Extensão do foro especial visa a evitar prescrições
O Globo
Voto de Gilmar remedeia brecha aberta quando
Corte restringiu a prerrogativa dos ocupantes de cargos públicos
O Brasil não é o único país a prever que
ocupantes de altos cargos — como presidentes, governadores, ministros,
deputados, senadores, prefeitos ou generais — sejam julgados apenas por Cortes
superiores. A distinção, chamada foro especial, tem razão de ser. É do
interesse público resguardar o exercício dessas funções. Sem o foro, ministros
de Estado estariam suscetíveis a inúmeras ações iniciadas em diferentes pontos
do Brasil. Deputados e senadores seriam alvos fáceis de opositores políticos em
variadas instâncias da Justiça. Foi para evitar o uso político dos tribunais
que se concedeu a tais cargos a prerrogativa de ser julgados apenas por juízes
das altas Cortes.
Por muito tempo, o foro especial foi no Brasil sinônimo de privilégio, em razão do pouco apetite das Cortes superiores por punir os poderosos. Mas isso começou a mudar a partir do escândalo do mensalão. A profusão de processos gerada pelos casos de corrupção, em particular na Operação Lava-Jato, sobrecarregou o Supremo Tribunal Federal (STF), fato que contribuiu para que, em 2018, os ministros restringissem o foro especial a crimes relacionados ao cargo público e cometidos em seu exercício.