domingo, 7 de outubro de 2018

Fernando Henrique Cardoso: Hora de voto

- O Estado de S. Paulo

Mais do que nunca é preciso insistir em nossos valores, na democracia

A fragmentação partidária, os sentimentos exaltados e o personalismo triunfante não respondem às necessidades do povo e do País. Na vida política não basta ter ou imaginar que se tem razão, é preciso que a mensagem seja sentida pelas pessoas e que elas escutem e queiram avançar na direção proposta. Até agora o caminho das reformas e do equilíbrio não parece ser o preferido pela maioria. O eleitorado decidirá hoje os adversários que se enfrentarão no segundo turno. Ainda é tempo de parar a marcha da insensatez. Uma coisa é certa: o eleito ao final de outubro terá de obedecer à Constituição e tanto os que nele votaram como os que a ele se opuseram terão de respeitar o resultado das urnas.

O que está em jogo não é o partido tal ou qual, nem se o candidato é bom ou mau ser humano. Mas, sim, o que pretende e poderá fazer. Terá capacidade de juntar pessoas e forças políticas para governar? Dará rumo à Nação? Concordo com o que ele propõe e avalio que será capaz de fazê-lo? Para responder é preciso analisar o quadro político, social e econômico em que o novo presidente vai operar. Não se trata de escolher o candidato apenas por seus atributos pessoais nem pelo que dizem os partidos (os quais em geral silenciam sobre os verdadeiros problemas), mas, principalmente, pelo que o candidato já fez e por sua capacidade política.

Depois de 2013 os governos do PT levaram a economia à recessão. Como disse na carta que escrevi recentemente aos eleitores, há problemas gritantes no País, a desorganização das finanças públicas e o desemprego são sinais deles. A rigidez dos privilégios burocráticos dificulta cortar os gastos com o funcionalismo. As desigualdades gritantes da Previdência, em especial entre alguns servidores públicos e trabalhadores do setor privado, criam castas de beneficiários, muitos do quais se aposentam cedo com proventos muito acima do que seria justo receberem.

Diante dessas e de outras despesas obrigatórias, o governo federal acumulou nos últimos cinco anos déficits de R$ 540 bilhões. O que havia sido um superávit de cerca de 3% do PIB desde 1999, algo maquiado a partir do segundo governo Lula, se tornou um déficit de mais de 2% do PIB a partir de 2015, graças ao descalabro fiscal e ao desastre econômico produzido pelo governo Dilma. Acrescidos das despesas com juros, a sequência de déficits primários fez a dívida pública do governo federal se aproximar de R$ 4 trilhões e a do Estado brasileiro em seu conjunto superar os R$ 5 trilhões este ano. 

Luiz Werneck Vianna: Ao vencedor, as batatas

- O Estado de S. Paulo

Nós, os perdedores nessa disputa eleitoral, não poderemos abdicar de feroz autocrítica

Um canal de TV de larga audiência transmite a sessão de abertura da Assembleia-Geral da ONU. Como é da tradição, cabe ao chefe de Estado do Brasil, o sr. Michel Temer, abrir os debates. O presidente Temer realiza seu pronunciamento com palavras ponderadas, desenvolvendo o tema da importância daquela organização para a paz e a cooperação solidária entre os povos, tal como tem sido a posição brasileira nas relações internacionais, que ele ali, mais uma vez, reafirmava, honrando os valores e princípios da nossa Carta constitucional e das nossas melhores tradições. O terceiro orador, o sr. Donald Trump, presidente da República dos Estados Unidos, um dos países fundadores da ONU, há décadas um dos principais protagonistas da cena mundial, em nome de um princípio de sua lavra, America first, confronta com um nacionalismo primitivo o espírito que animava aquela assembleia e que nos vem de duas grandes revoluções do século 19, a americana e a francesa, com que se abre a modernidade e aprendemos com Kant a manter viva a utopia realista da paz perpétua.

Volte-se ao canal televisivo e a palavra passa a seu comentarista político, jornalista de meia idade, com os cabelos encanecidos, que desqualifica sem mais o oportuno e feliz pronunciamento do presidente Temer, passando ao largo do patético discurso de Trump, merecedor do justo sarcasmo com que foi recebido por sua audiência. Cenas como essas falam mais que mil palavras, estava ali a revelação da estupidez política que nos trouxe ao miserável cenário da sucessão presidencial, que ora somos obrigados a purgar.

Lamenta-se, agora, a sorte nessas horas aziagas do nosso encontro com que as urnas nos esperam. Impreca-se contra o destino que nos teria roubado o futuro, posto em mãos desastradas de estrangeiros que não conhecem nem respeitam nossa História e seus feitos. O destino é inocente, fomos nós que criamos passo a passo a armadilha, salvo milagres - creio, embora seja absurdo -, que não temos mais como evitar. Fomos nós os autores da lenda urbana de que a corrupção estaria na raiz dos nossos males, criminalizando a política e os políticos com a arrogância de messiânicos refratários à avaliação das consequências dos seus atos, a proclamarem fiat iustitia, pereat Mundus.

Merval Pereira: A favor da democracia

- O Globo

Pesquisa aponta que 69% dos entrevistados aprovam a democracia. Já partidos políticos perderam a influência pelo descrédito de suas ações

Na eleição mais radicalizada dos anos recentes, pontuada por declarações de ambos os líderes das pesquisas que remetem a ameaças à democracia, esse regime político, que, na frase famosa de Churchill, é o pior deles com exceção de todos os outros, aparece fortalecido pelos brasileiros em pesquisa Datafolha.

Em votação recorde, a maior desde 1989 quando se disputava a primeira eleição direta depois do regime militar, a democracia recebeu nada menos que 69% de aprovação, índice crescente na preferência dos eleitores, ao mesmo tempo em que os partidos políticos, canais da sociedade com o poder político, perderam momentaneamente a influência pelo descrédito de suas atitudes.

Segundo Max Weber, citado no Dicionário de Política de Norberto Bobbio e outros, o partido político é “uma associação que visa a um fim deliberado, seja ele objetivo, como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja pessoal, destinado a obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente”.

No Brasil de 35 partidos, a maioria se enquadra na associação que “objetiva obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes”, mas alguns trabalham sobre “ideais”. A eleição de hoje é uma boa oportunidade para que se recomece a atividade política conspurcada pela corrupção generalizada, e o papel do vencedor será fundamental para essa retomada desejada pelos eleitores, que prezam a democracia e a consideram o melhor caminho para resolver seus problemas.

Ao contrário do que muitos apregoavam, apenas 12% consideraram que a ditadura é um regime melhor, e outros 13% mostraram-se indiferentes. É, pois, sob o signo da democracia que os eleitores vão às urnas hoje, e é preciso que os candidatos tenham isso em mente quando assumirem seus cargos, pois hoje ainda podemos ter a definição da escolha de vários governadores no primeiro turno e, quem sabe, até mesmo o do presidente da República.

Míriam Leitão: Lições das eleições dadas pelo avesso

- O Globo

Qualquer que seja o resultado das eleições de hoje, o país terá aprendido muito sobre os perigos que ainda rondam a nossa democracia

Toda eleição ensina, mesmo que seja pelo avesso. Nem toda eleição constrói um pacto com o futuro. Nesta, qualquer que seja o resultado, teremos aprendido muito sobre os riscos que rondam a democracia. Pastores transformaram igrejas em currais eleitorais. Alguns empresários constrangeram publicamente funcionários. Bolsonaro foi vítima de um atentado que quase tirou sua vida. As mentiras abundantes nas redes influenciaram votos. O PT retrocedeu ao seu nicho. O centro não convenceu. Por outro lado, o país venceu a indiferença em relação à política, e o comparecimento hoje às urnas pode ser muito maior do que o inicialmente previsto.

A democracia brasileira foi desafiada por inúmeros eventos nessa campanha, o pior deles foi a violência física contra o candidato do PSL. Uma das questões postas de forma dramática para o país é o voto evangélico. Muitos pastores reinstalaram o voto de cabresto. Invocaram Deus para que o fiel escolhesse o que eles, os líderes religiosos, acreditam ser o certo. Com isso, 50% do eleitorado evangélico votará em Bolsonaro, pelas pesquisas das últimas horas. Toda tentativa de usar o poder para induzir o voto de eleitores, em qualquer direção, apequena a democracia. A liberdade de culto é sagrada, como a liberdade do voto.

Empresários que ameaçam seus funcionários com o desemprego, como fez Luciano Hang, da Havan, são uma aberração. O crime tem provas, um vídeo em que ele pergunta “você está preparado para perder seu emprego?” Isso aconteceria se a “esquerda ganhar”. Ele vota em Bolsonaro. Hang se aproveita da extrema vulnerabilidade do trabalhador brasileiro no meio da pior crise de desemprego que o país já teve.

Elio Gaspari: A utilidade do fator arrependimento

- O Globo

Numa eleição influenciada pelo voto contra, talvez seja melhor pensar no risco embutido nessa decisão

Hoje o eleitor poderá escolher entre 13 candidatos. Nos últimos 29 anos, os brasileiros elegeram quatro pessoas para a Presidência: Fernando Collor, FHC, Lula e Dilma. Pode-se dizer que uma boa parte dos eleitores de Collor e Dilma se arrependeram do voto. Muita gente que preferiu Aécio Neves também deve ter se arrependido, e essa história mostra o risco embutido em eleições que desembocam em votos contra.

Quem já votou para presidente terá mais facilidade em lidar com o fator arrependimento, quer pelos candidatos em quem votou, quer por aqueles em que se orgulha de não ter votado.

Em todos os casos, pode-se ir à seção eleitoral movido pelo voto contra A ou B. No caminho, vale a pena pensar no fator arrependimento. No dia da eleição, o voto contra pode ser glorioso como uma vitória no futebol. Ao contrário das disputas esportivas, eleição elege e o candidato assumirá a Presidência em janeiro. Daí em diante o eleitor recebe a parte que lhe cabe desse latifúndio.

Muitos eleitores de Dilma, Collor e, lá atrás, Jânio Quadros arrependeram-se ou arrumaram justificativas fúteis para suas escolhas. Muitos colloridos votaram contra Lula, sabendo quem era a turma do “Caçador de Marajás”.

Os janistas votaram contra a turma de Juscelino Kubitschek, mas sabiam que Jânio era, no mínimo, “a UDN de porre” (palavras de Afonso Arinos, referindo-se à União Democrática Nacional, o partido que se ajoelhou para Jânio).

Eleições embebidas em votos contra produzem vencedores, mas a experiência mostra que, em pelo menos dois casos, entregaram o Brasil a presidentes desastrosos.

Receita para um autogolpe
Numa digressão genérica, o general Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, referiu-se ao mecanismo do “autogolpe”, a que um governo recorreria, numa situação de grave crise política. “Já houve em outros países. Aqui nunca houve.”

Houve em 1965, 1968, 1969 e 1977, mas deixa pra lá, porque foram autogolpes dentro de um regime ditatorial. Vale a pena revisitar o autogolpe tentado, sem sucesso, por Jânio Quadros.

Jânio assumiu a Presidência em janeiro de 1961, teve uma relação hostil com o Congresso e com as lideranças de sua própria base. Na manhã de 25 de agosto, sem ter falado com ninguém, renunciou ao cargo.

No dia seguinte, ele disse ao jornalista Carlos Castello Branco, seu assessor de imprensa: “Nada farei por voltar, entrementes considero minha volta inevitável. Dentro de três meses, se tanto, estará na rua, espontaneamente, o clamor pela reimplantação do nosso governo”. Muita gente achava boa a ideia e havia antecedentes na cena internacional. Um mês depois da posse de Jango, a CIA informava ao presidente John Kennedy que a ideia da volta de Jânio ganhava força.
O autogolpe de Jânio fez água porque foi um lance solitário, amalucado. Além disso, o vice era João Goulart, mal visto nas Forças Armadas e seu adversário.

Bernardo Mello Franco: A eleição da incerteza

- O Globo

Brasil chega à oitava eleição presidencial desde o fim da ditadura. Nenhuma foi marcada por tantas incertezas e dúvidas sobre o futuro da democracia

O Brasil chega à oitava eleição presidencial desde o fim da ditadura militar. Nenhuma foi marcada por tanta incerteza. Nenhuma projetou tanta dúvida sobre o futuro da democracia no país. É difícil traçar paralelos com qualquer disputa anterior. O candidato que começou na frente foi preso e impedido de concorrer. O candidato que o substituiu na liderança levou uma facada na barriga.

A campanha sumiu das ruas. Passou a ser comandada da cadeia e do hospital. A polarização entre PT e PSDB, que deu o tom das últimas seis eleições, ficou pelo caminho. Depois de quatro derrotas seguidas, os tucanos perderam o controle sobre o voto conservador. Foram trocados por um outsider de extrema direita, que se filiou a uma legenda de aluguel no limite do prazo legal.

O horário eleitoral na TV, que inflacionava as negociações entre os partidos, virou mercadoria obsoleta. Quem conseguiu mais de cinco minutos de propaganda empacou nas pesquisas. Quem ficou com apenas oito segundos disparou na frente. A discussão política migrou para a tela do celular. Notícias e boatos passaram a se confundir na terra sem lei do WhatsApp. O TSE anunciou uma força-tarefa para combater as fake news. Ficou só na promessa.

Eliane Cantanhêde: As duas seitas

- O Estado de S.Paulo

O confronto é entre duas seitas, lulistas e bolsonaristas, mas viva a democracia!

Jair Bolsonaro (PSL) virou onda sob os ventos conservadores que assolam o Brasil, mas a vitória em primeiro turno, se não impossível, parece improvável. A perspectiva é de um segundo turno entre duas seitas políticas, o bolsonarismo e o lulismo, alheias à crítica, à autocrítica e às divergências. A eleição passa, mas essa guerra vai continuar.

Fernando Henrique, em 1994, e Lula, em 2002, tinham uma certa lógica, até onde a política consegue ter alguma lógica. Mas 2018 lembra mais 1989, com o “caçador de marajás” Fernando Collor (seria cômico, não fosse trágico), e 2014, com a “gerentona” Dilma Rousseff (o que é só trágico).

Collor crescendo, crescendo, e os brasileiros acreditando, festivamente, nos jargões, no teatro, sem refletir sobre o passado do candidato nem projetar o futuro presidente. Dilma liderou do início ao fim, sem que os eleitores, expostos a um marketing de muita qualidade técnica e pouca ética, enxergassem as pedaladas para driblar a realidade e cair no precipício logo ali.

Assim chegamos a este 7 de outubro com o País sem racionalidade, dividido entre antipetismo e antibolsonarismo. Os eleitores só veem, ouvem e sentem o que querem, sem a dúvida, os prós e contra. Se a seita PT obedece a tudo o que seu mestre Lula mandar, a seita bolsonarista bate continência a todas as ordens do capitão Bolsonaro.

Para o PT, a Justiça, o MP, a PF, a Receita e a mídia estão errados, só Lula está certo. Não interessa que ele tenha dividido o País em “nós e eles”, mergulhado alegremente nas benesses de empreiteiras e bancos, institucionalizado a propina e fatiado a Petrobrás. Só que ele usou os ventos internacionais para dar crédito, consumo e bolsas à vontade e é adorado por um terço da população.

Vera Magalhães: Lula ou Jair? Ulysses

- O Estado de S.Paulo

A Constituição é o antídoto tanto para a corrupção quanto para as tentações autoritárias

“Qualquer governante deste País pode ganhar as eleições e não cumprir aquilo que prometeu porque é mais um e o povo já sabe. Nós não podemos.” A frase é do histórico discurso de Luiz Inácio Lula da Silva na Avenida Paulista na madrugada de 27 para 28 de outubro de 2002. O petista havia sido eleito presidente da República em sua quarta tentativa desde 1989, a eleição que retorna agora, 30 anos depois da promulgação da Constituição, para testar da maneira mais cabal até aqui sua capacidade de resistir a tentativas de solapá-la.

A frase parecia conter a consciência da responsabilidade, do ineditismo histórico que representava sua eleição num País como o Brasil e dos riscos que haveria caso ele falhasse. E ele não falhou, apenas.

Lula deliberadamente optou por outro caminho, que seu companheiro Antonio Palocci definiu como “sonho mirabolante”, mas que na verdade foi um projeto deliberado de assalto ao País para perpetuar seu projeto político no poder.

Agora, diante da queda desse projeto pela Lava Jato e sua prisão, não fez o que disse que faria, no mesmo discurso, caso “errasse”: “Pode ficar certo que eu não terei nenhuma dúvida de ir pra televisão pedir desculpas ao meu povo”. Não pediu, urdiu uma narrativa falsa e atentatória à Justiça e às instituições de que era um perseguido político, arquitetou um plano infalível para voltar ao poder a despeito de tudo e nos trouxe até aqui.

Preso, Lula abriu a porta para a possibilidade, antes considerada remota, de eleição de Jair Bolsonaro – e tudo que ela representa de negação da história que vai da redemocratização à sua própria chegada à Presidência.

Pela arrogância de se auto conceder a condição de “uma ideia”, Lula ignorou que o mal que causou com os crimes que cometeu era tão profundo que fez fermentar a ideia oposta à sua, num caldo que mistura a legítima repulsa à corrupção com ideias fascistas que antes não ousavam ser ditas em voz alta.

Hélio Schwartsman: A festa da democracia?

- Folha de S. Paulo

Não se trata de ignorar alertas, mas cuidado com os discursos mais exaltados

Em tempos mais normais, uma coluna a ser publicada no dia de eleições gerais exaltaria a festa democrática. Como não vivemos tempos normais, vejo-me compelido a escrever sobre riscos institucionais.

A crer nos discursos mais exaltados, depois de hoje estaremos reduzidos a escolher se enterraremos a democracia elegendo Bolsonaro ou nos tornaremos uma Venezuela optando por Haddad. Cuidado com os discursos mais exaltados.

Não se trata, é claro, de ignorar os alertas. Bolsonaro já deu inúmeras declarações que escancaram seu descompromisso para com a democracia e os direitos humanos. Não é absurdo, portanto, imaginar que, uma vez alçado ao poder, ele dê início a uma escalada autoritária. Seu plano econômico é pouco consistente e ele parece completamente despreparado para o cargo. Por mais que alguém odeie o PT, é preciso uma coragem meio suicida para apertar o número 17 na urna.

Bruno Boghossian: E o país?

- Folha de S. Paulo

Primeiro turno chega sem respostas para problemas e com dúvidas sobre democracia

Ficou no passado a esperança de que a eleição seria uma oportunidade de reencontro com a normalidade após o impeachment e a crise econômica. O domingo (7) pode terminar com a escolha de um presidente que representa mais riscos do que certezas ou com uma polarização que parece fora de controle.

O peso inédito das redes sociais inaugurou um novo modelo de disputa eleitoral. A influência modesta da TV reduziu o poder dos grandes partidos e multiplicou o número de vozes na arena política. Mas esse quadro produziu também um debate fechado em bolhas e um terreno fértil para discursos de ódio e para a propagação de mentiras.

Uma campanha atípica desaguou num cenário fora dos padrões. Os dois líderes das pesquisas chegaram a índices recordes de rejeição. Historicamente, analistas consideravam impossível eleger um candidato com taxa negativa acima de 30%. Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) estão para lá de 40%.

Vinicius Torres Freire: O isolacionismo do PT

- Folha de S. Paulo

Partido afasta aliados com ideias econômicas ruins, lulismo subserviente e laivos autoritários

Não tem cabimento exigir que candidatos e partidos renunciem a convicções. A decisão de rejeitar alianças em nome de purismos tem consequências, porém. O PT opta pelo isolamento, levando Fernando Haddad para a sua margem do rio.

A escolha do insulamento diminui o potencial de votos e a capacidade de organizar um governo viável em termos políticos e econômicos. A candidatura do PT não se ocupou desse problema até a semana passada, quando petistas, em especial haddadistas, temeram derrota precoce.

O PT ignorou ofertas tácitas de alianças que elites econômicas e políticas fizeram circular pela opinião pública --textos e entrevistas publicados na "grande mídia", em redes sociais ou até recados para o entorno de Haddad. "Elites", plural: são diversas.

O PT ignora um eleitorado na maioria favorável à prisão de Lula ou ao impeachment, mas nem sempre antipetista. Metade dos eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB) e dois terços dos que votam em Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) optariam por Haddad em uma final contra Jair Bolsonaro (PSL). Mesmo 16% dos bolsonaristas ainda cogitam votar em Haddad no primeiro turno.

O PT fez tais escolhas em uma eleição em que o centro ou a intermediária política se esvaziava. Em atos de campanha, deu mais motivos para ojeriza. Haddad atraiu mais da rejeição do que da simpatia a Lula: 49% dos eleitores não votam em candidato indicado pelo ex-presidente (a rejeição de Haddad passou de 40%); 39% votariam com certeza no indicado por Lula (Haddad não passou de 22% dos votos).

Samuel Pessôa: Difícil debate

- Folha de S. Paulo

É ou não possível acabar com o déficit fiscal com imposto de 1% sobre fortunas?

Em um tuíte de 8 de setembro, um dos responsáveis pelo programa econômico do PT, Marcio Pochmann, escreveu: "Déficit primário nas contas públicas, estimado para 2019 pelo neoliberalismo de Temer, poderia ser superado pela cobrança de 1% sobre grandes fortunas. Solução para o Brasil tem, mas precisa do voto popular para garantir a renovação na política. O voto vale".

A afirmação tem duas características muito importantes. Primeira, é precisa e, portanto, facilmente verificável. Segunda, tem importantes implicações para a economia. Assevera que há uma maneira relativamente simples e indolor de resolver boa parte de nosso problema fiscal.

Vindo de um dos principais economistas do grupo político associado a um candidato bem colocado nas pesquisas eleitorais para a Presidência da República, a afirmação adquire enorme relevância.
Meu colega Alexandre Schwartsman, que ocupa este espaço às quartas-feiras, aceitando de forma iluminista os termos em que Pochmann estabeleceu o tema, resolveu verificar a veracidade da afirmação.

Baixou os dados da Receita Federal e documentou, em sua coluna de 12 de setembro, que essa base tributária não arrecadaria nem 10% do déficit fiscal.

Li com interesse a réplica de Pochmann a Alex nesta Folha na edição de 14 de setembro, procurando qual teria sido o erro cometido por Alex.

Pochmann discorreu sobre vários temas. Não houve menção aos números. Pochmann reagiu de forma idêntica à do batedor de carteira que, após o ato, vira de lado, levanta o braço e grita "pega ladrão!".

Penso, aliás, que, em debates dessa natureza --em que a questão debatida é muito clara e circunscrita--, a réplica não deveria ser publicada se não tratar diretamente do tema.

Na coluna de 26 de setembro, Alex escreve que Pochmann irá ganhar o merecido título de economista mais desonesto do Brasil.

Luiz Carlos Azedo: Cenários possíveis

- Correio Braziliense

“Bolsonaro larga à frente de Haddad. Ambos, estão fazendo uma campanha olímpica. O primeiro, nas redes sociais; o segundo, à sombra de Lula”

Há três possibilidades nas eleições de hoje, todas com Bolsonaro à frente nas pesquisas. A mais provável é um segundo turno entre o candidato do PSL e o petista Fernando Haddad, numa disputa radicalizada entre direita e esquerda. Duas outras são matematicamente possíveis: uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno, que não pode ser descartada, ou o surgimento de uma terceira via, com um estouro de boiada em direção a Ciro Gomes (PDT), o que é quase impossível. Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), João Amoêdo (Novo), Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (PMDB) e Cabo Daciolo (Patriotas) cumprirão tabela; se isso ocorrer, garantirão o segundo turno.

No cenário mais provável, Jair Bolsonaro largará à frente de Fernando Haddad no segundo turno. Ambos, até agora, estão fazendo uma campanha olímpica. O primeiro, basicamente nas redes sociais, em razão da recuperação da facada que recebeu em Juiz de Fora há cerca de um mês; já o petista, na aba do chapéu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aposta na campanha de rua e na mobilização petista. Bolsonaro conseguiu faturar boa parte da campanha do “voto útil” do chamado “centro democrático”; a fatia menor ficou com Ciro. Haddad fechou os espaços para Guilherme Boulos (Psol), uma caricatura de Lula quando jovem, e faturou os votos de Lula que migravam para Ciro e Marina, exceto nos seus estados de origem, Ceará e Acre, respectivamente. A interrogação é saber se os votos de Lula que migravam para Bolsonaro voltaram ao leito petista. Aparentemente, uma parcela continua com o capitão reformado.

Em 2002, Lula obteve 25% dos seus votos no segundo turno no Nordeste; em 2010, 33% dos votos de Dilma Rousseff estavam da região. Em 2014, o Nordeste ultrapassou o Sudeste em importância eleitoral para o PT, que obteve 37% dos seus votos na região, contra 36% no seu leito histórico. Sete em cada dez nordestinos (71,7%) votaram em Dilma. No último Data Folha, o petista parou na faixa de 37%. Bolsonaro tem 20% e Ciro, 16%. No segundo turno, é possível que os votos de Ciro migrem para Haddad, maciçamente; hoje, esses votos podem fazer falta para impedir uma eventual vitória de Bolsonaro no primeiro turno.

Bolsonaro lidera em todas as demais regiões do país, com grande vantagem em relação a Haddad: 45% a 18% na região Sul; 41% a 17% no Centro-Oeste; 36% a 25% no Norte; e 39% a 16% no Sudeste, região que concentra o maior contingente eleitoral do país. Bolsonaro já tem maioria dos votos válidos no Acre (60%), em Mato Grosso (51%), em Rondônia (55%), em Roraima (60%) e em Santa Catarina (55%). Haddad está à frente no Maranhão (52%) e no Piauí (54%). Bolsonaro vence entre os homens por larga margem (42% a 22%) e ultrapassou Haddad entre as mulheres (28% a 23%). Lidera em toda as faixas etárias, mas, principalmente, entre os jovens (33% a 19%, na faixa de 16 a 24 anos; e 38% a 20%, na faixa de 25 a 34 anos). Haddad, porém, vence entre os eleitores de menor escolaridade (28% a 23%) e com renda até dois salários-mínimos (28% a 22%), a principal base eleitoral de Lula.

Ricardo Noblat: Lula contra Lula

- Blog do Noblat | Veja

Segundo turno no primeiro

Hoje ou no dia 28, data de um eventual segundo turno, o maior risco que corre o deputado Jair Bolsonaro (PSL) é se eleger presidente da República. O risco de Fernando Haddad (PT) é mínimo.

Bolsonaro foi o único candidato que cresceu nas pesquisas de intenção de voto do Ibope e do Datafolha divulgadas ontem à noite. Haddad e Ciro Gomes (PDT) permaneceram onde estavam.

Nas últimas 48 horas, Ciro e Haddad trocaram votos. Um subiu tomando voto do outro para mais tarde devolver. A Onda Ciro foi menor do que pareceu. Não houve Onda Haddad.

Uma ou duas vezes, o segundo turno será Lula contra Lula. O Lula do bem na pele de Haddad. O Lula do mal na pele de Bolsonaro. Nem Haddad se elegeria sem Lula, nem Bolsonaro.

Ganhe quem ganhar, será o último presidente da Era Lula que começou em 1989 com a eleição de Fernando Collor. Collor elegeu-se contra Lula. Fernando Henrique derrotou Lula duas vezes.

Eleito e reeleito, Lula elegeu e reelegeu Dilma. Imaginou voltar este ano. Mofa na cadeia. Em breve, deverá ser condenado de novo.

Bonner e Bolsonaro

Campeão de audiência

Por volta das 15h de ontem, depois de comprar um sanduiche de mortadela em uma padaria nas vizinhanças da TV Globo no bairro do Jardim Botânico, no Rio, o jornalista William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, foi saudado na rua por motoristas de táxi aos gritos de “Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro”.

Por um pacto nacional: Editorial | O Estado de S. Paulo

Uma campanha eleitoral é, por definição, o momento em que distintos modelos políticos e visões de mundo são confrontados, muitas vezes de forma ruidosa, na expectativa de convencer o eleitor a sufragar uma dentre as diversas propostas apresentadas. Logo, numa campanha não se pode esperar um clima de harmonia e concórdia, e, às vezes, até mesmo os limites da civilidade, no calor dos discursos, são ultrapassados. Esse embate tem sido especialmente virulento nestas eleições, levando muitos a considerar que, qualquer que seja o desfecho, as consequências serão apocalípticas e as divisões político-ideológicas, insuperáveis.

Mas a verdade é que os candidatos e seus eleitores chegam hoje ao dia decisivo do primeiro turno da eleição presidencial ante o imperativo de, uma vez fechadas as urnas e conhecidos os resultados, aceitarem o veredicto eleitoral. Esse é o pressuposto de uma disputa democrática - vence quem tem mais votos. A partir da aceitação do resultado, estarão dadas as condições para que se alcance alguma forma de convergência em torno de interesses comuns. É isso o que se espera do próximo governo e também dos partidos que lhe farão oposição.

Para os que duvidam dessa possibilidade de entendimento, tendo em vista o grau de animosidade que grassou na campanha, em especial nas redes sociais, é preciso lembrar da experiência de muitos países que conseguiram superar divergências políticas que, em alguns casos, levaram até mesmo à guerra civil. O Brasil, a despeito da hostilidade manifestada por diversos grupos de simpatizantes dos principais candidatos a presidente, está a léguas de experimentar o grau de ódio que poderia levar a um conflito mais sério; logo, o diálogo é perfeitamente possível.

A democracia merece respeito: Editorial | Folha de S. Paulo

Apesar da radicalização da disputa política, a confiança dos brasileiros na democracia nunca foi tão grande

Os brasileiros irão às urnas neste domingo (7) confiantes na democracia que construíram nas três décadas que se seguiram ao ocaso da ditadura militar. Segundo o Datafolha, 69% acham que essa é a melhor forma de governar o país.

A população nunca expressou tanto apreço pelas regras do jogo democrático como agora. Em 1989, quando o Brasil votou para presidente pela primeira vez após o fim do regime autoritário, somente 43% dos eleitores pensavam assim.

Apesar da tensão com o acirramento da disputa política nos últimos dias, o país parece convicto de que realizará sua oitava eleição presidencial seguida em ambiente de plena normalidade democrática.

Estão inscritos 147 milhões de eleitores, o dobro do que havia quando a democracia foi restaurada. Eles são mais instruídos e experientes —portanto, mais capacitados para fazer boas escolhas.

Quem vence governa, quem perde vai para a oposição e tenta de novo depois. Mecanismos de contenção dos abusos de poder funcionam com vigor e independência.

Voto é renovação de compromisso com a democracia: Editorial | O Globo

Instituições enfrentam testes impostos pelo autoritarismo de esquerda e de direita

Esta eleição precisa ser entendida como um exercício de convivência entre contrários. Todos devem aprender com os erros cometidos até aqui

A oitava eleição direta consecutiva para presidente da República, além de um marco sólido no processo de redemocratização do país, precisa ser uma renovação do compromisso com a estabilidade política, econômica e institucional como um todo.
Faz apenas 30 anos da promulgação da Constituição que formalizou o fim da ditadura militar e patrocinou o retorno da democracia representativa, período que, mesmo curto do ponto de vista da História, é o mais longo da República brasileira sem interrupções por rupturas do sistema político.

Esta eleição tem especial relevância não apenas por seu simbolismo, mas por fatos que cercam o pleito e formam uma agenda estratégica a ser necessariamente enfrentada pelo novo presidente, pelo Congresso e por todo o conjunto de autoridades ocupantes de cargos eletivos, nos diversos níveis da administração pública. Sem eximir de responsabilidades partidos, organizações da sociedade civil e cidadãos.

Pois este é um daqueles momentos em que as escolhas são decisivas para definir os rumos da nação. Não se trata de uma mudança rotineira no Executivo e Legislativo. As questões que estão postas à frente do eleitor e dos políticos não são do varejo. O país passou no biênio 2015/16 pela mais profunda recessão já registrada nas estatísticas oficiais (mais de 7%), e mesmo que a economia esteja em recuperação, o ritmo insuficiente da retomada do crescimento faz com que ainda haja 12,7 milhões de desempregados.

E parte do problema tem a ver com indefinições no campo da política, que precisam começar a ser resolvidas hoje ou, se houver segundo turno, também no dia 28. O eleitor, a depender de sua escolha, pode abrir caminho para uma restauração mais rápida da capacidade de o país voltar a produzir de forma equilibrada. Ou não.

Também está em jogo a estabilidade da nossa democracia. Há marcas deixadas na vida política do país pela renitência antidemocrática do PT em aceitar decisões do Poder Judiciário e a atuação do Ministério Público, em que dirigentes seus têm sido investigados, denunciados, processados e punidos. A começar pelo ex-presidente Lula, condenado em julgamentos com amplo direito de defesa. Lula, punido por corrupção e lavagem de dinheiro, teve o veredicto confirmado em segunda instância e, por isso, está preso e com a candidatura impugnada. Apesar de chicanas, pressões e até manobras no exterior para transformar um organismo burocrático da ONU, o Comitê de Direitos Humanos, numa câmara deliberativa que forçaria qualquer país a condenar ou absolver alguém, o que a Justiça brasileira decidiu está sendo cumprido. Petistas tentaram, sem êxito, levar o Brasil à condição de república de bananas, mas não conseguiram.

FH lamenta falta de união de candidaturas de centro: 'As pessoas querem se engalfinhar'

Ex-presidente diz estar preocupado com capacidade de vencedor governar país dividido

Dimitrius Dantas | O Globo

SÃO PAULO - Após votar no Colégio Nossa Senhora de Sion, em Higienópolis, região central de São Paulo, na manhã deste domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lamentou a falta de apoio à sua tentativa de unir as candidaturas de centro . Responsável por escrever uma carta a favor da união, ele disse que, nesse momento, as pessoas querem se "engalfinhar". FH disse acreditar que a eleição vá para o segundo turno, e se mostrou preocupado com a capacidade de o próximo presidente governar um país dividido.

- É o que eu acho, o que eu penso, se os outros não querem, vou fazer o quê? Digo com sinceridade que eu acho que é o melhor. Posso estar certo ou errado. Mas aparentemente as pessoas não querem. As pessoas nesse momento do Brasil querem se engalfinhar. Podem se engalfinhar, eu não entro nessa - afirmou o tucano.

O movimento de FH foi criticado pelos candidatos Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), que viram no manifesto uma tentativa de alavancar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB). Na semana passada, no entanto, Ciro admitiu que poderia incorporar parte do programa de Marina e de Alckmin para uma suposta aliança.

Sobre a candidatura do seu correligionário, FH cometeu um ato falho quando foi questionado sobre os erros que o PSDB teria cometido. Nas últimas pesquisas, Alckmin aparece na quarta colocação.

- Isso eu vou falar no segundo turno - disse, antes de completar:- Se é que eu vou falar.

Fernando Henrique afirmou que não enxerga um risco para a democracia em uma eventual vitória de um candidato de extrema-direita. Segundo ele, o sistema democrático está enraizado, com imprensa livre, Congresso funcionando e uma cultura de democracia entre a população. Ele admitiu, no entando, que existem pessoas anti-democráticas. FH afirmou, ainda, que se preocupa com a capacidade do futuro presidente de governar um país dividido.

- Em relação a capacidade de levar adiante o país? Tenho (preocupação). Porque seria um cenário dividido. Para conseguir resolver essas questões, precisa explicar ao povo do que se trata. Se não explicar ao povo, não tem apoio. Se não tem apoio, o Congresso passa a dar as cartas e aí é uma dificuldade.

Embora tenha dito acreditar que a eleição vá para o segundo turno, FH evitou indicar um apoio, caso seu candidato não avance. O ex-presidente usou uma metáfora para fazer referência ao segundo turno ao dizer que, no xadrez, quem tem as pedras brancas (quem faz o primeiro lance), vence.

- Não sei quem vai ganhar. Quem ganhar é que tem dizer o que vai fazer com o Brasil. A mim o que interessa é o que vai fazer com o Brasil.

FH chegou ao colégio Nossa Senhora de Sion logo após a abertura das urnas, por volta das 8h, acompanhado de assessores. Ele disse que votou em Alckmin e espera que o tucano consiga uma das vagas no segundo turn.

Thaís Motta: Odeon (Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes)

Cecília Meirelles: Herança

Eu vim de infinitos caminhos,
e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão.

Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,
essa vida, que era tão viva, tão fecunda,
porque vinha de um coração?

E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos,
do pranto que caiu dos meus olhos passados,
que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão?