O Globo
No dia em que o presidente Jair Bolsonaro
promoveu uma das cenas mais ridículas da História do Brasil pelo menos desde a
redemocratização, com um anacrônico e acabrunhado desfile de sucatas militares
sobre o Eixo Monumental, em Brasília, o Congresso lhe deu duas respostas de que
não aceitará mais essas manobras antidemocráticas. Serão suficientes essas
respostas? E elas são da mesma dimensão e igualmente inequívocas? Não creio nem
em uma coisa nem na outra.
As reações das duas Casas do Congresso ao
ensaio vergonhoso promovido pelas Forças Armadas nesta terça-feira, numa
demonstração de vassalagem inaceitável a um presidente com pendores golpistas,
foram desiguais.
No Senado, o presidente Rodrigo Pacheco
condenou de forma clara o ridículo desfile de tanques e blindados na Esplanada
dos Ministérios, uma demonstração tanto do anacronismo do gesto quanto dos
equipamentos.
Disse que a Casa não aceitará tentativas de
intimidação e soltou um “Viva a democracia”, evocando propositalmente Ulysses
Guimarães num momento em que cresce a articulação pela sua candidatura à
Presidência.
Não ficou só nas (necessárias) palavras. Com um forte simbolismo, os senadores aprovaram o projeto de lei que revoga a Lei de Segurança Nacional e estabelece crimes contra o estado democrático de direito no Código Penal, uma forma de garantir que os atuais arreganhos autoritários possam ser punidos sem que se precise recorrer a um entulho da ditadura, num momento em que várias dessas sucatas são retiradas dos porões, na forma de blindados ou de ideias.