domingo, 22 de janeiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Alberto Goldman:Triste país o nosso

"O assassinato do prefeito Celso Daniel completa dez anos sem culpados nem condenados, e, pior, desde o início das investigações sete testemunhas e investigados já foram assassinados ou morreram em circunstâncias misteriosas. O principal acusado é digno de um pulp fiction: o Sombra.

Alto preço pago por Celso Daniel que aceitou a coleta de dinheiro para o seu partido, o PT. Constatou, no entanto, que os coletores não só coletavam para o partido mas, também, para si mesmo. Afinal, ninguém é de ferro! E, aí, tentou barrar a farra dos seus companheiros, enriquecidos com o dinheiro que, de um jeito ou outro, sai do bolso do povo.

Sua visão moral admitia que o dinheiro fosse para o partido. Afinal, não era o partido que pretendia uma nova sociedade, socialista, sem exploração do homem pelo homem? Percebeu que a coisa não era bem assim. Morreu pela ação dos seus próprios companheiros de partido ( ou de coleta? ). Os mandantes estão impunes. O seu partido, também. Pelo contrário, recebeu o mandato presidencial, já pela terceira vez.

Triste país o nosso."

Alberto Goldman,ex-deputado ,ex-governador de S. Paulo e vice-presidente do PSDB, ontem no Blog.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Movimentação suspeita no TRT-RJ foi a maior do país
As agendas trocadas nos fóruns globais

FOLHA DE S. PAULO
Aprovação do 1º ano de Dilma bate recorde de Lula
Grupo de 1.300 haitianos está 'preso' em cidade do Amazonas
Com real forte, brasileiro compra mais no exterior

O ESTADO DE S. PAULO
Brasil tem menos de 1% de domicílios na classe E
Projeto de irrigação não avança em PE
5 mil viciados são internados à força em SP
Hackers atacam sites brasileiros em protesto

CORREIO BRAZILIENSE
Estratégias de uma presidente
Hackers miram sites do GDF
Sergio Gabrielli vai deixar Petrobras

ESTADO DE MINAS
Em poder da Justiça
Após a tragédia, o desamparo
Aumentam as aposentadorias por via judicial

ZERO HORA (RS)
Meninos condenados

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
João Paulo é o preferido
Empregos mudam relações de trabalho
Transnordestina

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

A competitividade chinesa:: Merval Pereira

O relatório intitulado "Tecnologia e competitividade em setores básicos da indústria chinesa", fruto de um termo de cooperação entre a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, sob o comando do ministro Moreira Franco, do PMDB do Rio, e a Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia) da UFRJ, define a inovação tecnológica como o ponto central do desenvolvimento da China.

Segundo o estudo, a capacidade inovativa chinesa é baseada em duas convicções que se interligam: a criação de novas tecnologias, produtos e serviços, e a ideia de que a China deve imitar o modelo de inovação do Vale do Silício, na Califórnia.

Apesar das dúvidas quanto às estatísticas chinesas, e à qualidade da massa de trabalhos acadêmicos e patentes registrados, os números oficiais são impressionantes: em 2008 a China teve quase 290 mil patentes pedidas, sendo 67% solicitadas por residentes, fruto de uma taxa de 23% de crescimento entre 2004 a 2007.

Comparando com o Brasil, tivemos pouco mais de 21 mil patentes pedidas no mesmo ano, em sua maior parte por não residentes (81,6%), com taxa de crescimento de apenas 4% de 2004 a 2007.

Na China, segundo o estudo, 72% dos detentores de patentes são empresas, contra 53% no Brasil, o que demonstra a integração entre pesquisa nas universidades e desenvolvimento, sendo prioritárias pesquisas aplicadas, com foco no mercado.

As empresas chinesas estariam muito mais voltadas ao desenvolvimento e à melhoria dos produtos já existentes do que para pesquisas e invenções de novos produtos.

Capital e recursos humanos são investidos em projetos de curto prazo com retorno rápido, enquanto as universidades cuidam dos projetos de longo prazo.

A China pretende consolidar, por exemplo, sua indústria farmacêutica, que atualmente tem mais de 13 mil pequenas empresas operando, principalmente na economia paralela, produzindo remédios e produtos de higiene pessoal com o risco de os consumidores comprarem produtos de qualidade duvidosa.

A consolidação da indústria se dará em torno de uma ou duas empresas a nível nacional. A nível regional, o governo pretende criar 20 grandes empresas. A ideia é aproximar o mais possível a produção e a venda, a fim de baratear os preços dos medicamentos.

Preocupa o governo chinês, no entanto, o fato de as novas invenções terem origem, em sua maior parte, em laboratórios multinacionais, o que é percebido como uma fraqueza do país.

Em média, o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento da China aumentou a uma taxa anual de 9% em relação ao PIB nos últimos dez anos.

O investimento vem se concentrando progressivamente nas empresas, representando em 2006 cerca de 70% do total, em detrimento dos institutos de pesquisa, que viram reduzidas as verbas de 40% para cerca de 20% do total.

Nos últimos anos houve uma preponderância do financiamento para desenvolvimento de tecnologias, que chega a cerca de 80% do total de recursos. Houve também um aumento do número de pessoas envolvidas em Pesquisa e Desenvolvimento, em particular no número de cientistas e engenheiros.

A parcela relativa às universidades e outras instituições se manteve inalterada, em torno de 10%.

O documento traz em sua contracapa um texto não assinado que pode servir de conclusão do estudo, que teve início com uma pergunta básica: o quanto a dimensão tecnológica é relevante na competitividade chinesa?

"O que se observou no campo foram empresas que, tendo começado absorvendo tecnologia licenciada, foram, ao longo do tempo, inovando "secundariamente", absorvendo mais tecnologias por acordos, engenharia reversa ou grande esforço próprio, acumulando capacitações tecnológicas de produção e de inovação, e ganhando mercado.

"Migrando de ciclo em ciclo de inovação, e se recriando organizacional e competitivamente, a cada rodada de crescimento e sofisticação empresarial.

"No processo, algumas poucas empresas já alcançaram a liderança em segmentos de sua indústria, ou acabaram por desenvolver trajetórias tecnológicas próprias que as suportam em posições competitivas singulares e sustentáveis.

"Se o vasto sistema produtivo chinês ainda não está neste patamar, isso não quer dizer que não se possa seguir caminhando nessa direção.

"Não é só o estado atual da República Popular da China que é impressionante; o que realmente fascina é a sua evidente capacidade de aprendizado, evolução e transformação coordenada, em busca de uma posição de liderança no cenário mundial.

"Se por um lado é evidente, e já notório, que o despertar e o crescer de tal gigante industrial ameaça a indústria nacional em múltiplas frentes, por outro se pode constatar que o Brasil tem imensas oportunidades de aprendizado e colaboração com a experiência chinesa.

"O ineditismo da experiência histórica recente, articulando estado forte e múltiplo, planejamento governamental coordenado e para o longo prazo, competição acirrada, empresas dinâmicas, desenvolvimento tecnológico e instituições em mutação, levando-a a mudar o mundo tal como o entendemos, nos coloca de frente à História.

"E pergunta ao Brasil: e o que vocês farão da sua?"

FONTE: O GLOBO

Fora da curva:: Dora Kramer

Celebrada por cientistas, recebida em silêncio pelos partidos governistas aliados e vista com desconfiança queixosa no PT, a nomeação do físico Marco Antonio Raupp para o Ministério da Ciência e Tecnologia suscita dúvida sobre seu significado.

A chamada "indicação técnica", principalmente em pasta ocupada há nove anos por critério político-partidário, não deixa de ter sido uma surpresa. Em princípio alentadora.

Não porque o técnico represente garantia de lisura e eficiência ou a opção política seja necessariamente deletéria.

Há técnicos corruptos e ineficientes como há políticos de boa conduta e capacidade de fazer o que Fernando Henrique Cardoso em seu recente livro-depoimento, A soma e o resto, define como "a arte de reunir condições para tornar possível o necessário".

A razão do alento como pressuposto é que Raupp foi escolhido por mérito específico na área.

É presidente licenciado da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, criou o Centro de Previsão de Assuntos Climáticos e atualmente ocupa a presidência da Agência Espacial Brasileira.

Ou seja, não irá para o Ministério da Ciência e Tecnologia para acomodar conveniências partidárias.

E qual é a dúvida que suscita sua indicação?

Discute-se se ela pode ou não ser vista como um aviso da presidente Dilma Rousseff de que daqui em diante tudo poderá começar a ser diferente no estabelecimento de parâmetros para a escolha de pessoas encarregadas de comandar a execução das políticas públicas de cada setor.

A boa notícia é que Dilma fez o gesto. Mas a constatação realista é que não se sabe se o fez para dar início a uma mudança gradual e permanente no conceito da coalizão ou se buscou apenas resolver um problema político-partidário.

Como PT e PSB disputavam a vaga, com a indicação - vá lá - de um técnico, evitou o conflito, pois a opção por atender à demanda de qualquer um dos dois criaria uma área de contrariedade séria com o preterido.

Se nenhum deles é premiado, o atrito não se impõe e o prejuízo diluído.

Por isso é cedo para dizer se há ou não significado perene na solução dada para a pasta onde havia de fato uma complicação. Por enquanto, a nomeação de Marco Antonio Raupp com todos os méritos que a comunidade científica lhe confere, não é a regra. Ainda é o ponto fora da curva.

Luz no túnel. O vice-presidente Michel Temer e o deputado Miro Teixeira iniciam uma empreitada que pode realmente criar um horizonte de reforma política à vista.

Miro apresentou projeto propondo a realização de um plebiscito na eleição de 2014 sobre sistema eleitoral e financiamento público de campanha. Temer não só apoia como defende a proposta com argumentos consistentes.

Em artigo sobre o tema escrito em novembro de 2011, ele destrincha a raiz do problema: "As dificuldades da reforma se dão porque o assunto se relaciona à maneira como cada parlamentar avalia a própria experiência no processo eleitoral segundo as leis em vigor e os interesses pessoais se sobrepõem ao aperfeiçoamento das regras eleitorais".

Portanto, "se há dificuldade de a reforma política ser executada pelos representantes do povo a solução é caminhar para a democracia direta usando os instrumentos da Constituição de 1988". Ou seja, o plebiscito.

É o tipo da ação de política alta que vai pôr a teste a sinceridade de propósitos dos defensores da reforma política e a capacidade das forças engajadas no projeto, de esclarecer ao público significados e implicações de cada tema proposto para votação.

Imprescindível não repetir a experiência do plebiscito sobre sistema de governo, em 1993. Campanha malfeita, discussão rasteira, o Parlamentarismo não teve chance alguma porque, diante do desconhecido, a população preferiu não arriscar e preferiu permanecer no Presidencialismo.

Sem saber exatamente por quê. Se for para reproduzir o modelo, o povo estará sendo chamado a referendar uma embromação e justificar a persistência no imobilismo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Saindo do faz de conta:: Suely Caldas

No auge dos escândalos de desvios de dinheiro público, o governo Lula determinou aos ministérios prioridade ao uso de pregões eletrônicos em seus contratos de compra, supostamente para dar maior transparência aos gastos do governo. Pois bem, em 2011 quase metade (de 45,2%, em 2010, passou para 47,8%) de todas as compras do governo foi efetuada sem licitação alguma, nem eletrônica, nem disfarçada, nem de cartas marcadas, simplesmente com o fornecedor escolhido. Já no governo Dilma, no auge de repasses milionários de verbas do Ministério do Esporte para o PC do B por meio de ONGs fantasmas, a presidente ordenou o fim dos convênios com essas organizações. A prática voltou e prolifera em praticamente todos os ministérios. E o Congresso não fica de fora: acaba de aprovar mais R$ 1 bilhão (a proposta inicial do Executivo era de R$ 2,4 bilhões) em repasses do Orçamento de 2012 para as ONGs. Afinal, elas não seriam "não governamentais"?

Nos últimos nove anos os governos do PT têm seguido um ritual enganador e marqueteiro para tentar abafar escândalos: faz anúncios impactantes, diz que vai cortar o mal pela raiz e proibir práticas que facilitam a corrupção. Mas pouco tempo depois tudo volta: os mesmos métodos, as mesmas práticas. De tão desmoralizado, esse ritual não serve mais, está desacreditado. Mas o governo continua a ele recorrendo. Incompetência? Falta de alternativa não é.

Esquecido na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) desde 2010, o projeto de criação da Lei de Responsabilidade Orçamentária é um poderoso antídoto contra a corrupção ou desperdício do dinheiro público. Proposta pelo ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), a lei pretende agir justamente na estrutura da elaboração dos orçamentos públicos (da União, Estados e municípios), dando a eles racionalidade e direcionando a aplicação do dinheiro para projetos tecnicamente prioritários, viáveis e de interesse da população.

A Lei de Responsabilidade Orçamentária complementa o que a bem-sucedida Lei de Responsabilidade Fiscal deixou de focar. Se a fiscal age no sentido de melhorar a qualidade da gestão dos governantes, a outra atua na estrutura dos orçamentos públicos, procurando cortar excessos e vícios a que recorrem governos e parlamentares para enquadrar os orçamentos aos seus interesses, raramente coincidentes com os da população. Se estivesse em vigor, por exemplo, o governo e o Congresso não estariam aprovando verba extra e aleatória de R$ 3,4 bilhões para as ONGs, sem cumprir uma série de justificativas especificadas na lei. Ela procura também acabar de vez com o conhecido orçamento hipócrita, de mentirinha, pelo qual o Executivo envia ao Congresso uma proposta com valores subestimados, o Legislativo inventa receitas extras para abrigar suas emendas e está formada a cadeia de negócios e chantagens entre governo e Parlamento, pela qual o primeiro libera dinheiro para atender a emendas do segundo sempre que precisa aprovar no Congresso matéria de seu interesse. É o jogo de chantagem pelo qual transita e é desperdiçada boa parte do dinheiro da população.

Nascida - como mandam os bons costumes - por iniciativa do Legislativo, e não pela imprópria, despótica e impositiva medida provisória, a proposta inicial da Lei de Responsabilidade Orçamentária recebeu acréscimos dos senadores Renato Casagrande (PSDB-ES) e Raimundo Colombo (DEM-SC), foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça, mas adormece na gaveta do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), seu relator na CAE, que diz não ter apoio do governo para fazê-la andar.

Há informações de que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, andou procurando a assessoria permanente do Congresso para orçamento interessada em retomar o tema, mas até agora não o incluiu na lista de prioridades do governo para tramitação no Congresso.

Seria uma boa chance para Dilma sair das inúteis e desacreditadas pirotecnias contra a corrupção e buscar instrumentos capazes de resolver o problema agindo na raiz, na estrutura, não no faz de conta, na mentirinha.

Jornalista, é professora da PUC-Rio

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Entranhas :: Eliane Cantanhêde

Como quase tudo na vida, há duas formas de olhar a dívida de cerca de R$ 3 bilhões do Tribunal de Justiça de São Paulo, o TJ-SP, com seus juízes e servidores. Dívida, diga-se, que é quase metade de todo o orçamento do órgão para 2012.

Uma ótica, a boazinha, é a dos credores, que veem o tempo passar e nada do dinheiro entrar no bolso. Alegam que merecem receber por férias não gozadas, licenças-prêmios e, consolidando tudo, as naturais atua-lizações da moeda.

Já a outra ótica, a malvadinha, é a de quem lê, sabe que vai pagar a conta e fica com a pulga atrás da orelha. Que tantos direitos são esses que chegam a praticamente 50% do orçamento de um ano inteiro para tudo?

Quem conhece as entranhas (detesto essa palavra, mas palavras feias às vezes têm lá sua função...) do Judiciário sopra aos nossos ouvidos que, se somar daqui, diminuir dali, vamos chegar à conclusão de que o maior bolo da dívida do TJ-SP vem de decisões administrativas que transformam vantagens insustentáveis em direitos -para o contribuinte pagar.

São coisas assim, exemplifica o indignado: o servidor tem direito a duas férias por ano, goza uma inteira, a outra em parte e cobra ressarcimento integral por uma das duas. Em alguns Estados, é permitido vender uma das férias, o que já é estranho. Em outros, nem isso. Dizem que a prática é comum nos dois casos.

Quando deputados e senadores votam privilégios ilegítimos em seu próprio favor, nós todos, principalmente os chatos dos jornalistas, mas também servidores de todas as áreas e 100% dos empregados da iniciativa privada ficamos indignados, gritamos, dizemos que "o Brasil não tem jeito mesmo".

E quando é em outro Poder? Não acontece nada? É melhor saber exatamente quanto desses R$ 3 bilhões corresponde a direitos e quanto surgiu de decisões corporativas. A sociedade brasileira tem o direito de saber, até porque é quem fica com o prejuízo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

E os 11 milhões? :: José de Souza Martins

É generoso defender os desvalidos da cracolândia, mas o verdadeiro compromisso social é com os interesses da maioria da população

O pouco que se viu, nestes dias, do confronto de opiniões sobre a cracolândia, entre o PSDB e o PT, já é suficiente para indicar uma tendência. De um lado, a cidade vista, pelo primeiro, como vítima do uso impróprio de suas ruas pelos viciados. De outro, a população de rua apresentada, pelo segundo, como vítima da administração atual.

Em matéria para a TV Estadão, Bruno Paes Manso chama a atenção para as origens históricas da cracolândia. Nos anos 90, os noias eram ameaçados e mortos nos bairros por grupos de extermínio, fosse de traficantes, fosse de moradores irritados com assaltos e roubos para o dinheiro da droga. Encontraram abrigo na antiga zona do meretrício, nas proximidades da Estação Júlio Prestes. Território do ilícito, porque supostamente protegido por policiais corruptos, abrigou, também, o tráfico livre e deu aos viciados a segurança de que careciam.

Ao perderem de vista a história dos territórios deteriorados dessas repúblicas populares dos socialmente marginalizados, os partidos políticos mostram que estão desprovidos de informações decisivas para solução desse problema, quando no acaso do poder. A recíproca acusação de responsabilidade pelo grave problema social, dos partidos políticos em confronto, acoberta a respectiva omissão e não raro os equívocos que cercam o entendimento de questões como essa. Não só equívocos seus, mas também dos grupos não partidários, com distintas e até opostas motivações, que investem na questão em busca de dividendos morais próprios.

Recuar ao ontem para compreender esse tema problemático pode ser decisivo. Situar o debate partidário fora do cenário de paixões que o cercam é fundamental para o eleitor, que será, no fim das contas, o juiz das providências de governo e dos programas de partidos para solucionar a questão. A cracolândia é constituída por uma população permanente de 400 pessoas e uma população flutuante de 2 mil. Essa é a conta de resto do censo dos cidadãos de meia cidadania que a ocupam e a usam. O censo de 2010 registrou que a população da capital é de mais de 11 milhões de pessoas. Uma proporção alta dessa população ladeia ou atravessa diariamente a cracolândia, enclave num dos mais importantes cenários de equipamentos culturais da cidade, como museus históricos e de arte e sua mais importante sala de concertos, além de ser um dos mais movimentados pontos de junção de linhas de trem e de metrô. A fraqueza política do debate esboçado está na omissão desse confronto decisivo para o eleitor. Com Henri Lefebvre, um dos maiores especialistas em cidades e sociedades urbanas, pode-se defini-lo como confronto entre quem usa a cidade, o cidadão, e quem a consome e preda, o viciado.

É generoso e significativo para a democracia brasileira que exista uma vigorosa opinião pública em defesa dos desvalidos da cracolândia. Ao se tornar um problema social, ela se torna problema de todos. É em nome de todos que são traçadas as políticas públicas, também as dirigidas a essa população. Mas políticas públicas que não levam em conta as carências das maiorias correm o risco de não levarem a lugar nenhum, nem mesmo às urnas. Penso que é desse tipo a decisão do ministro da Saúde, nestes dias em que a cracolândia inscreve-se no debate eleitoral, de criar um programa para a questão das drogas sobretudo um programa para a candidatura federal. Expõe-se o PT à crítica fácil de suas responsabilidades na questão da cracolândia. Não só por improvisos como esse, mas também porque foi em duas administrações petistas, inspiradas pela ideologia da periferização do centro da cidade, que a territorialização dos viciados e da droga se confirmou.

Por seu lado, a fragilidade do PSDB está em não ter construído um vocabulário, como fez o PT, de conversação tanto com a numerosa população da periferia quanto com os setores mais sensíveis ao apelo humanitário na classe média e na elite. O PSDB está em desvantagem com esses grupos dotados de enorme capacidade de multiplicação da opinião partidária. O apenas esboçado debate partidário sobre a cracolândia, embora de conteúdo mais consistente no discurso dos pré-candidatos do PSDB e muito menos consistente na improvisada reação do PT, teve na internet um efeito multiplicador muito maior em favor do PT do que do PSDB. Num momento em que as redes sociais derrubam governos em vários países, esse cenário deveria deixar os tucanos muito preocupados. Não basta falar em nome dos 11 milhões cujos interesses se contrapõem aos interesses dos 2 mil da cracolândia. É preciso mostrar que o verdadeiro compromisso social está também e sobretudo em que os interesses dos 11 milhões estão por trás da política muito positiva de recuperação urgente de um território a que a cidade tem direito. Nessa opção, a civilidade precede o vício. Não basta optar pela cidade e pela maioria. É preciso saber dizê-lo.

José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da faculdade de filosofia da USP, autor, entre outros livros, de “A POLÍTICA DO BRASIL LÚMPEN E MÍSTICO” (CONTEXTO, 2011)

FONTE: ALIÁS/O ESTADO DE S. PAULO

Cotidiano e rumo da política:: Rosemberg de Araújo Pinheiro

É muito comum nos dias de hoje, ouvirmos com frequênciana boca do povonos vários níveis socioeconômicos esta frase, todo politico é ladrão todo politico é corrupto. E na verdade os exemplos estão presentesem episódios cotidianos em todos os níveise casas parlamentares o que justifica de alguma maneira, essa forma depreciativa e desqualificante de se conviver e atuar com a politica.

Um fato é verdadeiro,esses políticos, continuam apesar das criticasefusivas,sendo eleitos e reeleitos pelos mais diversos partidos e por esse mesmo eleitor que os considerapolíticos desonestos, eleitores essesque com muita frequência durante as campanhas eleitorais, trocam seus votos por uma serie degentilezas, favores e passageiraspromessas, que podem variar de churrascos, jogos de camisa de futebol, ligadura de trompas,empreguinhos para os filhoa enterros. (existe na Baixada Fluminense, um vereador que se notabilizou por oferecer o Kit enterro oferece um processo que vai desde o atestado de óbito a cova rasa).

Na aqui no Rio de Janeiro também na Baixada Fluminense. Há alguns anos atrás, a população de forma esmagadora destinou seus votos na maioria dosmunicípios que compõema região,candidatos aprefeitos com suspeitas de ligaçõescomgrupos de extermínios ecomprometedoras fichas corridas no currículo.Todos esses políticos se tornaram milionários e hoje reproduzem o seu poder através dos seus feudos, diretamente de luxuoso condomínio na Barra da Tijuca, ou seja, o povo da baixada continua pobre e seus políticos outrora gente pobre atualmente muito rica e impune.

A eleição de uma liderança autentica e ideológicacomo ocorria com naturalidade até a década de noventa,ficou muito difícil deacontecerde forma espontâneacomo antigamente,inclusiveporque muitas dessas antigas lideranças da chamada esquerda. Adequaram-se a realidade e também construíram seus centros sociais onde durante o mandatoenfrentando a concorrência,oferecem suas benessese favores principalmente nas chamadas comunidades carentes, muitas vezes fazendo vista grossa para a relação conflituosa da população nessas localidades com o crime dito organizado.

As candidaturaspassaram a partir de certomomento ase constituírem, através de maquinas eleitorais e grupos fechados e quem desenvolveu essa pratica com rara competênciaaqui no Rio, foi o Ex-Prefeito Cesar Maia que a partir do seu primeiro mandato,aprontou um grupo de dezenas de Jovensde famílias declasse media carioca sem qualquer experiência politica, distribuídos pelas varias regiões da cidade e os elegeu vereadores, todos na faixa de 19 a 20anos entre os quais o seu próprio filho. O hoje deputado federal Rodrigo Maia, o atual Prefeito do Rio Eduardo Paes, o candidato à vice na chapa do SerraÍndio da Costa tambémfazem parte dessa safra.

Um dos problemas enfrentados pelo nosso grande mestre Sergio Arouca na época em que foi Secretario de Saúde do Município do Rio foi justamente nesse campo. Pois enquanto o aventureiroe subserviente AirtonXerez por sinal, que fim levou essa patética figura? Que na época havia pousado no PPS transformou sua secretaria em um centro social a serviço dosjovens e ávidos vereadores de Cesar Maia. O nosso Sergio Arouca na ocasião, não aceitou, por exemplo, que os postos de Saúdee demais unidades da secretaria fossem entregues aos cabos eleitorais dos meninos de Cesar Maia.

Enquanto isso a populaçãocom justiça,segueo seu discurso efusivo contra os políticos sem vergonhas que só pensam no próprio bolso. Porém essamesma população,em grandeparcela ageegosta de fazerpráticas e atitudes semelhantes aos políticos que critica ,quando sonegam os impostose se beneficiam aqui no Rio, dos chamados gatosdeenergiaeagua potável,quando utilizam sinais do chamado Gato NET (Furto de TV a Cabo) quandojogam lixo e entulhos pelas ruas equando jácomeçam a frequentar as chamadas bocas livres dos futuros candidatos a vereador (Churrascos, pagodes, almoços, etc.) afinal é hora de aproveitar e tirar proveito desses políticos que só pensam neles. Afinal eles precisam de voto uma vez por ano.

Rosemberg de Araújo Pinheiro, mestre em Saúde Coletiva/UFRJ. Diretor Adjunto da Faculdade de Medicina da UFRJ

Passage Cottin:: Ivan Alves Filho

História é o que não falta nas velhas calçadas de Montmartre, o pitoresco bairro parisiense. Antigo bastião da Comuna de Paris –na parte alta da localidade existe um museu em homenagem aos insurretos de 1871-, Montmartre é ainda uma espécie de território livre das artes. Ali morou Pablo Picasso e também Amadeo Modigliani fixou residência por algum tempo no bairro. Mas quem realmente encarnou como ninguém a alma boêmia de Montmartre foi Utrillo, Maurice Utrillo. Conforme ele mesmo diria em uma carta, a originalidade maior de Montmartre consistia em sua independência.

E independente o próprio Utrillo o seria até o fim. Filho da também pintora e modelo Suzanne Valadon, Utrillo não se ligaria a nenhuma tendência artística do seu tempo, então dominado pelo fovismo e pelo cubismo. Palmilhou um caminho próprio, retratando quase sempre um tema único: Montmartre, justamente. Soube ser universal a partir de um bairro, senão de umas poucas ruas. A sua imaginação bastava. O verdadeiro artista é assim, talvez.

Esse pintor de Paris, paradoxalmente, tem quase toda a sua obra exposta em Londres ou Nova York (nessa última cidade está a tela Le Lapin Agile, que retrata o célebre cabaré parisiense, freqüentado pelos pintores Toulouse-Lautrec e Degas e pelo poeta Apollinaire). Em Paris mesmo não há muito que admirar de Utrillo. Mas a sua Montmartre lá está ainda, praticamente intacta, desafiadoramente intacta.
Há algumas décadas, morei em Montmartre. A minha rua era na verdade uma interminável escadaria divida em vários lances e eu morava exatamente no meio dela. A escadaria conduzia à pitoresca Place de Tertre, reduto dos pintores domingueiros, no coração de Montmartre.

Residia eu em um pequeno beco, chamado Passage Cottin. Parece que Monsieur Cotttin foi um antigo - e importante - proprietário de imóveis no bairro. Não importa tanto. O relevante é que Utrillo pintou a Passage Cottin. Retratou o beco com a escadaria ao fundo, o meu prédio de três andares, a pequena janela lateral. A tela se intitulava justamente Passage Cottin e transmitia uma infinita sensação de silêncio e paz. Minha filha Moema nasceu praticamente ali naquele beco, naquela Passage Cottin. Eu diria que ela captou toda a serenidade estampada no quadro de Utrillo.

Guardião da minha memória, o quadro de Utrillo nada me deixa esquecer. Com ele, divido para sempre um pedaço da minha própria história.

Ivan Alves Filho é historiador, jornalista e membro da direção nacional do PPS

Chico Buarque - Geni e o Zepelim

2012: sem catástrofe, mas ainda difícil:: José Roberto Mendonça de Barros

A melhor coisa do ano que passou foi uma substancial redução do risco de uma catástrofe, detonada a partir de uma eventual quebra de alguma instituição bancária na Europa. Há uma concordância geral de que, se um evento de crédito tivesse ocorrido, a crise que se seguiria iria levar o mundo a uma situação pior do que aquela que foi detonada pela quebra da Lehman Brothers, em 2008.

O que virou o jogo foi a atuação do Banco Central Europeu (BCE), após a posse de Mario Draghi como presidente da instituição, no fim de outubro. Suas armas: a continuidade da compra de papéis soberanos de países do sul da Europa, uma redução nos juros básicos e uma gigantesca oferta de euros, da ordem de 500 bilhões, tomada por mais de quinhentos bancos, ainda no fim de 2011. Uma segunda oferta de dinheiro longo está programada para o fim de fevereiro.

Essa expansão do crédito tornou o balanço do BCE maior que o do Fed (US$ 2,9 trilhões no caso do Fed e US$ 3,2 trilhões para o BCE, nos dados de novembro), algo bastante surpreendente para um banco central famoso pelo seu conservadorismo. É curioso que os alemães, até então tão críticos a qualquer movimento mais ousado por parte das autoridades monetárias, não tenham feito uma única crítica pública ao BCE. Pode ser apenas coincidência, mas talvez tenha colaborado para o silêncio o fato que, na mesma ocasião, um grande banco alemão tenha frequentado as primeiras páginas dos jornais como resultado de fortes rumores de dificuldades e de escassez de recursos. Nada como um incêndio no quintal de casa para impor uma certa dose de pragmatismo.

Esses movimentos sinalizaram aos mercados que nenhuma instituição financeira iria quebrar e, como consequência, a temperatura do mercado baixou, com redução da volatilidade, medida pelo índice VIX da faixa de 30 para a faixa de 20. A rolagem das dívidas de Itália e Espanha começou a ser feita em volumes expressivos e a taxas cadentes, o que ainda se mantém. Por exemplo, as taxas para os papéis soberanos de um ano, que em meados de novembro haviam atingido insustentáveis 6,1% para a Itália e 5% para a Espanha, recuaram para 2,7% e 2%, respectivamente, em meados de janeiro. Continuando assim, as pesadas rolagens previstas para este primeiro trimestre poderão ser realizadas em condições mais razoáveis.

Draghi enfrentou e ganhou, felizmente, do conservadorismo dos alemães (que, seguido ao pé da letra, implicaria uma gigantesca crise bancária), sem trombar de frente com eles. Ao mesmo tempo, deixou claro que a política do BCE tem de ser complementada por movimentos na área fiscal e políticas que recuperem a capacidade de crescer do sul da Europa, sem o que o fim do euro será inglório.

Essa visão, que me parece correta e está cada vez mais clara, foi exposta com grande habilidade e contundência pelo chefe de governo da Itália, Mario Monti. Em recente visita à chanceler Angela Merkel, o premiê italiano apresentou os primeiros resultados, muito positivos, de seu ajuste fiscal: no terceiro trimestre de 2011, o déficit nominal do país recuou para 2,7%, número inferior aos 3% do famoso critério Maastricht. No ano, certamente o número é pior, mas é perfeitamente razoável esperar que a Itália cumpra suas promessas fiscais e comece a avançar em algumas reformas. Entretanto, Monti declarou que, se a Alemanha e outros líderes não se movimentarem para garantir o crescimento da Europa como um todo e com isso dar perspectivas de melhoria aos cidadãos do seu país, todo o esforço realizado poderá ser perdido por falta de suporte político.

De fato, é uma hipótese bem razoável admitir que a recessão resultante do ajuste provoque desgaste político, o que poderá abrir a porta para a ação de populistas radicais, faturando fácil em cima do sofrimento da população. Não se trata, pois, de realizar apenas dolorosos ajustes, embora esses sejam mais que necessários em muitos casos. Será indispensável restabelecer a confiança na população de que o crescimento futuro vai compensar o sacrifício presente e, para tanto, o papel estimulador das economias líderes é indispensável. A Itália mostra que tem muitos líderes valorosos, a despeito de um lamentável capitão de navio.

Por isso, o ano de 2012 começa melhor, quando comparado com a situação de setembro/outubro, mas ainda será muito difícil, pois a agenda de decisões segue sendo muito pesada. A volatilidade pode ainda voltar a se elevar, pois nem de longe está seguro que o euro vai acabar por prevalecer. Apenas é certo que a maioria dos países, senão todos, tem forte compromisso com a manutenção da moeda comum.

Desvalorização. A ação do BCE também foi decisiva para levar a uma desvalorização do euro, condição necessária, mas não suficiente, para a continuidade do projeto da integração da Europa. Até novembro, o sistema financeiro vivia muito pressionado, numa situação de baixa liquidez, uma vez que a captação de recursos no mercado local e no americano ficou difícil, tendo em vista os riscos crescentes associados à questão da dívida grega e de outros países. A partir de novembro, o euro começa realmente a se desvalorizar, em resposta à forte expansão monetária, devendo chegar a 1,2 por dólar em prazo não muito longo. Não é improvável que acabe, mais adiante, por buscar a paridade. Como colocou o professor Barry Eichengreen aqui no Estado, 2012 poderá ser o ano do dólar. Como muitos ativos americanos estão baratos (bolsa, imóveis, plantas industriais, etc.) e a perspectiva de crescimento para 2012 naquele país é bem mais favorável, um fluxo crescente de capital se deslocará para lá.

A desvalorização do euro tem também uma implicação relevante no mercado de commodities. Existe aqui uma correlação estabelecida há tempos: uma desvalorização da moeda americana leva a uma compensação, aumentando as cotações em dólares das mercadorias. Alternativamente, uma valorização pressiona para baixo os preços em dólares dos diversos produtos. Por exemplo, entre meados de outubro e 17 de Janeiro deste ano, o euro perdeu pouco mais que 10% em relação ao dólar, enquanto o índice CRB de produtos agrícolas recuou 9,7%.

Em minha interpretação, o ajuste entre as moedas é muito mais importante do que o efeito da crise sobre a demanda. Os dados internacionais não mostram nenhum recuo da demanda, dado o crescimento dos países emergentes. O mesmo vale para o petróleo e a maior parte dos metais. A grande exceção nesse grupo é o aço, onde uma gigantesca capacidade ociosa pesa nas cotações; também o preço do gás natural, em forte queda nos EUA, é facilmente explicado pela enorme elevação na produção do chamado "shale gas", a que já fizemos referência neste espaço.

No Brasil, a valorização do dólar se reflete na cotação do real. Embora a entrada de recursos financeiros possa vir a reduzir as cotações do dólar ante o real, até aqui os preços de alimentos pouco ou nada caíram.

O BC estava correto ao prever forte piora na crise em meados do ano, embora hoje reconheça que o risco de uma crise bancária arrefeceu muito. Entretanto, o efeito deflacionário da crise não ocorreu, pelo menos até agora. Outra implicação da nova situação é que os produtos provenientes da Europa ficarão muito competitivos, especialmente maquinário, onde a diferença de qualidade e de melhor assistência técnica em relação aos chineses é bem grande. A indústria nacional continuará desafiada.

Economista e sócio da MB Associados

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Que rei sou eu?:: Míriam Leitão

Um dos grandes empresários alemães, Wolfgang Reitzle, presidente da Linde, fornecedora de gases especiais e de equipamentos, disse numa entrevista à "Der Spiegel" que a saída da Alemanha do euro não deve ser um tema tabu. Numa resposta que surpreendeu até o repórter, disse que a Alemanha exportaria menos, o desemprego aumentaria um pouco, mas em cinco anos o país estaria mais forte.

"O que eu não concordo é que uma grande parte dos meus impostos terminem indo para países que não controlam suas economias responsavelmente." O jornalista quis saber se ele tinha um plano B para a empresa dele, caso houvesse um desastre na Zona do Euro, e ele respondeu que a estagnação europeia afetaria apenas 30% do faturamento. "Seremos uma empresa que, em vez de 13 bilhões, fatura 9 bilhões e que opera principalmente na Ásia."

Ele resumiu dois pontos que podem conquistar as mentes alemãs. A ideia de que eles pagam a conta de países que não têm controle fiscal e a de que basta apostar no modelo que tem dado certo, que é ser grande processador de produtos que importa da Ásia e exporta para outros países com mais valor agregado.

A Alemanha cresceu no ano passado 3% e reduziu o desemprego, enquanto outros países da Europa ficaram estagnados e viram o desemprego aumentar. Exportou US$1 trilhão, numa região que perde competitividade. Já fez reformas, como a elevação da idade de aposentar para 67 anos, enquanto a França enfrentou batalha de rua de estudantes contra a elevação para 62 anos. Entre as três grandes economias da Zona do Euro, é a única que continua tendo a sua dívida avaliada como triplo A. É considerada em vários outros países em crise como sendo a economia que mais se beneficiou da formação da moeda comum. E mesmo lá há insatisfação e problemas.

O segundo maior banco do país, o Commerzbank, tenta captar no mercado para cumprir a exigência de capitalização de 5,3 bilhões feita pela Autoridade Bancária Europeia. Isso num tempo em que o mercado interbancário está travado pelo temor de uns bancos em relação a outros. E com razão, porque os bancos alemães estão muito expostos às dívidas dos países da região. Segundo levantamento da Reuters, seus bancos carregam US$177 bilhões de dívida da Espanha; US$161 bi da Itália; US$110 bilhões da Irlanda; US$36 bilhões de Portugal; e US$21 bilhões da Grécia. Uma encrenca de US$500 bilhões.

A verdade é que a situação não está fácil nem para a Alemanha. As projeções para este ano são de que o país vai crescer apenas 0,7%. Sua dívida também é alta, e tem déficit público, ainda que menor do que o da maioria dos países da região.

O coordenador do Comitê de Relações Institucionais da Câmara Brasil-Alemanha, Ingo Ploger, está na Alemanha, e de lá contou que o clima entre empresários ainda é de otimismo, mas que a confiança começou a ser afetada com a postergação de investimentos:
- Estive ontem em uma feira de Frankfurt que reuniu 1.500 empresários. Ao mesmo tempo que havia um clima de comemoração pelos bons resultados de 2011, muitos empresários disseram que estão adiando investimentos porque as incertezas aumentaram muito. Mas o clima geral é bom.

O que surpreende no caso da Alemanha é a rapidez com que o país conseguiu retomar o crescimento após a crise de 2008, enquanto a Europa continuou mal. O PIB alemão encolheu 5% em 2009, mas as exportações garantiram um crescimento de 3,5% em 2010 e de 3% no ano passado. O desemprego em 2011 foi de 6,8%, o menor desde a reunificação da Alemanha em 1990. Os alemães começaram a reformar o Estado para reduzir custos desde a gestão do chanceler social-democrata Gerhard Schroeder. O que os italianos, gregos, espanhóis estão tentando fazer no meio da crise foi feito de forma preventiva.

- A Alemanha colhe hoje os frutos de reformas aprovadas há cerca de cinco anos atrás. Houve reformas na Previdência, na saúde e nos serviços sociais e isso reduziu gastos do governo. Houve negociação entre empresários e sindicatos para evitar aumentos salariais muito acima da inflação - explicou Ploger.

A economia alemã é altamente dependente da China. Em 2010, a corrente de comércio entre os dois países chegou a US$142 bilhões, o que foi 30% de todo o comércio da União Europeia com os chineses. No ano passado, até setembro, já havia chegado a US$127 bilhões. Um cenário de redução do crescimento chinês é assustador para a Alemanha.

A Alemanha tem orgulho da sua capacidade de superação do passado. Superou a herança do nazismo da primeira metade do século XX e a do comunismo da parte oriental das décadas seguintes. Reconstruiu a unidade do país após mais de 40 anos de separação com modelos econômicos totalmente diversos. Fez a aposta forte na unidade comercial, monetária e econômica com os países vizinhos, mas ainda sofre uma crise de identidade. Em artigo divulgado pelo Project Syndicate, o professor de Princeton Jan-Werner Mueller definiu o país como: "pequeno demais para ser um ator global e grande demais para ser apenas o primeiro entre iguais." A crise ressalta o centro desse dilema alemão.

FONTE: O GLOBO

A tempestade pode não vir:: Celso Ming

Apesar das projeções sombrias divulgadas na semana que passou pelo Banco Mundial (Bird) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), há um punhado de sinais que apontam para dias mais ensolarados no cenário da economia internacional.

O primeiro deles vem dos Estados Unidos e dá conta de notável recuperação do emprego. Em dezembro, por exemplo, os níveis de desocupação recuaram dos 9,2% a que chegaram, em julho, para 8,5%. As novas projeções sobre a atividade econômica também sugerem certa reação. Em vez da quase paradeira que foi o crescimento insatisfatório de 1,7% estimado para 2011 (os números definitivos ainda não estão disponíveis), as novas previsões são de que dá para esperar para 2012 uma expansão do PIB de pelo menos 2,5%.

Outro bom indício foi passado pelo Escritório Nacional de Estatística da China: salto de 9,2% na economia chinesa no ano passado, mais alto do que as apostas que vinham sendo feitas pela maioria dos observadores internacionais - de um avanço não superior a 8,6%. Além disso, foi confirmada uma inflação sob controle, de não mais do que 5,4%. Ficou nítido, então, que também em 2012 a China pode avançar mais do que os 8,0% hoje esperados.

Dos dirigentes da área do euro - epicentro dos maiores riscos de estagnação e de turbulência - ainda não foram obtidas decisões consistentes para a saída desta crise de dívidas e fortalecimento da moeda comum. No entanto, mudou a maneira como o Banco Central Europeu (BCE) - agora sob a direção do italiano Mario Draghi - passou a atacar os grandes focos de incêndio. Além de prosseguir com suas operações de recompra de títulos soberanos dos países mais vulneráveis do bloco monetário (especialmente da Itália e da Espanha) com o objetivo de criar mercado e derrubar juros (yields), o BCE abriu uma linha, em princípio, ilimitada de crédito de mais longo prazo (3 anos) com as instituições financeiras, a juros de apenas 1% ao ano. O primeiro megaleilão realizado em 21 de dezembro alcançou a magnitude de 489,2 bilhões de euros (US$ 630 bilhões). A segunda oferta está agendada para fevereiro.


No conjunto, essas enormes operações de crédito produziram quatro efeitos de grande importância: (1) abriram canal indireto de refinanciamento das dívidas soberanas, na medida em que financiaram também o principal credor - os bancos; (2) obtiveram no mercado relevante redução dos juros cobrados no lançamento de novos títulos destinados tanto à rolagem de dívida velha como ao financiamento de novos déficits orçamentários; (3) afastaram as mais sérias ameaças de colapso geral do crédito; e (4) desarmaram as principais fontes de desconfiança e turbulência que pairavam sobre o mercado financeiro mundial.

Informações mais frescas mostram que o BCE elevou para perto de 2,7 trilhões de euros o total de ativos que, em meados de 2011, era de 1,9 trilhão de euros - como se pode ver no gráfico. Essa injeção de moeda emitida do nada começa a levantar duras críticas dos mais ortodoxos. No entanto, não há, no momento, nenhum vestígio preocupante de inflação.

As forças que apontavam para um panorama global de marasmo e depressão ainda não foram dispersadas. Mas, puxando essas novidades para o nosso chão, ficou claro que as cozinheiras do governo Dilma, que preparam a caldeirada de política econômica de 2012 (o tal do novo mix), já não podem partir do princípio de que há uma tempestade perfeita em formação no mercado internacional.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Kassab e o espírito do tempo:: Vinícius Torres Freire

Prefeito paulistano cria partido prodígio da falta de identidade política e até chega a conectar PSDB e PT

É preciso um tanto de suspensão da descrença ou do desencanto cínico para prestar atenção nas artes de Gilberto Kassab, prefeito paulistano e diretor-executivo do PSD, mas vale um tanto a pena.

Kassab tornou-se uma das figuras mais importantes da política brasileira, mas em si mesmo não tem importância alguma, pois não se importa com conteúdo algum.

É uma das raras novidades, mas não é novo, pois nada tem a propor de substancial para o futuro. Seu tirocínio político é funcional; é um engenheiro político, um poema concreto sem forma, digamos sarcasticamente, um oximoro.

Como se sabe, Kassab negocia uma aliança com o PT na eleição paulistana a fim de aumentar o seu cacife na aliança com o PSDB serrista -ou vice-versa, mas tanto faz.

Sim, o prefeito já declarara que seu novo partido não era de centro nem de esquerda ou de direita.

Sabíamos que o seu PSD era uma agência de travestismo político, veículo de adesão a governos ou projetos de poder viáveis. Nisso em nada difere do PMDB, que quase monopolizava esse serviço, ou do PSB "aggiornato" de Eduardo Campos, um empreendimento semelhante ao do PSD, mas que atende a clientelas mais ao Norte do país.

PSD e PSB decidiram explorar o nicho de mercado da reciclagem de ex-membros de partidos de oposição, de ocupar praças abertas pela decadência do PSDB e do DEM e, enfim, de quebrar o quase monopólio do PMDB, tendo em vista a nova configuração política do Brasil "estável", redefinida pelo Estado de Bem-Estar Tropical do PT.

Kassab porém afinou a arte da descaracterização política, é um cão sem plumas, pura forma. Dirige a barca do adesismo à deriva e, ao mesmo tempo, conecta o tucano importante com maior aversão ao petismo, José Serra, de quem é cria, a Lula, talvez ao governo Dilma e talvez ao candidato a prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, mesmo contra a vontade deste.

Na sua categoria, Kassab é um prodígio. Eduardo Campos, o governador pernambucano, também parece um, embora nós do centro-sul sejamos vergonhosamente um tanto desinformados sobre o que acontece mais ao Norte do país.

Sublegendas do partido adesista brasileiro, o maior do Brasil, existem aos montes. Mas o PSD ganha musculatura fazendo exercícios tanto com o PT como com o PSDB, os partidos restantes com alguma identidade no país (afora os da microextrema-esquerda).

PSD e PSB têm algum futuro maior, além da eventual sorte de ver um candidato seu cair nas graças do eleitorado? Sem substância alguma, podem criar um programa popular, com adesão de algumas elites, que não pareça aventura?

O PSDB foi e é o partido da elite mais esclarecida, que soube aproveitar o tumulto superinflacionário para implantar um projeto que livrou o país de anacronismos econômicos e o primeiro governo democrático politicamente estável do Brasil. O PT foi a novidade, o partido da pequena classe média de operários (sic), funcionários públicos e bancários, por exemplo, que jamais tinham ido ao poder a não ser como agregados menores.

O que há ou pode haver dentro do PSD e do PSB? Serão apenas novos coadjuvantes, PMDBs mirins? Ou vão agregar algo mais?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fórum Social vai repercutir protestos anticapitalistas com dinheiro público

Evento, que começa na terça-feira no RS, teve ao menos R$ 3,6 milhões em investimento com verbas públicas

Felipe Bächtold

PORTO ALEGRE - O Fórum Social volta nesta semana ao Rio Grande do Sul, onde foi criado há 11 anos como contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne líderes empresariais e políticos na Suíça.

Além de Porto Alegre, irão sediar o evento os municípios vizinhos de Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo.

O encontro, que começa nesta terça e vai até domingo, é bancado em sua maior parte com dinheiro público -R$ 3,6 milhões em verbas públicas, segundo levantamento feito pela Folha.

Um dos focos do Fórum Social será o movimento global de protesto contra o mercado financeiro. São aguardados integrantes das manifestações da Europa, como os "Indignados" espanhóis, e dos Estados Unidos, em uma tentativa de aproveitar a repercussão desses protestos pelo mundo em 2011.

Para o empresário Oded Grajew, um dos idealizadores do Fórum Social, a aproximação é natural porque o evento serviu para a "gestação" de algumas dessas mobilizações. "Essas correntes são velhas frequentadoras do Fórum", diz.

Para o prefeito de Novo Hamburgo, Tarcísio Zimmermann, o evento mudou e não é mais radicalizado. Na primeira edição, a imagem de um ativista francês destruindo plantações de soja transgênica ficou famosa.

Programação

O Fórum terá mais de 800 atividades, como debates e oficinas, sobre temas que vão de quilombolas e direitos autorais a saúde pública. Também haverá plenárias sobre a conferência ambiental Rio+20, que ocorre em junho.

A presidente Dilma Rousseff deve participar da programação na quinta-feira. Outras estrelas serão a líder estudantil chilena Camila Vallejo, a ex-senadora Marina Silva e o sociólogo português Boaventura Sousa Santos. O jornalista Amaury Ribeiro Júnior vai divulgar o livro "A Privataria Tucana".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Grupo acampado há um mês faz oposição a evento

PORTO ALEGRE - Acampado há um mês na principal praça de Porto Alegre, um grupo de manifestantes, inspirado no movimento Ocupe Wall Street, já anunciou oposição ao Fórum Social 2012 e a seu modelo "estatal" e "institucionalizado".

O Ocupa POA (Porto Alegre) critica a aproximação do evento com partidos políticos e o patrocínio de empresas que estão envolvidas em projetos polêmicos, como o da usina hidrelétrica de Belo Monte (PA).

"O Fórum está usando muito dos discursos dos "indignados", mas segue uma lógica completamente diferente", diz Emanuel Quadros, 25, um dos integrantes do grupo.

Ainda assim, o Ocupa POA deve participar de algumas das atividades do evento.

Manifestantes se revezam na guarda das 11 barracas que estão armadas na praça da Matriz, em frente à sede do governo do Estado e à Assembleia Legislativa.

Moema Miranda, diretora da ONG Ibase, que ajuda a organizar o Fórum Social, afirma que o patrocínio oferecido pelos governos não influencia os rumos do evento.

Para ela, o apoio ocorre por haver uma "demanda da sociedade civil".

"Esse dinheiro não é do governo, é do povo brasileiro. O que estamos tentando é fazer com que esse dinheiro sirva à cidadania. É uma disputa legítima", argumenta.

O governo do Rio Grande do Sul patrocina o Fórum

Segundo o governador Tarso Genro, isso acontece porque o evento coloca o Estado como protagonista de mobilizações internacionais. (FB)

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PSDB prepara prévia para apaziguar ânimos

Dividido e inerte, partido espera que modo de escolha de candidato à Presidência em 2014 mude clima interno

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Diante das críticas crescentes à apatia tucana e da persistência das divergências internas, especialmente entre mineiros e paulistas, a cúpula do PSDB decidiu iniciar imediatamente o recadastramento de filiados em todo o país como primeira providência para realizar prévias para a escolha do próximo candidato à Presidência.

A perspectiva é que o candidato seja definido até o fim do ano, no mais tardar no início de 2013. Antes disso, porém, o partido precisa se reorganizar para as eleições municipais deste ano, diante do risco de perder para o PT a hegemonia em seu principal reduto eleitoral, São Paulo.

A briga travada nos bastidores entre o ex-governador José Serra (SP) e o senador Aécio Neves (MG) pela preferência do tucanato para a disputa presidencial de 2014 vem deixando em segundo plano não só a reestruturação do partido como sua atuação na oposição ao governo Dilma. A aposta do presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), é que esse clima de guerra acabe diante da perspectiva de realização das prévias.

- Ao término de 2012 estaremos em condições de realizar as prévias para as eleições presidenciais. Nossa disposição é de escolher nosso candidato logo depois das eleições deste ano - afirma Guerra.

Suspeitas de conspiração e relações cortadas

Na última semana, Guerra fez nova tentativa de amenizar o clima de disputa entre Aécio e Serra. Em reuniões com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sondou mais uma vez a possibilidade de Serra entrar na disputa pela prefeitura de São Paulo - hipótese que deixaria o PSDB paulista numa situação mais confortável para enfrentar a candidatura do petista Fernando Haddad, patrocinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Por outro lado, praticamente sepultaria as chances de Serra de reivindicar a vaga de candidato à Presidência em 2014. Mas Serra não está disposto a entrar na disputa paulistana.

O clima no PSDB anda tão ruim que bastou a presença de Aécio nos encontros com Alckmin e Fernando Henrique para alimentar novas suspeitas de uma possível conspiração contra o ex-governador paulista. Para se ter uma ideia, Guerra e o primeiro vice-presidente do PSDB, o ex-governador Alberto Goldman, um dos principais aliados de Serra, não se falavam desde o fim do ano passado.

A confusão começou depois que Guerra encomendou a Goldman um balanço sobre o primeiro ano do governo Dilma. O texto, no entanto, acabou sofrendo modificações, o que desagradou não só Goldman como Serra, devido à redução no tom das críticas ao PT.

- Meu texto não chegou a ser examinado pela Executiva Nacional, e, como havia o compromisso de que só seria apresentado à imprensa depois do Reveillon, viajei para São Paulo. Mas fui surpreendido com a publicação do documento no site do partido com várias mudanças. Desde então, tenho perguntado por e-mail ao presidente Sérgio Guerra os motivos destas alterações, e não recebi qualquer resposta - relata Goldman.

FONTE: O GLOBO

Aliados de Serra e de Aécio não se entendem

Reunião da Executiva teve bate-boca entre paulistas e mineiros

BRASÍLIA. A última reunião da Executiva Nacional do PSDB, pouco antes do Natal, acabou em um ríspido diálogo entre o ex-governador José Serra e o secretário-geral do partido, o deputado Rodrigo Castro (MG), aliado do senador Aécio Neves. Indignado com a publicação do livro "Privataria tucana", do qual é um dos principais alvos, Serra cobrou a solidariedade do partido aos ataques recebidos e insinuou indiretamente que tucanos mineiros estavam por trás da publicação. Castro reagiu de maneira dura, assim como o deputado Eduardo Azeredo (MG).

Essa brigalhada sem fim entre mineiros e paulistas tem atrapalhado também o plano dos tucanos de reestruturar o partido, sobretudo na área de comunicação. A pesquisa encomendada ao cientista político Antonio Lavareda, que concluiu que o PSDB vem perdendo a guerra da comunicação para os petistas, foi recebida com críticas à ala paulista do partido.

- É equivocada a avaliação de que não avançamos na reestruturação do partido. Sob o comando do presidente Sérgio Guerra começamos a resgatar o legado deixado pelo governo Fernando Henrique Cardoso e já começamos a reorganizar setores fundamentais do partido. Promovemos um encontro de jovens e agora vamos fazer um de trabalhadores. Além disso, já começamos a nos preparar para a realização de prévias - rebate o deputado Rodrigo Castro.

Aécio é cobrado a se posicionar

A falta de clareza sobre quem será o candidato do PSDB à sucessão da presidente Dilma Rousseff é o maior complicador no ninho tucano. Embora Aécio seja apontado por grande parte do partido como o nome natural para 2014, seu comportamento discreto no Senado tem deixado muitos aliados na dúvida sobre suas intenções e condições políticas, além de abrir espaço para ambições de outros possíveis candidatos.

Até mesmo aliados do senador mineiro já admitem que Aécio terá de se posicionar de maneira mais clara nos próximos meses. Se não for mesmo disputar a prefeitura paulista, Serra poderá ser o principal adversário de Aécio nas prévias. O líder da bancada no Senado, senador Álvaro Dias (PR), propõe que o partido realize uma espécie de primária, a exemplo do que acontece nos EUA, e não descarta a possibilidade de entrar nesta disputa.

- Esse modelo de impor um nome de cima para baixo já se esgotou. As eleições primárias seriam o caminho para a construção da unidade partidária - defendeu Álvaro Dias.

FONTE: O GLOBO

Dinheiro para saúde de índios abastece fraudes

Em apenas quatro investigações, concluídas nos últimos dois anos, prejuízo aos cofres públicos chega a R$13,6 milhões

Roberto Maltchik

BRASÍLIA. Documentos e depoimentos obtidos pelo GLOBO apontam para a existência de esquemas de desvio de recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e do Ministério da Saúde em pelo menos nove dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) distribuídos de Norte a Sul do Brasil, além de ONGs que receberam dinheiro para ações de saúde indígena. As fraudes estão concentradas no serviço de abastecimento de combustível de barcos e veículos, compra de alimentos e pagamento por horas de voo para o deslocamento de pacientes, médicos e insumos. Apenas o contrato nacional de combustível, firmado entre a Funasa e a Ticket Serviços S/A, pagou, nos últimos 4 anos, R$142,5 milhões nos 26 estados e no Distrito Federal.

As fraudes, de acordo com farta documentação elaborada por fiscais e gestores da Saúde ao longo de 2011, teriam beneficiado servidores públicos em postos de chefia, empresários e lideranças indígenas, que recebiam sua "cota de combustível" como "cala boca" preventivo ao péssimo atendimento de saúde, relatam procuradores da República e agentes federais com atuação na Amazônia Legal.

Enquanto o dinheiro escorre no ralo da corrupção, o Dsei Javarí, na segunda maior área indígena no país, com 4.915 moradores, contabilizou, entre 2010 e 2011, 255 nascidos vivos e 33 mortes por desnutrição aguda, diarreia e pneumonia de crianças entre 1 e 5 anos - 1,2 mortes para cada dez nascimentos.

As irregularidades prosperaram no uso do Ticket Car, cartão de pagamento de combustível para veículos terrestres e fluviais. Em Manaus, por exemplo, os cartões dos servidores públicos caíram nas mãos de intermediários, que administram postos que atendem à Funasa. Em 05 de abril de 2011, por meio do memorando 017/2011, um fiscal de contrato relatou a existência de veículos parados, no Dsei de Manaus, mas que continuavam "rodando" e sendo abastecidos de maneira fraudulenta.

Ofícios que autorizam pagamentos são recolhidos

Foi o estopim para a descoberta de 53 cartões de abastecimento, que ficavam sob controle do Posto Sideral, em Manaus. O estabelecimento pagava créditos de combustível para contas bancárias indicadas pelos chefes dos distritos indígenas, conforme admitiu ao GLOBO o encarregado administrativo do posto, Landy Rodrigues Lima. Dinheiro que, em tese, servia para subsidiar o abastecimento de veículos no interior do estado.

--- Eles deixavam (os cartões) aqui e, no fim de semana, buscavam. Ninguém entendia o porquê. Eu só fazia passar o que eles pediam para passar. A gente fazia a intermediação --- diz Lima, que não sabe quanto o posto ganhava na intermediação.

O MPF descobriu que os chefes do Dsei emitiam ofícios para liberar os créditos de combustível. Porém, no final do mês, funcionários do distrito recolhiam nos postos os ofícios de forma a sumir com as provas, informa um procurador da República. Técnicos do Ministério da Saúde, ouvidos pelo GLOBO, detectaram procedimento semelhantes nos Dseis Tefé e Parintins. Um servidor, que pediu anonimato, conta que o dinheiro também beneficia lideranças indígenas. É a cota de combustível.

Os desvios agora revelados reforçam um histórico de fraudes no atendimento de saúde indígena. Apenas quatro investigações federais, concluídas nos últimos dois anos no Amapá, Rondônia e Roraima, apontam prejuízo de R$13,6 milhões. São desvios na compra de alimentos, pagamentos de horas de voo, e serviços sem execução comprovada.

Foram detectados indícios de desvios em combustíveis, uso fraudulento de cartão de abastecimento e pagamentos irregulares por serviços nos Dseis Médio Rio Solimões e Afluentes; Araguaia; Minas Gerais/Espírito Santo; Cuiabá; Xavante/MT; e Médio Rio Purus. A documentação seguiu para Brasília. O coordenador nacional dos fóruns de conselhos distritais de saúde indígena (Condisis), Jorge Marubo, confirma as irregularidades e diz que há grande resistência - inclusive entre lideranças indígenas - para estancar a sangria.

- Para romper esse sistema de desvio de recursos é muito difícil. Alguns indígenas se envolvem nisso, querem manter o sistema da Funasa. Há muita dificuldade para a organizar a mudança - diz Marubo, que vive no Vale da Javarí, região que, segundo ele, tem o pior atendimento de saúde indígena do Brasil.

FONTE: O GLOBO

União com Kassab gera rebelião no PT

Setores à esquerda do partido em SP não aceitam negociação entre o prefeito, do PSD, e os líderes petistas em torno da eleição na capital

Fernando Gallo, Roldão Arruda

Preocupados com a aproximação do PSD atrás de uma possível composição nas eleições municipais, setores da base do PT-SP criticam a direção petista pela abertura das negociações e integrantes de tendências de esquerda até ameaçam deixar a legenda caso o acordo com a sigla dirigida pelo prefeito Gilberto Kassab prospere.

"Não admito acordo com esse prefeito e seu partido. Sou membro-fundador do PT e, caso isso ocorra, vou rasgar minha carteirinha e desfazer minha filiação", afirma Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, vice-presidente da Central dos Movimentos Populares. "Não posso aceitar acordos espúrios da direção do partido sem consultar a base."

Gegê afirma que vai defender o voto nulo se a aliança com o PSD se concretizar. "Vamos perder a eleição sem o apoio dele? Não importa. Prefiro perder conscientemente a ganhar e não governar. O PT já perdeu muito de seu projeto original por conta desse tipo de acordo."

As tensões na base petista têm origem na desgastada relação entre a atual administração e os movimentos populares de moradia e saúde.

Em 16 de julho do ano passado, em reunião que contou com cerca de 450 filiados, o setorial de habitação do PT-SP decidiu declarar Kassab "inimigo número 1 dos movimentos de habitação e dos sem-teto em São Paulo" e "recomendar ao PT em todas as suas instâncias que não realize nenhum tipo de aliança com este prefeito". O documento elaborado falava ainda em "encaminhar uma agenda de lutas para tirar este prefeito nefasto e seus aliados da prefeitura".

As principais críticas do setor de moradias referem-se a reintegrações de posse consideradas violentas pela base petista, a despejos e remoções levadas a cabo pela gestão Kassab e "à entrega da cidade pelo prefeito ao capital e à especulação imobiliária, associados aos grandes projetos de infraestrutura", conforme a resolução de julho passado.

"A atual administração tem como finalidade beneficiar o setor imobiliário, e não contribuir para uma política habitacional voltada à população de baixa renda", afirma Raimundo Bonfim, integrante do setorial de habitação petista. "É quase impossível imaginar que as lideranças vão subir no mesmo palanque com o Kassab. A origem do Kassab é o malufismo. E depois ele se aproximou do Serra", disse ele.

Saúde. O possível alinhamento com Kassab é malvisto também pela base do PT ligada ao setor de saúde, que afirma que a atual gestão promove ações para privatizar a área e diminuir o controle social sobre os equipamentos públicos. Duas das principais críticas se referem à entrega da administração de unidades de saúde às Organizações Sociais e a mudanças que a atual gestão tenta fazer na composição do conselho municipal de saúde.

"Estamos em uma guerra declarada com o Kassab. Eles querem mudar a legislação do conselho pra que eles possam ter mais autonomia em cima", diz Frederico Soares de Lima, conselheiro municipal de saúde e militante do diretório petista de Ermelino Matarazzo. "É um governo centralizador, autoritário, que não respeita a participação das pessoas, o controle social."

Frederico avalia que o movimento de saúde teria dificuldades para apoiar uma chapa que contasse com a participação de Kassab. "Como a gente, que sempre combateu esse tipo de política, poderia justificar o apoio a um candidato ligado a ele?"

Lula. Confrontados com o fato de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende o alinhamento com o PSD, os petistas demonstram certa decepção. "Ah, deixa chateado. Ele é uma referência", diz Raimundo. "Incomoda", confessa Frederico.

Opositora da aliança, a secretária de mobilização do PT-SP, vereadora Juliana Cardoso, diz: "A militância tá com garra de sair pra rua. Os dirigentes têm de tomar cuidado pra não quebrar isso".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSDB desiste de candidaturas no interior para atrair PSB

Para fechar alianças com Eduardo Campos, hoje com Dilma, tucanos evitam candidaturas em Rio Preto e Campinas

Tatiana Fávaro e Chico Siqueira

A direção do PSDB paulista, controlada pelo grupo do governador Geraldo Alckmin, decidiu abrir mão de candidaturas do partido em cidades importantes do Estado neste ano em favor do PSB, aliado que os tucanos querem atrair na capital e nas eleições de 2014.

O senador Aloysio Nunes Ferreira, o mais votado do País, desistiu de lutar por candidatura própria do PSDB para Prefeitura de São José do Rio Preto (SP), seu reduto eleitoral. Aloysio, que pregava desde 2010 candidaturas próprias do PSDB nas grandes cidades de São Paulo, viu seu plano sofrer resistência por parte dos diretórios estadual e local do partido e já admite o apoio dos tucanos à reeleição do prefeito Valdomiro Lopes (PSB).

"Não há ninguém que se disponha a ser candidato. Por isso, o caminho deverá ser apoiar a reeleição do Valdomiro", disse Aloysio. "Eu gostaria que houvesse um candidato, mas não posso forçar uma situação, não posso fazer mágica, tirar um coelho da cartola e inventar um candidato, já que o Vaz (deputado tucano Vaz de Lima) ou a mulher dele não estão dispostos e eu também não vou concorrer", completou.

Campinas. Abrir mão de ter candidatura própria para apoiar o deputado federal Jonas Donizete (PSB) na disputa pela Prefeitura de Campinas é uma tendência para o PSDB na cidade.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) sinalizou a possibilidade da aliança no ano passado ao presidente do PSB nacional, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. De acordo com o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB), candidato derrotado em três eleições municipais e membro da executiva nacional do partido, o PSDB tem interesse em apoiar Donizette. A aliança estaria condicionada a uma "gestão compartilhada" no município, apoio para a reeleição de Alckmin em 2014 e reforço para os tucanos na corrida presidencial.

"Faço parte da Executiva Nacional e tenho que ter uma visão macro", disse o deputado. "Não dá para pensar única e exclusivamente em Campinas", afirmou Sampaio, que disse ter se reunido com o governador em novembro para expor a importância de um movimento do partido em apoio a Donizette. De acordo com o deputado, o governador concordou com a análise.

Segundo a deputada estadual Célia Leão, a decisão de lançar candidato ou apoiar o deputado federal do PSB será tomada na próxima reunião de diretório, marcada para fevereiro. "Tenho nomes fortes como os de Jurandir Fernandes (secretário municipal dos Transportes Metropolitano de São Paulo), Carlos Sampaio e Artur Orsi (vereador e autor do pedido de Comissão Processante contra o prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos, do PDT), mas se não houver candidatos, a tendência é o apoio ao Jonas."

Donizette disse que vai aguardar a decisão do PSDB. "Tenho um compromisso pessoal com o partido de caminharmos juntos, de termos uma costura para as eleições municipais, agora apenas aguardo uma decisão partidária", disse.

Segundo ele, a aliança não impõe condições, mas o caminho natural seria o apoio recíproco em situações futuras.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Visibilidade e poder democrático :: Roberto Romano

A luta entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) define uma nova e importante etapa na democratização do Estado brasileiro. Como previsível, os intocáveis do Judiciário aliam-se aos congressistas e políticos do Executivo, ampliando a campanha contra a imprensa. Novamente o erro é atribuído a quem divulga os males institucionais. A publicidade integra a doutrina e a prática do Estado moderno. Como o Brasil só com boa vontade merece o nome de plena democracia (o nome certo do nosso regime é federação oligárquica), até hoje venceram o privilégio e a impunidade. Descobertos os seus erros, os donos dos palácios desejam aplicar viseiras novas no Ministério Público (MP) e na mídia.

"São proveitosos o ato justo e a obediência às leis, quando existem testemunhas da conduta. Mas se não corre o risco de ser descoberto, o indivíduo não precisa ser justo." A frase vem do sofista Antifonte (século 5.º a.C.), mas serve com perfeição às nossas elites. O debate sobre a visibilidade do justo ou injusto marca o Ocidente. Platão narra a fábula de Giges: pastor humilde, o herói descobre um anel que, se girado no dedo, o torna invisível. Ele usa tal privilégio para matar o governante, ganhando a rainha e o trono. O mito de Giges ilustra a razão de Estado: o poderoso busca o sigilo para seus atos, mas tenta ver o que se passa nas casas das pessoas "comuns" (sobretudo nos bolsos) e nos países estrangeiros. Nasce daí a censura unida às polícias secretas, à espionagem, ao desejo de impor aos governados normas éticas jamais seguidas pelos dirigentes.

O ideal do governo que tudo enxerga, tudo ouve, tudo alcança é a base histórica das atuais políticas autoritárias. O governante acumula segredos e deseja que os súditos sejam controlados. Desse modo se estabelece a heterogeneidade entre cidadãos e dirigentes.

Na aurora dos tempos modernos, segundo um fino analista da razão absolutista, "a verdade do Estado é mentira para o súdito. Não existe mais espaço político homogêneo da verdade, o adágio é invertido: não mais fiat veritas et pereat mundus, mas fiat mundus et pereat veritas. As artes de governar acompanham e ampliam um movimento político profundo, o da ruptura radical (...) que separa o soberano dos governados. O lugar do segredo como instituição política só é inteligível no horizonte desenhado por esta ruptura (...) à medida que se constitui o poder moderno. Segredo encontra sua origem no verbo latino secernere, que significa separar, apartar" (Jean-Pierre Chrétien-Goni).

A democracia, surgida contra o poder absoluto, instaurou a visível responsabilidade política dos governantes. Na "accountability" os operadores de cargos públicos (do rei aos juízes) tornam os seus atos visíveis para a cidadania. Mas o século 19 trouxe a contrarrevolução napoleônica e a Santa Aliança. Some a transparência no exercício do poder. Como fruto tardio do recuo político e jurídico, surgem as ditaduras que impedem as liberdades públicas, em especial a de imprensa. Ocorre, ao mesmo tempo, uma fratura na ética democrática.

A ética correta, na democracia, não se imiscui na vida coletiva com uma tábua de valores externa aos grupos sociais. Os monopólios do Estado (força física, impostos, norma jurídica) permitem-lhe controlar os interesses particulares. Mas não raro o Estado ultrapassa os seus próprios limites. As revoluções modernas ergueram barreiras contra as pretensões oficiais. Mesmo assim, na Alemanha nazista, na União Soviética (URSS), nas diversas ditaduras e até em países democráticos, o Estado arrogou-se o direito de impor valores e doutrinas sobre a ciência, as artes, a vida econômica. Como exemplos temos a eugenia contra os fracos (o caso Buck versus Bell, decidido pelo juiz Oliver Wendell Holmes) e a "genética socialista" (as teses de Trofim Denissovitch Lyssenko que arruinaram a URSS). Os dois casos mostram que o poder sem peias gera frutos malditos. A imprensa domesticada chega ao escárnio: o jornal mais mentiroso da História é o Pravda (que significa "a verdade", em russo).

Como harmonizar o Estado e a vida livre?

A resposta reside na democracia, no Estado de Direito, no qual a sociedade política segue leis interpretadas pelo Judiciário. O Executivo tem uma barreira nos demais Poderes. Os alvos sociais precisam ser examinados no Parlamento ou nas Cortes de Justiça. Para que os interesses sejam discutidos é imperativo que eles sejam visíveis - daí a necessária regulamentação do lobby - e, por sua vez, os legisladores e juízes devem ser vigiados pelo povo soberano. Quem, no poder, se imagina acima do público ("os leigos") atrai, como dizia Immanuel Kant, a desconfiança generalizada. E reabre as vias sangrentas pisadas por todos os Giges ocidentais, poluindo a fé pública, fonte de liberdade e segurança. Na República os poderes são transparentes, o que inclui togas, fardas, batinas, capelos acadêmicos. A visibilidade absoluta só existe no Paraíso, mas o Estado sem ela é tirania. Conforme Norberto Bobbio, "todo cidadão tem o direito de ser posto à altura de formar para si mesmo uma opinião sobre as decisões tomadas em seu nome" ("o poder mascarado").

Vivemos uma inusitada crise estatal. Crise bem-vinda, pois nosso Estado apresenta os estigmas do segredo e do autoritarismo, técnicas ditatoriais que arrancaram dos cidadãos o hábito de controlar os governantes, legisladores, magistrados. Cabe à cidadania assumir a sua dignidade, pondo os que se julgam onipotentes no devido lugar. "Autoridade", na ordem democrática, significa "ser autorizado" pelo povo soberano. Mas os nossos poderosos - no Executivo, no Legislativo, no Judiciário - fingem nada saber sobre o assunto.

O requisito da emancipação política é o livre pensamento, a livre imprensa, da qual fogem os tirânicos Giges brasileiros. Como o diabo da cruz.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO