domingo, 10 de dezembro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Recuo aparente de Maduro traz chance de diálogo com Guiana

O Globo

Movimento resultante da intervenção de Lula abre a esperança de uma solução pacífica para investida venezuelana

Depois de conversar ao telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ditador venezuelano Nicolás Maduro esboçou seu primeiro recuo na pretensão de invadir a Guiana. “A Guiana e a ExxonMobil [petrolífera americana que explora a costa guianesa] terão que sentar e conversar conosco, o Governo da República Bolivariana da Venezuela. De coração e alma, queremos paz e compreensão”, escreveu numa rede social. Em resposta, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, afirmou “não se opor” a dialogar sobre Essequibo, área de seu país reivindicada pela Venezuela. Ficou marcado para a semana que vem um encontro entre os dois.

É essencial que Maduro dê provas de que suas intenções são mesmo pacíficas, mas seu aparente recuo afasta por ora o cenário de conflito e traz a esperança de resolução diplomática para a tensão decorrente dos movimentos do ditador nas últimas semanas. Em plebiscito, 95% dos eleitores venezuelanos apoiaram a anexação do Essequibo, região correspondente a mais de dois terços da Guiana, rica em petróleo e recursos minerais. Na terça-feira, Maduro nomeou um general como “autoridade única” do território reclamado e apresentou um novo mapa da Venezuela, desafiando decisão da Corte Internacional de Justiça, em Haia.

Merval Pereira - Assim é se lhe parece

O Globo

Nada mais exemplar da “calcificação” das posições ideológicas na sociedade brasileira, termo já consagrado pelo livro “Biografia do abismo”, do cientista político Felipe Nunes e do jornalista Thomas Trauman, que a constatação de que as mesmas atitudes criticadas por um lado são adotadas por esses mesmos críticos quando lhes convém.

A possibilidade de o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski vir a ser o próximo ministro da Justiça do governo Lula, tratada com naturalidade por petistas e associados, tem o mesmo significado de o então juíz Sérgio Moro ter aceitado ser ministro da Justiça do governo Bolsonaro.

A aceitação por parte de Moro foi considerada uma confissão de que ele condenou o ex-presidente Lula para beneficiar Bolsonaro, o que é desmentido pelos fatos. Ficou famoso o vídeo em que Bolsonaro, ainda candidato inexpressivo, bate continência para o juíz Sérgio Moro, então o todo poderoso da Operação Lava Jato. Moro nem lhe dá confiança, parece não saber de quem se trata. Tanto que, depois da repercussão, sentiu-se na obrigação de ligar para o deputado para se desculpar pela deselegância.

Dorrit Harazim - Dores do mundo

O Globo

O disparo vem à distância, não tem autoria, e as mortes que provoca não têm rosto. Os ainda vivos, em fuga, também não

O vídeo dura menos de um minuto e meio. Quem a ele assiste torna-se, para sempre, condenado a ser testemunha do horror. Não há escapatória, impossível “desver”, inútil buscar racionalidade à cena. Ela ultrapassa qualquer régua moral, política ou religiosa. É, em essência, o retrato da guerra captada pelo fotojornalista de Gaza Motaz Azaiza. Há quase dois meses, Azaiza registra o que vê à sua volta, e posta o que viu nas redes sociais. Na semana passada, quando novo bombardeio israelense atingiu seu bairro e vizinhos, Azaiza estava a postos. É esse minuto e meio que precisa ficar registrado aqui. Não fazê-lo seria silenciar o horror.

No massacre do Hamas contra civis israelenses, em 7 de outubro, os momentos mais sórdidos da infâmia foram mano a mano, com o algoz terrorista inebriado pelo terror da vítima em suas mãos. Missão cumprida. No caso dos bombardeios punitivos de Israel, o disparo vem à distância, não tem autoria, e as mortes que provoca não têm rosto. Os ainda vivos, em fuga, também não. Missão em curso.

Luiz Carlos Azedo - Polarização Lula versus Bolsonaro está calcificada?

Correio Braziliense

A direita deu a centralidade aos valores e costumes na disputa política, mas a esquerda também foi responsável por isso

Amparado em pesquisas de intenção de votos feitas pela Quest, por encomenda da Genial Investimentos, o livro “Biografia do abismo’, do jornalista Thomas Traumann, ex-ministro da Comunicação Social no governo Dilma Rousseff, e do cientista social Felipe Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), conclui que a divisão entre direita e esquerda no país ultrapassou o cenário político e invadiu o cotidiano. Não se trataria apenas de uma polarização política normal em disputas eleitorais em dois turnos, mas na “calcificação” de uma divisão que teria invadido o cotidiano a ponto de cindir as famílias, impregnar os ambientes escolares e impactar as relações empresariais.

Essa conclusão seria corroborada por 27 rodadas de pesquisas quantitativas e relatórios de 150 grupos de discussão. A cisão é tão profunda que dos 9% dos pesquisados que se sentiriam mal caso um filho se casasse com alguém de perfil ideológico oposto, este percentual sobe para um terço um ano depois. A quantidade de consumidores que deixam de consumir determinada marca por motivos políticos passou de 1% para 13%. Os que mudariam o filho de escola caso em função de posições políticas subiu de 7% para 25% entre dezembro de 2022 e junho de 2023. Dos 17% de pesquisados que disseram ter rompido relações pessoais em função da campanha, 75% afirmaram que não se arrependiam.

Bernardo Mello Franco - Lula, Brown e o desafio do PT

O Globo

Presidente admite que partido se distanciou dos trabalhadores: "Será que estamos falando o que o povo quer ouvir?"

Faltavam cinco dias para o segundo turno. Sob os Arcos da Lapa, Fernando Haddad fazia o último ato de campanha no Rio. O palanque estava repleto de artistas, de Chico Buarque a Caetano Veloso. Os discursos exaltavam o petista e prometiam uma virada nas urnas. Foi quando Mano Brown assumiu o microfone com cara de poucos amigos.

“Não gosto do clima de festa”, iniciou o rapper. “Não tá tendo motivo para comemorar”, prosseguiu. “Não estou pessimista, sou realista”, acrescentou.

A plateia ensaiou uma vaia, mas Brown continuou a cutucar a ferida. “Se a comunicação do pessoal daqui falhou, vai pagar o preço. Se não tá conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo”, disse.

“Deixou de entender o povão, já era”, vaticinou o rapper. “Partido do povo tem que entender o que povo quer. Se não sabe, volta para a base e vai procurar saber”, finalizou.

O discurso deixou o ato com clima de velório. No domingo, as urnas deram razão a Brown. Jair Bolsonaro se elegeu presidente com mais de 10 milhões de votos de vantagem. Com Haddad derrotado e Lula preso, o PT vivia seu pior momento.

Míriam Leitão - Saldo, seus efeitos e alertas no horizonte

O Globo

O superávit da balança comercial, puxado pelas commodities, surpreendeu e pode repetir o bom resultado em 2024. É preciso pensar a longo prazo nesta força da economia

Uma boa surpresa do ano — mas não a única — foi o aumento de mais de 50% no superávit da balança comercial. Foi US$ 62 bilhões em 2022, pode fechar perto de US$ 100 bilhões este ano. Há duas grandes questões. Será um fracasso se em 2024 o ano não for como este que passou? A outra dúvida é se será possível manter nos próximos anos essa tendência de o comércio exterior ser uma das forças do crescimento econômico. As perguntas têm boas respostas de dois bons economistas. O ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida, do BTG Pactual, diz que continuará alto, apesar da queda prevista no ano que vem. O ex-secretário de Comércio Exterior José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, acredita que a permanência dos grandes saldos comerciais pode se estender por vários anos.

Elio Gaspari - O golpe de Maduro está no mar

O Globo

Nicolás Maduro não quer as terras do planalto do Essequibo com suas matas seculares. O mapa que ele exibiu, incorporando mais da metade das terras da Guiana, foi um gesto teatral. Seu interesse está debaixo d’água, na plataforma continental, onde foi achada uma reserva de petróleo estimada em 11 bilhões de barris, algo equivalente a 75% das reservas brasileiras.

No mesmo dia em que Maduro nomeou um general para governar as terras hipotéticas, ele autorizou a estatal PDVSA a negociar contratos para a exploração do petróleo na zona de litígio.

Problema: a Guiana tem um contrato com a ExxonMobil americana para operar na reserva e um acordo de cooperação militar com os Estados Unidos. Maduro disse que ela tem três meses para suspender suas operações. Na quinta-feira, o Comando Sul dos EUA anunciou “operações de rotina” na Guiana.

No meio de tantas ameaças, Maduro disse que “está aberto para conversar”. Ele busca uma janela de oportunidade para arrancar da Guiana pelo menos uma parte do petróleo que venha a sair do fundo do mar. Maduro espera que apareçam mediadores que peçam negociações, ignorando o absurdo de seu ultimato. Essa é a melhor das hipóteses, para ele.

Pedro S. Malan - Modos campanha e governo em exercício

O Estado de S. Paulo

Esperemos que na Argentina – e no Brasil, por que não dizer – a geometria no poder se revista de sensatez e consistência, em especial na condução responsável da economia

Neste domingo toma posse o novo presidente da Argentina, Javier Milei, eleito na esteira de polarizadíssima campanha eleitoral. Agora, trata-se de governar um país em dramática situação econômica e social. A composição final de sua equipe ministerial, o anúncio das primeiras medidas, sua postura e compostura no exercício efetivo do cargo, os termos de seu discurso de posse – tudo tem enorme e inusitada relevância, dado o difícil contexto em que se encontra o país vizinho.

Foi em outro início de dezembro, 30 anos atrás (1993), que o então ministro da Fazenda do Brasil (FHC) apresentou as linhas gerais do plano de estabilização que vinha sendo preparado há meses para derrotar a hiperinflação brasileira, que, em longa marcha da insensatez, caminhava para superar os 2.000% anuais. É amplamente reconhecido o sucesso que foi o lançamento da URV (1.º de março de 1994) e de sua conversão no Real, em 1.º de julho daquele ano. Desde então, o Brasil experimenta taxas de inflação relativamente civilizadas para países em desenvolvimento, e em especial quando comparadas com nosso passado.

Espero que nossos amigos argentinos tenham encontrado tempo para se debruçar sobre a experiência brasileira do Real, ao preparar o enfrentamento da sua própria “marcha de insensatez”. Edmar Bacha deu importante contribuição, nesse contexto, em seminário ocorrido em Buenos Aires em agosto de 2022; fez, na ocasião, uma singela e didática apresentação sobre a experiência brasileira.

Rolf Kuntz - O Brasil também precisa de Lula

O Estado de S. Paulo

Entre o belicismo de Maduro e a grosseria de Milei, o presidente parece ter tido pouco tempo, no início deste mês, para avaliar as condições do País e cuidar das expectativas

Tendo falhado na promoção da paz entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva talvez tenha algum sucesso, enfim, se der maior atenção ao Brasil e a seus vizinhos. O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, um democrata, segundo Lula, andou rosnando e ameaçando tomar um pedaço da Guiana. O presidente brasileiro pediu bom senso aos governantes dos dois países. Mais uma vez, tratou vilão e vítima como se fossem equivalentes, como havia feito depois da guerra na Ucrânia. Mas foi mais discreto que em outras ocasiões, evitando, talvez, impor algum incômodo ao companheiro chavista. A diplomacia brasileira também deu atenção, nos últimos dias, à eleição na Argentina. Lula enviou saudações ao povo argentino e ao recém-eleito, Javier Milei, sem, no entanto, mencionar seu nome. O desbocado Milei o havia chamado de corrupto.

Entre o belicismo de Maduro e a grosseria de Milei, o presidente Lula parece ter tido pouco tempo, no início deste mês, para avaliar as condições do Brasil e cuidar das expectativas. A economia brasileira cresceu 3,1% nos 12 meses até setembro, em relação aos 12 meses anteriores. Mas perdeu vigor, no período recente, e no terceiro trimestre a produção foi apenas 0,1% maior que a do segundo. A agropecuária, há muitos anos o setor mais eficiente e mais dinâmico da economia brasileira, desta vez despencou 3,3%.

Eliane Cantanhêde - Mensagens do além

O Estado de S. Paulo

Brasil, entre Milei e sua vidente ao sul e o ditador Maduro ao norte. Às “armas”, Lula!

Na Argentina, ao sul, toma posse neste domingo o anarcocapitalista Javier Milei, que foi alçado à condição de candidato a presidente pela médium que o conectava com a alma de Conan, seu cachorro morto. Na Venezuela, ao norte, o ditador Nicolás Maduro manda “mensagens do além” para a Guiana, enquanto avança para anexar 70% do território da vizinha Guiana. O Brasil está bem no meio disso, geográfica, diplomática e politicamente.

Após a queda de um helicóptero militar da Guiana, Maduro discursou para os (eleitores) venezuelanos. “Isso é uma mensagem do além: não mexa com a Venezuela, quem mexe com a Venezuela vai se dar mal.” Coisa de louco! Assim, além de trocar as bolas, porque é a Venezuela que “mexe” com a Guiana, ele ensina uma dura lição: Lula mantém suas crenças, discursos e métodos de duas décadas atrás, mas a realidade é outra. O mundo, a América do Sul e o próprio Brasil mudaram.

Celso Ming - Vem aí o ‘ônibus’ de Milei

O Estado de S. Paulo

Afinal, Javier Milei, o que se intitula anarcocapitalista e libertário, assume neste domingo seu posto na Casa Rosada, a sede da presidência da República da Argentina.

Por enquanto, a política econômica a ser adotada não terá nada a ver com dolarização nem com fechamento do banco central, tônicas na campanha. Terá mais a ver com terra arrasada.

Nesta segunda-feira, o Congresso argentino receberá para análise e votação um pacote demolidor de reformas, que por lá chamam de “Lei Ônibus”, cujo conteúdo ainda não se conhece.

Como o grande problema econômico é o rombo nas contas públicas, avaliado em alguma coisa em torno de 15% do PIB, o principal objetivo desse conjunto de leis será impor um choque fiscal imediato.

Esperam-se cortes drásticos nas subvenções e subsídios; redução das múltiplas modalidades de câmbio, decisão que, na prática, equivale a forte desvalorização da moeda; e liberação dos preços hoje represados.

Sylvia Colombo - Afronta à democracia

Folha de S. Paulo

Vice de Milei, negacionista da ditadura, tenta abrandar penas de repressores condenados mas volta a mirar civis

"Usted dijo perpetua" (você disse perpétua). É assim que, em "O Segredo dos Seus Olhos", o personagem Ricardo Morales (Pablo Rago) justifica a Benjamin Espósito (Ricardo Darín), o fato de ter feito justiça por conta própria e de ter mantido em cativeiro, por décadas, o assassino de sua esposa, que depois de ser preso e condenado, foi simplesmente liberado por ser membro da Triple AAA (o esquadrão da morte peronista).

O cinema não funciona como a Justiça. Mas sempre me lembro dessa passagem do vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 quando ouço vozes a pedir anistias, prisões domiciliares por idade ou doença, ou simplesmente a liberdade pura e simples para os que cometeram crimes hediondos, contra a humanidade, como os que Morales, ainda como oficial menor, realizava. Durante os anos 1970, além de suas tarefas, por diversão, também estuprava também moças inocentes.

Celso Rocha de Barros - Maduro virou problema para Lula

Folha de S. Paulo

Guerra seria desastre para o Brasil e para integração sul-americana

Nicolás Maduro está criando problemas sérios para Lula.

No curto período de dois meses, o presidente venezuelano rompeu o acordo que havia celebrado com a oposição e começou uma campanha pela anexação de até 75% da Guiana.

Lula havia visto com entusiasmo o acordo de Barbados, assinado em outubro entre Maduro e a oposição venezuelana, sob mediação norueguesa. O acordo previa eleições limpas para presidente em 2024 em troca de retirada das sanções econômicas americanas contra a Venezuela.

Semanas depois do acordo, a Suprema Corte venezuelana, retrato do que seria o STF brasileiro se o golpe de Bolsonaro tivesse funcionado, declarou nulas as primárias realizadas pela oposição para escolher sua candidata.

Vinicius Torres Freire - PT contra Haddad, mais uma vez e sempre

Folha de S. Paulo

Faltando poucos dias para Congresso votar leis essenciais para plano Lula, partido frita ministro

O governo tem dez dias para aprovar no Congresso aumentos da receita de impostos e a reforma tributária. Às vésperas desses dias decisivos para o sucesso econômico de Lula 3, o PT pendurou Fernando Haddad em um poste e o malhou feito um Judas. Faltou chama-lo de traidor.

No sábado (9), Gleisi Hoffman, presidente do PT, disse que, por ela, o déficit seria "de 1%, 2%" do PIB em 2024. Um dia antes, no texto de uma resolução do PT, que ainda pode ser revisado, lia-se que "não faz sentido" "a pressão por arrocho fiscal exercida pelo comando do BC, rentistas e seus porta-vozes na mídia e no mercado. O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal...".

Bruno Boghossian - Um Eleitor no meio do caminho

Folha de S. Paulo

Quase um terço do país diz que governo é regular, e só 9% acham que a economia vai bem

Se a eleição de 2022 abriu uma cratera no cenário político, o primeiro ano de Lula no poder não produziu abalo capaz de mudar a paisagem. Entre os eleitores do petista, só 3% classificam o governo como ruim ou péssimo. No grupo que votou em Jair Bolsonaro, apenas 8% avaliam a gestão atual como ótima ou boa.

Grande parte do eleitorado se manteve fiel ao voto do ano passado. Esse apego ofereceu a Lula o conforto de uma base leal, mas também impôs um teto de popularidade em segmentos que optaram por permanecer filiados à oposição.

Muniz Sodré - A cidade por um fio

Folha de S. Paulo

A ironia dos estratos subalternos, ao modo de cupins, é a devoração do corpo funcional da cidade

Semanas atrás, em plena luz do sol que cozinhava a cidade como panela de pressão, um homem dependurava-se na fiação elétrica da avenida de um bairro carioca. Nenhuma exibição atlética, mas tentativa de roubo. Insólita foi a hora, a prática é comum: neste ano, já se roubaram mais de mil quilômetros de fios. Do mesmo modo, sumiram centenas de toneladas de cabos subterrâneos, artefatos de bronze de estátuas e edifícios, luminárias e caixas de lixo, que, segundo consta, são cortadas e refeitas como pás de limpeza.

Para os mais afeitos a explicações estruturais, o que acorre à primeira vista é a desigualdade socioeconômica. Há bastante tempo, durante o comício das Diretas Já, chamou a atenção de um dos organizadores a presença de um homem de aparência humilde à frente dos assistentes. Puxou conversa e perguntou-lhe o que achava da manifestação. A resposta, inequívoca: ele estava interessado apenas no que poderia sobrar das madeiras do palanque.

Ruy Castro - Entre os maiores sambistas

Folha de S. Paulo

Wilson Baptista morreu esquecido em 1968. Nota zero para nós, que agora temos a chance de redescobri-lo

Os historiadores da música brasileira nem discutem. Para eles, os maiores sambistas da primeira metade do século 20 foram, em qualquer ordem, Sinhô, Ary BarrosoNoel RosaIsmael Silva, Assis Valente, Herivelto Martins, Geraldo Pereira, Ataulpho Alves, Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho e Cartola. E, num honroso 2º time, Wilson Baptista. Todos eles, craques em letra e música, com um mundo revelador e muitos, muitos sambas definitivos na carreira. Não entram nessa conta os autores, mesmo grandes, de apenas dois ou três sucessos.

Por todos esses critérios, a justiça clama pela inclusão do campista (de Campos dos Goytacazes), carioca da Lapa e gigante Wilson Baptista (1913-68) entre os cinco primeiros ---sejam quais forem os outros quatro. Wilson produziu uma montanha de sambas que ficaram, e que nem sempre associamos ao seu nome. Uma lista resumida desses títulos, com ou sem parceiros, incluiria:

Vagner Gomes de Souza - A Frente Democrática desafiada

Blog Voto Positivo

Não foi por falta de avisos que chegamos a dezembro afogados em números de duas pesquisas relevantes de opinião que vaticinam para a Democracia no Brasil um futuro incerto. O difícil mês de novembro foi apenas uma ponta do iceberg da complexa sociedade em que estamos a viver, uma vez que, a campanha eleitoral de 2022 se fez com uma fuga do debate programático e mais se desenrolou num sentimento de rejeição ao governo anterior. Entretanto, na prática da pequena política, há ainda muitas lideranças no campo progressista no cálculo de que houve uma ampla margem de vitória como nos sugerem as assustadoras negociações pré-eleitorais daqueles que alimentam a ideia de que o Governo avançará mais diante de inúmeras “frentes de esquerda” nas capitais e principais cidades do país.

Afogados nos números das pesquisas, o mal estar da crise da política ainda se mantém num fogo brando no aguardo da “picanha da autocracia” se não retornarmos ao fio da meada no desenho político das forças presentes na composição do Governo, que encerra seu primeiro ano com a Frente Democrática desafiada a se fazer presente apesar de todos os devaneios que testemunhamos nesses meses aparentemente perdidos se continuarem os lugares de fala de quadros políticos formados num “Asilo Arkham”. Diante disso a percepção da insegurança pública cresceu assim como os números do feminicídio puxados pela “locomotiva do voto retrógrado” no estado de São Paulo.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - E o Pirara vai para!... Procure saber o que é isso.

...um peixe, uma montanha, um rio, um grupo indígena?

- "Não acredito que o Brasil não tem interesse no Pirara",, perdido para os ingleses em uma arbitragem internacional duvidosa há mais de cem anos, e, mais tarde, incorporado ao território da Guiana", ao surgir como país em 1966. Com essa agulhada, Nicholas Maduro, presidente da Venezuela, fez uma tentativa de conseguir a conivência brasileira para uma pretensa invasão da Guiana, com o fim de apropriar-se do território de Essequibo, que se diz e ter uma reserva de 11 bilhões de barris de petróleo que, para Maduro, pertence aos venezuelanos.  

Pirara, um sub território que já foi do Brasil, está dentro da região do Essequibo, pretendida por Maduro, e que correspondente a dois terços do território da Guiana. Se o ditador venezuelano conseguir realizar seu sonho, mais que eleitoreiro, o Brasil poderá, enfrentar, com ele, outro problema: discutir a reincorporação do Pirara ao estado brasileiro.

Cartas de Drummond à americana revelam poeta gentil e disposto a 'reciclar' mensagens natalinas

Por Ruan de Sousa Gabriel / O Globo

Pesquisadora Patricia O'Brien doou à Universidade de Tulane sua correspondência com o escritor mineiro, que ela conheceu no Rio, nos anos 1960

A professora Patricia O’Brien não se recorda do ano, mas é provável que tenha sido em 1964. Estava pesquisando na Biblioteca Nacional, no Rio, quando foi abordada por um homem que se apresentou como Carlos Drummond de Andrade.

— Ele disse: “Soube que você está pesquisando a minha poesia”. Sabia que os brasileiros são bem-humorados e imaginei que ele estivesse brincando. Não achei que fosse Drummond. Mas era! — conta por telefone a americana de 89 anos de sua casa em Nova Orleans, nos Estados Unidos.

Patricia preparava uma tese de doutorado sobre a poesia de Drummond e tinha recebido uma bolsa do Departamento de Estado americano para uma temporada de pesquisa no Brasil. Na época, os EUA temiam que o comunismo se espalhasse pela América do Sul e incentivavam acadêmicos a aprenderem português e espanhol e a estudarem a região. Ela desconfia de que algum funcionário da Biblioteca Nacional tenha alertado o poeta sobre a sua pesquisa.

— Drummond me convidou para visitar sua casa, me apresentou à esposa e me emprestou itens de seus arquivos, como textos que saíram em jornais. — lembra. — Ficamos amigos. Nos correspondemos até sua morte (em 1987).

Patricia defendeu seu doutorado em 1969 e enviou ao poeta uma cópia da tese, intitulada “O tema da comunicação humana na poesia de Carlos Drummond de Andrade”. Em dezembro, ele escreveu para agradecer. “Uma jovem norte-americana abalar-se de sua terra para vir cuidar, no Brasil, da obra de um poeta mineiro, jamais sonharia com tal coisa!”, afirmou. O itabirano passou a escrever para Patricia todo Natal. Junto das cartas, iam alguns poemas de ocasião, meditações sobre a passagem do tempo e a época do ano. A maioria deles é conhecida. “Neste dezembro, a estrada continua,/ Infinita, não deserta: povoada/ de seres, de projetos, de silêncios/ (restauradores) e de tudo mais/ que seja amor e formas naturais”, dizem os versos remetidos em 1972.

Poesia | Lira do amor romântico - Carlos Drummond de Andrade com narração de Mundo dos Poemas

 

Música | Simone - Jura Secreta (Sueli Costa e Abel Silva)