segunda-feira, 30 de maio de 2016

Opinião do dia – Ferreira Gullar

A origem desses equívocos está no populismo que certa esquerda latino-americana adotou como alternativa à revolução armada, inspirada em Cuba, que foi dizimada pela repressão. O socialismo bolivariano de Hugo Chávez serviu de modelo a outras aventuras semelhantes, surgidas na Argentina, na Bolívia, no Equador e no Brasil.
---------------------
Ferreira Gullar, ensaísta, crítico de arte e poeta. ‘Acerto e erro’, Folha de S. Paulo, 29/5/2016

Congresso só apoia pacote de Temer com alterações

• Líderes dos 7 maiores partidos na Câmara e no Senado apontam resistência em aprovar propostas defendidas pelo governo, como limite de gastos e reforma da Previdência

Isabela Bonfim e Julia Lindner - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Líderes dos sete maiores partidos do Congresso não querem se comprometer com a pauta econômica do presidente em exercício Michel Temer, principalmente em relação às duas medidas prioritárias: o teto dos gastos públicos e a reforma da Previdência. Apesar de reconhecerem a necessidade dos projetos, eles dizem ser necessário discutir mudanças nas propostas. A resistência existe até nas bancadas do PMDB, partido do qual Temer é presidente licenciado.

Os líderes ouvidos pelo Estadorepresentam 326 deputados e 58 senadores, o equivalente a aproximadamente dois terços de cada Casa. O número é superior aos três quintos da Câmara (308) e do Senado (48), quantidade necessária de votos para aprovar Propostas de Emenda à Constituição (PEC), que é o caso dos principais projetos econômicos de Temer.

Governo cobra R$ 11 bi de empresas da Lava-Jato

• AGU ingressa hoje com duas ações para obter ressarcimento por desvios

Valores foram calculados com base no superfaturamento de obras e nos lucros com as fraudes; executivos de empreiteiras e ex-diretores da Petrobras também serão processados por improbidade administrativa

A Advocacia-Geral da União (AGU) ingressa hoje na Justiça Federal do Paraná com duas ações de improbidade administrativa para cobrar R$ 11 bilhões de empresas e pessoas investigadas na Lava-Jato, informa ANDRÉ DE SOUZA. Entre os alvos estão empreiteiras como Odebrecht, OAS, UTC e Queiroz Galvão, executivos e ex-dirigentes da Petrobras. A AGU diz que comprovou a formação de cartel para fraudar a estatal e fez o cálculo com base no superfaturamento e nos lucros resultantes das fraudes.

Ações bilionárias

• AGU entra hoje na Justiça para cobrar R$ 11 bi de empresas e pessoas envolvidas na Lava-Jato

André de Souza - O Globo

-BRASÍLIA- A Advocacia-Geral da União (AGU) ingressa hoje na Justiça Federal com duas ações de improbidade administrativa para cobrar R$ 11 bilhões de empresas e pessoas investigadas na Lava-Jato, operação que apura principalmente irregularidades em contratos da Petrobras. Entre os alvos da AGU estão empreiteiras como Odebrecht, OAS, UTC e Queiroz Galvão, executivos e ex-funcionários da estatal.

Novas medidas vão antecipar o superávit fiscal

Ribamar Oliveira – Valor Econômico

BRASÍLIA - A fixação de um teto para as despesas da União a partir de 2017, como pretende o governo Michel Temer, fará com que o governo federal volte a obter superávit primário em suas contas em até oito anos. "Mas nós não vamos esperar tanto tempo", garantiu uma autoridade ao Valor.

O governo deverá anunciar, logo após a aprovação da proposta de emenda constitucional que fixa o teto pelo Congresso Nacional, novas medidas para melhorar as finanças públicas. Elas devem incluir mudanças nas regras de benefícios sociais, venda de ativos da União e elevação ou criação de impostos, se necessário. Entre as medidas está a reforma da Previdência Social.

Após a aprovação do teto, o governo passará a trabalhar com um novo conceito fiscal, sobre o qual ainda não há clareza. Quando o teto estiver em vigor, a despesa total da União para um determinado exercício será aquela registrada no ano anterior, corrigida pela variação da inflação e nada mais.

Não haverá, portanto, aumento real. Se uma despesa específica, como o gasto com a saúde, por exemplo, aumentar mais do que a inflação, outras despesas terão de ser cortadas para que o gasto total não cresça em termos reais. A distribuição do limite global entre os diversos programas ficará a cargo do Congresso, a partir de proposta do Executivo.

A equipe econômica acredita que, com o teto, em três ou quatro anos será possível diminuir os gastos do governo em 1,5% a 2% do PIB. O ritmo de queda da despesa como proporção do PIB diminuirá ao longo do tempo. Para 2016, a despesa total da União está estimada em 19,8% do PIB, o nível mais alto da história do país.

Fixado o teto, o resultado primário do governo federal, que é a diferença entre o total da receita primária e o total da despesa primária, dependerá unicamente do nível da arrecadação em cada ano. Técnicos oficiais informaram que está muito difícil fixar um resultado primário para 2017, pois vai depender, em grande medida, da força da retomada do crescimento econômico e da recuperação das receitas, hoje imprevisível. Há uma discussão dentro do governo se ainda fará sentido trabalhar com meta de superávit primário depois da aprovação do teto para os gastos.

Cunha rebate Dilma e diz que petista demonstra 'despreparo para governar'

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Alvo de acusações feitas pela presidente afastada Dilma Rousseff, o deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) voltou a rebater a petista neste domingo (29). Em mensagens postadas no Twitter, ele afirmou que, "além de sua arrogância e das mentiras habituais, ela demonstra a sua incapacidade e despreparo para governar".

"Dilma mente tanto que já estamos aprendendo a identificar do ela (sic) mente; basta mover os lábios. Se até o Lula se arrependeu de ter escolhido ela, imaginem aqueles que ela fez de idiota, mentindo na eleição. Para ela, apenas uma frase: tchau querida", escreveu Cunha.

Em entrevista à Folha neste domingo, Dilma afirma que o governo do presidente interino Michel Temer "terá que se ajoelhar" diante de Cunha. Dilma diz ainda que "as razões para o impeachment estão cada vez mais claras", ao citar as gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e diz que Cunha é a "pessoa central do governo Temer".

"Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura [deputado ligado a Cunha e líder do governo Temer na Câmara]. Cunha não só manda: ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha", disse a petista.

"Além da arrogância e das mentiras habituais, ela demonstra a sua incapacidade de governar. Além do crime de responsabilidade cometido e que motivou o seu afastamento, as suas palavras mostram o mal que ela fez ao país. Com o descontrole das contas públicas, aumenta a inflação e a despesa de juros da dívida pública. A sua gestão foi um desastre", rebateu o deputado.

Montadoras podem acelerar demissões

Com pátios cheios, montadoras podem acelerar demissões

• Com estoques bem acima da média histórica e sem perspectivas de melhora nas vendas, fabricantes de veículos podem desistir de esperar a retomada da economia e avaliam medidas mais duras para reduzir excesso de mão de obra

Cleide Silva - O Estado de S. Paulo

Há mais de um ano, a média de estoques nas montadoras e concessionárias de veículos está próxima dos 50 dias de vendas, bem acima do volume considerado razoável pelas empresas, de 30 a 35 dias. As várias medidas adotadas pelas fabricantes para reduzir a produção, com férias coletivas, dispensas temporárias e corte de jornada, não surtiram o efeito esperado para esvaziar os pátios, até porque os consumidores continuam arredios em adquirir bens de alto valor num período de crise.

Em abril, o encalhe era de 251,7 mil veículos, suficientes para 46 dias de vendas. A produção no mês foi de 169,8 mil unidades e foram vendidas 162,9 mil, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Votação sobre receita será novo teste da base aliada

• Considerada uma prioridade, a DRU flexibiliza o Orçamento ao desobrigar gastos em áreas como saúde e educação

Julia Lindner, Isabela Bonfim e Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Antes de as novas medidas econômicas serem analisadas pelo Congresso, o governo Temer terá outro teste da base aliada. Considerada uma das prioridades para o governo, a Desvinculação de Receitas da União (DRU) flexibiliza o Orçamento ao desobrigar entes federados de efetuar gastos em áreas essenciais do governo, como saúde e educação.

“Vai ser mais um teste. Temos a DRU na pauta do Senado, acho que vamos aprovar”, disse o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).

Planalto tenta conter ânsia por cargos

Por Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - O governo do presidente interino Michel Temer já começa a sentir a pressão de partidos aliados, que apoiaram o afastamento da presidente Dilma Rousseff, por distribuição de cargos a indicações políticas para o segundo escalão. Alguns parlamentares apontam um prazo para que as nomeações comecem a ser destravadas, até o fim desta semana, antes de se transformarem em realidade as ameaças de dificuldades para aprovar no Congresso propostas do governo.

De acordo com lideranças parlamentares aliadas do governo interino, na nova estruturação do Palácio do Planalto o presidente Temer tem feito apelos por apoio e ajuda no Congresso ao mesmo tempo em que parlamentares aliados pressionam por mais espaço na administração pública federal, inclusive representações regionais, cabendo aos ministros mais próximos de Temer - Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo - pedirem por "calma" e "paciência" para que o novo governo consiga ter mais "fluidez", após um início considerado conturbado.

PMDB controlará setor elétrico

Embora tenha dito que não aceitará indicações políticas para a Petrobras, Temer vai manter as estatais do setor elétrico nas mãos do PMDB e substituirá dirigentes petistas das empresas, informa Ilimar Franco

PMDB comandará estatais do setor elétrico

• Com PT afastado e caminho livre para indicações políticas, partido ficará com Eletrobras e outras empresas

Ilimar Franco - O Globo

-BRASÍLIA- Sem o PT no governo para dividir o comando das estatais do setor elétrico, o PMDB vai assumir a presidência das principais empresas do setor. A maior delas, a Eletrobras, será mantida nas mãos do PMDB do Senado. O critério adotado na Petrobras, para onde foi escolhido um executivo reconhecido pelo mercado, Pedro Parente, não deverá ser a regra. Na Petrobras, o presidente interino, Michel Temer, disse que não seriam aceitas indicações políticas para a diretoria. No sistema elétrico, porém, será diferente.

— Não necessariamente. Estamos avaliando todas as alternativas. Mas a escolha será feita tendo como base a competência e a qualificação — afirmou um integrante do time de Michel Temer, ao negar a existência de veto às indicações políticas.

Renan e Eunício indicam
O atual presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, nomeado pelo ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, e que tem o aval do ex-presidente da República José Sarney, deverá ser substituído. O novo presidente também será indicado pelo PMDB do Senado, e terá como padrinhos o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o líder Eunício Oliveira (CE). A indicação de Renan está sendo mantida em sigilo.

Temer carrega herança bendita e maldita do PMDB

Por Cristian Klein – Valor Econômico

RIO - É o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), decano da Câmara, quem faz a comparação: "A Lava-Jato é como um saco de caranguejos, você puxa um e vem os outros agarrados". Em seu 11º mandato, Miro Teixeira vê na operação que investiga o esquema de corrupção na Petrobras um dos maiores riscos ao sucesso do governo do presidente interino Michel Temer. O outro é o nível preocupante do desemprego.

Ao puxar a delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, tido como operador do PMDB, a Lava-Jato trouxe, agarrados, os senadores Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney.

Onde se viu o mar de lama do PT agora abre-se o pântano tomado pelos pemedebistas. Michel Temer terá que ter cuidado para não se atolar. "Não terminou o jogo da Lava-Jato e nem do impeachment", agoura o ex-secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi. "Quanto mais tempo vai passando pior para o governo. Eles terão os 54 votos? É isso que vale. Jucá é a fotografia do golpe", diz o petista.

Caranguejos andam de lado. Mas, para o ex-presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, atualmente deputado estadual pelo PMDB gaúcho, os primeiros passos do governo interino são promissores. Ibsen tem uma tese curiosa. Em momentos de crise profunda, é o PMDB - apesar de não conseguir formular um projeto nacional nos períodos de normalidade - o único partido capaz de tirar o país do brejo.

Em sua opinião, o PMDB não esteve preparado para "a administração trivial" do Brasil - "Não é por acaso que não chegou ao poder pelo voto depois da redemocratização" - mas "como ninguém" está preparado para a solução das emergências. "A crise não pode ser enfrentada por um partido particular, de esquerda ou de direita, mas de ampla presença e inserção em todos os setores da vida nacional. Antes, era restabelecer a democracia. E agora, como no governo Itamar, é restabelecer a economia", compara.

Eis a herança que o PMDB carrega para o governo Temer: algo entre o bendito - sua capacidade de dialogar - e o maldito, o alto preço cobrado pela falta de convicções e, muitas vezes, honestidade.

Tanto para Miro - que teve no velho MDB sua iniciação na política, em 1966 - quanto para Ibsen - filiado desde então ao mesmo partido - este não pode ser tratado, porém, como um governo do PMDB. "O governo Temer não é do PMDB. Olha só o ministério", diz Miro, a despeito da legenda contar com sete dos 22 ministros. Ibsen remete ao caráter de uma quase coalizão de união nacional: "O PMDB não é o centro. No principal, o governo não é PMDB. Na questão crucial, a econômica, está o ministro da Fazenda [Henrique Meirelles] e a equipe que ele montou".

Novos caminhos – Aécio Neves

Os primeiros dias do governo interino de Michel Temer demonstram a encruzilhada onde o Brasil está paralisado.

Do ponto de vista da governabilidade, vivemos -país, Estados e municípios- autêntico regime de crônicos déficits, com dramática queda de receitas, imposta pela recessão profunda, contas estouradas e quase sem investimento.

Na maioria dos Estados, a situação geral é de enorme dificuldade. E até mesmo para aqueles que não frequentam, ainda, a proximidade do abismo há uma situação de grande penúria e frustração.

"Vocês estão precisando de gente?" - José de Souza Martins

• Com o desemprego em alta, é preciso aprender a olhar o drama que os números escondem – e não tentar calcular o incalculável

- O Estado de S. Paulo

A referência à preocupante cifra de 11 milhões de desempregados no Brasil não explica o que é próprio da situação social de desemprego e do drama que é na vida de quem o padece. Ele incide mais sobre os jovens. Na região do ABC paulista, em 2015, 39,4% dos desempregados estavam na faixa de 16 a 24 anos de idade e 33,7% na de 25 a 39 anos de idade. Nas famílias de trabalhadores, 25% dos desempregados eram os chefes da casa e 50% os filhos.

O desemprego torna os jovens mais dependentes da família num momento da vida em que mais carecem de independência. Incide mais no setor de Serviços, aquele que tem sido o de confirmação da ascensão social da classe trabalhadora. Ascensão que está sendo anulada pelo desemprego. Além disso, os limites mínimos e máximos de ganhos dos ocupados e assalariados tem sofrido sensível redução, de ano para ano, fazendo cair os ganhos tanto dos que ganham menos quanto dos que ganham mais. Um desdobramento do crescente desemprego: mais gente procurando trabalho e menos trabalho procurando gente.

Por mais rigor da Justiça - Ricardo Noblat

- O Globo

“[Lula] me disse que o único arrependimento que tem é ter elegido Dilma. Único erro que cometeu. O mais grave”. José Sarney

Sejamos francos: políticos com medo de serem presos conspiraram, sim, para derrubar a presidente Dilma. Um governo fraco, autor de graves erros, daria vez a um governo de “salvação nacional”, encabeçado pelo vice Michel Temer, capaz de tirar o país do atoleiro econômico. E assim, suspeitos ou acusados de corrupção poderiam salvar-se mediante um acordo que freasse o avanço da Lava-Jato. Que tal?

NADA DE estranho. Nem mesmo de absurdo. Os donos do poder, fossem eles políticos ou não, sempre souberam construir acordos e preservar a própria pele em detrimento da moral e da Justiça. Por extensão, também suas fortunas e posições na hierarquia social. A história do país está repleta de exemplos. E magistrados jamais foram insensíveis a tais acordos. Pelo contrário.

Sarneyzação à vista - José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Até agora foi fácil. A única votação importante a que o governo se submeteu no Congresso foi para aumentar despesas, não para cortá-las. Pegou a herança maldita da gestão anterior e acrescentou um dígito. Não havia nenhum interesse específico a ser contrariado, só a oposição pela oposição de PT e companhia. Teste mesmo será quando tiver que aprovar redução de gastos, perdas de direitos adquiridos e, se ousar, aumento de imposto. Mesmo assim, Michel Temer bateu na mesa e se disse atacado.

A má notícia para o presidente interino é que a pressão só tende a aumentar. O teto de despesas do governo federal proposto pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, embute uma redução brutal do gasto público. É um dos dois motivos pelos quais se costurou o pacto em torno do vice de Dilma Rousseff: para ele e Meirelles fazerem o trabalho que o PT não fez e o PSDB não quer fazer. O outro ouve-se nos grampos: cortar a água da Lava Jato.

O legado e a farsa - Denis Lerrer Rosenfield

- O Globo

O novo governo Temer começou, definitivamente, sob o signo do rompimento com a sua predecessora em duas áreas importantes: a econômica e a de Relações Exteriores. O embuste no qual vivia o país foi revelado mediante medidas corajosas que sinalizam um novo rumo para o país.

A nova equipe econômica, sob a batuta do ministro Henrique Meirelles, partiu do reconhecimento do rombo deixado pelo governo anterior, calculando, agora, um déficit de R$ 170,5 bilhões. A veracidade no tratamento das contas públicas e a transparência dos cálculos são condições de toda sociedade moderna.

Precisamos falar sobre herança - Gustavo H. B. Franco*

- O Globo

Fez muito bem o Ministro da Fazenda, na verdade o presidente Michel Temer, em propor ao Congresso a alteração da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de modo a refletir as cores exatas do cenário econômico e fiscal que recebeu de Dilma Rousseff. É importante ter claro o legado da presidente afastada, inclusive para se acrescentar elementos aos julgamentos no Senado e diante da História.

O superlativo número de R$ 170 bilhões para o déficit primário no exercício de 2016, conforme aprovado na semana que passou, foi chocante e surpreendente para muitos. Mas é só um pedaço da história, e pequeno.

O crescimento voltará no fim do ano - José Roberto Mendonça de Barros*

- O Estado de S. Paulo

Sob a firme gerência da presidente Dilma, o País despencava em queda livre. Saberemos logo os resultados oficiais do PIB do primeiro trimestre, mas a estimativa da MB Associados é uma contração de 6,7% em relação ao mesmo período de 2015. O segundo trimestre, certamente, ainda mostrará recuo (-5,1%), até porque muitas empresas deixarão de funcionar ou irão para a recuperação judicial nas próximas semanas, dada sua precária situação financeira.

Entretanto, teremos uma estabilização da economia no segundo semestre do ano e um crescimento em 2017, que projetamos na faixa de 2% ou algo mais. Todos os segmentos produtivos já operarão na faixa positiva. A razão maior desta reviravolta está na mudança de governo, que deverá ser confirmada no Senado até agosto próximo.

Sem noção, sem salário – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Em tempo de falta de grana inclusive para programas sociais, faço uma sugestão: bloquear salários e emendas dos parlamentares até que tratem o país com o mesmo senso de urgência que tiveram ao afastar a presidente Dilma.

Apenas depois que eles tivessem aprovado as medidas necessárias para tirar o Brasil da crise é que seus salários seriam liberados, e o dinheiro de suas emendas para suas bases eleitorais seria desbloqueado.

Faço tal proposta ao notar que o Congresso age num ritmo como se bastasse afastar a petista para o país voltar à normalidade. Não. Ela havia perdido as condições de governabilidade, mas tudo ainda está por ser feito para sairmos da crise.

O dia em que Temer sonhou com Thatcher - Marcos Nobre

• O que resta para Temer é se assumir como Sarney

- Valor Econômico

Como explicar que um governo interino possa agir como se fosse um governo recém-eleito, como se tivesse conseguido a aprovação da maioria do eleitorado em uma disputa presidencial acirrada? É o grande mistério do momento, de difícil solução. Porque é certo que alcançar o impeachment exigiu a produção da mitologia de altas expectativas correspondente. Mas, se pretende sobreviver, o governo interino tem antes de tudo de concentrar esforços em um rebaixamento geral de expectativas. E nisso o Plano Meirelles não ajudou em nada.

A pesquisa mais recente diz que pouco mais de 22% acreditam que o governo interino será ótimo ou bom. Pelo menos 55% acreditam que será um governo igual, pior, ou muito pior do que o de Dilma Rousseff. Uma peça central do arranjo, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, foi obrigado a pedir para sair com menos de duas semanas de governo. O temor de que a Justiça desmantele o Congresso e o próprio governo interino se espalhou como epidemia. As gravações feitas por Sérgio Machado fizeram o seriado "House of Cards" parecer uma animação para crianças de pouca idade. E Eduardo Cunha não governa, mas também não deixa governar.

Estrangulamento fiscal é o centro da crise - Marcus Pestana

O Tempo (MG)

Na última terça-feira, o Congresso Nacional varou a madrugada apreciando o PLN 1/2016, que dispunha sobre a mudança da meta fiscal, ampliando o déficit primário anual autorizado para o preocupante patamar de R$ 170 bilhões. A reunião terminou na quarta-feira às 4h, com a aprovação do projeto. Era o batismo de fogo do governo de transição e reconstrução nacional liderado por Michel Temer.

A economia brasileira está em frangalhos. Vivemos a maior crise desde o Plano Collor e a maior recessão desde a crise de 1929. Déficit nominal a caminho dos 7% do PIB equivalente ao de países europeus na crise; dívida bruta projetada para 2021 pelo FMI de 90% do PIB, gravíssima para um país emergente que tem as maiores taxas reais de juros do mundo e perfil de dívida curto; crescimento negativo de quase 4% dois anos seguidos, resultando no desemprego de mais de 11 milhões de brasileiros e 25% dos jovens. As contas externas se ajustaram graças à paralisia econômica e à desvalorização cambial, que contraem as importações. E a inflação caiu não pela disciplina fiscal, mas pela dose cavalar de recessão. Ainda assim, o horizonte é nebuloso, e a economia continua na UTI.

Lava-Jato deu certo, apesar dos políticos e do governo – Editorial / Valor Econômico

A defesa da presidente afastada Dilma Rousseff ganhou um novo alento com a divulgação do áudio de conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com antigos parceiros do Senado, dentre os quais deve-se destacar o presidente da Casa, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney, ambos próceres de primeira grandeza na constelação do PMDB.

Alegam os defensores de Dilma que as gravações são a comprovação do "golpe" parlamentar desfechado contra a presidente da República por um punhado de políticos cujo intuito, na realidade, seria barrar as investigações da Operação Lava-Jato. Por esse argumento, Dilma era o último baluarte contra tenebrosas maquinações para impedir o inquérito que desvendou o roubo de R$ 6,2 bilhões da Petrobras, considerando-se apenas o que foi contabilizado em balanço da empresa. E por isso caiu. Trata-se de uma mistificação, como deixam claro os fatos até aqui do conhecimento público.

Prestes e a lenda do sapo barbudo - Miguel de Almeida

- Folha de S. Paulo

A história só termina quando acaba, segundo o filósofo Chacrinha. Até o momento, Luiz Inácio Lula da Silva e Luís Carlos Prestes são identificados como os dois mais populares líderes da esquerda no Brasil.

O comunista Prestes morreu em 1990, aos 92 anos, e presenciou a derrota de Lula para Fernando Collor, em 1989. Teve uma vida recheada de aventuras: militar, engenheiro ferroviário, viveu na clandestinidade por décadas, passou nove anos na cadeia getulista, foi exilado. Na academia militar, onde se formou, sua inteligência em cálculo era uma lenda. Na arte militar, nem tanto.

Talvez por isso seja tão criticado. É reconhecido por sua liderança férrea e, principalmente, pela quantidade absurda de erros estratégicos cometidos em sua ação política.

Em 1935, acreditou que tinha apoio popular para a tentativa de um golpe e acabou pendurado na brocha e na cadeia. Teve sorte, pois alguns de seus companheiros terminaram mortos.