Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - É o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), decano da Câmara, quem faz a comparação: "A Lava-Jato é como um saco de caranguejos, você puxa um e vem os outros agarrados". Em seu 11º mandato, Miro Teixeira vê na operação que investiga o esquema de corrupção na Petrobras um dos maiores riscos ao sucesso do governo do presidente interino Michel Temer. O outro é o nível preocupante do desemprego.
Ao puxar a delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, tido como operador do PMDB, a Lava-Jato trouxe, agarrados, os senadores Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney.
Onde se viu o mar de lama do PT agora abre-se o pântano tomado pelos pemedebistas. Michel Temer terá que ter cuidado para não se atolar. "Não terminou o jogo da Lava-Jato e nem do impeachment", agoura o ex-secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi. "Quanto mais tempo vai passando pior para o governo. Eles terão os 54 votos? É isso que vale. Jucá é a fotografia do golpe", diz o petista.
Caranguejos andam de lado. Mas, para o ex-presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, atualmente deputado estadual pelo PMDB gaúcho, os primeiros passos do governo interino são promissores. Ibsen tem uma tese curiosa. Em momentos de crise profunda, é o PMDB - apesar de não conseguir formular um projeto nacional nos períodos de normalidade - o único partido capaz de tirar o país do brejo.
Em sua opinião, o PMDB não esteve preparado para "a administração trivial" do Brasil - "Não é por acaso que não chegou ao poder pelo voto depois da redemocratização" - mas "como ninguém" está preparado para a solução das emergências. "A crise não pode ser enfrentada por um partido particular, de esquerda ou de direita, mas de ampla presença e inserção em todos os setores da vida nacional. Antes, era restabelecer a democracia. E agora, como no governo Itamar, é restabelecer a economia", compara.
Eis a herança que o PMDB carrega para o governo Temer: algo entre o bendito - sua capacidade de dialogar - e o maldito, o alto preço cobrado pela falta de convicções e, muitas vezes, honestidade.
Tanto para Miro - que teve no velho MDB sua iniciação na política, em 1966 - quanto para Ibsen - filiado desde então ao mesmo partido - este não pode ser tratado, porém, como um governo do PMDB. "O governo Temer não é do PMDB. Olha só o ministério", diz Miro, a despeito da legenda contar com sete dos 22 ministros. Ibsen remete ao caráter de uma quase coalizão de união nacional: "O PMDB não é o centro. No principal, o governo não é PMDB. Na questão crucial, a econômica, está o ministro da Fazenda [Henrique Meirelles] e a equipe que ele montou".