domingo, 16 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Ferreira Gullar: A biografia de Armênio, hoje com 95 anos

A biografia de Armênio, hoje com 95 anos, vale "como retrato de um cidadão brasileiro do século XX que concebe a ação política como um meio de chegar à sociedade justa, fraterna, igualitária."

Cf. Prefacio do poeta Ferreira Gullar. Armênio Guedes - Sereno guerreiro da liberdade Editora Barcarolla, São Paulo, 2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais

O GLOBO
Torneio começa com vaias a Dilma e vitória da seleção
Retratos do Rio - Favelas cariocas têm o maior aumento de renda
Relatório do TSE contesta aprovação de contas do PT
Tensão urbana: Conselho quer norma para arma não letal

FOLHA DE S. PAULO
Estreia do Brasil tem vaia a Dilma, feridos e presos
Centrista vence eleição no Irã e celebra 'triunfo da moderação'
Morre a escritora Tatiana Belinky aos 94 anos em SP
A semana em que São Paulo ardeu

O ESTADO DE S. PAULO
Ideli vê 'chantagem' do Congresso
Estresse do câmbio pressiona taxa de juros
Protesto antecede partida

ESTADO DE MINAS
Leis que ficam no papel
Joseph Blatter, da Fifa, e Dilma são vaiados minutos antes do jogo

O TEMPO (MG)
Dilma e Joseph Blatter são vaiados na abertura da Copa das Confederações
O mundo está mais moderno, mas o ‘fiado’ continua o mesmo
Rede alcança meta de 550 mil nomes, mas quer 800 mil
Já começa a movimentação para o troca-troca de partidos
Primeiro dia de Copa já reúne reclamações sobre falhas no acesso à internet e telefonia

CORREIO BRAZILIENSE
Protesto e vaias

GAZETA DO POVO (PR)
Não existe privacidade na internet
Estreia sem frio na barriga
Moderado vence eleição no Irã no primeiro turno
EUA mostram retomada econômica

ZERO HORA (RS)
"Temos de sair desse currículo enciclopédico"
Protestos: O que motiva os jovens que saem às ruas

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Vitória com convicção
Eduardo, Dilma e as especulações

O Que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Protesto e vaias

Em contraponto à festa, do lado de fora, a polícia reprimiu com violência a manifestação contra os gastos com a Copa do Mundo. No confronto, 24 pessoas ficaram feridas e outras 30 foram detidas. Militantes acusaram a PM de abuso de força.

Brasília festeja, mas também protesta

A capital se vestiu de verde e amarelo para receber o primeiro jogo da competição, pontapé inicial para o Mundial 2014. A cidade passou no teste, mas 2,5 mil pessoas se manifestaram contra a realização do evento

Helena Mader

O Eixo Monumental se coloriu de verde, amarelo, azul e branco. Torcedores foram para o estádio em clima de festa e paz, mas um grupo de manifestantes também aproveitou para protestar e acabou se envolvendo em conflito com a PM

Antes do jogo, manifestantes chegaram muito perto do Estádio Nacional Mané Garrincha: do lado de fora, bombas durante a cerimônia de abertura

Vestidos de verde e amarelo ou com roupas de protesto, gritando gol ou bradando palavras de ordem. No estádio, nos bares, nas ruas, presos no trânsito, ou em meio a manifestações. Nenhum brasiliense ficou alheio ao maior evento esportivo já realizado na capital federal. Seis anos após o anúncio de que o país sediaria a grande festa do futebol, a cidade saiu da rotina para receber a Seleção Brasileira. O clima, entretanto, não foi só de torcida e comemoração. Manifestantes se mobilizaram desde cedo para protestar contra o evento e, em vários momentos, entraram em confronto com a polícia. O saldo foi de oito feridos, 30 detidos e centenas de pessoas amedrontadas pela confusão. Até o início da partida entre Japão e Brasil, a tropa de choque da PM e a Força Nacional controlaram os manifestantes e evitaram invasões no local da partida — muitas vezes com violência.

Dentro do estádio, o ambiente era só de alegria. Crianças, grávidas, jovens, idosos, famílias inteira, estrangeiros, muitos assistindo a uma partida da Seleção pela primeira vez, comemoraram juntos a goleada do Brasil em clima de paz. Ao todo, mais de 67 mil pessoas encheram as arquibancadas da arena. O acesso ao Estádio Nacional Mané Garrincha foi tranquilo e os torcedores conseguiram chegar ao local sem percalços. Com a divulgação prévia do esquema de trânsito, os brasilienses já sabiam com antecedência onde estacionar e como funcionariam o transporte público. Muitos motoristas pararam os carros no Parque da Cidade, de onde ônibus gratuitos levavam e traziam os torcedores. O tráfego ficou complicado em toda a área central da cidade por conta do fechamento de vias. Quem insistiu em driblar o esquema de segurança acabou a pé ou saiu no prejuízo: o Detran guinchou 31 carros e multou outros 40.

O acupunturista José Elias Falchione, 53 anos, estacionou na Rodoviária e, de lá, caminhou até o estádio. O morador do Riacho Fundo elogiou o esquema organizado para o jogo. "Não tive problemas para chegar. Vim comemorando com pessoas de outras cidades, o clima pré-jogo estava muito animado", afirmou Falchione. Moradores de outros estados também ficaram satisfeitos com a organização do evento. O estudante carioca Venâncio Loureiro, 33 anos, veio do Rio de Janeiro para Brasília com um grupo de amigos. "Gostamos tanto que planejamos voltar para ver os jogos da Copa do Mundo no ano que vem."

O governador Agnelo Queiroz, que assistiu à partida no camarote das autoridades, ao lado da presidente Dilma Rousseff, comemorou o resultado da partida e desabafou: "O Mané Garrincha não deixa a desejar a nenhum estádio do mundo. É uma vitória contra os pessimistas que torciam para não dar certo". Para Agnelo, nem as manifestações e os episódios de confrontos tiraram o brilho da festa. "Tudo deu certo. Até as manifestações fazem parte. Todo grande evento mundial atrai manifestações, mesmo como essas que ocorreram, sem uma bandeira específica, apenas para tumultuar e tentar atrapalhar. O importante é que a polícia soube reprimir os excessos, proteger os torcedores de forma altiva e correta."

Tumulto

Os protestos começaram muito antes de a bola rolar. Às 9h, já havia grupos organizados na Rodoviária. No início da tarde, 2,5 mil brasilienses estavam reunidos para reclamar da realização da Copa na cidade. Em uníssono, pediam para que os manifestantes não agissem com violência. Mas a dispersão deles foi feita de forma dura pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. Além de balas de borracha, os PMs recorreram a bombas de gás lacrimogêneo. Comandantes da operação negaram as acusações de que a ação foi violenta e alegaram apenas terem respondido de forma enérgica aos protestos porque teria havido tentativas de invasão no estádio. "Foi preciso usar a força. Nós prendemos alguns manifestantes por desacato, outros por resistência", explicou o capitão Alessandro Arantes, da PM.

Entre os feridos, o caso que mais chamou a atenção foi o da estudante Isadora Cristina Riberio de Alencar, 18 anos. A jovem levou nove pontos na nuca após ser atingida por uma bala de borracha. "Depois do que aconteceu em São Paulo, não imaginei que a polícia reagiria com tanta violência", disse. Até o fechamento desta edição, às 21h, o clima ainda era tenso em frente à 5ª DP. Manifestantes ocupavam as ruas próximas.

Fonte: Correio Braziliense

Estreia do Brasil tem vaia a Dilma, feridos e presos

Protesto serve de alerta ao governo, que tenta minimizar dificuldade econômica

Valdo Cruz

BRASÍLIA - As vaias de ontem, recebidas por uma presidente Dilma com o semblante carregado, talvez sirvam para que sua equipe reflita um pouco mais sobre o que está ocorrendo no país e pare de simplesmente acusar a oposição de criar uma "situação irreal" da economia brasileira.

Vaiada três vezes na abertura da Copa das Confederações, Dilma encerrou uma semana na qual não escondeu sua irritação com as críticas de que o Brasil passa por um momento ruim, com inflação alta, dólar pressionado e crescimento fraco.

Em público e reservadamente, ela e sua equipe acusavam seus opositores de "vendedores do caos" e de "velhos do Restelo", personagem do poeta português Luís de Camões que simboliza o pessimismo.

Na visão do governo, o país é outro. A inflação vai cair, o desemprego continuará baixo e o crescimento será maior neste ano. O tom de irritação chegou a tal ponto que não há espaço para autocrítica, só para ataques ao "terrorismo informativo".

As vaias de ontem, porém, só reforçam os sinais de insatisfação em alguns setores do país emitidos e captados ao longo de toda a semana, mas que o governo se recusava a admitir ou procurava diminuir sua importância.

O Datafolha mostrou no domingo, por exemplo, queda de oito pontos na popularidade presidencial. Recuo generalizado diante do pessimismo do brasileiro em relação ao futuro da economia.

Durante a semana, manifestações em São Paulo e no Rio tornaram-se cenário de depredação e de confronto entre policiais e manifestantes, revelando um sentimento difuso nas principais cidades do país, propício para novos protestos.

Ontem, antes mesmo das vaias, o clima ruim já reinava fora do estádio. Jovens e militantes de grupos como sem teto, indígenas e defesa dos direitos das mulheres entravam em confronto com a polícia do Distrito Federal.

É fato que o país não está uma tragédia. Se a inflação não sair do controle e continuar recuando, Dilma seguirá favorita na eleição presidencial do ano que vem.

Mas o clima no país já indica que a campanha de 2014 não será um passeio como imaginavam os petistas. E que parte dos eleitores estão, sim, insatisfeitos com os rumos do governo Dilma.

Sem falar que o cenário mundial pode jogar contra, pressionar ainda mais o dólar, gerar inflação e azedar o humor de mais brasileiros.

Fonte: Folha de S. Paulo

Charge do dia - Vaia

Fonte: Jornal O Tempo (MG)

Público vaia Dilma no Mané Garrincha

Dirigente da Fifa parte para o contra-ataque e sai em defesa da presidente: ‘Onde está o respeito?’, perguntou o suíço

Brasília- Exatamente uma semana após a divulgação de pesquisa mostrando a queda de sua popularidade, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada por longos dois minutos, durante a cerimônia de abertura da Copa das Confederações. A torcida que lotava o estádio Mané Garrincha entoou a vaia logo que a presidente foi anunciada. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, ainda tentou intervir em defesa da presidente, mas não adiantou.

— Amigos de futbol brasileiro, adonde está el respeto, el fair play, por favor? — perguntou o suíço, misturando português e espanhol.

Em seguida, Dilma pegou o microfone para fazer o pronunciamento sob vaias:

— Declaro oficialmente aberta a Copa das Confederações Fifa-2013.

Neste momento, palmas pela inauguração do evento se misturaram com as vaias que ainda persistiam. Pouco abaixo do local onde Dilma estava, na tribuna de honra, os convidados da Fifa e do governo a aplaudiam.

Governo não fala sobre o assunto

Entre as autoridades estavam o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e os ministros Aldo Rebelo (Esporte), Paulo Bernardo (Comunicações), Marta Suplicy (Turismo), Aguinaldo Ribeiro (Cidades), Celso Amorim (Defesa) e Jorge Hage (Controladoria-Geral da União), além do assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, e do subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, Ivo Corrêa.

O governo não quis se pronunciar sobre o ocorrido. Esta não foi a primeira vez que o PT sofreu com vaias na abertura de um grande evento esportivo. Em 2007, quando o Rio sediou a 15^ edição dos Jogos Pan-Americanos, o então presidente Lula também foi vaiado. Na época, o governo culpou o então prefeito Cesar Maia pelo protesto.

As vaias foram o principal assunto nas galerias paralelas aos assentos, onde ficam os estandes de alimentação.

— Ela não está acertando na economia. A vaia vai um pouco para o partido, que tem esse histórico de corrupção, e para a Dilma. A população está insatisfeita e, aqui no estádio, teve a oportunidade de protestar — disse o advogado Marcello de Paula, que assistia ao jogo.

Pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada terça-feira, mostra que a popularidade da presidente caiu de de 65%, em março, para 57%, em junho.

Fonte: O Globo

Espionagem no Porto

Disfarçados de portuários, quatro agentes da Abin — o serviço secreto do governo — foram presos sob suspeita de bisbilhotar a vida do governador Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência da República

Hugo Marques e Rodrigo Rangel

É colossal o esforço do governo para impedir que decolem as candidaturas presidenciais do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da ex-senadora Marina Silva (sem partido). Nos últimos meses, a presidente Dilma Rousseff reacomodou no ministério caciques partidários que ela havia demitido após denúncias de corrupção, loteou cargos de peso entre legendas desgarradas da base aliada e pressionou governadores do próprio PSB a minar os planos de Campos. Sob a orientação do ex-presidente Lula, Dilma trabalha para montar a maior coligação eleitoral da história e, assim, impedir que eventuais rivais tenham com quem se aliar. A maior parte dessa estratégia é posta em prática à luz do dia. como a volta dos "faxinados" PR e PDT à Esplanada, mas há também uma face clandestina na ofensiva governista, com direito a espionagem perpetrada por agentes do estado. Um dos alvos dessa ação foi justamente Eduardo Campos, considerado pelo PT um estorvo à reeleição de Dilma pela capacidade de dividir com ela os votos dos eleitores do Nordeste, região que foi fundamental para assegurar a vitória da presidente em 2010.

O Porto de Suape, no Recife, carro-chefe do processo de industrialização de Pernambuco, serviu de arena para o até agora mais arrojado movimento envolvendo essa disputa pré-eleitoral. No dia 11 de abril, a Polícia Militar deteve quatro espiões da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que fingiam trabalhar no local, mas há semanas se dedicavam a colher informações que pudessem ser usadas contra Campos. A Secretaria de Segurança Pública estadual já monitorava os agentes travestidos de portuários fazia algum tempo. Disfarçados, eles estavam no estacionamento do porto quando foram abordados por seguranças. Apresentaram documentos de identidade falsos e se disseram operários. Acionada logo depois, a PM entrou em cena. Diante dos policiais, os espiões admitiram que eram agentes da Abin. que estavam cumprindo uma missão sigilosa e pediram que não fossem feitos registros oficiais da detenção. O incidente foi documentado em um relatório de uma página, numa folha de papel sem timbre, arquivada no Gabinete Militar do governador. Contrariado com a espionagem, Eduardo Campos ligou para o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general José Elito Siqueira, a quem o serviço secreto do governo está subordinado.

Em uma reunião com aliados do PPS, o governador contou que o general garantiu que não houve espionagem de cunho político, ou de viés eleitoral, mas apenas um trabalho rotineiro. "Nós fazemos apenas monitoramento de cenários para a presidenta", ponderou o chefe do GSI. Apesar da gravidade do incidente, o caso foi dado como encerrado pelos dois lados. Poucas pessoas souberam da história. A elas, Campos explicou que não queria tornar público o episódio para não "atritar" ainda mais a relação com o Palácio do Planalto nem causar um rompimento entre as partes. Mas houve desdobramentos. "Tive de prender quatro agentes da Abin que estavam me monitorando", revelou Eduardo Campos. E ainda desabafou: "Isso é coisa de quem não gosta de democracia, de um governo policialesco". Pediu aos aliados que o assunto fosse mantido em segredo. "Não tenho nada a dizer sobre isso", desculpou-se na semana passada o deputado Roberto Freire, presidente da legenda, que estava presente à reunião.

Os agentes detidos no Porto de Suape trabalham na superintendência da Abin em Pernambuco. São eles: Mário Ricardo Dias de Santana, Nilton de Oliveira Cunha Junior.

Renato Carvalho Raposo de Melo e Edmilson Monteiro da Silva. No dia da detenção, usavam um Pálio (JCG-1781) e um Peugeot (KH1-1941). A placa do Pálio é fria, não existe. Já a do Peugeot é registrada em nome da própria Abin. Na semana passada, o agente sênior Mário Santana se aposentou. Nilton Junior e Renato de Melo davam expedieníe normalmente 11a superintendência. Já Edmilson Silva, na quinta-feira, estava escalado para 0 plantão noturno. Nada mais natural. Edmilson Silva tem uma dupla jornada de trabalho. Além de espião, é vereador, eleito pelo PV, no município de Jaboatão dos Guararapes. Vive. portanto, uma situação curiosa. Durante 0 dia, como vereador, é um defensor das liberdades. As escuras, como araponga. une-se aos colegas de repartição para violá-las. "Fui ao Porto de Suape algumas vezes apenas para visitar amigos", disse a VEJA 0 agente-vereador. "Mas nunca fui detido ou preso, nunca usei documentos falsos, não há nenhum registro sobre isso." Funcionário da Abin há trinta anos. Edmilson garante que hoje não existe mais nenhum tipo de ação de monitoramento contra cidadãos ou governantes.

As declarações do agente não encontram sintonia nem com as manifestações dos próprios superiores. No dia 4 de abril, uma semana antes das detenções realizadas pela polícia, 0 jornal O Estado de S. Paulo revelou que, a mando do GSI, a Abin montara uma operação para monitorar a movimentação sindical no Porto de Suape. Àquela altura, a presidente Dilma e 0 governador de Pernambuco estavam em lados opostos na discussão sobre a MP dos Portos. Campos fazia ressalvas públicas ao texto e recebia em audiências setores do sindicalismo que também eram contrários a posições defendidas pelo Planalto. A operação de monitoramento no porto foi classificada pelo GSI como "gerenciamento de risco" e tinha como objetivo medir a possibilidade de realização de uma greve em Suape e nos demais portos do país. Flagrado em plena ação, 0 GSI primeiro negou o monitoramento. O general José Elito chegou a tachar de mentirosa a reportagem. O jornal, então, publicou um documento sigiloso que confirmava 0 monitoramento da Abin sobre os portuários e os sindicatos contrários à MP dos Portos. Restou ao general reconhecer a própria mentira e admitir 0 óbvio: "A gente monitora tudo. assuntos que possam ser de interesse do país. Tudo 0 que a gente faz é para assessorar a senhora presidenta e os órgãos de governo para decisões oportunas".

Desmentido pelos fatos, o general acrescentou que a ação foi amparada pela lei que criou 0 Sistema Brasileiro de Inteligência e refletia a preocupação do governo com possíveis greves de portuários. "Não foi um monitoramento de movimento A ou B, mas de cenário." As declarações de Elito foram dadas seis dias depois da detenção dos quatro agentes da Abin. Nas conversas com auxiliares e políticos, Campos deixou claro que tinha sido vítima de uma bisbilhotagem política. Ele seria o alvo. A escolha de Suape não foi à toa. Antes da construção do porto, a economia pernambucana era meramente sucroalcooleira. Com o novo polo, fruto dos investimentos e da ajuda federal decorrentes da ótima relação que o governador mantinha com o então presidente Lula, Pernambuco se modernizou. Diferentes indústrias saíram do papel, como a naval, e uma rede de infraestrutura foi montada. "Tudo em Pernambuco é feito em função de Suape. Viadutos, ferrovias, tudo. A vocação industrial do estado apareceu graças ao porto", diz um ex-ministro do governo Lula. Os grandes investimentos, portanto, passam por lá — assim como as grandes empresas e os financiadores de campanha.

Mais que portuários insurgentes, os agentes da Abin pretendiam mapear eventuais relações espúrias entre Campos e o setor privado. Os agentes detidos faziam perguntas específicas sobre o governador. "No porto, atuam grandes financiadores de campanha e. mais importante, grandes corretores de contribuições eleitorais", diz um parlamentar de Pernambuco. Não se sabe se esse era exatamente o objetivo dos espiões. Campos já havia manifestado contrariedade à força desproporcional usada pelo PT para inviabilizar sua candidatura, mas ainda considerava tais gestos parte do jogo. A entrada em cena da Abin, que já foi usada em outras ocasiões com objetivos meramente políticos, mudou um pouco o ânimo do governador. Procurado na semana passada, Eduardo Campos não quis comentar o caso. "Perguntem ao GSI". limitou-se a dizer. O Gabinete de Segurança Institucional informou que "todos os esclarecimentos" sobre a ação dos agentes em Pernambuco já foram dados e que eles não "realizaram nenhuma operação para monitorar o movimento sindical". Sobre a prisão dos espiões, o GSI silenciou. A Abin é um órgão de assessoramento exclusivo do presidente da República. A assessoria de Dilma Rousseff, porém, afirmou que a presidente não foi informada nem da missão portuária dos espiões nem das prisões que se sucederam. Até a última sexta-feira, o general José Elito continuava firme no cargo.

Os escândalos da Abin

A Agência Brasileira de Inteligência deveria assessorar o presidente da República com informações sobre assuntos estratégicos e de interesse do estado. O órgão já se envolveu em casos rumorosos de espionagem clandestina e investigação ilegal.

Em 1999, um agente da Abin foi apontado pela Polícia Federal como responsável pela instalação de um grampo telefônico na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Totalmente ilegal, a ação captou conversas do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso.

Em 2000, uma espiã a serviço da agência foi escalada para seduzir e espionar o procurador da República Luiz Francisco de Souza, na época um implacável perseguidor de corruptos no governo. A agente simulou ter sido vítima de agressão para constranger o procurador.

Em 2008, a Abin destacou um grupo de agentes para trabalhar na chamada Operação Satiagraha -que investigou clandestinamente um rol de autoridades, entre elas a então ministra Dilma Rousseff e o ministro Gilmar Mendes, do STF.

Fonte: Revista Veja

Marina faz apelo para criar Rede até agosto

Em discurso otimista, ex-senadora ignora derrota no Supremo, comemora a marca de 500 mil assinaturas e pede empenho à militância. Objetivo é chegar a 800 mil apoios

Diego Abreu

A marca de 500 mil assinaturas coletadas para a criação do partido Rede Sustentabilidade foi celebrada ontem pela ex-senadora Marina Silva (sem partido), que participou de um evento simbólico, em São Paulo, com militantes e fundadores da legenda. Ela ignorou a iminente derrota no Supremo Tribunal Federal (STF) — que deve liberar nesta semana a retomada da tramitação do projeto de lei que dificulta a viabilidade da Rede — e fez um discurso otimista, para motivar os simpatizantes a conseguirem alcançar a marca de 800 mil assinaturas.

O objetivo de Marina é obter o registro da sigla no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto, a tempo de registrar seu nome para disputar as eleições presidenciais do ano que vem. Para estar apta a concorrer no pleito de 2014, a legenda precisa ser oficialmente criada até o começo de outubro. Em 2010, a ex-senadora, filiada ao Partido Verde (PV), obteve uma expressiva votação no primeiro turno. Ela ficou em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff e de José Serra, com expressivos 19,6 milhões de votos (19,33% do total apurado).

Durante o evento, transmitido ao vivo pela internet, participantes da mobilização alertaram para a necessidade de os militantes intensificarem a coleta de assinaturas e terem atenção ao preenchimento das fichas de cadastro para não haver erros. Marina quer o apoio de mais 300 mil pessoas até 7 de julho, que permita atingir uma margem segura para o registro do partido, já que até 30% dos apoios devem ser descartados por erros de preenchimento. É necessária a homologação de cerca de 500 mil assinaturas distribuídas por nove unidades da Federação. "Temos que sair daqui animados, mobilizados, comprometidos em criar essa margem de segurança para que a gente possa, em agosto, registrar o partido. O céu é o limite para que possamos criar a Rede", discursou Marina.

"O que pode nos impedir de manter o que já conquistamos e alcançar outras conquistas é o atraso na política. A Rede Sustentabilidade se coloca na perspectiva de ser um movimento horizontal. O partido é uma ferramenta a serviço do movimento", acrescentou a ex-senadora, que não citou uma única vez o projeto de lei que dificulta suas pretensões eleitorais. O evento foi prestigiado por políticos, como os deputados federais Domingos Dutra (PT-MA) e Walter Feldman (PSDB-SP), que devem se filiar à Rede.

Paralelamente ao registro do partido, Marina acompanha a tentativa da base aliada do governo Dilma de aprovar o projeto de lei que proíbe parlamentares que trocarem de partido de levar para a nova legenda tempo de televisão e fatias do fundo partidário.

Na prática, Marina argumenta que a eventual aprovação do projeto reduzirá em 35 segundos o tempo do programa eleitoral gratuito da Rede, que passaria a contar com apenas 20 segundos de exposição. O texto foi aprovado na Câmara e depende de apreciação pelo Senado. Desde de 24 de abril, no entanto, a matéria teve sua tramitação suspensa por liminar do ministro do STF Gilmar Mendes.

A liminar deve ser derrubada na próxima quarta-feira, quando o plenário do Supremo retoma o julgamento do mandado de segurança proposto pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que pede a paralisação definitiva da tramitação do projeto. Por enquanto, o placar está em 5 votos a 2 pela derrubada da liminar. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, que ainda não votou, já adiantou que também é contrário à interferência do Supremo sobre projetos em andamento no Legislativo. Com o voto dele, garante-se a maioria para que o Congresso possa voltar a apreciar a proposta.

Fonte: Correio Braziliense

Eduardo, Dilma e as especulações

Eduardo: cautela com Abin

Carolina Albuquerque

Sem agenda pública ontem, o governador Eduardo Campos (PSB) elegeu um blog para abordar reportagem da revista Veja desta semana, em que é noticiada a prisão de quatro agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pela Polícia Militar estadual, após semanas disfarçados no Porto de Suape na missão de colher informações que pudessem ser usadas politicamente contra o socialista. "Espiões da Abin também fazem serviços particulares. O governo (federal) pode não ter nenhuma ingerência sobre isso", disse ao blog de Magno Martins. Apesar da cautela, o governador teria admitido a prisão dos agentes e se mostrado indignado com a suposta espionagem por parte do governo federal em encontro com o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), ferrenho adversário do PT. Quem confirma o diálogo entre os dois é o vereador Raul Jungmann (PPS-PE). "Houve, de fato, esta conversa", disse.

Segundo Jungmann, Eduardo e Freire tiveram três encontros reservados num período de pouco mais de um mês. O último aconteceu na quarta-feira (5), em Brasília. Jungmann informou ao JC que Freire passou por uma cirurgia nas cordas vocais e está impossibilitado, por recomendação médica, de falar por sete dias. De acordo com a revista, Eduardo pediu a aliados que o assunto fosse mantido em segredo para não "atritar" ainda mais a sua relação com o Planalto.

As prisões teriam ocorrido em 11 de abril, uma semana depois de o jornal O Estado de S. Paulo mostrar que, sob o comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, a Abin espionava sindicalistas em Suape. O chefe do GSI, general José Elito Carvalho Siqueira, negou o monitoramento em Suape, mas, após o jornal publicar, dias depois, documento sigiloso da Abin que comprova a operação, se desdisse e admitiu missão para vigiar o movimento sindical.

De acordo com Veja, os quatro agentes trabalhavam travestidos de portuários, com documentos falsos, e levantavam informações que pudessem ser usadas contra Campos, como "relações espúrias entre o governador e o setor privado" que investe no Porto. Ao serem presos pela PM, identificaram-se como agentes e pediram que não fosse registrada ocorrência. A reportagem alega que o episódio é relatado num documento sem timbre, arquivado no Gabinete Militar do governo estadual. Os agentes seriam Mário Ricardo Dias de Santana, Nilton de Oliveira Cunha Júnior, Renato Carvalho Raposo de Melo e Edmilson Monteiro da Silva, este último vereador do PV em Jaboatão.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Aliado minimiza vaia a Dilma e opositor vê insatisfação

Eduardo Bresciani, Débora Álvares e Ricardo Della Coletta

A presidente Dilma Rousseff foi vaiada duas vezes na cerimônia de abertura da Copa das Confederações hoje, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, também alvo da manifestação, chegou a reclamar do público pelo microfone, pedindo "fair play". Para aliados da petista, houve erro da assessoria em expô-la diante de um público de classe média alta. Na oposição, o entendimento é de que o descontentamento com a presidente é crescente.

A vaia, alta e ouvida em todo o estádio, começou no momento em que os nomes de Blatter e Dilma foram anunciados para dar início ao torneio. O presidente da Fifa iniciou sua fala, em português, afirmando que havia ali uma reunião para uma "verdadeira festa do futebol no país pentacampeão". Agradeceu as autoridades brasileiras e citou Dilma, momento em que o público vaiou novamente. Blatter, então, reclamou do comportamento: "Amigos do futebol brasileiro, onde está o respeito e o fair play?".

Dilma ficou com o semblante fechado ao lado do presidente da Fifa e apenas cumpriu o protocolo, sem discursar. "Declaro oficialmente aberta a Copa das Confederações Fifa 2013", disse, visivelmente constrangida. Do outro lado dela estava também o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local, José Maria Marin, com quem Dilma evitou manter qualquer contato público até então.

Aliados da presidente acreditam que a vaia se deveu às características do público. "Vaia de playboy não vale", disse o deputado Dr. Rosinha (PT-PR) por meio do Twitter. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que a situação deveria ter sido evitada pela assessoria de Dilma. "Faltou avaliação política. Era um evento com ingresso caro, com classe média alta, classe A, não é essa a turma da Dilma e do Lula", afirmou Lindbergh. Presente no estádio, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) minimizou o fato. "Político no estádio é sempre vaiado, porque o povo ali quer ver futebol", disse. Os petistas lembram ainda que na abertura dos Jogos Pan-americanos de 2007, no Rio de Janeiro, o então presidente Lula foi vaiado, mas isso não impediu a eleição de sua sucessora.

Na oposição, a manifestação do público foi "comemorada". "Essa vaia é um sentimento do País. A gente vê nas ruas que a situação é diferente de três anos atrás. Ali estava a classe média, mas as outras classes também estão sofrendo os efeitos da má administração do PT", afirmou Nilson Leitão (PSDB-MT), líder da minoria na Câmara. "A presidente conseguiu uma antipatia suprapartidária. Os fatores vão se acumulando, como a inflação, e isso pode levá-la a uma derrota", disse o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO).

Festa e protesto

A vaia para a presidente aconteceu depois de o público ter demonstrado empolgação com o evento, distribuindo aplausos para voluntários e até para o hino japonês. A cerimônia de abertura da competição, dirigida pelo carnavalesco Paulo Barros, procurou vender a principal festa popular do País. Voluntários realizaram mosaicos no gramado, houve espaço para homenagem às oito seleções participantes e a conclusão com bonecos similares aos do Carnaval de Olinda disputando uma partida de futebol sob um campo formado em mosaico.

Do lado de fora, porém, o público que acessou o estádio presenciou um protesto reprimido com força pela Polícia Militar do Distrito Federal, estado governado pelo petista Agnelo Queiroz. Os manifestantes foram dispersados com bombas de efeito moral e disparos de bala de borracha. A PM usou também gás lacrimogêneo. Ao todo, 3 mil homens participaram da segurança do jogo.

O primeiro confronto ocorreu quando um grupo tentou acessar a área onde o protesto estava concentrado, em frente ao estádio. Houve tumulto e a PM soltou bombas de gás lacrimogêneo. Um jovem foi ferido na perna. Até as 15h30 já haviam sido presos 17 adultos e apreendidos 10 menores, de acordo com o advogado dos manifestantes, Gilson dos Santos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Armênio Guedes é um daqueles que brechtianamente podem ser considerados “imprescindiveis”. Francisco Inácio Almeida

Neste combate comum pelo socialismo, isto é, por uma sociedade livre, justa e solidária, torna-se cada vez mais consensual que o caminho a seguir é o que valoriza, ao mesmo tempo, a democratização societal e as formas da democracia política.

Quanto ao mais, ao lado de tantas outras forças e personalidades que também lutam, de outros modos, por níveis mais altos de civilização, deveremos considerar essenciais duas indicações que nos foram legadas por autores muito diversos. Especificamente da tradição comunista, devemos nos lembrar que cabe sempre estar à altura de fazer “a análise concreta de cada situação concreta”. Do âmbito da poesia, recordar-nos-emos invariavelmente desta poderosa sugestão: “Caminhante, não há caminho; o caminho se faz ao caminhar”.

Apesar de não estar presente de forma direta nesta coletânea, Armênio Guedes, presidente de honra da Fundação Astrojildo Pereira, foi o grande inspirador desse nosso projeto. Principal redator da histórica Declaração de Março de 1958, a qual apontava para a necessidade de superar o capitalismo no terreno da democracia, ele costuma lembrar que “o conceito de esquerda não é fixo”, ou seja, aquilo que era esquerda lá atrás pode não ser mais atualmente.

Por isso, esta coletânea é, também, uma forma de render homenagem a este velho combatente da democracia, do pensamento livre e da causa socialista entre nós. E porque sempre esteve na boa trincheira, Armênio Guedes é um daqueles que brechtianamente podem ser considerados “imprescindiveis”.

Francisco Inácio Almeida. Cf. Apresentação doa coletânea, Que é ser de esquerda hoje?, editoras Contraponto e FAP, Rio de Janeiro/Brasilia, 2013.

O comunista cujo 'dogma' é a liberdade

Livro conta vida de Armênio Guedes, assessor 'rebelde' de Prestes e do PCB durante 4 décadas

Gabriel Manzano

Era comum entre comunistas, no século passado, debater o "caminho democrático para o socialismo". Armênio Guedes, que militou no Partido Comunista Brasileiro de 1938 a 1983, propunha outro plano: o do "caminho democrático para a democracia".

A diferença entre as duas ideias é o eixo central do livro Armênio Guedes - Sereno Guerreiro da Liberdade, que o jornalista Sandro Vaia, ex-diretor de Redação do Estado, lança amanhã à noite na unidade da Livraria da Vila na Alameda Lorena, em São Paulo.

"A democracia é um valor permanente, e não é o fim da História", justifica o baiano Armênio, hoje com 95 anos, apreciador de vinhos, jazz e música erudita, em seu apartamento na região central de São Paulo. Mas, como revelam as 252 páginas do livro, essa não é a única discordância entre o militante de quatro décadas do Partidão e seus camaradas. Armênio passou a vida criticando a rigidez do stalinismo, o personalismo do líder Luiz Carlos Prestes, a Intentona de 1935, a adesão ao golpismo de João Goulart em 1964, mas principalmente a falta de diálogo no PC.

Marighella era para ele uma figura fascinante, "mas politicamente um desastre". João Amazonas, um "dromedário do comunismo". Em Moscou, nos anos 50, vendo a adoração por Stalin, ele achava "meio chata aquela história de pai dos pobres". Botafoguense fanático, era um raro comunista que, num jogo Brasil e URSS, torcia pelo Brasil.

Era previsível, assim, sua saída do partido em 1983, de um modo banal: pegou o salário, saiu sem dizer nada e foi ao cine ma. Não voltou. "Ele tinha uma visão absolutamente antitotalitária dentro do partido. Ficou porque não tinha alternativa", resume, no livro, seu colega de exílio José Serra.

Armênio levou consigo sua marca de homem "manso, sereno", mas "firme, irremovível", como o descreve Ferreira Gullar. Ao fim de longas conversas com seu biografado, Vaia faz de sua história um fio condutor para expor o grande conflito vivido pela esquerda desde sempre, entre autoritarismo e liberdade.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Direitos e deveres - Merval Pereira

O país vive nos últimos dias situações de tensão de diversas origens que, misturadas à percepção crescente de pessimismo em relação ao futuro captada por pesquisas de opinião, podem levar a uma crise institucional de grave repercussão.

Não há ainda uma ligação direta entre os problemas econômicos que se avolumam e as manifestações nas ruas das principais cidades do país, como apressadamente alguns analistas estrangeiros registram.

Mas a insatisfação difusa que se revela pelas redes sociais e desemboca nas manifestações a pretexto de protestar contra o aumento das tarifas de ônibus, sem dúvida, serve à manipulação de atividades políticas de grupos radicais e anárquicos que não se sentem representados pelos partidos políticos do mainstream.

Existem diversos grupos de ativistas em ação pelas ruas, alguns ligados a partidos políticos, que escolhem temas variados para protestar "contra tudo isso que está aí". Engana-se o governo Dilma se acha que pode tirar proveito político de um eventual desgaste do governador tucano de São Paulo Geraldo Alckmin na repressão aos manifestantes.

O teor de cartazes afirmando que "Nenhum partido nos representa" mostra que a intenção dos grupos mais organizados é minar a representatividade política tradicional, inclusive a do PT que, agora no governo, prova do veneno que utilizava contra seus adversários.

Se a polícia paulista certamente se excedeu nos confrontos de quinta-feira, como diversas imagens registraram, há também imagens suficientes para mostrar que entre os manifestantes havia os que foram às ruas para provocar o confronto.

Independentemente dos objetivos ainda não totalmente revelados dessas manifestações, uma coisa é certa: nos últimos dias o país está vivendo situações que mostram que é preciso definir os limites da atuação de cada um para que a balança dos direitos fique mais equilibrada com a dos deveres.

Afinal, que país queremos ser? A censura do politicamente correto, utilizada como instrumento de constrangimento político, acabou criando uma situação em que qualquer atitude de repressão oficial se transforma em autoritarismo.

Essa leniência com as ações marginais se reflete na violência urbana e transborda para os conflitos rurais em que fazendas são invadidas a pretexto da defesa de pretensos direitos indígenas ou em ações do MST, que não têm a rejeição de quem é pago para garantir a prevalência da lei. Pois não se soube recentemente de um comentário da presidente censurando o cumprimento de ordem judicial de reintegração de posse, em episódio que resultou na morte de um índio?

A presidente pelo menos desmentiu que houvesse feito tal comentário, indevidamente revelado por um assessor seu, mas não é de hoje que governadores e prefeitos recusam-se a cumprir mandatos judiciais mesmo diante de flagrantes ilegalidades cometidas. A destruição das plantações da Cutrale ainda está para ser punida, e já foi repetida pelo MST. E já houve tentativa do PT de aprovar legislação que previa uma negociação com o invasor para que o proprietário pudesse entrar na Justiça para reaver o que era seu.

No Brasil, os menores com 16 anos podem votar para escolher seus representantes, mas não podem ser condenados mesmo quando praticam crimes hediondos. E, previsivelmente, tornam-se "laranjas" de criminosos até a véspera de completar 18 anos para a execução de atos que ficarão impunes.Os indígenas são inimputáveis, e por isso podem invadir o plenário do Congresso ou caçar carpas nos lagos de Brasília com arco e flecha, mas também quer em todos os direitos do "homem branco". E os protestos contra o aumento de 20 centavos na passagem dos ônibus são feitos com a incoerência dos anarquistas, a depredação de pontos de ônibus e queima de veículos que em teoria eles defendem.

O direito de cada um termina quando começa o do outro, a frase simplificadora das relações humanas define que as individualidades devem se submeter à coletividade. Precisamos no país, acima das divergências políticas e ideológicas, impor limites à ação de cada um para que a sociedade não fique com a sensação de insegurança que hoje já predomina.

Os pontos-cliave

(...) a insatisfação difusa que se revela pelas redes sociais e desemboca nas manifestações a pretexto de protestar contra o aumento das tarifes de ônibus sem dúvida serve à manipulação de atividades políticas de grupos radicais e anárquicos que não se sentem representados pelos partidos políticos do mainstream.

0 teor de cartazes afirmando que "Nenhum partido nos representa" mostra que a intenção dos grupos mais organizados é minar a representatividade política tradicional.

Independentemente dos objetivos ainda não totalmente revelados dessas manifestações, uma coisa é certa: nos úítimos dias o país está vivendo situações que mostram que é preciso definir os limites da atuação de cada um.

Fonte: O Globo

Curto-circuito - Dora Kramer

Os protestos de rua ocorridos a partir do aumento das tarifas de ônibus em São Paulo e no Rio de Janeiro podem prosperar ou se esvaziar como algumas outras iniciativas desprovidas de agenda, organização, lideranças e objetivos nítidos.

O exemplo mais recente e vistoso: o movimento Ocupe Wall Street. Como veio foi, sem que tenha sido possível perceber de onde veio nem para onde foi.

Insatisfações dispersas costumam mesmo ser voláteis. Mas não convém por isso desprezá-las, pois sempre querem dizer alguma coisa. Essa agora evidentemente não diz respeito apenas ao aumento de 20 centavos de real no preço das passagens de ônibus.

As passeatas de estudantes ao fim dos anos 70 começaram como forma de protesto contra os preços cobrados no restaurante da Universidade de São Paulo. Falavam disto, queriam falar de muito mais e acabaram abrindo passagem aos movimentos contra a carestia, às greves dos metalúrgicos do ABC, à campanha pela anistia, à mobilização por eleições diretas, à retomada da democracia.

No espaço da liberdade reconquistada, fez-se longo silêncio quebrado por um breve tempo pela juventude que foi às ruas de caras-pintadas para abrir alas à interrupção do mandato de Fernando Collor.

O que há agora? Ainda imperceptível a olho nu. A primeira impressão foi a de arruaça, desrespeito à ordem pública, baderna a requerer posição firme do Estado.

Os modos assustaram e justificaram as críticas ao vandalismo na ação e a violência na reação da polícia, notadamente a paulista. Uma hipótese para tal desacerto pode ser a falta de prática. Da população, em pôr a boca no trombone nas ruas; do Estado, em assegurar a ordem pública e em ferir direitos individuais - dos que protestam e dos que querem ir e vir - e de ambos na construção de um entendimento.

Mas não se pode ignorar o fato de que as manifestações falam de um descontentamento generalizado em cujo balaio cabe de tudo um pouco: corrupção, inflação, gastos exorbitantes com a construção de estádios, conduta dos políticos, indiferença do poder para com os serviços devidos ao público, vontade de se fazer ouvir, de reclamar, de dizer chega a uma espécie difusa de mal que não tem um nome.

Antes de se tomar a parte pelo todo, no entanto, é de se conferir o rumo que tomarão as coisas. Novas manifestações estão convocadas para esta semana, cujas adesões podem se robustecer como também podem se esvair.

De saudável há a demonstração de que existe uma chama por trás da apatia diante de vários exemplos de descuido - quando não desmandos - do poder público em todos os níveis e matizes partidários.

De condenável há a presença dos costumeiros adeptos da baderna à deriva. De preocupante há a ausência de uma condução (note-se, não de tutela) para organizar as demandas. Na forma e no conteúdo. Espontaneidade é bom, mas quando desprovida de propósito e organização a tendência é resultar no vazio, caldo de cultura para o descrédito e a frustração.

Não se trata de defender a captura dessa energia por essa ou aquela força política. Nesse aspecto é até bom que não estejamos em ano eleitoral a fim de que os governantes alvos dos protestos não possam atribuir os movimentos aos adversários.

Desses curtos-circuitos às vezes nascem rupturas benéficas. Crises que resultam em soluções. Imprescindível, porém, que os demandantes saibam o que querem e que se organizem de maneira adequada para chegar lá.

Outros quinhentos. A presidente Dilma Rousseff repete o padrão do antecessor ao querer enfrentar os problemas na base da palavra veemente. Mas, não tem o talento de Lula. Ainda que tivesse, não conta com terreno fértil para semear o dom de iludir.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Insatisfação - Eliane Cantanhêde

Nas décadas de 1960 e 1970, secundaristas e universitários lutaram bravamente contra uma ditadura e a favor de utopias sedutoras. Muitos morreram e foram torturados quase ainda crianças.

Nos anos 1980, novas gerações lutaram nas ruas pelas "diretas, já". E, nos 1990, milhares pintaram a cara pelo impeachment de Collor. Mais do que demolir um presidente indesejável, sonhavam edificar um país mais justo, mais decente.

A década de 2000 passou em branco. Inebriados pelo mito Lula e a miragem da esquerda pura e ética, os movimentos acomodaram-se e a estudantada recolheu-se à sala de aula. Utopias e sonhos coletivos cederam às ambições pessoais. O "cada um por si" venceu o "um por todos, todos por um".

As manifestações de agora começaram por 20 centavos a mais na passagem de ônibus em São Paulo e alastraram-se para Rio, Curitiba, Goiânia, Teresina e outras capitais. Coincidiram com os tambores de guerra dos índios e podem ser o fim da longa hibernação, um sinal para os Poderes da República. Basta de violência, de desvios, de impunidade.

É nesse clima que o país é informado de uma tal "Resistência Urbana - Frente de Movimentos e Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa". No Rio, fazem passeatas. Em Brasília, queimam pneus e fecham avenidas contra a farra dos estádios com dinheiro público.

E os protestos vão longe. Pela internet, o novo "Democracia não tem fronteiras" convoca estudantes e trabalhadores brasileiros para manifestações, terça-feira, em 30 cidades de 15 países.

Seria ingenuidade imaginar que tudo isso é uma enorme coincidência e que não há nenhuma conexão entre grupos e manifestações --ao menos uma mesma motivação.

O espectro da insatisfação ronda o Brasil. E pode explicar até a inexplicável violência de policiais --eles próprios são cidadãos irritados.

Fonte: Folha de S. Paulo

A rede de Dilma - Denise Rothenburg

Lula serve hoje de anteparo para que Dilma possa trabalhar sem ceder muito poder aos aliados e o PT possa preparar seu próprio jogo em estados estratégicos, como Rio e São Paulo

Aos partidos que se encheram de esperanças em angariar mais espaço no governo Dilma Rousseff para reforçar os alicerces das alianças para 2014, os arautos do Planalto avisam que a presidente não recuou um milímetro sequer na disposição de manter alguns locais fechados às indicações partidárias, em especial, agências reguladoras. Ainda que esteja no terceiro ano de mandato e tenha enfrentado uma baixa na popularidade, a avaliação é a de que ela não precisa ceder, como fez Lula em 2005, diante do estouro do escândalo do mensalão. E por um motivo muito simples: ela tem uma rede que serve de anteparo. Tem Lula.

No plano político, a diferença de cenário entre hoje e 2005 é o de que o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto é do próprio PT. Lula não tinha ninguém em seu partido que pudesse colocar como candidato forte em seu lugar, caso o projeto desabasse. Por isso, amarrou o PMDB e outros partidos ao seu governo e substituiu ministros petistas por integrantes de outras legendas. Abriu, por exemplo, Minas e Energia e Saúde.

Hoje, Dilma pode dispensar essas substituições. Ela pode esticar mais a corda porque tem Luiz Inácio Lula da Silva para lançar. Essa candidatura de Lula, entretanto, seria apenas em último caso. Aos olhos de hoje, os petistas consideram que a situação de ter Lula ali, na retaguarda, dizendo "olha que um dia eu volto", é para lá de confortável, no sentido de deixar a presidente num relacionamento mais discreto com os políticos de modo geral.

Essa eleição de 2014 aparece hoje como a última em que os petistas terão essa chance, de ter dois personagens em posição de destaque. Daí, o fato de não estarem dispostos a ceder, seja espaço no governo, seja nos palanques dos principais estados do país. E quem estiver insatisfeito, paciência.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro...

Nesse sentido, os petistas planejam manter a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do estado do Rio. As contas indicam que, se não lançar um nome agora — ainda mais alguém bem posicionado nas pesquisas, como Lindbergh —, o PT jamais tomará aquela cidadela. Afinal, depois de Luiz Fernando Pezão, o vice-govenador, o PMDB tem o atual prefeito, Eduardo Paes, promessa forte para 2018. Ou seja, as chances do PT viriam remotas apenas para 2022, algo muito distante em se tratando de projeto partidário de poder (ainda que os políticos sempre façam os cálculos futuros observando duas eleições subsequentes).

E no Alvorada...

Os presidentes de partido estão cientes de que Dilma não vai impedir o PT de lançar candidato em estados estratégicos, como o Rio de Janeiro e São Paulo. Silenciosamente, ela conversou com quase todos nesse primeiro semestre em reuniões fechadas no Palácio da Alvorada. E àqueles que aconselharam o retorno do Conselho Político, a presidente tem sido direta: "Vocês acreditam que posso conversar sobre política com 30 pessoas numa sala?"

Esse estilo mais reservado está diretamente relacionado à história da presidente. Ela viveu a política numa época em que as conversas eram feitas em células, nas quais poucos tinham conhecimento do todo. Lula, ao contrário, foi forjado no clima de assembleia geral dos sindicatos. Ou seja, é outra lógica. Até nisso, se as células de Dilma falharem, virá o jeitão de assembleia de Lula.

E no PT...

A semana política teve momentos que merecem uma profunda reflexão. O primeiro deles, visível a olho nu, são as manifestações pelo país afora, prova do despreparo da força policial para lidar com protestos numa nação que se desacostumou com essa prática. O outro momento vem dos discursos de Curitiba. Em especial, o do presidente do PT, Rui Falcão, quando fala dos "quatro grandes monopólios ou oligopólios que urge desmontar: o monopólio do dinheiro, controlado pelo capital financeiro; o monopólio da terra, em mãos dos latifundiários que se opõem à reforma agrária; o monopólio do voto, garantido pelo financiamento privado e o poder econômico; e o monopólio da opinião e da informação, dominado pelos barões da mídia".

A frase de Falcão deixou os próprios petistas meio constrangidos. Os bancos lucraram bastante no governo do presidente Lula e não perderam essa prerrogativa no governo Dilma, apesar da queda na taxa de juros (que agora volta a subir). No caso da terra, a maioria hoje está nas mãos do agronegócio, que sustenta a economia brasileira, a ponto de receber homenagens dentro do Palácio do Planalto há uma semana, quando do lançamento do Plano Safra. Quanto aos votos, 51% se mostram dispostos a ficar com o PT. E a mídia sempre é acusada de todas as mazelas governamentais mesmo. Não é privilégio deste governo. Pelo visto, o discurso raivoso de Falcão está tão desatualizado quanto a visão dos aliados de que Dilma vai abrir a guarda.

Fonte: Correio Braziliense

A caminho do 2º turno - João Bosco Rabello

Economia se apresenta cm números e desmenti-los é tarefa inglória, ainda que comum a todos os governos em dificuldades. Geralmente reagem aos analistas e críticos com analogias que tentam rotulá-los de derrotistas. Em tempos de campanha eleitoral antecipada esse tipo de reação é mais agressiva e, mais das vezes, primária.

Atacar os crítico s não muda o s resultados, mas a contaminação do processo político pelo eleitoral induz à prática, porque é preciso apontar culpados, ainda que apenas pela repercussão que dão aos maus resultados de um governo. Assim, a semana passada fo de negação, com o governo na defensiva, preso á uma política de desoneraçoes ineficiente, a desmentir o que os números insistem em confirmar.

Ainda com a presidente firme nas pesquisas, seus próprios adversários reconheciam que evitar sua reeleição seria tarefa viável somente se acompanhada por uma queda da economia e, mesmo assim, com efeito real no bolso do eleitor. Pois bem,a inflação está aí, "resistente", como definiu o Banco Central, a produzir a queda do índice de aprovação da presidente. Os investimentos prosseguem estagnados, apesar dos esforços do govemo para reverter o quadro, aumentando inclusive a margem de lucros de empresários.

Mas o problema continua sendo o clima de desconfiança gerado pela percepção de que o governo não tem uma política econômica clara, titubeia ante os índices negativos e consolida gradativamente a expectativa negativa de futuro - a pior de todas, pelo seu efeito paralisante
no presente.

A pressão por mudanças de pessoas, que começa a ficar clara sobre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, resulta exatamente da percepção de que é preciso renovar expectativas, muito embora isso não resolva o problema por si só.

O contexto fica mais difícil com as dificuldades de articulação das alianças eleitorais nos Estados, que produz pressão da base aliada sobre a presidente, agora mais fragilizada com a queda nas pesquisas. Seu poder impositivo diminui na proporção que o de seus interlocutores, principalmente do PMDB, aumenta.

O desarranjo da economia aumenta a consistência dos candidatos que disputarão 2014: Aécio Neves (PSDB), com um programa que enfatizou a inflação, cresceu e se juntou a Marina Silva (Rede) nà casa dos 15%, enquanto Eduardo Campos, do PSB consolida-se na casa dos 7%, com viés de alta.

Tantos candidatos eleitoralmente fortes, em cenário adverso, respondem pela convicção geral, inclusive a não admitida pelo Planalto, de que a reeleição no primeiro turno, como previu o PT em tempos mais favoráveis, é, hoje, um sonho cada vez mais distante.

Em casa

Caberá à ministra Ana Arraes a análise dos editais de licitação das concessões de portos e aeroportos no.TCU. Ana é mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), contrário a nova lei dos Portos.

Fora da fita

A presidente Dilma Rousseff evita fotos com o presidente da CBF, José Maria Marin, pelas suas conexões com o regime militar. Pretende continuar assim até o fim da Copa das Confederações.

Candidatíssimo

O ex-presidente Lula segue convicto de que Eduardo Campos será candidato a presidente.

"Eu era a mãe, e o Pezão, o pai”
Presidente Dilma Rousseff. Dividindo os louros do PAC com o více-governador do Rio de Janeiro e potencial candidato do PMDB para disputar o governo estadual em 2014.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Junto e misturado - Tereza Cruvinel

Com a desenvoltura de candidato mais bem-sucedido na oposição, o senador tucano Aécio Neves visitará o governador Eduardo Campos, no dia 22, atento às mágoas do socialista e pensando no segundo turno

A semana se encerrou com uma vaga perplexidade nacional diante da violência nos protestos contra aumentos de passagens. Em São Paulo, onde a fronteira da barbárie esteve mais próxima, os jovens de classe média sentiram a mão pesada da polícia. Se na Avenida Paulista houve tudo aquilo, com a imprensa presente e sobrando pancada para jornalistas, imagine em Capão Redondo e em outros burgos pobres da periferia. Já sabemos que a polícia brasileira apenas direcionou para os mais pobres, depois da redemocratização, a truculência histórica que se intensificou na ditadura. O que gerou perplexidade foi a falta de uma explicação óbvia, daquelas que cabem numa só frase, com sujeito e predicado. Não pode haver apenas uma explicação quando há tanta coisa junta e misturada.

No caldeirão dessa fervura, destaca-se como tempero o velho hábito do Estado brasileiro de enfrentar as questões sociais à bala, a cassetete e gás lacrimogênio — Canudos e Araguaia são pontos fortes dentro dessa curva. Nestes últimos anos, de aumento da renda e do consumo, os protestos de qualquer natureza saíram de cena, e a volta deles, numa roupagem nova, surpreendeu as autoridades, desconcertadas também pela nova roupagem que adquiriram. Houve certo "expontaneísmo" nas manifestações, algo que tem ocorrido em todo o mundo, graças à internet e às mídias sociais. A grande estreia foi na Primavera Árabe (2010-2011), quando multidões mobilizadas pelos novos meios derrubaram os presidentes da Tunísia e do Egito. Mas há evidências, como a presença de faixas e de cartazes, de que a internet não fez tudo sozinha. Além do Movimento Passe Livre, ou por meio dele, grupos de ultraesquerda certamente atuaram, ocupando o espaço que, no passado, foi do PT. Possivelmente foi essa "massa" mais organizada que recuou diante do bloqueio da Rua da Consolação, enquanto uma parte menor da passeata investiu, deparando-se com a pancadaria iniciada pela própria polícia, que teria até se infiltrado entre os manifestantes, como fazia na ditadura.

De onde surgiram esses "voluntaristas" — adjetivação negativa em parte da esquerda —, que responderam com vandalismo ao desatino policial? Devem ser filhos da classe média emergente, que começa a sentir uma fisgada no bolso diante da visita da inflação. São jovens mais afortunados que os de Capão Redondo, que morrem como moscas, nas refregas com o tráfico ou a polícia. Tiveram mais acesso à educação e aos bens de consumo, como o computador. E estão experimentado, alguns pela via equivocada do vandalismo, as vibrações da cidadania. Os protestos e as reivindicações fazem bem à democracia. Cabe ao poder público saber lidar com eles, fixando as fronteiras entre a liberdade de protestar e a garantia de segurança a todos. Imagine se a polícia paulista agisse na Esplanada, onde há quase um protesto por dia? Quase sempre eles encontram uma porta aberta para o diálogo, seja no Congresso ou nos governos, em todos eles, na atual era democrática. A falta desses canais em São Paulo contribuiu para a radicalização que levou o Brasil às manchetes negativas mundo afora. Ontem começou, com o jogo Brasil x Japão em Brasília, a Copa das Confederações. Se o bom senso não se impor, acabaremos exibindo aos turistas estrangeiros, ao vivo, as cenas de barbárie da semana passada.

Feridos

O governador Geraldo Alckmin, do PSDB, e o prefeito Fernando Haddad, do PT, entraram na história falando a mesma língua: recusando qualquer negociação e defendendo a repressão. Depois da selvageria de quinta-feira à noite em São Paulo, Haddad e o PT trataram de se descolar da ação policial, que o governador continuou defendendo. Haddad vai receber o Movimento Passe Livre na terça-feira e tentará explicar a composição da tarifa. Anunciará o Bilhete Único Mensal, que pretende implantar em novembro. O PT municipal soltou nota em defesa do movimento, "que não pode ser criminalizado" por causa do vandalismo de alguns. Mas, eleitoralmente, o jogo parece ter soma zero: a inflação é federal; a polícia, estadual; e a tarifa, municipal. E, como Dilma não tem o que oferecer, porque já zerou os impostos federais do setor, dificilmente Haddad, o novo, se livrará do epíteto de "Maldad" visto nos cartazes.

Ação e cautela

A ordem no quartel tucano foi evitar fogos e saltitos pelo fato de Aécio Neves ter sido o único presidenciável a crescer nas pesquisas, de março para cá (de 10% para 14%, segundo o Datafolha). A convicção interna, porém, é a de que ele fincou bandeira como principal adversário de Dilma na disputa de 2014, percepção que também já é registrada nos círculos governistas. É com a desenvoltura que essa condição lhe proporciona que Aécio visitará o pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, no Recife, no dia 22. Campos estagnou nas pesquisas, mas estaria crescendo a mágoa com os movimentos do campo dilmista para inviabilizar sua candidatura, minando apoios no próprio PSB. Fora do páreo, mas ressentido, ele poderá cruzar o rubicão num eventual segundo turno, apostam os tucanos.

Só em agosto, Aécio começará seu giro pelo país como presidente do PSDB, mas, até lá, continuará surfando as palpitações da economia. Na terça-feira, 18, o partido baterá um bumbo no Congresso para uma tríplice celebração: os 25 anos de fundação do PSDB, os 19 anos de lançamento do Plano Real e o aniversário do ex-presidente Fernando Henrique, que, no dia, completará 82 anos. Ele, é claro, estará presente. As trajetórias do PSDB e do Real serão mostradas com exposição montada no mesmo corredor onde, em março, o PT apresentou em imagens a história de seus 10 anos no poder.

Fonte: Estado de Minas

O pluripartidarismo e a Constituição Federal - Sandra Cureau

A pressa na votação do projeto de lei que inviabiliza a sobrevivência de novos partidos tem destinatários facilmente identificáveis

Em 2012, às vésperas do prazo para a definição de candidatos e coligações, o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) nº 4.430 e nº 4.795, que impugnavam dispositivos da lei nº 9.504/97 sobre a distribuição do tempo de propaganda eleitoral.

O Partido Social Democrático, autor das ações, obtivera seu registro no Tribunal Superior Eleitoral em 2011, mesmo sob dúvidas quanto à regularidade na coleta das assinaturas de apoiamento. Conseguindo registrar-se a tempo de disputar o pleito municipal de 2012, o PSD pretendia ver igualmente assegurados o seu acesso ao rádio e à TV e ao fundo partidário, na forma do art. 17, caput e § 3º, da Constituição Federal.

Poucos dias depois da publicação da ata de julgamento, consagrando que "não haverá autêntica liberdade de criação de partidos políticos, se não se admitir que os fundadores de uma nova agremiação que detenham mandato parlamentar possam contar com sua representatividade para a divisão do tempo de propaganda", o deputado federal Edinho Araújo (PMDB-SP) apresentou o projeto de lei (PL) nº 4.470/2012, alterando a Lei dos Partidos Políticos e a Lei das Eleições.

Esse projeto permaneceu dormitando, ao longo do segundo semestre de 2012, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara até 11 de abril de 2013, quando, em apenas cindo dias, foi apresentado e aprovado "requerimento de urgência" na tramitação. Dois dias depois, o PL foi aprovado. A razão da pressa é que o projeto inviabiliza a sobrevivência de novas agremiações.

É possível que Edinho Araújo, ao apresentar seu projeto, não tivesse destinatário determinado. Afinal, vários parlamentares haviam migrado do PMDB para o PSD. O mesmo não se pode dizer daqueles que começaram a votar às pressas o PL, pois já circulava amplo noticiário sobre o adiantado processo de criação do Rede, de Marina Silva, cuja expressiva votação, em 2010, jogou Dilma Rousseff para o segundo turno da eleição presidencial.

As duas alterações propostas são: mudanças de filiação partidária, salvo no caso de fusão ou incorporação, serão desconsideradas para fins de distribuição de 95% do fundo partidário e novos partidos não terão direito ao uso de dois terços do horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV.

A redação atual do artigo 41-A da lei nº 9.096/95 considera, na distribuição do fundo partidário, os votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados. Assim, se um partido recém-criado, como o PSD em 2011, conquistar adeptos de outras agremiações, a votação por eles obtida na legenda anterior entra nesse cômputo.

Sem dinheiro e sem espaço nos meios de comunicação, não é difícil prever o futuro dos partidos que surgirem após a aprovação do projeto.

A democracia, como ensina Georges Burdeau, depende de instituições constitucionais que imponham a subordinação dos governantes à vontade do povo que os elegeu. A representação popular, ao contrário do que se possa pensar, não delega a determinadas pessoas o poder de interpretar os votos ou as aspirações da coletividade, mas o de ser a sua vontade e a sua voz.

A ditadura militar extinguiu os 13 partidos políticos então existentes e criou um bipartidarismo rígido, no qual um partido da situação e outro de oposição serviriam para dar cunhos de democracia a um regime notoriamente autoritário.

Com a Constituição Federal de 1988, a nação adotou o pluripartidarismo, sem restrição temporal ou numérica, e assegurou aos partidos o direito a disputar pleitos em situação isonômica. Com ela, não se coadunam tentativas espúrias de inviabilizar movimentos populares que, com ideário e propostas próprios, exercem seu legítimo direito de fundar novas agremiações políticas.

A pressa na votação do projeto de lei nº 4.470/2012 tem destinatários facilmente identificáveis: o Rede, de Marina Silva, o Solidariedade, de Paulo Pereira da Silva, e o Mobilização Democrática, de Roberto Freire.

Sandra Cureau é vice-procuradora-geral eleitoral

Fonte: Folha de S. Paulo

A inflação nossa de cada dia

Consumidor sente no bolso alta de até 40% em 12 meses, taxa superior aos 6,5% oficiais

Cristiane Bonfanti

BRASÍLIA - Escaldados com a memória da desordem financeira que a inflação do passado causou em suas vidas, os brasileiros estão sentindo de novo o peso da alta de preços de bens e serviços. A percepção dos consumidores, muitas vezes, é de que os reajustes vão muito além dos registrados pelos índices oficiais. Enquanto a inflação média chegou a 6,5% no acumulado em 12 meses completados em maio, famílias ouvidas pelo GLOBO relataram que suas despesas mensais subiram até 40% no mesmo período.

Marcelo e Natássia Coutinho formam, com a filha de 2 anos, uma típica família de classe média. Obrigado a almoçar fora de casa durante a semana, o psicólogo viu subir de R$ 20 para R$ 30 o valor médio do prato. A família também percebeu alta de 25% nas compras de supermercado. Com gasolina, o gasto do casal saltou de R$ 960 para R$ 1.120 por mês. No total, a inflação dos Coutinho é de 23% em 12 meses.

- O que a gente tem feito é aumentar o controle, trocando a marca dos produtos para poupar - afirmou Coutinho, que economiza para ir uma vez por ano aos EUA fazer compras por lá.

Diante da alta dos preços, a publicitária Brina Martins adiou para o ano que vem a matrícula do filho de 2 anos na escola. Com a nova lei do empregado doméstico, cuja regulamentação ainda vai passar pelos plenários do Senado e da Câmara, pensou até em demitir a babá, mas fez as contas e decidiu manter a despesa. Sua inflação, bem acima dos 6,5% oficiais do IPCA, chega a 40%.

- A minha impressão é de que tudo aumentou. É como se o meu poder de compra tivesse sofrido um revés - disse Brina, que agora pensa duas vezes antes de levar para casa, por exemplo, uma peça de vestuário.

Dependendo da família, os gastos com serviços de beleza e produtos de estética também explodiram. A advogada Ivoneide Carvalho vai ao salão duas vezes por semana para fazer as unhas e tratar o cabelo. Em um ano, disse que a conta subiu de R$ 300 para R$ 500. Com a compra de outros artigos, como cremes e maquiagem, a despesa passou de R$ 400 para R$ 500. Ela também adquire medicamentos para problemas como pressão alta e observou que, nas compras na farmácia, houve uma alta de 13%.

- O que eu sinto é uma falta de parâmetro das empresas para reajustar os preços.

"Cada um percebe a inflação de modo diferente"

Já a estudante Victória Albuquerque Câmara, de 21 anos, passou a pagar R$ 45 para fazer as unhas, serviço que, em 2012, custava R$ 30. Pelos dados do IBGE, a inflação dos serviços de manicure foi de 12,94% em um ano.

- Até fazer um lanche ficou mais caro. Tenho saído menos - observou a estudante.

O economista da FGV André Braz explicou que o consumidor enxerga inflação mais alta que os índices oficiais porque os produtos básicos, dos quais ele não pode abrir mão, como alimentos, estão mais caros. Esse grupo sacrifica sobretudo as famílias mais pobres. Braz ressaltou que as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos e meio destinam 30% do orçamento à alimentação, que ficou 13,5% mais cara em 12 meses e 101,65% em uma década.

- Se os alimentos são os vilões da inflação, e o pobre compromete 30% da renda com eles, com certeza a percepção da alta de preços está ali. Isso também depende da composição da família - se tem criança, idoso - e do nível de renda. Cada um percebe a inflação de forma diferente.

Casado e com dois filhos pequenos, o analista de contas Alexander Marlon Gomes usa o salário de R$ 1,1 mil para sustentar a casa e tem feito malabarismo para manter as contas em dia. Segundo ele, enquanto a sua renda aumentou 5,6% desde 2012, os gastos totais subiram nada menos que 33,3%. Uma das altas mais severas foi justamente a da comida - o gasto com as compras de supermercado subiu 60%, de R$ 250 para R$ 400 por mês.

- Tudo subiu. A caixa de ovos, que, no ano passado, custava R$ 1,85, hoje não sai por menos de R$ 4,85. Arroz, açúcar, sabão em pó, leite, tudo está mais caro - constatou Gomes.

Também foi na alimentação que a dona de casa Joseneide Nunes sentiu o maior impacto. Em um ano, o pacote de arroz passou de R$ 9 para R$ 13, e o de feijão, de R$ 3 para R$ 6, conta. A saída é pesquisar e aproveitar as promoções. Já a técnica em enfermagem Denise Ferreira disse estar há cinco anos sem reajuste salarial.

- O problema é que as empresas aproveitam uma alta para repassar aos preços e quando deveria voltar ao normal, por exemplo, com o fim de uma seca, não reduzem os valores.

Diante de altas tão expressivas, o diretor de preços do Walmart Brasil, Eduardo Britez, admite que reajustar é um desafio. Segundo ele, além de negociar com os fornecedores comprando em larga escala, a empresa corta custos por meio do uso racional de papel, impressora e energia, além de trabalhar para melhorar a eficiência dos trabalhadores e a sua própria. A rede tem um time de 400 pesquisadores monitorando o mercado para entender o comportamento dos preços na concorrência, afirma.

- Como o custo de aquisição não é muito diferente do dos outros varejistas, precisamos ter uma estratégia. Desde 2011, fizemos uma mudança grande, com negociação com fornecedores, para reduzir valores, para que o consumidor não precise ficar caçando ofertas.

Adriana Karina Muniz Ricci, diretora comercial da Lord Perfumaria, diz que, no setor de produtos e serviços de beleza, o desafio agora é driblar a alta do dólar. Tanto no salão de beleza quanto na loja, 90% dos itens são importados.

- Em agosto, os fornecedores vão importar produtos e, com base no dólar, a alta será ditada. Nosso empenho é para fazer no máximo um reajuste por ano, que pode ser para cima ou para baixo.

Fonte: O Globo

Palavras o vento leva... - Suely Caldas

Depois de passar vinte anos condenando, o governo Dilma agora vai usar o dinheiro que arrecadar com privatizações para pagar a dívida pública. Não há nada de mais, não é pecado mortal nem venial aplicar dinheiro da venda de concessões públicas no pagamento de juros da dívida. O mundo inteiro faz isso. É uma questão de identificar e eleger prioridades. Quando a dívida pública de um país está sob controle, é bem administrada e não ameaça a saúde da economia, ótimo - despeja-se todo o dinheiro da venda de ativos em investimentos produtivos que geram emprego, renda, riqueza, bem estar e progresso para a população e para o país.

Obviamente esse não é o caso de Grécia, Portugal, Itália e Espanha, cujos governos assistiram passivos a suas dívidas multiplicarem, nada fizeram para contê-las e agora pedem socorro financeiro ao FMI e ao Banco Central Europeu, que os obrigam a impor trágicos sacrifícios à população, vender ativos, demitir funcionários, reduzir sal ários e aposentadorias, provocar depressão econômica, desemprego e empobrecimento e, assim, gerar condições para pagar suas gigantescas dívidas. A alternativa seria dar calote, decretar moratória unilateral, mas isso ninguém quer, a tragédia seria muito pior. Que o diga a Argentina, que enunciou moratória em 2001 e viuseuPIB desabar, o desemprego se espalhar e a população empobrecer a níveis jamais vistos em sua história. Mas o que acontece na Europaj á foi passado no Brasil (nos anos 1980) e hoje deixou de ser pesadelo. É bem verdade que nossa dívida pública está acima da média dos países emergentes (a líquida em 35% do PIB e a bruta em 68%), mas longe, muito longe, do risco de crise, é perfeitamente administrável. Afinal, alguns dos países europeus têm dívidas que ultrapassam 100% do PIB. Então qual é o problema do Brasil? Por que Dilma, que tanto criticou o governo tucano por usar o dinheiro das privatizações para abater a dívida, agora faz o mesmo?

Nessa questão, o problema número um do Brasil de hoje se chama credibilidade. É verdade que temos uma meta de superávit primário (economia nas contas públicas para pagar os juros da dívida), essencial para garantír ao mundo financeiro (onde nossas empresas tomam dinheiro emprestado) que temos plenas condições de pagar nossos débitos. Tudo bem, não fosse um relevante detalhe: em quase três anos, o governo Dilma só conseguiu cumprir o superávit com truques, feitiçarias, alquimias em que nem a criança mais ingênua e desinformada acreditaria. O que o ex-ministro Delfim Netto chamou de "esculhambação nas contas públicas", em entrevista à Agência Estado.

O que a nota de rebaixamento da agência Standard & Poor"s reflete é justamente a falta de confiança de que o Brasil vai continuar pagando o que deve no futuro sem criar problemas para a saúde de sua economia. Três fatores têm contribuído para isso: 1) os truques e as maquiagens minaram a credibilidade da equipe econômica de Dilma, mostraram que a intenção era enganar, dar um jeitinho (obviamente sem sucesso) e não equilibrar as contas públicas; 2) prestigiado pela presidente Dilma, o secretário do Tesouro, Amo Augustin, passou a defender abertamente a redução da meta fiscal; e 3) apesar do inchaço da inflação e da desvalorização do real, o governo não dá qualquer sinal de que vai ajustar seus gastos - muito pelo contrário, continua gastando mais do que pode.

Por tudo isso, Dilma Rousseff recorre ao dinheiro que vai arrecadar com as privatizações de estradas, portos, ferrovias, aeroportos e áreas de exploração de petróleo. É dinheiro extra, fora do orçamento, que poderia ser investido em saúde, educação, saneamento, e vai servir para pagar a dívida porque agora virou prioridade reconquistar a confiança na meta fiscal E de nada adianta fazer vazar promessas de que o governo vai perseguir o déficit nominal zero nem o ministro Mantega vir a público se comprometer com meta de 2,1% do PIB, se as ações do governo se dirigem para o lado contrário. Promessas e palavras o vento leva...

Jornalista e professora de comunicação da PUC-Rio

Fonte: O Estado de S. Paulo