segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

OPINIÃO DO DIA - Fernando Henrique Cardoso: ‘engodo’

Basta de tanto engodo. A condenação pelos crimes do mensalão deu-se em plena vigência do Estado de Direito, num momento em que o Executivo é exercido pelo Partido dos Trabalhadores (PT), cujo governo indicou a maioria dos ministros do Supremo. Não houve desrespeito às garantias legais dos réus e ao devido processo legal. Então, por que a encenação? O significado é claro: eleições à vista. É preciso mentir, autoenganar-se e repetir o mantra. Não por acaso, a direção do PT amplifica a encenação e Lula diz que a melhor resposta à condenação dos mensaleiros é reeleger Dilma Rousseff... Tem sido sempre assim, desde a apropriação das políticas de proteção social até a ideia esdrúxula de que a estabilização da economia se deveu ao governo do PT. Esqueceram as palavras iradas que disseram contra o que hoje gabam e as múltiplas ações que moveram no Supremo para derrubar as medidas saneadoras. O que conta é a manutenção do poder.

Fernando Henrique Cardoso, “Sinais alarmantes”, O Globo, 1 de dezembro de 2013

Maioria dos partidos diz não haver espaço para candidatura de Barbosa

João Domingos, Eduardo Eresciani

A fama de justiceiro que Joaquim Barbosa adquiriu com o julgamento do mensalão empolga pouco os partidos políticos. Dezesseis das 32 legendas do Brasil dizem que não filiariam o presidente do Supremo Tribunal Federal para a disputa do Planalto em 2014. Oito siglas afirmam que precisariam discutir bastante o assunto antes da decisão e apenas sete, todas elas nanicas, dizem que abririam as portas para ele, segundo enquete feita pelo Estado. Fustigado pelo escândalo julgado por Barbosa e crítico ferroz do magistrado, o PT foi o único partido que não quis responder ao levantamento.

Por ser magistrado, o prazo de Barbosa para entrar em uma legenda não foi encerrado em 5 de outubro. Ele poderá se filiar a um partido político até seis meses antes da eleição, no dia 5 de abril do ano que vem.

Em outubro, durante um evento no Rio, Barbosa afirmou que não pensa em se candidatar agora, mas deixou as portas abertas: disse que não descarta antecipar sua aposentadoria - aos 59 anos, ele teria de deixar o tribunal compulsoriamente apenas aos 70 -para uma eventual disputa “no futuro”. “Terei tempo para pensar nisso”, disse na ocasião (mais informações no texto ao lado).

O nome de Barbosa havia deixado de figurar nos cenários da disputa presidencial aferidos pela maior parte dos institutos de pesquisa. Anteontem, o Datafolha divulgou levantamento que testa de novo o desempenho do presidente do Supremo.

No cenário proposto, Barbosa aparece numericamente em 2° lugar, com i5%das intenções devoto. Fica atrás da presidente Dilma Rousseff, que tem 44%, e tecnicamente empatado com o senador Aécio Neves (PSDB), que tem 14%. Ainda nesse cenário, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tem 9% da preferência dos entrevistados.

Segundo a assessoria de imprensa do presidente do Supremo, ele não foi procurado oficialmente por nenhum partido até agora. Em recorrentes declarações, Barbosa costuma fazer duras críticas ao atual quadro político brasileiro e já demonstrou ser um defensor de candidaturas avulsas, em que não é necessária filiação, algo proibido no Brasil.

Integrantes da cúpula do PMDB, principal aliado do PT, afirmam que o partido já tem problemas demais para resolver e que a presença de Barbosa poderia ampliá-los. O presidente interino do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), diz que no partido ele seria apenas mais um na sigla. “Primeiro, ele precisa procurar o partido no Rio (seu domicílio eleitoral) e se filiar. Só depois é que pode apresentar a postulação de uma j eventual candidatura na convenção. O PMDB tem 2,5 milhões de filiados. Se o ministro se filiar, será mais um”, afirma.

O líder do PSD e primeiro secretário do partido, deputado Eduardo Sciarra (PR), diz que seria necessária uma longa discussão em caso de filiação. “Se o ministro quiser entrar no partido, teremos de reunir a Executiva para tomar uma decisão”.

No PDT, o presidente do partido, Carlos Lupi, diz que ninguém nunca falou na possibilidade de filiação de Barbosa. “Esse é um ato de vontade pessoal. Como o Joaquim Barbosa não se manifestou, não dá para ficar falando sobre isso”, afirma.

Partidos diretamente envolvidos no escândalo do mensalão são mais enfáticos em rejeitá-lo. “No PR não. Deus me livre”, diz o presidente da sigla, senador Alfredo Nascimento (AM).

“No PP, não”, diz o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI). A sigla também tem condenados no mensalão.

Para Benito Gama (BA), presidente interino do PTB, partido também envolvido, as siglas precisam fugir das filiações “oportunistas” que envolvem gente famosa: “Não queremos isso”.


“O PT não faz comentários sobre esse assunto”, diz o presidente da sigla, Rui Falcão. O partido é o maior crítico de como Barbosa conduziu o julgamento e a prisão de sua antiga cúpula.

“Não me parece que o Joaquim Barbosa tenha alguma afi-; nidade com os comunistas”, afirma a vice-presidente do governista PC do B, deputada Luciana Santos (PE), futura presidente nacional da legenda.

“Não”. Foi a única resposta de Marcos Pereira, presidente do PRB, partido é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Mesmo a oposição ao governo avalia não haver espaços para Barbosa. Presidente do PSDB, Aécio afirma que ele contribui mais para o País no STF. “O ministro cumpre um papel como presidente do STF que honra os brasileiros. Nosso respeito pelo ministro é tão grande que nem sequer aventamos essa hipótese.”

O deputado Roberto Freire, presidente do PPS, que já ofereceu legenda para o tucano José Serra e para a ex-ministra Marina Silva disputarem a Presidência, diz que negaria a filiação de Barbosa. “Essa filiação para uma candidatura não nos interessa.”

Fonte: O Estado de S. Paulo

Os efeitos das prisões no PT

Paulo de Tarso Lyra

Os petistas que se revezavam na porta do presídio da Papuda e a nova direção do PT fluminense, que classificou os réus presos por causa do mensalão, estão em sintonia com parte da militância partidária, com a cúpula da legenda e com o Palácio do Planalto. Ao enaltecerem o papel de líderes políticos como o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o deputado licenciado José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, eles criam um abismo em relação à uma parcela da sociedade que apoiou a prisão dos condenados. Inclusive filiados.

Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que 87% dos entrevistados — e que votam no PT — apoiaram as prisões decretadas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa. "O PT ainda não entendeu o que está acontecendo, eles continuam olhando apenas para si", disse um parlamentar da base aliada, em pleno cafezinho da Câmara, após terminar uma conversa com um interlocutor petista.

Durante a posse da nova diretoria do PT fluminense, a deputada Benedita da Silva foi uma das que adotaram o discurso de heroísmo de seus correligionários. "Os nossos companheiros só poderão suportar a prisão se tiverem a nossa solidariedade. Graças a Deus, eles não conseguiram algemar nossos companheiros e botá-los no camburão", disse.

Benedita se revezou com outros colegas de partido nas sucessivas visitas aos condenados na Papuda, prática que irritou familiares de presos e gerou descontentamento inclusive na presidente Dilma Rousseff. Para a presidente, esse tipo de atitude pode gerar antipatia nos demais detentos, o que aumentaria a pressão sobre os "companheiros".

Desde que Barbosa autorizou a prisão dos primeiros réus do mensalão, no feriado de 15 de novembro, parte do PT tem levantado suas vozes e bandeiras contra o ato. Integrantes do partido defenderam uma nota dura contra Barbosa na reunião do Diretório Nacional do dia 18, mas o documento citou o tema apenas no 12º parágrafo. Preferiu concentrar os ataques às críticas da oposição sobre o desequilíbrio fiscal brasileiro e a possibilidade de retorno da inflação.

Para um analista político que acompanha de perto o debate, a cúpula petista está guardando distância regulamentar do tema. "Eles não vão levar esse assunto para a campanha, podem estar certos. Falcão (Rui Falcão, o presidente reeleito do partido) tem se manifestado sobre o Genoino por causa do estado de saúde dele. Você não vê uma menção a Dirceu ou a Delúbio", ponderou esse interlocutor.

Junta médica
Os petistas também tentaram, em um primeiro momento, mobilizar aliados no Congresso a pedir abertura do processo de impeachment contra Barbosa, alegando que ele cometera irregularidades jurídicas na decretação das prisões. A própria Dilma desanimou o líder do partido no Senado, Wellington Dias (PI), no encontro com os líderes da base aliada no Planalto. "Pode ter até havido algum tipo de irregularidade, mas comprar briga com Barbosa neste momento, em que a opinião pública está celebrando o fim da impunidade, é um tiro no pé", disse outro integrante da base aliada.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), irmão de Genoino, divide-se entre a lealdade partidária e o amor fraternal que sente pelo familiar condenado pelo STF. Após um discurso na tribuna da Câmara onde apontou os riscos vividos pelo irmão na cadeia, ele chorou ao conversar com jornalistas. De lá para cá, uma junta médica solicitada por Barbosa disse que a prisão domiciliar, no caso de Genoino, não era "imprescindível". E outra junta, desta vez da Câmara, adiou a aposentadoria por invalidez do parlamentar, optando por prorrogar a licença médica por mais 90 dias.

Com tantos componentes pessoais envolvidos, Guimarães pediu ao Correio desculpas por não conseguir avaliar a situação de maneira política. "Não sei, não quero falar sobre isso. Não consigo ter uma análise sobre o assunto, temos que esperar".

Para completar, na semana que passou, Dirceu conseguiu um emprego de R$ 20 mil como gerente administrativo de um hotel em Brasília, de propriedade do presidente do PTN, Paulo de Abreu. "Dirceu complicou a vida do companheiro", teria brincado Lula, em conversa com aliados no fim de semana.

"Não sei, não quero falar sobre isso. Não consigo ter uma análise sobre o assunto, temos que esperar"
José Guimarães (CE), líder do PT na Câmara e irmão de José Genoino

R$ 20 mil
Salário registrado na carteira de trabalho de José Dirceu para um emprego no Hotel Saint Peter, em Brasília.

Fonte: Correio Braziliense

Adeptos do PT aprovam prisões

Segundo Datafolha, entre simpatizantes do PT, 87% apoiam prisões do mensalão.

Mensalão: adeptos do PT aprovam prisões

Para 86% dos entrevistados pelo Datafolha, presidente do STF agiu bem

-São Paulo- Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha revela que, para 86% dos brasileiros, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, agiu bem ao mandar prender os mensaleiros condenados no feriado de 15 de novembro, dia da Proclamação da República. Entre os entrevistados que se dizem simpatizantes do PT, 87% disseram que Barbosa agiu bem ao mandar prender os mensaleiros no feriado.

De acordo com o Datafolha, entre os que se dizem adeptos do PSDB o percentual dos que apoiam a ação de Barbosa é de 99%, bem acima da média dos brasileiros. Para 99% dos que se disseram tucanos, o presidente do STF agiu corretamente, constatou o Datafolha.

O levantamento foi feito nos dias 28 e 29 de novembro e ouviu 4.557 pessoas em 194 municípios do país. Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, não é possível afirmar que a aprovação entre os que se dizem petistas (87%) é maior que a média entre todos os entrevistados (86%). Há neste caso uma situação àe empate técnico.

A pesquisa quis saber ainda se os brasileiros tomaram conhecimento das prisões dos mensaleiros. A maioria dos entrevistados, 82%, respondeu positivamente.

O Datafolha perguntou ainda se Joaquim Barbosa tomou a decisão exatamente no feriado de Proclamação da República "para se promover pessoalmente" ou se "agiu de acordo com a Justiça e fez o que deveria ser feito" Houve controvérsia a respeito da data das prisões e da maneira que elas foram efetuadas. Mas, para 78% dos entrevistados, o presidente do STF "agiu de acordo com a Justiça". Outros 10% disseram que ele quis se promover. E12% não souberam opinar.

Entre os que se disseram petistas, 80% acharam que o presidente do STF "agiu de acordo com a Justiça" Entre os que tomaram conhecimento do episódio, 84% afirmaram que Barbosa "agiu de acordo com a Justiça"

Na mesma pesquisa, o Datafolha simulou um cenário incluindo o presidente do STF como um dos prováveis adversários da presidente Dilma Rousseff na corrida presidencial. Dilma ficou com 44% das intenções de voto, enquanto Barbosa obteve 15%, Aécio Neves (PSDB), 14%, e Eduardo Campos (PSB), 9%. Neste cenário, os entrevistados que disseram votar em branco ou nulo foram 13%.

Fonte: O Globo

Anastasia é o preferido à vaga de senador mineiro em 2014

O atual governador ainda não confirmou sua candidatura, apesar de deter 62% das intenções de voto. Outros candidatos poderão concorrer à vaga apenas para ganhar projeção para futuras eleições, afirma especialista

Patrycia Monteiro Rizzotto

SÃO PAULO - O tucano Antônio Anastasia, atual governador de Minas Gerais, é o franco favorito na disputa pela vaga mineira ao Senado em 2014. Nas mais recentes pesquisas de intenção de voto ele desponta com 62,6% das preferências numa provável disputa contra o candidato do PSB, Alexandre Kalil, atual presidente do Atlético Mineiro; e contra Josué Gomes da Silva, do PMDB, presidente do Grupo Coteminas e filho do ex-vice-presidente José Alencar. Esses adversários detêm, respectivamente, 10,3% e 3,4% da pretensão de votos dos eleitores, segundo levantamento realizado pela Em Data com a Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Apesar da liderança, Anastasia, que já cumpre seu segundo mandato, se mantém reticente em relação à sua candidatura no ano que vem. Nos bastidores políticos de Minas, comenta-se que ele preferia se afastar do cenário político e voltar a ocupar futuramente um cargo de segundo escalão em algum governo do PSDB. "O governador mineiro é uma pessoa de gestão, um ótimo quadro do partido, um burocrata impecável, no melhor sentido da palavra. Não é um personagem político típico. Quando deu continuidade ao governo Aécio Neves e, em seguida, disputou a reeleição, ele encarou a incumbência como uma missão e agora é bem provável que dê essa missão como cumprida", analisa o cientista político Bruno Reis Wanderley, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com o professor, o favoritismo de Anastasia nas sondagens eleitorais esvaziou o peso político da vaga para o Senado na eleição do ano que vem no estado. Normalmente utilizada como moeda de troca nas negociações partidárias, para firmar alianças, o posto de senador deixou de ser interessante para certas lideranças locais que não querem entrar como azarões no pleito. "Os pré-candidatos lançados atualmente são como uma espécie de balão de ensaio. Eles vão entrar na disputa não para ganhar, mas para se tornar mais conhecidos do eleitorado e aumentar suas chances de se tornar mais competitivos numa próxima eleição. Ao mesmo tempo, o cenário é de incerteza, porque a candidatura ou não de Anastasia definirá o quadro de disputa para o Senado no ano que vem", ressalta.

Wanderley explica que o PT, que vai lançar candidato próprio ao governo mineiro — Fernando Pimentel, atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, primeiro colocado nas pesquisas — cogita também de colcoar Patrus Ananias, ex-ministro do governo Lula, na vaga do Senado. "Mas, como o ex-titular da pasta do Desenvolvimento Social já está sem mandato há algum tempo, é mais fácil que se candidate ao cargo de deputado federal, onde é quase certo que conquistará uma das vagas", reflete o cientista político. Ele acredita que há grandes chances de PT e PMDB formarem uma aliança eleitoral costurada pela direção nacional de ambos os partidos, para consolidar palanque para a campanha presidencial de Dilma Rousseff em Minas Gerais, estado onde a candidata aparece em segundo lugar nas pesquisas, abaixo do senador Aécio Neves (PSDB).

"É provável que Pimentel saia com uma chapa formada por um vice e um candidato ao Senado do PMDB", analisa Wanderley. "Apesar da resistência, Anastasia deve sair candidato ao Senado. Afinal, o PSDB não é de desprezar um capital político desse porte e o governador deve acabar atendendo ao apelo do partido", diz.

No fim de outubro, em um encontro que reuniu lideranças de 11 partidos em Uberlândia, município localizado no Triângulo Mineiro, o senador Aécio Neves lançou a candidatura do ex-ministro Pimenta da Veiga para o governo do estado. Na ocasião, Anastasia foi chamado de senador diversas vezes pela militância presente ao evento.

Nos bastidores, há quem diga que a resistência já foi vencida. De acordo com o deputado federal Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro, ainda é muito cedo para definir candidaturas. "Em março, saberemos qual a posição de Antônio Anastasia. O que pesa na decisão dele é a vontade de concluir o mandato até o fim", afirma. De acordo Pestana, a vantagem nas pesquisas será fácil de ser operacionalizadapelo partido. "Já estamos há 12 anos no governo, com grande aprovação do eleitorado mineiro", diz.

Fonte: Brasil Econômico

Eleição antecipada: Lula age para conter crise no Rio

Para tentar pôr fim à guerra travada entre PT e PMDB na disputa pelo Palácio Guanabara, o ex-presidente Lula convocou o senador Lindbergh Farias para uma reunião hoje, em São Paulo. Com esse encontro, Lula tenta adiar a saída de seu partido do governo do Rio. Cabral, por sua vez, pede calma aos "companheiros" e o fim das provocações mútuas.

Eleição antecipada: Lula, o bombeiro do Rio

Ex-presidente chama Lindbergh para reunião, enquanto Cabral pede paz entre PT e PMDB

Guilherme Amado

BRASÍLIA- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acertou com a cúpula nacional do PMDB que tentará acalmar o PT do Rio para evitar que o partido saia do governo de Sérgio Cabral nos próximos dias. Seu primeiro passo neste sentido foi convocar o senador Lindbergh Farias, pré-candidato ao governo fluminense em 2014, para um encontro hoje, em São Paulo.

A intervenção de Lula na disputa entre PT e PMDB no Rio começou na quarta-feira e foi reforçada no encontro de mais de quatro horas realizado anteontem, na Granja do Torto, com a presidente Dilma Rousseff. A intenção de Lula é não fragilizar o governo Cabral, que ontem, por sua vez, apelou a petistas e peemedebistas para que evitem as provocações mútuas.

— A nossa aliança com o PT e com o governo da presidenta Dilma é uma aliança que só tem feito bem ao estado do Rio — disse Cabral, na reinauguração da maternidade Mariana Bulhões, em Nova Iguaçu. — Eu tenho o maior respeito pelos companheiros do PT. Tanto aos companheiros do PMDB, quanto aos companheiros do PT que têm agido na direção da polêmica, temos que pedir calma.

O governador do Rio solicitou ainda união contra a oposição, sem especificar, no entanto, a quem se referia:

— Nós estamos no poder. A oposição, que não está no governo, quer estar. O PMDB e o PT são o governo do estado há sete anos. Portanto, é hora de nós, que somos do governo, continuarmos fazendo coisas como essas aqui: entregando obras.

Está agendado para hoje, em São Paulo, um encontro de Lula com Lindbergh. A conversa entre os dois está prevista para ocorrer depois de uma reunião do ex-presidente com os novos líderes dos diretórios regionais do PT. Na quarta-feira, Lula pediu que o diretório regional fluminense adiasse em pelo menos uma semana a ruptura com Cabral, prometida para acontecer anteontem. O pedido foi atendido, mas o comando estadual não desistiu de anunciar a cisão nesta semana.

Nos últimos dias, Lindbergh e outros petistas fluminenses se irritaram com declarações do vice-governador, Luiz Fernando Pezão, candidato do PMDB do Rio para 2014, e do deputado federal Leonardo Picciani, vice-líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Na quinta-feira, Pezão comemorou o adiamento da cisão entre os dois partidos e disse que ofereceria o que o PT quisesse para que Lindbergh se retirasse da disputa. No dia seguinte, Picciani afirmou que o PT não havia saído do governo Cabral em novembro para não deixar de receber o 13º salário.

"Correligionários irritados"
Mas, apesar de continuar atuando como bombeiro, Lula reclamou muito, no sábado, das declarações de Pezão e Picciani. Segundo participantes da conversa na Granja do Torto, ele disse que elas "atrapalhavam" as negociações no Rio. Rui Falcão, presidente nacional do PT, afirmou, por sua vez, que os petistas fluminenses querem o rompimento para já e que está difícil segurar seus correligionários irritados.

O acerto foi, então, o de adotar um tom mais conciliador, pedindo calma a todos os envolvidos. Mas alguns petistas não descartam que Lula queira manter o partido com Cabral para tentar costurar um apoio do PMDB à candidatura de Lindbergh caso Pezão não melhore nas pesquisas de intenção de voto. Na semana passada, o Ibope apontou que Pezão está em sexto lugar, enquanto o petista aparece em terceiro. A pesquisa foi liderada pelo ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), e pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR).

No sábado, durante visita a Mendes, no interior do Rio, Lindbergh reforçou a necessidade de rompimento e se disse indignado com Pezão e Picciani.

— (Isso) Foi bom para mostrar ao PT nacional o que a gente enfrenta aqui. É truculência em cima de truculência. Todos sabem o esforço que fizemos para atender ao pedido do presidente Lula, e eles (o PMDB) respondem com desrespeito. Tudo isso só reforça a tese de que temos que sair imediatamente.

Ontem, o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), também pediu paz:

— O Rio tem que ter calma. Se o PT puder segurar um pouco mais, é importante.

Entre aliados de Dilma, a avaliação é que um rompimento no Rio seria ruim para os dois partidos, uma vez que eles ainda têm problemas a resolver nos palanques de Ceará, Paraíba e Minas Gerais.

Para engrossar ainda mais a lista de candidatos no Rio, o Solidariedade, partido que a princípio se alinharia com Lindbergh, decidiu ontem lançar candidatura própria. A vereadora Rosa Fernandes, que teve quase 69 mil votos em 2012, foi pega de surpresa pela decisão, mas diz que entrará de cabeça na disputa:

— Estava ao lado do (vereador) Tio Carlos quando meu filho veio e me disse: "Vão te fazer um convite. Se prepara" Eu pensei: "Oba, vão me levar para um almoço" Mas não. Me pediram que saísse candidata. Fico feliz por contribuir.

"Eu tenho o maior respeito pelos companheiros do PT. Tanto aos companheiros do PMDB, quanto aos companheiros do PT que têm agido na direção da polêmica, temos que pedir calma" Sérgio Cabral, Governador do Rio

Fonte: O Globo

Reforço à campanha em Minas

Presidenciável tucano, Aécio Neves volta ao estado hoje depois de uma série de encontros pelo interior de São Paulo. Em Montes Claros, Pimenta da Veiga já fala como candidato

Luiz Ribeiro

Embora o governador Antonio Anastasia tenha declarado que defende que o candidato do grupo palaciano à sua sucessão seja escolhido em janeiro, o ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB) já colocou o pé na estrada e fala como o pré-candidato a governador. Ontem, ele viveu um dia de campanha em Montes Claros, no Norte de Minas, onde espera hoje o senador e pré-candidato a presidente da República pelo PSDB, Aécio Neves, que está de volta a Minas depois de participar de encontros regionais pelo interior de São Paulo. No estado, Aécio já promoveu encontros semelhantes em Uberlândia, no Triângulo e em Poços de Caldas, no Sul. Também estarão presentes na reunião de hoje estrelas do grupo político aliado ao tucano, como Anastasia; o vice-governador Alberto Pinto Coelho (PP); o presidente da Assembleia Legislativa, Dinis Pinheiro (PP); e o presidente estadual do PSDB, deputado Marcus Pestana.

Para o encontro, marcado para as 11h30, no Automóvel Clube da cidade, estão confirmadas as presenças de prefeitos e lideranças de mais de 150 municípios da região e dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri. O tema em debate é o fortalecimento dos municípios, que reclamam da diminuição de receitas, sobretudo, em virtude das quedas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Por causa da redução do FPM e outras fontes, os pequenos municípios voltam a enfrentar o drama da falta de recursos para o pagamento do 13º salário.

O assunto é explorado não somente por Aécio, mas também por Pimenta da Veiga, que ontem anunciou como uma das suas metas como postulante ao Palácio Tiradentes a mudança do pacto federativo para aumentar a arrecadação dos municípios. O ex-ministro já esteve em Uberaba, no Triângulo, e em Passos, no Sudoeste. "Estamos percorrendo o estado para ouvir os mineiros; para saber suas opiniões sobre questões administrativas e econômicas. O objetivo é termos uma perfeita avaliação sobre o sentimento mineiro", afirmou Pimenta, que conta com o apoio de Aécio.

Em Montes Claros, cidade com 380 mil habitantes e cerca de 250 mil eleitores, o tucano visitou pela manhã a feira livre do Bairro Major Prates, onde cumprimentou pequenos produtores rurais. Também parou para fotos e para conhecer atrativos da região, como vidros de pimenta. Depois, participou de um almoço e de uma reunião com lideranças e prefeitos da região. Ele disse que o PSDB ainda está fazendo as últimas avaliações e que acredita que dentro de algumas semanas vai definir os nomes do partido que vão disputar a eleição em 2014.

Programas. Em entrevista, Pimenta disse que sua intenção, se for eleito para a sucessão de Anastasia, é dar continuidade às ações implementadas pelo governo do estado que dão suporte aos municípios, tais como os programas Proacesso, Caminhos de Minas (pavimentação de estradas) e Pro-Municípios (recursos para infraestrutura). "Meu compromisso é ter uma proximidade cada vez maior com os municípios", assegurou.

O pré-candidato tucano aproveitou para alfinetar o governo da presidente Dilmar Rousseff (PT), lembrando que a União fica com a maior parte da fatia dos tributos arrecadados e sacrifica os gestores municipais. Ressaltou que os programas criados pelo governo de Minas para auxiliar os municípios servem como uma válvula de escape para os prefeitos, que veem as receitas públicas diminuírem porque o governo federal absorve 70% de toda a arrecadação de impostos do Brasil. "O governo de Minas tem procurado suprir as necessidades dos municípios. Quero não apenas continuar com esse atendimento, mas também trabalhar para que possamos mudar o pacto federativo, fazendo com que os municípios tenham uma parcela maior na arrecadação de tributos do país", afirmou.

Fonte: Estado de Minas

Aécio vai anunciar medidas para integrar o plano de governo tucano pelo Palácio do Planalto

No interior de São Paulo, presidenciável do PSDB anuncia para os próximos dias lançamento das medidas

Depois de reiterar as críticas à gestão do PT, que, segundo ele, coloca em risco a estabilidade da moeda alcançada com o Plano Real, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), anunciou neste sabado em Bauru, São Paulo, o lançamento nos próximos dias de um conjunto de propostas que deverão integrar o plano de governo tucano na disputa ao Palácio do Planalto.

Embora ainda sem a oficialização do candidato, a reunião em Bauru, organizada pelo ex-presidente do PSDB paulista deputado estadual Pedro Tobias, foi um ato pró-Aécio, o maior realizado em São Paulo até o momento. Mais de mil militantes de 70 cidades da região aderiram ao encontro, que teve a performance de banda com músicas mineiras, dupla sertaneja e locutor de rodeio. Aécio ganhou um arco e flecha do índio Thiago Oliveira, que foi ao evento com um grupo de uma aldeia em Avaí, na região de Bauru. Dentro da sua caravana pelo interior paulista, anteontem Aécio foi a Franca e nos próximos dias estará em Campinas e em Sorocaba.

Em discurso à militância tucana paulista, Aécio disse que a agenda da estabilidade econômica está em risco na gestão petista. “O PT coloca em risco as principais conquistas vindas do PSDB, a começar pela estabilidade da moeda, passando pela responsabilidade fiscal, e tudo isso emoldurado por algo que é essencial: a credibilidade do país”, disse referindo-se à ameaça de rebaixamento da classificação do Brasil pelas agências internacionais de risco. “O rebaixamento na nota de crédito de rating do Brasil, que eu espero não ocorra, inibe os investimentos. Isso é essencial para o Brasil”, afirmou.

Para o tucano, o Brasil debate hoje uma agenda que já deveria estar superada. “A agenda que achávamos que tínhamos superado lá atrás, é a agenda de hoje, da instabilidade econômica, do retorno da inflação, da perda de credibilidade”, afirmou. “Na hora em que devíamos estar aqui discutindo uma agenda nova para o mundo, de inovação com o aumento de produtividade, as empresas brasileiras entrando nas cadeias globais de produção, um alinhamento internacional não ideológico e atrasado, mas pragmático, em favor do crescimento da economia brasileira e de geração de empregos, estamos com a agenda de 15 anos atrás”, sustentou.

Anunciando a “hora da verdade”, Aécio afirmou que o PSDB acumula experiência administrativa para debater qualquer área de governo. “Vai chegar a hora da verdade. O PSDB se prepara para ela de forma corajosa, altiva e, sobretudo, com a experiência que adquirimos em governos de excelência, como o governo de Geraldo Alckmin (em São Paulo), como o governo de Minas e tantos outros espalhados pelo Brasil.”

O presidenciável tucano defendeu a estabilidade, as privatizações e a modernização da economia. “Eles são o partido da instabilidade, da perda de credibilidade, da alquimia fiscal, da não transparência dos dados”, criticou. No campo da gestão, Aécio voltou a apontar o setor privado como “um parceiro essencial aos investimentos”, sobretudo em infraestrutura. E não poupou o PT de novas críticas. “Prezamos o planejamento. Eles não, eles demonizaram o setor privado até onde puderam e são o governo do improviso. Por isso, o Brasil é hoje um cemitério de obras inacabadas por onde você anda”, disse.

Fonte: Diário de Pernambuco

Randolfe é o nome do PSol

Daniela Garcia

O PSol consolidou ontem a pré-candidatura do senador Randolfe Rodrigues (AP) para a disputa da Presidência da República em 2014. Durante o 4º Congresso do partido, realizado em Luziânia (GO) entre sexta e ontem, o parlamentar derrotou a deputada Luciana Genro (RS), filha do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). De acordo com a legislação eleitoral, a oficialização da candidatura só poderá ocorrer em junho.

A vitória de Randolfe aconteceu numa votação simbólica, sem contagem nominal, porque, visualmente, a maioria dos delegados levantou crachás em apoio ao nome dele. Segundo a organização, estavam presentes 391 delegados e cerca de 200 observadores.

Após o anúncio da votação, Randolfe afirmou que assumiria a função com "temor e honra". Há duas semanas, ele disse que renunciaria à candidatura, diante da iniciativa do deputado Chico Alencar (RJ), considerado o único nome capaz de unir o PSol. Contudo, o parlamentar fluminense não aceitou o posto, com a justificativa de ajudar o partido a ampliar a bancada na Câmara. Em 2010, ele recebeu 240 mil votos e auxiliou o partido a eleger Jean Wyllys, que teve 13 mil votos, ao cargo de deputado federal.

Ao que tudo indica, o pré-candidato do PSol terá como prováveis adversários a presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Randolfe diz que terá um discurso de único representante da esquerda. Além de criticar a falta de desapropriações para a reforma agrária no governo atual, o senador acusa o PSB de apoiar ruralistas na votação do Código Florestal. "Fui escolhido pelo partido político que tem uma enorme responsabilidade de apresentar a candidatura de esquerda, nessa difícil conjuntura política, em que as candidaturas são muitos parecidas", disse.

Segundo ele, o PSol está interessado em apenas fazer alianças com partidos da diminuta esquerda brasileira. Contudo, enquanto a legenda de Randolfe aposta em uma coligação, o PCB pretende concorrer sozinho ao Planalto. Já o PSTU trabalha para a reedição da Frente de Esquerda de duas eleições atrás. Em 2006, os três partidos consolidaram uma terceira via que alcançou 6,5 milhões de votos para presidente, tendo à frente a alagona Heloísa Helena. Em 2010, concorrendo cada um por si, tiveram o apoio de apenas 1 milhão de eleitores.

Plano de governo
O PSol pretende cativar o eleitorado que ocupou as ruas das principais capitais brasileiras no fim do primeiro semestre. "Nós queremos dialogar concretamente com aqueles nomes dos protestos de junho." Randolfe lembra que antigos integrantes do partido e do PSTU foram os criadores do Movimento Passe Livre (MPL), em São Paulo, que deu início à série de mobilizações pelo país.

No evento em Luziânia, também foi eleito o novo presidente do partido, Luiz Araújo, assessor parlamentar de Randolfe. De acordo com ele, o PSol começa a discutir neste mês o plano de governo que sustentará a candidatura à presidência. Ele afirmou que o partido decidiu antecipar a escolha do nome do pré-candidato com a finalidade de tentar tornar conhecida a imagem do senador. Aos 41 anos, Randolfe é o mais jovem parlamentar no Senado e está no primeiro mandato.

Araújo elencou as prioridades do partido nas próximas eleições. "Nós não estamos lançando um candidato (Randolfe) para figuração, mas fazer essa uma disputa de mudança. A segunda prioridade é eleger uma forte bancada de deputados federais", disse o novo presidente da legenda. Sem diminuir a importância da candidatura à presidência, o deputado Ivan Valente (SP), no entanto, tem dito que a principal meta para 2014 é eleger mais parlamentares para Câmara. Além de Valente, a sigla conta com apenas mais dois deputados federais: Jean Willys e Chico Alencar.

Duas perguntas para Randolfe Rodrigues (PSol-AP), pré-candidato às eleições presidenciais

Qual é, então, a proposta de governo do PSol?

Tem acabar, primeiro, com essa ideia história de que a única fórmula para resolver a inflação é a alta da taxa de juros. Há 20 anos, é essa a fórmula. Isso significa um país que não cresce economicamente, significa a família brasileira ser a mais endividada da América Latina, significa que a nossa economia cresceu em uma média de menos de 2%, quando a maioria dos nosso vizinhos cresceu numa média de 4% e 5%, significa que nós praticamos a mais alta taxa de juros do planeta. Isso só ocorre porque nós não tivemos coragem de fazer, há 500 anos, a reforma agrária. Nós só pensamos, há 500 anos, em ser exportador de commodities. Nós temos que ter disposição de romper com modelo.

E qual a expectativa de ser candidato no ano que vem?

Permita-me citar o trecho de uma poesia: "Estou diante do temor e da honra de ter sido escolhido. Mas consciente que fui escolhido pelo partido político que tem uma enorme responsabilidade de apresentar o nome de esquerda, nessa difícil conjuntura política, em que as candidaturas são muitos parecidas. Nós queremos dialogar concretamente com as mobilizações do povo brasileiro de junho último. Estamos crentes de que no coração do povo brasileiro está presente uma semente fértil de mudança, que precisa só do adubo correto.

"Nós não estamos lançando um candidato para figuração, mas fazer essa uma disputa de mudança" Luiz Araújo, presidente eleito do PSol

Fonte: Correio Braziliense

Brasileiro nunca deveu tanto aos bancos: R$ 1,2 trilhão

Nem se usassem todo o 13° salário, os trabalhadores conseguiriam zerar as dívidas contraídas com os bancos. O montante de R$ 1,2 trilhão é o maior da história, segundo dados do Banco Central. Representa oito vezes o valor que o tradicional benefício natalino injetará na economia brasileira neste fim de ano. A complicação nas finanças domésticas tem como causa principal o fato de os consumidores haverem se comprometido com as dívidas de juros mais salgados do mercado. As contas de saldo devedor do cheque especial, por exemplo, são as maiores já registradas, com alta acumulada de 20,9% no ano. Os débitos com cartão de crédito cresceram 6,2% nos 10 primeiros meses.

Dívida de brasileiro nos bancos é de R$ 1,2 tri

Mesmo se fosse usado integralmente para pagar as dívidas, o 13º salário não seria suficiente. Os brasileiros chegam ao fim de 2013 devendo — somente aos bancos — um total de pouco mais de R$ 1,2 trilhão, o maior saldo da história, segundo dados do Banco Central (BC). O montante equivale a oito vezes a quantia que será injetada na economia brasileira neste ano com o benefício natalino, cuja primeira parcela caiu na conta dos trabalhadores na última sexta-feira. Ceia, presentes e viagens poderão até ser mantidos, mas o aperto nunca foi tão grande.

A situação das finanças domésticas se complica porque, com base nos números do BC sobre as operações de crédito, os consumidores têm mergulhado nas dívidas mais caras do mercado. O saldo devedor do cheque especial, por exemplo, é o maior já registrado, com alta acumulada de 20,9% no ano. Os débitos com o cartão de crédito na modalidade rotativa — quando se quita apenas o valor mínimo da fatura — cresceram 6,2% nos 10 primeiros meses, mais do que os pagamentos à vista com cartão, nos quais não incidem juros, com alta de 5,1%.

O ano não foi fácil para os brasileiros. A inflação se manteve persistente e bem acima do centro da meta do governo, de 4,5%. A cada ida ao supermercado, um novo espanto diante dos reajustes, sempre minimizados pela equipe econômica. Não bastasse, a expectativa para o início de 2014 é de mais alta dos preços, além dos gastos extras do período, como pagamento de impostos e matrícula escolar. A escalada da taxa básica de juros — que na última semana chegou a 10% ao ano, voltando à casa dos dois dígitos — encarecerá o crédito e poderá acelerar o inchaço das dívidas.

A soma do que os brasileiros devem às instituições financeiras representa, hoje, mais de um quarto (25,8%) do Produto Interno Bruto (PIB), também a maior proporção já identificada pelo BC. "Para diminuir o peso das dívidas, o consumidor foi obrigado a ficar mais seletivo e cuidadoso. Quem conseguiu limpar o nome não vai querer virar o ano no vermelho de novo", acredita o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes.

Nos últimos anos, com a ausência de projetos estruturantes no país, o consumo das famílias foi o que garantiu o crescimento econômico. O aumento da renda e do nível de emprego da população fizeram o governo estimular a fartura do crédito e, consequentemente, uma corrida às compras. A euforia deu resultado. Mas, no entender de analistas, esse modelo de desenvolvimento — que acabou abafando a falta de projetos sólidos — se esgotou.

Superação
Com o poder de compra estrangulado pela inflação e pelas dívidas, muitos brasileiros que iniciaram o ano na lista de maus pagadores deram a volta por cima e dizem ter aprendido a lição. Decidiram neste fim de 2013 não só diminuir o consumo, mas também estão mais dispostos a poupar. "Parece que há, de fato, uma maior conscientização. Mas não basta. As famílias precisam de uma "faxina financeira" e mudar hábitos", pondera o educador financeiro Reinaldo Domingos.

O auxiliar de cozinha Sidney Araújo da Silva, 34 anos, passou vários Natais "comendo e se divertindo na casa dos outros", como relembra ele. As dívidas com cartão de crédito e celular torravam o dinheiro da ceia. Desta vez, metade do 13º está reservado para garantir a festa da família, mesmo sem muita pompa. "Quem quiser esbanjar que esbanje. Vou cuidar das minhas contas para entrar em 2014 tranquilo", afirma.

A outra metade do salário extra, acrescenta Silva, será usada para ajudar a pagar as parcelas de uma televisão de plasma comprada recentemente — dividida em 12 vezes — e do novo aparelho de celular, que deve ser quitado em abril do ano que vem. Sem revelar para ninguém o quanto tem guardado, o morador de Planaltina defende a importância de poupar. "Se depender só do salário, o cara fica enrolado. Se o patrão atrasar o pagamento é problema. E se os bancos entrarem em greve?", provoca.

O medo de afundar em dívidas levou muitos brasileiros a abrirem mão de extravagâncias. É por isso, acreditam analistas, que, apesar do endividamento recorde das famílias — 63,2%, de acordo com levantamento mais recente da CNC —, a inadimplência tem recuado. "As pessoas gastam o que não têm. Estou cansado de pegar passageiro com salário de R$ 20 mil por mês, mas que quer viajar todo fim de semana, comprar tudo, e aí depois reclama", opina o taxista João Rodrigues, 64.

A casa própria segue como sonho e prioridade para a maioria dos brasileiros. A aposentada Ana Carvalho, 72, não se incomodou em comprometer um terço da renda com um financiamento imobiliário iniciado neste ano. Para compensar o arrocho programado, ela optará por presentes mais baratos para os filhos e netos no Natal. "Vou gastar menos, para juntar mais dinheiro e antecipar parcelas. Quero usar até o 13º para ajudar a diminuir o montante."

Esgotamento
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará amanhã o resultado do PIB do terceiro trimestre. Os números voltarão a mostrar que o consumo deixou de ser a principal mola propulsora da economia brasileira. O mercado aposta em recessão do indicador em 0,3%. "O consumo estagnou mesmo, chegou ao seu esgotamento. É algo que preocupa. Agora, ele terá de dar lugar à poupança", comenta o ex-diretor do BC e presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, Carlos Eduardo de Freitas.

Fonte: Correio Braziliense

Nobel alerta para bolha imobiliária no Brasil

Shiller vê semelhança com setor nos EUA há 10 anos

Maíra Amorim

BERLIM e RIO- O americano Robert Shiller, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em parceria com outros dois pesquisadores este ano, acredita que as fortes altas nos preços do mercado de ações dos EUA e do setor imobiliário em algumas cidades do Brasil podem provocar uma perigosa bolha financeira. O alerta foi feito em entrevista à revista alemã "Der Spiegel" que chegou às bancas ontem.

— Em muitos países as bolsas de valores estão em um nível alto e os preços subiram com força em alguns mercados imobiliários. Isso pode acabar mal.

O economista demonstrou preocupação com os valores "drasticamente" altos de imóveis no Rio de Janeiro e em São Paulo nos últimos cinco anos.

— Lá, me senti um pouco como nos EUA em 2004 — disse, acrescentando que ouvia os mesmos argumentos sobre oportunidades de investimentos e o crescimento da classe média que já havia escutado nos EUA perto do ano 2000.

Shiller esteve em Campos de Jordão (SP) em agosto, onde já alertava para o boom de preços do setor no Brasil. Nos EUA, o colapso do mercado imobiliário está na origem da crise financeira global de 2008/2009.

As bolhas são criadas quando investidores não reconhecem que os crescentes preços de ativos se distanciaram de fundamentos econômicos.

Economistas divergem
Para Monica de Bolle, professora da PUC-Rio e sócia da Galanto Consultoria, é prematuro dizer que há uma bolha no Brasil: — Não há duvida de que algumas cidades viram um aumento extraordinário do preço dos imóveis, no Rio em particular. Mas isso não é bolha, não no sentido que ocorreu nos EUA, porque teria que se imaginar uma situação em que as pessoas se endividaram excessivamente, de forma abrangente, dos mais pobres aos mais ricos, e isso não é verdade no Brasil. Ainda é uma camada pequena da população que tem acesso a recursos para adquirir imóveis.

O economista Gilberto Braga, do Ibmec, corrobora:

— A expectativa até 2016 é que não tenhamos diminuição drástica (de preços), mas pode haver acomodação. Já há estabilidade em algumas áreas. (Com agências internacionais)

Fonte: O Globo

Mentiras e verdades - Aécio Neves

Quem já caminhou pelas ruas de São João Del Rey provavelmente ouviu falar do monsenhor Paiva. Ele foi durante cerca de 50 anos pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, que fica ao lado da casa dos meus avós na cidade. Nesse final de semana, celebraram-se os seus 60 anos de sacerdócio.

Lembro-me dele desde muito cedo. É uma das poucas unanimidades que conheço, não apenas pela dedicação às causas e às pessoas da cidade, mas, sobretudo, pelo profundo senso ético que imprime à sua vida. Assim como ele, muitos de nós sabemos que, no mundo, existem a verdade e a mentira. O certo e o errado, por mais que insistam em nos convencer do contrário.

Entre os grandes desafios que o Brasil tem, um possui conotação especial pelo significado que imprime à vida em sociedade: o da recomposição ética da atividade política.

Tenho viajado e conversado com pessoas de diferentes regiões e, por mais específicas que sejam as realidades de cada uma, há um sentimento comum de descrença, de indignação com os episódios que ocorrem à nossa volta. E todos eles se remetem à perda dos limites éticos que deveriam ordenar a vida em comunidade.

Os graves acontecimentos envolvendo políticos não depõem apenas contra indivíduos. Acabam por rebaixar a atividade política como um todo. Infelizmente, nos últimos anos, aos olhos da população, a política vem perdendo sua dimensão de instrumento transformador da sociedade.

Tenho dito que um dos maiores desserviços que o PT presta ao país é a insistente tentativa de legitimar a mentira como instrumento do debate e da luta política.

Na política, a mentira tem várias faces. Às vezes, se apresenta com uma mais suave, se finge inofensiva, em pequenas "imprecisões" ditas aqui e ali.

Pode ter uma face mais dura, nas constantes sinalizações aos aliados de que política é um jogo de vale-tudo, onde os fins justificam os meios. Onde, segundo alguns, "podemos fazer o diabo".

Pode ainda se apresentar raivosa e destrutiva, estimulando a intolerância e o ódio. Na internet, esforços gigantescos são organizados para caluniar e difamar adversários, vistos como inimigos a serem abatidos a qualquer preço em sua honra, em sua imagem pública. Para, em covarde alquimia, tentar transformar mentira em verdade.

O Brasil que precisamos construir deve ter como base a generosidade e o respeito pelas diferenças. Quaisquer que sejam elas.

Winston Churchill disse, certa vez, que, enquanto a mentira dá a volta ao mundo, a verdade ainda não terminou de calçar os sapatos para sair de casa. Pelo Brasil e por brasileiros de bem, como monsenhor Paiva, tomara que aqui ela consiga se apressar.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Minas, paradigma de gestão regional do SUS - Marcus Pestana

Nestes 11 anos de gestão do PSDB em Minas Gerais, um enorme desafio se colocou na saúde pública.

Muito longe de qualquer discurso ufanista, a análise objetiva da realidade encontra em Minas a melhor experiência de gestão regional do SUS. Não é à toa que dezenas de técnicos de outros
Estados nos visitam para conhecer nossas experiências inovadoras na saúde.

Construímos o melhor programa de qualificação da estratégia nacional da saúde da família. Somos o Estado que possui o maior número de equipes. Mas o que importa é a qualidade. O programa Saúde em Casa desenvolveu um conjunto de instrumentos para integrar e qualificar o trabalho das diversas equipes. Para os incrédulos, aconselharia conhecer experiências como o Canal Minas Saúde, com suas 8.000 antenas e 80 mil alunos em 2013, falando direto com as mais de 4.000 equipes do PSF nos quatro cantos do nosso território. Ou a maior experiência de telemedicina do Brasil. E o programa pioneiro que construiu mais de 1.600 unidades básicas de saúde, o Programa de Educação Permanente e o Plano Diretor da Atenção Primária.

Na atenção secundária, que supre a demanda por consultas especializadas e exames, investimos como nunca nos mais de 70 consórcios intermunicipais de saúde, alguns com padrão de qualidade de fazer inveja às mais sofisticadas clínicas privadas. O sistema de transporte em saúde foi considerado pela Organização Pan-Americana da Saúde modelo de logística na integração das redes assistenciais. Destacaram-se neste campo os centros Viva Vida, Hiperdia e Mais Vida.

Na atenção hospitalar, organizamos o Prohosp, que garantiu recursos para investimentos essenciais, modernizou a gestão, estabeleceu metas, qualificou gestores, ampliou serviços.

Na urgência e emergência, foi estruturada a rede de atenção pioneira e inovadora que salvou mais de mil vidas em seu primeiro ano no Norte de Minas, mudando conceitos, introduzindo o Protocolo de Manchester, hierarquizando os hospitais e estabelecendo um centro regional único de comando. Foi essa experiência que levou o criador do Samu, o francês Miguel Martinez, em sua visita a Montes Claros, a não esconder sua admiração: “é o melhor Samu do mundo”.

Na assistência farmacêutica, o programa Farmácia de Minas, com suas quase 700 unidades, interiorizando a presença dos profissionais farmacêuticos integrados em rede pela internet, com a ampliação de 41 para 163 medicamentos, foi eleito pelo Conselho Federal de Farmácia e Bioquímica a melhor experiência de organização da assistência farmacêutica.

O sistema estadual de regulação – SUS fácil – introduziu profissionalismo, agilidade e impessoalidade na gestão dos fluxos assistenciais. O poder migrou para a autoridade sanitária dos médicos reguladores, espalhados nas 13 centrais estaduais de regulação.

A sociedade tem demonstrado um evidente mal-estar com o mundo da política, mas quando a política gera experiências como as vividas na saúde de Minas nos últimos 11 anos, é possível dizer: vale a pena!

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas

Fonte: O Tempo (MG)

Popularidade com vitamina e xarope :: Paulo Brossard

Como é sabido, a opinião pública pode sofrer alterações rápidas, quase repentinas, assim como pode manter estável período mais ou menos longo. Observadores do que se passa entre nós nos dias atuais, têm notado uma fase de certa paralisia por parte do governo quando este, pelos próprios recursos de que dispõe e das atribuições que lhe são inerentes, é o maior agente de possíveis transformações. Nesse particular, a projeção pode ser no sentido de majorar, manter ou reduzir seus fluxos, e sem falar em sua desmedida gula eleitoral, a ação governamental, em geral, parece entravada. 

Os fatos do dia estão a mostrar que a maior empresa nacional está a enfrentar desconforto em razão da resistência da autoridade em suprimir as causas do fenômeno. É fato notório que os preços dos combustíveis no mercado externo têm sofrido elevações que projetam seus efeitos nos preços internos. Assim, no começo do ano, a majoração do preço do petróleo no mercado internacional importou no aumento dos custos do combustível na bomba. A Petrobras tomou as providências no sentido de restabelecer a relação avariada; quando implantaria as medidas tidas como inevitáveis, a senhora presidente da República vetou a providência. 

Não faltou quem sustentasse que os preços internos seriam mantidos, e esta orientação foi anunciada como definitiva. Ocorre que a empresa, que é uma das maiores do país, vinha sofrendo o duro impacto do congelamento oficial, de modo que o mau desempenho da Petrobras num dos trimestres do ano em curso, decorreria da decisão presidencial. A questão não é de somenos, uma vez que, também é sabido, ela não tem como conviver com a atual orientação.

Nesse quadro, a senhora presidente, cuja bravura é apregoada, guardava silêncio; até que a febre se elevou a tais alturas que se tornou inafastável refazer o exame de alguns meses tanto mais se anuncia revisão dos preços internos dos combustíveis. Até aí nada há de novo. Quando novidade existisse e ela existe, essa configura uma nova componente no problema; mas a ela foi atribuída uma prevalência absoluta, para que governo e popularidade fossem confrades obrigatórios; a popularidade passou a ser a pedra de toque do governo e sua vitamina. 

Ao que consta, a descoberta é devida aos talentos mágicos do marqueteiro oficial. Vale recordar que, no início do mês que acaba de findar, grande jornal estampava com todas as letras que: "apesar de ter intensificado sua situação política nos últimos quatro meses, a presidente não concretizou a previsão do marqueteiro João Santana, de que até novembro recuperaria a popularidade perdida... a recuperação foi parcial e está parada há dois meses... diferentes segmentos da sociedade, em especial os mais jovens, nunca tiveram tantas divergências em relação à atuação da presidente".

Com efeito, o caso é cheio de paradoxos, o ministro da Fazenda cambaleia em face dos antagonismos; a Petrobras engrossa a voz e a senhora presidente aguarda as mágicas do sumo pensador que, embora não faça parte do governo, é o detentor de seus segredos. Este não teve um voto para adquirir o título e a missão de marqueteiro, o que não impede que ele exerça o mandarinato na República, que soma esforços para assegurar a reeleição. 

Do marqueteiro tudo é esperado. Duvide se quiser, mas o futuro do país pode estar nas mãos do original decifrador, criador e intérprete das intimidades da popularidade, essa é o xarope salvador dos problemas pendentes. Ainda bem que haja um mosqueteiro e um xarope, ou vice e versa, que é a mesma coisa.

Impedido de assistir à conferência de Roberto Saturnino acerca da ética, apraz-me declarar que, tendo com ele convivido frente a frente durante oito anos no Senado, posso testemunhar que ninguém possui melhores atributos para versar o tema. Sua atuação no Senado foi modelar.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

Ausência de pudor - Denis Lerrer Rosenfield

A prisão dos condenados do mensalão está, literalmente, virando um pastelão. Montou-se toda uma encenação como se os hoje condenados, devendo cumprir com suas respectivas penas, não tivessem tido direito à defesa e fossem vítimas de uma imaginária conspiração das "elites" ou da "mídia" eterno bode expiatório dos que almejam o controle total do poder.

Há dois tipos de questões envolvidas, uma de ordem, digamos, "humanitária" se quisermos ser benevolentes, e outra de ordem propriamente institucional, que diz respeito ao ataque que vem sofrendo o Supremo e, em particular, o seu presidente.

A primeira é visível no caso do ainda deputado José Genoíno, apresentado como uma "vítima" e, conforme as circunstâncias, como um lutador da liberdade no período mais "obscuro" do regime militar. Esta última consideração, aliás, não resiste a uma análise mais elementar dos fatos, pois a Guerrilha do Araguaia foi uma tentativa maoísta de estabelecer no país o totalitarismo comunista.

As suas avaliações médicas, feitas por duas juntas, uma composta por especialistas da UNB, a pedido do STF, e outra por médicos da Câmara dos Deputados, tiveram como resultado que seu estado não é de cardiopatia grave, merecendo, como qualquer pessoa em sua condição, cuidados especiais. Ao contrário do que chegou a anunciar o seu advogado, não estaria tendo um "infarto" Há um evidente superdimensionamento da doença com o intuito de criar um constrangimento político ao presidente Joaquim Barbosa.

Contudo, há algo bem mais grave aqui. O que o PT está reivindicado para José Genoino e para os seus outros presos (não se fala de outros "companheiros" como membros de outros partidos, banqueiros, empresários e publicitários) é um tratamento privilegiado, típico das elites. O discurso de Lula se caracteriza por ser contra as "elites" o seu comportamento e de seu partido, porém, é o de que a elite petista é diferente dos demais cidadãos.

A contradição é flagrante. O Partido dos Trabalhadores não está preocupado com os outros "trabalhadores" mormente negros, pardos e de baixa renda, que vicejam nas prisões brasileiras. Quantos destes não precisam de prisão domiciliar? Quantos deste não necessitam de tratamento médico adequado? Silêncio total!

A questão chegou ao paroxismo quando, nas visitas, os horários e os dias estipulados não foram minimamente observados, como se petistas presos não devessem seguir as mesmas regras de outros condenados. Mulheres, mães e irmãs comuns esperando em longas filas, desde a madrugada, reclamaram precisamente dos privilégios. O Ministério Público Federal do Distrito Federal chegou a exigir isonomia de tratamento. Ou seja, a tão proclamada ideia da igualdade não vale para as lideranças petistas, a nova elite.

A situação chega a ser hilária. Pessoas de altas responsabilidades governamentais e lideranças partidárias acabam de "descobrir" que as condições de prisão no Brasil são "sub-humanas" Ora, de súbito, tiveram uma crise de humanismo. Eis a grande descoberta após 13 anos de governo petista. O partido ficou muito mal na foto, revelando um indiscutível traço elitista.

A segunda concerne ao processo em curso de deslegitimação do presidente Joaquim Barbosa e, por extensão, do Poder Judiciário. Enquanto o julgamento do mensalão não era definitivo, contentavam-se as lideranças petistas em dizer que as decisões seriam respeitadas. No momento em que o partido foi contrariado, seus dirigentes não hesitam em enveredar para um caminho de instabilização institucional e de negação do estado de direito. Há, mesmo, ameaças de processos contra o ministro Joaquim Barbosa, exibindo um partido alheio ao respeito às instituições.

Aliás, o PT não se entende nem consigo mesmo. Segundo o seu estatuto, dirigentes partidários condenados em última instância deveriam ser expulsos do partido, não mais correspondendo às regras, de fundo moral, que deveriam reger a vida partidária. O que está acontecendo? Ninguém mais se refere aos estatutos, todos se comportando em solidariedade aos detentos, como se houvesse a figura única dos "criminosos do bem", os que emprestam seus serviços ao partido, empregando todo e qualquer meio.

Neste sentido, não deixa de ser curiosa a defesa do deputado José Genoino de que seria um homem sem patrimônio, que levaria uma vida modesta, não tendo se enriquecido com a política. A mensagem implícita consiste em absolver qualquer desvio de recursos públicos, pois feito em nome do "valor maior" do partido.

Logo, o desvio de recursos públicos, o caixa dois, a compra de parlamentares e a corrupção são atividades lícitas sempre e quando forem para o "bem" do PT. Padrões morais universais, referências republicanas e de bem comum, entre outras formas de vida política, são considerados como secundários e irrelevantes, pois acima de todas as instituições está o partido. A corrupção partidária seria, portanto, muito bem-vinda.

As retóricas dos "presos políticos" e do "regime de exceção" situam-se, precisamente, em um comportamento político de instabilização institucional. As chances de sucesso são praticamente inexistentes, além de a própria presidente Dilma Rousseff ter-se distanciado desses arroubos ideológicos.

O Brasil vive um dos seus mais sólidos momentos de estabilidade democrática, mostrando a vitalidade do país e a plena vigência da Constituição de 1988, rigorosamente respeitada. A prova adicional disto é o fato de o próprio PT governar o país por dois mandatos de Lula e um de Dilma, esta disputando a reeleição com chances de vitória. Falar de perseguição e exceção revela apenas falta absoluta de bom senso. A piada de salão de Delúbio pão tem graça na prisão.

A democracia não é um instrumento que esteja a serviço de um partido qualquer, por mais "virtuoso" que ele queira se representar. O "Bem" da República está situado acima do "bem próprio" partidário, uma lição elementar que, infelizmente, não foi ainda bem aprendida.

Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Fonte: O Globo

Sob o signo de Saturno - Renato Janine Ribeiro

Cobra-se tudo o que deixou de ser feito

Na mitologia antiga, Saturno é o astro das coisas pesadas, como o chumbo, e da melancolia. Na astrologia, exprime a frustração, a demora: quando alguém está sob o signo de Saturno, o sucesso não lhe sorri. O astro do sucesso é Júpiter, seu filho. Saturno comia seus rebentos; Júpiter escapou desse destino e depôs o pai. Truque simples de astrologia: localize Júpiter no seu mapa, você terá êxito (nos negócios, viagens, na casa...); procure Saturno, ele dirá onde tudo será difícil. Mesmo uma vitória final passará por batalhas perdidas.

O que tem isso a ver com a política brasileira? deve perguntar o leitor, até porque o autor destas linhas não é astrólogo. Tem a ver que ela me parece estar sob o signo de Saturno. Há um ano que nenhum partido faz uma goleada - o que seria um "outcome" jupiteriano. Quem parece estar por cima logo leva uma bordoada. Quem perde, volta ao jogo. Alguns exemplos:

Dilma Rousseff parecia ter a reeleição garantida, quando as manifestações de junho cortaram pela metade suas intenções de voto. Já Marina Silva, a grande beneficiária das ruas, parecia ir muito bem quando a Justiça negou registro ao seu partido. Eduardo Campos pareceu ganhar a sorte grande com a adesão de Marina, mas as pesquisas recentes de intenção de voto rebaixaram os dois, e muito.

Podemos multiplicar os exemplos. Colhi estes a esmo. O que chama a atenção na política deste ano é a tendência ao impasse, ao empate. Todos os atores estão insatisfeitos.

O PT corre o sério risco de esgotar seu cabedal político e não ter mais novidade a propor aos eleitores. Já não dispõe do carisma de Lula. Sua sucessora foi apresentada como ótima gestora e boa interlocutora do capital, mas não foi aprovada pelo empresariado.

O PSDB corre o sério risco de não chegar ao segundo turno daqui a um ano, e não se entende: uns acham que seu desempenho baixo se deve ao esgotamento de Serra, outros à falta de audácia de Aécio. O remédio que uma ala propõe é, no entender da outra, veneno. Cada lado vê, no outro, o desastre.

O PSB+Rede corre o sério risco de não decolar, deixando Eduardo com um "succès d'estime" junto aos empresários e Marina com o mesmo junto à parcela da opinião pública que se cansou dos tucanos, mas desconfia do PT. Sucesso de estima é um termo de teatro, indicando uma obra que empolgou os críticos - mas não o público.

Mesmo que o Partido dos Trabalhadores ganhe as eleições de 2014, ele ruma para um esgotamento, talvez mesmo uma estagnação. Faz tempo que o entusiasmo militante deu lugar ao poder, à administração, à gestão - e a qualidade desta última não agrada a todos. Considero bom o seu governo, mas por quanto tempo o PT disputará a hegemonia no país? Sua maior vantagem hoje está na fraqueza dos adversários.

O pior é que assim termina o ano do maior descontentamento público de nossa História. "The winter of our discontent", diríamos, lembrando o verso famoso de Shakespeare, só que um descontentamento que protestou, com muita alegria e, sobretudo, vida. Mas os partidos não souberam captar essa vibração. Somente Marina esteve bem perto das ruas. Ela foi quem melhor entendeu a sociabilidade presente nos que protestavam, o modo dos jovens agirem. Mas não desenvolveu o conteúdo das queixas e propostas deles. Ainda não mostrou se e como o bordão "sustentabilidade" resolveria o transporte público, a saúde e a educação. Já os dois partidões que há 20 anos disputam o poder no Brasil reagiram com planilhas de investimentos. Não disputaram a imaginação. Responderam, à poesia, de forma prosaica.

Será por acaso, então, que todos os problemas se acumularam, até chegarmos onde estamos? Vivemos um momento difícil para o gestor público honesto. Para dar saúde, educação, transporte e segurança públicos que sejam decentes, seria preciso aumentar sensivelmente os impostos. Mas quem aceitará pagar mais tributos, dado o histórico de ineficiência - ou de eficiência na má direção - do poder público em todas as esferas?

Como deveriam agir os políticos? A meu ver, é melhor demonstrarem humildade, esforço, perseverança ante os fracassos. É improvável que o clamor petista contra a prisão dos condenados ou o protesto tucano contra as acusações do trensalão venham a ter peso político decisivo. Eles só convencem os já convencidos. A maioria, o que quer são resultados concretos. União, Estados e municípios têm que melhorar muito os serviços públicos, sem aumentar a taxação. Nisso, estão atrasados.

Situação bem saturnina, pois o astro do tempo (Saturno, em grego, se chama Cronos) é especialmente severo com quem não fez a lição de casa na hora devida. Todos os partidos estão sendo cobrados. Os políticos podem gritar, mas o povo quer resultados tangíveis, como foi a inclusão social dos últimos anos. O pão e circo que satisfaziam a galera estão cedendo lugar à exigência de pão - e com muita manteiga.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Pesquisa, eco e economia - José Roberto de Toledo

Se o Ibope já havia sido azedo, o Datafolha foi amargo para Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Apagados como estão, abrem espaço para José Serra e Marina Silva permanecerem como sombras de suas respectivas candidaturas. Sem contar a encapada assombração de Joaquim Barbosa, que paira sobre ambos.

Não que os números tenham mudado muito de uma pesquisa para outra. Guardadas as diferenças intrínsecas de cada instituto, os dois contam mais ou menos a mesma história: Dilma Rousseff (PT) esboçando uma recuperação, enquanto os adversários não saem do lugar, ou até regridem uns passos. O problema é o significado que os aliados e potenciais financiadores extraem dos números.

Raramente as pesquisas influem diretamente no voto do eleitor. Mas elas pautam a campanha eleitoral, lubrificam ou emperram apoios e, mais importante, abrem e fecham cofres. Hoje não é um bom dia nem para Aécio nem para Eduardo pedirem contribuições.

No Brasil, têm-se o hábito de não comparar pesquisas de institutos diferentes - como se a marca do termômetro mudasse a temperatura que ele mede. Jabuticabas aparte, esse hábito duplica boas e más notícias, que são repetidas como se fossem novidade toda vez que uma nova pesquisa é divulga: da. Não importa se o fenômeno que ela mostra já havia sido mostrado.

Uma pesquisa acaba sendo o eco da anterior. O efeito - positivo ou negativo - que ela exerce sobre cada candidatura é dobrado. Se o candidato caíra no Ibope e - como era de se esperar - caiu no Datafolha, é como se ele caísse duas vezes. Pouco importa que sejam duas fotos de um mesmo tombo. Dói de novo. Isso aconteceu com Dilma em julho, e acontece agora com seus rivais.

O eco das pesquisas tende a se embaralhar à medida que a campanha esquenta e a frequência dos levantamentos encurta. Quanto mais perto da reta final, menos decisivo ele é. Mas, na fase de pré-campanha, esse efeito pode custar minutos de propaganda na TV se um partido decidir alugar seu tempo para o candidato em ascensão, preterindo o que caiu "Várias" vezes.

Todos podem reclamar, mas aceitam as regras. O preterido de hoje é o beneficiado de ontem. Só não adianta brigar com os números.

Efeito m A melhora de Dilma no Datafolha reflete um fenômeno sazonal. A série histórica de pesquisas do Ibope mostra que a satisfação com a vida do brasileiro sempre cresce no final do ano. Pode creditar-se ao verão, ao Papai Noel ou ao 13.0 salário, mas todo ano, em dezembro, o brasileiro fica mais satisfeito. Não raramente, isso ajuda o poderoso da vez.

Como em toda sazonalidade, o efeito positivo é transitório. Às vezes a popularidade do governante se afoga nas águas de março (e suas enchentes e desabamentos), às vezes aguenta até o outono. No caso de Dilma, a pequena melhora está associada ao crescimento por dois meses seguidos da confiança do consumidor. E a milésima prova de que é a economia que define a eleição.

Não que todo eleitor se paute pelo bolso. Só a maioria. O resto se divide entre petistas e antipetistas, que vão votar a favor ou contra a presidente, independentemente do que acontecer com sua capacidade individual de compra. Mas esses, ao mesmo tempo que se completam, se anulam. Por isso que quem decide a eleição não é o eleitor ideológico, mas o pragmático.

Não é à toa que a presidente vem gastando o verbo para economizar nos gastos. Tenta desarmar a tempestade econômica perfeita prevista por Delfim Netto para 2014. São os números das contas públicas, da inflação e da cotação do dólar que podem assombrar Dilma na eleição. Pesquisas ferem, a economia mata.

Muito além do mensalão. A economia é que criará ou não condições para Joaquim Barbosa desencapar-se no STF em abril para tentar a travessia da praça dos Três Poderes.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Desorientação geral – João Bosco Rabello

A mais recente manifestação formal do PT contra o desfecho judicial do mensalão, feita pelo seu presidente Rui Falcão, revela a determinação do partido de levar às últimas consequências apolítica de redução de danos eleitorais com o episódio.

Depois do Supremo Tribunal Federal, chegou a vez dos médicos, os manipuladores da hora, que ousaram divulgar um laudo técnico minimizando os diagnósticos tão convenientes quanto leigos sobre a saúde do deputado José Genoíno.

Se limitada a uma sincera preocupação com seu ex-dirigente, o PT investiria objetivamente em questionar a capacidade do sistema penitenciário de garantir ao ainda deputado o tratamento adequado à sua enfermidade e não em contestar um diagnóstico que afasta o risco de vida, também respaldado pela Câmara dos Deputados, ao negar o pedido de aposentadoria por invalidez de Genoíno.

Mas a questão continua sendo a de sustentar a tese da prisão política como resultado de uma conspiração das forças conservadoras contra o projeto popular do partido - e, para is so, preservar o mandato dos parlamentares da legenda - e só destes é de fundamental importância. Às favas os escrúpulos, que atropelam a escandalosa exclusão dos parlamentares dos demais partidos condenados no mesmo pacote.

A Câmara se deixa arrastar para um escândalo que pode ficar ainda maior, quando o tempo esvaziar o impacto das prisões, que é afigura do deputado-presidiário.

O adiamento da abertura do processo da cassação de Genoíno pela Câmara vai aproximá-lo mais ainda do auge da campanha, aumentando o desgaste para o PT e para a instituição, embora isso não pareça ter importância para um e outro. Se, por omissão, os demais partidos fizerem a vontade do PT, se sujeitarão aos mesmos prováveis danos eleitorais.

O foco no presidente do STF, Joaquim, Barbosa, aumenta-lhe a visibilidade de juiz que enfrentou a impunidade histórica, porque o desconforto com a blindagem dos poderosos tem muito mais apelo popular que o jogo do PT para seu público particular.

Não fosse o espelho em que a maioria dos parlamentares se vê na imagem do condenado de hoje, a racionalidade já teria determinado como saída para a preservação da independência do Legislativo, que ele próprio aprovasse regra tomado automática a perda do mandato do condenado em última instância.

Como prevê projeto do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), preterido em favor de outros tantos que acabaram por abrir o voto mesmo para vetos presidenciais, reduzindo ainda mais a autonomia dos parlamentares em relação ao Poder Executivo.

Agora, sim
Com o fim do voto secreto, o governo deve vetar o orçamento impositivo, aproveitando a exclusão de recursos para a saúde do texto pela Câmara.

Ele, de novo
Caberá a Eduardo Cunha (RJ), a relatoria da MP da tributação de lucros no exterior de filiais de multinacionais brasileiras. O Planalto já está angustiado.

Prazo seguro
O governo vai manter em pauta o projeto que muda o indexador das dívidas de estados e municípios, mas só voltará a ele em março,quando espera já ter escapado das agências de classificação de risco.

NO PORTAL
Blog. índices de Dilma em abril serão decisivos para consolidação de apoios

Fonte: O Estado de S. Paulo

Apesar do nosso ufanismo - Luiz Carlos Azedo

O Brasil tem tudo para dar muito certo, sabe-se disso. Os potenciais do nosso país, desde a carta de Pero Vaz Caminha, são cantados em prosa e verso. Não faltam obras de intelectuais brasileiros e até estrangeiros que apontam para o nosso futuro promissor, como nos clássicos de Affonso Celso, "Porque me ufano do meu país", escrito em 1900, e de Stefan Zweig, "Brasil, um país do futuro", de 1941, escrito em alemão e traduzido para o português. Sucessos absolutos à época em que foram lançadas, as duas obras alimentaram o ufanismo e o patriotismo de gerações e até hoje são estudadas.

O conde Affonso Celso escreveu para os filhos, após a queda da monarquia. É uma profissão de fé, na qual afirma: "No Brasil, com trabalho e honestidade, conquistam-se quaisquer posições. Encontra-se a mais larga acessibilidade a tudo, no meio de condições sociais únicas, sem distinção e divergência de classes, em perfeita comunicação e homogeneidade da população. A esperança constante de uma situação melhor anima a todos, e é esse o eficaz incentivo da indústria humana."

Austríaco-alemão, que fugiu do nazismo e se matou 15 meses após se encantar com o Brasil, Zweig escreveu em pleno Estado Novo. Por isso, acabou injustamente acusado de fazê-lo sob encomenda para Getúlio Vargas: "Alguém que acabou de fugir da absurda exaltação da Europa, saúda aqui a ausência completa de qualquer odiosidade na vida pública e particular, primeiramente como coisa inverossímil e depois como imenso benefício. A terrível tensão que há um decênio repuxa os nossos nervos, aqui desaparece, quase completamente; todos os antagonismos, mesmo os sociais, aqui, são muitíssimo menos acentuados e não têm uma seta envenenada. Aqui a política, com todas as perfídias, ainda não é o ponto cardeal da vida privada, não é o centro de todo o pens ar e sentir."

As duas obras apresentam incrível atualidade. Primeiro, refletem o discurso recorrente dos governantes brasileiros, mesmo naqueles momentos em que o país enfrenta dificuldades, diante das quais seus críticos são acusados de derrotistas e traidores da pátria. Foi assim, por exemplo, durante o regime militar, com a famosa campanha do "Ame-o ou deixe-o". Ainda é assim, nos dias de hoje, toda vez que o governo se vê criticado pela oposição por uma razão ou outra.

Temos boas razões para acreditar num futuro melhor. Bem ou mal, o Estado brasileiro hoje tem bases mais democráticas: os governos são eleitos pelo voto secreto, direto e universal; os legislativos funcionam com ampla liberdade; os partidos são livres; o Judiciário tem plena autonomia e independência para julgar. A economia brasileira é uma das cinco maiores do mundo. A nossa sociedade civil se destaca pela complexidade e diversidade. Mas a política, amarrada no fisiologismo e no patrimonialismo, na hora em que essas três esferas esperas públicas se relacionam, não diz a que veio. Prisioneira das elites, trava o desenvolvimento do país. A atividade produtiva não tem a escala necessária para superar nossas desigualdades sociais, que são sempre mascaradas.

Isso gera um mal-estar na sociedade brasileira difuso, que ainda não foi devidamente esclarecido. As manifestações de junho passado foram um reflexo disso. Os partidos e seus líderes não são capazes de traduzir da forma correta os anseios por mudanças que as pesquisas apontam. Tanto o governo como a oposição ensaiam seus discursos para isso, mas não empolgam a opinião pública. Enquanto isso, velhos preconceitos e iniquidades continuam vivíssimos. E nos assombram de repente, das formas mais inesperadas, ora num quebra-quebra de trens, hora num arrastão de crianças e adolescentes na praia. Ou como aqueles jovens pobres, negros e pardos que na tarde de sábado correram para dentro de um shopping de Vitória (ES), que é a quarta cidade do país em qualidade de vida, com medo da polícia. Assustaram lojistas e consumidores e aí mesmo é que foram presos, e obrigados a sentarem no chão e tirarem as camisas, de forma humilhante. Nada mais faziam do que se divertir num baile funk quando a polícia chegou para acabar com a festa.

Fonte: Correio Braziliense