segunda-feira, 30 de maio de 2011

Opinião – Roberto Freire

Mais preocupado em livrar-se da ameaça de uma CPI do que coordenar as ações do governo, é incapaz de comandar sua própria base, obrigando a presidente a negociar no varejo para preservar seu ministro, e tentar governar.

Esse é o quadro desolador de um governo que não governa, como pode ser facilmente observado pela paralisia das obras do PAC 2, notadamente as que envolvem a Copa e a Olimpíada, o retorno da inflação e o crescente desajuste fiscal.

Um dos resultados desse desgoverno é o ambiente cada vez mais confuso em que atua sua base parlamentar.

Não por outro motivo, o ex-presidente Lula assoma o proscênio buscando o apoio de Sarney para impedir que Palocci não tenha que prestar contas sobre o fantástico desempenho de sua “empresa de consultoria”, formada por dois empregados, e sobre a qual ninguém no mercado nunca ouviu falar.

Talvez seja em relação a ela que o ex-presidente se referia quando falava em “espetáculo do crescimento”.

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS. Um governo tutelado. Brasil Econômico, 27/5/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO


Governo prepara ação contra onda de assassinatos no campo
Temer: articulação política necessita ajuste
Juiz critica nova lei de prisão preventiva

FOLHA DE S. PAULO

Brasileiros não fazem planos para se aposentar
Expulso, promotor teve salário pago por 22 anos
TCU vê indícios de pagamento a ‘fantasmas’ em obra do PAC
Cigarros com sabor deveriam ser proibidos, aponta pesquisa

O ESTADO DE S. PAULO

Fundos de FGTS da Vale e da Petrobrás encolhem R$ 1,6 bi
CGU resiste a investigar denúncias contra Palocci
Governo quer intervir em área de conflito agrário

VALOR ECONÔMICO

China age para vetar Brasil no Conselho de Segurança

ESTADO DE MINAS

Cadê o salário que prometeram?
Luz para nem todos

CORREIO BRAZILIENSE

Lagarde começa campanha no Brasil

ZERO HORA (RS)

O que vai mudar no uso do cartão

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Mortes, tensão e reação

Serra terá no conselho político mais influência do que parece

Raquel Ulhôa

Brasília - Embora os adversários digam que a presidência do conselho político do PSDB foi dada ao ex-governador José Serra como um "prêmio de consolação", o candidato a presidente da República derrotado em 2010 terá, no cargo, forte influência nas decisões sobre as principais estratégias partidárias, como fusão com outros partidos, incorporação de legendas, política de alianças e fórmula de escolha dos candidatos a cargos do Poder Executivo - assuntos que constam das novas atribuições do conselho.

Um tema prioritário na agenda do conselho, que passa a ser deliberativo, é a política de alianças do partido nas eleições municipais de 2012. Estará em pauta, também em breve, a tese de fusão ou não do PSDB com os demais partidos de oposição. Serra é totalmente contra. O senador Aécio Neves (MG) não descarta, mas como questão a ser tratada apenas depois das eleições municipais.

Como representante do Congresso Nacional, Aécio vai integrar o conselho presidido por Serra, assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), reeleito, e os governadores Geraldo Alckmin (SP) - na condição de ex-candidato a presidente-, e Marconi Perillo (GO) - representando os oito governadores do partido.

Embora haja no partido, hoje, tendência expressiva pela candidatura presidencial de Aécio em 2014, na correlação de forças dentro do conselho não se pode afirmar em maioria ou minoria dele ou de Serra. Dependendo do assunto, questões locais vão pesar mais que a nacional. Além disso, Alckmin e Perillo têm pretensões de maior protagonismo no partido e não podem ser enquadrados automaticamente como aecistas ou serristas.

A ampliação dos poderes do conselho - que levou Serra a aceitar o cargo - foi aprovada pelas principais lideranças tucanas quando já transcorria a convenção nacional, sábado, em Brasília. O conselho político deixou de ser meramente consultivo, como era até então previsto no estatuto, para ser deliberativo. Seus integrantes, em vez de nomeados, foram eleitos na convenção, com mandato de dois anos.

Antes do acordo, o grupo de Aécio elevou a tensão ao máximo e já havia derrotado Serra em vários rounds. Primeiro, organizando apoio da bancada na Câmara dos Deputados à reeleição de Sérgio Guerra, o que matou pela raiz uma articulação para levar Serra à presidência do partido.

Ao mesmo tempo, foram barradas as investidas para tirar do cargo o secretário-geral, deputado aecista Rodrigo de Castro (MG). Depois, o convite público ao ex-senador Tasso Jereissati para presidir o Instituto Teotonio Vilela (ITV), pondo fim à pressão dos paulistas para dar o cargo a Serra. Na sexta-feira, véspera da convenção, FHC, Alckmin e Serra chegaram a cogitar de não participar do evento.

Acabaram viajando a Brasília, mas as conversas continuaram na manhã do próprio sábado. A proposta do conselho político foi retomada nas bases sugeridas há cerca de dois meses pelo governador Marconi Perillo: um órgão enxuto (seis membros), presidido por Serra. Daquela vez, a ideia não prosperou, porque a corrente ligada a Aécio divulgou a versão de um colegiado maior, com 14 integrantes, presidido por FHC. Serra rejeitou, por considerar que a proposta fora "desvirtuada" e que a instância não teria importância.

Com o órgão fortalecido e FHC abrindo mão da presidência para Serra, foi feito o acordo. Participaram Alckmin e Marconi, além do presidente do partido, Aécio e do senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), reunidos na casa do líder do PSDB da Câmara, Duarte Nogueira (SP). Batido o martelo, Serra e Tasso foram chamados. Hospedados no mesmo hotel, encontraram-se no hall e cumprimentaram-se friamente. Pouco tempo depois, todos chegaram à convenção juntos, na mesma Van.

Para Tasso, a disputa teve um lado positivo, mas o partido precisa mudar. "Essa disputa é sinal de vida do PSDB. Sinal de que o partido está vivo. Mas, até a convenção. De agora em diante, temos problemas muito mais importantes a enfrentar", disse. Segundo Tasso, nesse momento em que o governo Dilma Rousseff está "fazendo água por todos os lados", a obrigação do PSDB é se unir para criticar, fiscalizar e mostrar os erros.

Na repartição de espaço da executiva, os principais interessados foram contemplados. Serra ficou sem os recursos e a estrutura ITV, com os quais poderia montar uma espécie de "comando paralelo" ao da Executiva Nacional do PSDB, segundo adversários. O conselho não tem recursos nem estrutura própria.

Passada a tensão das negociações, Tasso já tem planos de montar um "grande fórum de discussões" para construir um programa de governo do partido para 2014. Uma ideia é promover um "profundo estudo" sobre as causas da corrupção no país e incluir no programa do partido propostas para combatê-la, como - entre os exemplos citados por ele - a profissionalização do serviço público e a redução dos cargos comissionados.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Após convenção conturbada, tucanos esperam trégua entre Serra e Aécio

Ex-governador de SP teria ficado satisfeito com o Conselho Político

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Um dia após a conturbada eleição interna do PSDB marcada por uma queda de braço entre o ex-governador José Serra e o senador Aécio Neves, aliados do paulista contestaram a avaliação de que Serra saiu derrotado. Segundo um dos interlocutores, deputado Jutahy Magalhães (BA), Serra ficou satisfeito com a presidência do Conselho Político e a expectativa é que haja uma trégua na disputa entre os dois grupos.

Serra pressionou para que fosse indicado para presidir o Instituto Teotônio Vilela (ITV). Aécio não concordou porque já havia acertado a vaga com o ex-senador Tasso Jereissati (CE).

- Serra ficou satisfeito com o resultado. De fato, o que ele queria era o Conselho. O ITV foi uma alternativa porque o formato original proposto para o conselho foi deturpado - disse Jutahy.

A ideia de criar um conselho político para discutir as grandes questões foi do governador de Goiás, Marconi Perillo.

- Era para ser uma estrutura enxuta, com espaço de destaque e o Serra aceitou. Mas, quando coloquei a ideia na reunião de governadores do PSDB, em Minas, ela se ampliou e o conselho ficou esvaziado. Serra perdeu o interesse, se sentindo desprestigiado. Mas conseguimos retomar a ideia original e o partido acatou algumas exigências de Serra - disse Perillo. - Por isso, não vejo Serra como derrotado. O interesse dele pelo ITV foi apenas uma válvula de escape.

O conselho que Serra presidirá terá caráter deliberativo e autonomia financeira, operacional e de pessoal - exigências dele. No dia seguinte à eleição interna, os tucanos mostraram-se otimistas com uma trégua:

- É bola pra frente, virar a página. Agora é acalmar a ansiedade para 2014 - pregou o líder na Câmara, Duarte Nogueira (SP).

- Foi o momento mais tenso que vivi no partido. Felizmente, foi superado. O que o eleitor quer é a nossa unidade para enfrentar o PT - disse Jutahy.

FONTE: O GLOBO

'Não houve um derrotado na convenção do PSDB'

Christiane Samarco

Entrevista - Tasso Jereissati, presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB

Depois de garantir a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV) de estudos e pesquisas do PSDB - cargo pleiteado pelo ex-governador José Serra -, o ex-senador Tasso Jereissati (CE) admite que houve uma disputa interna sem precedentes no partido às vésperas da convenção nacional, mas sustenta que não houve um perdedor. Serra assumiu o comando do Conselho Político do PSDB. "O dia a dia vai mostrar que não houve um derrotado na convenção, e sim um ganhador, que foi o PSDB", disse ao Estado.

Mais do que defender prévias para escolher o candidato tucano a presidente em 2014, ele afirma que a fórmula atual, em que os caciques decidem, "envelheceu; está vencida".

O ex-presidente FHC reconheceu que até pouco antes da convenção o partido estava brigando. Afinal, o PSDB saiu rachado ou renovado?

Todos os partidos têm embates, isso não é novidade. Houve um embate sim, mas acho que saímos da convenção renovados, e não rachados. Eu entendo que essa disputa foi uma renovação. O partido sai dela com muito mais vitalidade e força para fazer oposição e construir nosso projeto de poder.

Mas José Serra não levou o que queria.

Não acho que teve perdedor. O dia a dia vai mostrar que não houve um derrotado e sim um ganhador, que foi o PSDB. Um partido não pode ser morno com todo mundo acomodado em seus lugares. Um partido como o nosso, há oito anos na oposição, tem que ser quente mesmo, ter os exaltados.

O formato do Conselho Político deixa Serra confortável?

Essa história de deixar São Paulo ou deixar o Ceará confortável é uma linguagem um pouco antiquada, que pressupõe donos e coronéis no partido. O Serra é, sem dúvida, uma das maiores lideranças de São Paulo e do Brasil e ninguém deixa de reconhecer isso. A questão não é São Paulo. É o Serra que, por sua personalidade, liderança e história, tem que ter uma posição importante, de deliberação. O Conselho formaliza essa senhorialidade que ele tem naturalmente dentro do partido.

Apesar dos discursos em nome da união, as divisões internas não desapareceram.

Você conhece algum partido que não tenha disputa interna, seja no Brasil ou no exterior?
As primárias nos EUA são o exemplo clássico disso. A disputa entre a Hillary e o Obama foi duríssima. Aqui não chegou nem perto disso. Foi bom ver um partido que está querendo viver, participar, ter seu lugar nessa política sufocante de governo. Esse governo tem uma base fisiológica gigantesca que procura sufocar a minoria de oposição que está fora dessa órbita.

O confronto interno entre Serra e Aécio significa que o PSDB vai fazer prévias presidenciais?

Sem dúvida existem diferenças neste processo que ninguém pode negar. Sempre fui defensor de prévias e a favor da disputa. Levantei o assunto quando presidia o PSDB. De fato, quando houve disputa entre Serra e Alckmin, FHC, Aécio e eu tivemos que tomar a decisão. Vi ali que essa decisão de caciques está ultrapassada. Isso vinha da época dos cardeais tucanos que tinham poder absoluto no partido, pela liderança incontestável que tinham. Mas esta fase já passou. A fórmula envelheceu; está vencida.

FONTE O ESTADO DE S. PAULO

CGU se recusa a investigar ascensão patrimonial de chefe da Casa Civil

Apesar de haver decreto presidencial, de 2005, que prevê apuração de suspeitas de enriquecimento ilícito dos agentes públicos, Corregedoria-Geral da União argumenta que Palocci era membro do Poder Legislativo quando seu patrimônio aumentou

Marta Salomon

Duas semanas depois de revelada a vultosa evolução patrimonial do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, o que gerou suspeitas sobre tráfico de influência, a Controladoria-Geral da União (CGU) se recusa a abrir sindicância para avaliar o caso, apesar de decreto presidencial vigente determinar a investigação a partir de notícia ou de indícios de enriquecimento ilícito e evolução patrimonial incompatível de agentes públicos.

Para não investigar o caso, a CGU alega que Palocci não era "agente público" na época em que recebeu os pagamentos feitos à empresa Projeto Consultoria Financeira e Econômica Ltda., que prestou serviços de consultoria a bancos, montadoras e indústrias. A consultoria foi aberta em 2006 e em 2010 Palocci mudou o objeto social da empresa, que se transformou em administradora de imóveis. A maior parte dos rendimentos, porém, ocorreu no final de 2010, período em que o ministro adquiriu um apartamento de luxo avaliado em R$ 6,6 milhões.

Parte dos pagamentos, no entanto, foi feita depois que Palocci assumiu a coordenação técnica do governo de transição, indicado pela presidente eleita Dilma Rousseff. O petista foi oficialmente nomeado para a equipe de transição no dia 3 de dezembro. O ministro da Casa Civil já admitiu a políticos que a maior parte dos pagamentos da Projeto ocorreu nos meses de novembro e dezembro.

Palocci dividia seu tempo em Brasília entre o Centro Cultural do Banco do Brasil, sede da transição, e a residência de Dilma Rousseff, quando recebeu dinheiro referente à quitação dos contratos de consultoria da Projeto, informou ao Estado o advogado do ministro, José Roberto Batochio.

"De fato, isso é verdade", disse o advogado sobre a data do registro dos pagamentos. "A empresa encerrou suas atividades e, como tinha contratos em andamento, esses contratos foram rescindidos, e os pagamentos ocorreram no final do ano passado, em novembro e dezembro", confirmou Batochio.

Decreto. A ordem para que a CGU abra sindicância patrimonial para investigar indícios de enriquecimento ilícito de agentes públicos consta de decreto assinado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no final de junho de 2005.

Naquele mês, Lula estava às voltas com as primeiras denúncias do mensalão, esquema que envolveu as principais figuras do governo petista e que ainda será julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). O decreto foi editado como parte da reação do Palácio do Planalto às denúncias.

O artigo 8.º do decreto diz que "ao tomar conhecimento de fundada notícia ou de indícios de enriquecimento ilícito, inclusive evolução patrimonial incompatível com os recursos do agente público, a autoridade competente determinará a instauração de sindicância patrimonial".

A investigação interna, prevê a medida, não teria nenhum caráter punitivo. No artigo 14.º, o decreto prevê ainda que o descumprimento dessas normas configura crime de responsabilidade.

Argumentos. Questionado ontem pelo Estado, o ministro interino da CGU, Luiz Navarro, informou que o Decreto 5483/2005 não se aplica a membros do Poder Legislativo e que Palocci não tinha vínculos com o Executivo na época dos pagamentos, ou seja, em 2010. Palocci tinha mandato de deputado, mas na ocasião já trabalhava como coordenador técnico da transição.

"A meu ver, a justificativa é frágil, mas é a justificativa que o governo quer que a sociedade absorva", avaliou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante.

"Lamento a falta de autonomia das controladorias em relação ao Executivo. Acabam tendo de ceder às determinações de governo, que não quer investigar", acrescentou.

Por ora, o ministro está sob investigação do Ministério Público Federal no Distrito Federal. Na sexta-feira, o procurador Paulo José Rocha Júnior abriu procedimento para apurar eventual enriquecimento ilícito de Palocci no âmbito cível, por suposta prática de improbidade administrativa. O procurador do DF aguarda dados dos contratos da Projeto e cópias de declarações do Imposto de Renda da empresa.

O ministro enviou na semana passada explicações sobre sua atividade empresarial ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, mas até hoje não deu nenhuma declaração pública sobre os fatos e suspeitas.

Na quinta-feira passada, o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, enviou ofício à CGU cobrando a observância do decreto, mas não obteve resposta.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Governo faz esforço para conter crise no Congresso

Objetivo é evitar que Palocci tenha que depor no Senado, além de rachas em votações

Além de ter problemas com o PMDB, governo vê falta de união do PT; por trás de brigas, está a presidência da Câmara

Eliane Cantanhêde, Catia seabra e Ana Flor

BRASÍLIA - Testemunha da discussão entre o vice-presidente da República, Michel Temer, e o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci -que acionou o viva-voz do telefone ao falar com Temer-, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), reconheceu que as divergências entre PT e PMDB "deixarão sequelas".

O mote da briga foi a votação do Código Florestal na Câmara, na semana passada.

Na tentativa de garantir o apoio do PMDB, que acabou não ocorrendo, Palocci telefonou ao vice e transmitiu ameaça da presidente Dilma Rousseff, de que demitiria todos os ministros da sigla.

Descontente com os líderes e os partidos aliados, o governo iniciará um esforço para evitar a contaminação da crise no Congresso, onde se discute a convocação de Palocci para depor.

O ministro é coordenador político de fato do governo e pivô da crise, depois que a Folha publicou que o seu patrimônio multiplicou por 20 em quatro anos e que sua empresa faturou R$ 20 milhões em 2010, ano eleitoral.

O esforço governista começa hoje, às 8h, quando Temer se encontra, na Base Aérea de Brasília, com Dilma. Como ele mesmo disse à Folha, para "tirar uma foto sorridente". Ele receberá senadores do PMDB para jantar.

Amanhã, Dilma e Temer se reúnem e, na quarta, almoçam juntos no Alvorada com senadores do PMDB.

O dissidente Jarbas Vasconcelos (PE) disse que não vai aos encontros: "O episódio [a briga] foi muito forte e mostra a prepotência e o desespero do governo. Acho que ela [Dilma] se tornou prisioneira de todos".

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Eunicio Oliveira (PMDB-CE) prevê que os encontros não encerrarão divergências, como no Código Florestal. O governo é contra a anistia a quem desmatou áreas de preservação até 2008; o PMDB, a favor.

O senador Ricardo Ferraço (ES) avalia que a adesão dos dissidentes ao pedido de CPI de Palocci dependerá da explicação à Procuradoria-Geral da República.

Há críticas dos aliados também à própria presidente. Mais de uma vez, ela se recusou a participar de negociações políticas e é acusada, sobretudo pelo PMDB, de tentar impor sua vontade.

Os problemas do governo chegam ao PT. Na votação do Código Florestal na Câmara, quase metade do partido votou contra o governo.

Segundo um ministro, a "desobediência" reflete a disputa pela presidência da Câmara em 2013. Há forças que buscam quebrar o pacto de eleger um peemedebista e manter o PT com o cargo.

Dilma pretende reunir líderes governistas para ajustar o discurso pró-governo. Seria também uma forma de demonstrar comando da situação política, depois que o ex-presidente Lula foi a Brasília para assumir as articulações.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO


Simon vai pedir a Dilma que Palocci seja afastado

Andreza Matais e Gabriela Guerreiro

BRASÍLIA - O senador Pedro Simon (PMDB-RS) vai aproveitar um almoço com a presidente Dilma Rousseff depois de amanhã para pedir que ela afaste o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) enquanto ele estiver sob suspeita de enriquecimento ilícito.

A ideia é usar o encontro da bancada do PMDB no Senado com a presidente para abordar o assunto. Simon é o segundo senador da base aliada a defender o afastamento do ministro. A primeira foi Ana Amélia (PP-RS).

Da ala dissidente do PMDB, ele disse que de nada irá adiantar uma CPI para investigar Palocci, porque o governo vai repetir a estratégia de esvaziar os trabalhos.

"A única pessoa que pode esclarecer esses fatos é o procurador-geral da República."

O procurador Roberto Gurgel analisa se abre investigação contra Palocci.

O ministro se recusa a informar quem eram seus clientes sob o argumento de que os contratos têm cláusula de confidencialidade.

DISCURSOS

Conhecido pela contundência dos seus discursos, Simon já provocou a demissão do então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, no governo FHC, após falar no plenário.

Mendonça de Barros teve seu nome envolvido em um escândalo de grampos no BNDES, na época das privatizações, mas foi absolvido.

Simon também promete aconselhar, em discurso amanhã, Palocci a deixar o cargo. "É ridículo ele se recusar a depor no Congresso. Como assim ele não quer falar?"

Também do PMDB, o senador Roberto Requião (PR) voltou a criticar a blindagem.

"Essa complacência com a corrupção compromete todo um projeto de nação. Continuo acreditando no governo da Dilma, mas eu não sou complacente com o que está acontecendo no país", disse ele em seu site.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

'Dilma perdeu seu grande projeto político'

Entrevista : Para pesquisador, presidente terá de ceder ao PMDB

Cristian Klein

São Paulo - Depois de uma aparente lua-de-mel, que marcou os cem dias iniciais de seu governo, a presidente Dilma Rousseff enfrenta o revés da primeira grave crise política, com as denúncias envolvendo a súbita evolução patrimonial do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e, na sequência, a derrota na votação do Código Florestal. Uma derrota imposta não pela oposição, hoje minguada, mas por um aliado da própria coalizão, o PMDB. Um fracasso que representa, na opinião do professor de filosofia da Unicamp e pesquisador do Cebrap, Marcos Nobre, o fim do grande projeto político de Dilma: governar com relativa autonomia, com indicações ao segundo escalão que vinham seguindo critérios mais técnicos, sem se dobrar ao "pemedebismo", termo preferido de Nobre para denominar a cultura política brasileira. Para Nobre, os recentes acontecimentos, que incluem a "absurda" entrada do ex-presidente Lula em cena, mostram que Dilma perdeu a queda-de-braço e vai ter que ceder. Terá uma tarefa "muito difícil" para se reeleger e deve exercer o mesmo papel de seus antecessores: ser apenas a síndica do condomínio pemedebista. Com um agravante, avisa: o de que o sistema político se esgotou e tende a levar o país à paralisia. A seguir, os principais trechos de sua entrevista ao Valorconcedida na tarde da última sexta-feira, em sua casa em São Paulo.

Valor: O que aconteceu com o governo Dilma?

Marcos Nobre: A Dilma teve de renegociar os acordos feitos pelo Lula. O Lula ampliou a base do governo a tal ponto que não existe mais oposição. Quando acontece isso, a oposição vai para dentro do governo. Na verdade, o jogo entre governo e oposição é entre PT e PMDB e, digamos, seus satélites. Nesse processo de ampliação da base, Dilma resolveu aproveitar o que chamo de excesso de adesão para tentar fazer uma seleção dos quadros do segundo escalão. Quis aproveitar a situação a favor dela. Estava usando todo seu capital eleitoral para fazer essa negociação dura com o PMDB e com os outros partidos, para que aqueles que fossem acolhidos no segundo escalão fossem mais técnicos, com mais qualidade gerencial, e política também, no sentido de tentar encontrar currículos que fossem mais "ficha limpa". E o caso Palocci termina essa tentativa da Dilma. Nesse momento, a Dilma vai entregar o que o PMDB pedir. É a parte triste da história.

Valor: A Dilma errou ao conduzir a negociação política e ao escalar Palocci para a Casa Civil?

Nobre: Não sei se errou porque o caso é muito estranho e não temos esclarecimento. Se Palocci não der explicações razoáveis, ela errou com certeza porque não aplicou os critérios que ela mesma disse que iria aplicar, no primeiro escalão.

Valor: Parlamentares reclamam muito de não serem atendidos pela presidente. Consta que a cada dez indicações de nomes levados por Palocci, Dilma aceitaria, por exemplo, apenas dois ou três.

Nobre: Isso tem lá sua parte de verdade e tem também a parte de que o Palocci está tentando tirar a responsabilidade dele mesmo.

Valor: Como a presidente pôde perder a votação do Código Florestal tendo uma base tão grande? Faltou habilidade ou seria inevitável?

Nobre: Inevitável nada é. E habilidade realmente não é uma característica dos líderes escolhidos pela Dilma.

Valor: Que líderes?

Nobre: Nobre: O [Cândido] Vaccarezza [líder do governo na Câmara]. É de uma inabilidade flagrante.

Valor: Ele subiu à tribuna dizendo que tinha acabado de conversar com a Dilma, que teria lhe dito considerar uma "vergonha" o Código que a Câmara iria aprovar. Isso causou muitas reações.

Nobre: Além da ameaça que aparentemente existiu de que a Dilma demitiria os ministros do PMDB. Então, o que se tem é um processo de chantagem mútua. O PMDB chantageia porque quer as nomeações, e a Dilma chantageia de volta dizendo: "Então eu demito". Aí, é uma queda-de-braço. Só que, com o caso Palocci, enfraqueceu o lado da Dilma. O enfraquecimento dela foi tal que o Lula ocupou o espaço dela. E isso realmente é um dos grandes absurdos do momento político brasileiro. Ele obriga a Dilma a sair a público para falar a favor do seu ministro, mesmo que em termos muito genéricos. Isso só ajuda a aumentar o estado de confusão da situação política brasileira. Não ajuda em nada a intervenção do Lula.

Valor: Há um duplo comando?

Nobre: Não... Porque em política existe uma regra que é: há uma pessoa que tem a caneta. Isso faz muita diferença. Mas aumenta a confusão. O que aconteceu no Código Florestal? O PMDB disse: "Olha, se continuarem neste ritmo as exigências que estão sendo feitas para as nomeações de segundo escalão, vamos votar contra o governo". E escolheram um projeto, o Código Florestal, que não é vital para o funcionamento da máquina governamental. Escolheram quando perceberam que Dilma endureceu porque tomou essa votação como se fosse, no parlamentarismo, um voto de desconfiança. Ela levou a votação nesses termos, coisa que não deveria ter feito. Resolveu tirar a limpo e quando, no meio, acontece o caso Palocci, ela não tinha mais força para enfrentar essa base.

Valor: Havia saída?

Nobre: Qualquer que seja o governo ele acaba sendo submetido à lógica do sistema político, que funciona de maneira autônoma. Algo do tipo: "Se você não mexer comigo, eu não mexo com você". Isso significa que funciona na base da chantagem mútua e na base do veto mútuo. Um exemplo: o caso dos líderes parlamentares religiosos que fizeram um acordo de que não chamariam o Palocci à Câmara se fosse retirado de pauta o material contra homofobia do Ministério da Educação. É um acordo quase mafioso do sistema político, de autoproteção.

Valor: Isso corresponde a um processo de cartelização, que caracterizaria atualmente os sistemas partidários pelo mundo?

Nobre: Não, é uma coisa muito brasileira e, acho, um pouco incomparável. O PMDB criou, lá na década de 80, uma cultura política duradoura para o Brasil, que diz assim: "Se você entrar para o partido - qualquer um pode entrar -, se você se organizar como grupo de pressão, tem o seu interesse garantido e pode ter certeza de que será consultado a respeito de qualquer assunto que diz respeito a esse interesse". Portanto, tem direito de veto. Com isso, você não tem debate público real, porque as questões não vão para o debate, são vetadas antes, como nesse caso que dei do [deputado federal do PR do Rio, Anthony] Garotinho versus Palocci.

Valor: A imagem de uma presidente refém de grupos de pressão não é contraditória com a ideia predominante de que o governo tem a primazia e sua posição quase sempre prevalece, porque pode oferecer cargos, verbas etc?

Nobre: É, mas eu acho que essa ideia de um governo todo-poderoso é completamente ilusória. Basta ver o que o Lula, do alto de seus 80% de popularidade, conseguiu passar no Congresso. O que ele conseguiu passar de realmente decisivo? Nada. O desafio anual do governo é passar a LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] e depois passar a lei orçamentária.

Valor: Qual é a solução para se escapar desse pemedebismo?

Nobre: É preciso ter governos mais enxutos e mais coesos, que coloquem uma linha e digam: a partir daqui eu não aceito.

Valor: Mesmo que seja um governo minoritário?

Nobre: Mesmo. Mas aí é preciso ter um apoio popular significativo para você conseguir se manter. Algum movimento vai ter que ser feito. E necessariamente é diminuir a adesão ao governo. Num certo sentido, Dilma estava fazendo isso, ou tentando fazer, ao colocar critérios rígidos para escolher o segundo escalão. Com o caso Palocci ela perde esse grande projeto político que era dela e vai simplesmente continuar sendo uma síndica do pemedebismo.

Valor: É factível que o Brasil venha a ter um governo minoritário ao estilo dos escandinavos com essa cultura política de barganha?

Nobre: É, mas aí você está me dizendo que o pemedebismo é inevitável. Pode ser. A maioria das pessoas do PT, por exemplo, com quem eu converso, dizem que esta é a estrutura, que se você quiser fazer política pela esquerda, precisa ocupar essa cultura política pela esquerda. O que eu posso dizer contra um argumento realista? Nada. Por que o realismo sempre está certo. Agora, o que muda o mundo não é o realismo. Pode-se dizer: "Isso é ser realista, é ser pragmático". Mas, bom, nós vamos para o buraco, vamos construir uma democracia horrorosa, que é o que estamos fazendo. É um sistema que funciona na base da chantagem.

Valor: Esse modelo de pragmatismo, de maior diluição ideológica, não vem se tornando uma tendência mundial, como o caso clássico do Partido Trabalhista britânico?

Nobre: Com toda razão. Esse movimento para o centro você pode observar em vários países, não vou dizer em todos. Mas no Brasil, a tendência tem uma certa especificidade. Porque não existe na Espanha, na Alemanha, na Escandinávia, essa tradição pemedebista. Ou seja, ser político é estar no poder, seja qual for o governo.

Valor: Não seria esta a origem do problema: o alto custo de ser oposição no Brasil? As reformas não deveriam começar por aí?

Nobre: Sem dúvida. É um problema de cultura política, sim, e é um problema de estrutura também. Você tem uma concentração de recursos na União que é absurda. A União pode manter Estados e municípios a pão e água. Isto não é possível. Esse grau de concentração foi produzido em grande medida pelo Plano Real que retomou o poder para a União, um poder que era disseminado pelos Estados. Os Estados faziam política econômica! Esse processo de concentração e fortalecimento da União foi importante para se estabelecer alguma espécie de estabilidade, mas tem agora um efeito perverso. Porque o sistema político pemedebista, que era a fragmentação entre os Estados, se readaptou a esse modelo centralizado. O que acontece num sistema pemedebizado? Significa que a Dilma, a partir de agora, é refém desse sistema e que ela vai operar nos limites que este sistema colocar para ela. Qual é o problema disso? É que leva à paralisia.

Valor: Por que ela é refém e o Lula não foi?

Nobre: O Lula foi, claro que foi, ele montou este sistema. E ele montou de tal maneira que ele aparecia como alguém que mandava muito e não mandava coisa alguma.

Valor: O Lula não mandava?

Nobre: Muito pouco. Por onde o governo Lula passou neste sistema de vetos? Pense nas políticas pelas quais o Lula é conhecido: Bolsa-Família, Luz para Todos, os PACs, que estão empacados. Foi por onde o sistema não vetava. Quem é contra o aumento do salário mínimo? Quem é contra dar Bolsa-Família? Com isso ele produziu um crescimento econômico que permitiu um realinhamento da economia. Fez uma política "keynesiana". Agora, essa ideia de que Lula mandava muito não procede. Ele é muito importante? Sim, fez o Brasil voltar à ideia de que o país pode ter futuro, de país que cresce. Mas do ponto de vista do sistema político não mudou nada.

Valor: Por que o PMDB não consegue ser o síndico?

Nobre: Quantos votos teve Ulisses Guimarães em 1989, na eleição presidencial, 4,89%? O PMDB aprendeu a lição. Não pode ser síndico de seu condomínio. Porque se o síndico for outro e der errado, a culpa é do síndico. Não é dele. Então essa é a lógica do PMDB: põe a culpa no síndico. Não é a lógica do PMDB só. É de todos os partidos do sistema político brasileiro.

Valor: O PT é um PMDB?

Nobre: Não, o PT é um partido diferente. Por isso ele é síndico. O Fernando Henrique estabeleceu dois polos, que são dois síndicos. Na eleição do condomínio você pode escolher entre eles: o do PT ou o do PSDB.

Valor: Que são duas alternativas ao pemedebismo...

Nobre: Alternativas a tomar conta do condomínio pemedebista. O PSB é assim, o PSD do Kassab é assim. Você acha que Aécio é líder da oposição? Aécio não lidera oposição nenhuma. Ele está esperando que o governo Dilma dê errado para afirmar que isso é um fracasso, depois de dizer que Lula e Dilma eram ótimos. Ou seja, é um mero oportunismo eleitoral. Agora qual é o limite que tem um Estado para fazer o governo Dilma fracassar? Peguemos a Copa. Em que Estados está havendo maior problema? São Paulo, Minas... Só que tem limite. Porque os Estados e municípios dependem de repasses federais.

Valor: Não seria um tiro no próprio pé do PSDB, ao arriscar seu governo nesses Estados?

Nobre: Sim, mas se a Copa não der certo, a culpa é do governo federal, não do estadual. É da Dilma.

Valor: A governabilidade da presidente está ameaçada, a crise tende a se aprofundar, com perda de iniciativa de agenda?

Nobre: A iniciativa de agenda desaparece. Como no governo Lula. Qual foi a iniciativa de agenda dele? Enfrentamento da crise mundial. Foi muito importante, mas foi uma crise mundial! Mas a Dilma pode levar perfeitamente os quatro anos até o final - sendo síndica do pemedebismo.

Valor: Ela vai ser a síndica ou ficará à sombra do antecessor?

Nobre: Acho que a Dilma não vai deixar isso acontecer. Ela deixou claro quando Lula resolveu ocupar o espaço dela. Você acha que o Lula precisa dizer à presidente o que ela tem que fazer? Não tem o menor cabimento. Pode existir um conflito entre os dois? Pode.

Valor: Tende a acontecer?

Nobre: Não tenho a menor ideia. Há aquela lei da política: de criatura e criador. Mas neste caso há um elemento fundamental que é o PT. Quem vai segurar para que isso ocorra ou não é o PT.

Valor: E a reeleição?

Nobre: Se a inflação não for colocada sob controle, se as obras de infraestrutura não forem realizadas para a Copa, e se não tiver uma taxa mínima de crescimento, está ameaçada a reeleição dela, claramente. A tarefa dela é muito difícil. Tem a maior base política da história do Brasil, e a menor margem de manobra. Essa é a situação dela.

Valor: E qual a chance de a oposição capitalizar esse momento?

Nobre: Se Dilma fracassar durante o mandato. Mas capitalizar o Palocci é difícil porque o PSDB está pedindo desculpas por criticá-lo. Não tem oposição!

Valor: Há suspeitas de que a divulgação das denúncias teria sido fogo amigo e partido do próprio PT.

Nobre: Tem, com certeza. Porque, por paradoxal que pareça, o Palocci é o representante do Lula no governo Dilma. E não tem ninguém com quem o PT tenha tido mais divergência do que com o próprio Lula. Claro, essas divergências ficaram todas debaixo do tapete e estavam esmagadas por 80% de popularidade. Mas houve divergências sérias. O PT sentia que não tinha mais a liderança do governo Lula. O Palocci é a continuidade dessa lógica. Num certo sentido, tem fogo amigo sim. Mas tem fogo amigo para todo lado. O PSDB está em guerra. O PT está em guerra. O líder do partido está em guerra aberta com o líder do governo na Câmara. O PMDB está unido, mas apenas momentaneamente, como estratégia.

Valor: O PMDB também não sofre uma influência do PT, ao se tornar cada vez mais coeso e disciplinado, como já havia chamado a atenção na votação do mínimo?

Nobre: Não, acho que quem dá lições sempre é o PMDB. O PMDB diz para onde o sistema está indo.

Valor: Já que o Lula, com toda a sua popularidade, e a Dilma, agora, no seu estilo linha-dura, não conseguiram dobrar o pemedebismo, quem seria capaz?

Nobre: Mas é a sociedade que tem que exigir. Você só ouve argumento realista. Mas eu digo que, se continuar assim, trava. Tende à paralisia e daí o que vai acontecer é uma crise muito maior. O governo Lula teve um efeito extraordinário de inclusão. Mas essas pessoas ainda não falaram! A gente ainda não viu o que vai ser o efeito dessas pessoas que têm acesso a internet, jornal, revista, informação política. Tem efeitos dessas mudanças da estratificação social que a gente não conhece.

Valor: Qual é a causa desse sistema pemedebista?

Nobre: É uma cultura política, que vem de muito longe, que se explica pela nossa história ditatorial recente, é importante dizer isso. Os avanços feitos nos últimos 17 anos ocorreram apesar desse sistema político.

Valor: O pemedebismo é favorecido pelo sistema eleitoral proporcional, que torna o sistema fragmentado? Qual seria o seu modelo preferido, um sistema com apenas dois ou três partidos?

Nobre: O número não importa. Quem é que faz uma reforma política - que na verdade é uma reforma eleitoral? O próprio sistema político. O problema não é da regra enquanto tal. Os protestos na Espanha e os da Primavera Árabe têm suas razões completamente diferentes. Mas o que o sistema político está achando é que enquanto o país estiver crescendo ninguém vai reclamar. E isso é uma loucura, as pessoas vão reclamar.

Valor: Quais os principais problemas que precisam ser atacados?

Nobre: Primeiro, destravar o debate público. No Brasil, se uma questão é colocada imediatamente o problema é: a favor ou contra o governo? E não pode se resumir a isso.

Valor: A existência de uma oposição mais forte não levaria justamente ao não debate e à estratégia de ser "do contra", como ocorria com o PT - por sinal papel típico de quem está na oposição?

Nobre: Não aconteceu isso com o PT, não. Não foi assim. Quer dizer, em alguns casos, como no primeiro mandato do Fernando Henrique, pode ter sido. Mas o PT aprendeu a ser oposição, durante o governo Fernando Henrique. Pegue o caso Telebrás. Ia ter a privatização da Telebrás e o que o PT fez? Apresentou um projeto alternativo de privatização.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Charge: Dilma está preocupada com o rolo de Palocci

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Os miseráveis :: Melchiades Filho

O Planalto comete um erro e uma injustiça ao tratar o Brasil sem Miséria como item da "agenda positiva" para diminuir o desgaste político do "Paloccigate".

Colocar de pé o principal projeto de Dilma na área social é algo mais difícil, e mais importante, do que tentar justificar as peripécias financeiras do ministro da Casa Civil.

Primeiro, porque o governo fixou meta ambiciosa, embora aquém da prometida na campanha eleitoral: em quatro anos, tirar da extrema pobreza 16 milhões de brasileiros.

Segundo, porque, ao menos na largada, o Brasil sem Miséria tem baixo potencial publicitário: não se presta a pirotecnias nem pode ser vendido como "inovador".

O plano, a ser anunciado na quinta-feira, apoia-se em três eixos:

1) Inclusão produtiva: no campo, por exemplo, prevê ampliar o fornecimento de água, dar sementes de qualidade e alinhar os novos agricultores ao setor atacadista.

2) Transferência de renda: aumentar o valor do Bolsa Família e incluir 800 mil lares no benefício.

3) Mobilização do Estado: identificar, contatar e cadastrar 16 milhões de pessoas hoje distantes das cadeias econômicas e dos serviços públicos básicos (mais da metade em área rurais e no Nordeste).

Oito anos atrás, essas iniciativas seriam recebidas com descrença. Hoje, graças ao sucesso do Bolsa Família e à expectativa de outro programa tão transformador, elas soam modestas. Um plano guarda-chuva, lastreado em conceitos como "transversalidade" e "multidisciplina", e dependente da motivação do funcionalismo? Só isso?

A equipe do Brasil sem Miséria conhece o país. Foi quem criou o Bolsa Família e desenhou o projeto do biodiesel (que, se não obteve muito impacto social, implantou do zero uma nova rede produtiva).

Mas ela tem pela frente um enorme desafio de comunicação -desafio que o governo, emudecido pelo enriquecimento de Palocci, não parece em condições de enfrentar.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Nau sem rumo :: José A. Guilhon Albuquerque

Pesquisas acadêmicas mostraram (*) que a identificação partidária e o alinhamento ideológico foram os fatores mais fortemente associados ao voto em Lula e no PT até as eleições presidenciais de 2002. Lula e o PT obtinham melhor desempenho nas intenções de voto entre os que se consideravam mais de esquerda, entre os eleitores do PT, nos grandes centros urbanos das regiões mais desenvolvidas e entre os de classe de renda mais alta.

O primeiro governo Lula promoveu um tal embaralhamento das identidades partidárias e das linhas ideológicas que a identidade partidária perdeu seu impacto e o alinhamento ideológico deixou de ser relevante. A diferença entre a preferência por Lula expressa por petistas e pelos demais enfraqueceu e seu desempenho entre eleitores de esquerda, de direita ou de centro se tornou estatisticamente equivalente (**). As variáveis sociodemográficas tornaram-se o único fator relevante e o eleitorado de Lula passou a ser o de renda mais baixa e de menor escolaridade, concentrando-se nas regiões mais pobres, independentemente da identificação ou filiação partidária dos eleitores.

O efeito da ação desagregadora de Lula levou as linhas partidárias a se dissolverem ainda mais profundamente do que a própria identificação dos eleitores. Na prática, os partidos governistas, inclusive o PT, já não têm relevância senão para dividir privilégios e partilhar posições de mando nos Executivos ou para compartilhar negócios envolvendo investimentos públicos. A despolitização do eleitorado, levada a efeito por Lula, provocou profunda despolitização do sistema partidário. As categorias clássicas do político deveriam ser substituídas por outras, como "governistas", "adesistas" e "independentes", presentes hoje em todos os partidos.

As linhas partidárias, totalmente borradas no interior do governismo, indicam apenas disputas entre partes interessadas no espólio. Nos partidos derrotados nas eleições presidenciais, em especial na última, a competição interna tornou-se disfuncional e self-defeating: uma luta fratricida em marcha batida para a irrelevância. Isolados pelo governismo e pressionados pelo adesismo, esses partidos se empenham em emular o pior do lulismo, sua política de terra arrasada e de consorciamento do poder.

O PSDB está empenhado em fechar as portas a qualquer compromisso, empurrando os insatisfeitos para fora. O DEM tenta curar hemorragia com anticoagulante. O PPS parece paralisado diante da própria impotência. A política de coalizão de veto que levou a oposição à derrota nas três últimas eleições presidenciais se traduz, hoje, numa quadrilha drummoniana: João odiava Teresa, que detestava Raimundo, que boicotava Maria, que vetava Joaquim, que excluía Lili, que não tolerava ninguém. Tudo se passa como se os caciques oposicionistas preferissem perder para a candidatura adversária a ganhar com a candidatura de seu próprio partido.

O PSD é um sintoma da despolitização de um quadro partidário em via de dissolução. O simples anúncio da nova legenda, sem menção a uma única ideia, bandeira ou opção de políticas públicas, atraiu dissidências de diversas origens partidárias e regiões. De nenhum dos partidos de origem se ouviram apelos ou concessões para reter companheiros, que, ao contrário, foram incentivados ao desligamento.

Tal como hoje se apresenta, o PSD não é alternativa, mas, ao contrário, sintoma da falta de opção. Para encarnar uma renovação partidária careceria de um transplante de ideias e objetivos políticos nacionais, artigos em falta no cenário político.

Situações comparáveis já ocorreram. Se dependesse apenas do apoio do PSDB, o governo Itamar teria fracassado, FHC não teria feito o Plano Real, não seria eleito e muito menos reeleito. As oposições têm três aspirantes a uma eventual candidatura presidencial e nenhuma liderança nacional. A probabilidade de essas lideranças cooperarem num projeto político comum da Nação é próxima de zero e a probabilidade de se repetir a quadrilha drummoniana não para de crescer.

Alterar esse quadro atuando dentro dos atuais partidos de oposição seria uma paixão inútil. As instâncias partidárias não são representativas de nada, não encarnam as bases eleitorais, nem os quadros Executivos, nem os detentores de mandatos, nem mesmo os prefeitos e governadores. Não há melhor exemplo do que a exclusão, pelo PSDB paulista, da maioria de sua própria representação na Câmara paulistana, sem nenhuma razão disciplinar ou doutrinária, ou mesmo pragmática, apenas para negar-lhe o direito de voz!

A condição para a formação de uma corrente política independente seria a criação de um movimento de ideias, calcadas numa forma de atuação política e num estilo de gestão pública, algo como a inspiração que o governo Montoro proporcionou na criação do PSDB. Sem a referência de governos programáticos como o de Montoro ou Richa o PSDB dificilmente teria vingado e certamente não chegaria ao poder.

Essa corrente precisaria atrair mais quadros insatisfeitos no PSDB, no PPS, no DEM - e até no neonato PSD. Se não houver espaço para um vigoroso movimento de ideias capaz de reverter o processo de desgaste do PSD, fruto dos sinais de adesismo constantemente emitidos, tampouco vejo como se poderia consolidar alguma liderança independente realmente nacional a partir do ninho tucano.

O mais recente caso Palocci espelha o que há de trágico na política brasileira atual: conformar-se com a extraordinária competência do governismo para fazer o mal ou lamentar a triste inapetência da oposição para cumprir o seu dever.

(*) Pesquisas sobre comportamento eleitoral em eleições presidenciais dirigidas por Moisés e Guilhon 1990; Guilhon, Balbachevsky, Holzacker 1994, 1996, 1998; e com participação de Balbachevsky, Holzhacker 2002.

(**) As primeiras a apontar essas mudanças foram Balbachevsky, Holzhacker 2008, seguidas por Singer 2008.

Professor titular da USP,

FONTE:: O ESTADO DE S. PAULO

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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O desejo de um novo 1968:: Renato Janine Ribeiro

Nesta sexta-feira de manhã, fui do aeroporto ao centro de Barcelona, para falar no encontro da Academia da Latinidade sobre o imaginário democrático. Quando chegava, outra participante, a tunisiana Hélé Beji, dava uma entrevista à televisão espanhola sobre a revolução em seu país. De repente, ouvimos os helicópteros da polícia catalã que começavam a tarefa, que terminou sangrenta, de retirar as pessoas que ocupavam a Plaça de Catalunya pedindo uma política melhor e diferente. Com o ruído, ficou impossível ela gravar. "Igualzinho ao que aconteceu na Tunísia", comentou.

Mais tarde, pelas 20h, estive na praça. Mais de cem pessoas tinham sido feridas ao meio-dia; ao entardecer, havia jovens e gente madura: muitos com flores nos cabelos, ou cartazes escritos a mão, geralmente com frases de Gandhi. A calma era absoluta. Eu imaginaria, se fosse no Brasil, um clima de pós-devastação, mas não foi o caso. Não era um ambiente de ressaca ou fim de festa. As coisas estavam sóbrias, mas não tristes.

O Mediterrâneo está passando de uma primavera a outra. Primeiro, foi a primavera árabe, que na verdade começou no inverno mas, enfim, a imagem que pegou é a da primavera, a primeira estação, a inaugural, a das flores, da vida e da beleza. Lá se rompeu um paradigma idiota, o do conflito das civilizações, caro a Huntington e aos conservadores. Está-se mostrando possível unir democracia e cultura islâmica como, por sinal, há tempos propõe Tariq Ramadan, outro pensador que frequenta as reuniões da Academia da Latinidade. Mas, agora, está sendo a primavera ibérica, que é bem diferente.

Por que a diferença? Porque a questão é a de uma nova política. Ou deveríamos falar em duas novas políticas. A fusão do islamismo com a democracia é muito importante. Curiosamente, desde que se provou que o Iraque não tinha armas de destruição maciça e que o pretexto de Bush para invadir aquele país rico em petróleo era falso, a direita norte-americana assumiu o discurso da mudança de regime - isto é, da implantação da democracia no mundo islâmico, a começar pelos países ocupados, Iraque e Afganistão. Mas foi uma democracia não-preparada, com colaboracionistas locais de pouca credibilidade e desrespeito por culturas que os ocupantes desconheciam. O que ora sucede na margem sul do Mediterrâneo são movimentos autônomos, que incomodam as potências ocidentais por questões geopolíticas, mas têm raízes nas suas próprias sociedades. Se derem certo, o que não está garantido, mudará a política mundial.

Já na Espanha e em Portugal se quer outra coisa. Na verdade, a palavra certa não é o que se quer: é o que se deseja. Há a convicção de que se esgotou a maneira usual de fazer política usual. Por isso, muitos dos que vão às praças ibéricas não se importam com as eleições que houve na Espanha e haverá em Portugal. O resultado delas pode beneficiar os políticos conservadores. Mas os manifestantes não se batem por uma política menos ruim, com redução de danos, menos opressiva. Lutam por outra coisa.

Penso que as gerações que não tiveram, como a minha, a oportunidade de ser jovens em 1968 acabaram mitificando - mas com razão - aquele ano. Vejam: desde que entramos na era das revoluções, timidamente com a inglesa de 1688, decididamente com a americana de 1776 e a francesa de 1789, elas têm duas características. Primeiro, são imprevisíveis. Mas, segunda, depois de acontecerem, são explicáveis. Dá para encontrar suas causas, usualmente econômicas, talvez sociais. Dá para mostrar que era impossível continuar o sistema colonial, ou feudal, ou o atraso russo.

A grande exceção foi 1968. Não há explicação para a enorme explosão que tomou conta do mundo. Sua causa mais provável pode ter sido, simplesmente, o tédio. Uma semana antes de começar, com a invasão do dormitório feminino de Nanterre pelos rapazes, um jornalista francês, Pierre Viansson-Ponté, publicava um artigo com o título "A França está entediada". Não havia uma crise econômica notável, desemprego significativo, guerra colonial, nada disso. Mas as pessoas não aguentavam mais alguma coisa vaga, porém insuportável.

Nem os revoltosos do maio francês sabiam o que estavam fazendo. Muitos usavam os slogans marxistas e acreditavam fazer uma revolução bolchevista, com as adaptações requeridas por ocorrer num país desenvolvido, culto e com forte sociedade civil. O que chamamos de "maio de 1968" só nasceu uns dois anos depois, à medida que foi sendo evocado - depois que o Partido Comunista deixou claro que não faria a revolução. Prevaleceu então a lembrança anárquica, criativa, sobre a crônica do que realmente sucedera. Foi um caso excepcional de invenção da memória, com toda a riqueza que essa pode trazer.

Desde então ressurge, cada poucos anos, um anseio por um 1968 - claro, pelo 68 mítico. É um desejo de utopia. Surge sem causa ou, se há causas, não são suficientes para explicar a consequência. A primavera ibérica pode dar em nada. Mas mostra, pelo menos, que o melhor da energia da sociedade, pelo menos de tempos em tempos, anseia por algo que seja político, mas completamente diferente de "tudo o que está aí". No Brasil o PT soube, por um tempo, captar essa energia. Isso terminou. Mas continua havendo, mundo afora, esse desejo, que nem os ecologistas conseguem absorver. Descartá-lo como "utópico", no mau sentido, é esquecer que só ele pode renovar a política. Acreditar que possa ser tomado pelos partidos existentes é uma ilusão. O fato é que, até hoje, essa energia trouxe resultados aquém dos esperados, mas além dos previstos.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Campinas: lobistas usaram escritório de publicitário do PT

Dudu Godoy é citado por delator do esquema de corrupção em relatório de inteligência da promotoria; desvios chegam a R$ 615 mi

Fausto Macedo

Ás da comunicação e marketing de campanhas do ex-presidente Lula, da senadora Marta Suplicy e outros nomes do primeiro escalão do PT, o publicitário Dudu Godoy emprestou seu escritório em Campinas para uma reunião de lobistas da organização criminosa a quem o Ministério Público imputa fraudes em série e desvios de R$ 615 milhões dos cofres públicos.

A revelação, incluída no relatório de inteligência da promotoria, foi feita por Luiz Augusto Castrillon de Aquino, ex-presidente da Sanasa, companhia de saneamento de Campinas, foco de corrupção que aponta para políticos próximos a Lula.

Aquino fez acordo de delação premiada. Em busca do perdão judicial ofereceu dois relatos minuciosos, em janeiro, nos quais traça os movimentos do grupo que teria se apossado de setores da administração Dr. Hélio (PDT), prefeito de Campinas e amigo do ex-presidente.

A promotoria afirma que Rosely Nassim, primeira-dama e chefe de gabinete do marido prefeito, ocupa o topo da organização. Ela ia ser presa, mas um habeas corpus a livrou de "medidas coercitivas".

A promotoria quer saber o grau de relação entre Dudu Godoy, Aquino e os lobistas Emerson Geraldo de Oliveira e Maurício Manduca. Alvos da devassa, Oliveira e Mancuda seriam o elo de prefeitos e empresários no esquema de corrupção. A próxima etapa da investigação mira contratos da prefeitura de Campinas na área de publicidade.

Oliveira e Manduca foram presos em setembro, quando a promotoria deflagrou a primeira fase da operação. Há duas semanas, a Justiça ordenou novamente a prisão dos dois.

O delator afirma que Dudu Godoy o procurou e intermediou encontro dos lobistas para "resolver o impasse". O publicitário confirma ter cedido seu gabinete para os protagonistas do escândalo que assombra Campinas e inquieta o PT. Mas nega que tenha procurado Aquino. "Quem solicitou o escritório para fazer uma reunião foi o próprio senhor Aquino, pedindo para fazer uma reunião com umas pessoas", retrucou o publicitário.

Partilha. No escritório de Dudu, os lobistas e Aquino trataram da divisão de valores ilícitos. A partilha foi motivo de grave desavença no coração da organização. Oliveira e Manduca não estariam repassando dinheiro desviado de contratos.

"Emerson e Manduca voltaram a me perseguir e pressionar", relatou o ex-presidente da Sanasa. "Eles me ligavam todos os dias ameaçando, dizendo que precisavam de novos contratos. Tentavam marcar encontros comigo, faziam insinuações para me lembrar que haviam gravado conversas."

À página 39 de seu depoimento à promotoria, em 17 de janeiro, Aquino diz: "Fui procurado pelo sr. Dudu Godoy, dono da publicidade PG. Ele intermediou a realização de uma reunião com Emerson e Manduca, a pedido deles, para resolver o impasse. A reunião foi marcada e realizada no próprio escritório do sr. Dudu Godoy".

O delator afirma que Dudu não participou dessa reunião, apenas emprestou o escritório. "Participaram Emerson e Manduca. Eles me apresentaram gravações de conversas nossas sobre o esquema na Sanasa. Eles me chantagearam e disseram que, caso eu não cedesse, na manhã seguinte eu não seria mais presidente da Sanasa."

Aquino presidiu a Sanasa entre 2005 e 2008. Ele disse que acabou atendendo às exigências. "Fui muito pressionado e fiquei com medo de perder meu cargo, de ter minha imagem maculada na imprensa e de sofrer algum atentado. Acabei cedendo, mais uma vez, às chantagens da dupla."

A reunião foi cercada de forte tensão. Do lado de fora do escritório de Dudu, dois policiais civis, Biazon e Caveira, armados, permaneceram de prontidão. "Os policiais ficaram nas proximidades para me dar um apoio caso acontecesse alguma coisa", contou Aquino.

Os policiais foram apresentados a Aquino pelo chefe da segurança do alto escalão da prefeitura, Álvaro Gandezi. O delator contou que tinha medo dos lobistas. "Cada vez que falava com eles eu descobria mais conversas nossas que haviam gravado para me chantagear. Sempre queriam mais dinheiro."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Olho grande na base governista

Depois de selarem, pelo menos no discurso, a união interna, partidos da oposição pretendem aproveitar o momento de fragilidade no Executivo para ganhar aliados em siglas "inconstantes"

Ivan Iunes e Izabelle Torres

Com o fim, ao menos aparente, da batalha fratricida que dividia internamente DEM e PSDB, os dois partidos apostam na crise na base aliada entre PT e PMDB para tentar atrair partidos menores com vistas às eleições municipais de 2012. Estão na alça de mira as legendas que, costumeiramente, mantêm um pé na canoa governista e outro na oposicionista. Siglas como PTB, PP, PR e PV. “Até o fim de semana, os comandos dos partidos não estavam nítidos. Agora é possível fazer uma ação coordenada entre partidos e fundações e vamos propor ao presidente Sérgio Guerra uma reunião com o intuito de estabelecer uma linha para as eleições de 2012”, afirma o presidente do DEM, José Agripino Maia.

A ideia é tentar recuperar o tempo desperdiçado de combate efetivo contra o governo em função do desarranjo sofrido depois que as siglas da oposição perderam deputados e senadores para o recém-criado PSD e entraram em parafuso pela sucessão nos comandos do partido. Com os rumos desenhados, os dois principais partidos em rota de colisão com o Palácio do Planalto, DEM e PSDB, articulam uma ação conjunta para tentar ganhar terreno na fragilidade do governo.

A tentativa da oposição de influenciar legendas da base aliada deve esbarrar na intenção dos partidos governistas de dar sinais de alinhamento com os oposicionistas para valorizar o passe nas negociações com o governo. A convenção do PSDB no sábado, por exemplo, contou com a presença do presidente do PTB, Roberto Jefferson. “Foi um gesto de camaradagem com os tucanos. A presença dele não quer dizer que queremos seguir o caminho da oposição. Estamos do lado do governo e a presidente sabe da nossa importância e do apoio que temos dado”, afirma o líder da legenda na Câmara, Jovair Arantes.

Fragilidade

A cartilha rezada por tucanos e demistas para 2012 deve ser a mesma das últimas eleições: aliança preferencial e apoio automático à legenda com maiores chances de vitória, especialmente nos municípios maiores. Em relação ao Congresso, a regra será manter o tom elevado contra as fragilidades governistas. No sábado, durante a convenção tucana, pela primeira vez dirigentes do partido decidiram colocar na alça de mira a evolução patrimonial do titular da Casa Civil, Antonio Palocci. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, chegou a cobrar o ministro para que ele explique “o que fez e para quem fez”.

Por isso, diante da fragilidade de articulação do governo, a própria oposição decidiu que o momento é de atuar no sentido de prolongar a crise governista. “Tivemos o absurdo de o presidente Lula vir e ter de intervir na relação do governo com a base pela incapacidade de articulação política do governo. Sua principal figura ainda está envolvida em fatos que o governo quer encobrir, de práticas pouco usuais. O momento agora é de avançar sobre o governo”, aponta o secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro.

Contra-ataque

Enquanto a oposição ensaia o ataque, o governo ainda não sabe quem vai liderar a reação. Até o momento, a única certeza é de que a presidente Dilma Rousseff terá de tomar as rédeas do próprio governo e encarar pessoalmente negociações e conversas com políticos. Não se sabe, porém, até que ponto ela vai conseguir se sair bem na função de articuladora, já que a função de negociar e ouvir a choradeira de aliados por cargos e poder nunca deixou a presidente confortável.

“A presidente sabe e sempre soube que tinha de haver essa relação mais próxima. Não tinha feito nada a respeito ainda porque esteve doente. Não foi falta de interesse, como alguns querem pregar. Mas agora as coisas vão mudar. Aliás, já começaram a ficar diferentes”, diz o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza.

Na avaliação de integrantes da base, Dilma vai precisar fazer mais do que simplesmente aparecer. Terá de atender pedidos, distribuir cargos de forma estratégica e, principalmente, trabalhar para não desagradar ninguém. Pior: terá de agir de forma a não comprar briga com o PMDB, porque já notou que o aliado, quando se rebela, impõe ao governo derrotas amargas. Foi assim na votação do Código Florestal na Câmara e na divisão dos royalties do petróleo, no ano passado.

Racha na base

A aprovação do novo Código Florestal na Câmara resultou na primeira grave fissura dentro da base governista. Com a forte presença de ruralistas na bancada e o apetite por espaço no governo federal pouco atendido pelo Planalto, os peemedebistas se uniram à oposição e trouxeram consigo partidos menores, como PP, PDT e PSC. A aprovação do Código com a emenda que consolida áreas desmatadas irregularmente fez com que o Planalto chegasse a ameaçar de demissão todos os peemedebistas — depois a presidente Dilma Rousseff recuou. O projeto ainda segue em análise pelo Senado.

Veto forçado

O governo federal acordou com os principais estados produtores de petróleo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, uma nova fórmula de distribuição dos royalties. Faltou, porém, combinar com a base — em grande parte capitaneada pelo PMDB. Por meio de emenda apresentada pelo então deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), o Congresso aprovou a redistribuição dos royalties de forma igualitária. Até o relator da proposta governista, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), votou a favor da modificação do próprio relatório. Com a conta de R$ 7 bilhões de prejuízos provocados ao estado do Rio de Janeiro, o governo federal interveio e o então presidente Lula vetou a emenda.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Beijo Sem - Teresa Cristina e Marisa Monte

Passeiam as belas - Carlos Drummond de Andrade

Passeiam as belas, à tarde, na Avenida

que não é avenida, é longo caminho branco
onde os vestidos cor de rosa vão deixando,
não, não deixam sombra alguma, em mim é que eles deixam.


Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.
São tão belas como as vejo, ou mais ainda?
Só de passar, só de lembrar que passam, a beleza
nelas se crava eternamente, adaga de ouro.


Passeiam na Avenida, à tarde, as belas,
as sempre belas no futuro mais remoto.
Pisam com sola fina e saltos altos
de seus sapatos de cetim o tempo e o sonho.


À tarde, na Avenida, passeiam as belas,
seios cuidadosamente ocultos mas arfantes,
pernas recatadas, mas sabe Deus as linhas perturbadoras
que criam ritmos, e o caminho branco é todo ritmo.


Na Avenida, passeiam as belas, à tarde,
no alto da cidade que entre árvores se apresta
para o sono das oito da noite e não sabe que as belas
deixam insone, a noite inteira, uma criança deslumbrada.