2010

Reflexão do dia – Marco Antonio Villa


O clima da campanha mudou. A oposição, finalmente, percebeu que tem de ser oposição. Caso contrário, será esmagada. Estamos muito longe de uma campanha violenta. Claro que tudo vai depender da distância mantida por Dilma em relação a Serra. Se começar a cair, a fábrica de dossiês vai entrar em ação.

O desafio para a oposição é transformar este caso em algo compreensível para a maioria do eleitorado. É difícil, mas possível. Assim como insistir na denúncia das alianças de Lula com ditadores ou protoditadores. Em outras palavras, mostrar que liberdade também enche estômago.


(Marco Antonio Villa, Blog do Villa, 3 de setembro de 2010.)

Não passarão! :: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Freire: Lula ameaça liberdades democráticas e Estado de Direito

"A propaganda dos movimentos totalitários, que precede a instauração desses regimes e os acompanha, é invariavelmente tão franca quanto mentirosa, e os governantes totalitários em potencial geralmente iniciam suas carreiras vangloriando-se de crimes passados e planejando cuidadosamente seus crimes futuros". Esse trecho do livro As origens do Totalitarismo, de Hanna Arendt, caracteriza o momento que estamos vivendo no Brasil. Além da similitude flagrante que encontramos entre os 8 anos de lulopetismo e os movimentos autoritários que ascenderam ao poder na Europa em particular na Itália e na Alemanha nas décadas de 20 e 30, que traziam a conformação de uma aliança entre o grande capital e respectivos grupos econômicos e o lumpesinato, a reiterada desmoralização das instituições republicanas perpretada pelo governo petista e seus aliados e seguidores com objetivo de atingir os adversários e eleger a candidata oficial a qualquer custo, nos faz lembrar os tempos nefastos do fascismo.

O governo de Lula consolidou nesse período a ameaça às liberdades democráticas e ao Estado de Direito, com uma pressão crescente sobre a imprensa (sempre adjetivada de “grande imprensa empresarial e burguesa”, por seus ideólogos e de PIG pelos asseclas), por meio de conferencias patrocinadas pelo Estado apoiadas por ONG’s muitas das quais subvencionadas pelo dinheiro do contribuinte.

O aparelhamento do Estado, por uma militância arrivista e autoritária que usa os instrumentos do Estado não em benefício da sociedade, mas em seu projeto de poder. Com a privatização do Estado aos interesses do grande capital em conluio com o PT e partidos aliados. Como fica evidente na utilização que se faz das estatais e ministérios.

Bem como o assalto aos princípios constitucionais que fundamentam o Estado de Direito, revogando, na prática o artigo 5º da Constituição que garante aos “brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

A quebra dos direitos constitucionais, pela ação programada de agentes do Estado, solapando, paulatinamente, as bases do Estado Democrático, como prática recorrente deste governo, em torno de um específico projeto de poder, para quem princípios democráticos não são mais que estorvo.

O episódio da violação dos sigilos fiscais de políticos e empresários e da filha do próprio candidato a presidente da oposição, José Serra - e cujo ovo da serpente vinha desde a quebra do sigilo bancáriodo caseiro Francenildo - se insere no contexto dessa escalada antidemocrática, que cada vez mais parece ser o grande legado do atual governo.

E tão condenável quanto o ato de violar um sigilo que deveria ser resguardado pela instituição pública, Receita Federal, é o argumento cínico de que quem não tem nada a esconder não deveria reclamar de ter seus dados divulgados a revelia. Nada mais errado. Essa linha de raciocínio flerta com a lógica totalitária de que o individuo não merece ter privacidade.

Os verdadeiros democratas brasileiros precisam reagir contra esse retrocesso. Os verdadeiros democratas que lutaram no MDB contra a ditadura, que votaram em Tancredo no Colégio Eleitoral, que assinaram a Constituinte, que participaram do governo pós impeachment de Itamar, ou seja, os verdadeiros democratas que têm a clareza que para o Brasil avançar não podemos pegar atalhos e nem fazer concessões com nossas conquistas democráticas.

Atrás do voto ético :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, responsável direto pela Receita Federal e pela nomeação de Otacílio Cartaxo para comandá-la, depois de um inexplicável mutismo nos primeiros dias - explicável apenas pelo temor de assumir uma posição - resolveu explicar-se ao distinto público com a mesma tática utilizada pelo governo nos diversos escândalos que estouraram nos últimos anos: preferiu admitir que a Receita não tem condições de controlar o sigilo fiscal do contribuinte a admitir que há intenções políticas na quebra de sigilo da filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e de pessoas ligadas a ele e ao partido oposicionista.

O próprio Cartaxo já assumira esse papel de desmoralizar-se publicamente, admitindo que a Receita estava fora de seu controle, transformada em uma agência de compra e venda de sigilos fiscais.

Tudo é feito para incluir no mesmo balaio as violações claramente políticas e as realizadas com fins puramente financeiros, neste mercado persa em que parece ter se transformado o órgão.

Perversamente, o governo parece respirar aliviado ao constatar que há uma lista de 140 pessoas que tiveram seu sigilo quebrado na agência de Mauá, em São Paulo, podendo dessa maneira confundir as investigações.

Tentando despolitizar o caso, o ministro da Fazenda age igual a um colega seu, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que, como advogado criminal de reconhecidos méritos, trouxe para dentro do governo a tese do caixa 2, para despolitizar o escândalo do mensalão em 2005.

E, da mesma maneira que faz hoje, também naquela ocasião o presidente Lula foi o primeiro a tipificar de crime eleitoral o que acontecia nos bastidores da base governista do Congresso, retirando do mensalão a carga de corrupção política grave que o caso realmente tinha.

Desta vez o presidente Lula tratou a questão da quebra de sigilo da filha do candidato tucano como sendo de crime de "falsidade ideológica", como se a falsificação da procuração utilizada para retirar da agência da Receita de Santo André os dados fiscais de Verônica Serra fosse o principal crime cometido.

Assim como aconteceu também em 2006, os governistas já começam a gritar aos quatro cantos que a oposição quer ganhar o jogo no "tapetão", mudando o resultado das urnas na Justiça Eleitoral.

Em primeiro lugar, a eleição não está decidida, apesar da enorme vantagem com que a candidata oficial aparece nas pesquisas eleitorais.

Há no máximo uma tendência de crescimento de Dilma Rousseff que, se continuar, juntamente com o movimento contrário do candidato José Serra, deverá levá-la à vitória.

Mas, se, como alegam os governistas, o PSDB está utilizando o episódio para tentar mudar essa trajetória e levar a eleição para o segundo turno, não há nada de anormal nessa ação política. O que vem acontecendo dentro da Receita Federal é a consequência de um aparelhamento político da máquina do Estado que vem sendo denunciado há muito tempo pela oposição, e nada mais lógico que ela sublinhe os perigos que a sociedade corre com um tipo de política como a que seus adversários utilizam.

O tema é de difícil compreensão para a maioria dos eleitores brasileiros, e é por isso que a campanha petista considera que terá pouco ou nenhum impacto na decisão final do eleitor.

Pode ser verdade, e constatar isso só aumenta a preocupação com o grau de compreensão de seus direitos dessa imensa massa de eleitores que, na definição do historiador José Murilo de Carvalho, "vive no mundo da necessidade" e votará "muito racionalmente" em quem ela julga capaz de ajudá-la.

Por outro lado, há um nicho de eleitores que já esteve apoiando o candidato tucano, José Serra, no princípio da campanha eleitoral que pode se sensibilizar pelas evidências de que os métodos nada republicanos enraizados na ação política petista são uma real ameaça ao estado de direito.

A candidata oficial, Dilma Rousseff, atualmente vence seu adversário em todas as regiões do país e em todas as classes sociais, mas pode vir a perder alguma substância nas grandes cidades, entre os eleitores de maior escolaridade ou renda, mais sensíveis a esse tipo de ameaça a seus direitos civis.

A mensagem do candidato tucano tem o objetivo de reconquistar esse eleitorado nestes momentos finais da campanha presidencial, e não há nada de errado nessa estratégia.

A acusação de que o PSDB está querendo ganhar a eleição no tapetão jurídico aproveita-se do que já considerei aqui um erro estratégico da oposição, que entrou com um pedido de investigação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra abusos do poder político por parte do governo federal, que estaria usando a máquina do Estado contra a oposição.

Continuo achando que existem fatos e indícios suficientes para que a oposição desencadeie, como vem desencadeando, uma ação política forte contra o governo.

Mas claramente não há ainda, em termos jurídicos, provas concretas que justifiquem uma ação que possa levar à impugnação da candidata do governo.

A campanha tucana alega que só existe esse caminho, e que pedir uma investigação da Justiça Eleitoral não significa tentar impugnar a candidatura adversária.

O pedido de investigação seria uma maneira de chamar a atenção da Justiça Eleitoral para o que está acontecendo, constrangendo assim os que estariam agindo ilegalmente, além de colocar o foco do TSE na questão do abuso do poder político por parte do governo.

Laços ligando a campanha de reeleição de Lula à compra do dossiê em São Paulo eram muito mais evidentes e claros em 2006, e nem por isso o PSDB na ocasião pediu a intervenção do TSE.

A situação atual é muito mais grave potencialmente do que aquela de 2006. Enquanto lá era puro ato de banditismo em campanha eleitoral, hoje há uma quebra constitucional que atinge os direitos civis dos cidadãos brasileiros, até mesmo daqueles que não entendem o alcance da ameaça, os muitos francenildos.

Casuarina - Disritmia

Macunaímas :: Miguel Reale Júnior

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Às vésperas de se definirem pelo voto os novos dirigentes do Brasil, cabe perquirir sobre a relação que se estabelece entre o sistema eleitoral e os personagens que atuam nesta trama denominada eleição. O primeiro personagem é, sem dúvida, o eleitorado, nossa gente.

Os relatos de viajantes nos primórdios do século 19 são manifestamente constrangedores, a mostrar características de nosso povo nos planos intelectual e moral. Thomas Lindsey, capitão de pequeno navio, aportou em Porto Seguro em 1801, onde foi preso por aceitar proposta do ouvidor-mor de trocar parte da carga que trazia por pau-brasil. Alegava em sua defesa que jamais poderia imaginar ser ilegal comerciar produto ofertado pela principal autoridade local. Permaneceu o inglês anos retido na Bahia. Em narrativa sobre o Brasil, destaca a ignorância dos habitantes e sua indolência, pois a "única ocupação que os empolga é o baralho". Mais contundente é a observação de que nos negócios prevalece entre os brasileiros a astúcia, sendo exceção os que preservam a retidão na realização de transações.

Quando da proclamação da República, mais de 80% eram analfabetos. No plano moral, Luís Martins, em O Patriarca e o Bacharel, reproduz versos de jovem líder republicano: "Aqui ser honrado é vitupério;/ confiar no direito é grã loucura;/ pois só pode fazer boa figura/ quem for servil ou não passar por sério." Para Alberto Salles, ideólogo da República, o brasileiro é muito sociável, mas não solidário, sem ter o sentido de comunidade e de bem comum. Daí a expressão que melhor traduz o individualismo egoísta: "Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro."

Se o País passou, evidentemente, por grande processo civilizatório de lá para cá, no entanto falta muito. Mário de Andrade, em fins dos anos 20, descreve o herói de nossa gente, Macunaíma, espelho do brasileiro como astuto, preguiçoso, espontâneo, a usar a "esperteza para escapar da socialidade adulta", na expressão de Alfredo Bosi.

Em Conta de Mentiroso, Roberto DaMatta indica o "jeitinho" brasileiro como forma de fuga da letra dura da lei, para fazer prevalecer as regras da amizade, do clientelismo, imperando a máxima "aos amigos tudo, aos inimigos a lei". Desse modo, o interesse pelo bem comum desaparece quando o agente político trata da coisa pública como se privada fosse.

No século 21, a situação nos planos intelectual e moral ainda é preocupante. Dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que, dos eleitores brasileiros, 8 milhões são analfabetos e 19 milhões apenas sabem ler e escrever sem terem frequentado uma escola, considerados, portanto, como de alfabetização rudimentar; 73,3 milhões de eleitores, ou 58,26% do total, não conseguiram completar o ensino fundamental. Excluídas as categorias anteriores, são 46 milhões de analfabetos funcionais, isto é, têm capacidade de decodificar minimamente as letras, de escrever uma pequena carta, mas não têm , todavia, capacidade de compreender textos, interpretá-los e analisá-los.

O autor de novelas da Globo Sílvio de Abreu, em entrevista à revista Veja, mostrou o desprezo atual pelo herói virtuoso, pois hoje deve, ao gosto do telespectador, ser do vilão a vitória, em vista de a esperteza ganhar reconhecimento de valor social.

O sistema eleitoral, por sua vez, só complica a situação, pois não vincula o candidato a deputado a interesses do eleitor, como ocorreria no voto distrital misto. São milhares de candidatos a deputado, sem coloração partidária alguma, mesmo porque os partidos e seus próceres se misturam e se igualam, sem disputas ideológicas ou programáticas, sem sequer divergências pessoais. Tudo se confunde.

O eleitor médio, sem poder de crítica, é, no caso da escolha para o Executivo, envolvido pelo clima emocional e na opção para deputado, levado a votar em nome conhecido de cantor, artista, jogador de futebol ou de chefete do reduto em que vive. A questão moral é indiferente: corruptos e mensaleiros foram e serão eleitos.

Um país sem heróis virtuosos adota como figura popular um presidente que reproduz Macunaíma, ao colocar a captação do eleitor, a esperteza, acima de qualquer outro interesse. Prova do que digo está no fato de o menino Leandro, do conjunto habitacional Nelson Mandela, ter desnudado o rei. Leandro gravou diálogo com Lula acerca da prática de esporte naquele local:

Leandro: Por que aqui não tem tênis?

Lula: Que tênis? Tênis é esporte da burguesia, porra! E natação?

Leandro: A gente não pode entrar na piscina.

Sérgio Cabral: Por quê?

Leandro: Porque não abre para a população.

Sérgio Cabral: Por que não abre para a população?

Leandro: Não sei, eu vim aqui hoje para perguntar...

Lula, então, volta-se para Sérgio Cabral e diz: O dia que a imprensa vier aí e pegar um final de semana com essa porra fechada, o prejuízo político será infinitamente maior que colocar dois guardas aí. Coloca dois guardas aí. Coloca o bombeiro para tomar conta e abre isso.

O popular presidente, cujo estilo debochado tem sucesso, mostrou, sem querer, mais que um modo de ser, desprezo pelo bem do povo. Como se viu, ao presidente pouco importa a população poder usufruir a piscina. É de relevo apenas evitar o malefício político de uma reportagem negativa: "Coloca dois guardas aí", que o prejuízo é muito menor que o desgaste político da denúncia do descaso. Atender à população é de somenos, o que vale é evitar o escândalo eleitoralmente desastroso. Mas o povo é indiferente a esta enorme amoralidade, à esperteza presidencial, que recebe aprovação maciça de uma população sem capacidade de crítica.

É dentro deste universo, pintado com realismo, que se definirá o nosso futuro. Que os políticos de bem a serem eleitos tenham a coragem e a indignação necessárias para resistir à eventual tomada do poder pelos macunaímas do século 21.


Advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi Ministro da Justiça

O império dos oprimidos :: Guilherme Fiuza

DEU EM O GLOBO

Quando estourou o escândalo do mensalão, em 2005, o companheiro Delúbio foi logo avisando que aquilo era uma tentativa de golpe da direita contra o governo popular. Agora, com o escândalo da espionagem na Receita Federal, a companheira Dilma alerta que "estão tentando virar a mesa da democracia". O enredo da esquerda oprimida, como se vê, é inesgotável.

É dura a tarefa de se perpetuar no poder e continuar oprimido. Requer uma formidável ginástica conceitual, quase um presépio de fetiches - o papai pobre, a mamãe heroica, o filho do Brasil, a manjedoura estatal. Foi penoso para o então tesoureiro Delúbio Soares interromper as baforadas no charuto cubano para gritar, empanturrado de verbas públicas privatizadas pelo PT, que precisava de socorro contra a ameaça das elites. Não deve ser fácil passar a vida erguendo barricadas imaginárias.

Dilma Rousseff que o diga. As operações na penumbra para detonar adversários políticos - como o dossiê Ruth Cardoso, montado em seu gabinete na Casa Civil - não lhe deixaram feridas. O famigerado "banco de dados" sobre as despesas pessoais da falecida ex-primeira-dama, que é exemplo de dignidade na política brasileira, parece até que não existiu. Sumiu na poeira da mitologia eleitoral, onde Dilma é apenas a mulher valente que luta pelos pobres.

O caso Lina Vieira também ficou invisível nesse presépio. A ex-secretária da Receita Federal denunciou Dilma por tráfico de influência, afirmando que a então ministra ordenou-lhe tratamento especial a um processo envolvendo a família Sarney. Lina sumiu, e a investigação também. O Brasil deixou para trás um indício grave de interferência política da ministra-chefe da Casa Civil na Receita Federal. Um belo habeas corpus para a conspiração.

O escândalo da invasão do sigilo da filha de José Serra na Receita, portanto, pode ser tudo - menos surpreendente. O roteiro do filme estava pronto, na cara de todos. Já tinha até trailer, com o caso Eduardo Jorge, o vice-presidente do PSDB cujo sigilo fiscal foi igualmente socializado. Há meses o país assiste a esse trailer soturno: como um cidadão de segunda classe, Eduardo Jorge persegue por conta própria a reparação por seus direitos violados, diante de uma Receita Federal impávida, fingindo-se de morta.

O caso Verônica Serra já começava a ser cozinhado no mesmo fogo lento. O secretário da Receita - o diligente substituto de Lina Vieira - chegara a informar que os dados de Verônica tinham sido solicitados por ela mesma. Aí entrou em ação a imprensa, essa entidade que existe para atrapalhar a química entre o governo de esquerda e o povo. E veio à tona a informação inconveniente: não só a procuração apresentada à Receita era falsa, como a essa altura a própria Receita já sabia disso. Sabia, mas não contou para ninguém. Deve ser uma outra concepção de sigilo.

Os percursos do valerioduto entre as estatais brasileiras e o partido do presidente, os bancos de dados extraoficiais, a conduta temperamental de órgãos técnicos capitais como a Receita Federal - para ficar só no universo da máquina pública - compõem uma literatura republicana no mínimo intrigante. Em circunstâncias normais, este seria um governo sob suspeita. Ou talvez, acossado pela vigilância democrática, já tivesse corrigido esses desvios - curando-se da obsessão de submeter o Estado ao cabresto partidário.

Mas as circunstâncias não são normais. Dificilmente haverá um paralelo, em toda a história da democracia, de um governo quase à prova de desgaste, que chega ao fim de um exercício de oito anos com menos de 5% da população a reprová-lo. E em regime de plena liberdade. Esta é a façanha de Lula, legítima, que todos precisam reconhecer - mesmo os que discordam de suas políticas. O problema é o que será feito com essa fortuna de popularidade.

O caminho da mistificação populista, simbolizado pela lavagem cerebral do "nunca antes na história deste país", provavelmente já estaria abrandado se o cenário da sucessão de Lula fosse outro. A necessidade de inventar Dilma Rousseff, uma militante despreparada, insegura e absolutamente desprovida de magnetismo e propensão ao diálogo, fez recrudescer a blindagem mitológica. A alta vulnerabilidade da candidata ressuscitou os instintos mais autoritários do PT.

O pesadelo de todos os envolvidos no Plano Dilma é que sua fragilidade e mediocridade acabem expostas em praça pública. E que o paraíso do lulismo acima do bem e do mal chegue ao fim, com a inevitável percepção geral dos problemas reais - como a bagunça institucional que avança no setor público, vide o escândalo da Receita, entre outros desmandos.

Resta a Dilma gritar que estão querendo virar a mesa da democracia, evocando os totens do oprimido para manter a hipnose coletiva. O risco para ela e seus companheiros é perder o poder. O risco para o Brasil é perder a liberdade.



GUILHERME FIUZA é escritor.

Generalidades nem um pouco inocentes : uma reflexão sobre a ‘novilingua’ petista :: Bolívar Lamounier

DEU NO BLOG DO BOLIVAR

Instado a comentar a quebra do sigilo fiscal da filha de José Serra, o ministro Guido Mantega disse hoje aos jornalistas que vazamentos na Receita Federal sempre ocorreram . E acrescentou : sistema à prova de violação, não existe.

Eu mal acabara de ler as palavras do ministro e já uma indagação pululava em minha cabeça : será que as altas lideranças petistas vêm tendo alguma atração especial por generalidades ? Por que têm vários deles optado por respostas genéricas quando o que se lhes pede são explicações sobre situações bem concretas e particulares ?

Por favor, me entendam . Longe de mim contestar a relevância do assunto tratado pelo ministro. O grau de segurança dos sistemas utilizados pela Receita Federal para salvaguardar informações sigilosas é, sem dúvida, um tema da maior importância.

O problema é que respostas genéricas, mesmo relevantes, muitas vezes soam como desconversa ou tergiversação.

Gramatical e tecnicamente, o ministro Mantega se expressou de maneira adequada. O site Folha.com transcreveu-lhe as palavras : “Vazamentos sempre ocorreram. Se você olhar para o passado, tem vários que aconteceram. A gente detecta, coíbe, pune e muda o sistema. Infelizmente, depois os contraventores conseguem achar uma maneira de furar isso”.


O que vem estarrecendo o país não é a vulnerabilidade potencial do sistema da Receita – ou seja, uma quebra de sigilo considerada em abstrato.

É a violação de informações de várias pessoas estreitamente ligadas a um candidato à presidência da República, sabendo-se, ademais, que pelo menos uma parte dessas informações foi parar nas mãos de pessoas ligadas à candidatura contrária.

Quase quatro décadas atrás, o que abalou os Estados Unidos não foi a possibilidade, genericamente falando, de um grupo qualquer de delinquentes invadir um escritório na calada da noite.

Foi o episódio específico, particular, concretíssimo de Watergate : a invasão do escritório dos democratas por meliantes a soldo dos republicanos e com o conhecimento do próprio presidente da república, Richard Nixon.

Mas devo aqui retomar a interrogação que suscitei no início do texto. Será que a alta direção petista anda mesmo seduzida por pensamentos genéricos ? Estará talvez com dificuldade – quem sabe pela ação de algum vírus – de ajustar o nível de abstração das respostas ao das questões de candente interesse público que reclamam sua atenção ?

Vou dar outro exemplo. Os que me lêem certamente se lembram de um episódio ocorrido em Cuba no começo deste ano : a morte de Zapata, um prisioneiro político em greve havia 85 dias. Os dois Castro foram severamente criticados no mundo inteiro pela persistente violação dos direitos humanos na ilha .

Naquele momento, como todos também se lembram, o presidente Lula e vários de seus auxiliares mais próximos encontravam-se na ilha.

A televisão mostrou cenas constrangedoras, uma das quais foi o presidente Lula comparando os presos políticos de Cuba a criminosos comuns de São Paulo.

Por razões óbvias, um comentário do doutor Marco Aurélio Garcia, assessor presidencial para assuntos internacionais, quase não foi comentado na imprensa. Cito de memória, certo de não estar distorcendo suas palavras : “Problemas de direitos humanos ocorrem no mundo todo”.

No plano das generalidades, a declaração do ilustre assessor foi precisa, irretocável. Como contestar que violações de direitos humanos ocorrem no mundo todo ? Eu não contesto.

O problema é o desajuste entre o pensamento expresso pelo mencionado assessor e a análise ou quem sabe o sentimento que a realidade à sua volta estava a demandar. A que realidade estou aqui me referindo ? À morte de Zapata, é claro. E aos cento e muitos prisioneiros que o regime cubano mantém e qualifica como “prisioneiros políticos”.

Vem-me também à memória uma declaração feita alguns anos atrás pelo próprio presidente Lula. Foi durante uma entrevista que ele concedeu em Paris à imprensa brasileira – a uma única jornalista, se me lembro bem.

Perplexo, o Brasil inteiro queria conhecer o pensamento de Sua Excelência sobre aquela abundância inacreditável de desmandos e irregularidades que entrou para a história como o escândalo do “mensalão” : o envolvimento mais que comprovado de congressistas ligados à base do governo ; a clara demonstração de que vários deles receberam, diretamente ou por interposta pessoa, polpudas somas em espécie em dois ou três bancos ; o presidente do PT declarando ter tomado um empréstimo bancário sem ler o documento pertinente. Etc etc etc.

Foi nessa ocasião que o presidente do Brasil encampou e tornou “oficial” a doutrina Márcio Thomaz Bastos : “foi tudo caixa 2, e caixa 2 todo mundo faz ; portanto…”

Eis aí, mais uma vez, a linguagem-padrão a que me referi : um gosto que pouco ou nada tem de inocente por generalidades . Um estranho e chocante desajuste entre o que a autoridade diz e a explicação que a realidade à sua volta exige.

Serra Presidente - Programa de 02/09 (noite)

Freire compara Lula a Mussolini

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Perfil eleitoral Roberto Freire/Candidato a deputado federal

Pedro Venceslau

Presidente do PPS, aliado de José Serra trocou Pernambuco por São Paulo em busca de votos no principal reduto tucano

Depois de quatro anos sem mandato parlamentar, o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, decidiu tentar a vida política em outra praça. Deixou a Ilha do Retiro, no Recife, e mudou-se de santinhos e cuia para o bairro de Higienópolis, em São Paulo, onde mora com a esposa e a filha desde 2006. É de lá que ele sai todos os dias para garimpar os votos que precisa para voltar para a Câmara dos Deputados. Freire reconhece que a mudança pode gerar "um certo preconceito", mas diz que considera natural um certo "paulicentrismo" na política.

"Quem tem expressão em São Paulo tem expressão nacional. Jorge Amado era baiano, mas foi eleito deputado pelo PCB de São Paulo. E o Fernando Henrique é do Rio de Janeiro". Em sua nova base, Freire não busca redutos, mas os votos de opinião de quem o vê como um dos mais aguerridos opositores do governo Lula.

Se vencer, ele certamente ocupará a linha de frente de um eventual governo Serra ou será um dos mais destacados quadros da oposição a Dilma Rousseff (PT). Ex-senador por Pernambuco, Freire fez uma aposta segura: trocou o estado onde o lulismo pulsa com mais vigor pelo maior ninho tucano do Brasil. A mudança deixou o líder do PPS fisicamente mais próximo do comando da campanha de José Serra (PSDB), onde ocupa lugar estratégico. Entre os líderes dos partidos aliados, ele é de longe o mais influente. Freire tinha acabado de ler as manchetes do dia quando recebeu a reportagem do BRASIL ECONÔMICO em seu apartamento.

Sua avaliação sobre os desdobramentos eleitorais do episódio da quebra do sigilo de Verônica Serra é cautelosa e pragmática.

"Não acho que isso vai virar o jogo", resume. Freire elogiou o discurso duro e emocional de Serra em um evento do dia anterior, mas ponderou.

"Vou ser franco. Muitas pessoas analisam esse fato como combustível para a campanha, mas esse tema não tem a carga emocional dos aloprados em 2006, por exemplo. Não existe dessa vez uma fotografia do dinheiro na mesa. Sem a imagem, o efeito é menor". Ainda assim, ele revela que o caso será usado na campanha de TV e observa: "Isso sem dúvida estimulou a militância e até o próprio candidato. Ele se sentiu agredido. A garra dele será maior agora".

Fascismo

A palavra mais usada por tucanos e aliados na hora de repercutir o caso tem sido fascismo.Ex-comunista do PCB e convertido à social-democracia, Roberto Freire vai mais longe.
Cita uma terminologia marxista para fazer um paralelo entre Lula e Benito Mussolini. "Mussolini era um líder de esquerda. Lula quer fazer o mesmo que ele: uma grande aliança entre o capital e o lumpesinato (termo que designa uma camada social carente de informação). Ele também já falou em criar um grande partido único. Foi essa aliança que fundamentou o fascismo". Freire vai adiante e cita outro exemplo dessa suposta aproximação. "A atitude de Lula nessa campanha, de agredir oposicionistas, como fez em Pernambuco com Marco Maciel e Raul Jungmann, é fascista. Isso incentiva outras agressões. Quem garante que não haverá um atentado?".

Antes de encerrar a entrevista, Freire ainda faz uma rápida e ácida análise do desempenho da oposição nos últimos oitos anos.

"A oposição foi tímida. O DEM e o PSDB só criticaram a questão ética (do governo Lula), mas nunca a econômica. Eles blindaram mais o (Antonio) Palocci que o (Pedro) Malan (ex ministro da Fazenda)".

SOCIAL-DEMOCRACIA

Independentemente do resultado das urnas, um debate político certamente será deflagrado no ano que vem: a fusão entre o PPS (Partido Popular Socialista) e o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) O assunto já foi discutido internamente diversas vezes entre as duas legendas. As primeiras conversas ocorreram em 1994 “por iniciativa do PSDB”, como lembra Freire. “Setores do Partido defendiam isso, mas a conversa não avançou porque o PPS resistiu, conta, No ano passado, o projeto ressurgiu, mas dessa vez por iniciativa dos socialistas. “O PPS não rejeita a ideia de fusão, mas isso tem que partir do maior partido”.

Ex-comunista do PCB, partido pelo qual disputou a Presidência contra Lula, Collor e Brizola em 1989, Freire foi o principal responsável pela transformação da legenda em social-democrata. A mudança definitiva aconteceu em 1992, quando o PCB organizou um grande congresso e mudou de nome para PPS. Uma facção da legenda resistiu e “refundou” o PCB, hoje um partido nanico.

A inspiração foi o colapso do socialismo na Europa e a reformulação programática e ideológica do então mais forte partido comunista da região, o PCI (Partido Comunista Italiano), que passou a chamar-se PDS (Partido da Esquerda, na sigla em italiano). “Eu defendi em 1992 que o nome do nosso partido fosse PDE (Partido Democrático de Esquerda) mas fui voto vencido e o nome ficou PPS”, lembra Freire. Apesar de reconhecer que o PSDB e PT bebem hoje na mesma fonte teórica, a social democracia, ele rechaça a ideia de aproximação entre os dois partidos. “Haverá um realinhamento político no Brasil, mas não entre PT e PSDB.

O que o Lula quer é criar um grande partido único. Isso é perigoso”, conclui.

Contador estava no PT quando acessou sigilo da filha de Serra

DEU EM O GLOBO

Mantega diz que Receita sempre foi vulnerável; para Lula, escândalo é futrica menor

O contador Antônio Carlos Atella Ferreira era filiado ao PT quando entregou à Receita a falsa procuração usada para violar o sigilo fiscal da filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. O TRE-SP informou ao "Jornal Nacional" que Atella foi filiado ao PT paulista de 2003 a 21 de novembro de 2009, quando teve seu registro excluído do cadastro do tribunal. Em 30 de setembro de 2009, menos de dois meses antes, ele ingressou com o documento falso em nome de Verônica Serra. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que "vazamentos sempre ocorreram" na Receita porque o sistema não é inviolável. Lula chamou o escândalo de "futrica menor".

Procuração de petista

Suposto contador que levou documento falso de filha de Serra à Receita era do PT

Tatiana Farah

Acusado de participar do esquema de vazamento de dados sigilosos da Receita Federal, o suposto contador Antônio Carlos Atella Ferreira, de 62 anos, foi filiado ao PT paulista de 2003 a novembro de 2009, segundo noticiou ontem o "Jornal Nacional", da Rede Globo. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo confirmou a filiação partidária e informou que Atella teve seu registro excluído em novembro do ano passado, quase dois meses depois de ele ter apresentado à Receita, em Santo André, no ABC paulista, uma procuração falsificada em nome de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, para ter acesso aos dados fiscais dela.

De acordo com o TRE-SP, Atella ingressou no PT por Mauá - cidade do ABC paulista onde foram violados os dados fiscais de tucanos ligados a Serra - e depois mudou sua filiação para a cidade de Rio Grande da Serra, até ter seu registro excluído do cadastro. Segundo o TRE, Atella filiou-se ao PT em 20 de outubro de 2003 e foi excluído do cadastro em 21 de novembro do ano passado. Ele ingressou com a procuração falsa em nome de Verônica no dia 30 de setembro de 2009, dois meses antes, portanto, de ser excluído do cadastro de filiados.

O TRE-SP explicou que o fato de a anotação de filiação ter sido excluída do cadastro de eleitores não significa desfiliação, mas a existência de algum dado divergente que o partido não corrigiu. Antes de a informação do TRE-SP ser divulgada pelo "Jornal Nacional", o PT paulista dissera ao GLOBO ter feito uma busca no sistema de registros partidários do TRE e que o nome de Atella não constava como filiado a nenhum partido.

Em resposta ao "Jornal Nacional", o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, afirmou que Atella nunca teve atuação política no partido. Segundo ele, se "a filiação existiu de fato, ela foi apenas cartorial". Dutra voltou a negar que exista participação do PT e da campanha da candidata Dilma Rousseff na violação dos sigilos.

Atella havia afirmado, na véspera, que nunca fora filiado a nenhum partido. Ontem, Atella prestou depoimento à Polícia Federal, em São Paulo, mas o que ele disse não foi divulgado.

Procurado pela TV Globo após as informações do TRE, Atella disse não se lembrar de ter integrado um partido e alegou que, se isso ocorreu, deve ter sido por algum momento de empolgação.

Atella tinha dito, na véspera, que recebera a procuração forjada de Ademir Estevam Cabral. Ademir é filiado ao PV de Francisco Morato desde 2007. O PV abriu uma sindicância para apurar o caso. A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, disse que a direção do partido já está investigando para que, se houver "qualquer envolvimento ilícito, ele seja expulso".

- Trata-se de pessoa periférica dentro do partido, mas mesmo assim queremos todo o rigor, apuração rápida e punição - disse Marina.

Atella ficou ontem cerca de cinco horas na superintendência da PF em São Paulo e pôde sair por uma porta lateral, longe da imprensa. Ele afirmou que foi orientado a não falar mais com jornalistas.

- Não estou autorizado a dar mais nenhuma palavra. O caso está em segredo de Justiça - disse.

A PF colheu sua assinatura para um exame grafotécnico. O objetivo é conferir as assinaturas de Atella com as que aparecem na falsa procuração de Verônica. Ela também deve fazer o mesmo teste de assinaturas, para confirmar que houve falsificação no documento. Caso confirmada a fraude, o técnico contábil pode ser indiciado por falsificação de documentos e falsidade ideológica.

A PF também pediu a quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de Adeildda Ferreira Leão dos Santos, uma das funcionárias da Receita que teriam acessado dados tanto de Verônica como de outras pessoas ligadas ao PSDB na sede da Receita Federal do ABC Paulista. O HD de seu computador na instituição foi recolhido pela PF e está sendo periciado em Brasília.

FRASE DE ONTEM

Não que não fosse - outros 140 registros também foram vasculhados ali. Se tivesse uma gota de vergonha, aliás, o secretário Otacílio Cartaxo já teria se demitido. Eis, em suma, o que o governo Lula e a cultura petista fizeram do Fisco: uma repartição em que o livre tráfico de informações presumivelmente seguras sobre os contribuintes brasileiros se entrelaça com o uso da máquina, literalmente, para intuitos eleitorais torpes. O crime comum e o crime político se complementam. Agora, destampada a devassa nas declarações de Verônica Serra, vem o presidente Lula falar em "bandidagem". Se quiser saber quem é o responsável último por essa degenerescência, basta se olhar no espelho.

(Do editorial ‘O responsável pela bandidagem’, em O Estado de S. Paulo, 3/9/2010)

Sobre fraudes na Receita, Mantega diz que 'vazamentos sempre ocorreram'

DEU EM O GLOBO

Ministro da Fazenda nega que quebra de sigilo tenha relação com eleições

GUIDO MANTEGA dá entrevista coletiva em São Paulo: "Temos melhorado o sistema de segurança da Receita"

Ronaldo D"Ercole

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o acesso ilegal a dados restritos, seja da Receita ou até de bancos privados, não é um fato incomum, pois, segundo ele, não existe sistema inviolável. Para o ministro, vazamentos sempre ocorreram, e tentar coibi-los é tarefa permanente para governos e empresas.

- Vazamentos sempre ocorreram. Se você olhar para o passado, tem vários que aconteceram. A gente detecta, coíbe, pune e muda o sistema. Infelizmente, depois os contraventores conseguem achar uma maneira de furar isso. E aí nós temos que fazer um novo sistema e punir rigorosamente aqueles que o violam - afirmou o ministro, em São Paulo, em entrevista para comentar os dados do PIB (Produto Interno Bruto).

Questionado sobre a gravidade do assunto, Mantega inicialmente tentou esquivar-se, dizendo que o tema não estava em pauta. Mas acabou admitindo que os sistemas da Receita têm vulnerabilidades.

- Temos melhorado o sistema de segurança da Receita, assim como as organizações todas melhoram os seus. Porém, não há sistema inviolável. Outro dia, aqui no Centro de São Paulo, podiam-se comprar disquetes com informações até de bancos privados - disse Mantega, referindo-se à reportagem do GLOBO que denunciou o comércio ilegal de todo tipo de dados sigilosos a céu aberto.

Mantega negou que os vazamentos de dados sigilosos da Receita Federal tenham relação com a disputa eleitoral. Ele alegou que as informações obtidas ilegalmente não se limitaram a pessoas com "vinculação partidária", mas envolveram um número muito maior de contribuintes:

- Na verdade, não foi só o sigilo de algumas pessoas com vinculação partidária que foi quebrado. Foi um número muito maior.

Sobre o fato de o sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato tucano à Presidência, José Serra, ter sido violado com uso de uma procuração falsa - e, mesmo sabendo disso, a Receita ter tentado justificar o vazamento dos dados alegando ter apenas atendido um pedido da própria Verônica -, Mantega afirmou que as respostas para isso já foram dadas:

- As respostas dessa questão já foram dadas exaustivamente.

Mantega disse que ninguém está encarando o problema com mais seriedade do que o governo. Prova disso, continuou, é que o processo de investigação tramita com celeridade "incomum" na própria Receita:

- Isso tem que ser investigado e está sendo investigado pela Corregedoria da Receita, que é um órgão independente, com rigor e com maior rapidez que de costume.

Mantega voltou a dizer que não pensa em exonerar o secretário da Receita, Otacílio Cartaxo:

- Não cogito substituir o secretário Cartaxo.

Receita retardou envio ao MPF de dados de sindicância

DEU EM O GLOBO

Cópias só foram remetidas a procurador um mês depois do pedido

Roberto Maltchik

BRASÍLIA. A Receita Federal retardou o envio ao Ministério Público Federal dos dados da sindicância interna sobre o vazamento de declarações de renda de tucanos. As cópias do processo só foram remetidas ao procurador federal que abriu investigação sobre o caso em Santo André um mês depois de o pedido chegar ao Fisco.

Em documento encaminhado à Delegacia da Receita Federal em Mauá, no dia 27 de julho, o procurador da República André Lopes Lasmar solicitou cópia dos autos, que à época já apontavam a analista tributária Antônia Aparecida Rodrigues dos Santos como suspeita de participar da violação de informações fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge.

Inicialmente, a Receita negou o pedido, informando que a cópia havia sido entregue à Corregedoria da Receita. Já a Corregedoria só encaminhou o processo ao Ministério Público Federal no dia 24 de agosto, junto com o ofício 02/2010, informando que, além de Antônia, a servidora do Serpro Adeildda Ferreira Leão dos Santos também estava sob investigação. Na prática, o procurador André Lopes Lasmar, de Santo André, recebeu a documentação no mesmo dia em que o processo administrativo chegou à Procuradoria da República no Distrito Federal, apesar dos supostos crimes terem sido cometidos no estado de São Paulo.

Presidente do processo acessou dados de Lúcia

As informações encaminhadas ao Ministério Público estavam atualizadas até o dia 19 de agosto.
Curiosamente, o presidente do processo administrativo, Levi Lopez, acessou às 18h de 20 de agosto, um dia depois, os dados pessoais de Lúcia de Fátima Gonçalves Tavares, analista tributária da Delegacia da Receita Federal em Santo André (SP) que extraiu cópia das declarações de IR de Verônica Serra. O nome de Lúcia emergiu às 16h59m do mesmo dia 20, quando o presidente do processo administrativo descobriu que a analista tinha acessado a declaração de Verônica.

Lúcia acessou as informações fiscais da filha de José Serra para atender a uma procuração fraudulenta apresentada pelo contador Antônio Carlos Atella Ferreira, que diz não saber quem foi o verdadeiro autor da solicitação. Atella prestou depoimento ontem à Polícia Federal em São Paulo.

No dia 24 de agosto, a Corregedoria já estava convicta de que o acesso aos dados de Verônica Serra tinha sido irregular. Tanto é verdade que nesta data o presidente do processo administrativo determina a busca do disco rígido usado na estação de trabalho de Lúcia de Fátima no dia 30 de setembro de 2009, data do acesso à declaração do IR. Na mesma ata de deliberação, Levi Lopez manda comunicar ao Ministério Público de São Bernardo do Campo que "apura possíveis irregularidades disciplinares, que, em tese, podem implicar improbidade administrativa".

O conjunto de informações, entretanto, só chegou ao Ministério Público em 1º de setembro, quando o corregedor esteve pessoalmente na Procuradoria da República do Distrito Federal para entregar os originais que demonstram a quebra de sigilo fiscal de Verônica Serra.

Mesmo com os lapsos temporais, a Procuradoria da República no Distrito Federal divulgou nota anteontem informando que "tem sido frequentemente atualizada pela RFB acerca das apurações em andamento" e que "as cópias têm sido imediatamente remetidas para juntada no inquérito policial".

BB terá que enviar informações à PF

DEU EM O GLOBO

Movimentação na conta de Eduardo Jorge será investigada

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. A Justiça Federal determinou que o Banco do Brasil envie à Polícia Federal informações sobre todos os registros de acessos à conta bancária do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas. A PF pediu a quebra do sigilo para investigar a suspeita de que informações da conta do tucano tenham sido violados, como ocorreu com suas declarações de renda na Receita.

A ordem para que o banco faça um levantamento e repasse as informações à PF chegou à direção do BB segunda-feira. Em nota oficial, o banco confirmou ontem o recebimento da ordem expedida pela 12ª Vara Federal. A PF está investigando suposta violação do sigilo bancário e fiscal do tucano desde o mês passado.

"O Banco recebeu ofício da Justiça e vai se manifestar, adequadamente, na forma processual", diz o texto.

A PF decidiu investigar a quebra do sigilo bancário de Eduardo Jorge a partir de denúncia do próprio tucano. Em depoimento ao delegado Hugo Uruguai, em 5 de agosto, Eduardo Jorge disse que os valores de dois depósitos feitos em sua conta numa agência do Banco do Brasil em fevereiro e março deste ano foram vazados. Ele afirmou que os dados estariam em poder da equipe de inteligência da pré-campanha à Presidência de Dilma Rousseff (PT).

A ex-ministra e o PT negam as acusações e cobram provas. Eduardo Jorge disse que soube do caso por intermédio de um repórter da revista "Veja":

- O repórter, ao me consultar sobre a existência de um grupo de inteligência (na campanha da ex-ministra), mencionou depósitos bancários dos quais não poderia ter conhecimento, o que implicaria a quebra do meu sigilo.

Os valores dos dois depósitos não chegaram a ser divulgados. Mas, para Eduardo Jorge, não há dúvida de que sua movimentação bancária foi vasculhada. A partir da denúncia, o delegado Uruguai pediu, por intermédio da Justiça Federal, que o Banco do Brasil faça um rastreamento para identificar se, de fato, a conta foi acessada indevidamente no início deste ano.

O SisBB, sistema que administra o funcionamento do banco, tem mecanismo de controle que permite identificar todos os acessos às contas dos correntistas. Qualquer consulta a uma conta fica no jargão do banco "tracejada", ou seja, é possível saber a matrícula do funcionário, com hora e duração da consulta.

Sindicância da Receita Federal já confirmou que os dados fiscais de Eduardo Jorge e de outras pessoas ligadas ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, foram violados em outubro do ano passado.

O BB tomou conhecimento do conteúdo do depoimento de Eduardo Jorge pela imprensa, mas não abriu procedimento interno para checar a veracidade. Na nota divulgada ontem à tarde, o banco diz que nada tinha a fazer por falta de dados concretos. Segundo a direção, "até o momento, não foi identificado qualquer fato que indique violação de sigilo nem que aponte nessa direção". O banco reclamou que "a instituição, que tem ações negociadas em Bolsa, seja exposta na cobertura jornalística, sem a apresentação de dados concretos".

A PF está fazendo perícia no disco rígido (memória) do computador usado por Adeildda Ferreira Leão, acusada de acessar indevidamente as declarações fiscais de Eduardo Jorge. A polícia aguarda a decisão da Justiça para analisar as ligações telefônicas de Aldeidda no período da quebra do sigilo do tucano. Este seria um dos caminhos para chegar aos mandantes do crime. A polícia também está aguardando as amostras grafotécnicas do contador Antônio Carlos Attela Ferreira e de Verônica Serra, filha de Serra. Attela é acusado de usar uma procuração falsa para devassar os dados fiscais de Verônica.

Serra: 'PT quer botar vítimas na cadeia'

DEU EM O GLOBO

Em Joinville, tucano volta a acusar a Receita de fazer "operação-abafa"

SERRA ironiza, em Joinville, as ações que o PT move contra ele e o PSDB

Adauri Antunes Barbosa

JOINVILLE (SC). O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem em Joinville que o PT está fazendo uma "inovação significativa", ao defender que vítimas sejam postas na cadeia, em vez de bandidos. Serra, que acusa a campanha da adversária Dilma Rousseff pelo vazamento de dados fiscais de tucanos, referia-se às ações que o PT move contra ele e o PSDB por injúria, calúnia e difamação

- O PT faz inovação. Além de não botar bandido na cadeia, eles agora querem pôr as vítimas na cadeia. É realmente uma inovação significativa da parte de um partido - disse o candidato tucano, que se encontrou em Joinvile com empresários na Associação Comercial e Industrial.

Serra voltou a acusar a Receita Federal de fazer uma " operação-abafa" para não punir os responsáveis pelo vazamento dos dados sigilosos. Serra negou que tenha pedido à Justiça a cassação da candidatura de Dilma. Disse que o pedido enviado à Justiça Eleitoral era para a apuração das responsabilidades sobre o vazamento do Imposto de Renda de sua filha, Verônica:

- Não se pediu a cassação de ninguém, pedia que se apurasse o que aconteceu. Quem não deve não teme.

Segundo Serra, o PT está criando um "factoide" quando afirma que ele pediu a cassação de Dilma:

- Como a Dilma diz que não fez nada, não teria problema nenhum. Eles estão agora tentando criar um factoide.

Sobre a decisão da Justiça pelo arquivamento do pedido do PSDB contra Dilma e o PT, Serra foi lacônico:

- Não me pronuncio sobre decisão de juiz.

Governo de S. Paulo põe Polícia Civil no caso

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Marcelo Godoy, Bruno Tavares e Fausto Macedo

O Palácio dos Bandeirantes colocou ontem a Polícia Civil na investigação sobre a fraude de que a empresária Verônica Serra foi vítima. A medida foi tomada menos de 24 horas depois de o presidente Lula determinar à PF rapidez na apuração do caso. A decisão foi tomada pelo Secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto.

A iniciativa do secretário teve o apoio do governador Alberto Goldman. Os dois conversaram anteontem à noite antes de o governador embarcar para Washington. Ferreira convocou o delegado-geral, Domingos de Paulo Neto, que repassou a tarefa de investigar a quadrilha ao Demacro, unidade responsável pelos distritos da Grande São Paulo.

"Vamos verificar a assinatura falsa do escrevente, a falsificação do selo e a da assinatura. Não vamos apurar a quebra de sigilo, pois esse é um crime federal", afirmou o delegado Marcos Carneiro Lima, diretor do Demacro.

Serra diz que em janeiro avisou Lula de ''armação''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente reage, afirma que insinuações em blogs são rotina e que tem ""coisas mais sérias para cuidar em vez de estudar as dores de cotovelo"" do tucano

Marcelo de Moraes e Elder Ogliari

O candidato tucano José Serra disse ontem que chegou a avisar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a possibilidade de ter havido quebra de sigilo fiscal de sua filha Verônica Serra. Em entrevista dada ao portal IG, Serra disse que tratou do assunto com o presidente em janeiro deste ano, quando levantou a suspeita que poderia ter sido violado o sigilo de Verônica.

Na ocasião, Serra aparecia na liderança das pesquisas de intenção de voto e se preparava para confirmar sua candidatura à sucessão de Lula enfrentando a petista Dilma Rousseff.

"Eu disse a ele (Lula) que havia uma armação contra familiares meus, inclusive no blog do Lula, no blog da Dilma, dos amigos do Lula. E que tinha inclusive elementos de quebra de sigilo. Eu estava preocupado e passei cópia para ele disso em janeiro", afirmou. "Mas só se confirmou a quebra agora. Eu suspeitava", disse Serra ao IG, confirmando informação publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.

Em Porto Alegre, Lula rebateu a declaração. "Não tem nada de mais que a internet publicou", reagiu Lula. "Tem insinuações, como tem contra o presidente Lula, como tem contra a família do presidente Lula, como tem contra vocês, jornalistas."

"Tenho coisas mais sérias para cuidar do que as dores de cotovelo do Serra", ressaltou, insinuando que o tucano estaria usando o episódio para atrapalhar a candidatura da rival Dilma Rousseff (PT). "Serra precisa saber de uma coisa: uma eleição a gente ganha convencendo os eleitores a votar na gente, não é tentando convencer a Justiça Eleitoral a impugnar adversários. O senhor Serra que vá para a rua, que melhore a qualidade do seu programa, que faça proposta de coisa que ele quer fazer para o nosso país, que apresente soluções para o crescimento industrial."

Corpo mole. Na entrevista ao portal IG, Serra criticou a atuação da Receita no caso e disse que está havendo "corpo mole" na apuração e uma espécie de "operação abafa" para impedir o avanço das investigações. A campanha petista nega responsabilidade no caso e ainda decidiu abrir processos contra Serra por conta das acusações a Dilma e ao PT. Na entrevista, o tucano voltou a culpar Dilma.

"A campanha é de responsabilidade da candidata. E as pessoas que ela escolhe são de responsabilidade dela. Qualquer pessoa que lê as coisas na imprensa vê que houve um envolvimento. Houve ato criminoso de quebra de sigilo com fins político-eleitorais que são óbvios. Isso vem desde o ano passado", insistiu. "Ela (Dilma) é responsável, sem dúvida nenhuma. Você é responsável pelo que acontece na sua campanha."

O tucano alegou que só não revelou antes sua suspeita porque não tinha confirmação sobre a veracidade das denúncias. Também afirmou que não cobrou do presidente, na época, que tomasse alguma atitude em relação ao problema. "Eu não o intimei. Não tinha provas. Não revelei a ele algo que estivesse acontecendo. Revelei algo que podia estar acontecendo. E também o meu profundo desagrado por utilizar meus filhos. Não pedi a ele para tomar providências", explicou o presidenciável.

Dilma para de subir, e Serra, de cair

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, parou de avançar e se mantém com 51% das intenções de voto, segundo a pesquisa do Ibope para o Estado e a TV Globo. Da mesma forma, José Serra (PSDB) parou de cair e aparece com 27%, mesmo índice verificado há uma semana. O resultado da pesquisa, feita entre 31 de agosto e 3 de setembro, capta apenas parcialmente os eventuais efeitos do noticiário a respeito da quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato tucano. Segundo o Ibope, Dilma teria 59% dos votos válidos e venceria no primeiro turno.

Dilma para de avançar e Serra deixa de cair, indica pesquisa Ibope

Petista mantém 51% e tucano, 27%, em levantamento que capta só parcialmente eventuais efeitos do noticiário sobre devassa ilegal de IR

Daniel Bramatti e José Roberto de Toledo

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, parou de avançar na corrida eleitoral e se mantém com 51% das intenções de voto, segundo a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Da mesma forma, José Serra (PSDB) parou de cair, suspendendo uma tendência iniciada no início de agosto. O tucano aparece com 27% das preferências, mesmo índice verificado na pesquisa anterior do Ibope, divulgada no último sábado. Marina Silva (PV) oscilou de 7% para 8%.

Com esses números, Dilma teria 59% dos votos válidos (excluídos os brancos, nulos e indecisos) e venceria no primeiro turno. Na eventualidade de ocorrer um segundo turno, ela manteria o favoritismo e teria 22 pontos de vantagem sobre Serra (55% a 33%), segundo o Ibope.

O resultado da pesquisa, feita entre os dias 31 de agosto e 3 de setembro, capta apenas parcialmente os eventuais efeitos do noticiário sobre a quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB.

Apesar de Dilma ter estacionado, a pesquisa voltou a registrar aumento na expectativa de vitória da petista. Para 69% dos eleitores, ela será a futura presidente - eram 66% há uma semana. Apenas 17% creem que Serra será o vitorioso - o índice caiu pela metade desde o início de julho.

Eleitores seguros. Houve uma oscilação positiva de dois pontos porcentuais na intenção de voto espontânea da petista, que passou de 41% para 43%. Serra aparece com 20%, menos da metade do índice da adversária. Nessa modalidade, os eleitores manifestam sua preferência sem ler a lista de candidatos - é, portanto, uma declaração de voto mais consolidado.

Na divisão do eleitorado por gênero, Dilma teria hoje o dobro de votos de Serra entre os homens (54% a 27%). No segmento feminino, ela também venceria, mas por margem menor (49% a 28%). Há mais indecisos (9%) entre as mulheres que entre os homens (6%).

A candidata do PT é líder isolada em todas as faixas de renda, com exceção da mais alta - a dos eleitores com renda familiar superior a cinco salários mínimos. Nesse caso, há um empate técnico entre ela (36%) e Serra (38%). No eleitorado mais pobre, com renda inferior a um salário mínimo, Dilma tem quase o triplo das intenções de voto do adversário.

Geografia do voto. Nas distintas regiões do País, a única alteração significativa no intervalo entre as duas pesquisas mais recentes ocorreu no Sul. Dilma passou de 40% para 44%, ampliando sua vantagem sobre o adversário de cinco para nove pontos.

No Nordeste, a petista tem 47 pontos de folga (65% a 18%). No Norte/Centro-Oeste, ela lidera por 55% a 25%. No Sudeste, que reúne os maiores colégios eleitorais, a vantagem é de 13 pontos (44% a 31%).

Nos municípios com menos de 20 mil habitantes, a ex-ministra da Casa Civil atinge 58% das intenções de voto. Nas localidades maiores, com mais de 100 mil habitantes, seu eleitorado é menor (47%). Serra tem 25% e 28%, respectivamente.

Jornal do Brasil:: Graziela Melo

Bem foi embora o JB. O último número impresso circulou antes de ontem. Já vi os últimos suspiros do "Correio da Manhã" e da "Ultima Hora". Ainda, se não me engano, nos tempos da dita. Dirigido, nos seus primórdios, pela Condessa Pereira Carneiro, o JB teve em seus quadros as melhores cabeças do jornalismo. Aliás, por lá também passou o nosso querido Barão de Itararé que chegou a proporcionar um hilário e conhecido episódio "de trabalho", quando, cobrado pelo pessoal da redação para entregar o texto que já estava atrasado, saiu-se com essa:

“Senhora D. Condessa
eu vos peço, permitais
que introduza o com que mijo
no por onde vós mijais...”

É, é triste, mas foi embora o JB em papel. Agora só em internet.

PS- Voltando ao tema Receita, pasmem com a capacidade de cinismo do nosso guia. Ultimo parágrafo do editorial do Estadão de ontem:

“Agora, destampada a devassa na declaração de Verônica Serra, vem o Presidente Lula falar em "bandidagem". Se quiser saber quem é o responsável ultimo por essa degenerescência, basta se olhar no espelho.”

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Villa Lobos - Bachiana nº 5 - Amel Brahim

A RUA DOS CATAVENTOS:: Mario Quintana

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...

E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!