- Ricardo
Chapola / Revista IstoÉ
Edição 23/04/2021 - nº 2675
A
carreira política de Raul Jungmann, de 69 anos, passou por extremos. Nascido em
berço esquerdista, Jungmann lutou contra a ditadura militar quando ainda era
universitário ao ingressar no MDB. Depois, filiou-se ao Partido Comunista
Brasileiro. Sua trajetória começou a mudar quando integrou o governo de
Fernando Henrique Cardoso.
Durante esse período, Jungmann estreitou relações
com as Forças Armadas, o que se intensificou durante seus mandatos como
deputado federal, até transformá-lo em ministro da Defesa no governo Temer. Foi
nessa época também que passou a defender a proibição da venda de armas no País.
Por essa razão, virou ministro da Segurança Pública em 2016.
Atualmente,
Jungmann continua militando pela regulação de armas e pela democracia. Em entrevista
à ISTOÉ, o ex-ministro criticou a política armamentista de Bolsonaro, sugeriu
que o presidente tenta formar milícias para se sustentar no poder e afirmou que
o ex-capitão é o principal responsável pela grave situação do País na pandemia
“Bolsonaro exerceu o papel de descoordenação, de negacionismo e também de
negligência com a vida dos brasileiros, resultando nessa tragédia humanitária
que nós estamos vivendo hoje”.
As
trocas de ministros e de comandantes das Forças Armadas, além das mudanças na
PF, feitas por Bolsonaro, configuram uma tentativa de o presidente interferir
nessas áreas?
É privativo do presidente a substituição de cargos comissionados. Sob o aspecto
legal é normal. O que parece anormal é o fato de termos tantas mudanças na PF.
Isso sim caracterizaria uma intervenção na PF, que é descabida. A PF é a
Polícia Judiciária da União. Evidentemente ela tem que ter autonomia, sobretudo
face às funções que ela tem. Esse excesso de intervenção mostra interesse de
dar uma direção política a um órgão de Estado e que não pode ser politizado.
Essa sequência de mudanças e essa busca de politizar a PF desserve aos
critérios constitucionais da impessoalidade e da imparcialidade que um órgão
como esse tem que ter. Isso significa uma tentativa de intromissão no domínio
legal. Não contribui para a democracia e tampouco para a independência dos
poderes.
O
Ministério da Justiça fez uso da LSN para abrir inquérito contra críticos a
Bolsonaro. Qual a opinião do senhor sobre o assunto?
O Congresso tem falhado desde a redemocratização em dar ao País uma lei de
defesa do Estado Democrático. Para mim, a principal responsabilidade é do
Congresso. Na medida em que a legislação que você tem de defesa do Estado é uma
lei do regime militar, ela termina sendo usada. Evidentemente que ela está
sendo empregada abusivamente. E também acho que vem sendo usada com finalidade
política. O Congresso já deveria ter aprovado uma lei do Estado Democrático.