domingo, 28 de fevereiro de 2016

Opinião do dia – José de Souza Martins

O PT adotou uma fatal e antipatriótica pedagogia política maniqueísta que, ideologicamente, dividiu o Brasil em dois grandes países antagônicos e inconciliáveis. Convenceu seus eleitores de que o povo brasileiro é um povo separado em duas populações: de um lado, a dos ricos e poderosos que há 500 anos oprimem e exploram o povo, massa de privilegiados que abrange todos aqueles que não são petistas; de outro lado, a massa dos pobres e oprimidos, supostamente há cinco séculos explorados e dominados, que são os que presumivelmente se identificam com o PT e nele votam. Mesmo os abonados e amplos setores da classe média, como é o caso dos muitos funcionários públicos que a ele se ligaram. Adotaram o partido, na pedagogia de sua crença política, e adotaram seus seguidores, uma simplificadora concepção de Brasil, na qual eles próprios não se enquadram.

Na verdade, há nessa concepção estereotipada de país grande e deplorável desconhecimento da história brasileira e um didatismo enganador que foram fatores de bloqueio da consciência crítica dos petistas. Consciência que lhes teria permitido verem-se e entenderem-se como sujeitos de contradições e expressões da tensão dialética que dá rumo ao processo histórico. Os petistas não compreenderam que não estão sozinhos na trama de decisões e ações que definem o destino de todos.
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José de Souza Martins, ‘Do PT das lutas sociais ao PT do poder’, pp. 16-17 Editora Contexto, São Paulo, 2016

Para preservar mandato, Dilma se afasta do PT

• Presidente falta à festa de 36 anos da legenda no Rio; em Santiago, disse que não governa ‘só para o partido’

A presidente Dilma Rousseff iniciou processo de afastamento do PT para tentar conter investidas da oposição e de parte do PMDB por sua saída do Palácio do Planalto. A avaliação é de que, para preservar o mandato, ela terá de se descolar do partido, alvejado pela Lava-Jato e contrário à reforma da Previdência. A reforma é considerada prioritária para atrair apoio do empresariado e recuperar credibilidade no mercado. Em contrapartida, a ala majoritária do PT quer manter distância da presidente e da política econômica. Petistas se articulam com movimentos sociais para pressioná-la a rever a estratégia política. Como era esperado, ela não compareceu à festade36 anos da legenda, no Rio. Em Santiago, questionada sobre críticas ao ajuste fiscal, disse: “Não governo só para o PT. Governo para os 204 milhões de brasileiros”. O ex-presidente Lula marcou conversa com Dilma para tentar convencê-la a dar uma guinada na economia.

• Crise. Petista, que não foi à festa de aniversário da legenda, avalia ser impossível frear ameaças de impeachment e de cassação sem diálogo com a oposição e aceno ao mercado com nova proposta de reformar Previdência; partido é contra e busca se descolar do governo

Por mandato, Dilma se afasta do PT e diz que não governa para um só partido

Alberto Bombig, Rodrigo Cavalheiro, Vera Rosa, Ricardo Galhardo e Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff iniciou um processo de afastamento do PT em busca de conter as investidas da oposição e de parte do PMDB pela retirada dela do Palácio do Planalto. Como já era esperado, a presidente não compareceu ontem à festa de 36 anos de seu partido, no Rio de Janeiro. De acordo com um integrante do governo ouvido pelo Estado, Dilma está convencida de que é impossível preservar o mandato sem se descolar da legenda, alvejada pela Lava Jato e contrária à reforma da Previdência– considerada prioritária pela presidente para atrair o apoio do empresariado e recuperar credibilidade no mercado.

Os últimos dias expuseram os caminhos distintos que Dilma e seu partido defendem para a superação das crises política e econômica. Ontem, em Santiago, Dilma justificou a ausência no aniversário do PT com a alegação de que não chegaria a tempo de participar do evento. Questionada sobre as críticas do partido ao ajuste fiscal conduzido por sua administração, ela disse que não governa só para a legenda, mas para toda a população. “Eu não governo só para o PT. Eu governo para os 204 milhões de brasileiros”, afirmou.

A ala majoritária do PT já está decidida a manter uma distância regulamentar da presidente e de suas diretrizes para a economia. Petistas históricos abrigados na Esplanada dos Ministérios se articulam com movimentos sociais para pressionar Dilma, inclusive com manifestações nas ruas, a esquecer a reforma da Previdência e a rever sua nova estratégia política, que prevê também uma aproximação com a oposição, especialmente a tucana.

Alguns conselheiros da presidente avaliam não ser interesse de todos os setores do PSDB retirá-la do cargo antes do término do mandato, em 2018. Para eles, os grupos do governador Geraldo Alckmin e do senador José Serra não endossam para valera tese de cassação do mandato da petista pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que poderia resultar na convocação de novas eleições, caminho defendido pelo senador Aécio Neves.

No entanto, em conversas reservadas na semana passada, aliados de Serra e de Alckmin avaliaram que o maior problema de Dilma não é o PSDB e a ação no TSE, mas a ala do PMDB contrária ao governo, que nos últimos dias – após a prisão do ex-marqueteiro da presidente João Santana – voltou a se articular em torno do impeachment e passará a buscar apoios no setor empresarial.

Reforma. Na capital chilena, a presidente tentou reduzira tensão como partido, um dia após o PT divulgar um documento no qual sugere novos impostos e o uso de reservas para que o País saia da crise. Dilma, porém, voltou a mencionar uma reforma previdenciária como essencial para o equilíbrio fiscal. Segundo ela, a mudança na aposentadoria poderá ser feita progressivamente. “É fundamental que trabalhemos um pouco mais. Mas não agora, não amanhã, não depois de amanhã. Eu acho que é o que pessoas temem”, disse.

Ao falar sobre o distanciamento com o partido pelo qual foi eleita, Dilma disse não acreditar que as relações entre o governo e o PT devam se caracterizar pela adesão sem avaliação crítica. “Um partido é um partido, um governo é um governo”, afirmou a presidente. “É preciso ajuda de todos os partidos da minha base e do PT, sobretudo, porque é o partido ao qual eu pertenço e pelo qual eu fui eleita.”

Dilma chegou na manhã de sexta-feira a Santiago em uma visita oficial organizada às pressas pelo governo chileno a pedido do Brasil. A visita teve uma duração e uma agenda mais ampla que a usual. Ontem Dilma voltou a almoçar com a presidente chilena Michelle Bachelet, a exemplo do que fizera no dia anterior. Além do almoço na sede da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), ela deu uma palestra para economistas. Embora tenha lembrado o “problema de distância” e a falta de tempo para chegar à festa petista, Dilma não demonstrou pressa de deixar o Chile. Seu voo, que deveria decolar às 17h, atrasou.

A comemoração dos 36 anos do PT foi marcada por um desagravo ao ex-presidente Luiz Iná- cio Lula da Silva até nas paredes de tijolo aparente do Armazém da Utopia, forradas de homenagens a ele. A presidente não foi poupada. “Dilma, chega de ajuste fiscal e superávit!”, dizia uma das faixas na plateia. A presidente enviou uma carta à direção do partido que foi lida durante o ato pelo presidente da legenda, Rui Falcão. Ela apontou a sigla, o governo e Lula como alvos de “ataques sistemáticos” e ressaltou a importância da relação com movimentos sociais. Apesar das divergências com o partido na área econômica, Dilma reafirmou na carta o compromisso com a “estratégia de desenvolvimento” adotada desde o governo Lula.

‘Casal’. Em seu discurso, o ex-presidente fez um apelo aos presentes: “Dilma sozinha não terá forças para resolver este problema e nós, por mais que tenhamos divergência com qualquer pessoa do governo, este governo é nosso e temos responsabilidade de fazer dar certo”. Para ele, um militante petista “não pode num momento de crise virar as costas” e dizer que o problema não é seu. “O problema é nosso, é meu, é seu e da Dilma.” “É igual um casal. Você pode brigar com a sua mulher, mas é a sua mulher. Ela pode brigar com você mas você é o marido dela. E vão ter que dormir junto, conversar, almoçar na mesma mesa.” Lula, contudo, disse que antes de atender aos anseios do mercado, Dilma precisa governar para “o povo”. “A Dilma tem que ter certeza que, por mais que tenha divergência, o lado dela é este.”

Lula tenta convencer sucessora a dar uma guinada na economia

Bastidores: Vera Rosa – O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou uma conversa com a presidente Dilma Rousseff para amanhã, em Brasília. A amigos, nos últimos dois dias, Lula disse que pretende convencer sua sucessora da importância de dar uma guinada na política econômica, liberar o crédito e lançar um pacote de investimento público.

“Ela precisa ousar mais”, afirmou o ex-presidente aos interlocutores, ao expressar contrariedade com o ajuste fiscal do governo federal. Do Chile, onde se encontra em visita de trabalho, Dilma avisou que não compareceria à festa de 36 anos do PT, no Rio, ao lado de Lula.

Na versão oficial da presidente, o contratempo ocorreu por causa da agenda apertada em Santiago, e não por estar aborrecida com as críticas do PT ao governo. Nos bastidores, porém, auxiliares de Dilma admitem que a relação entre o PT e o Palácio do Planalto está muito tensa.

Lula deu aval ao Programa Nacional de Emergência lançado na sexta-feira pela cú- pula do PT, com o motivo de demarcar as diferenças entre a política econômica de seu governo, mesmo em tempos de crise, e a que é adotada agora. Na lista das medidas sugeridas para enfrentar a turbulência está o uso de parte das reservas internacionais destinado à criação de um Fundo Nacional de Desenvolvimento e Emprego. Dilma já disse que é contra a utilização dessas reservas.

O PT teme perder ainda mais base social neste ano de eleições municipais, num momento em que enfrenta denúncias de corrupção, o desemprego bate nos dois dígitos e o governo planeja reformar a Previdência. A insatisfação aumentou ainda mais com o anúncio de que o ajuste de longo prazo prevê a suspensão do aumento real do salário mínimo e atingiu o ápice com o apoio do Planalto ao projeto que retirou da Petrobrás a exclusividade para a exploração da camada do pré-sal.

'Vocês não vão me destruir', diz Lula sobre acusações de adversários

• Durante a festa de 36 anos do PT, ex-presidente pediu que o partido ajude a presidente Dilma Rousseff

Luciana Nunes Leal, Vera Rosa e Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

RIO - Em discurso de desabafo durante a festa de 36 anos do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que o partido ajude a presidente Dilma, atacou a imprensa, defendeu-se das suspeitas de ser proprietário oculto de um apartamento e um sítio e anunciou que se necessário será candidato a presidente em 2018.

“O Lula paz e amor vai ser outra coisa daqui para frente”, afirmou, diante de uma plateia de cerca de 1.500 pessoas, metade do esperado pela organização da festa. “Eu queria dizer para eles: vocês não vão me destruir, vamos sair mais fortes dessa luta", avisou aos adversários. O petista disse estar “acabrunhado” e “de saco cheio” com as investigações que sofre do Ministério Público de São Paulo e na Operação Lava Jato.

Lula disse que o sítio em Atibaia frequentado por ele e sua família foi comprado pelo amigo Jacó Bittar e outros companheiros como uma “surpresa” para ele usufruir depois de deixar a presidência. “A chácara não é minha”, insistiu. Lula fez duros ataques a revistas e o Ministério Público.

Dilma. No discurso, o ex-presidente fez um apelo para que o partido ajude Dilma Rousseff a governar, deixando de lado as divergências. “Queria fazer um apelo porque a companheira Dilma, sozinha, não terá força para resolver esse problema”, disse Lula, numa referência à crise. “Dilma precisa de nós para sobreviver aos ataques que está sofrendo. Não pode, num momento de crise, virar as costas e falar que o problema não é meu. Esse governo é nosso e temos de ter responsabilidade de ajudar, de discutir saídas”.

Embora houvesse na plateia uma faixa com a inscrição “Dilma, chega de ajuste fiscal e superávit!”, quando Lula pediu ajuda à presidente, a plateia gritou várias vezes “Não vai ter golpe”.

Para o ex-presidente, o PT não precisa concordar com tudo o que Dilma faz, mas, mesmo assim, deve ajudar o governo a superar a crise. “Nós temos que saber é que estamos juntos. Isso é que nem casamento. Ela pode brigar com você, mas você é marido dela”, comparou.

Eleições. Em uma referência à disputa presidencial de 2018, Lula desafiou a oposição a lançar um candidato competitivo. "Se quiserem voltar ao poder, se preparem para 2018 e vamos disputar democraticamente. Sacanagem a gente não aceita", afirmou em tom inflamado. O petista se queixou, ainda, da cobertura da imprensa sobre acusações que pesam sobre petistas e outros aliados do governo. "Temos um partido chamado Globo, um partido chamado Veja, um partido chamado Outros Jornais, que são a oposição desse País", reclamou.

Lula disse que a próxima disputa deve abarcar um debate de projetos e citou uma série de realizações de seu governo, especialmente inclusão social. O petista admitiu que a situação no País "não é das melhores" e comparou com o Vasco da Gama, seu time no Rio, que caiu para a segunda divisão. "Vocês sabem o que aconteceu, o Vasco caiu e eu continuo vascaíno", discursou.

62% acreditam que Lula foi beneficiado por empreiteiras, aponta Datafolha

• Mesmo assim, Lula é citado espontaneamente como o melhor presidente do Brasil

- O Estado de S. Paulo

Maioria dos brasileiros acredita que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi beneficiado por empreiteiras em reformas em um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, e em um apartamento tríplex no Guarujá, no litoral paulista, revelou pesquisa Datafolha. Mesmo assim, Lula é citado como o melhor presidente.

Os números da pesquisa apontam que 62% dos entrevistados acreditam que Lula foi beneficiado pelas obras no tríplex e 58% avaliam que a construtora OAS, responsável pela reforma, obteve vantagem. No caso do sítio em Atibaia, 58% acham que o ex-presidente foi beneficiado pelas obras na propriedade e 55% pensam que as construtoras responsáveis pela reforma tiveram vantagens de governos do PT.

Pesquisa aponta que maioria dos brasileiros acredita que ex-presidente foi beneficiado por empreiteirasLula é citado espontaneamente como o melhor presidente do Brasil, para 37% dos entrevistados, entre Fernando Henrique Cardoso (15%), Getúlio Vargas (6%) e Juscelino Kubitschek (5%). O governo de Lula está empatado em segundo lugar com o de Fernando Collor entre os quais houve mais corrupção, mostra a pesquisa. O governo da presidente Dilma aparece como o mais corrupto, para 34% dos consultados.

O levantamento foi realizado entre 24 e 25 de fevereiro junto a 2.768 entrevistados em 171 municípios. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, segundo o Datafolha.

Maioria acredita que empreiteiras beneficiaram Lula, segundo Datafolha

Fernando Canzian – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha revela que, para a maioria dos brasileiros, houve um "toma lá, da cá" na relação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e empresas envolvidas na Operação Lava Jato. O petista teria ganho favores pessoais e as empresas, ajuda em governos do PT.

Segundo o levantamento, a maior parte dos entrevistados avalia que o ex-presidente foi beneficiado diretamente por obras realizadas em dois imóveis supostamente ligados ao petista e a sua família.

Entre os que acreditam que Lula obteve vantagens por reformas em um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, e em um apartamento triplex em Guarujá, no litoral paulista, a maioria também acha que as empresas supostamente responsáveis pelas obras foram beneficiadas por governos do PT.

De acordo com o Datafolha, independente do grau de conhecimento sobre o assunto, 62% avaliam que Lula foi beneficiado pelas obras no tríplex, a cargo da empreiteira OAS. Entre eles, 58% acham que a construtora recebeu vantagens do PT.

No caso do sítio em Atibaia, 58% acreditam que o presidente tenha sido beneficiado pelas obras na propriedade, sendo que, para 55%, os responsáveis pelas reformas também receberam vantagens de governos do PT.

Em relação ao sítio, testemunhas ouvidas pela Folha e investigações oficiais indicam que uma espécie de consórcio informal de empresas bancou as obras. Entre elas estariam a Odebrecht, a OAS e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente.

Mesmo entre os simpatizantes do PT, cerca de um terço dos entrevistados acredita que Lula foi beneficiado tanto no caso do sítio quanto no do tríplex.

Segundo o Datafolha, 69% dos brasileiros tomaram conhecimento das denúncias envolvendo a reforma do sítio. No caso do tríplex, 77% estão informados.

Nos dois casos, quanto mais escolarizado e rico, maior o percentual de entrevistados que consideram ter havido o "toma lá, dá cá" entre as empreiteiras, Lula e governos petistas.

A pesquisa foi realizada entre os dias 24 e 25 de fevereiro. Foram feitas 2.768 entrevistas em 171 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

No caso do sítio em Atibaia, na última semana a Odebrecht admitiu ter ligação com as obras na propriedade. Na sexta (26), a defesa de Lula afirmou que a reforma do sítio foi oferecida por Bumlai. O advogado do pecuarista, preso na Lava Jato, nega a versão.

Sobre o tríplex, Lula justifica que comprou uma cota da cooperativa Bancoop que dava direito a uma unidade no condomínio, mas que desistiu de comprar o imóvel. Hoje o tríplex está em nome da OAS e foi reformado pela empreiteira.

Melhor presidente
Lula, porém, segue sendo o mais citado espontaneamente na consulta sobre o melhor presidente que o Brasil já teve, embora seu percentual tenha oscilado negativamente entre novembro de 2015 (39%) e hoje (37%). O segundo mais mencionado pelos brasileiros foi Fernando Henrique Cardoso (PSDB), indicado por 15% (em novembro, ele tinha 16%).

Em entrevista à Folha, a jornalista Mirian Dutra, que foi amante do tucano, disse que o ex-presidente custeou parte de despesas dela e do filho no exterior, por meio da Brasif, empresa que administrava free shops em aeroportos. A Polícia Federal abriu na sexta (26) inquérito para apurar se houve crime de evasão de divisas.

Apreensiva, opinião pública fica em compasso de espera

Análise: Alessandro Janoni – Folha de S. Paulo

Os números divulgados neste domingo (28) pelo Datafolha devem alimentar discursos antagônicos.

A oposição enfatizará a manutenção da impopularidade da presidente em patamares elevados, aliviada talvez pela interrupção da tendência de queda no índice dos que reprovam o governo –em dezembro de 2015, a taxa dos que consideravam Dilma ruim ou péssima consolidava perdas contínuas, enquanto o conjunto dos que a aprovavam subia na mesma proporção.

Ainda sob essa perspectiva, Lula está longe de seu melhor momento político. A maioria da população identifica jogo de benesses nos episódios do tríplex em Guarujá e do sítio em Atibaia. O cenário lança dúvidas inclusive sobre seus eleitores mais fiéis.

Numa segmentação elaborada pelo Datafolha com base no histórico de votação dos entrevistados nos pleitos em que o petista concorreu à presidência, 33% revelam ter votado no ex-presidente sempre que tiveram a chance de fazê-lo em pelo menos um dos turnos das eleições desde 1989. Entre eles, um terço descarta repetir o hábito para 2018.

Fora isso, as expectativas sobre inflação e desemprego, apesar de apresentarem leve melhora, continuam pessimistas, embaladas por indicadores de aumento no índice dos que buscam uma colocação no mercado de trabalho e pela queda no poder de compra dos salários, especialmente entre os jovens e entre os que têm o nível médio de escolaridade, grupos que ascenderam ao longo dos 13 anos de governo petista.

No extremo oposto, sob outra ótica, o governo pode comemorar o fato de que apesar das tormentas políticas e econômicas dos últimos dois meses, intensificadas pelas suspeitas contra o maior nome do PT, e de pessoas diretamente ligadas a ele, variações pouco significativas foram detectadas na opinião pública no mesmo período.

Para quem esperava um nocaute com os desdobramentos da Lava Jato, a estabilidade da taxa dos que defendem o impeachment e o crescimento no índice dos que consideram Dilma regular, principalmente no Nordeste, podem configurar sinais de que alguns golpes já foram assimilados.

Mesmo sob exposição negativa, Lula ainda é o mais citado como o melhor presidente da história.

Além disso, boa parte da população ainda não identifica nas condições da vida pessoal os problemas que enxerga na economia do país e se mostra mais otimista sobre o futuro do que há dois meses.

A questão é o quanto creditam tal diagnóstico e essa esperança a forças políticas ou a méritos próprios. O balanço final dessa equação se mostrará presente nas decisões de voto nas próximas eleições.

Lula se defende de acusações e diz que terá sigilos quebrados

Paulo Gama, Nicola Pamplona – Folha de S. Paulo

RIO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso na festa de aniversário de 36 anos do PT neste sábado (27) no Rio para fazer sua primeira defesa pública sobre as suspeitas de ter sido favorecido por empreiteiras em imóveis no interior e no litoral de São Paulo. O petista tentou se desvincular das duas propriedades investigadas e atacou o Ministério Público e a Polícia Federal.

Pela primeira vez, o petista disse publicamente ter recebido o sítio em Atibaia de presente por iniciativa de seu amigo Jacob Bittar, fundador do PT, e de "outros companheiros".

"Ele inventou de comprar uma chácara para que eu pudesse utilizar quando eu deixasse a Presidência. Fizeram uma surpresa pra mim até o dia 15 de janeiro [de 2011]", afirmou. "A chácara não é minha", acrescentou.

Em relação ao tríplex no Guarujá, no litoral paulista, em que há suspeitas de que Lula foi favorecido pela OAS, o petista disse não ter relação com a propriedade.

"Eu digo que não tenho o apartamento. A empresa diz que não é meu. E um cidadão do Ministério Público, obedecendo ipsis literis o jornal 'O Globo' e a 'Rede Globo', costuma dizer que o tríplex é meu", apontou, depois de ironizar o imóvel como "tríplex do Minha Casa Minha Vida, de 200 metros quadrados".

Lula afirmou que parte do Ministério Público se subordina à imprensa e afirmou que "as pessoas que se subordinam dessa forma não merecem o cargo que estão no país, concursadas para fazer justiça, para investigar".

O ex-presidente disse ainda ter recebido a informação de que terá seus sigilos bancário, telefônico e fiscal quebrados, mas não especificou o que motivou a ordem.

"Se esse for o preço que a gente tem que pagar para provar a inocência, eu faço", declarou. "Só quero que depois me deem um atestado de idoneidade."

Conclamando os militantes a não "baixar a cabeça", Lula disse que os petistas "não podem levar desaforo para casa toda vez que falarem merda da gente".

O ex-presidente disse ainda que acabou sua fase "Lulinha paz e amor", expressão cunhada na campanha de 2002, diante da mudança de perfil em relação às eleições anteriores.

O petista saiu em defesa da sucessora, a presidente Dilma Rousseff, que, em um dos momentos de maior tensão com o PT, não compareceu à festa, mas apontou que ela tem que ter certeza de que o PT é "o lado dela".

"Por mais que possamos ter divergências com qualquer pessoa do governo, esse governo é nosso e temos responsabilidade de fazer dar certo. A gente tem que ter claro e a Dilma tem que ter certeza é que o lado dela é esse, e ela precisa de nós para sobreviver aos ataques que vem sofrendo no Congresso."

Carta
Em viagem ao Chile, Dilma justificou a ausência dizendo que o país é grande parceiro brasileiro, mas mandou uma carta, lida pelo presidente da sigla, Rui Falcão.

Na mensagem, a presidente fez uma defesa do partido e de Lula e disse que os ataques a seu governo não a "farão recuar".

O texto, um aceno ao partido no momento de maior distanciamento entre ela e o PT, não foi bem recebido pela cúpula da sigla, insatisfeita com a ausência da presidente nas festividades e com a agenda econômica colocada pelo Planalto com defesa de temas que contrariam bandeiras históricas da sigla, como a reforma da Previdência.

A leitura da carta foi acompanhada por gritos de "não vai ter golpe". Antes do discurso de Lula, foi exibido um vídeo com imagens do ex-presidente cercado por eleitores.

Bumlai pagou 10% de obra de sítio, diz defesa

• Advogados de Lula informaram ao STF que a reforma de imóvel fora financiada pelo empresário

- O Globo

A defesa do ex- presidente Lula admitiu pela primeira vez, em petição ao Supremo Tribunal Federal (STF), que as reformas no sítio em Atibaia (SP) foram para adequar o local ao uso da família e acomodar objetos que ele ganhou durante seus dois mandatos. A propriedade do sítio é investigada em inquéritos do Ministério Público de São Paulo e pelo Ministério Público Federal em Curitiba, no âmbito da Lava-Jato.

Os advogados alegaram que um mesmo caso não pode ser investigado pelos dois MPs e pediram a suspensão dos procedimentos até se resolver a questão. A defesa de Lula tenta livrá- lo da Lava-Jato: segundo os advogados, o caso envolve transações privadas, não guarda qualquer relação com a Petrobras e deve ser tratado no MP de São Paulo. A defesa atribui ao pecuarista José Carlos Bumlai a oferta da reforma feita no sítio. Não há citação à participação da Odebrecht.

Arnaldo Malheiros, advogado de Bumlai, disse ao GLOBO que a participação do pecuarista na reforma do sítio foi feita a pedido da família do ex-presidente. E teria sido pequena.

— Ele foi procurado pela família de Lula dizendo que havia sido disponibilizado ao ex-presidente o uso de um sítio que pertencia a amigos, mas que precisava de uma pequena reforma. Bumlai enviou dois profissionais que prestavam serviço para a Usina São Fernando — disse.

De acordo com os advogados de Lula, o ex-presidente só foi informado da compra do sítio no dia 13 de janeiro de 2011. No entanto, uma semana antes, a imprensa já noticiava que os caminhões com a mudança do presidente seguiam para Atibaia. Se ficar provado que as reformas começaram a ser feitas ainda em 2010 com seu conhecimento, quando Lula era presidente, ele pode ser enquadrado em atos ilícitos cometidos por agente público.

Mudança em 2011
A defesa do ex-presidente, em nota ao GLOBO, informou que “efetivamente, ele só soube da existência do sítio do Fernando e do Jonas no dia 13.01. O fato de haver alguma providência anterior em relação ao transporte de objetos não coloca tal fato em dúvida. Evidentemente, não era o ex-presidente que iria cuidar pessoalmente do transporte do acer vo, pois havia pessoas com essa função. Os pertences do ex-presidente necessariamente tinham que sair da residência oficial ao final do mandato.”

Ao STF, os advogados reafirmam que a propriedade foi comprada por Fernando Bittar e Jonas Suassuna — sócios de um dos filhos de Lula. Segundo a defesa, as famílias Bittar e Lula são amigas há mais de 40 anos, e o pai de Fernando, Jacó Bittar, gostaria que as duas famílias pudessem conviver quando Lula deixasse a presidência. A defesa diz que Lula tomou conhecimento de que a reforma teria sido oferecida por Bumlai, amigo dele preso na Lava Jato, por comentário feito por Fernando Bittar sobre a necessidade de algumas adaptações no local.

“O sítio tinha apenas dois quartos e instalações com alguma precariedade. Foram realizadas reformas com o objetivo de permitir que os proprietários e a família do Autor (Lula) pudessem conviver no local e, ainda, que fosse possível acomodar, como já dito, os objetos que o Autor (Lula) ganhou do povo brasileiro durante a Presidência da República”, diz um trecho da petição.

Apenas 10% da obra
Malheiros, advogado de Bumlai, admitiu que foi seu cliente quem pagou pelos serviços de dois profissionais. Um desembolso pequeno.

— Teve algum desembolso para o pagamento desses profissionais, mas foi pequeno, porque foi um serviço que durou pouco tempo. Segundo Bumlai, deve ter ficado entre 5% e 10% do que custou a reforma — explicou.

Malheiros afirmou que não sabe quem da família do expresidente fez o pedido a Bumlai, que ocorreu no final de 2010, quando Lula estava para deixar a Presidência da República. Afirmou ainda que a ajuda foi dada “por conta da amizade’’ entre os dois.

Bumlai segue preso no âmbito da Operação Lava-Jato. Segundo Malheiros, não há intenção de seu cliente fazer um acordo de delação premiada.

— De jeito nenhum. Nem pensamos nisso — concluiu.

Em nota divulgada na tarde de ontem, o Instituto Lula afirma que a ação impetrada pelos advogados do ex-presidente junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira, dia 26, em nenhum momento pede o encerramento das investigações sobre o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, ou do apartamento do Edifício Solaris, do Guarujá.

De acordo com o Instituto, os advogados do ex-presidente pedem para que o Supremo defina se essas investigações devem ser conduzidas pelo Ministério Público Federal (MPF), por meio da “Força-tarefa da Lava-Jato”, ou pelo Ministério Público do estado de São Paulo.

“É importante ressaltar que o ex-presidente Lula não pede a paralisação das investigações, mas apenas para que a Corte defina qual Ministério Público deve conduzi-las, a fim de evitar a permanência do que a lei chama de ‘conflito de atribuições’”, diz a nota.

A ação, observa o Instituto, baseia-se no artigo 102 (“f”) da Constituição Federal, que atribui ao STF a competência para “dirimir conflito entre órgãos diversos da Federação”.

“Ao contrário do que vem sendo divulgado em alguns portais de notícias, é simples demonstrar que o MP de São Paulo investiga, sim, o sítio de Atibaia. Basta conferir os depoimentos do arquiteto Igenes Irigaray e do empreiteiro Adriano Fernandes dos Anjos, que atuaram em obras no sítio e foram ouvidos pessoalmente pelo promotor Cássio Conserino”, ressalta o comunicado do Instituto Lula.

Lula nega ser dono de chácara e tríplex, ataca MP, mídia e Judiciário

• Ex-presidente disse que propriedade em Atibaia foi surpresa de amigo

- O Globo

A festa de aniversário do PT se tornou palco para o ex-presidente se defender. Aos pouco mais de mil militantes, ele disse que a chácara de Atibaia foi “uma surpresa” oferecida por Jacó Bittar, ex-prefeito de Campinas e de quem é “amigo há 40 anos”, para que pudesse utilizar quando deixasse a Presidência da República. O imóvel, segundo ele, foi comprado com um cheque administrativo repassado por Bittar ao filho, Fernando. Lula, que insistiu em dizer que a surpresa sobre a existência do sítio foi revelada a ele apenas na segunda semana de janeiro de 2011, quando Dilma Rousseff já havia assumido, atacou a imprensa pela cobertura da investigação:

— Ando de saco cheio com comportamento dos nossos inimigos e da imprensa. Brigamos para ter Ministério Público forte. Não imaginava ter uma parte do Ministério Público subordinada à imprensa brasileira, fazendo o jogo da “Veja”, do GLOBO. As pessoas que se subordinam desta forma não merecem o cargo.

Ele também negou ser o dono do tríplex no Guaruja (SP):

— Digo que não tenho apartamento. Um cidadão, obedecendo ao GLOBO e a TV Globo, diz que o tríplex é meu. É uma situação sui generis. Quando terminar o processo, podem me dar o apartamento e a chácara.

O ex-presidente também criticou o Judiciário por agir, segundo pensa, pressionado pela mídia:

— Não se pode criminalizar qualquer pessoa pelas manchetes da imprensa. Os juízes tem medo de votar temendo as manchetes dos jornais. Nenhum pais será sério se um ministro da Suprema Corte, do TCU ou funcionário público tiverem de agir por conta de pressão da opinião pública.

Lula admitiu disputar a sucessão de Dilma:

— Se for necessário, se vocês entenderem que a manutenção do projeto corre risco, estarei com 72 anos e tesão de 30 para ser presidente da República.

Em uma semana, 40 deputados trocam de partido na Câmara

Ranier Bragon, Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A primeira semana da temporada de troca-troca partidário na Câmara dos Deputados registra mais de 40 migrações de deputados entre as legendas, já confirmadas ou em estado final de negociação. Em várias delas, o principal atrativo é a oferta ao deputado do controle de fatia do fundo partidário, a verba pública que será daqui em diante a principal fonte de recursos das campanhas eleitorais.

A maior parte das mudanças até agora tem como personagens membros do chamado baixo clero, o grupo majoritário de deputados com pouquíssima expressão política nacional. Entre os mais conhecidos está o presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (BA), que deixa o PSD para ir para o PR.

O convite partiu do presidente do partido, Alfredo Nascimento, que prometeu o diretório regional da Bahia. Araújo garante que estava bem no PSD, mas diz que, como dirigente partidário, ganha mais "autonomia" e "prestígio". "Há de convir que dirigir o partido é muito melhor", disse o deputado.

No comando do PR da Bahia, Araújo não só terá liberdade para nomear correligionários nos diretórios do Estado, como também caberá a ele comandar a divisão do fundo partidário. O parlamentar nega que essas tenham sido suas motivações.

Outra figura conhecida é o polêmico deputado Jair Bolsonaro (RJ), que sai do PP e se filia na semana que vem ao PSC, em evento num dos maiores salões da Câmara, o Nereu Ramos.

As mudanças são pulverizadas entre as siglas e, até agora, não têm impactado a correlação de forças governo-oposição. Nem têm sido suficientes para mudanças relevantes nas grandes siglas.

A janela do troca-troca partidário vai até 19 de março. Emenda à Constituição aprovada pelo Congresso no ano passado permite que nesse período qualquer um dos 513 deputados federais troque de legenda sem risco de perder o mandato por infidelidade.

Tendo migrado do PSC para o PT do B antes da janela –devido a uma divergência com seu ex-partido na composição da comissão do impeachment–, o deputado Silvio Costa (PE) diz que a tendência é de que os nanicos PT do B e PTN reúnam mais de duas dezenas de deputados, o que permitirá a essas legendas ter estrutura na Câmara e voz nas negociações legislativas e com o Executivo.

Ele nega que o PT do B tenha oferecido verba do fundo para os deputados que vão entrar na sigla –até agora Macedo (CE), ex-PSL, e Uldurico Pinto (BA), ex-PTC–, mas diz que a prática é corrente. "Soube que está havendo esse tipo de negociação, e pesada."

O fundo partidário será a principal fonte de receita das campanhas devido à decisão do Supremo Tribunal Federal de proibir empresas de financiar candidatos. O fundo distribuiu R$ 868 milhões a 35 partidos em 2015.

A emenda da janela estabelece que, ao mudar de partido, o deputado não leva para a nova legenda a respectiva verba resultante de sua eleição – o fundo é distribuído entre os partidos com base nos votos que seus candidatos a deputado federal tiveram nas últimas eleições.

As siglas, contudo, dizem que irão no Supremo para tentar alterar essa regra. Até o final da janela partidária, a tendência é que o troca-troca supere a marca de 10% das 513 cadeiras da Câmara.

A migração de políticos entre as siglas existiu sem amarras até 2007, quando o Tribunal Superior Eleitoral editou regras de fidelidade para tentar barrar a prática. As brechas na lei e a morosidade da Justiça, porém, fizeram com que a medida nunca tenha tido eficácia completa.

Em 2015, o próprio STF afrouxou essas regras ao liberar trocas para cargos majoritários –presidente, governadores, senadores e prefeitos.

No Rio, desgaste de Cunha coloca em xeque candidaturas de aliados

• Disputa por reeleição ainda é dúvida para prefeitos ligados a peemedebista

Leticia Fernandes, Marcelo Remigio Juliana Castro - O Globo

BRASÍLIA e RIO - O desgaste que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), enfrenta, com a possibilidade de virar réu na Lava-Jato, além da derrota na eleição da liderança do PMDB na Casa, já respinga em municípios fluminenses onde ele firmou suas bases eleitorais. Prefeitos ligados a Cunha estudam desistir da reeleição.

Outros aliados, incluindo filiados a diferentes siglas, temem não contar com a estrutura eleitoral oferecida por Cunha em eleições anteriores. A maioria já descarta usar a imagem dele nas campanhas, com receio da rejeição.

— Na política, somos aliados até a hora do calvário do outro. Não vai ser diferente com Cunha. Muitos candidatos não vão querer colar sua imagem à dele — afirma um dos líderes do PMDB no estado: — Mas isso não quer dizer que ele deixará de ter nomes na disputa. Cunha navega por outras legendas.

Os prefeitos de Rio Bonito, Solange Almeida, e de Itaboraí, Helil Cardozo, do PMDB, que governam redutos de Cunha, cogitam desistir da reeleição.

Os dois enfrentam problemas locais, mas relatos de pessoas no entorno desses políticos contam que o enfraquecimento de Cunha seria o fator decisivo para a provável desistência. Oficialmente, ambos negam a possibilidade.

O deputado estadual Waguinho (PMDB), pré-candidato a prefeito em Belford Roxo, começou a se descolar do deputado, seu grande aliado nas eleições de 2014. Waguinho, um dos autores do projeto aprovado em março de 2015 na Assembleia Legislativa que concedeu a Medalha Tiradentes a Cunha, chegou a apagar postagens em seu blog em que aparecia ao lado do ex-aliado.

Para o presidente estadual do PMDB e presidente da Alerj, Jorge Picciani, a desistência ou desgaste de aliados de Cunha não afetará o desempenho do PMDB no Estado:

— São prefeituras sem grande significado e com problemas muito pontuais. E as principais cidades não têm vinculação com ele (Cunha).

PMDB pode limitar nomes indicados pelo presidente da Câmara

• Caso não consiga espaço para todos os que formam sua base, Cunha recorrerá a outras siglas

Além de apoiar candidatos a prefeito nas últimas eleições, Eduardo Cunha apostou pesado em nomes para as Câmaras Municipais destinando material de campanha e pedindo votos, com a intenção de reforçar suas bases no interior. O peemedebista conseguiu espalhar aliados pelo Legislativo municipal que atuam como seus cabos eleitorais. Caso tenha espaço reduzido no PMDB para indicações, Cunha optará por ampliar a distribuição de seus nomes em outros partidos. Há no PMDB quem afirme que ocorrerá uma migração de aliados de Cunha ao PSC, partido com o qual ele tem forte ligação.

Proporcionalmente, a cidade onde Cunha mais recebeu votos em 2014 (19.054 dos 232.708 votos, ou 8% de seu total), Itaboraí enfrenta graves problemas por conta das demissões e atrasos nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. A crise explodiu quando vieram à tona, na Operação Lava-Jato, informações sobre pagamentos de propina e cartel de fornecedores. Além disso, o prefeito Helil Cardozo enfrenta uma ação no Tribunal Regional Eleitoral por abuso de poder político e econômico e pode ser cassado.

— Helil é o prefeito número 1 de Cunha. Itaboraí é o município onde ele foi mais votado, então Helil tem todos os motivos para não ser candidato. Se ele tivesse todos os problemas que enfrenta na cidade, mas com Cunha forte do seu lado, ele poderia até cogitar. Agora, fica difícil — disse um parlamentar ligado ao prefeito. Helil negou a desistência: — Nunca passou pela minha cabeça. Ele (Cunha) foi e sempre será um forte aliado. Não o vejo enfraquecido em absolutamente nada. Vou para a eleição com ou sem Eduardo. Quem deu a vitória a ele em Itaboraí fui eu. Então quem é o mais forte na história? — indagou o prefeito, que comparou sua vinculação a Cunha à relação entre o ex-presidente Lula e o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu: — Não acho que (o apoio de Cunha) me prejudica.

A prefeita de Rio Bonito, Solange Almeida, foi denunciada por corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República por envolvimento com Cunha na Lava-Jato. Ela é acusada de ajudá-lo a pressionar, por meio de requerimentos na Casa, o operador Julio Camargo a pagar propina no aluguel de naviossonda pela Petrobras enquanto era deputada federal, em 2011. Solange admitiu que pensou em não disputar a reeleição, mas para ter mais tempo para ajudar a filha, que vai ser mãe este ano:

— Eu sou pré-candidata. Vou ser avó, então fiquei meio balançada, mas é o meu único comentário sobre isso — disse, acrescentando que discutirá se Cunha aparecerá ou não em sua campanha.

É o fim do caminho - Fernando Gabeira

- O Globo

“A liberdade é vermelha”, escreve num post de Paris Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana. É uma alusão a uma trilogia de filmes inspirados nas cores da bandeira francesa. O primeiro deles se chamou “A liberdade é azul”. É compreensível que Mônica Moura tenha escolhido o vermelho entre as cores da bandeira. E que tenha escolhido a liberdade do lema da Revolução Francesa, que também conta com fraternidade e igualdade.

João Santana e Mônica ficaram milionários levantando a bandeira vermelha, no Brasil, na Venezuela, com as campanhas agressivas do PT e do chavismo. Com os bolsos entupidos de dólares, a liberdade é vermelha, pois à custa da manipulação dos eleitores latino-americanos, João Santana e Mônica Moura podem viajar pelo mundo com um padrão de vida milionário.

Mas chega o momento em que a cadeia é vermelha, e Mônica Moura não percebeu essa inversão. Nas celas da Polícia Federal e do presídio em Curitiba, o vermelho predomina. José Dirceu, Vaccari, o PT é vermelho. Marcelo Odebrecht, a Odebrecht é vermelha, basta olhar seus cartazes.

Uma vez entrei na Papuda e filmei uma cela vermelha com o número 13. Os condenados do mensalão estavam a ocupar o presídio. A divulgação da imagem foi um Deus nos acuda, insultos: as pessoas não têm muita paciência para símbolos. Mônica Moura fala esta linguagem. Se tivesse visto o take de seis segundos da cela vermelha, ela iria buscar outra cor para a liberdade.

A situação de Dilma e a do chavismo convergem para um mesmo ponto: tanto lá quanto aqui a aspiração majoritária é derrubá-los do poder. João Santana, num país onde se valoriza a esperteza, foi considerado um gênio. Gênio da propaganda enganosa, dos melodramas, dos ataques sórdidos contra adversários. O único critério usado é a eficácia eleitoral avaliada em milhões de dólares, certamente com taxa extra para os postes, Dilma e Haddad.

Sua obra continental se espelha também no resultado dos governos que ajudou a eleger: Dilma e Maduro são rejeitados pela maioria em seus países. O que aconteceu na semana passada é simplesmente o fim do caminho. Com abundantes documentos, cooperação dos Estados Unidos e da Suíça, não há espaço para truque de marqueteiros.

O dinheiro de Santana não veio de fora. Saiu do Brasil. Saiu de uma empresa que tinha negócios com a Petrobras, foi mandado para o exterior por seu lobista Zwi Skornicki. E saiu também pela Odebrecht.

A Lava-Jato demonstrou que a campanha de Dilma foi feita com dinheiro roubado da Petrobras. E agora? Não é uma tese política, mas um fato, com transações documentadas.

Na semana passada ouvi os panelaços por causa do programa do PT. O programa foi ao ar um dia depois da prisão de João Santana. Mas o tom era o mesmo, uma mistificação para levantar os ânimos. E um pedido de Lula: parem de falar da crise que as coisas melhoram.

Em que mundo eles estão? Em 2003, já afirmei numa entrevista que o PT estava morto como proposta renovadora. Um pouco adiante, com o mensalão, escrevi “Flores para los muertos”, mostrando como uma experiência que se dizia histórica terminou na porta da delegacia.

Na semana passada, escrevi “O processo de morrer”. Não tenho mais saída exceto apelar para “O livro tibetano dos mortos”, que dá conselhos aos que já não estão entre nós. O conselho é seguir em frente, não se apegar, não ficar rondando o mundo que deixaram.

Experimentei aquele panelaço como uma cerimônia de exorcismo: as pessoas saíam às janelas e varandas para espantar fantasmas que ainda estavam rondando as casas. Poc, poc, poc. Na noite escura, o silêncio, um grito ao longe: fora PT. E o PT na tela convidando para entrar nas fantasias paradisíacas tipo João Santana, já trancafiado numa cela da PF em Curitiba.

Simplesmente não dá para continuar mais neste pesadelo de um país em crise, epidemia de zika, desemprego, desastres ambientais, é preciso desatar o nó, encontrar um governo provisório que nos leve a 2018.

De todas as frentes da crise, a que mais depende da vontade das pessoas é a política. Se o Congresso apoiado por um movimento popular não resolver, o TSE acabará resolvendo. Com isso que está aí o Brasil chegará a 2018 como um caco, não só pela exaustão material, mas também por não ter punido um governo que se elegeu com dinheiro do assalto à Petrobras.

É hora de o país pegar o impulso da Lava-Jato: carro limpo, governo derrubado, de novo na estrada. É uma estrada dura, contenções, recuperação da credibilidade, quebradeira nos estados e cidades. É pau, é pedra, é o fim do caminho.

A semana, com a prisão do marqueteiro do PT e os dados sobre as transações financeiras, trouxe mais claramente o sentido de urgência. E a esperança de sair desta maré.

Persona non grata - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Antes de ser reconhecida pela incompetência, a presidente Dilma Rousseff ficou conhecida pelo cultivo dos maus modos. Maneira de ser, tratada pelo departamento de propaganda do Palácio do Planalto – no momento desativado e posto em desassossego nas dependências da Polícia Federal em Curitiba – como sinal de austeridade e exigência na eficácia do trabalho.

Na versão de sua assessoria, a presidente está sempre “irritada” com alguma coisa. Com o Congresso irritou-se a ponto de considerar desnecessário estabelecer relações cordiais até com parlamentares e partidos e sua base de apoio.

Com subordinados (dos mais aos menos qualificados) irrita-se ante qualquer contrariedade. Com a oposição irrita-se só pelo fato de ela existir. Com a imprensa mostra-se extremamente irritada se cobrada a falar sobre este ou aquele escândalo envolvendo sua administração. Chegou aos píncaros da irritação quando, ainda ministra, (des) qualificou como “rudimentar” a proposta dos então ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo para a condução da economia, cuja preliminar era o ajuste fiscal.

Agora a presidente da República está muito irritada com seu partido, o PT, que resolveu voltar às origens e negar o apoio que deu a Lula em 2003 para a adoção de medidas racionais. Com isso, cai o último bastião de defesa de Dilma. O partido não a quer. E nessa hora em que se encontra cercada de males por todos os lados, não há mais quem a queira, estão todos muito irritados com ela: se fala na TV, a presidente é alvo de panelaços, se transita por ambientes não protegidos arrisca-se a ser vaiada, quando apela ao Congresso não obtém a resposta pretendida. O empresariado não lhe tem apreço e os movimentos sociais já a tratam como inimiga.

Dilma é a “persona” menos grata da República. Não se encontra quem esteja disposto a lhe estender a mão ou nutra por ela alguma simpatia. Resultado da antipatia que semeou.

Isolada, a “rainha” não paira “sobranceira sobre os adversários” como prometeu João Santana. Antes, colhe os frutos da malquerença que com tanto afinco cultivou.

Nem Moro nem PT. Durante o período em que esteve preso, o senador Delcídio Amaral chegou a cogitar a hipótese de propor ao Ministério Público um acordo de delação premiada. A família incentivava.

Mas, pensando melhor sobre as acusações que lhe são imputadas, pesando o custo e o benefício, desistiu por considerar perfeitamente possível derrubá-las com argumentos jurídicos. Por exemplo, contestando a legalidade da gravação feita pelo filho de Nestor Cerveró (ex-diretor da Petrobrás) e argumentando que seu mal foi contar vantagem indevida ao sugerir influência sobre ministros do Supremo Tribunal Federal.

Num primeiro momento, o senador concentrará esforços em convencer seus pares em geral, e os integrantes do Conselho de Ética em particular, a não cassar-lhe o mandato. Se fizesse acordo com o MP, a preliminar seria admissão de que realmente tentou obstruir o trabalho dos investigadores, o que por si só já configuraria quebra de decoro.

Preservado o foro especial de parlamentar, Delcídio Amaral mantém prudente (na visão dele) distância do juiz Sérgio Moro. Num segundo momento, o senador cuidará de sua vida partidária. Encerrando sua carreira de petista que, hoje conclui, nunca deveria ter sido iniciada.

Conta zerada. Se o silêncio de Marcelo Odebrecht tinha como objetivo a preservação da empresa, a motivação cessou com os depoimentos de Mônica e João Santana, atribuindo à construtora a prática de ilícitos no âmbito internacional.

Esquema político na AL - Merval Pereira

- O Globo

Assim como ao investigar o tríplex que seria do ex-presidente Lula no Guarujá, a Operação Lava-Jato se deparou com diversos apartamentos registrados em offshores no Panamá — fazendo com que os procuradores do Ministério Público Federal vislumbrassem que haviam chegado a um novo filão de crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro —, ao investigar as contas internacionais, secretas ou declaradas, do marqueteiro João Santana, a operação pode ter se deparado com um grande esquema ilegal de financiamento de projetos políticos de esquerda pela América Latina e a África.

Em diversos desses países, o marqueteiro João Santana recebeu pagamentos ilegais através de empresas de offshores irrigadas pela Odebrecht, que também tinha interesses na eleição de políticos do esquema devido a financiamentos de grandes obras de infraestrutura.

Esse projeto de esquerda que chegou ao poder há cerca de 15 anos na região com a primeira eleição de Hugo Chávez na Venezuela foi gestado no Foro de São Paulo, organismo criado por Lula e Fidel Castro em 1990 a partir de um seminário internacional. Partidos e organizações políticas da América Latina e do Caribe, em baixa naquele momento, reuniramse para discutir uma atuação conjunta de resistência ao que consideravam “políticas neoliberais” que dominavam a região.

A integração latino-americana passou a ser um projeto comum com a chegada ao poder de vários daqueles líderes. Hoje, embora muitos deles continuem no poder, os ventos políticos na região estão mudando. Na Bolívia, Evo Morales, do Movimento para o Socialismo, acabou de perder o plebiscito e não poderá concorrer a um quarto mandato. No Brasil, Dilma Rousseff do PT enfrenta a ameaça de um processo de impeachment; na República Dominicana, Danilo Medina (Partido de Libertação Dominicana) corre o risco de perder a reeleição devido ao escândalo da prisão do marqueteiro João Santana no Brasil.

A Venezuela passa por uma crise econômica e política sem precedentes e Nicolás Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela, perdeu o domínio do Congresso em eleições recentes. Continuam no poder vários outros membros do Foro de São Paulo: Chile (Michelle Bachelet - Partido Socialista do Chile), Cuba (Raúl Castro - Partido Comunista de Cuba), Dominica (Roosevelt Skerrit - Partido Trabalhista da Dominica), Equador (Rafael Correa - Alianza País), El Salvador (Salvador Sánchez Cerén - Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), Nicarágua (Daniel Ortega - Frente Sandinista de Libertação Nacional), Peru (Ollanta Humala - Partido Nacionalista Peruano) e Uruguai (Tabaré Vázquez - Frente Ampla). Olanta Humala aparece em uma das anotações apreendidas pela Operação Lava-Jato, mas nega que tenha recebido dinheiro da Odebrecht.

A atuação internacional da empresa de João Santana começou em 2003, na Argentina, onde coordenou campanhas legislativas, municipais e governamentais até 2007 na região de Córdoba. Em El Salvador, a Pólis fez a campanha que elegeu presidente Maurício Funes, em 2009, eleito pela Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional ( FMLN), grupo guerrilheiro formado nos anos 1980 que se transformou em partido em 1992 e nunca havia chegado ao poder.

Em 2012, a Pólis atuou em três campanhas. Em Angola, elegeu o presidente José Eduardo dos Santos pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). No mesmo ano, reelegeu na Venezuela o ex-presidente Hugo Chávez (1954-2013).

Na República Dominicana, também em 2012, Santana coordenou a campanha de Danilo Medina, que disputou contra o ex-presidente Hipólito Mejía. Nesse período, João Santana ainda coordenou o marketing político da campanha de José Eduardo Santos em Angola, que teria custado U$ 50 milhões, sendo que parte foi paga em dinheiro não contabilizado na offshore dos Santana na Suíça. A Operação Lava-Jato está desvendado toda essa rede de corrupção de campanhas políticas na América Latina, Caribe e África, definindo qual o papel da Odebrecht na distribuição ilegal de dinheiro pela região em que tem interesses em grandes obras de infraestrutura, a maioria delas financiada pelo BNDES.

As campeãs dos campeões - Luiz Carlos Azedo

• Por trás dessa estratégia havia um projeto de poder que ultrapassa as fronteiras nacionais

- Correio Braziliense

As investigações da Operação Lava-Jato estão desnudando as estranhas do “capitalismo de Estado” brasileiro e revelam sua simbiose com as ambições políticas do PT, no sentido de se perpetuar no poder e projetá-lo no âmbito da América Latina e da África Ocidental, Central e Austral, a partir da atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de suas relações com partidos de esquerda e governantes dos dois continentes. Fica cada vez mais evidente que duas das maiores empresas brasileiras, a Petrobras e a Odebrecht, mas não apenas, foram utilizadas para financiar esse projeto.

Por isso mesmo a atuação internacional do marqueteiro do PT, João Santana, e de sua esposa e sócia, Mônica Moura, em campanhas eleitorais de Angola, Argentina, El Salvador, Panamá, Venezuela e República Dominicana merece avaliação que extrapola o aspecto criminal, ou seja, o esquema de desvio de recursos da Petrobras e a atuação da Odebrecht no financiamento de campanhas eleitorais no Brasil e no exterior. Há que se discutir o modus operandi do modelo econômico adotado para compreender a sua resiliência e degeneração, uma vez que ele determina o modelo de acumulação das empresas envolvidas e não apenas o patrimonialismo dos políticos que lhe deram sustentação e o enriquecimento pessoal de seus operadores.

Além disso, está evidente que o modelo é incompatível com as regras do jogo democrático. Essa discussão é importante porque a presidente Dilma Rousseff está movendo mundos e fundos para salvar as empresas envolvidas no escândalo e o próprio modelo, a pretexto de preservar empregos e a engenharia nacional, quando sabemos que há dezenas de outras empresas que poderiam substituí-las nas mais diversas áreas.

O modelo
As condições para a chamada “nova matriz econômica” como resposta brasileira à crise mundial, ironicamente, foram estabelecidas no governo de Fernando Henrique Cardoso. Com as privatizações do setor produtivo estatal, o governo trocou seu controle na maioria das empresas por uma participação minoritária. Durante o governo Lula, porém, graças aos fundos de pensão dos trabalhadores dessas empresas e à ocupação de posições estratégicas no aparelho de Estado, o PT passou a ter grande influência nos seus investimentos e nos de centenas de outras empresas e negócios.

O modelo brasileiro não foge à regra histórica. Funciona a partir da fusão dos interesses privados com as agências do Estado encarregadas de normatizá-los e controlá-los, um convite aos desvios de finalidade e à corrupção. Quando surgiu, o capitalismo de Estado foi uma via de industrialização para países que ficaram fora da segunda revolução industrial, como os dominados pelo fascismo na primeira metade do século passado, e os regimes comunistas surgidos no pós-guerra.

Na América Latina, o modelo emergiu com o populismo no México, na Argentina e no Brasil, principalmente na década de 1950, mas também prestou serviços aos regimes militares, durante a Guerra Fria, nas décadas de 1960 e 1970. Entre nós, renasceu das cinzas durante o governo Lula, a partir do momento em que o governo optou por um modelo de expansão acelerada da economia com base no consumo e, ao mesmo tempo, passou a protagonizar uma política da concentração de capital e formação de monopólios com o objetivo de projetar internacionalmente algumas grandes empresas brasileiras, os chamados “campeões nacionais”.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os fundos estatais de pensão passaram a investir pesado em empresas de diversos setores, desde mineração até produção de alimentos. Além disso, estimularam e financiaram fusões em áreas como telecomunicações e produção de celulose. Por trás dessa estratégia, há um projeto de poder que ultrapassa as fronteiras nacionais, a ponto de pôr o Itamaraty a serviço das alianças do PT com partidos e governantes da América Latina e na África, além dos negócios que financiam essa política e seus atores.

O símbolo do modelo passou a ser a Petrobras, com o bilionário programa de investimentos na exploração de petróleo da camada pré-sal, que estava muito acima das suas possibilidades. O modelo se estendeu também ao setor elétrico, com o fortalecimento da Eletrobras. A intervenção do governo federal resultou, porém, em desastres financeiros e escândalos de corrupção. A mesma estratégia foi adotada na área da mineração, onde a Vale amarga déficits astronômicos. Mas foi a Odebrecht, a gigante do setor privado, que apostou todas as fichas no “capitalismo de Estado”.

Todo mundo gosta de acarajé – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

"Tio Bel, você consegue me fazer chegar mais 50 acarajés na quarta-feira à noite, no escritório?". "Ok, programado, seus acarajés chegaram [sic] quentinhos."

A conversa por e-mail não envolvia sobrinhos gulosos ou produtoras do saboroso quitute baiano. Eram executivos da Odebrecht combinando a entrega de dinheiro vivo, segundo investigadores da PF.

O acarajé saiu do tabuleiro para batizar a 23ª fase da Lava Jato, que prendeu o marqueteiro João Santana. Como o Brasil é o país da piada pronta, já surgiram protestos contra o uso do nome da iguaria.

A Associação Nacional dos Produtores de Acarajé reclamou de prejuízos ao setor. É perda de tempo, porque ninguém mudou o jantar de domingo depois de ler que um escândalo terminou em pizza.

Em Brasília, a prisão de Santana animou quem vive à espera de qualquer fato novo para tentar derrubar o governo. O PSDB se antecipou à Justiça Eleitoral e decretou o fim do mandato de Dilma Rousseff. O PMDB voltou a sonhar com o impeachment, que levaria Michel Temer e sua turma ao Planalto.

O ministro Gilmar Mendes, sempre ele, deu declarações em tom grave. "Se isso estiver associado à campanha, é de seriedade inexcedível", disse, na terça-feira. Três dias depois, o juiz voltaria a fabricar manchetes contra o governo.

Os efeitos da operação na política ainda são incertos, mas os marqueteiros já acusaram o golpe. Até outro dia, eles reclamavam do veto ao financiamento empresarial de campanhas. Agora isso parece ter se tornado um problema menor.

Chocados com a prisão de Santana, alguns publicitários já falam em abandonar o negócio milionário das eleições. Quem ficar terá que se adaptar a uma nova era, de menos dinheiro e mais fiscalização sobre as contas. É uma boa hora para ouvir a canção de Caymmi: "Todo mundo gosta de acarajé / O trabalho que dá pra fazer é que é."

Parabéns pra você! - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Na década de 1990, surgiram os sem-terra na área rural. Mais adiante, vieram os sem-teto na área urbana. Pois agora está em gestação no Planalto Central a figura da presidente sem partido. Saiu Joaquim Levy, entrou Nelson Barbosa e o partido de Dilma Rousseff, o PT, continua implacável na oposição ao ajuste fiscal do governo e, portanto, à própria Dilma. Já a principal sigla da base aliada, o PMDB, retomou as articulações para o impeachment.

Durma-se com um partido desses! Ou com partidos como esses! Dilma, que já tem (e criou) problemas de sobra, deve estar dando uns bons gritos, roendo as unhas e xingando a mãe de muito petista por aí, inclusive de um tal Quaquá, presidente do PT do Rio, que deixou claro que não fazia a menor questão da presença da presidente, ontem, no aniversário do partido.

Conclusão: Dilma não queria ir à festa do próprio partido, nem o próprio partido queria Dilma num encontro com dois objetivos: atacar Dilma e defender Lula. Os bois de piranha, nos dois casos, foram os ministros Barbosa e José Eduardo Cardozo.

Já na sexta-feira, o PT mandou seus recados contra o que Levy dizia e Barbosa continua dizendo sobre a necessidade de uma política econômica responsável, capaz de fechar as contas públicas, equilibrar receitas e despesas e estancar a trajetória de queda do Brasil e dos brasileiros – sobretudo dos mais pobres – no precipício.

Segundo resolução que passou pelo Diretório Nacional, o PT “só apoia medidas pactuadas com o sindicalismo, as organizações populares e os movimentos sociais”. Ou seja, o PT se volta de costas para o seu governo e de frente para os movimentos aliados. Só topa qualquer coisa com o viés populista e sem nenhum traço de responsabilidade e pragmatismo. Sindicatos, organizações populares e movimentos sociais estão no seu direito, aliás, dever, de fazer pressão, mas o partido da presidente da República tem a obrigação de ir além, de pensar e agir estrategicamente.

Mas, não. Nega-se a admitir que a farra fiscal e a inflação atingem justamente os assalariados e os que dependem do Estado para saúde, educação, saneamento, infraestrutura. Para assegurar isso, dispensam-se discursos contra o “sacrifício do povo trabalhador” e exige-se a responsabilidade de traçar uma política econômica sólida, confiável, que garanta de fato bem-estar e direitos de médio e longo prazos desse mesmo povo trabalhador.

Na prática, o PT faz o oposto do que pretende: fala contra o “golpismo”, mas dá argumentos para o impeachment; defende a unidade, mas racha o governo para um lado e o partido para o outro; sabe que Lula e Dilma são indissociáveis, mas empurra um contra o outro; reconhece que há enorme fragilidade, mas opera para converter os convertidos e ignora reconquistar a maioria que debandou.

Em resumo, o partido da presidente age como se Dilma não tivesse mais jeito. Logo, toda a energia e todas as festas devem ser para renegar o presente, ressuscitar o passado e investir no futuro. Ou seja, contra Dilma, a favor de Lula. Só que... se Dilma não vai bem, porque seu governo destruiu a economia, Lula não está melhor, porque o dele explodiu a Petrobrás e permitiu uma farra com dinheiro público e com as empreiteiras num nível nunca antes visto e imaginado.

E O PMDB? Está sendo novamente empurrado para o PSDB e para a tese do impeachment, depois da prisão de João Santana – aliás, o grande ausente na festa do PT, junto com José Dirceu, Delcídio Amaral, André Vargas e uma penca de ex-tesoureiros. Se o PT é de oposição e o PMDB é uma ameaça, Dilma está perto de criar o movimento dos presidentes sem partido – e sem base, sem povo e sem credibilidade.

Festa do PT é para renegar o presente, ressuscitar o passado e investir no futuro

Ataque a Lula, Dilma e até Cunha – Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Há semanas de guerra fria e de guerra quente nestes dois anos em que o país vem se desmilinguindo. A guerra quente recomeçou na semana passada; a que virá será também de tiro, pancada e bomba.

Há um rumor persistente, lá de Curitiba, a respeito de uma ofensiva policial maior contra Lula e família. Além do mais, o ex-presidente foi intimado a depor sobre sítio e tríplex no Ministério Público de São Paulo, na quinta-feira (3).

O governo terá de lidar com um PT que acaba de condenar o plano econômico de Dilma Rousseff (reforma da Previdência e contenção legal de gastos do governo). Sem o apoio do PT, vão-se alguns dos últimos fiapos de esperança de dar rumo ao governo da economia. A tentativa de Dilma 2 de assoviar e chupar cana, de satisfazer PT e o dito "mercado", não tem dado certo.

Os tiros contra o programa Dilma 2 tiveram o aval de Lula. As relações do ex-presidente com sua afilhada são descritas como "frias" no entorno luliano. Lula, de resto, voltou a dizer que quer ver pelas costas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, "mole com a Polícia Federal".

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, foi triturado nas conversas da direção petista, reunida na sexta-feira (26) no Rio. O partido pregou o aprofundamento da política econômica dos anos Lula: o oposto do vago programa de Dilma 2.

Haverá o começo do estrebuchamento de Eduardo Cunha. Na quarta-feira (2), o Supremo Tribunal Federal deve transformar o presidente da Câmara em réu, acusado de receber propina do petrolão na Suíça. Quando se debate na lama em que atolou, Cunha espalha estilhaços.

Uma decisão crucial do Supremo na prática deve favorecer delações premiadas e um pique acelerado nesse jogo de denúncias. Condenados em segunda instância começam a cumprir pena na prisão, se for o caso, decidiu o STF faz dez dias.

Por acaso, nesses dias foi preso João Santana. A defesa do publicitário tem apertado o garrote de Marcelo Odebrecht: Santana troca suas penas por acusações à empreiteira. A perspectiva de cadeia pode revelar muito das relações da empresa com a campanha da reeleição de Dilma Rousseff.

Por falar em campanha, o TSE acaba de demandar investigações sobre empresas prestadoras de serviço para Dilma 2014, no mínimo outra fonte potencial de vazamentos sensacionais e convulsão político-policial.

Há rumores de mais escândalo em fundos de pensão e de mais batidas contra empresas acusadas de pagar propina para sonegar (Zelotes).

Na quinta, o IBGE divulga o crescimento do PIB em 2015. O anúncio não terá coisas boas nem coisas novas, uma recessão entre 3,5% e 4%, mas vai fazer manchetes ruins.

Apesar de a numeralha econômica do início do ano confirmar as previsões sombrias para 2016, há tímida melhoria de ânimo do consumidor. Não se entende bem o motivo, pois a inflação ainda está alta; emprego e renda baixam agora mais rápido. De qualquer modo, será difícil ver recuperação do prestígio da presidente, pelo menos enquanto durar essa temporada de guerra quente.

A Lava Jato faz dois anos no dia 17 de março, na mesma semana em que o PMDB pode tirar mais um pedaço do pé da canoa de Dilma Rousseff, ainda que alguns dos chefes do partido estejam quase afogados.

Criaturas de Santana - Míriam Leitão

- O Globo

Era forte, muito forte o sentimento de que estavam protegidos pela capa da impunidade. Só isso explica João Santana e sua mulher, Mônica Moura. Eles trabalharam em campanhas presidenciais, usaram técnicas agressivas de publicidade e mantiveram contas secretas no exterior, onde receberam recursos de empresas e lobistas. Isso, depois de Duda Mendonça ter admitido que assim é que o PT lhe pagava.

Este não é o primeiro grande caso de corrupção investigado no Brasil. O Mensalão colocou o ex-chefe de Santana diante de uma CPI e da Justiça. Duda escapou do pior, mas ajudou a revelar o esquema. Disse que foi forçado pelo PT a abrir uma offshore para receber parte do dinheiro. Admitiu o caixa dois e pagou a multa.

De lá para cá, o país está claramente dobrando sua aposta no combate à corrupção através do Ministério Público, da Justiça e Polícia Federal. A Lava-Jato tem métodos e ação mais precisos, mais elaborados. Santana e Mônica acham que poderão se livrar com a estratégia de admitir alguma coisa para perder os anéis e ficar com os dedos. Eles reconhecem a existência de contas no exterior não declaradas, mas Santana diz que não sabe quem depositou nessa conta e seu advogado corrobora: “ele é um criador.”

Na Pólis de Santana e Mônica, as criaturas não tinham limites. Elas podiam subestimar a inteligência alheia, manipular os sentimentos, mentir sobre adversários e escamotear a crise que agora nos consome. As criações de João Santana fizeram mal ao país e à democracia brasileira, mas isso não levaria o casal à prisão. Revela, contudo, a arrogância e a sensação de impunidade que tinham. Ele fez tudo isso, enquanto dinheiro duvidoso era depositado por lobista e por empreiteira em uma de suas contas. A planilha da Odebrecht divulgada pela “Época” indica que pode ter havido ligação mais direta. Santana orientava Dilma Rousseff a mentir em debates e entrevistas, vivia na intimidade do poder como conselheiro político mesmo após as eleições, enquanto tinha seis contas não declaradas no exterior. Em novembro passado, diante dos avanços da Lava-Jato, fez uma declaração retificadora na Receita admitindo cinco contas, mas não a que recebeu o dinheiro de Zwi Skornicki e da Odebrecht.

O que contaram Santana e Mônica nos depoimentos é risível. Receberam no exterior porque trabalharam no exterior, não trouxeram o dinheiro, mas pretendiam fazê-lo, receberam caixa dois, mas nunca no Brasil, e sim em suas campanhas presidenciais em outros países. Mônica cuidava de toda a parte administrativa e financeira, a tal ponto que o distraído criador nem sabe dizer quanto e quem lhe pagou. A estratégia clara é admitir crimes menores para se livrar da cadeia e também proteger a presidente Dilma Rousseff e seu mandato.

No exterior, eles trabalharam para presidentes como Hugo Chávez e José Eduardo dos Santos e por essas campanhas admitem caixa dois. O que liga os dois políticos é a prática antidemocrática. José Eduardo do Santos é presidente desde 1979, seu governo é uma ditadura corrupta que faz eleições para encobrir seu caráter autoritário. Sua filha Isabel dos Santos é considerada a mulher mais rica da África, com fortuna avaliada em US$ 3,7 bilhões pela revista “Forbes”. Sua riqueza tem relação direta com o ambiente de corrupção instalado pelo governo para o qual João Santana trabalhou. Hugo Chávez tinha, como todos vimos, a decisão de se eternizar no poder, golpeando as instituições. Ele morreu, mas deixou seu ectoplasma que governa o país rumo à ruína.

Pela versão das primeiras horas após a prisão, eles aceitaram dinheiro de origem duvidosa, mas só no exterior. No Brasil, tudo foi feito dentro da lei. Uma delinquência com limites geográficos. No início da campanha, ele concedeu uma entrevista ao jornalista Luiz Maklouf na “Época”, em que disse que a presidente Dilma ganharia fácil no primeiro turno, enquanto haveria com os outros candidatos uma “antropofagia de anões”, e explicou: “eles vão se comer lá embaixo e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo”. A história não foi assim, houve segundo turno, mas o que o país quer saber agora é o que aconteceu no Olimpo. Ele diz de si mesmo que tem ideias muito rápidas. Agora é a hora de mostrar isso, mas que a ideia seja crível, porque os velhos truques não funcionam mais. O país está mudando.

O peso do PMDB e das ruas – Editorial / O Estado de S. Paulo

A cassação dos mandatos da presidente Dilma Rousseff e de seu vice Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passa a ser uma possibilidade muito mais concreta a partir das suspeitas de ilicitudes praticadas pelo PT na campanha eleitoral de 2014, levantadas pelas investigações da Operação Lava Jato que levaram à prisão o marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura. Essa novidade tende a provocar um natural realinhamento das forças que compõem a inconsistente base de apoio ao governo, na qual o PMDB, maior bancada do Congresso, continua tentando conciliar uma tendência crescentemente oposicionista com o desejo de preservar o poder de que desfruta na sua condição de principal aliado do Planalto.

O novo quadro político que nitidamente se esboça em Brasília tem como fulcro a possibilidade de afastamento de Dilma Rousseff e a consequente realocação das várias facções políticas no tabuleiro do poder. Mas a análise das perspectivas e a sua influência sobre a estratégia a ser adotada agora pelas facções concorrentes não podem levar em conta simplesmente a consumação da deposição da presidente da República, mas também, necessariamente, a forma como o afastamento vier a ocorrer. As possibilidades são basicamente duas, com consequências distintas.

Se o Congresso aprovar o pedido de impeachment, Dilma estará deposta e em seu lugar assumirá o vice Michel Temer. Já a punição que o TSE pode impor é a cassação da chapa completa: presidente e vice. E se isso ocorrer até 31 de dezembro próximo – metade do atual mandato presidencial – a chefia do governo será assumida por 90 dias pelo presidente da Câmara, que por enquanto é Eduardo Cunha, e nesse ínterim se realizarão novas eleições para presidente e vice. Se a cassação – não o impeachment da presidente – ocorrer na segunda metade do mandato, assume provisoriamente o presidente da Câmara e os novos presidente e vice da República serão eleitos indiretamente pelo Congresso.

Diante dessas perspectivas, dois fatores assumem importância decisiva para o destino de Dilma Rousseff: a posição do PMDB e a intensidade do apoio popular ao afastamento.

Na quinta-feira, em seu programa político na mídia eletrônica, o PMDB, apesar da ambiguidade que habitualmente marca suas posições, fez duras críticas à má gestão federal, particularmente à inflação e ao desemprego crescentes. Na abertura do programa – que não teve a participação de nenhum dos seis ministros peemedebistas – Michel Temer afirmou que “todos já sabem os motivos” da crise que o País vive. E uma locutora enfatizou: “Continuamos desiludidos. O desemprego vem de mãos dadas com a carestia (...). O brasileiro empobreceu, entristeceu e o País precisa reagir já”. Definitivamente, não é o discurso de um aliado político.

Temer está empenhado agora em garantir sua reeleição à presidência do PMDB na convenção de março. De todo modo, o caminho do TSE para o afastamento de Dilma, por razões óbvias, não lhe interessa. Isso pode significar que os peemedebistas passem a considerar com maior simpatia o processo de impeachment que tramita no Congresso, sobre o qual podem ter uma atuação decisiva.

E esse é um raciocínio que pode se estender a toda a chamada bancada aliada, na medida em que de alguma maneira ficar claro que a substituição de Dilma por Temer pode ser vantajosa no toma lá dá cá que impera nas relações do Executivo com o Legislativo.

Seja como for, o avanço do processo de impeachment no Congresso e, certamente em menor escala, o da cassação no TSE dependem muito do claro apoio popular à ideia do afastamento de Dilma Rousseff. Todas as pesquisas de opinião demonstram que a impopularidade da chefe do governo não tem precedentes na história e os indicadores econômicos e sociais estão aí a comprovar, diariamente, aquilo que as agências internacionais de avaliação de risco unanimemente apontam: o desgoverno tomou conta do Brasil.

Mas pesquisas de opinião e indicadores econômicos e sociais são dados frios, por si sós incapazes de mudar a história política de um país. Esse poder está reservado à inequívoca vontade popular livre e claramente expressa nas urnas e nas ruas, neste último caso quando legitimamente amparada pelos necessários procedimentos constitucionais.