Resistir significa antes de tudo não perder a trincheira do diálogo... Para unir as forças
Estamos carentes de uma explicação abrangente da
sociedade atual.
Para desafios complexos uma teoria da complexidade é
indispensável. Precisamos infletir sobre o todo, abraçá-lo. Mas os paradigmas
vigentes são a hiperespecialização, de um lado, e o fanatismo negacionista, de
outro. Ambas as vertentes desarmam o pensamento crítico, levando a que se vejam
paisagens na neblina, pedaços imprecisos do real.
Parte importante da dificuldade se deve a estarmos numa
megatransição, saindo da vida apoiada em instituições estáveis e em rotinas
disciplinares bem estabelecidas – na família, na escola, no trabalho – para uma
a vida mais líquida, veloz, instável, sobrecarregada de riscos e incertezas, na
qual “tudo o que é sólido se dissolve no ar” em questão de dias.
Achar que éramos felizes antes é uma nostalgia
paralisante. Não viveremos mais como nossos pais, se é que algum dia vivemos.
Continuaremos a repetir alguns de seus hábitos e atitudes, a ser influenciados
por sua convivência e por sua memória, mas o futuro seguirá outros caminhos.
A megatransição subverte o modo como trabalhamos e
vivemos, como nos relacionamos, nos organizamos e fazemos política, como
pensamos e estudamos. Inutiliza os mapas antigos, os discursos codificados, as
práticas cristalizadas. Mas no dia a dia tendemos a buscar refúgio naquilo que
conhecemos e terminamos por não saber em que terreno pisamos. Fugimos da
realidade que não compreendemos. O negacionismo é parte disso, impulsionado
pela ignorância anticientífica.
Explicações simplistas, “analógicas”, orientadas por
doutrinas congeladas, colidem com a complexidade do real, mas nem por isso são
abandonadas. Funcionam como fotos em preto e branco num ambiente multicolorido.