*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do
Cárcere, v.3. p.36-8. Civilização Brasileira, 2007.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 29 de junho de 2023
Opinião do dia – Antonio Gramsci* (Análise das situações: relações de força.)
Elimar Pinheiro do Nascimento* - Fios do Tempo. Alain Touraine e o protagonismo feminino: uma homenagem
A configuração da nova sociedade ainda é imprecisa, mas para Touraine as mulheres são as atrizes principais das mudanças
Alain Touraine é um dos mais renomados sociólogos do mundo. Nos inícios de sua vida acadêmica lecionou na USP e estudou a América Latina, sobre a qual publicou alguns livros, com destaque para Palavra e Sangue (1988/1989).[1] Esteve sobretudo no Brasil e no Chile. É um dos criadores da expressão sociedade pós-industrial, presente em seu livro Société Postindustrielle (1969/1969). Trabalhou inicialmente nos campos da sociologia do trabalho e dos movimentos sociais. Em 1989, na sequência de suas reflexões sobre a contemporaneidade, iniciou um ciclo de publicações sobre as transformações da sociedade moderna-contemporânea, por meio de vários livros, entre os quais O que é a democracia (1994/1996); Crítica da modernidade (1989/1997);
Poderemos viver juntos? Iguais e diferentes (1997/1999); Um novo paradigma. Para compreender o mundo de
hoje (2005/2011); O mundo das mulheres (2006/2008).
A tese central de Touraine sobre as transformações da sociedade moderna-contemporânea encontra-se no livro Um Novo Paradigma. Segundo essa tese, no meu ponto de vista uma hipótese, a sociedade moderna-contemporânea teria conhecido três tipos de sociedade, cujos princípios organizadores (ou lógicas) são distintos entre si.
J. B. Pontes* - A intentona golpista e os kids preto
Recentes reportagens investigativas
publicadas pela Revista Piauí, aliadas aos dados que estão vindo ao
conhecimento público pelos inquéritos que estão em curso na Polícia Federal,
escancaram a participação de uma enorme parcela de militares, especialmente do
Exército, na intentona golpista que culminou no fatídico 8 de janeiro. Sem
dúvida, esse lastimável “evento disparador”, tão almejado e incentivado, jamais
teria ocorrido sem a omissão, complacência e apoio dos militares. E todos
sabiam que o objetivo desses criminosos era causar uma comoção social e
pressionar as Forças Armadas a promover a intervenção militar, agindo contra a
ordem constitucional e a democracia.
A reportagem da Revista Piauí afirma que a análise dos vídeos dos atos golpistas de 8 de janeiro demonstra ações próprias de pessoas que tiveram treinamento militar. As imagens demonstram ações coordenadas, com emprego de tática militar, de planejamento e de artefatos bélicos de uso exclusivo das FFAA. Quando chegaram à Praça dos Três Poderes, por exemplo, os golpistas dividiram-se em três grupos: um deles dirigiu-se para o Congresso, outro ao STF e um terceiro para o Palácio do Planalto, o que evidencia planejamento, uma vez que a tendência natural de uma multidão é caminhar unida, numa única direção.
Merval Pereira - Palavras vãs
O Globo
Militares que aderiram à ideia de golpe
tentam apagar as digitais e desfazer a cena do crime
É impressionante a irresponsabilidade com
que militares da ativa, de alta patente, aderiram à ideia do golpe para impedir
o presidente eleito, Lula, de tomar posse. Mais impressionante ainda é a
tentativa de desfazer a cena do crime, ressignificando o sentido das próprias
palavras, escritas com todas as letras em mensagens de WhatsApp.
O ex-presidente Bolsonaro, aliás, é a fonte
dessa atitude cínica utilizada por seus seguidores, pois nega até mesmo vídeos,
como se tivessem sido produzidos pela tecnologia deep fake. Uma das mensagens
entre o coronel Jean Lawand Júnior, que trabalhava no setor de projetos
estratégicos do Estado-Maior do Exército, e o tenente-coronel Mauro Cid,
ajudante de ordens do então presidente Bolsonaro, revela o estado de espírito
deste em relação às Forças Armadas.
O que, por si só, é demonstração de que em nenhum momento o Alto-Comando aderiu ao golpe que era tramado. O coronel Lawand apela por uma decisão de Bolsonaro por um golpe, e Cid afirma que o presidente não dará a ordem “porque não confia no Alto-Comando do Exército”. Ao que o coronel Lawand responde:
Míriam Leitão - Haddad entre o mercado e a política
O Globo
Ministro completa seis meses no cargo com
vitórias no Congresso, mais confiança da Faria Lima e muitos desafios pela
frente
O ministro Fernando Haddad disse que não anteciparia seu voto na reunião de hoje do Conselho Monetário Nacional. Mas deu indicações. Avisou que considera decidida a meta da inflação do ano que vem. Ela está em 3%. Criticou, como desatualizada, a forma de cálculo de hoje sobre o tempo do cumprimento da meta ao final de cada ano: “Quase a totalidade dos países saiu do ano calendário”. A alternativa é a meta contínua. Em longa entrevista que me concedeu ontem na GloboNews, Haddad criticou indiretamente o mercado, que “fetichiza” um determinado indicador, disse que o arcabouço deve ser aprovado e garantiu que a reforma tributária não vai aumentar os impostos para o setor de serviços e profissionais liberais. E explicou a boa relação com o Congresso.
William Waack - O esforço que falta para a direita
O Estado de S. Paulo
Falta de nomes não é o maior problema da direita pós-Bolsonaro
Inelegibilidade é só o começo das
atribulações de Jair Bolsonaro. Com ou sem um “mastermind” (que Jair supõe ser
o ministro Alexandre de Moraes), o Judiciário se move para destruí-lo como
pessoa física também – o “CNPJ” de pessoa política está sendo cancelado.
Não há sucessor designado e não há estrutura partidária ramificada do “bolsonarismo”, o que significa dizer que existem milhões ainda seduzidos pelo nome, mas não um movimento de massas que siga a direção apontada pelo “mito”. O que deve complicar a capacidade dele de “dirigir” correntes políticas sentado do lado de fora das linhas das disputas eleitorais.
Maria Hermínia Tavares* - As urgências do mundo
Folha de S. Paulo
Diplomacia presidencial parece começar a
dar rumo ao protagonismo além-fronteiras
Em Paris, na semana passada, o presidente
Lula discursou duas vezes. Para a multidão que participava do festival Power
Our Planet, ao ar livre, no Champ de Mars, escalou nos decibéis ao cobrar dos
países ricos uma paga pela devastação
ambiental que promoveram para se tornar o que são.
À parte um momento de miopia autoprovocada —faz tempo, afinal, que também as nações menos desenvolvidas ajudam a fomentar o desastre planetário—, não disse coisa nova: ecoou o princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas", consagrado já em 1992 na Unfcc (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) e desde então integrado à diplomacia brasileira. O texto obriga os países membros da convenção a defender o clima "com base na equidade e em conformidade com suas respectivas capacidades".
Luiz Carlos Azedo - Por que será que nossos jovens não querem ter tantos filhos?
Correio Braziliense
Os indicadores sociais
precisam ser confrontados com os resultados do Censo 2022, principalmente na
educação, na saúde, na habitação, nos transportes e na segurança pública
No Natal de 1989, a criminalidade nos
Estados Unidos atingiu um de seus índices mais elevados. Nos 15 anos
anteriores, havia aumentado 80%. A partir dos anos 1990, começou a cair
repentinamente, até atingir patamares equivalentes ao imediato pós-Segunda
Guerra Mundial. As explicações eram as mais diversas: estratégias inovadoras da
polícia, prisões mais seguras, mudanças no mercado de drogas, controle de
armas, mais polícia nas ruas e outras medidas associadas à segurança pública,
além do envelhecimento da população.
O economista Steven D. Levitt, da Universidade de Chicago, e o jornalista novaiorquino Stephen J Dubner analisaram todas essas hipóteses, inclusive aquela que atribui a queda da criminalidade ao envelhecimento da população, no livro Freakonomics, o lado oculto e inesperado que nos afeta (Editora Campus), para concluir que nada disso foi o fator determinante da queda da criminalidade. Embora os velhinhos fossem menos violentos que os norte-americanos mais jovens, chegaram à conclusão de que o fator determinante da redução da criminalidade fora a legalização do aborto, porque reduziu drasticamente a população de jovens em situação de risco.
Vinicius Torres Freire - O Censo e um país sem esperança
Folha de S. Paulo
IBGE mostra ritmo pequeno de aumento da
população; Brasil vai precisar de mais imigrantes
O Brasil passa por um período de
crescimento chinês. Quer dizer, o ritmo de aumento da população dos dois países
foi parecido na última dúzia de anos, na casa dos 6%. A China, como se
sabe, teve uma política muito dura de controle dos nascimentos. A população
brasileira estaria crescendo pouco? Pouco por qual critério?
Antes de prosseguir, relembre-se que a taxa
de crescimento calculada pelo Censo de 2022 causou
surpresa. A
população recenseada é de cerca de 203 milhões, 11 milhões menor do que aquela
de projeções ou estimativas da Pnad, do IBGE. Por essas contas a população
vinha crescendo a um ritmo anual na casa de 0,8% ao ano; pelo Censo, a pouco
mais de 0,5%.
A diferença causa um certo furdunço, ainda pouco informado, pois faltam detalhes do Censo para se pensar o que houve. Pode bem ser que a calibragem das pesquisas do IBGE estivesse meio torta por falta de uma contagem de população de meio de década, para o que não houve dinheiro.
Bruno Boghossian - Lula, Arthur e Elmar
Folha de S. Paulo
Sinal precoce de apoio a candidato do
presidente da Câmara pode criar problema para 2025
Lula decidiu
pular no barco de Arthur Lira três
meses antes da eleição para a presidência da Câmara. O petista fez as contas e
percebeu que estava longe do apoio necessário para emplacar um candidato
alinhado ao governo. Para evitar um choque prematuro com o centrão, fechou
apoio à reeleição do líder do grupo.
A mais de um ano e meio de uma nova eleição para o comando da Casa, o governo piscou mais uma vez. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, mandou para Lira o sinal de um acordo para apoiar o nome escolhido pelo presidente da Câmara para sucedê-lo em 2025. O favorito é Elmar Nascimento, líder da União Brasil.
Maria Cristina Fernandes - Seis meses depois, uma fórmula de governo
Valor Econômico
Cerco sobre Lira devolve a Lula a iniciativa
legislativa
Levou seis meses, mas o governo Luiz Inácio
Lula da Silva parece ter encontrado uma fórmula. Não é definitiva nem resolve
tudo, mas encara o enrosco legislativo, o maior que encontrou e sem o qual não
consegue destravar a economia.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-PL)
angariou plenos poderes à medida que sua gaveta se encheu de pedidos de
impeachment contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Tomou conta do Palácio e
passou a agir para consolidar, sob quaisquer governos, os poderes de seu grupo
político. Agora prova do próprio veneno.
A retomada legislativa do Executivo dá-se
pelos mesmos meios. O cerco da operação Hefesto sobre “Arthur” tem permitido a
Lula construir pontes com o Legislativo. O grande teste para a eficácia desta
fórmula será a aprovação do arcabouço fiscal mantendo de fora do teto de gastos
o Fundeb.
O orçamento permitirá que se respire acima
da linha d’água e que se pense em algo parecido com uma base na Câmara. E os
méritos nem podem ser atribuídos ao governo. São todos de Lira. Vazamentos?
Sempre haverá. Tanto de um lado quanto do outro. Além da Polícia Federal e do
Ministério Público, havia 14 advogados com acesso ao inquérito. O problema foi
outro.
Lira continuou a agir, ante um presidente que desafiou, como se estivesse perante aquele que era seu aliado/refém. Só isso pode explicar a existência, numa toca de gatunagens, de livros-caixa dos gastos mais comezinhos de “Arthur” datados de abril deste ano. Quatro meses depois da posse, “Arthur” continuava a entrar sem bater e deitar no sofá com os pés sujos sem se dar conta que o contrato de aluguel da casa passara para outro inquilino.
Assis Moreira - O século dos asiáticos?
Valor Econômico
Estados Unidos, com 4% da população
mundial, geram 25% da produção global, posição mantida desde 1980, observa “The
Economist”
Acompanhei recentemente a Beyond Expo
2023, uma das maiores exposições asiáticas de tecnologias de consumo, saúde e
sustentabilidade, na região administrativa especial de Macau, China. Durante o
evento, alguns membros da elite intelectual da Ásia manifestaram uma análise
comum sobre rumos que o mundo pode tomar.
Kishore Mahbubani, ex-diplomata de
Cingapura que foi presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas
(janeiro 2001-maio 2002) e é membro do Asia Research Institute, deu o tom, não
hesitando em listar “quatro certezas” futuras, em meio às turbulências atuais.
Para ele, a primeira certeza é que o século XXI será o século asiático, assim como o século XIX foi o século europeu, e o século XX foi o século americano. O século asiático será “um retorno à norma”, porque na maior parte do tempo as duas maiores economias do mundo sempre foram as da China e da Índia. “Os 200 anos de domínio ocidental na história mundial foram anormais”, insistiu.
Malu Gaspar - Lisboa é uma festa
O Globo
O último domingo marcou o aniversário do
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
mas o dia não lhe trouxe boas notícias. A revista piauí e a Folha de S.Paulo
publicaram que a Polícia
Federal havia encontrado no carro do motorista de seu ex-assessor
Luciano Cavalcante anotações de pagamentos de quase R$ 500 mil para um certo
“Arthur”.
Cavalcante é um dos alvos do inquérito que
apura o desvio de R$ 8 milhões na compra de kits de robótica para escolas
de Alagoas com
dinheiro do orçamento secreto.
Lira não se abalou. Naquela noite, ele e a namorada celebraram com amigos no Praia no Parque, um bar de Lisboa sediado no elegante Parque Eduardo VII. À mesa, além do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), e do vice-presidente do União Brasil, Antônio Rueda, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes era paparicado pelos comensais.
Adriana Fernandes - Qual é o peso de SP na reforma?
O Estado de S. Paulo
Posição de enfrentamento do governador Tarcísio impacta o cenário das negociações
Uma leitura rápida pelo histórico de
tentativas frustradas da reforma tributária em 35 anos é suficiente para
identificar o peso do governo de São Paulo para barrar seu avanço no Congresso.
O próprio vice-presidente Geraldo Alckmin,
hoje um ferrenho defensor da reforma tributária, já foi um entrave quando
governador do Estado.
O que sempre se disse ao longo desses anos
é que São Paulo, sozinho, representa “meia reforma”, pelo tamanho que o Estado
representa na arrecadação.
A posição de enfrentamento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a pontos basilares do modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) da reforma apadrinhada pelo governo Lula impacta o cenário das negociações.
Eugênio Bucci* - Inteligência artificial: isso deve nos assustar?
O Estado de S. Paulo
Sim, o incômodo com a técnica é antigo, bem antigo, mas a escala do que ela vem aprontando é absolutamente inédita
É razoável e sensato temer a inteligência
artificial? Em seus arranjos mais complexos, que conjugam centenas de bilhões
de parâmetros em frações de segundos, ela ameaça o lugar dos seres humanos em
governos, empresas, na ciência e na guerra?
Ou esse tipo de preocupação não passa de
paranoia infantil? Pensemos um pouco. Será que as máquinas ditas inteligentes
são apenas ferramentas anódinas, mais ou menos como as pontes sobre os rios, as
brocas de dentista, as colheres de pau, os gravadores de voz ou os estetoscópios?
Os computadores que falam sozinhos, escrevem, leem e até conversam com os
mortais em qualquer idioma não oferecem nenhum perigo? São inofensivos?
Até aqui, há opiniões para todo gosto. Uns são “apocalípticos”, para usar o adjetivo popularizado por Umberto Eco. Outros, mais do que “integrados”, desfilam esfuziantes e deslumbradérrimos com seus óculos de realidade ampliada. Estamos no meio de um imenso tecnoflaflu. A questão, no entanto, é mais séria que um embate entre torcidas.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Censo impõe desafio urgente ao Brasil
O Globo
Esgotamento do bônus demográfico não dá
alternativa além de investir em produtividade e eficiência
A divulgação pelo IBGE dos
primeiros resultados do Censo 2022,
depois de sucessivos atrasos, confirmou a expectativa de desaceleração no
crescimento populacional e surpreendeu pelo ímpeto da queda. Os dados revelam
uma população de 203.062.512, inferior aos 207.750.291 estimados numa prévia já
com os dados do Censo em dezembro. Nunca, desde que a pesquisa começou a ser
feita, em 1872, a população brasileira cresceu tão pouco — apenas 0,52% ao ano
nos últimos 12 anos.
O baixo crescimento populacional impõe vários desafios. O maior decorre do fim da imagem de um país essencialmente jovem, substituída pela de um país envelhecido, sem que o Brasil tenha aproveitado os benefícios do contingente mais jovem na força de trabalho, conhecido como “bônus demográfico”. Dados recentes a ser confirmados pelo Censo mostram que o envelhecimento dos brasileiros segue em ritmo acelerado. Em 2012, metade dos brasileiros (49,9% ) tinha menos de 30 anos. No ano passado, 43,3%. A fatia correspondente aos idosos (60 anos ou mais) foi de 11,3% a 15,1%.