sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Opinião do dia - Jürgen Habermas

(...) “Pelo menos no âmbito da comunicação política, isto é, no que se refere aos leitores em tanto cidadãos, a imprensa de qualidade desempenha o papel reitor entre os meios de comunicação. Em suas informações e comentários, o rádio e a televisão como o resto da imprensa dependem em grande medida dos temas e contribuições que lhes antecipam esse tipo de publicações ‘racionalizadoras”.

(...) “Pois a comunicação pública perde sua vitalidade discursiva quando falta o afluxo das informações que se obtêm mediante custosas pesquisas e quando falta o estímulo dos argumentos que se apoiam num trabalho de expertos que não surge precisamente em vão. A esfera pública política já não oporia resistência alguma às tendências populistas nem poderia cumprir com a função que deveria desempenhar nos marcos de um Estado democrático de direito.

Vivemos em sociedades pluralistas. O processo democrático de tomada de decisões só pode superar as profundas oposições entre as concepções de mundo e mostrar uma força de vínculo legitimadora e que resulte convincente para todos os cidadãos na medida em que logre combinar duas exigências: tem que entrelaçar a inclusão, isto é, a participação em igualdade de direitos de todos os cidadãos, com a condição de que os conflitos de opinião sejam dirimidos de uma maneira mais ou menos discursiva. Pois são sobretudo as discussões deliberativas as que justificam a presunção de que ao final se chegará a resultados mais ou menos racionalizáveis. A formação democrática da opinião e da vontade tem uma dimensão epistêmica, porque nela também está em jogo a crítica das afirmações e avaliações falsas. E nesta tarefa está implicada toda esfera pública que mostre vitalidade desde o ponto de vista discursivo”.

-------------------
[Cf. La prensa seria como espina dorsal de la esfera pública política, in Ay, Europa, editora Trotta, Madrid, 2009].

Desemprego recorde atinge 12,1 milhões de brasileiros

• Taxa de desocupação no País chegou a 11,9%, a maior da série histórica do IBGE, iniciada em 2012

O mercado de trabalho voltou a se deteriorar no fim do ano, período em que o desemprego historicamente dá uma trégua. No trimestre encerrado em novembro, o País chegou a 12,132 milhões de pessoas sem emprego, um recorde, e a taxa de desocupação atingiu 11,9%, a mais alta da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo IBGE. Há 3,018 milhões de pessoas a mais buscando uma vaga e 1,941 milhão de postos de trabalho foram fechados. Só a indústria cortou 1,026 milhão em um ano e o setor de construção, 702 mil. Já o comércio dispensou 178 mil. Para analistas, a situação ainda deve piorar. “Projetamos que essa tendência continue à frente, uma vez que a contração da atividade econômica não teve seu impacto completo no mercado de trabalho”, avaliou Thales Caramella, do Itaú Unibanco

Desemprego atinge 12,1 milhões de pessoas, novo recorde na série histórica

• Taxa registrada pela Pnad Contínua, do IBGE, fica em 11,9% no trimestre até novembro

Daniela Amorim | O Estado de S. Paulo

RIO - O País registrou patamar recorde de desempregados na reta final do ano, um total de 12,132 milhões de pessoas em busca de uma vaga no trimestre encerrado em novembro, dentro da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Brasil perde empregos pelo 20º mês e já elimina 858,3 mil vagas no ano

• No mês passado, 166,7 mil vagas com carteira assinada foram eliminadas pelo Brasil

- O Estado de S. Paulo

O Brasil fechou 116.747 postos de emprego formal em novembro - no ano passado, haviam sido perdidas 130.629 vagas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho nesta quinta-feira, 29. Foi o 20º mês consecutivo de retração do mercado formal. Os dados mostram ainda que, no acumulado do ano, a queda no emprego atingiu 858.333 postos de trabalho.

Desemprego vai a 11,9% em novembro, bate recorde e atinge 12,1 milhões

Lucas Vettorazzo | Folha de S. Paulo

RIO - O desemprego no Brasil alcançou 11,9% no trimestre encerrado em novembro, divulgou o IBGE na manhã desta quinta-feira (29).

A taxa é a mais elevada já registrada da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Também foi recorde da série o volume de pessoas desocupadas, que atingiu 12,1 milhões no trimestre encerrado em novembro.

A pesquisa mostrou que houve aumento na fila de emprego, redução de vagas, aumento da informalidade e também do desalento, que é quando a pessoa em idade laboral desiste de procurar emprego por falta de oportunidade.

No período de um ano, 3 milhões de novas pessoas entraram na fila do emprego, aumento de 33,1% em relação ao trimestre encerrado novembro de 2015.

País deve ter mais um milhão de desempregados em 2017

• Temer prevê recuperação das contratações no segundo semestre

Já são 12,1 milhões de brasileiros à procura de trabalho, de acordo com dados de novembro do IBGE. Indústria e comércio são setores que ainda cortarão vagas até junho, estimam especialistas
O país ultrapassou a marca de 12 milhões de pessoas à procura de trabalho em novembro, com uma taxa de desemprego de 11,9%, divulgou o IBGE. Mais um milhão de brasileiros deverão ser demitidos em 2017, segundo projeções de especialistas. Indústria e comércio são dois setores que continuarão cortando vagas até junho do próximo ano. Ao fazer balanço de seus primeiros meses de governo, o presidente Michel Temer estimou que o desemprego cairá no segundo semestre.

Mais 1 milhão sem emprego

• Crise no mercado de trabalho prosseguirá em 2017, com 13,7 milhões em busca de uma vaga

Lucianne Carneiro | O Globo

Mais um milhão de trabalhadores brasileiros perderão o emprego em 2017, depois de dois anos de recessão forte. A recuperação só virá no segundo semestre do ano que vem, segundo projeções do Departamento de Pesquisas do Bradesco. O número de desocupados — que chegou ao recorde de 12,1 milhões em novembro, correspondendo a uma taxa de desemprego de 11,9%, segundo o IBGE — deve atingir a marca de 13,7 milhões de pessoas no fim do primeiro semestre. No fim de 2017, o número deve cair para 13,4 milhões de pessoas.

Taxa média de desemprego vai subir de 8,5% para 11,5% este ano

• Se confirmadas as projeções, serão 3 milhões a mais de desocupados

Daiane Costa | O Globo

A taxa média de desemprego este ano será três pontos maior do que a média registrada no ano passado, subindo de 8,5% para 11,5%, segundo projeções do economista e pesquisador do Ibre/FGV Bruno Ottoni. Com isso, o segundo ano de recessão no mercado de trabalho deve fechar com 3 milhões a mais de desocupados em relação a 2015. Se essa projeção se confirmar, será mais um recorde para a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal do IBGE, iniciada em 2012. Fato que colabora para a economia continuar patinando em 2017.

— Na prática, isso converge com o cenário mais adverso do que esperávamos no meio do ano, e que levou a revisões para baixo do PIB. E, quanto mais pessoas desempregadas, menos dinheiro gira a economia, o que acaba restringindo o consumo — analisa Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências, que também estima que a taxa média de desemprego para o ano de 2016 fique em 11,5%.

Presidente quer aprovação da reforma tributária

Após as reformas previdenciária e trabalhista, o presidente Michel Temer prometeu empenho na aprovação de uma reforma tributária, com foco na simplificação da cobrança de impostos. “Este há de ser um governo reformista”, afirmou, durante balanço de sua gestão. O TCU autorizou ontem a liberação de cerca de R$ 5 bilhões da repatriação às prefeituras.

Reforma tributária será próximo passo, diz Temer

• Em balanço do governo, presidente prevê que país voltará a gerar empregos no segundo semestre de 2017

Catarina Alencastro, Bárbara Nascimento | O Globo

-BRASÍLIA- Em um pronunciamento de 25 minutos, que contou com vários momentos de improvisação, o presidente Michel Temer afirmou que seu governo será reformista. Temer disse que, com o ajuste fiscal e o encaminhamento das reformas previdenciária e trabalhista no Congresso, o próximo passo a ser dado será a reforma tributária, com a simplificação do atual sistema.

— Nós não vamos parar. Este governo há de ser um governo reformista — afirmou o presidente, acrescentando que a questão tributária sempre “angustia” os estados, os municípios e o contribuinte. — Então, penso eu, por que não levar agora adiante a reforma tributária, já que há vários projetos bastante encaminhados, tanto no Senado quanto na Câmara Federal? Mas agora o Executivo, neste ano (2017), vai empenhar-se na reforma tributária — anunciou.

Temer diz que reformas serão a marca de seu governo

Temer afirma que vai apoiar reforma política

• Presidente fez balanço de ações do governo em 2016 e pediu ainda 'pensamento positivo' para 2017

Carla Araújo e Isadora Peron | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer afirmou nesta quinta-feira, 29, durante mensagem de fim de ano a jornalistas, que o seu governo vai continuar trabalhando em reformas estruturais. "Não vamos parar; esse governo há de ser um governo reformista", disse, no Palácio do Planalto.

Segundo Temer, além das reformas já em andamento, o governo vai atuar para que em 2017 avancem modificações na questão tributária e política. "Penso eu: por que não levar adiante a reforma tributária? Vamos nos dedicar a esse ponto. O executivo vai empenhar-se na reforma tributária e quem sabe numa simplificação tributária nacional", disse.

Temer disse ainda que, apesar da questão da reforma política ser uma prerrogativa do Congresso Nacional, o governo também quer que o tema avance. "Vamos nos empenhar na reforma política, que terá nosso incentivo e participação. É mais uma reforma que queremos patrocinar e levar adiante", disse.

Governo corta cargos, mas lança pacote de bondades

Ao mesmo tempo em que exaltou a economia a ser obtida com o corte de 4.689 cargos, o governo Michel Temer anunciou aumentos a servidores de oito carreiras e liberou recursos para o pagamento de emendas parlamentares. O governo também deu destaque ao investimento de R$ 1,2 bilhão em presídios, apesar de os gastos terem sido determinados pelo STF.

Morde e assopra

• Temer anuncia corte de cargos, mas distribui verbas de emendas e reajustes salariais

Júnia Gama, Isabel Braga, Eduardo Bresciani, Bárbara Nascimento | O Globo

-BRASÍLIA- O governo Michel Temer aproveitou os últimos dias de 2016 para, ao mesmo tempo em que anunciava a conclusão da reforma administrativa que levará ao corte de 4,6 mil cargos, divulgar um pacote de bondades para servidores e parlamentares. As medidas anunciadas incluem a concessão de reajustes salariais para oito categorias de servidores, a liberação de verbas do Fundo Penitenciário e o pagamento de R$ 3,7 bilhões em emendas parlamentares. Em um pronunciamento de fim de ano, no Palácio do Planalto, Temer exaltou o pagamento das emendas, quase sempre destinadas a obras nas bases eleitorais de deputados e senadores.

Governo anuncia aumento do salário mínimo para R$ 937 em janeiro

• Reajuste repõe apenas a inflação, sem ganho real; Planalto diz que adotou fórmula prevista em lei

Geralda Doca | O Globo

-BRASÍLIA- O novo valor do salário mínimo — que passará a valer em 1º de janeiro — será de R$ 937, sem ganho real, apenas com a reposição da inflação (o INPC). Hoje, o mínimo está em R$ 880. Na proposta orçamentaria de 2017, a previsão para o piso nacional era de R$ 945, mas o valor ficou abaixo por conta de a inflação apurada ter sido menor do que o previsto.

A estimativa para o índice de preços em 2016 era de 7,5%, mas esse indicador deverá fechar o ano em 6,75% (até novembro era de 6,43%). Com isso, o governo deixará de gastar R$ 2,1 bilhões, sobretudo com pagamento dos benefícios previdenciários, segundo uma fonte da equipe econômica.

Desde o governo Lula, a regra para reajuste do salário mínimo é a mesma: o piso é corrigido pela inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Em 2015, houve retração na economia de 3,8%. Nesse caso, o efeito é zero e, por isso, se corrige só a inflação. O decreto com o novo salário mínimo deverá ser publicada no Diário Oficial da União amanhã.

PT vive dilema entre manter cargos ou coerência na eleição do Senado

• Lula defende apoio a candidato do PMDB para não isolar o partido

Fernanda Krakovics | O Globo

O PT vive um dilema em relação à eleição para a presidência do Senado, que acontecerá no dia 2 de fevereiro. Os petistas temem aumentar seu isolamento, caso não respeitem a tradição da Casa de eleger presidente um senador do partido com a maior bancada, no caso o PMDB. Por outro lado, senadores do PT receiam que o apoio à candidatura de Eunício Oliveira (PMDB-CE) provoque um desgaste junto à militância e aos movimentos sociais, por ir na contramão do discurso de que a ex-presidente Dilma Rousseff foi vítima de um golpe dos peemedebistas.

O assunto extrapolou a bancada e está sendo tratado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo petistas, Lula defende o apoio a Eunício, argumentando que seria muito ruim o PT perder cargos na Mesa Diretora do Senado e o comando de comissões relevantes, como ocorreu na Câmara em 2015. Ainda de acordo com integrantes do PT, Lula tem afirmado que não quer repetir esse erro.

Na Câmara, partido já negocia espaço

• Pedidos já foram feitos a Rodrigo Maia e a um dos líderes do centrão

Eduardo Bresciani, Isabel Braga | O Globo

Após ficar a “pão e água” na gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fora da Mesa Diretora da Câmara e das principais comissões temáticas, o PT negocia com os candidatos à presidência da Casa a ocupação de alguns destes espaços como contrapartida para um eventual apoio.

Pelo tamanho de sua bancada, a segunda maior, com 58 deputados, o partido deseja ocupar a primeira secretaria, responsável pela área administrativa, uma vez que o PMDB, com 65, deve optar pela primeira vice-presidência. A reivindicação foi levada em conversas nesta semana com o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com Jovair Arantes (PTB-GO), nome forte do “centrão”.

Empresa de filho de Lula recebeu R$ 103 milhões, aponta laudo da PF

Felipe Bächtold | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Os principais financiadores da empresa Gamecorp, que pertence a um dos filhos do ex-presidente Lula, injetaram na firma ao menos R$ 103 milhões, de acordo com laudo elaborado na Operação Lava Jato. A cervejaria Petrópolis e empresas ligadas à Oi são os principais remetentes desses recursos.

Companhias como a Oi Móvel e a Telemar Internet, ligadas à empresa de telefonia, colocaram um total de R$ 82 milhões na empresa, em valores não corrigidos.

A Oi, que neste ano fez o maior pedido de recuperação judicial do país, já havia investido R$ 5,2 milhões na Gamecorp em 2005, ainda com o nome Telemar. A empresa, responsável pelo canal Play TV, está em nome de Fábio Luís Lula da Silva e dos sócios Kalil Bittar, Fernando Bittar e Leonardo Badra Eid.

Tributo aos campeões - Fernando Gabeira

- O Estado de S. Paulo

• A repercussão do anúncio dos EUA sobre a ação global da Odebrecht provocou um temporal político na América Latina

A repercussão do anúncio dos EUA sobre a ação global da Odebrecht provocou um temporal político na América Latina. Bem maior do que tivemos notícia pelos jornais e TV. Foi um intenso movimento no Twitter, que começou com gente perguntando quem eram os corruptos do governo de cada país, passou por desmentidos de presidentes e ex-presidentes, nomes suspeitos, acusações. Alguns importantes projetos, como assegurar a navegabilidade do Rio Magdalena, na Colômbia, estão ameaçados. Começaram a duvidar até do estudo de impacto ambiental da Odebrecht.

Ao ver aquele furacão durante a semana, não podia perder de vista que tudo aquilo havia sido causado por uma empresa brasileira. Ironicamente, o programa do BNDES para estimular as empresas campeãs nos deu apenas um título mundial: o do maior escândalo de corrupção.

A mãe de todas as delações - Merval Pereira

- O Globo

A delação premiada de Emílio Odebrecht, presidente do Conselho da empreiteira que leva o sobrenome de sua família, pode ser considerada a mãe de todas as delações, não apenas porque ele escancarou as relações impróprias com seu amigo, o ex-presidente Lula, como ampliou o escopo do cartel que atuava na Petrobras e outras estatais.

Emílio admitiu o que já se supunha, mas não estava provado: as decisões do cartel eram tomadas diretamente pelos controladores das empreiteiras, e os executivos que estão presos ou denunciados eram apenas a parte mais visível da operação.

Devido aos detalhes que ele revelou aos procuradores de Curitiba, vários, se não todos os controladores das empreiteiras que até agora estavam fora das investigações oficiais da Operação Lava Jato, apresentaram-se espontaneamente em Curitiba para depor, cientes de que já não era mais possível esconder suas participações diretas no esquema de corrupção.

Reforma e competência - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Precisamos de uma reforma trabalhista? Eu diria que sim, mas acrescentando que os sindicalistas têm razão ao dizer que as mudanças resultarão em prejuízo para os trabalhadores. O problema não é exatamente a reforma, mas o contexto em que ela ocorre.

O ponto central é que nós precisamos introduzir flexibilidades no sistema. A "mágica" do capitalismo é que, ao contrário do que dizem os marxistas, ele não constitui um toma lá dá cá e sim um jogo de soma positiva, no qual todos podem ganhar, ainda que não na mesma proporção. O segredo da bonança são os incríveis ganhos de produtividade observados através da história, que têm na flexibilidade do sistema um de seus principais ingredientes.

Ufa! - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• As marcas de 2016 são crises, frustrações e incertezas, só se salva a Lava Jato

Este 2016 que acaba amanhã só não vai tarde, sem choro nem vela, porque deixa registrado para a história um avanço firme e sem retorno da Lava Jato, a maior operação de combate à corrupção da história do Brasil e a mais contundente em curso em todo o mundo. No mais, o impeachment de um segundo presidente em um quarto de século, um ex-presidente recordista em popularidade réu pela quinta vez, uma crise econômica renitente, um descrédito preocupante da política e... falta de ânimo e perspectivas.

Foi, sem dúvida, um ano duríssimo. Juízes, procuradores e policiais federais atuando freneticamente, magnatas das empreiteiras presos, políticos de todos os matizes e praticamente todos os partidos perdendo o sono e Brasília sem parar um minuto, num pipocar diário de crises, com o presidente da Câmara cassado e preso e o do Senado réu em um e alvo de outros onze inquéritos.

Nascemos com sorte - Luiz Roberto Nascimento Silva

- O Globo

• Observar um grande médico trabalhando num hospital é um momento inesquecível e emocionante

O mês de dezembro trouxe dias de chuva alternados com manhãs de céu azul, límpido, com lindas nuvens dispersas com elegância. De onde resido, na Lagoa, tenho o privilégio de assistir à beleza do Rio de Janeiro nesses dias que me dão a certeza de viver numa cidade mágica, mesmo sendo o purgatório da beleza e do caos.

Num desses, fui surpreendido pela notícia do falecimento de John Glenn, o primeiro astronauta americano a orbitar a Terra e herói nacional. Lembrava-me vagamente dessa epopeia no agora remoto ano de 1962, quando ainda era criança. Não sabia, entretanto, que ele tinha sido um extraordinário piloto de guerra antes de ingressar na Nasa e que tinha recebido todos os maiores prêmios e condecorações americanas por sua bravura. Participou de 59 missões durante a Segunda Guerra e de outras 90 na Guerra da Coreia. Seu avião foi atingido por inimigos em cinco ocasiões diferentes e, num desses episódios, retornou à base com 375 furos em sua aeronave. Após o término de sua carreira como piloto, depois de duas tentativas, elegeu-se senador pelo Partido Democrata, tendo permanecido no Senado até sua aposentadoria. Não sabia nada dessa trajetória.

O veto e o desemprego - Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

A decisão do presidente Temer de vetar o projeto de lei da renegociação da dívida dos Estados demorou mais do que deveria e produziu vacilações também maiores do que deveria.

Este é o primeiro assunto deste comentário. O outro é o nível do desemprego, divulgado nesta quinta-feira e que pode ser observado no gráfico abaixo.

Logo depois que a Câmara dos Deputados desfigurou o projeto de lei, na medida em que autorizou o alongamento das dívidas, mas eliminou as contrapartidas a serem exigidas dos Estados, o presidente Temer avisou que “a tendência maior era não vetar”. Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, dedicava-se a fazer o jogo do contente. Em resposta à reação contundente dos críticos, que escracharam a derrota do governo, Meirelles alegou que as contrapartidas poderiam ser, afinal, exigidas nas negociações diretas com cada Estado. Depois se viu que isso não passou de enganação.

Difícil reversão - Míriam Leitão

- O Globo

O desemprego chegou a um nível recorde, mas se manteve estatisticamente estável, avisou o IBGE. Parece contraditório, mas nos índices a variação de um ponto percentual depois da vírgula é mesmo estabilidade. Só que nessa época é má notícia. Normalmente a taxa de desemprego cai nos últimos meses do ano e desta vez ela não recuou. O desemprego vai aumentar nos próximos meses.

No começo do ano o índice de desocupação sempre sobe pelo efeito do fim das contratações temporárias. As projeções são de que a taxa, em 11,9%, deve subir em 2017 e pode chegar a 13% ou 13,5%. O mercado de trabalho continuará se deteriorando neste que será o quarto ano da crise. O Brasil teve um tempo de estagnação em 2014, dois anos de recessão forte em 2015 e 2016 e vai para nova estagnação em 2017. Isso significa quatro anos perdidos em termos de crescimento, com um saldo de encolhimento forte do produto.

Veto correto – Editorial | Folha de S. Paulo

Fez bem o presidente Michel Temer (PMDB) em vetar parcialmente o projeto de renegociação das dívidas dos Estados, que havia sido aprovado pela Câmara sem contrapartidas firmes. Com a decisão, o governo sinaliza que não concederá alívio sem que sejam enfrentados de forma resoluta os desequilíbrios estruturais nas contas.

O veto foi direcionado à parte do projeto que instituía o Regime de Recuperação Fiscal, figura que busca semelhança com a recuperação judicial de empresas privadas.

Inserido na versão aprovada pelo Senado, o mecanismo foi pensado inicialmente para os Estados em situação mais crítica —casos do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.

A ajuda federal seria condicionada a uma série de ajustes, como limitações a crescimento de gastos com funcionários, cortes de cargos, aumento das contribuições de aposentados e até a revisão do regime jurídico dos servidores.

Há trabalho a mostrar e a fazer – Editorial | O Estado de S. Paulo

No dia 31 de agosto, o Senado Federal encerrou o processo de impeachment de Dilma Rousseff, julgando-a culpada de crimes de responsabilidade, e Michel Temer assumiu a Presidência da República em caráter definitivo até o fim do mandato, em 2018. Se desde então o horizonte da política – e da polícia – não desanuviou no grau e na velocidade que se esperavam, essa quebra de expectativa não pode ser atribuída a uma eventual falta de ação da equipe econômica do governo Temer. Antes, a agenda econômica vem sendo diligentemente implementada com um grau de eficácia de dar inveja a muito governo com condições de temperatura e pressão bem mais favoráveis.

É evidente a principal vitória de Michel Temer até o momento. Ele assumiu um governo em dramáticas condições fiscais e conseguiu, menos de quatro meses depois, aprovar um remédio de longo prazo – amargo, mas muito necessário –, a PEC do Teto dos Gastos.

Deficiência na Educação barra o desenvolvimento – Editorial | O Globo

Não há país desenvolvido que não tenha passado por uma fase em que um grande contingente de jovens bens instruídos começou a entrar no mercado de trabalho. A partir desse momento, a produtividade da economia passou a crescer numa velocidade maior, subiu a renda da sociedade, ampliou-se o consumo, atraindo mais investimentos e, assim, instalou-se um círculo virtuoso alterando de forma estrutural o padrão de desenvolvimento do país.

O Brasil, por óbvio, não escapa à regra. A notícia ruim é que o país, outrora mais jovem que hoje e menos a cada dia que passa, tem sido inepto em educar a população e, assim, perde este chamado “bônus demográfico” de que várias sociedades se aproveitaram de forma competente.

O contingente da população entre 20 e 30 anos chegou a seu ponto máximo em 2010. E passou a decair inexoravelmente — tendência que está por trás da urgência da reforma na Previdência, retardada em excesso por leniência dos políticos. Afinal, haverá mais beneficiários do INSS do que contribuintes do sistema. Esta é a trajetória da insolvência. Outro indicador do envelhecimento médio da população é a proporção da faixa de 65 ou mais anos de idade em relação à população de até 14 anos: era 18,6% em 2000, estima-se que atingiu 36% este ano e chegará a 2030 em 76,3% (gráficos).

Passagem do ano - Carlos Drummond de Andrade

O último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
Farás viagens e tantas celebrações
De aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
E coral,

Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
Os irreparáveis uivos
Do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
Não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
Onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
Uma mulher e seu pé,
Um corpo e sua memória,
Um olho e seu brilho,
Uma voz e seu eco.
E quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.

Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa, já se expirou, outras espreitam a morte,
Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
O recurso da bola colorida,
O recurso de Kant e da poesia,
Todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
Lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto - Tropicana