O Globo
Nos primeiros meses de mandato, vários
documentos, gastos e ações de governo foram classificados com diferentes graus
de sigilo
A curta interinidade do “interventor-geral”
da União, Ricardo Cappelli, à frente do Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) termina com quase 90 servidores do órgão exonerados, num movimento
chamado internamente de “desbolsonarização” do GSI. Trata-se de uma necessidade
não apenas para esse órgão, mas para todo o governo e também para as práticas
da gestão pública.
Uma coisa é sanear os cargos que têm
hipersensibilidade institucional e política do aparelhamento ideológico que
Jair Bolsonaro conscientemente promoveu. Os postos militares, ou os civis que
foram dados sem critério a militares, estão no topo dessa lista.
Mas há certos desvios que Bolsonaro foi
instituindo no governo que não são necessariamente ruins para quem pega o
bastão da máquina pública, e é a tentação de mantê-los que deve ser evitada
pelo governo Lula e fiscalizada de perto pela sociedade e pela imprensa. Diz um
ditado muito famoso que “o uso do cachimbo entorta a boca”.
O uso elástico do sigilo é a mais notável desses cachimbos. Embora o discurso de que acabaria com os sigilos de cem anos que Bolsonaro decretou a torto e a direito tenha sido um dos mais frequentes de Lula na campanha eleitoral, nos primeiros meses de mandato vários documentos, gastos e ações de governo foram classificados com diferentes graus de sigilo sem que haja justificativa para isso.