sábado, 8 de outubro de 2016

Opinião do dia – Fernando Gabeira

Não tenho o hábito de comemorar derrota de adversários, porque me lembro de que também já tive as minhas, aritmeticamente, humilhantes. No entanto, o resultado das eleições é uma espécie de confirmação eleitoral do fim de uma época.

Na verdade, o marco inaugural foi o impeachment, que muitos insistem em dizer que foi produto de uma articulação conservadora e dos meios de comunicação. Os defensores dessa tese têm uma nova dificuldade. Se tudo foi mesmo manobra de uma elite reacionária, se estavam sendo punidos pelo bem que fizeram, por que o povo não saiu em sua defesa nas urnas?

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Fernando Gabeira é jornalista. ‘Votando e aprendendo a votar’, O Estado de S. Paulo, 7/10/2016

No QG da delação premiada

• Hotel de Brasília vira ‘bunker’ da Odebrecht; maior empreiteira da América Latina tenta fechar com Procuradores acordo que pode ser o mais explosivo da operação Lava Jato

E m reuniões que entram madrugada adentro, regadas a água, café e vinho, o empresário Emílio Odebrecht, patriarca do grupo Odebrecht, dá ordens e debate com os advogados que negociam aquela que pode ser a mais explosiva delação premiada da Operação Lava Jato, informam Beatriz Bulla e Fábio Serapião. Ele, a filha Mônica, o marido dela, Maurício Ferro, responsável pela área jurídica do grupo, e Newton de Souza, atual presidente, ditam os rumos da tentativa de acordo com a Procuradoria-Geral da República para que Marcelo, filho de Emílio, e cerca de 50 executivos confessem crimes em troca de punição menor. A cena se repetiu várias vezes na semana passada na cobertura do Windsor Plaza Brasília, um dos mais caros da cidade. Ali, a Odebrecht alugou, além de salas de reunião, quartos para cerca de 20 pessoas, refeitório e lounge para secretárias. A maior empreiteira da América Latina tenta fechar um dos maiores acordos judiciais do mundo. Marcelo, que presidia o grupo até ser preso, há um ano e quatro meses, e os executivos estão dispostos a contar bastidores da distribuição de milhões de reais a políticos em troca de redução da pena. A empresa também tenta virar a página da história que a arrastou ao maior escândalo de corrupção do País.

Hotel de Brasília vira QG de delação da Odebrecht

• Grupo aluga espaços e quartos do Windsor Plaza para equipe de advogados que participam das negociações na Procuradoria-Geral da República; Emílio Odebrecht acompanha as reuniões

Beatriz Bulla e Fabio Serapião - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em reuniões que entram madrugada adentro, regadas a água, café e vinho branco, o empresário Emílio Odebrecht, patriarca do grupo Odebrecht, dá ordens e debate com os advogados que participam das negociações daquela que pode se tornar a mais explosiva delação premiada da Operação Lava Jato. O detalhe é que, da sala de reuniões onde estavam, na cobertura do Windsor Plaza Brasília, é possível avistar o lugar onde tudo começou, dois anos e sete meses atrás: o Posto da Torre, que deu nome à operação e levou a Polícia Federal até a contabilidade secreta do doleiro Alberto Youssef.

Odebrecht: executivos começam a fechar acordos de delação

• Depoimentos vão envolver cerca de 150 políticos, incluindo ministros

Jailton de Carvalho - O Globo

BRASÍLIA - Depois de seis meses de complicadas negociações, executivos da Odebrecht começaram a fechar ontem acordos de delação premiada com os procuradores responsáveis pela Operação Lava-Jato, informou ao GLOBO uma fonte ligada ao caso. As delações vão atingir a reputação de mais de 130 deputados, senadores e ministros, e de cerca de 20 governadores e ex-governadores.

Cerca de 50 funcionários da Odebrecht, entre eles o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht, começaram a negociar contratos de colaboração com procuradores da República em março deste ano. Mais de 25 selaram acordo para contar o que sabem em troca da redução de pena pelos crimes cometidos. Outros investigados ainda estão em negociação. Os procuradores já deixaram claro que só vão fazer acordos com aqueles que, de fato, apresentarem informações novas e relevantes.

Delator: ‘pressão horrorosa’ para doar a Dilma

• Otávio Azevedo se queixa de Giles Azevedo, assessor da ex-presidente, e menciona doação de R$ 1 milhão para Temer

Evandro Éboli, Vinicius Sassine e Juliana Castro - O Globo

BRASÍLIA E RIO - Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, afirmou em depoimento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que sofreu “uma pressão horrorosa” para repassar recursos para a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, na campanha em 2014. Ele disse que foi paga propina como doação oficial, e que foi procurado várias vezes por dirigentes do PT para fazer o repasse.

Azevedo confirmou que também fez doação para o então candidato a vice de Dilma, o atual presidente Michel Temer. A declaração foi dada quando o ministro Herman Benjamin, do TSE, indagou sobre as doações ao PMDB. Azevedo explicou que para o partido foram doados cerca de R$ 20 milhões, sendo que R$ 1 milhão foram para Temer.
— Nós doamos para o diretório nacional (do PMDB)... R$ 1 milhão para o vice-presidente, quer dizer, para que fosse para a campanha do vice-presidente — disse o executivo.

Pimentel confia no PMDB para se salvar

• Partido tem maior bancada da Assembleia Legislativa mineira, que dará palavra final sobre afastamento do governador petista, investigado na Operação Acrônimo

Leonardo Augusto - O Estado de S. Paulo

BELO HORIZONTE - Se no plano federal o PMDB contribuiu para o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em Minas Gerais a expectativa é de que a legenda ajude a salvar o governador Fernando Pimentel (PT). A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de que cabe à Assembleia Legislativa autorizar a abertura de ação penal contra Pimentel na Operação Acrônimo foi comemorada pelos petistas, que confiam na fidelidade da bancada do PMDB ao Palácio Tiradentes.

Os peemedebistas formam a maior bancada da Assembleia, com 13 parlamentares. O apoio do partido é amarrado em cargos oferecidos por Pimentel. Para evitar um processo no STJ, o governador precisa dos votos de 26 dos 77 deputados da Assembleia. A segunda maior bancada na Casa é do PT, com 9 deputados.

O PMDB comanda cinco secretarias no Estado. Saúde, com Sávio Souza Cruz, Agricultura e Pecuária, com João Cruz, Cultura, com Ângelo Oswaldo, Meio Ambiente, com Jairo Isaac – aliado do ex-governador Newton Cardoso –, e Cidades e Integração Regional, com Izabel Chiodi.

Inflação cai, e BC deve baixar juros

A inflação ficou em só 0,08% em setembro, a menor taxa para o mês desde 1998, o que reforçou a previsão de analistas de que o BC vai cortar este mês os juros, em 14,25% ao ano desde julho de 2015. A medida deverá ajudar no ajuste fiscal.

Alivio para cortar juros

• Inflação recua mais que o esperado, e analistas veem redução da Selic já este mês

Marcelo Corrêa - O Globo

RIO E WASHINGTON - A inflação recuou mais que o esperado em setembro, o que, segundo analistas, eleva as chances de que o Banco Central decida começar a cortar juros já este mês. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a alta de preços oficial no país, despencou para apenas 0,08% em setembro, a menor taxa para o mês desde 1998. Em agosto, havia ficado em 0,44%. Com isso, há quem espere um corte de até 0,5 ponto percentual na taxa básica Selic, estável em 14,25% ao ano desde julho de 2015.

O número divulgado ontem pelo IBGE veio muito abaixo do esperado por economistas do mercado financeiro. A mediana das projeções estava em 0,19%, segundo a Bloomberg. A surpresa veio principalmente do comportamento dos preços de alimentos, que caíram mais rápido do que o projetado por analistas. Depois de subir 0,3% em agosto — taxa que já mostrava desaceleração em relação ao mês anterior —, o grupo registrou deflação de 0,29%.

Temer vai esvaziar atuação do MST em reforma agrária

• Presidente prepara plano que interrompe distribuição de terra e transfere a prefeituras a função de identificar futuros assentados

Carla Araújo e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer prepara o lançamento de um programa de reforma agrária que vai interromper a distribuição de terras no País e esvaziar a atuação de movimentos sociais ligados ao PT na política fundiária. A proposta consiste em acelerar a emissão de títulos de domínio das propriedades e transferir às prefeituras a função de identificar assentados aptos a recebê-los.

A medida limita o poder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A organização seleciona as famílias a serem beneficiadas com lotes em novos assentamentos e também aponta aquelas que serão contempladas com o título de domínio. De posse do documento, assentados podem ter acesso a recursos do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) ou vender a propriedade.

Primeiro debate no 2º turno no Rio tem críticas sobre boatos de internet

• Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) trocaram farpas sobre campanha difamatória que contaminou a campanha nas redes sociais

Marcio Dolzan - O Estado de S. Paulo

RIO - No primeiro debate televisivo do segundo turno no Rio, os candidatos Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) evitaram os ataques e fizeram uma discussão mais propositiva. Em comum, eles criticaram aspectos da atual administração municipal, principalmente nas áreas de transporte público e legado olímpico.

O único momento de maior atrito aconteceu logo no primeiro bloco, mas ainda assim de maneira velada. Crivella e Freixo fizeram referências aos escândalos de corrupção na esfera federal para tentar minar a campanha um do outro.

Crivella e Freixo divergem sobre boatos na rede e papel do Estado

• Primeiro debate do 2º turno teve clima ameno e predomínio de propostas

- O Globo

Depois de um clima ameno nos debates do primeiro turno, os candidatos Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) tiveram o primeiro embate mais direto logo no início do debate da TV Band, realizado ontem. Na maior parte do tempo, o clima se manteve morno, quase amigável, com os adversários concentrados em propostas e trocando elogios. As diferenças de ponto de vista, no entanto, ficaram evidentes.

Num dos poucos confrontos, Freixo acusou aliados de Crivella de disseminarem boatos sobre ele na internet. O candidato do PRB respondeu afirmando que o adversário tem ao seu lado partidos envolvidos no “petrolão”, em referência ao escândalo de corrupção na Petrobras.

Na primeira oportunidade que teve de perguntar, Freixo afirmou que o segundo turno começou com uma “chuva de mentiras e calúnias” direcionadas a ele. O candidato do PSOL classificou a conduta de “crime”. Durante a semana, ele havia responsabilizado o pastor Silas Malafaia e a família Bolsonaro pela divulgação. Crivella rebateu:

— Você (Freixo) chama de aliados, mas tem ao seu lado partidos que protagonizaram grandes escândalos na política. O escândalo do petrolão é o maior da história. Você tem responsabilidade nisso? Obviamente que não. Você não pode colocar nas minhas costas tudo que ocorre na internet. A política é um dilúvio de ódios e paixões — afirmou Crivella, que buscou se diferenciar do adversário. — Tenho opiniões divergentes do Freixo, um Himalaia de divergências, mas preciso manter o respeito.

Crítica e crise: contribuição para um debate de conjuntura - Felipe Maia

A esta altura do campeonato a discussão sobre se houve “golpe” ou não ficou para as calendas. A eleição municipal do último domingo revelou a baixa adesão da população ao discurso construído pelo petismo, o grande derrotado no pleito. Se isso encerra um capítulo da novela, não se pode daí concluir que o governo atual esteja consolidado e legitimado, pois tampouco o presidente ou seu partido colecionaram vitórias, ao contrário, amargaram derrotas muito duras ao menos nos dois maiores colégios eleitorais do país. O caminho da legitimação popular será árduo e provavelmente só se encerrará com o novo pleito presidencial em 2018, o que aconselharia aos governantes atuais cautela e responsabilidade.

Mais árduo ainda parece ser o caminho dos partidos de esquerda no país. Afora circunstâncias locais auspiciosas, onde lideranças respeitadas e inteligentes conseguiram conduzir boas campanhas políticas, a desorientação grassa. Isto porque durante toda a longa crise que abateu o país e levou ao encerramento abrupto do malogrado governo Dilma a crítica foi obstruída, tratada como inconveniente ou traiçoeira. Houve até quem dissesse publicamente que já não tinha paciência para ouvir críticas e que importava apenas a defesa do governo moribundo. Como bem sabem os historiadores do Iluminismo, crítica e crise são conceitos gêmeos. Sua obstrução tem favorecido uma compreensão torta dos acontecimentos e das responsabilidades, que impede a renovação dos projetos políticos. Quando da revelação dos mal-feitos no governo petista, a imensa rede de tráfico de influências, fraudes em licitações públicas e caixa 2 em campanhas eleitorais, a reação do partido foi simplesmente culpar os outros, reação típica de quem sabe não poder contar com a aprovação do público para as escolhas e as atitudes tomadas no passado. A isso se soma um discurso que espalha o medo do que poderia acontecer em caso de derrota do partido, velho instrumento de controle para prevenir alternativas. Nesse modelo, só cabe a crítica aos “adversários”, vistos aqui já quase como “inimigos”, na eterna reprodução da lógica binária e maniqueísta que vinha protegendo a polarização política da emergência de novos atores, isto é, garantindo a intocada hegemonia petista no campo da “esquerda”. Apenas nessa lógica a crítica pode ser concebida como a serviço do inimigo e devidamente rechaçada sem que se discuta o mérito dos argumentos.

Uma visão crítica - Merval Pereira

- O Globo

Um balanço dos 28 anos da Constituição Cidadã. Thomas Jefferson, um dos “pais-fundadores” da nação norte-americana, disse certa vez que a Constituição pertence aos vivos, e não aos mortos. Isso significa que cada geração tem o direito de reavaliar as condições desse contrato social, de acordo com as necessidades e desafios de seu tempo.

É o que estamos fazendo há muito tempo, reformando a Constituição de 88, que completou esta semana 28 anos. Tarefa que exige “discernimento e desassombro”, segundo o constitucionalista Gustavo Binenbojm, professor titular da Faculdade de Direito da Uerj, a quem pedi balanço desse período sob a égide da Constituição Cidadã, que nasceu antes da queda do Muro de Berlim, como resposta aos anos de ditadura, e provavelmente por isso tem mais direitos que deveres, e muitas vezes torna ingovernável o país.

Matar ou morrer - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

Dizer, como têm dito alguns ministros e auxiliares do presidente Michel Temer, que o resultado da eleição municipal de domingo sepultou a tese do impeachment é forçar um pouco a barra. Até porque a tese do impeachment é política e será repetida por aí até que os partidos de oposição percebam que está superada, como já estava superada na eleição quando o PT tentou nacionalizar a campanha e deu com quase todos os seus burros n’água.

Agora, dizer que o resultado da eleição municipal deu uma força que nem o governo esperava à agenda ultraliberal do governo de Temer, não há dúvidas de que deu.

Não que a população tenha ido às urnas manifestar apoio incondicional ao projeto de governo do PMDB, divulgado em novembro do ano passado, baseado em privatizações e reformas do Estado, e que se chama “Uma ponte para o futuro”.

'Vox populi' - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Ainda que de forma um pouco cínica, a democracia pode ser descrita como o sistema que mantém no poder políticos cujas administrações se aproveitam de bons ventos econômicos e saca aqueles cujos governos se deparam com uma crise. É secundário se os dirigentes são de fato os responsáveis pela bonança ou pelo desastre. Nesse contexto, democracias guardam semelhança com um sorteio e funcionam mais por institucionalizar a disputa pelo poder, que deixa de ser violenta, do que por selecionar sempre bons líderes e propostas factíveis.

De valores e dogmas - Rosiska Darcy de Oliveira

- O Globo

• O eleitorado que não se reconhece nem em Freixo nem em Crivella terá que dialogar com eles. E vice-versa

Cidade sincrética vai escolher entre duas religiões. Nada mais estranho à cidade do Rio de Janeiro, irreverente e libertária, afeita ao sincretismo, do que ser chamada a escolher entre ícones de duas religiões. É a isso que estamos condenados, nós, os que não subscrevemos nem às igrejas do reino de Deus nem às do reino da terra?

Há um eleitorado órfão que ancora em uma terceira margem. Acreditamos nas liberdades individuais, no direito de cada um ser autor de sua biografia e, quando não acertamos, admitimos erros, não pecados. Acreditamos no direito das mulheres e dos homens sobre seu corpo. Somos a favor da descriminalização do aborto e acreditamos que a violência contra as mulheres — sobretudo o estupro, gravíssima violação de direitos humanos — são problemas incontornáveis de saúde e de segurança pública. São questões democráticas, assim como a odiosa discriminação e agressão contra gays, que há muito deveria ter sido proscrita em nossa cidade.

O grande teste de Temer – Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

O governo de Michel Temer protagonizou um pequeno vexame na sexta (7). Sua base de apoio liderada pelo inexpressivo André Moura (PSC-SE) fracassou na estratégia de reunir o mínimo de 51 deputados em plenário (10% da Câmara).

O fiasco deixou sob breve ameaça a aprovação em primeiro turno da PEC do teto do gasto público programada para o começo da semana.

A regra do Congresso exige o intervalo de duas sessões para que a medida seja votada em plenário depois de ter passado por uma comissão especial há dois dias.

Em tese, a proposta tratada como prioridade pelo Planalto só poderia ser apreciada a partir da tarde de terça-feira (11), véspera de feriado, ocasião típica de baixo quórum na Casa.

No grito - Adriana Fernandes

- O Estado de S. Paulo

• Atender a pleitos setoriais pode representar um retrocesso e abrir precedentes

Não há dúvidas de que a equipe econômica de Michel Temer quer desmontar todos os estímulos fiscais que marcaram a chamada Nova Matriz Macroeconômica, a política da ex-presidente Dilma Rousseff apontada como a principal responsável pelo desastre econômico que afundou o País na recessão desde 2014.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, prometeu, logo na sua primeira entrevista no cargo, uma estratégia de revisão das desonerações setoriais que contribuíram em boa parte para a forte queda da arrecadação e o rombo das contas do governo nos últimos anos.

Mas volta e meia há sempre forças políticas e empresariais que tentam o governo e pressionam pela retomada de medidas que sustentaram – não faz muito tempo – essa mesma matriz tão criticada hoje, inclusive por aqueles que se beneficiaram no passado dessas renúncias fiscais bilionárias. Política essa centrada na expansão fiscal (com estímulos), crédito com juros subsidiados e taxa de câmbio controlada.

Alívio e incerteza - Míriam Leitão

- O Globo

Inflação em 12 meses vai continuar caindo. A semana terminou com uma notícia boa na economia, a inflação em 0,08% em setembro, abaixo do que estava previsto, e isso aliviou o peso da péssima notícia da queda da produção industrial de agosto. As duas, cada uma a sua maneira, levam ao mesmo resultado de reforçar a tendência de queda das taxas de juros. Em outra área, os governadores querem ser incluídos na reforma da Previdência.

O esforço para estabilizar a economia passa por reduzir a inflação, retomar o crescimento e fazer as reformas. A queda da produção industrial de agosto em 3,8%, divulgada na terça-feira, foi o banho de água fria, a queda da inflação animou a sexta. A esperança do governo é que o tombo da indústria seja um ponto fora da curva, mas a desinflação continuará acontecendo.

PT sofreu derrota na urna, mas introduziu Zeitgeist que segue - Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

"Zeitgeist", palavra alemã que, ao contrário do que reza a lenda, Hegel nunca usou, significa o "espírito do tempo" —isto é, as ideias prevalecentes numa época e numa sociedade. Hoje, no Brasil, o zeitgeist pode ser desvendado a partir de três indicadores circunstanciais, entre tantos outros: a Bienal de Arte de São Paulo, o cancelamento da prova específica para ingresso na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP) e o movimento que contesta o ensino da norma culta da língua.

"Faltou arte, que é onde realmente nossas certezas são postas em xeque", diagnostica o crítico Rodrigo Naves, depois de um passeio pelas instalações da Bienal, para completar, certeiro: "ideologias são tigres de papel". Numa avaliação paralela, Ferreira Gullar contrasta a "arte de verdade" com a "arte efêmera" montada pelos artistas de uma exposição dedicada, segundo seu curador, a "questões contemporâneas" como a "ecologia", o "multiculturalismo", o "feminismo" e a "descolonização".

O não-voto é preocupante – Editorial / O Estado de S. Paulo

Os números são preocupantes. Cerca de 25 milhões de cidadãos brasileiros aptos a irem às urnas deixaram de votar nos candidatos a prefeito e vereador no primeiro turno das eleições municipais, seja por não terem comparecido às secções eleitorais, apesar da obrigatoriedade do voto – o que configura abstenção –, seja por terem votado em branco ou, principalmente, anulado o voto. Em São Paulo, por exemplo, a abstenção de 1,94 milhão dos 8,8 milhões de eleitores registrados, somada aos 367,5 mil votos em branco e 788 mil nulos, resultou em quase 3,1 milhões de não-votos, praticamente o mesmo número de sufrágios que elegeu João Doria.

Em cinco das capitais, onde de modo geral a ausência dos eleitores foi mais expressiva, a soma aos votos brancos e nulos ultrapassou os 21%. O índice mais alto foi registrado no Rio de Janeiro, 24,28%, seguido por Porto Alegre, 22,51%; São Paulo, 21,84%; Belo Horizonte, 21,66%; e Salvador, 21,25%. A capital paulista, porém, encabeça a lista dos não-votos em números absolutos.

Tratamento de choque para a crise fiscal fluminense – Editorial / O Globo

• O melhor a fazer, e não apenas o Palácio Guanabara, é planejar a adoção de medidas amargas de cortes, inclusive de pessoal, previstas na própria Constituição

A situação vivida pela Grécia, no auge da crise, com aposentados e servidores públicos sem receber, em filas na porta de banco e em caixas automáticas, já se repete no Brasil há algum tempo. Devido a razões diferentes — lá, fuga de recursos diante do risco de saída do país da zona do euro; aqui, a histórica crise fiscal deflagrada pelo lulopetismo —, Grécia e Brasil chegaram ao mesmo ponto: quebraram os respectivos Tesouros e jogaram as economias em funda recessão.

No Brasil, os sinais desta quebra são visíveis nos planos estadual e municipal. A União ainda tem o recurso, embora também suicida, de emitir títulos de dívida. Estados e municípios, não. O que se observa, nestes últimos meses, é a agonia de estados, como o Rio de Janeiro, na tentativa de evitar medidas amargas para equilibrar as finanças, enquanto esperam a efetiva renegociação das dívidas e, principalmente, a recuperação da economia. Esta depende de emendas constitucionais, de aprovação lenta e debate difícil. O tempo conspira contra a Federação.

Os vivos e os mortos - Graziela Melo

Tudo
fica
para trás!

Só nós
é que
nos vamos...

E para
nunca mais!!!

É a
viagem
sem retorno
não precisa
passaporte!

É o dia
mais triste
da vida,

o dia
da nossa
morte!

Há muito
se foi
Ulysses,
e o nosso
querido
Itamar!

Itamar
dormiu
no leito,
Ulysses
ficou
no mar!

Quando
vejo
o sol
se pondo,
reflito:

será
que vou
vê-lo
nascer?

Será
que vejo
outra noite
e um outro
amanhecer?

É assim:
os vivos
enterram
os mortos,

que morreram
depois
de enterrarem

outros mortos,

que,
quando vivos,

amaram e
brincaram
com
outros vivos,

que
agora,
já estão
mortos!

E assim
a vida
nos leva

por
caminhos
tristes,
por
caminhos
tortos,

para
bem longe
dos vivos

e,
já mortos,
para perto
de
outros mortos!!!

Elis Regina - Fascinação