O
que o Brasil precisa, no meu entender, os economistas do governo não conseguem
oferecer
A
economia, para mim, é apenas uma disciplina fascinante. Ainda assim, em certas
biografias dos grandes economistas, como a de Keynes por Robert Skidelsky,
outros traços intelectuais acabam me atraindo mais do que o próprio talento
econômico.
Como
leigo me interrogo sobre as grandes opções pós-pandemia no Brasil. Uma delas é
a retomada da produção. Já escrevi aqui que um dos mistérios, para mim, é o
sentido da retomada.
Sobretudo
após a pandemia, ficou evidente que uma das tendências internacionais é
valorizar a natureza, escapar da velha concepção de que o progresso significa
necessariamente o esgotamento dos recursos naturais. De certa forma, a pandemia
acentuou outra tendência que poderia ser um dos fundamentos da reforma do
Estado: o crescimento do mundo virtual.
Os
projetos de recuperação econômica do governo passam longe das duas tendências.
No caso da natureza, então, a perspectiva é radicalmente reacionária: destruir
rapidamente, antes que percebam, como manda a teoria de passar a boiada
enquanto todos se concentram na pandemia.
Não
se sabe o que será da economia quando recuperada, se isso realmente ocorrer. O
que se discute hoje é principalmente uma continuidade da ajuda emergencial.
A
pandemia revelou 11 milhões de invisíveis, que nem estavam nos registros do
governo. Isso implica a necessidade de ampliar um programa como o Bolsa
Família, até aumentando a quantia mínima para a sobrevivência. Como resolver? O
governo elegeu-se com plataforma ultraliberal. Foi atropelado pela pandemia. O
ministro Paulo Guedes passou a pensar com outras coordenadas.
Bolsonaro,
com medo de perder a reeleição, tende a desejar um projeto de renda cidadã, que
já se chamou Renda Brasil. No passado os nomes iam sendo trocados até chegar a
Brasil: Vera Cruz, Santa Cruz. Agora decrescem a partir de Brasil.
O
ultraliberalismo de Guedes não aprova esse tipo de programa. O próprio
Bolsonaro chamava o Bolsa Família de “bolsa farinha” e dizia que seu objetivo
era criar um eleitorado de cabresto.
Estão
perdidos no seu labirinto. Guedes tentou tirar dinheiro dos pobres para cobrir
os gastos. Uma heresia eleitoral, e Bolsonaro não quis. Outra tentativa era dar
o calote nos precatórios, que já são uma dívida em atraso. Ou, quem sabe, tirar
dinheiro do fundo da educação.
Não
há saída, porque não há dinheiro legalmente disponível. Certamente vão rodar em
torno de si próprios. Possivelmente vão até desistir parcialmente do projeto.
Bolsonaro já ensaiou uma retirada do tipo raposa e as uvas: ajuda permanente é
coisa que só interessa a comunistas, disse.