O Globo
Cerimônia de diplomação foi uma exaltação à
democracia
Era para ser uma simples diplomação dos
candidatos eleitos a presidente da República e vice, como sempre acontece antes
da posse formal. Mas, como não estamos em tempos normais, acabou sendo uma
cerimônia de exaltação à democracia e, também, de advertência aos que insistem
em tumultuar o processo normal de transição de um governo ao outro.
Tivemos apenas duas mudanças de guarda da
oposição para a situação na Presidência da República depois da
redemocratização. Em 2003, Fernando Henrique Cardoso fez uma transição
democrática exemplar para seu adversário histórico, o PT de Lula. Em 2019, o então
presidente Michel Temer, um político de centro, passou a faixa ao representante
da extrema direita, Bolsonaro.
As demais transições foram entre iguais,
nas reeleições de FH e Lula e entre os petistas, com Lula passando a faixa a
sua escolhida, Dilma Rousseff. A cerimônia de diplomação, em todos esses casos,
foi apenas protocolar, sem polêmicas. Desta vez, será a passagem de bastão de
um presidente de extrema direita para um de esquerda.
Essa mudança radical poderia ser o ápice de nossa evolução democrática, não fossem as ameaças permanentes do perdedor da eleição e os acampamentos de seus seguidores para pedir intervenção militar, sem que as autoridades militares desautorizem tais manifestações, que não são protegidas pela liberdade de expressão porque defendem medidas ilegais.