sábado, 29 de agosto de 2015

Opinião do dia – Roberto Freire

Rejeitado pela esmagadora maioria do povo brasileiro e ainda mais isolado politicamente, o governo é hoje sustentado pelo setor que sempre se locupletou das benesses do poder. O sistema financeiro, que “nunca antes neste país” lucrou tanto, como costuma dizer o próprio Lula, e os representantes do grande capital são os principais apoiadores da continuidade de Dilma no cargo. Neste momento, em face do desmantelo que enreda o governo do PT, e aqui falo em nome também da Direção Nacional do PPS, o impeachment se apresenta como a alternativa mais democrática e constitucional para que o país resgate a governabilidade e retome o caminho do desenvolvimento.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS. ‘As vítimas da crise’. Brasília, 28 de agosto de 2015.

Recessão

• PIB cai mais e só ganha de Rússia e Ucrânia


• Consumo das famílias é o pior desde 2001



• Investimentos e construção civil desabam


Pelo segundo trimestre seguido, a economia brasileira encolheu e, com isso, o país entrou oficialmente em recessão. Entre abril e junho, o PIB caiu 1,9%, no pior resultado desde 2009, segundo o IBGE. O tamanho da queda foi maior do que o previsto por analistas, que, agora, já estimam que o país fechará 2015 com um tombo de até 3% no PIB. A maioria dos economistas já prevê recessão também em 2016 — desde os anos 1930, o país não tem dois anos seguidos de queda no PIB. Quase todos os setores da economia encolheram, à exceção do governo, que ampliou seus gastos em 0,7%, e das exportações, que avançaram 3,4% com a alta do dólar. A construção civil e os investimentos caíram mais de 8%. Enquanto políticos de oposição criticaram o resultado do PIB, a equipe econômica não comentou. A presidente Dilma disse, no Ceará, que o país vai superar a crise “sem nadinha de amargura ou de ódio”. Entre 35 países que já divulgaram seu PIB no segundo trimestre, o Brasil só não ficou atrás de Rússia, sob embargo, e Ucrânia, em guerra.

País mergulha na recessão

• PIB cai 1,9% no segundo trimestre e analistas já prevêem retração de até 3% este ano

Lucianne Carneiro, Marcello Corrêa, Cássia Almeida e Lucas Moretzsohn- O Globo

O país está em recessão. Os números da economia brasileira divulgados ontem pelo IBGE mostraram queda de 1,9% no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços) no segundo trimestre frente ao início do ano. Foi o segundo trimestre seguido de resultado negativo e pior desempenho da economia desde 2009, quando o mundo vivia a crise financeira global. Em qualquer comparação, tanto no acumulado do ano (-2,1%), quanto nos últimos 12 meses (-1,2%), como contra o segundo trimestre de 2014 (-2,6%), o sinal é de retração. E a situação ainda vai se agravar.

Uma reação deve vir somente entre o fim do ano e o segundo trimestre de 2016, afirmam os especialistas que já estão revendo para baixo as estimativas de desempenho da economia este ano para entre -2%e -3%. Se confirmado, será o pior resultado em 25 anos. Em 1990, quando o então presidente Fernando Collor de Mello confiscou o dinheiro da população, o PIB encolheu 4,3%. Aumentou também o número de consultorias e bancos que já esperam outra recessão em 2016, um cenário de dois anos seguidos de retração que o país não vê desde 1930.

As taxas negativas foram disseminadas: consumo das famílias, investimentos, agropecuária, indústria e serviços recuaram no segundo trimestre.

— É uma recessão nunca vista, em profundidade e em duração. Já são cinco trimestres de queda em relação a igual período do ano anterior. Na crise de 2009, tivemos três trimestres seguidos. Se tudo der certo, podemos reduzir as perdas em 2016, mas alguma melhora só ocorrerá em 2017 — diz o professor de Economia da FEA/USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Dólar alto evitou tombo maior
Se não fosse o setor externo, o tombo na atividade seria ainda maior. As exportações subiram 3,4%, enquanto as importações recuaram 8,8% frente ao primeiro trimestre. Dólar 60% mais caro em um ano e freio no consumo explicam esse resultado. Cálculo da LCA Consultores mostra que, sem a ajuda das exportações, o recuo do PIB teria sido de 3,3% e não de 1,9%. É o setor externo que deve puxar a recuperação da economia brasileira.

— A demanda externa já começou a ajudar, e a recuperação vai depender da sua evolução. Mas, para a maior parte da população, a sensação ainda será ruim até o segundo trimestre do ano que vem, quando a inflação começar a cair — afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.

Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, sem a ajuda externa, o PIB teria caído 5,1% e não os 2,6% registrados pelo IBGE.

E o que puxou mais a demanda doméstica para baixo foram os investimentos. A queda no segundo trimestre frente aos três primeiros meses do ano foi de 8,1%, após oito trimestres de resultados negativos. Entre 2014 e 2015, a taxa de investimento caiu de 19,5% do PIB para 17,8%. Marcelo de Ávila, gerente de Estudos Econômicos da Firjan, prevê novas quedas.

— Esperamos queda de 8% este ano e, em 2016, de 3,2%. Ou seja, não vemos, a curto e médio prazos, nenhuma reação do investimento.

PIB volta ao patamar de três anos atrás
Para Borges, o país está em recessão desde o segundo trimestre do ano passado. A economia encolheu tanto que o PIB hoje está do mesmo tamanho que há três anos.

— Existe realmente uma turbulência política e indicadores econômicos fracos que estão tendo impacto importante sobre praticamente todas as atividades, com efeitos maiores sobre algumas, como a construção civil — afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, que admitiu que a operação Lava-Jato teve efeito negativo do setor.

Segundo Fábio Silveira, da GO Associados, o país ainda não atingiu o fundo do poço. Ele espera queda de 1,7% na economia no terceiro trimestre. E piorou a projeção deste ano de - 2,7% para -3%:
— A economia só vai melhorar mesmo no fim de 2016.

Além das exportações, a inflação menor em 2016 deve melhorar o cenário, segundo Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados. Ela prevê queda de 0,2% no terceiro trimestre deste ano e estabilidade no quarto. Com isso, o PIB fecharia com retração de 2,5% em 2015 e de 0,5% em 2016:

— No segundo trimestre do ano que vem, o Banco Central vai começar a baixar os juros, mirando a inflação de 2017, que deve ser bem mais baixa. Isso também traz algum alívio.

Para Rodrigo Miyamoto, economista do Itaú Unibanco, a recuperação da economia ainda está distante. Ele prevê recuo de 0,4% no terceiro trimestre de 2015 frente ao segundo, e não descarta mais um resultado negativo nos últimos três meses do ano. Para o resultado do ano, a projeção do banco é de queda de 2,3%, estimativa que deve ser revisada para baixo nos próximos dias:

— O setor de serviços, bem resiliente, cai há dois trimestres seguidos. É um setor que nunca teve queda anual, o que se espera para esse ano.

Com experiência no segmento de serviços, Adna Cristina viu a recessão levar seu emprego de atendente de lanchonete:

—Enquanto não consigo outra vaga, estou fazendo pequenos trabalhos. Agora ajudo a cuidar da casa de uma família.

Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vê a situação como dramática, com o desemprego aumentando e o salário real caindo:

— Não consigo ver fatores que estimulem a economia a curto prazo.

• Colaborou Aline Macedo

Oposição vê no PIB ‘desastre econômico’, ministro Levy se cala

• Dilma diz que país vai superar crise ‘sem nadinha de amargura ou de ódio’

Cristiane Jungblut - O Globo

Enquanto líderes da oposição classificaram a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de “desastre econômico” e o cenário atual de “terra arrasada”, a equipe econômica silenciou. Procurado, o Palácio do Planalto informou que caberia ao Ministério da Fazenda se manifestar sobre o resultado. Mas, no Rio, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não quis fazer comentários. E, no Ceará, a presidente Dilma Rousseff disse apenas que o país iria superar a crise “sem nadinha de amargura ou de ódio”.

Para o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), a queda do PIB no segundo trimestre traduz o “desastre econômico” em curso no Brasil. “O país cresce menos que quase todos os países do mundo, tem uma das mais altas taxas de inflação entre as economias minimamente organizadas e pratica as maiores taxas de juros do planeta. Quem fingiu não saber da crise, hoje finge que governa”, disse ele, em nota.

‘Derrubou até agropecuária’
Para o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), os dados só confirmam o que os brasileiros já vinham sentindo na pele. Segundo ele, trata-se de um atestado de incompetência do governo Dilma.

“A recessão técnica é apenas a constatação de uma realidade que os brasileiros enfrentam há muito tempo, com redução em suas rendas e perda de seus empregos. E a única reação da presidente Dilma é dizer que não sabia da gravidade da crise e tentar arrancar cada vez mais dinheiro da sociedade. É um governo falido, que em vez de tirar o país da crise, a agrava cada vez mais com sua inoperância e incompetência. É como se o país fosse uma aeronave no meio de uma tempestade, sem rota definida e sem comandante. Os brasileiros não merecem isso”, afirmou Sampaio, também por meio de nota.

Para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), o resultado é preocupante, principalmente pela agropecuária, que demonstrava vigor mesmo com a crise econômica, mas já apresenta retração de 2,7% quando comparada ao trimestre anterior. “Dilma conseguiu derrubar até a agropecuária, conforme havíamos alertado. O cenário é de terra arrasada para esse e para o próximo ano. Indústria, investimentos, consumo das famílias, tudo ladeira abaixo. E adivinha o que subiu? O consumo do governo. Os avanços dos últimos anos na economia estão seriamente comprometidos e esse governo não tem condições nem capacidade de mudar esse cenário”, avaliou Caiado, também em um comunicado.

Já o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), demonstrou preocupação com a rapidez da desaceleração:

— Essa queda é preocupante. A economia freou rápido demais. É uma frenagem exagerada da economia. Uma desaceleração preocupante.

Em Caucaia, no Ceará, a presidente Dilma Rousseff entregou unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida. Na solenidade pediu “muito amor no coração” para o Brasil vencer as dificuldades.

“O Brasil, hoje, é um país democrático e um país que sabe superar suas dificuldades. Como todos os países do mundo, nós temos a garra de superar as nossas dificuldades. Mas tem uma característica especial: nós superamos isso com muita esperança e muito amor no coração, e com nadinha de amargura ou de ódio. Nós somos um país tolerante, que respeita os outros e que quer ver seus filhos e filhas sendo criados em um mundo de paz”, declarou a presidente.

Agenda cheia, boca fechada
O silêncio foi ainda mais contundente por parte do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Com agenda cheia no Rio, ele se encontrou com a cúpula da ABInbev no início da tarde e, em seguida, reuniu-se com o presidente da Casa da Moeda. Os encontros foram em seu gabinete no Centro do Rio, onde fica o Ministério da Fazenda. Levy chegou ao Rio por volta das 11h e deixou o ministério às 19h55m. E se recusou a falar com a imprensa.

Indústria sofre maior retração em 6 anos: 4,3%

• Segmento critica falta de confiança e cenário de juros e impostos em alta

Ana Paula Machado - O Globo

A indústria foi o setor com a maior queda no PIB. A retração de 4,3% no segundo trimestre é a pior desde o primeiro trimestre de 2009, quando encolheu 5,9%. E, agora, pelo quinto trimestre consecutivo, a indústria tem perda na comparação anual. A retração de 5,2% é a maior desde o terceiro trimestre de 2009, quando caiu 5,8%.

A desaceleração do setor se refletiu principalmente no investimento em ampliação de capacidade e compra de bens de capital. Segundo o IBGE, o investimento medido pela formação bruta de capital fixo (compra de máquinas, equipamentos e investimentos em construção civil) caiu 8,1% frente ao primeiro trimestre. É a maior queda desde o primeiro trimestre de 2009, quando o indicador despencou 10,1%, refletindo a crise global. Frente ao mesmo período de 2014, houve recuo de 11,9%, o pior resultado desde a queda de 12,7% registrada no primeiro trimestre de 1996.

— Não vejo luz no fim do túnel. A minha empresa tem 32 anos. Já passei por vários planos econômicos, mas uma crise como essa nunca vi. Esse governo não passa segurança para nenhum investidor — disse o dono da RTS Indústria e Comércio de Válvulas, Pedro Lúcio.

A fábrica de Lúcio é fornecedora de válvulas para a indústria de óleo e gás, o setor sucroalcooleiro, saneamento e empresas de mineração e siderurgia. Segundo ele, o faturamento em 2014 foi de R$ 30 milhões. Este ano, com a queda nas encomendas, a receita líquida não deve ultrapassar R$ 20 milhões. Dos 220 funcionários empregados no ano passado, restam 110.

Para o presidente executivo da Abimaq, José Veloso, os investimentos no setor não devem se recuperar a curto prazo:

— O segmento de máquinas é o termômetro da economia. O empresário não vai investir no aumento da capacidade nesse ambiente de aumento da carga tributária e dos juros. O ministro (Joaquim) Levy transferiu a riqueza do setor industrial para o setor financeiro. Ele não sabe lidar com a produção.

Skaf: ‘Levy erra’
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, tem avaliação parecida. E diz que o aporte de maior relevância no setor químico foi há dois anos:

— Os investimentos realizados pelas empresas químicas são de manutenção. A questão não é somente de confiança. Nesse caso, os aportes no aumento de capacidade serão feitos se a indústria tiver garantia de fornecimento de matéria-prima e energia.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ressaltou que a queda no PIB deverá ser entre 2,5% a 3%. Em nota, Skaf afirmou que Levy “erra na condução da política econômica ao aumentar impostos, elevar os juros e restringir o crédito, o que só piora a recessão e o desemprego”.

Para Marcelo de Ávila, gerente de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o nível de confiança na indústria está em baixa histórica, inferior inclusive à crise de 2008:

— Nossa expectativa para o PIB de 2015 é de queda de 2,2%. Para a indústria como um todo, de 3,4%.

• Colaborou Lucas Moretzsohn

Rombo de R$ 10 bi leva contas públicas ao pior julho desde 2001

• Com PIB fraco, União, estados, municípios e estatais gastam mais do que arrecadam

Gabriela Valente - O Globo

As contas do setor público tiveram um rombo de R$ 10 bilhões em julho, o pior desempenho para o mês desde que os dados começaram a ser registrados, em 2001. Segundo o Banco Central (BC), além da União, estados, municípios e empresas estatais também tiveram déficit — ou seja, gastaram mais do que arrecadaram e não conseguiram poupar para o pagamento dos juros da dívida.

— Éo resultado de uma economia fraca e em recessão. Todos viram o resultado do PIB (Produto Interno Bruto). Uma economia com o desempenho menor se traduz em menor desempenho fiscal — frisou o chefe-adjunto do departamento econômico do BC, Fernando Rocha.

Somente no mês passado, as despesas com juros chegaram a R$ 62,8 bilhões. É o maior gasto já registrado em meses de julho.

— O resultado está impactado pelos gastos com swap cambial. Em julho, o gasto chegou a R$ 23,9 bilhões — disse Rocha.

As despesas com os chamados contratos de swap cambial — instrumentos de intervenção que funcionam como venda de moeda americana no mercado futuro — aumentaram desde que o BC retomou a política de irrigação do mercado, apelidada de “ração diária”. Desde 2002, o BC tem colocado contratos desse tipo no mercado para oferecer hedge, ou seja, proteção para a oscilação da moeda americana.

Juros já chegam a R$ 288,6 bilhões
De janeiro a julho, o peso dos juros foi muito maior: R$ 288,6 bilhões. Além de ser um recorde, o montante está próximo do que deveria ser pago em todo o ano passado: R$ 311,5 bilhões. Como em 2014, o setor público não tem a menor condição de arcar com essa fatura agora. E o endividamento vai aumentar.

Nos sete primeiros meses do ano, as contas públicas tiveram superávit primário de R$ 6,2 bilhões, bem abaixo da meta do ano, que é economizar 0,15% do PIB. Nos últimos 12 meses, o déficit primário chega a R$ 51 bilhões.

O chamado déficit nominal (que inclui a conta de juros) chegou a R$ 505,8 bilhões. Isso representa nada menos que 8,81% do PIB: nunca o país teve um rombo desse tamanho, de acordo com o BC.

A relação entre a dívida e o PIB caiu de 34,6% para 34,2% em julho por causa da valorização do dólar. Quando a moeda americana fica mais cara, as reservas crescem. Em compensação, a dívida bruta deu um salto de 63,2% do PIB para 64,6% do PIB. São nada menos que R$ 3,68 trilhões em endividamento.

Para Alex Agostini, economista- chefe da Austin Rating, todo o mercado e as agências de classificação de risco já esperavam um resultado ruim. Ele lembra que a equipe econômica deve ter até o segundo trimestre de 2016 para uma reclassificação geral da nota de risco das grandes agências internacionais. Enquanto isso, além de cortar gastos, Agostini acredita que o governo terá de aumentar tributos para fechar as contas:

— Não adianta falar de CPMF porque ela não vai existir. Não vai passar no Congresso. Tem uma ala do PT que não quer que isso aconteça. Daí, a Fazenda vai ter de aumentar outros tipos de impostos e torcer para a economia melhorar no ano que vem.

PIB mergulha e recessão se alonga

• Queda de investimentos e do consumo liderou recuo de 1,9% da economia no segundo trimestre

Investimento despenca e sinaliza mais longa retração desde o Real

• PIB encolhe 1,9% no 2º tri, na comparação com o 1º, que já havia sofrido um recuo de 0,7%

• Por dois anos seguidos, caem recursos destinados a ampliar capacidade produtiva do país, o que prolonga crise

Gustavo Patu, Bruno Villas Bôas – Folha de S. Paulo

RIO - Evidente desde o início do ano, a recessão do Brasil foi confirmada e medida em números oficiais. Ainda não visível é a saída da crise.

Dados divulgados nesta sexta-feira (28) apontam um declínio recorde dos investimentos, que prenunciam a retração econômica mais prolongada desde o lançamento do Plano Real, em 1994.

Medida da produção e da renda do país, o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 1,9% no segundo trimestre do ano, na comparação com o primeiro –que já havia sofrido um recuo de 0,7%, segundo as novas estimativas.

Dois trimestres consecutivos de queda são um sintoma tradicionalmente aceito de recessão. Mas esses números não contam toda a história: para a Fundação Getulio Vargas, a recessão já completou cinco trimestres.

Afinal, a produção da indústria, da agropecuária e dos serviços segue em patamar inferior ao do início de 2014, assim como vendas no comércio e obras de infraestrutura. O tombo recém-divulgado pelo IBGE é o mais doloroso do período.

Motor da economia ao longo da administração petista, o consumo das famílias teve queda de 2,1%, a maior desde a recessão de 2001, quando o país passava por um racionamento de energia elétrica, e o mundo, pelos atentados do 11 de Setembro.

Há piora entre os diferentes setores e transações da economia, mas não é difícil identificar sua origem: a queda dos investimentos por um período ininterrupto de dois anos, inédito nas estatísticas iniciadas na década de 1990.

No período, despencou de 20,7% para 17,8% a parcela do PIB destinada a essas despesas, cujo objetivo é ampliar a capacidade produtiva.

Trata-se do sinal mais eloquente do pessimismo dos empreendedores quanto ao futuro da inflação, dos juros e do cenário político.

É também o que deixa mais longínqua a recuperação. Nos tempos do real, o PIB nunca caiu mais de dois trimestres consecutivos; agora, uma nova queda no terceiro trimestre ano é consensual.

Temer nega apoio a Dilma na CPMF

• Vice avisa presidente que será difícil aprovar proposta de recriação de imposto

Temer diz a Dilma que não pode fazer nada por CPMF

• Vice avisa presidente que será difícil aprovar proposta de recriação de imposto

• Dilma pediu ajuda a peemedebista, que ficou contrariado ao saber da iniciativa com atraso pelos jornais

Marina Dias, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer disse à presidente Dilma Rousseff que haverá muita resistência no Congresso à sua proposta de recriação da CPMF e que não poderá fazer nada para levar a ideia adiante se ela insistir no assunto.

Comunicada de que contrariara o vice ao deixá-lo de fora das tratativas sobre a recriação do imposto, a presidente telefonou a Temer na tarde de quinta (27) e pediu ajuda para defender a volta do tributo.

O vice, porém, criticou a proposta e previu dificuldades para obter a aprovação da iniciativa no Congresso.

Segundo a Folha apurou, a conversa foi dura e descrita por aliados de Dilma e Temer como o primeiro embate direto entre eles. Até agora, os dois mantinham uma relação distante, mas cordial.

A assessoria do vice-presidente negou que Temer não vá colaborar com o governo e disse que ele fez sugestões a Dilma para tentar diminuir as resistências à volta da CPMF. Em nenhum momento, segundo a assessoria, houve embate ou discussão entre os dois.

O debate sobre a recriação do imposto sobre transações financeiras, extinto em 2007 e agora visto pela equipe econômica como essencial para equilibrar as contas públicas, pegou Temer de surpresa.

Em viagem a São Paulo, o vice disse na manhã de quinta que havia só "um burburinho" sobre o assunto, sem saber que Dilma estava reunida no Palácio da Alvorada com a equipe econômica e o ministro da Saúde, Arthur Chioro, para discutir o imposto.

Temer ficou irritado porque soube da notícia pelos jornais. Depois que o assunto veio a público, Dilma pediu que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, telefonasse a Temer para tentar contornar a situação.

O peemedebista disse então ao ministro o que repetiria horas depois à própria Dilma. Segundo ele, a proposta não será aprovada no Congresso e vai apenas gerar mais desgaste para o governo.

Levy reagiu dizendo que terá apoio dos governadores, que recentemente prometeram ajudar a barrar projetos que aumentam os gastos públicos, como o que reajusta os salários do Poder Judiciário e foi vetado por Dilma.

Mas o vice insistiu dizendo que deputados e senadores votarão contra. Temer falou também com o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), que apontou a "inviabilidade" do imposto.

União
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aproveitou para ironizar a proposta nesta sexta: "Acho que o governo pode unir o PMDB novamente com a nova CPMF. Todos contra: eu, Michel Temer e [o presidente do Senado], Renan Calheiros [AL]".

Não foi a primeira vez que a presidente manteve o vice longe de um assunto importante do governo. Quando Dilma sugeriu a convocação de uma Constituinte para discutir a reforma política após os protestos de junho de 2013, Temer foi o último a saber.

Na época, a ideia foi levada pelo Planalto ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) antes mesmo que Temer fosse consultado.

O vice também ficou fora da discussão sobre a proposta orçamentária de 2016, da decisão de cortar dez dos 39 ministérios e do jantar que a presidente ofereceu a empresários no início desta semana, no Palácio da Alvorada.

A reação dos peemedebistas assustou o governo, que, diante das críticas recebidas do principal aliado e de políticos e empresários que se opõem ao imposto, precisam definir até esta segunda (31) se e como a proposta será apresentada ao Congresso.

Nem governadores apoiam

• Proposta da União de repassar só 10% da receita com CPMF a estados e municípios provoca reações

Martha Beck, Simone Iglesias, Maria lima e Cristiane Jungblut - O Globo

O modelo de recriação da CPMF em estudo pelo governo desagrada até a governadores, que receberiam parte do tributo. A proposta prevê que mais de 90% da arrecadação sejam destinados à União, e só 10% a estados e municípios. A proposta de recriação da CPMF, que está em estudo no governo e deve ser enviada ao Congresso no início da próxima semana, prevê que mais de 90% da arrecadação do novo tributo fiquem nas mãos da União. Segundo técnicos da equipe econômica, o projeto deve fixar a alíquota em 0,38% de cada movimentação financeira. Deste total, 0,35 ponto percentual iria para o governo federal, e apenas 0,02 para estados e 0,01 para municípios. Os governadores já começam a reagir à recriação da contribuição e ao percentual considerado “irrisório” que a presidente Dilma Rousseff quer destinar a estados e municípios.

As projeções do governo indicam que a arrecadação anual do tributo chegará a, pelo menos, R$ 80 bilhões. Isso significa que, deste total, R$ 73 bilhões ficariam com a União; R$ 4,2 bilhões, com os estados; e R$ 2,1 bilhões, com os municípios. Os técnicos, no entanto, ressaltam que a contribuição será destinada à Saúde, e, por isso, uma parte da fatia do governo federal também acabará indo para os governadores e prefeitos, por causa de programas partilhados pela União com os demais entes.

Um dos principais aliados de Dilma, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), não concorda com a proposta de repartição da CPMF. Dino apoia a recriação da contribuição, mas dentro de um conjunto de ações, como criação do imposto sobre grandes fortunas.

— Primeiro, acho que a alíquota não pode ser de 0,38%. Depois, que a distribuição deve levar em conta que a maioria dos serviços é municipal ou estadual: atenção básica, UPAs, urgência e emergência, alta complexidade, por exemplo — reclamou Dino.

Os governadores do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg ( PSB), e do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), apoiam a recriação da CPMF, mas desde que o governo federal proponha uma divisão mais justa. Ambos consideraram 0,02 ponto percentual para os estados muito pouco. Sartori, que deu calote no pagamento da dívida com a União e vem atrasando o pagamento dos salários dos servidores públicos, afirmou por meio de sua assessoria que é fundamental que haja maior participação dos estados e dos municípios nos 0,38%.

No congresso, repercussão ruim
Rollemberg, que também enfrenta dificuldades para pagar o funcionalismo, defendeu que a contribuição seja recriada, mas que os recursos sejam destinados exclusivamente para a Saúde. Disse que o 0,02 ponto não pode ser considerado uma divisão do bolo.

Governadores de oposição, como Pedro Taques (MT), e até alguns governistas, como Raimundo Colombo (PSD), dizem ser contra a mudança.

— No momento de grave crise econômica, não é a hora de criar mais impostos. E o percentual que o governo quer destinar aos estados e municípios não resolve os problemas — disse Taques.

A discussão desarticulada feita pelo governo deve atrapalhar a votação de medidas pós-ajuste, de interesse da área econômica. Causou mal-estar no Congresso a forma como o governo agiu sem se articular com os líderes na Câmara e no Senado. Aliados avisaram ao Palácio do Planalto que a “falta de sensibilidade” do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, atrasará a aprovação do projeto da repatriação de recursos que estão no exterior. O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), apresentou um texto inteiramente novo, mas o assunto foi atropelado pelo debate da CPMF. Aliados dizem que agora “não há clima” para votar o projeto semana que vem. Delcídio não escondeu o incômodo com a volta da CPMF.

— As chances de aprovação no Senado são remotas. Em 2007, havia muito mais condições, os governadores eram a favor, mas ela foi derrubada — disse.

Só depois de a ideia de criação do novo imposto ter se tornado pública, na quinta-feira à noite, Dilma ligou para o vice Michel Temer para conversar sobre o tema. Incomodado por não ter sido consultado, Temer deixou claro que não tem condições de trabalhar no Congresso nos termos em que a proposta foi apresentada. Disse estar “impossibilitado”, devido às suas convicções pessoais sobre o tema.

Temer fez uma avaliação de que a ideia teria grande resistência no Congresso e também no setor produtivo. Dilma, então, pediu que Temer conversasse com Levy. Apesar do cenário delicado, o ex-ministro Delfim Netto afirmou ontem que já há um arranjo político para a aprovação da volta da CPMF:

— Vai ter uma pressão enorme para a aprovação da CPMF. Vamos ter aumento de imposto, seja por inflação ou um aumento de imposto de fato. Para mim, o melhor é dizer o que será feito com esses recursos. (Colaboraram Isabel Braga, Júnia Gama e Ana Paula Ribeiro)

Discurso de Dilma já foi outro

Presidente se declarou, em maio de 2014, contra mais tributos

Mayara Mendes e Bruno Góes - O Globo

Antes de o governo propor o retorno da cobrança da CPMF, a presidente Dilma Rousseff se posicionou, em várias oportunidades, de forma contrária ao aumento de impostos.

Em 2014, durante o ano eleitoral, ela prometeu fazer uma reforma fiscal e não elevar a carga tributária. Numa entrevista de maio daquele ano, Dilma foi categórica: “Não vai ter aumento de imposto”. As opiniões públicas expressadas pela petista agora contrastam com a iniciativa do Planalto de desenterrar a CPMF, extinta em 2007 após decisão da maioria no Senado.

Em 2011, Dilma disse, inclusive, ser contra a cobrança específica do imposto do cheque. Naquele ano, afirmou que a CPMF era “um engodo”. Agora, a tributação é vista pelos ministros Arthur Chioro (Saúde) e Nelson Barbosa (Planejamento) como uma solução para o governo fazer caixa e superar o déficit público.

Em setembro do ano passado, em debate presidencial promovido pelo portal UOL, Dilma destacou que o “cobertor é curto”. Segundo ela, há uma contradição quando se quer aumentar tarifas e impostos e, “ao mesmo tempo, defender políticas sociais”.

Em junho deste ano, respaldado por Dilma, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chegou a descartar publicamente a volta da CPMF. Segundo ele, não havia “perspectiva” para o retorno da cobrança.

Na ocasião, Levy se posicionou para rebater a fala de Arthur Chioro no 5º Congresso do PT, em Salvador. O ministro disse aos petistas que vinha negociado com governadores a criação de um novo tributo.

Não vai ter aumento de imposto. Passamos três anos reduzindo impostos
Dilma em 07/05/2014 Desautorizando o ministro Guido Mantega, que falara em aumento de impostos

Eu sou contra a CPMF. (…) Acho que a CPMF foi um engodo nesse sentido de usar o dinheiro da Saúde, não para a Saúde
Dilma em 11/09/2011
Em entrevista ao “Fantástico

PIB 'traduz o desastre econômico em curso no Brasil', diz Aécio

• 'Quem fingiu não saber da crise, hoje finge que governa', afirmou o presidente do PSDB

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou nesta sexta-feira, 28, que o resultado do PIB "traduz o desastre econômico em curso no Brasil". Segundo dados do IBGE, o PIB registrou uma queda de 1,9% no segundo trimestre em relação ao anterior. "O País cresce menos que quase todos os países do mundo, tem uma das mais altas taxas de inflação entre as economias minimamente organizadas e pratica as maiores taxas de juros do planeta", disse, em nota.

Aécio disse que os especialistas são unânimes ao dizer que o quadro recessivo permanecerá pelo menos por dois anos consecutivos - algo que não ocorre no País há mais de 80 anos. "Quem fingiu não saber da crise, hoje finge que governa".

Segundo o tucano, as estatísticas representam o cotidiano de dificuldades que os brasileiros enfrentam em seu dia a dia, como a alta dos preços e do desemprego em ascensão, queda na renda, aumento do endividamento recorde e do número de pedidos de falência das empresas.
"Ao mesmo tempo, com o arrocho recessivo, o governo dificulta o acesso a benefícios sociais no momento em que os cidadãos mais precisam, especialmente os mais pobres, os que menos têm", disse.

Para o presidente do PSDB, o pior ainda está por vir, "lamentavelmente". "O olhar equivocado da presidente, apontando uma ''travessia'', infelizmente, não enxerga e reconhece o deserto de oportunidades, de perspectivas e de esperança".

Governo vê resultado 'desastroso' no PIB e equação difícil para Dilma

• Na avaliação de um interlocutor da presidente, a combinação de popularidade no 'volume morto' e recessão com queda acentuada do PIB torna mais difícil a 'equação' para o governo

Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O recuo de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre ante os três primeiros meses do ano, no pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009, foi considerado um "desastre" por interlocutores da presidente Dilma Rousseff ouvidos pelo Broadcast Político, serviço de informações em tempo real da Agência Estado.

"Ninguém quer uma queda de 1,9%. A gente quer é +1,9%", lamentou um auxiliar direto da presidente, que pediu para não ser identificado.

O resultado divulgado nesta manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas de 42 instituições consultados pela Agência Estado, que esperavam desde uma queda de 2,20% até recuo de 1,30%, com mediana negativa de 1,70%.

Na avaliação de um interlocutor da presidente, a combinação de popularidade no "volume morto" e recessão com queda acentuada do PIB torna mais difícil a "equação" para o governo, que se vê confrontado com ameaça de impeachment, "caos político" na relação com o Congresso Nacional e o desgaste com a adoção de uma série de medidas impopulares.

"Não é um ano perdido", minimizou um outro interlocutor, alegando que, apesar das dificuldades, o governo conseguiu fazer os ajustes na economia, como a aprovação do projeto de lei que revê a política de desoneração da folha de pagamento e as alterações nas regras de concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários. "O estrago poderia ter sido bem maior se não houvesse o ajuste", opinou.

Em entrevista a emissoras de rádio nesta semana, Dilma reconheceu que "vivemos um momento de dificuldade, em que temos de fazer ajustes na economia para voltar a crescer e é razoável que as pessoas se sintam inseguras e preocupadas com o futuro".

"Eu espero uma situação melhor. Não tenho como te garantir que a situação em 2016 vai ser maravilhosa. Não vai ser, muito provavelmente não será. Agora, também não será a dificuldade imensa que muitos pintam. Nós vamos continuar tendo dificuldades, até porque não sabemos a repercussão de tudo que está acontecendo na economia internacional", comentou.

Diante desse quadro de deterioração dos indicadores econômicos e aprofundamento da crise política, a presidente ainda avalia a possibilidade de fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão por ocasião do Sete de Setembro, como houve em 2011, 2012 e 2013.
Segundo a reportagem apurou, o mais provável é que a presidente se manifeste por meio das redes sociais, como fez no Dia do Trabalho, evitando novos episódios de "panelaços".

Recuperação da economia está muito mais lenta do que em outras crises, diz Samuel Pessoa

• Para pesquisador do Ibre, política microeconômica adotada foi desastrosa, ao optar por um aumento da presença do estado

Fernanda Guimarães e Francisco Carlos de Assis - O Estado de S. Paulo

CAMPOS DE JORDÃO - O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), Samuel Pessoa, disse que enxerga que a recuperação da economia brasileira se mostra, neste momento, muito mais lenta do que em outras crises vividas no passado, já que agora a crise vai além da macroeconomia e afeta a microeconomia, após uma política adotada que foi "desastrosa". "Além do macro, temos que arrumar o micro e por isso vejo uma recuperação mais lenta", disse. Nesta sexta-feira, foi divulgado o Produto Interno Bruto (PIB) do País no segundo trimestre, que confirmou o quadro recessivo: a economia se contraiu 1,9%.

Segundo Pessoa, o governo adotou uma política voltada às empresas, após a crise de 2009, que acabou, ao fim, fragilizando as empresas, que hoje estão endividadas e são pouco produtivas. A desaceleração maior do Brasil em relação a outros países, muito influenciada pela desorganização da oferta que ocorre por aqui, deve-se a um "desastre na política microeconômica", principalmente após a crise de 2009 e com um aumento da presença do estado interventor. Segundo ele, houve escolha de alguns setores para que eles pudessem crescer .

"Ao fazer isso, com política de desoneração, de microeconomia de péssima qualidade, reduzimos o crescimento da produtividade", afirmou, lembrando que as empresas passaram a ter dificuldade em gerar caixa e acabaram se endividamento. Parte desse aumento do endividamento ocorreu por que o setor público acabou emprestando de forma subsidiada. "Os empresários não se endividaram apenas baseados em decisões privadas", disse.

• 'Além do macro, temos que arrumar o micro e por isso vejo uma recuperação mais lenta' - Samuel Pessoa - pesquisador do Ibre

Pessoa disse ainda que um dos problemas do Brasil foi a "qualidade da desaceleração da economia no Brasil", que segundo ele foi "desastrosa".

O pesquisador avalia que houve uma desorganização da capacidade da oferta no Brasil, o que explica a queda da capacidade produtiva. "Essa é a característica maior da nossa desaceleração até a passagem do terceiro para o quarto trimestre do ano passado, depois disso a queda passa a ser queda de demanda", disse. Segundo ele, essa queda da demanda é necessária no sentido de colocar a inflação dentro da meta.

Juros. Em relação às taxas de juros, Pessoa disse que seria um erro reduzir os juros "na marra". "Tentamos isso nos últimos quatro anos e isso deu resultados desastrosos", disse, no 7º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais, organizado pela BM&FBovespa.

Pessoa disse que o Brasil tem pela frente um problema fiscal "extremamente sério" e que o CDS (Credit Default Swap, na sigla em inglês), que mede o risco do País, está apenas "contando esse problema".

Presidente é pressionada a desistir de novo imposto

• Área econômica, porém, trabalha para apresentar CPMF na segunda

• Para dirimir críticas, governo estuda apresentar o imposto com aplicação restrita aos próximos dois anos

Valdo Cruz, Marina Dias e Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Além de aliados como o vice-presidente Michel Temer (PMDB), políticos e empresários, a presidente Dilma Rousseff está sendo pressionada também por assessores diretos a desistir de propor a volta da CPMF, o imposto do cheque, mas a equipe econômica já trabalha com o cronograma de apresentar a medida ao Congresso na próxima segunda-feira (31).

O argumento da área econômica é que a recriação do tributo é o melhor caminho para o governo fechar o Orçamento de 2016 e tapar um buraco de R$ 80 bilhões.

Por enquanto, assessores da Fazenda e do Planejamento dizem que têm autorização da presidente para fechar os detalhes da Proposta de Emenda Constitucional recriando o tributo, extinto em 2007. A presidente marcou para domingo (30) uma reunião para fechar a proposta orçamentária de 2016.

Entre as medidas em estudo pelo governo está a de apresentar uma proposta temporária para a CPMF. Segundo a Folha apurou, o ex-ministro Delfim Netto sugeriu a Temer que o tributo fosse aplicado por apenas um ano para diminuir resistências no Congresso e ''salvar'' o Orçamento de 2016. No Planalto, assessores de Dilma afirmaram que a presidente estuda aplicar o imposto por dois anos.

No domingo, Dilma deve definir também como seria a divisão da receita de uma nova CPMF, que seria recriada com alíquota próxima à anterior, de 0,38%. Um dos cenários para a divisão prevê que a União fique com 0,35%, o que daria cerca de R$ 70 bilhões, os Estados com 0,02% (R$ 4 bilhões) e os municípios com 0,01% (R$ 2,5 bilhões).

Estratégia
A estratégia do governo, por enquanto, é encaminhar a PEC ao Congresso. Caso ela não prospere, o Planalto espera que a base aliada apresente, então, alternativas para cobrir o rombo de R$ 80 bilhões no Orçamento de 2016.

Os defensores da proposta dizem que as alternativas à volta do tributo são piores: "parar o governo" totalmente, o que demandaria inclusive aprovação de lei para isto, ou desistir de ter superávit primário no ano que vem, levando à perda do grau de investimento do país.

A decisão foi tomada, segundo a área econômica, porque a queda da receita federal vai continuar em 2016 e, por isto, a projeção é de um rombo de R$ 80 bilhões no Orçamento da União do próximo ano, mesmo com medidas de contenção de despesas já definidas pelo governo.

Novo imposto divide opiniões de governadores

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Não há consenso sobre o apoio à proposta de recriação da CPMF nem mesmo entre governadores de partidos que integram a base aliada de Dilma Rousseff.

Repórteres da Folha ouviram chefes de 17 Estados e, mesmo entre os que dizem apoiar a medida, há divergências sobre a divisão e a destinação do imposto.

Governador do Estado mais populoso do país, o paulista Geraldo Alckmin (PSDB) deixou claro a aliados de Dilma que é contra o aumento da carga tributária. Ele foi abordado pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), favorável à nova CPMF e que diz que, sem isso, "as contas não vão fechar". Fernando Pimentel (PT-MG) e Paulo Hartung (PMDB-ES) não têm posição fechada.

Convocados por Dilma nesta sexta (28), os governadores do Nordeste também não têm posição única. Cinco –Camilo Santana (PT-CE), Rui Costa (PT-BA), Ricardo Coutinho (PSB-PB), Robinson Faria (PSD-RN) e Flávio Dino (PC do B-MA)– são favoráveis, mas fazem ressalvas ao formato. Paulo Câmara (PSB-PE) e Wellington Dias (PT-PI) são contra.

Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) é a favor, desde que o imposto seja destinado só à saúde e dividido com Estados e municípios.

Para Pedro Taques (PSDB-MT) "o momento não é de elevar tributos". O mesmo foi dito por Raimundo Colombo (PSD-SC).


Temer se recusa a negociar CPMF no Congresso e sugere articulação pessoal de Dilma

• Aborrecido por não ter sido avisado sobre o plano, Temer não escondeu a contrariedade quando recebeu um telefonema da presidente, na tarde de quinta-feira, 27, pedindo ajuda na articulação política para aprovar a volta do imposto

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A proposta do governo de recriar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) colocou em lados opostos a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer, menos de uma semana após ele ter deixado a função de articulador político do governo.

Na contramão do rumo tomado pela gestão Dilma, Temer também prometeu a empresários, em jantar anteontem à noite em São Paulo, defender no Planalto as mudanças que o setor julga necessárias na política econômica. Esses dois movimentos afastam ainda mais o vice, um dos principais líderes do PMDB, da presidente.

Aborrecido por não ter sido avisado sobre o plano, Temer não escondeu a contrariedade quando recebeu um telefonema da presidente, na tarde de quinta-feira, pedindo ajuda na articulação política para aprovar a volta do tributo do cheque no Congresso.

“Não é momento de propor aumento de imposto, com a economia em recessão. Essa proposta não passa nem na Câmara nem no Senado”, disse Temer, segundo relato da conversa obtido pelo Estado. O vice se negou a colaborar com a nova missão. “Se querem levar isso adiante, saibam que o governo tem tudo para perder”, disse ele.

Dilma não gostou do que ouviu, mas afirmou a Temer que a recriação da CPMF tinha respaldo de governadores e era importante para tirar as contas públicas do quadro deficitário, previsto para 2016. Temer ponderou, então, que os governadores podem até dizer que apoiam, mas, na hora H, não mobilizam as bancadas de seus partidos no Congresso.

Diante da insistência da presidente, que se manteve irredutível, o vice sugeriu a Dilma que ela fizesse “pessoalmente” os contatos para aprovar a proposta. No início da semana, Temer comunicou à presidente que estava se afastando do “varejo” da articulação política e das negociações de cargos e emendas.

No Palácio do Planalto, um auxiliar de Dilma disse que a conversa entre os dois foi marcada pela rispidez, mas Temer negou. “Foi feito um diagnóstico realista da situação”, afirmou o vice a amigos.

Temer ficou contrariado por não ter sido informado da intenção do governo de incluir a CPMF na proposta orçamentária de 2016. O telefonema de Dilma ocorreu por volta de 16h30, depois que a notícia já repercutia na imprensa. O vice estava em São Paulo para o jantar na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na ocasião, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, chegou a pedir a demissão do titular da Fazenda, Joaquim Levy, definido por ele como “ministro do desemprego”. O vice não defendeu nem criticou Levy.

Em conversas reservadas, Temer disse que, embora o momento seja totalmente inoportuno, seria muito mais fácil para o governo aprovar no Congresso Nacional o projeto de lei complementar regulamentando a taxação das grandes fortunas, um imposto já previsto na Constituição de 1988.

A equipe econômica acredita, porém, que a volta da CPMF, extinta em 2007, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, é hoje a única forma que o governo tem para fechar o buraco de aproximadamente R$ 70 bilhões, previsto no Orçamento do ano que vem.

“Eu defendo a CPMF porque é um imposto limpo, que não prejudica a maior parte da população e dá transparência às operações do sistema financeiro”, afirmou o presidente nacional do PT, Rui Falcão. “Não adianta nada votar a CPMF se não houver medidas mais amplas, de longo prazo, para eliminar os déficits crônicos”, reagiu o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS).

O tema é tão polêmico que conseguiu unir até o dividido PMDB: todos contra a contribuição sobre transações financeiras, incluindo na lista os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), que nos últimos dias só têm trocado estocadas.

Na tentativa de aprovar a proposta de emenda constitucional em breve, o plano do governo é instituir uma espécie de piso para a tributação, repartir os recursos arrecadados entre União, Estados e municípios e atrelar a arrecadação obtida a projetos sociais.

Empresários. Na quinta à noite, Temer declarou a empresários estar disposto a levar até Dilma as críticas do setor. Conforme relatos de participantes do jantar oferecido a Temer pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, em São Paulo, o vice-presidente se colocou como uma espécie de “advogado” do empresariado no Planalto. O vice, no entanto, ressaltou que nem todos os seus pleitos são bem recebidos pela presidente.

O compromisso foi assumido após o vice ter ouvido atentamente uma série de reclamações dos participantes do jantar. O empresário Jorge Gerdau disse que a “indústria brasileira está morrendo” e que o governo tem de baixar os juros.

Aos empresários, Temer afirmou que a atual crise tem gradações. Segundo ele, há a crise administrativa, a econômica e a política. “Precisamos evitar a crise institucional”, disse o vice. Ele se prontificou a levar as demandas dos empresários ao governo. / Colaboraram Ricardo Grinbaum e Isadora Peron

Para senadores, CPMF é 'bomba' que implode reaproximação da base

• Para parlamentares do PT e do PMDB, iniciativa também ajuda Cunha a recuperar força depois de ter sido denunciado

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Integrantes da cúpula do PMDB e do PT no Senado veem na iniciativa do ministro da Fazenda, Joaquim Levy - de tentar recriar a CPMF -, potencial de desconstruir gestos de aproximação entre o Palácio do Planalto e a Casa. Desde o início do mês, o acercamento tem possibilitado ao governo arrefecer a crise política e evitar derrotas legislativas.

Também prevalece a avaliação de que o debate em torno da criação do novo imposto favorecerá ainda o ressurgimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atingido pelas denúncias de envolvimento na Operação Lava Jato.

O entendimento é o de que o renascimento político do deputado, atingido pela denúncia de envolvimento na Lava Jato, viria com o enterro da discussão sobre o tributo. "Na discussão da CPMF, o Eduardo Cunha vai sapatear em cima do governo", prevê um interlocutor do Palácio do Planalto.

Em discussões reservadas, senadores lembram que a última vez em que o ministro Levy tomou a iniciativa de encaminhar ao Congresso proposta com aumento de impostos, sem uma discussão prévia com os parlamentares, foi na medida provisória do fim da desoneração. Em resposta, o presidente do Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu devolver a MP, o que obrigou o governo a enviar um novo texto por meio de projeto de lei, levando ao adiamento da entrada em vigor das novas regras. Desta vez, até mesmo o vice-presidente da República, Michel Temer, foi pego de surpresa com a notícia da recriação da CPMF.

A pessoas próximas, Renan tem lembrado, entretanto, que iniciativas anteriores do Executivo em tentar criar novas receitas com aumento de impostos já fracassaram. Na lista de propostas rejeitadas pelos parlamentares está a que previa a criação da Cide sobre serviços; imposto sobre grandes fortunas e fim da isenção da Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCA).

Diante da necessidade de o Executivo buscar alternativas para ampliar as receitas, senadores têm defendido que parte do saneamento das contas da União passa pela discussão de grande temas, como a reforma da Previdência. Outro caminho estudado pelos senadores é a realização de uma triagem dos programas de governo e a eliminação daqueles com menor potencial de retorno social.

O momento da discussão da CPMF também foi considerado inapropriado, uma vez que a semana vinha sendo coroada de fatos positivos ao governo no campo político. Na lista de ações favoráveis dos últimos dias, estava o recuo de Eduardo Cunha na votação da "pauta-bomba"; a criação por parte dos deputados de uma versão da Agenda Brasil; a liberação de R$ 500 milhões em emendas parlamentares; e o apoio concedido pelo empresários em encontro com Dilma.

Contaminação. O receio de lideranças do governo no Congresso agora é de que os atropelos do Executivo na questão da CPMF contaminem as discussões de propostas que já estavam prontas para votação e previam um reforço ao caixa da União. Entre elas, está o projeto do presidente Comissão Especial para o Aprimoramento do Pacto Federativo, senador Walter Pinheiro (PT-BA), que prevê a reforma do ICMS.

"Um desastre. Vai contaminar tudo. Vai paralisar tudo", se queixou outro interlocutor do Palácio do Planalto.

Merval Pereira - Lula infla sua imagem

- O Globo

Não foi por acaso que o ex-presidente Lula anunciou ontem a possibilidade de vir a disputar a Presidência em 2018, ao fim de uma semana em que o boato de que estaria prestes a ser apanhado na Lava-Jato dominou o mercado político brasileiro.

Mesmo que as pesquisas de opinião demonstrem sua fragilidade eleitoral neste momento, Lula precisa manter viva a expectativa de poder, para não abandonar o PT moribundo no meio da praça e, ao mesmo tempo, inflar sua imagem política para constranger iniciativas que visem criminalizá-lo.

Como não tem controle sobre a Lava-Jato nem sobre as delações, as já feitas e as que estão por vir, só resta a Lula fazer política. Afinal, na Operação Mãos Limpas da Itália, foram presos nada menos que 438 parlamentares, dos quais 4 haviam sido primeiros-ministros.

Seu alter ego “Lula Inflado”, o boneco que o apresenta como presidiário com o número 13 (do PT) 171 (artigo do Código Penal para estelionato), que tanto sucesso fez no recente protesto de Brasília, é inesperado estrago à sua imagem e, assim como ele, começou viagem pelo Brasil, aparecendo ontem na capital paulista.

Por coincidência, ontem também o juiz Sérgio Moro fez uma palestra na sede do Ministério Público Federal em SP e comparou a ação brasileira à Operação Mãos Limpas, o famoso combate na Itália contra a corrupção, ocorrido na década de 90.

Considerado um dos maiores especialistas em combate à lavagem de dinheiro, Moro é estudioso do caso italiano e publicou em 2004, na revista do Conselho de Justiça Federal, artigo em que traça paralelos entre o Brasil daquela época e a Itália. Moro fez uma brincadeira quando falava ontem sobre críticas que recebe por decretar prisões preventivas na Lava-Jato. Após citar as 800 prisões por corrupção na Mãos Limpas, Moro comparou com a Lava-Jato. “Ainda tenho um saldo”.

Dois anos após iniciada, em meados de fevereiro de 1992, com a prisão de Mario Chiesa, que ocupava cargo de diretor de instituição filantrópica de Milão, 2.993 mandados de prisão haviam sido expedidos; e 6.059 pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários e 1.978 administradores locais.

Aqui ainda não chegamos a tanto, mas também como Moro frisa, ainda não estamos nem na metade do caminho. Na Itália, o Partido Socialista e a Democracia Cristã saíram devastados da 1ª eleição após a Mãos Limpas, em 94, com 2,2% e 11,1% dos votos, respectivamente. O PT começa a se desmanchar: perdeu só em SP este ano cerca de 20% dos prefeitos que elegeu em 2012; e parlamentares simbólicos como Marta Suplicy, e é provável que outros anunciem saída até outubro, prazo para mudar de sigla para quem quer disputar eleição em 2016.

A eleição municipal, por sinal, deve ser um marco na redução da representação do PT em decorrência dos escândalos desde o mensalão em 2005. Os membros do governo e dirigentes petistas já não conseguem sair à rua sem serem rejeitados publicamente — outro dia, o advogado-geral da União, Luís Adams, foi praticamente colocado para fora em um restaurante em Brasília, o que é lamentável, mas reflete um sentimento predominante.

Das três causas apontadas pelos estudiosos como tendo possibilitado o surgimento da Mãos Limpas, pelo menos duas existem entre nós: conjuntura econômica difícil, aliada a custos crescentes da corrupção; e queda do “socialismo real”, que levou à deslegitimação de um sistema político corrupto, fundado na oposição entre regimes democráticos e comunistas. A outra causa está ligada à competitividade da União Europeia.

Os governos de esquerda que dominaram a América Latina nos últimos anos estão sofrendo onda de contestação pelas crises econômicas que produziram e pela corrupção disseminada. Moro diz em seu artigo que essa “deslegitimação” foi agravada com o início das prisões e a divulgação de casos de corrupção.

No Brasil, as revelações de que o esquema de corrupção na Petrobras era coordenado pelo PT; que o ex-ícone da esquerda José Dirceu recebia propinas em causa própria; e que o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro, considerado “o pai do programa nuclear brasileiro”, montou esquema para receber “pixulecos” das empresas que construíram o complexo de Angra, serviram também para deslegitimar a ação do governo e de seus aliados. (Amanhã, a pressão da sociedade).

Igor Gielow - "Barata-voa"

- Folha de S. Paulo

Como notou agudamente Elio Gaspari em sua coluna de quarta (26), a mentalidade de bunker parece dominar os movimentos do pós-governo Dilma-2.

Só o sentimento de "barata-voa", para ficar no jargão brasiliense, explica uma semana que começou com um corte de ministérios sem objetivos e acabou na tentativa de ressurreição bizarra da CPMF.

O tributo surgiu como uma justiça social feita tortamente, e hoje é apenas a segunda parte da sentença. Poderia passar como uma solução emergencial e de consenso nacional que, contudo, só se daria com outra pessoa na cadeira da Presidência.

Esperar apoio congressual ou um abraço de afogados com governadores sugere algo como desespero. Ou alguém vê senadores dando alguma força à ideia de reforçar o caixa de adversários no poder, para ficar no exemplo mais simples? E onde estão agora os banqueiros que correram para proclamar apoio à estabilidade institucional de seus lucros?

É pantomima, assim como a Agenda Brasil ou a tosa na Esplanada anunciada por um ministro aparvalhado em sua imprecisão ("dez" implica algum plano, não?). São todas estopas jogadas na moribunda fogueira do governo.

O resto está dado. Tirar Michel Temer de vez do centro das decisões, ato tolo da semana passada sacramentado nesta, apenas confirma o ritual funerário em curso.

Como num enterro viking, o caixão do governo navega num barquinho à espera da flecha incendiária a atear fogo em tudo, embora o esforço por uma combustão espontânea esteja sendo redobrado pelo Planalto.

O risco, vide o PIB e as contas públicas, é todos nós perecermos juntos no "Götterdämerung", o apocalíptico crepúsculo dos poderosos de Wagner citado aqui mesmo em julho e que hoje terrivelmente parece mais do que uma metáfora. Para voltar ao bunker hitlerista, só nos faltam os bailes sob a artilharia soviética.

Tempestade à moda da casa – Editorial / O Estado de S. Paulo

Se falta algo para a tempestade perfeita, deve ser muito pouco, e ninguém deveria reclamar da imperfeição. A economia encolheu mais 1,9% no segundo trimestre, a inflação está próxima de 10% ao ano, o governo é incapaz até de pagar os juros da dívida pública e, além do mais, o Banco Central tem de manter o crédito arrochado, na tentativa de conter os preços. O resto do mundo avança, apesar de alguma turbulência financeira. De abril a junho os Estados Unidos cresceram em ritmo equivalente a 3,7% ao ano, enquanto a Europa continuou em recuperação. A China, apesar de alguns solavancos, ainda prospera e pode crescer no mínimo uns 6%, mas importando menor volume de matérias-primas. Isso dói, mas a crise brasileira é essencialmente made in Brazil – produto de erros acumulados em mais de quatro anos e de muita irresponsabilidade governamental, demonstrada no desastre das contas públicas.

Não por acaso, a acentuada piora dessas contas coincidiu com o agravamento da recessão. Já em péssimo estado em 2014, a economia continuou piorando. No primeiro semestre, o Produto Interno Bruto (PIB) foi 2,1% menor que de janeiro a junho do ano passado. Com menor atividade e maior desemprego, a receita de impostos e contribuições diminuiu em todos os níveis de governo. O déficit nominal – incluída a conta de juros – chegou a R$ 282,42 bilhões de janeiro a julho e a R$ 502,76 bilhões em 12 meses, soma correspondente a 8,81% do PIB, proporção desastrosa pelos padrões internacionais.

Com as contas públicas em frangalhos (ver abaixo o editorial Números do desastre fiscal), o governo tem pouquíssimo ou nenhum espaço para afrouxar a política fiscal e estimular a economia por meio do gasto público ou de cortes de impostos. Se a presidente Dilma Rousseff aceitar as pressões de empresários e relaxar o controle das contas, o País perderá acesso ao mercado financeiro, o conserto do orçamento será mais complicado e a crise se estenderá. Se, além disso, o Banco Central afrouxar os juros e soltar o crédito, a contenção de preços será prejudicada e a estagflação – mistura de recessão com espiral inflacionária – será prolongada, impondo mais sacrifícios aos brasileiros.

Se nada ficar muito pior, a perspectiva do próximo ano ainda será de atividade muito baixa ou mesmo de recessão, como já preveem muitos economistas do setor privado. O País perdeu potencial de crescimento nos últimos anos e a reação será muito difícil.

O investimento produtivo – dinheiro aplicado em máquinas, equipamentos, instalações e infraestrutura – voltou a diminuir e ficou em 17,8% do PIB no segundo trimestre. Um ano antes a taxa era de 19,5%. No mesmo trimestre de 2013, de 20,7%. Qualquer dessas taxas é muito inferior à necessária para garantir crescimento sustentável na faixa de 4% a 5% ao ano. Em muitos emergentes o investimento fixo tem ficado entre 24% e 30% do PIB. Em alguns, tem sido maior.

Continuaram em queda neste ano a produção e a importação de máquinas e equipamentos. Os empresários, inseguros e sem perspectiva, abandonam quaisquer planos de ampliação e de modernização da capacidade produtiva.

Em situações como essa, cabe ao governo tomar a dianteira dos investimentos. Mas nem o Tesouro tem dinheiro para obras nem o governo consegue capitais privados para um grande programa de infraestrutura. Mais competência nessa área será fundamental para destravar a economia. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está emperrado há anos, mas o governo se dedica muito mais à propaganda que ao planejamento e à gestão de projetos.

Se ainda houver dúvida quanto à falência do chamado modelo implantado pelo PT, uma espiada na contração do consumo e da oferta de serviços bastará para deixar tudo claro. Para os mais atentos, o fiasco desse modelo é evidente há anos. Agora é preciso redefinir a estratégia de crescimento e, ao mesmo tempo, consertar os destroçados fundamentos da economia. Mas quem definirá esses pontos, num governo acuado politicamente e sem liderança?

Cada vez mais grave - Editorial / Folha de S. Paulo

• Dados do PIB indicam recessão maior do que se imaginava dias atrás; governo precisa apontar saídas para a crise

A recessão brasileira é maior do que se calculava até sexta-feira (28), quando foram divulgados os números do PIB relativos ao segundo trimestre. A atividade econômica recuou 1,9%, desempenho próximo das piores estimativas; os dados do final de 2014 e do início de 2015 foram revisados para baixo.

As previsões para o ano tendem a se tornar mais sombrias. Projetava-se regressão de 2% a 2,5% do PIB. Os novos prognósticos já ultrapassam o teto dessa banda de pessimismo, confirmando que a economia brasileira deve sofrer a maior contração desde a queda de 4,3% em 1990, no governo Fernando Collor (então no PRN).

Não há, por ora, como contradizer as avaliações mais negativas.

O consumo das famílias declinou pelo segundo trimestre consecutivo, o que não ocorria desde 2003, na crise que marcou o final dos anos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O investimento em novas instalações produtivas e em construção encolhe agora por oito trimestres consecutivos. O nível de confiança do consumidor e dos empresários está nas mínimas históricas, há estoques em demasia nas empresas e a deterioração do mercado de trabalho deve continuar pelo menos até meados de 2016.

As taxas de juros devem permanecer em níveis escorchantes por algum tempo. A degradação da situação financeira do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e sua desorientação política devem solapar ainda mais o ânimo de investimento das empresas.

A solitária nota positiva do balanço da economia deve-se à melhoria nas contas externas. A produção nacional torna-se mais barata devido à desvalorização do real, e a indústria passa a substituir itens antes importados.

É provável que a baixa do PIB trimestral no restante do ano não seja tão grande quanto a verificada de abril a junho. Não será melhoria, mas retrocesso menor.

Para 2016, o avanço adicional no setor externo e a baixa na inflação devem tornar o quadro menos dramático, embora se projete estagnação, na melhor das hipóteses.

Seja como for, muito depende da solução da crise de governo, de um plano que impeça a degradação contínua das contas públicas e de um projeto politicamente viável de reformas.

Uma crise crônica, porém, pode lançar ainda mais descrédito sobre a capacidade de pagamentos do governo e incentivar fugas de capitais, que derivariam em desvalorizações então daninhas do real e em altas de juros.

Não se trata de destino, mas seria o resultado do descaso ou da incapacidade de lidar com a emergência crítica: um cenário cada vez mais realista de grave desordem.

Viés ideológico explica fracasso de leilão – Editorial / O Globo

• Planalto insiste em tabelar lucro de concessionários e, assim, afasta pretendentes a linhas de transmissão. Isso quando é crucial elevar os investimentos

Se em condições normais os investidores precisam contar com um ambiente institucional que os estimule a executar projetos, numa situação de grave e paralisante crise econômica e política como a brasileira, mais ainda. Porém, o desfecho negativo do leilão de linhas de transmissão de energia feito na quarta-feira aponta para o contrário. Infelizmente.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) colocou em licitação 11 lotes, dos quais apenas quatro foram arrematados, com um deságio médio baixo, de 2,04%, reflexo do número pequeno de interessados. Será investido R$ 1,4 bilhão, só 19% do que o governo esperava com as ofertas.

Há explicações variadas para o fracasso. O dólar em alta, a redução da atratividade dos financiamentos do BNDES, incertezas econômicas e políticas generalizadas. Mas no centro da questão está o tabelamento da taxa de lucro dos concessionários que o governo insiste em fazer, um viés claramente anticapitalista do Planalto.

Para este leilão, a burocracia de Brasília, a fim de torná-lo mais atraente, elevou a margem de retorno de 5,5% para entre 7,63% e 7,86%. Em vão. Parênteses: por que as casas decimais, não se sabe. O fato é que a cultura intervencionista do governo resolveu continuar a tabelar o lucro em licitações e, desta vez, fixou percentuais pouco atraentes.

A ojeriza às leis de mercado já causou vários prejuízos ao país nestes quase 13 anos de PT no Planalto. Quando Lula, no segundo governo, não pôde fugir aos leilões de rodovias, desenvolveu um modelo de “populismo tarifário”: ganha quem cobrar o menor pedágio. Serviu para inspirar discursos de palanque, e só. Porque, como esperado, empresas vencedoras daqueles leilões deixaram de executar as obras prometidas.

Outro equívoco de fundo ideológico ocorre na privatização de aeroportos, além da demora do governo em fazer o óbvio: tirar a Infraero da área. O Palácio faz o possível para dar sobrevida à estatal, um custoso cabide de empregos, um símbolo da ineficiência estatal. Forçou para que a Infraero tivesse uma participação razoável nos consórcios que disputariam os primeiros terminais, mas, agora, devido à crise fiscal, a estatal deverá ser obrigada a leiloar essas participações. Perdem-se tempo e dinheiro do contribuinte ao se manter a Infraero respirando por aparelhos.

O discurso oficial do Planalto é que, de fato, é necessário atrair capital privado para modernizar e ampliar a precária infraestrutura do país, um dos mais apertados gargalos que atravancam o sistema produtivo.

Mas é preciso colocar em prática o discurso, e se vacinar contra a ideia entranhada na cabeça de alguns em Brasília de que lucro é pecado, algo entre o medievalismo e o sectarismo religioso do Estado Islâmico.

O PT inchou o Estado – Editorial / O Estado de S. Paulo

Recentemente, a presidente Dilma Rousseff anunciou a intenção de extinguir dez Ministérios e de cortar mil cargos de confiança. Além das óbvias e urgentes necessidades de caixa, a presidente tentava dar uma resposta às manifestações nas ruas, que – entre outras causas – têm pedido uma diminuição do Estado. Ainda que seja uma mudança de posição da presidente, é um gesto um tanto tímido, cujos efeitos se concentram mais no campo da opinião pública e pouco contribuem para solucionar o déficit das contas públicas. Diante da gastança dos anos de PT no governo federal, que incluiu muitas e muitas contratações, o saneamento das finanças públicas exige outra atitude – mais séria, mais drástica, mais efetiva.

Levantamento feito pela entidade não governamental Contas Abertas indica que a administração pública federal conta hoje com 616 mil servidores civis, alocados em diversos órgãos, autarquias e fundações. Desse número – e aqui está o fato alarmante –, mais de um quinto ingressou no funcionalismo público durante os anos do PT no governo federal.
Desde 2002, foram quase 130 mil servidores federais a mais no quadro de pessoal. O Estado já era grande, mas com o PT a coisa saiu completamente dos trilhos.

O estudo do Contas Abertas também apurou um significativo crescimento do Poder Executivo federal entre 2002 e 2015. Hoje são quase 100 mil cargos, funções de confiança e gratificações. Desse total, 30 mil foram criados durante os governos de Lula e de Dilma.

É muita gente para o Estado bancar, e isso – como é lógico – nem de longe é solucionado pelo fim de dez Ministérios e o corte de mil cargos em comissão. Por exemplo, atualmente existem 18.388 servidores públicos vinculados à Presidência da República. Eles estão distribuídos em várias secretarias – Secretaria de Comunicação Social e Secretaria de Políticas para as Mulheres, por exemplo – e órgãos que dependem da Presidência, como a Controladoria-Geral da União (CGU), a Advocacia-Geral da União (AGU), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Certamente, esses órgãos cumprem relevantes funções públicas, mas é preciso um dimensionamento adequado do Estado à realidade nacional. Diante do tamanho da economia brasileira e sua taxa de crescimento (ou de decréscimo), simplesmente a conta não fecha.

Outro dado do quadro de pessoal do Poder Executivo federal que chama a atenção é o aumento do número de cargos em comissão, como, por exemplo, os de Direção e Assessoramento Superior, conhecidos pela sigla DAS. Atualmente, são 22.559 cargos desse tipo. Em 2002, eram 18.374. Ao longo dos 13 anos de PT no poder, os DAS cresceram mais de 22%.

Além da incompatibilidade com qualquer equilíbrio nas contas públicas, esse ritmo de crescimento dos cargos em comissão remete a outro grave problema – o sistemático aparelhamento da administração pública ao longo dos anos de PT no governo federal. Desde 2003, promoveu-se o apossamento da coisa pública para interesses particulares, fossem eles partidários ou pessoais.

Ainda que boa parte dos cargos em comissão seja ocupada por funcionários de carreira, aumentar o seu número significou ampliar a discricionariedade dentro da máquina estatal. Ou seja, os governos petistas ganharam, assim, mais postos a indicar (e a negociar). Com um porém: além de caro, um Estado inflado é sempre pouco eficiente.

O PT, no entanto, nunca dedicou muito tempo a reparar nos efeitos negativos do aumento do número de cargos, seja no aspecto fiscal, seja no aspecto institucional. O partido estava mais atento ao poder de negociação que o inchaço do Estado lhe conferia – e isso, pelo que se viu, foi suficiente para calar qualquer outro tipo de preocupação.

É por esse histórico que a recentemente prometida reforma administrativa soa pouco sincera. Além de pouco eficaz, se séria fosse.

Míriam Leitão - Tristeza dos números

- O Globo

É uma recessão. Ontem, acabaram todas as dúvidas que alguém pudesse ter. Não são apenas dois trimestres negativos, nos três trimestres anteriores os resultados foram também negativo ou zero. Vários economistas acham que vai continuar assim. Será um longo tempo de encolhimento. O desafio do país será reconstruir lentamente a confiança na recuperação.

Desde ontem os economistas dos departamentos econômicos dos bancos e consultorias voltaram para seus modelos de cálculo do PIB. Alguns já projetam uma queda de 3% para este ano. Os indicadores antecedentes do terceiro trimestre mostram nova redução, segundo a análise do economistachefe do Banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho. O banco francês é um dos que preveem uma retração de 3% em 2015 e um novo recuo de 1% no ano que vem. O economista-chefe do Banco Modal, Alexandre de Ázara, tem projeções de números negativos para os próximos dois trimestres.

Em palavras, o que os números dos economistas mostram é que está ruim e permanecerá ruim. Nada disso aconteceu por acaso ou pelas turbulências que sempre acontecem no mundo. Não é o mundo o nosso problema. A crise foi feita aqui, como efeito de decisões erradas. Os alertas foram dados, mas foram ignorados. As medidas econômicas equivocadas, e que foram aprofundadas no ano passado, deixaram uma herança amarga. O gráfico abaixo é a melhor síntese do que foi feito com a economia no governo Dilma Rousseff, com seus experimentos da tal “nova matriz”: PIB no chão, e inflação nas alturas. Enquanto o IPCA acumulado em 12 meses chega a 9,56% até julho, o PIB encolheu 1,2% em 12 meses até junho.

Mas não é tudo, porque ontem também foram divulgados os dados fiscais mostrando que o país teve um novo déficit primário, de R$ 10 bilhões, em julho. Nos últimos 12 meses, o rombo primário chegou a R$ 51 bilhões, ou 0,89% do PIB. O déficit nominal foi a 8,81%, e a dívida bruta saltou para a 64,6% do PIB. As contas públicas estão em um processo acelerado de deterioração. Os gastos crescem, enquanto a arrecadação cai por causa da recessão, colocando o país em um círculo vicioso.

A grande preocupação dos economistas é o de rebaixamento da nota de crédito do governo, que aprofundaria a recessão. Alexandre de Ázara explica o que acontece se o Brasil voltar para o grupo de países de nível especulativo: haverá uma “liquidação” de ativos, os investidores estrangeiros venderão, rapidamente, títulos do governo, de empresas, reais, e ações na bolsa. Será um movimento financeiro brusco, que colocará pressão, ao mesmo tempo, sobre o dólar, as contas públicas, inflação e taxa de juros.

Para evitar isso será preciso tentar melhorar as contas. Este é o contexto em que o governo decidiu ressuscitar a CPMF. Só que o fez da forma mais atabalhoada possível. Em vez de explicar para o país, tentar convencer o contribuinte, preparar a opinião pública, o governo simplesmente incluiu o imposto no Orçamento do ano que vem e deixou a notícia circular como fato consumado. Ontem, tentava reduzir o estrago.

Ao mesmo tempo, o país se viu às voltas com a notícia de que entrara oficialmente em recessão, que as contas públicas pioraram ainda mais e que a CPMF seria recriada. Para ficar na frieza dos números, o PIB do primeiro trimestre foi revisto de -0,2% para -0,7%, e o segundo trimestre ficou em -1,9%. Os últimos três trimestres de 2014 foram: -1,1%, 0,1% e zero respectivamente. É um tombo forte. É hora de parar de improvisar e de as autoridades terem um plano para tirar o país do buraco em que o governo Dilma nos colocou.