O Globo
Para a nação chilena, o crime contra ele
tem peso histórico semelhante ao fuzilamento de García Lorca
Perto do meio-dia da terça-feira passada,
agentes da Brigada de Direitos Humanos da Polícia Civil do Chile bateram à porta
de um apartamento em Las Condes, bairro afluente de Santiago. Traziam uma ordem
de prisão para o morador do terceiro andar, Hernán Chacón Soto, general
reformado do Exército. Na véspera, a Corte Suprema do país havia ratificado sua
condenação, junto a outros seis oficiais do Exército chileno da Era Pinochet, a
25 anos de prisão por um crime cometido meio século atrás: o sequestro, tortura
e assassinato do cantor Victor Jara, adorado trovador do folclore nacional e do
socialismo allendista.
Chacón não emitiu resistência à ordem dos policiais, pediu apenas para ir até o quarto buscar seu arsenal de medicamentos. Momentos depois, ouviu-se um tiro — talvez da mesma pistola Steyr calibre 9 mm com que cometera atrocidades. O suicida tinha 86 anos. Os outros três coronéis, dois tenentes e um general, todos reformados e com idades entre 72 e 83 anos, começarão a cumprir suas penas fechadas na penitenciária de Punta Peuco. Falta agora a Justiça chilena conseguir a extradição daquele que é tido como responsável mais direto pela morte de Jara: o ex-tenente Pedro Barrientos, escapulido para os Estados Unidos em 1990 e até recentemente protegido pela cidadania americana.