sábado, 15 de março de 2014

Opinião do dia: Karl Marx


Por sua fundamentação, meu método dialético não só difere do hegeliano, mas é também a sua antítese direta. Para Hegel, o processo de pensamento, que ele, sob o nome de idéia, transforma num sujeito autônomo, é o demiurgo do real, real que constitui apenas a sua manifestação externa. Para mim, pelo contrário, o ideal não é nada mais que o material, transposto na cabeça do homem.

Karl Marx (1818-1883), O Capital – Posfácio da segunda edição, v. 1, p. 20. Abril Cultural, 1983.

Após ser vaiada, Dilma acusa críticos de nunca terem ‘ralado’

Presidente entrega casas em Tocantins e discursa contra os que ‘nasceram em berço esplêndido’

Carita Bezerra

ARAGUAÍNA (TO) — Concluída a reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff retomou nesta sexta-feira as viagens para inaugurações, mas não se livrou de mais aborrecimentos. Em companhia da senadora governista Kátia Abreu (PMDB-TO), ela foi a Araguaína entregar um conjunto habitacional de alto padrão do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). A presidente foi recebida por claques a favor e contra o Governo. E durante o discurso se irritou com as vaias de manifestantes que protestavam contra o programa Mais Médicos e contra a corrupção do PT . Houve protesto também de moradores de um outrou conjunto do programa do Minha Casa Minha Vida, inaugurado há dois anos, incoformados com a diferença de padrão de suas moradias com as casas da nova unidade, equipadas até com placas de energia solar. Em resposta aos manifestantes, Dilma, no discurso, disse que os que eram contra a moradia para pessoas de baixa renda tinham nascido em “berço de ouro” e nunca “ ralaram”.

- Aqueles que não dão importância às pessoas ter a casa própria é porque nasceram em berço esplêndido. Aqueles que não valorizam o cartão do Minha Vida Melhor é porque nunca tiveram de ralar, de trabalhar de sol a sol para comprar uma televisão, uma geladeira, uma cama ou um colchão - discursou Dilma.

Enquanto Dilma Rousseff discursava, um grupo de cerca de nove estudantes do curso de Medicina que protestava contra o Mais Médicos, gritava: “PT, corrupção”. As palavras da presidente também foram interrompidas inúmeras vezes por beneficiários de outro conjunto habitacional, do mesmo município, que exigiam direitos iguais com relação a infraestrutura das casas que estavam sendo entregues nesta nova etapa.

- Nós recebemos nossa casa há dois anos e elas já apresentam rachaduras - reclamou a dona de casa, Leidiane Souza, cobrando também a construção de postos de saúde, escolas e creches, algumas das benfeitorias existentes da nova etapa.

Foram entregues na solenidade 1.788 unidades do Minha Casa Minha, um investimento de R$ 89,4 milhões, que beneficiará mais de 7.000 pessoas. No discurso, a presidente disse que moradia não é presente do governo, mas um direito das pessoas custeado pelos impostos.

- Isso é sensação de cidadania, de que a pessoa conquistou por seus méritos. Ninguém deu, porque estas casas não foram presenteadas pelo governo. Sabe quem deu estas casas? Os tributos que o povo brasileiro arrecada todos os dias. Estar recebendo essas casas, portanto, é um ato de cidadania, é porque cada de vocês, cada uma das mulheres e dos homens aqui presentes são cidadãos de um país que reconhece o direito do povo brasileiro a ser o grande beneficiário do crescimento do país - afirmou.

A presidente disse ter muito orgulho do Minha Casa Minha Vida, porque é um programa que mostra "que o Brasil de hoje é bem diferente daquele Brasil do passado, em que a casa própria era privilégio de alguns, e hoje é direito de todos". Segundo ela, no seu governo foram entregues 1,580 milhão de unidades e 1,680 milhão estão contratadas. Para cumprir a meta, disse a presidente, faltam em torno de 500 mil casas, que serão contratadas até o fim do ano.

Esta foi a última inauguração em que Aguinaldo Ribeiro participou como ministro das Cidades. Na próxima segunda-feira, ele deixará o governo para concorrer nas eleições de outubro.

- Estou cumprindo a última missão no seu governo, presidente Dilma. Foi um momento importante, porque algumas pessoas passam pela vida e são marcadas pela vida. Outras passam pela vida, deixam marcas e marcam a vida das pessoas. A senhora é uma das pessoas que deixam marcas. A senhora entrou para a história como a presidente que mais fez casa, que mais fez saneamento e que se preocupou com os que mais precisam do governo - afirmou o ministro.

Dilma ignorou o discurso do governador do Tocantins, Siqueira Campos, que reclamou da falta de investimentos no setor elétrico. A cerimônia foi prejudicada pela chuva forte e teve que terminar antes do previsto, ficando tem o uso da palavra mais de cinco componentes da mesa, entre elas a secretária Nacional de habitação, Inês Magalhães.

Fonte: O Globo

Cabral diz que PMDB do Rio está com Dilma, mas presidente do partido no estado apoia Aécio

No Rio, peemedebistas dão sinais contraditórios ao Palácio do Planalto

Clarice Spitz, Cássio Bruno e Juliana Castro

ITATIAIA - Inconformado com a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo do Rio, o PMDB no estado passou a dar sinais contraditórios à presidente Dilma Rousseff. Nesta sexta-feira, um dia depois de se reunir com a presidente no Palácio da Alvorada, o governador Sérgio Cabral (PMDB) afirmou que o partido estará com Dilma na eleição de outubro. Por outro lado, o presidente estadual da sigla, Jorge Picciani, e outros parlamentares peemedebistas continuam pregando o rompimento da aliança nacional com o PT para apoiar o tucano Aécio Neves à Presidência.

A discordância pública é vista como uma tentativa de o PMDB se fortalecer mais para conseguir sepultar a campanha de Lindbergh. Cabral diz defender a reeleição de Dilma e, assim, diminui a tensão em torno da aliança. Mas não freia os aliados peemedebistas que pedem o apoio a Aécio, e, com isso, ainda fica com margem para negociar a retirada da candidatura de Lindbergh em favor do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Na reunião de quinta-feira no Alvorada, Cabral e Pezão falaram a Dilma que estão fora da turma do PMDB que anda pregando apoio a Aécio. Nesta sexta-feira, o governador tratou de expor publicamente essa posição, durante inauguração de uma fábrica de laminação de vergalhão de cobre, em Itatiaia, no Sul Fluminense. Ele estava ao lado do vice-presidente Michel Temer e de senadores do PMDB, como o presidente nacional do partido, Valdir Raupp.

— No PMDB do Rio não há dúvida, nós estamos juntos com Dilma e Michel (Temer, vice-presidente). Somos Dilma Rousseff em 2014, somos amigos da presidente Dilma, não há empecilho. Política é feita de idas e vindas, eu compreendo meus amigos do PMDB que ficaram chateados com a postura de companheiros do PT do Rio, mas nós temos que superar isso porque estamos aí há sete anos e três meses — disse Cabral.

O governador declarou que as conversas com a presidente quinta-feira, em Brasília, e nesta sexta-feira com Temer, no Rio, antes do evento, foram excelentes. Ele anunciou que Dilma deverá vir ao Rio em diversas ocasiões entre maio e junho. Neste período, Pezão deve ter assumido o governo do estado, já que a expectativa é que Cabral deixe o cargo no dia 3 de abril.

Ao ser indagado se Dilma virá ao palanque de Pezão, Cabral afirmou que só a presidente poderá dizer, mas listou as visitas que ela fará ao Rio: nas inaugurações da fábrica da Nissan, do BRT Transcarioca, da Linha 4 do metrô e do Arco Metropolitano. Candidatos nas eleições de outubro podem inaugurar obras até a primeira semana de julho, antes de a campanha começar.

— Como alguém vai romper uma aliança dessas? É completamente sem sentido. Ela é minha amiga pessoal. Sou amigo dela e estaremos juntos apesar dos erros políticos cometidos circunstancialmente — afirmou Cabral.

Ressentimentos em jogo
Ainda sem saber da declaração do governador em Itatiaia, o presidente do PMDB do Rio voltou a dizer que vai trabalhar para eleger Aécio.

— Minha posição como presidente do partido é a mesma (de apoiar o tucano) — disse Picciani. — O PMDB é um partido democrata. Eu e Cabral divergimos há 20 anos e convergimos há 20 anos.
Filho do presidente do PMDB fluminense, o deputado federal Leonardo Picciani arriscou que, se a convenção do partido fosse hoje, Dilma perderia de lavada. Para ele, a conversa da presidente com peemedebistas no Alvorada foi uma tentativa de conseguir de Pezão e Cabral um compromisso de estar no palanque dela:

— Não há racha. Nós respeitamos a posição do Pezão e do Cabral.

Secretário-geral do PMDB no Rio, Carlos Alberto Muniz declarou que não há possibilidade de o partido no estado apoiar Aécio. Segundo ele, se a sigla deixar a aliança nacional com o PT, estará fazendo o mesmo que os petistas fizeram aqui com o governo Cabral, o que os peemedebistas fluminenses tanto criticam.

— Não tem isso. É uma posição precipitada. Não vamos fazer isso — declarou Muniz, afirmando que Picciani vai entender isso e conduzirá o partido nesse processo.

No encontro com Cabral, Dilma teria dito que a pré-candidatura de Lindbergh era uma opção do ex-presidente Lula, não dela. Mas tanto Lula quanto Dilma querem neutralizar a família Picciani e o líder do PMDB, Eduardo Cunha. Picciani, por conta da defesa da candidatura de Aécio, e Cunha, por comandar as articulações contra o governo.

Em meio às declarações divergentes no PMDB do Rio, o presidente nacional do partido, senador Valdir Raupp, adotou um tom apaziguador.

— Tem que dar tempo. Existe o ressentimento em razão da eleição passada, por parte do presidente (Picciani), que não teve o apoio merecido (do PT) — afirmou. — Até as convenções, muita água vai rolar. Ainda é tempo de conciliação.

Os petistas reagiram às declarações da presidente Dilma. Para o presidente nacional do PT, Rui Falcão, a pré-candidatura de Lindbergh ao governo do Rio está consolidada:

— O Lindbergh é o candidato do PT. Isso foi homologado numa plenária com seis mil pessoas na quadra do Salgueiro.

Direito de candidatura própria
Coordenador da pré-campanha de Lindbergh, o deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) também reforçou o direito de o senador concorrer ao Guanabara:

— Antes de mais nada, a candidatura do Lindbergh é do PT. Foi aprovada pelo partido. O resto é conversa. O PT do Rio apoiou os dois mandatos do Cabral e os dois mandatos do Paes. Temos o direito de ter uma candidatura própria.

O presidente regional do PT, Washington Quaquá, por sua vez, afirmou que, no almoço com Cabral, Pezão e Paes, Dilma fez papel de pré-candidata:

— A presidente é candidata. Tem que agradar o interlocutor.

Ex-ministro da Pesca de Dilma, o deputado federal Luiz Sérgio (PT-RJ) rebateu a presidente:
— A candidatura do Lindbergh não é uma invenção da Dilma e nem do Lula. É um desejo do PT do Rio.

Procurado pelo GLOBO, Lindbergh não retornou as ligações.

Fonte: O Globo

Dilma reage a vaias em evento no TO e diz que manifestantes 'nunca ralaram'

Presidente se irritou com protestos durante entrega de moradias do Minha Casa Minha Vida no Estado de Tocantins

Leonêncio Nossa

ARAGUAÍNA - A presidente Dilma Rousseff se irritou nesta sexta-feira, 14, com um protesto em evento do Minha Casa Minha Vida, em Tocantins, e disse que os manifestantes "nasceram em berço esplêndido" e "nunca ralaram". O evento contava com um grupo de simpatizantes da presidente, que estava na parte da frente do palanque, e um ruidoso grupo de pessoas com cartazes contra a Copa do Mundo e reivindicando moradias.

Durante o discurso da presidente, os manifestantes misturavam vaias, apitos e ainda cantavam o hino nacional. Dilma acabou se irritando com o protesto e fez uma exaltada defesa de sua política social, em especial, o Minha Casa Minha Vida, programa que entregou nesta sexta 1.788 casas para famílias carentes de Araguaína (TO). "Aqueles que não dão importância para as pessoas que não têm casa própria é porque nasceram em berço esplêndido e aqueles que não valorizam o cartão do Minha Casa Melhor é porque nunca ralaram de sol a sol para comprar uma geladeira, um fogão e uma cama", disse Dilma, sob aplausos de políticos do Estado e parte dos moradores e sob vaias dos manifestantes.

A presidente fez um discurso em tom político, repetindo um velho bordão do governo Lula de que, no passado, as pessoas não podiam ter uma casa. Dilma ainda lembrou que o ex-presidente Lula levou um Campus da Universidade Federal de Tocantins para Araguaína.

Antes da presidente falar, o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, deu o tom da campanha do governo para promover a presidente. "Vossa Excelência faz história porque a senhora se preocupou com as pessoas que mais precisam e foi a presidente que mais fez casa e saneamento", disse o ministro, ignorando a prática habitual de lembrar o ex-presidente Lula.

Dilma, durante o evento, não respondeu ao governador do Tocantins, Siqueira Campos, que em seu discurso reclamou do elevado preço da energia no Estado e da falta de investimentos em usinas hidrelétricas e termelétricas.

O evento ocorreu debaixo de uma tenda e, por pouco, não foi cancelado em razão da intensa chuva que caiu à tarde no norte do Tocantins.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Governo ‘pendurou’ a conta, diz oposição

Para o líder do DEM na Câmara, o governo adiou o reajuste da conta de luz para 2015 por causa das eleições

Ricardo Della Coletta e Daiene Cardoso

BRASÍLIA - A oposição na Câmara dos Deputados reagiu às medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tentar reduzir o rombo das distribuidoras de energia elétrica com uma injeção adicional de R$ 12 bilhões no setor.

O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), criticou duramente o pacote e disse que, ao anunciar que os consumidores ajudarão a pagar as ações, via aumento de tarifa em 2015, o governo "pendura" o reajuste pensando nas eleições presidenciais deste ano, evitando o impacto impopular da medida na reeleição da presidente Dilma Rousseff.

"Esta é a primeira conta do desastre de gestão da presidente Dilma Rousseff que, além de ter quebrado o setor elétrico, passa para o povo a conta salgada de sua medida populista e eleitoreira", disse o deputado da oposição, em nota encaminhada à imprensa.

Para ele, ao bancar a redução nas tarifas de energia no início de 2013, a presidente Dilma Rousseff "interferiu no setor elétrico sem medir as consequências para proporcionar uma suposta queda na conta de luz".

A renovação antecipada de contratos com as geradoras e transmissoras de energia foi o que deu origem a boa parte dos problemas não resolvidos do setor elétrico, já que algumas empresas não aderiram ao pacote.

A estiagem e consequente necessidade de usar energia mais cara produzida por usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis completou o quadro.

Empréstimo. O governo também autorizou a Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE) a captar R$ 8 bilhões junto ao mercado financeiro para cobrir necessidades das distribuidoras para fazer pagamento a geradoras, totalizando um custo extra de R$ 12 bilhões, que será repartido com os consumidores. Os valores serão incluídos nas tarifas da conta de luz a partir de 2015, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Mendonça Filho também condenou o fato de o governo não ter informado o porcentual do aumento na tarifa e energia ou mesmo quando exatamente isso ocorrerá. "É inacreditável. O consumidor dependerá do resultado do novo leilão de energia e do volume de chuvas este ano. O brasileiro terá que apelar para São Pedro para tentar evitar ainda mais prejuízos. Um absurdo", finalizou.

Os tucanos na Câmara também atacaram o pacote. O líder da sigla na Casa, Antonio Imbassahy disse que, anunciar num primeiro momento a redução da tarifa, o governo Dilma Rousseff fez "marketing" e agora o cidadão paga a conta porque o governo "esconde a realidade".

Para Imbassahy, a medida é reflexo da desestruturação e da falta de planejamento do setor elétrico e da fuga de investidores. "Ela teria que ter humildade para assumir que fracassou e pedir para que o cidadão racionalize o consumo. Mas não, ela com essa postura arrogante, não reconhece a péssima gestão", disse o tucano.

À frente de uma rebelião da base aliada contra o Palácio do Planalto, o chamado blocão, o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ) fez um breve comentário sobre o pacote do governo. Para ele, o aumento da conta de luz é "ruim para o consumidor".

Fonte: O Estado de S. Paulo

PMDB da Câmara anuncia boicote à posse de novos ministros

Deputados arranjam desculpa e dizem que bancada não fez indicação

Cristiane Jungblut e Fernanda Krakovics

BRASÍLIA — Numa demonstração de que a crise política não acabou com a reforma ministerial, o PMDB da Câmara vai boicotar a posse dos novos ministros, marcada para a próxima segunda-feira.

O líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), foi direto: avisou que não comparecerá para reforçar a postura de indiferença diante dos nomes escolhidos, já que a bancada na Câmara decidiu não indicar nomes à presidente Dilma Rousseff, pelo menos oficialmente. Nem mesmo o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), vai prestigiar os ministros. Ele alegou compromissos políticos em Natal.

O líder Eduardo Cunha disse que só chegará a Brasília no final do dia de segunda-feira.

— Tenho compromisso, mas, mesmo que não tivesse, não iria à posse. Não tem porquê! O PMDB tomou a posição de não indicar nomes. Isso serve para mostrar nossa indiferença diante do processo (de escolha dos nomes) — disse Eduardo Cunha.

Ele não tinha conhecimento das declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, mas disse que “só o tempo dirá" se as tensões diminuirão ou não.

Já o presidente Henrique Alves disse, por meio de mensagem, que tem um encontro do partido Solidariedade na segunda-feira, no mesmo horário, e que soube apenas ontem que a data da posse tinha sido transferida para a próxima semana.

“Soube de manhã (de ontem) que mudaram para segunda-feira. Tenho evento aqui (Natal), com o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, na segunda, às 10h”, disse Henrique Alves, alegando que “não dava para mudar mais”.

Renan deu aval no Turismo
Na prática, o PMDB da Câmara quer deixar clara a posição de que não se sentiu responsável pela escolha do novo ministro da Agricultura, Neri Geller. Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deu seu aval para as mudanças no Turismo.

A presidente Dilma Rousseff agilizou a reforma ministerial e liberou cerca de R$ 400 milhões de emendas ao Orçamento da União, nos últimos dias, para tentar conter a crise na Câmara, que culminou com a criação de uma comissão externa para investigar denúncia de corrupção na Petrobras, além da convocação de ministros para dar explicações. A ofensiva, no entanto, não surtiu efeito.

— O governo vai pautar o marco civil da internet? Vai ter negociação (no marco civil) para atender nossos pleitos? O que queremos é melhor tratamento e mais conversa. Se houver isso, vai arrefecer (a rebelião). A insatisfação não é só do PMDB, é na base inteira — disse o deputado Lúcio Vieira Lima (BA).

O deputado Danilo Fortes (PMDB-CE) também não comparecerá na posse. Ele afirmou que a liberação de emendas e a nomeação dos ministros não mudou o quadro em nada:

— Eles liberaram restos a pagar de 2013. O governo está sacaneando o orçamento impositivo, criando dificuldades e embaraços para cumpri-lo. E esses ministros eu nem conheço. Eu milito no PMDB desde 1978 e é a primeira vez que não conheço ministros do partido.

Cargos e emendas do partido são mapeados pelo Planalto
O governo está mapeando a execução das emendas parlamentares e os cargos federais de cada deputado do PMDB. A ideia é ter claro o grau de infidelidade dos deputados para decidir como deve proceder caso a caso. Uma lista com a execução de emendas e recursos extras do Ministério do Turismo à qual O GLOBO teve acesso mostra, por exemplo, que dois dos mais radicais deputados do partido, Danilo Forte (CE) e Lucio Vieira Lima (BA), só foram menos aquinhoados com recursos no Turismo do que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros.

Entre 2011 e 2013, cada um conseguiu cerca de R$ 19 milhões em empenhos — que é quando o governo assegura os recursos para determinada obra e permite que a prefeitura dê início aos trabalhos. Vieira Lima, que faz parte da ala mais oposicionista da legenda e deve apoiar o tucano Aécio Neves à Presidência, reage com bom humor:

— Se for isso mesmo eu vou ficar feliz. Quando as emendas foram liberadas, eu achava que era porque o governo achava os projetos bons, não imaginava que fosse para me comprar. Eu só mandei de fato cerca de R$ 8 milhões de emendas, mas estão dizendo que tudo da Bahia é meu. Se for assim, tudo o que vai para São Paulo é do Michel Temer. Só acho uma pena o governador Jaques Wagner não estar me convidando para as inaugurações — ironiza Vieira Lima.

O deputado Danilo Forte, por sua vez, além da alta execução de emendas no Turismo, foi responsável pela indicação de Germano Rocha Fonteles na superintendência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no Ceará. Uma lista obtida pelo GLOBO mostra que ao menos 15 superintendentes estaduais da fundação foram indicados por parlamentares do partido:

— No mínimo um quarto das minhas emendas vai para o Turismo. O que eu lamento nisso é essa chantagem barata nos colocando numa situação constrangedora. Quando Fonteles entrou na Funasa ela estava nas páginas policiais e hoje é ela uma das instituições melhor administradas do Ceará.

Como aliados era natural que até indicássemos mais gente, porque os cargos não podem ficar ociosos. O tamanho do governo é esse aí: não responde aos problemas econômicos do país e fica preocupado com essas coisas miúdas. Essa exposição não vai calar ninguém, vai me fazer falar mais — afirmou Forte.

Fonte: O Globo

Eduardo Campos e Marina Silva se reúnem com militantes no Rio

Pré-candidato à Presidência, o governador do estado participa, ao lado de Marina, de um seminário regional no Rio de Janeiro

O governador e pré-candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) cumpre agenda neste sábado (15) no Rio de Janeiro. Ele e a ex-senadora Marina Silva, sua aliada, participam do 2º Seminário Regional Programático, que vai reunir lideranças e militantes dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo para discutir quais as demandas e sugestões da região Sudeste.

Todas as informações serão debatidas e acrescentadas nas diretrizes do Programa de Governo da aliança. Além dos dois socialistas, também estará presente no encontro o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire.

Segundo o PSB, serão realizados seminários nas cinco regiões do país. O primeiro deles aconteceu no dia 22 de fevereiro, em Porto Alegre (RS). No momento, foram discutidos assuntos pertinentes à Região Sul. O terceiro encontro está marcado para o dia 22 de março e acontecerá em Salvador (BA), abrangendo os temas da região Nordeste. Os seminários regionais estão sendo organizados pela Fundação João Mangabeira, do PSB.

Fonte: Estado de Minas

Eduardo Campos anuncia linhas do programa do PSB para programa eleitoral

Presidenciável usa redes sociais para divulgar parte do conteúdo de programa em cadeia de rádio e TV

Com suporte das redes socais (Facebook e Twitter), o governador de Pernambuco e presidenciável do PSB, Eduardo Campos, antecipou parte do conteúdo do programa partidário do PSB que irá ao ar no dia 27 deste mês, em cadeia de rádio e televisão. Mesmo sem acrescentar detalhes, o socialista deu a entender que a peça publicitária, com duração de 10 minutos, irá centrar fogo, mais uma vez, em críticas ao governo Dilma Rousseff (PT) e nas mudanças que os integrantes da aliança PSB/Rede/PPS defendem para o país.

“Estamos abordando tópicos, como a necessidade de uma renovação da política brasileira para aperfeiçoarmos a saúde, a educação, a segurança, melhorando a qualidade de vida dos brasileiros e crescendo com sustentabilidade”, postou. Campos destaca, ainda, que o programa vai apresentar “caminhos” para retomar o crescimento do país de uma forma “mais justa e humana”.

Ao destacar nas redes sociais temas como inovação na política e em sustentabilidade, Eduardo deixa transparecer que o conteúdo da peça partidária será fundamentado nas diretrizes do programa de governo da coligação PSB/Rede/PPS, lançado em fevereiro. A proposta foi construída com base em cinco eixos programáticos, que envolvem estado e democracia; economia para desenvolvimento sustentável; educação, cultura, inovação, políticas sociais; qualidade de vida; urbanismo; e pacto pela vida.

Em sua postagem no Facebook e no Twitter, Eduardo destaca que o programa está “ficando ótimo”, que ele e a ex-senadora Marina Silva (PSB), líder da Rede Sustentabilidade, gravaram juntos “um debate sobre o futuro do Brasil”. O socialista também convoca os internautas para assistirem e ajudarem na divulgação da exibição do programa, repassando a informação para os amigos.

Neste sábado, o governador participa, no Rio de Janeiro, do segundo seminário regional que vai discutir as diretrizes dos programa de governo da aliança socialista. A estratégia é promover um amplo debate com os correligionários e lideranças políticas de cada região do país, tendo no comando dos debates Eduardo Campos, Marina Silva e o presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire.

Além do debate político, nos encontros estão sendo colhidas sugestões para subsidiar o documento que servirá de base para a construção final do programa de governo. A primeira reunião ocorreu em Porto Alegre. A terceira será dia 22, em Salvador.

Fonte: Diário de Pernambuco

Marina quer definir candidaturas nos estados antes de ser anunciada como vice

Formalização de chapa com Eduardo Campos ainda depende de acordos entre Rede e PSB sobre candidatos

Maria Lima e Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA — Antes da formalização de sua candidatura a vice na chapa do presidenciável Eduardo Campos (PSB), a ex-ministra Marina Silva, da Rede Sutentabilidade, quer resolver pendências e divergências de seu grupo político com o PSB nas alianças regionais. O problema central do acordo ainda é a situação em São Paulo, onde a Rede não aceita o apoio ao governador Geraldo Alckmin nem a candidatura do presidente estadual do PSB, Márcio França, historicamente ligado aos tucanos. Só que nos últimos dias alguns movimentos no tabuleiro de montagem dos palanques estaduais tem causado surpresas no próprio comando da campanha . Em Santa Catarina, onde Campos tem conversas avançadas para ter o apoio do governador Raimundo Colombo (PSD), Marina se encantou com o herdeiro político da familia Bornhausen, o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, deputado Paulinho Bornhausen (PSB), e quer lançá-lo candidato ao governo.

E no Acre, onde tem uma aliança de vida inteira com a Frente Popular dos irmãos Jorge e Tião Viana, integrantes da Rede surpreenderam o PSB ao cogitarem agora romper a parceria no único estado onde o PSB se comprometeu a apoiar o PT. A alternativa dos marineiros seria uma candidatura do PV, apesar de o marido de Marina, Fábio Vaz, ainda ser secretário do governador Tião Viana, que busca a reeleição. Diante das várias dificuldades, que ainda se estendem pelo Rio Grande do Sul, Paraná e Pará, entre outros, dirigentes do PSB e da Rede já cogitam apoiar candidatos diferentes em muitos estados.

Paulinho Bornhausen já teve alguns encontros com Marina, o último em Porto Alegre. Apesar da família Bornhausen ter o carimbo da política tradicional, o que contraria o discurso de Marina, sua atuação em projetos estruturantes na área de saneamento básico e preservação ambiental tem chamado a atenção da ex-ministra verde. Por enquanto ele ri da situação e diz a interlocutores que está "de boa" com a candidata a vice na chapa de Campos. Mas ele e o pai, Jorge Bornhausen, tem uma ligação muito forte com Colombo.

- Se o Colombo quiser nos apoiar nós vamos com ele em Santa Catarina. O velho Bornhausen, que está conosco, tem muita influência sobre o governador. Mas Marina está com uma ótima relação com Paulinho Bornhausen e quer que ele seja candidato - informou o secretário geral do PSB, Carlos Siqueira.

Além de São Paulo, o PSB planejava se aliar com os tucanos em outros dois estados: Paraná e Minas Gerais. A Rede também resiste intensamente a compartilhar o apoio nesses locais, mas o PSB não abre mão. Com isso, no Paraná a tendência é que a Rede apoie uma candidatura do PV ou até mesmo o senador Roberto Requião, do PMDB, caso ele se candidate. Em Minas, terra do presidenciável tucano Aécio Neves, a Rede ainda não definiu seu caminho. Já em São Paulo, apesar da resistência dos marineiros ao nome do deputado Márcio França, a situação é muito delicada.

Presidente estadual do PSB, França é responsável pela eleição de mais de 20% da bancada federal do PSB e controla integralmente o diretório paulista da legenda. Como havia decidido abrir mão da candidatura a deputado, já que negociava o posto de vice na chapa do governador Geraldo Alckmin, França entregou suas bases eleitorais a outros nomes da chapa da Câmara e agora não abre mão de concorrer a governador. Eduardo Campos e Carlos Siqueira expuseram a situação de França para Marina, e apesar de ela não ter vetado, reagiu monossilábicamente.

- São Paulo é o mais complicado, porque não se vislumbra uma solução satisfatória. A candidatura do Márcio atende à letra mas não ao espírito do pedido da Rede (de que não houvesse aliança com os tucanos). É uma situação complexa de se administrar - explica um dirigente do grupo de Marina.

A Rede tem simpatia por outros nomes, como o do coordenador da Comissão da Verdade, Pedro Dallari, ou até de uma candidatura do PSOL. Só que Márcio já avisou que agora não tem mais volta, já que desestruturou sua campanha para a Câmara.

- Embora eu continue achando que é um erro, que estamos entregando de bandeja para o Aécio em São Paulo, continuo montando a chapa para o governo e a chance é zero de voltar atrás. Internamente o pessoal da Rede não é muito simpático a minha candidatura. Por simpatia apoiariam o PSOL. Agora a condicionante é o contrário: Marina tem que anunciar primeiro que é candidata a vice, para diluir a resistência dos 1200 delegados do PSB que ainda acham que o melhor seria a aliança com Geraldo - disse Márcio França.

Marina e Campos já gravaram o programa nacional que irá ao ar no dia 27. Nele, reforçam a parceria, mas de novo Marina não faz referência à vice, inclusive por proibição da legislação que coíbe campanha fora do prazo. Uma semana depois, no dia 4 de abril, um ato polítco marca a saída de Campos do governo de Pernambuco para começar a correr o país como pré-candidato. Isso tudo sem Marina se anunciar oficialmente como vice. Segundo integrantes da campanha do PSB, sempre que instada a se pronunciar sobre a data do anúncio, Marina mantém o suspense e diz: "Quando as coisas se resolverem".

Fonte: O Globo

Fernando Rodrigues:Hegemonia do PT

Depois da ditadura militar, o PMDB dominou a política no Brasil. Embalado no Plano Cruzado, emergiu da eleição de 1986 com a maioria dos governadores e grande vantagem na Câmara e no Senado. Passado esse momento artificial, nunca mais um partido teve, ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto e as presidências das duas Casas do Congresso.

O PSDB quase chegou lá com o Plano Real. Os tucanos elegeram 99 deputados em 1998. Mas, de lá para cá, foram ladeira abaixo. Hoje, na Câmara, ocupam meras 43 cadeiras.

O PT cresceu sem parar até 2002. O escândalo do mensalão representou um solavanco em 2006. A retomada se deu em 2010. A maior bancada da Câmara agora é a dos petistas, com 87 cadeiras --bem à frente do segundo colocado, o PMDB, que tem 75 representantes.

Ninguém dentro da Câmara, governista ou de oposição, duvida que o PT se preparou para voltar no ano que vem com uma bancada próxima a 100 deputados. Ou maior. Essa dianteira conduzirá um petista a presidir a Casa.

No Senado, o PMDB tem 20 cadeiras. O PT vem em seguida, com 13. Ocorre que sete peemedebistas precisam renovar seus mandatos em outubro, contra apenas três petistas. Não é um despautério imaginar o PT em 2015 com uma bancada de senadores quase igual ou até maior que a do PMDB --sobretudo se Dilma Rousseff for reeleita e alavancar as candidaturas de colegas pelo país.

Tudo considerado, o PT tem condições objetivas de ficar no ano que vem com a Presidência da República além das maiores bancadas individuais e os comandos da Câmara e do Senado. É essa eventual hegemonia que apavora a parte rebelada da base dilmista no Congresso. No momento, quando ainda não é majoritário, o PT trata aliados a pontapés. Os políticos ficam imaginando (e tremendo) ao pensar como será num cenário de poder institucional absoluto.

Fonte: Folha de S. Paulo

Luiz Carlos Azedo: Seis por (quase) meia-dúzia

A presidente Dilma Rousseff quis demitir todos os indicados pelos deputados da base que votaram contra o governo, mas acabou convencida de que isso provocaria uma crise de governabilidade

A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem seis novos ministros, encerrando a novela da reforma iniciada em dezembro passado. Do ponto de vista da imagem do governo, da gestão e do peso político, não chega a ser a troca de seis por meia dúzia: a maioria dos novos ministros é quase desconhecida da opinião pública e não brilha no Congresso. A reforma sequer dá uma cara nova para governo, é apenas uma tentativa de manter o controle sobre o Congresso. Como? Fortalece o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e preserva o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). E circunscreve a rebelião da base na Câmara à bancada do PMDB, que se recusou a indicar os novos ministros da Agricultura e do Turismo, enquanto acomoda os demais aliados.

Quem são os novos ministros de Dilma? Gilberto Occhi, atual vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal, no Ministério das Cidades; Neri Geller, atual secretário de Política Agrícola, na Agricultura; Miguel Rossetto, presidente da Petrobras Biocombustíveis, que volta ao Desenvolvimento Agrário; Vinicius Nobre Lages, gerente da assessoria internacional do Sebrae, no Turismo; Clélio Campolina, atual reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, na Ciência e Tecnologia; e Eduardo Lopes, suplente de senador (PRB-RJ), na Pesca.

Dilma escolheu nomes ligados aos partidos que já ocupavam os ministérios, mantendo Cidades com o PP; Desenvolvimento Agrário com o PT; Pesca com o PRB; e Agricultura e Turismo com o PMDB, mas sem o respaldo da bancada da Câmara. O líder do PMDB no Senado, Eunício de Oliveira (CE), que recusou o Ministério da Integração Nacional para ser candidato ao governo do Ceará, sai enfraquecido. O presidente da poderosa Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Vital do Rego (PMDB-PB), que recusou o Turismo, também. A mudança fortaleceu o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Fernando Pimentel — pré-candidato do PT ao governo de Minas Gerais —, que emplacou o novo ministro da Ciência e Tecnologia. A pasta era controlada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, desde que deixou a cadeira para ser ministro da Educação.

Do ponto de vista do enfrentamento com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), a reforma é um meio termo. Ao saber da rebelião na base aliada, a presidente Dilma Rousseff quis demitir todos os indicados pelos deputados da base que votaram contra o governo, mas acabou convencida de que isso provocaria uma crise de governabilidade ao saber da extensão da rebelião. Dilma resolveu, então, fazer a reforma sem indicações do PMDB e trabalhar para “sufocar” o líder da bancada da Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ). O resultado da operação começa a ser aferido na próxima semana, na votação do Marco Civil da Internet, que o governo não consegue aprovar.

Até a Copa
O fato é que os deputados da base e da oposição voltaram para os estados nesta semana de alma lavada, com nove ministros e um secretário executivo convocados para dar esclarecimentos nas próximas semanas. Até os deputados do PT, com raras exceções, comemoraram o estouro de boiada, porque já estão sendo procurados por ministros na berlinda, em busca de proteção. Com as eleições à porta do Congresso, a expectativa é que a presidente Dilma e seu dispositivo parlamentar terão que trabalhar muito até a Copa do Mundo para manter o Congresso afinado com o governo.

O que ocorre entre as bancadas do PT e do PMDB é mais sério do que supõem os que veem apenas chantagem e fisiologismo na disputa. É luta pelo poder no Congresso, no qual os petistas querem ampliar sua participação de forma significativa para fazer uma reforma política que lhes garanta um longo ciclo no comando do país. Para isso, o PT se dispõe a apoiar candidatos a governador que garantam uma vaga no Senado para legenda, em estados nos quais não têm candidatos competitivos; e avança para cima da bancada do PMDB na Câmara, nos estados de maior densidade eleitoral, que elegem bancadas de deputados numerosas. Essa ofensiva se estrutura a partir da ocupação de 17 ministérios e o controle das estatais e dos fundos de pensão, ao mesmo tempo que exerce controle sobre os ministros do PMDB e dos demais partidos por meio de seus respectivos secretários executivos, todos indicados pela presidente Dilma Rousseff e não pelos aliados, que estão sendo acuados eleitoralmente.

Fonte: Correio Braziliense

Rolf Kuntz*: O populismo e a lei da acumulação das burradas

Burrada gera burrada e tende a crescer em espiral, como os preços inflados, quando a besteira é realimentada pela mentira. No Brasil, essa combinação de erros levou à superinflação, nome inventado para marcar a tênue diferença entre a hiperinflação e o desastre brasileiro dos anos 80 e começo dos 90. 

Proscrito por algum tempo, o jogo está consagrado, novamente, na rotina brasiliense. O socorro de R$ 12 bilhões às elétricas, para atenuar os efeitos de uma política populista de tarifas, é o mais novo lance desse jogo. O Tesouro gastará R$ 4 bilhões além dos R$ 9 bilhões previstos no Orçamento e a Câmara de Comercialização de Energia, um ente privado, tentará obter no mercado um financiamento de R$ 8 bilhões, pagando juros, naturalmente. Os consumidores serão mais uma vez poupados, neste ano, e só depois de votar receberão a conta aumentada.

Mentira é uma boa palavra para designar a maquiagem das contas fiscais e a tentativa de reprimir - e falsificar, portanto - os índices de preços. No caso das contas públicas, também tem sido usada, com sucesso internacional, uma expressão mais suave: contabilidade criativa. A nomenclatura faz pouca diferença. O importante é reconhecer a realimentação e a multiplicação dos erros quando se tenta disfarçar os problemas, em vez de resolvê-los. O efeito circular é claríssimo na crise argentina. Também é indisfarçável na baderna econômica da Venezuela, marcada nas páginas da História, de forma indelével, pela escassez de papel higiênico. Haja páginas.

O exemplo argentino é um modelo para os governantes populistas, em geral muito interessados nos benefícios políticos e pouco preocupados com os custos efetivos para a economia. Para disfarçar a inflação o governo da Argentina tem falsificado os indicadores e tentado tabelar ou congelar os preços. Como o fracasso é inevitável, amplia a vigilância e tenta levar o controle até a origem dos produtos. Com isso, impõe perdas a agricultores e pecuaristas e cria um conflito entre a administração central e o setor mais eficiente da economia. De passagem, cria algum obstáculo à exportação de alimentos, para derrubar os preços internos, e compromete a receita cambial. Como o Executivo também usa os dólares da reserva para liquidar contas fiscais, a combinação das trapalhadas produz ao mesmo tempo inflação crescente, insegurança na produção e escassez de moeda para os pagamentos internacionais.

Para poupar reservas o governo impõe controles severos às compras de moeda estrangeira e aumenta o protecionismo. Também esse esquema tende ao fracasso, mas produz algum efeito quando um governo amigo se dispõe a aceitar o desaforo comercial. Neste caso, esse governo amigo tem como endereço principal o Palácio do Planalto, em Brasília. A tolerância é praticada em nome de uma solidariedade nunca retribuída e, de forma implícita, de uma liderança regional imaginária e sempre desmentida na prática.

A solidariedade tem um claro componente ideológico. O estilo dos Kirchners tem sido uma evidente inspiração para o governo brasileiro. Mas as condições no Brasil são um tanto diferentes e têm sido menos propícias, pelo menos até agora, a algumas iniciativas mais audaciosas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda funciona sem interferência do Executivo. O PT conseguiu, pelo menos durante algum tempo, impor sua marca ao velho e respeitável Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mas a ação foi desastrada e desmoralizante. Não se conhece, até hoje, nenhuma tentativa semelhante em relação ao IBGE.

Sem manipulação direta dos índices, a maquiagem da inflação ocorre diretamente nos preços, por meio, por exemplo, da redução das contas de eletricidade, da imposição de perdas à Petrobrás e do congelamento das tarifas de transporte urbano. Seria politicamente muito mais complicado tentar mexer nos indicadores produzidos pelo IBGE. Mas a interferência direta na fixação de preços dispensa o governo desse risco. Impõe, em contrapartida, uma porção de outros problemas.

O congelamento de tarifas de transporte público resultou em perdas para governos municipais e estaduais, incluídos os do PT. Recursos para investimentos e até para ações rotineiras tornaram-se mais escassos, mas o reajuste de tarifas é hoje politicamente mais difícil do que no ano passado.

O esperado socorro do governo federal - uma das apostas do prefeito Fernando Haddad - também está atrasado e é pouco provável, porque as contas do Tesouro Nacional estão em más condições. Se algum socorro aparecer, será uma surpresa, porque a meta fiscal anunciada no mês passado pelo ministro da Fazenda parece cada dia mais inacessível. O aumento das despesas para socorrer o setor elétrico é uma sangria a mais para o Orçamento federal.

Se a presidente insistir em poupar os consumidores, será preciso compensar os gastos adicionais do subsídio às contas de eletricidade. O ministro da Fazenda mencionou o possível aumento de impostos e a reabertura do Refis, o refinanciamento de dívidas tributárias. Mais uma vez o balanço fiscal dependerá de receitas especiais, como os pagamentos iniciais do Refis, os dividendos do BNDES e o pedágio pago pelas concessões de infraestrutura. Se as agências classificadoras aceitarem a jogada, talvez se possa evitar a redução da nota de crédito soberano.

Um pouco mais de seriedade na gestão das contas públicas e no combate à inflação pouparia ao governo muitas complicações e livraria o País de perdas injustificáveis. Combate sério à inflação inclui o uso mais eficiente do dinheiro público e a ação realmente autônoma do Banco Central. O Brasil nada ganhou com a redução voluntarista dos juros. A inflação subiu e foi preciso apertar de novo a política monetária. Também nada ganhou com a manipulação de preços e tarifas. Burradas só geram problemas e o esforço para disfarçá-los envolve novas burradas, como a solução improvisada para o problema das elétricas.

*Rolf Kuntz é jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Ricardo Noblat: Pobre Lindbergh

A presidente Dilma Rousseff atirou nas pretensões do senador Lindbergh Farias (PT) ao comentar que sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro é uma “invenção” de Lula. Ou seja: ela nada tem a ver com isso.

O comentário foi feito durante almoço no Palácio da Alvorada com o governador Sérgio Cabral (PMDB), o prefeito Eduardo Paes (PMDB) e o candidato dos dois à vaga de Cabral, o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Cabral retribuiu o favor. Disse a Dilma que ele e sua turma a apoiarão para que obtenha em outubro próximo o segundo mandato presidencial. Cabral voltou ao Rio feliz. Dilma ficou em Brasília feliz.

Quanto a Lindbergh, Lula e o PT... Como ficaram? Naturalmente, mal.

O comentário de Dilma deixa à vontade políticos da chamada base aliada dispostos a apoiarem Pezão. Constrange Lula, o inventor de uma candidatura desnecessária. E enfurece o PT, que não pode se declarar enfurecido.

Em breve, Dilma haverá de tomar uma posição: subirá no palanque de todos os candidatos que a apoiem? Ou não subirá em nenhum no caso dos Estados onde a base aliada tiver mais de um candidato a governador?

Fonte: Blog do Noblat

Merval Pereira: É a economia

Como é sabido, a situação da economia não apenas influencia o resultado das eleições como também a situação política interfere na economia, especialmente em anos eleitorais como o que vivemos. Já tivemos no mercado internacional o lulômetro, que o banco de investimentos americano Goldman Sachs criou na eleição de 2002 para medir a influência na cotação do dólar do risco de Lula vir a ser eleito presidente da República.

O modelo matemático previa que o dólar chegaria a 3 reais em outubro, e ele chegou a 4 diante da realidade de Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto. Depois de duas eleições em que reeleger Lula ou eleger Dilma não parecia perigoso para a economia do país, chegamos este ano a uma eleição diferente.

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, um dos mais contundentes críticos da política econômica do governo, já previu que a possibilidade de Dilma se reeleger no primeiro turno, como apontam as pesquisas até o momento, pode ter o mesmo efeito que a vitória de Lula em 2002, uma disparada do dólar, diante do que o mercado já sabe que Dilma é capaz de desfazer na economia.

Na contramão, a possibilidade de haver segundo turno, com boa chance de derrota do PT, pode fazer a Bolsa de Valores retomar o crescimento, depois de ter caído quase 40% dos anos Dilma.
Circula agora no mercado financeiro uma análise do Gerente da Área de Macroeconomia da LCA Consultores, Francisco Carlos Pessoa Faria Junior, que coloca na mesa não apenas a possibilidade de Dilma ser derrotada em outubro, como também joga suas fichas em que a disputa no segundo turno será com o governador de Pernambuco Eduardo Campos.

“Eu não compartilho da ideia de que a Presidente Dilma já está com a reeleição garantida. Pelo contrário: em minha opinião a atual incumbente não é nem a favorita á eleição presidencial”, começa o economista sua análise, baseado em três premissas: a situação socioeconômica não irá melhorar até o final do ano; haverá segundo turno; e ele será disputado entre Dilma e Campos, o que para ele parece ser uma vantagem para o pernambucano dissidente.

Lembrando que a presidente Dilma teve uma queda abrupta de popularidade após as manifestações de junho, só recuperando em parte seus índices positivos, Francisco Carlos Pessoa diz que esse fato “sugere que, curiosamente, as pesquisas de popularidade talvez carreguem um componente inercial, ou de retroalimentação, maior que costumamos supor. E também indica que as manifestações que sugiram não devem ser o único motivo por trás da queda de popularidade da presidente”.

Daqui até outubro as coisas não vão ficar melhores para Dilma, esta é a primeira premissa do analista. Mesmo que não haja racionamento de energia, e ele acredita que não haverá, “uma série de problemas deverá piorar não só a situação real da economia, mas também a sensação térmica”, diz ele.

Como há muito tempo não acontecia, a política econômica vai estar na berlinda, diz ele, e não faltarão alvos: inflação persistentemente alta, PIB persistentemente baixo, possibilidade de rebaixamento de nossa classificação de risco e deterioração das contas públicas e externas.

Aos problemas econômicos Francisco Carlos Pessoa junta a Copa do Mundo, que segundo ele transformou-se de trunfo em fardo para o governo brasileiro. Prevendo novas manifestações de rua, ele diz que tudo leva a crer que haverá segundo turno, para ele entre Dilma e Eduardo Campos, o candidato mais possível de ser caracterizado como “o novo” que Francisco Carlos Pessoa acha que está sendo procurado pelo eleitor esse ano.

Essa disputa no segundo turno, que ele considera sem favoritos, trará incertezas geradas pelas dúvidas. “É possível, até que haja uma nova rodada de considerável desvalorização da taxa de câmbio”, prevalecendo o viés heterodoxo que ele vê na construção da plataforma de Campos, com a adaptação necessária às exigências da Rede de sua provável vice Marina Silva.

Provavelmente, analisa Francisco Carlos Pessoa, será possível, “para os que tiverem bastante coragem”, ganhar algum dinheiro apostando em um dólar mais caro e em juros futuros mais altos. “A não ser que, diante do quadro pintado acima, o ex-presidente Lula resolva adiantar sua volta ao embate eleitoral”, adverte.

Nesse caso, o analista não afirma, mas é possível perceber que uma solução Lula, ao contrário de 2002, seria a preferida do mercado financeiro, na suposição de que o Lula que voltará é o “Paz e Amor” do primeiro governo, e não o que deu uma guinada à esquerda no segundo mandato que permitiu a ascensão de Dilma Rousseff ao Gabinete Civil e depois à Presidência da República.

Fonte: O Globo

Embate pode criar ‘anticabos eleitorais’, afirma pivô da crise

Líder do PMDB se diz 'injustiçado' e afirma que Dilma pode novamente ter de enfrentar discussão do aborto na campanha

Elizabeth Lopes

Pivô do tensionamento entre o Palácio do Planalto e a base aliada no Congresso, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), acredita que o tema do aborto volte a surgir na campanha presidencial. O peemedebista diz ter ajudado a então candidata Dilma Rousseff, em 2010, a enfrentar a resistência dos evangélicos à petista, tida como favorável à interrupção da gravidez indesejada.

Quatro anos depois, porém, Cunha afirma se sentir "injustiçado" e "demonizado" pela crise do governo com os parlamentares. "Temo que toda essa situação de embate esteja produzindo os 'anticabos' eleitorais, que não jogam a favor, mas contra."

Em 2010, Dilma divulgou uma carta com compromissos a favor da vida e contra o aborto...

Fui eu quem pediu para ela fazer essa carta.

Por que isso foi necessário?

Houve um evento reunindo várias lideranças e a Dilma também foi. Nesta reunião, a pedido do (hoje ministro) Gilberto Carvalho, levantei a questão de que não adiantava apenas fazer discurso, pois havia um descrédito grande junto às igrejas com a posição dela e seria necessário firmar um documento. Isso daria credibilidade. Foi aí que surgiu o documento.

O deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) acabou tido como mentor de Dilma no episódio.

Chalita fez a defesa na Igreja Católica, tinha glamour porque estava na televisão, mas no meio evangélico quem fez a defesa de Dilma fui eu. Por minha intervenção, ela assinou a carta (divulgada 15 dias antes do segundo turno, na qual a petista afirmava ser pessoalmente contra o aborto e se comprometia a não alterar a legislação sobre o assunto).

Como o sr. se sente neste embate com o governo?

Eu a ajudei na campanha e ajudei muito o seu governo. Como líder, fui para embates a favor de Dilma em votações, a ponto de, no coquetel de Natal que ela ofereceu no Alvorada, ela reconhecer e agradecer minha ajuda. Depois, sou agredido pelo presidente do PT (Rui Falcão), aí eu reajo e sou demonizado.

O que o transformou de aliado de peso do governo em alguém que deve ser isolado?

A pergunta que todos me fazem é a mesma. Não sei, talvez eles quisessem fazer uma contenda política e eu fui o escolhido.

O sr. se sentiu injustiçado?

Sim, mas estamos habituados a isso. Política é isso mesmo, uma série de injustiças. Mas tem que saber dar a volta por cima. Vou agir e reagir em função dos fatos.

O sr. acredita que a polêmica do aborto voltará neste ano?

Essa polêmica do aborto deverá estar presente e isso poderá ser explorado novamente nesta campanha. Dilma não descumpriu a palavra dela, pois não propôs o projeto (que permite a distribuição da pílula do dia seguinte pelo SUS para vítimas de estupro, sancionado em agosto pela presidente). Se ela se mantiver no compromisso, não tenho dificuldade em dizer que ela cumpriu seu compromisso. Contudo, ela poderia não ter sancionado este projeto. Ficou uma polêmica presente (com a sanção do texto na íntegra, sem as alterações defendidas pela bancada evangélica), e isso pode ser explorado nesta campanha. Não tenho dúvidas de que pode.

Mas o sr. pretende defendê-la novamente entre o eleitorado evangélico, se for preciso?

Eu sou um homem fiel ao meu partido, tenho a fidelidade como princípio. Mas é claro que empenho e dedicação vão muito em função da sua motivação pelo outro, com base nas causas que defende. Temo que toda essa situação de embate esteja produzindo os 'anticabos' eleitorais, que não jogam a favor, mas contra, numa campanha negativa.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma orienta Defesa a não comemorar os 50 anos do golpe militar

Chefes das Forças Armadas já orientaram a tropa a evitar comemorações no dia 31 de março, interna ou externamente; a preocupação é com os militares da reserva

Tânia Monteiro

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff sinalizou nesta sexta-feira, 14, que não quer celebrações dos militares da ativa por conta do aniversário de 50 anos do golpe de 31 de março. Dilma mobilizou o ministro da Defesa, Celso Amorim, que já conversou com os comandantes militares sobre o assunto.

Os chefes militares já haviam aproveitado as reuniões de seus Alto Comandos, que trataram também das promoções do final do mês, antes do Carnaval, para avisar aos comandados que evitassem qualquer tipo de polêmica sobre o assunto, para evitar choques com o Planalto. Os comandantes das forças já haviam repassado aos seus subordinados a ordem de não serem feitas comemorações fora dos quarteis e nem festejos internamente.

O tema, no entanto, não será deixado de lado pelas Forças Armadas. No Exército, por exemplo, o assunto será tratado por meio de palestra e divulgação de informações para a tropa apenas para que "as novas gerações" não se esqueçam do que chamam de "fato histórico", contextualizado à época da guerra fria.

O clima na ativa das Forças Armadas, até o momento, é de distensionamento. Não há movimentações para promover atos para exaltar a data, embora existam insatisfações em relação à condução dos trabalhos da Comissão da Verdade. Grande parte dos militares reconhece que houve avanços nos investimentos das Forças durante os governos Lula e Dilma.

Ainda há grande preocupação com o pessoal da reserva. Ainda não se sabe exatamente o que eles poderão promover para exaltar os 50 anos da "Redentora", expressão que usam para se referir ao 31 de março. Para evitar problemas com estes militares que já estão fora dos quartéis, mas que, quando querem, fazem barulho, os comandos das Forças Armadas fizeram contatos com os presidentes dos Clubes Militar (Exército), da Marinha e da Aeronáutica pedindo moderação nas manifestações. Vários grupos, no entanto, atuam de forma independente e não costumam atender pedidos dos comandantes.

Quem está no serviço ativo não pode se manifestar, por força do regulamento militar. Os da reserva não sofrem tantas restrições, mas também têm de seguir algumas regras e podem ser punidos inclusive com prisão por declarações que forem consideradas ofensivas à presidente da República.

Fonte: O Estado de S. Paulo

l964 - A queda da democracia

Depois da posse: a partir da esquerda, Moura Andrade, Mazzilli, Castello Branco, o vice José Maria Alkmin, Magalhães Pinto, os ministros Costa e Silva, da Guerra, e Correia de Mello, da Aeornáutica

Diego Viana (Valor Econômico)

SÃO PAULO - Foi um começo de ano marcado por radicalização, agitações e instabilidade, ainda enquanto não se haviam dissipado, no ambiente político conturbado, os efeitos dos conflitos e manifestações de meses antes. Comícios e passeatas atraíam multidões, a favor e contra o governo. Intensificavam-se as articulações para a disputa presidencial que se aproximava. Mas a disputa jamais teria lugar. Quando, em 13 de março de 1964, o Rio parou para um comício em que o presidente João Goulart discursaria, seria difícil imaginar que em semanas o país estaria mergulhado em uma ditadura que, ao longo de 21 anos, cassou políticos, perseguiu adversários, torturou, assassinou e censurou.

Passados 50 anos, o país mergulha fundo na memória do período ditatorial. As publicações sobre a época são abundantes e os debates, intensos e disseminados, num movimento amplificado de análise e interpretação das origens e fatos do tempo da ditadura.

Nos últimos anos, tornou-se comum, entre historiadores, a opção por denominar tanto o golpe de 1964 quanto o regime autoritário que se seguiu como de caráter civil-militar - não só militar. O objetivo é realçar a participação de forças políticas e o apoio de grandes grupos econômicos à conspiração contra Goulart. Para Jorge Ferreira, que em parceria com Angela de Castro Gomes escreveu "1964: O Golpe que Derrubou um Presidente, Pôs Fim ao Regime Democrático e Instituiu uma Ditadura no Brasil" (Civilização Brasileira), "o golpe foi militar, mas teve ampla participação da sociedade: empresários, meios de comunicação, políticos, setores médios. Se o golpe claramente foi uma operação militar, teve sucesso graças ao amplo apoio civil".

Os governadores de São Paulo, Adhemar de Barros; da Guanabara, Carlos Lacerda; e de Minas Gerais, Magalhães Pinto, colocaram suas polícias em ação. O presidente do Congresso Nacional, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República quando Goulart ainda estava em território brasileiro. O Supremo Tribunal Federal, diz Ferreira, omitiu-se. Meios de comunicação celebraram o golpe, como se viu em dois editoriais do jornal carioca "Correio da Manhã" nos últimos dias da democracia, intitulados "Basta!" e "Fora!" A classe média se manifestou: em São Paulo, a Marcha da Família com Deus, pela Liberdade tomou as ruas em 19 de março, com milhares de participantes execrando um suposto perigo comunista encarnado pelo governo de Goulart. A marcha marcada para o dia 2 de abril no Rio acabou ocorrendo depois do golpe, rebatizada Marcha da Vitória.

"Há revisões em curso sobre o período, que ora convergem, ora divergem", afirma o historiador Marcos Napolitano, da Universidade de São Paulo (USP), que publicou neste ano "1964: História do Regime Militar Brasileiro" (Contexto). "Se, por um lado, a ideia de ditadura civil-militar procura enfatizar o protagonismo civil no golpe e no regime, evitando o papel da 'sociedade vítima' do Estado, por outro, há uma tendência para reduzir a 'ditadura' aos anos de violência policial mais direta sobre a oposição política e a classe média."



"Acho muito importante deixar claro que o golpe de 1964 aconteceu, mas poderia não ter acontecido", afirma Ferreira. "Vários indivíduos e instituições fizeram escolhas que acreditavam ser controláveis e previsíveis, mas acabaram se revelando completamente incontroláveis." O historiador se reporta ao fato de que o período democrático vivido pelo Brasil entre 1946 e 1964 costuma ser analisado como próprio de um sistema instável e condenado de antemão ao fracasso. Mas essa avaliação decorre de uma visão em retrospecto, que analisa uma realidade pelo seu fim. Apesar de tentativas de golpe em 1951, 1955 e 1961, Ferreira considera que a democracia brasileira do período pós-Vargas tinha qualidades que ficaram esquecidas.

"Essa primeira experiência brasileira com democracia liberal representativa vinha se firmando a passos largos", afirma. Ferreira cita os pontos positivos. "Todo o calendário eleitoral foi cumprido. Todas as eleições foram realizadas. Todos os eleitos tomaram posse. Havia grande participação da população nas eleições e existiam partidos com identidade própria, com perfil político-ideológico definido. E mais: fidelização do eleitorado." Diferentemente do que ocorre hoje, havia fidelidade dos eleitores à linha ideológica dos partidos.

A historiadora Miriam Dolhnikoff e a socióloga Angela Alonso organizam um seminário, em parceria com o Sesc, que debate as origens e o legado do regime militar. Pesquisadoras do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), elas deitam o olhar sobre o golpe em perspectiva panorâmica, que examina desde o governo de Goulart, iniciado em 1961, até a atualidade, a redemocratização nos anos 1980 e a investigação de violações dos direitos humanos durante o regime autoritário, com a Comissão Nacional da Verdade - com destaque para o fato de que o impacto de um episódio traumático como um golpe de Estado e uma ditadura vai além da política, atingindo manifestações culturais, a produção intelectual e acadêmica e o cotidiano da população. Todos esses são temas de mesas de debate do evento, que começou em São Paulo nesta semana e se encerrará no dia 25, com depoimentos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do sociólogo Francisco de Oliveira e do filósofo José Artur Giannotti.

"O Cebrap [fundado em 1969] é fruto da ditadura: foi criado por professores universitários aposentados compulsoriamente", diz Miriam. A historiadora avalia que o governo militar provavelmente não impediu a criação do centro porque sua prioridade era afastar os professores dos estudantes, pois poderiam ser inspiradores de contestação e mobilização. "Mas um centro de pesquisa não parecia ser algo muito ameaçador", conclui. Ainda assim, a primeira sede do instituto de pesquisa, na rua Bahia, em São Paulo, foi alvo de um atentado a bomba praticado por desconhecidos.

Universidades sofreram com aposentadorias forçadas e demissões de professores, em duas ondas, conforme pesquisa do historiador Rodrigo Patto Sá Motta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A primeira foi em 1964, após a derrubada de Goulart. A segunda foi em 1969, em seguida à promulgação do Ato Institucional 5 (AI-5), em dezembro de 1968. Foram revogados dispositivos que garantiam a estabilidade dos servidores públicos e, com isso, "o governo se armou de um aparato jurídico que permitia demitir e aposentar qualquer professor que quisesse", diz Motta, que publicou o livro "As Universidades e o Regime Militar" (Zahar).

Mesmo naquele período repressivo, houve tentativas de resistir ou contornar as determinações do governo em diversas universidades, seja negociando para proteger professores que as reitorias consideravam indispensáveis por sua capacidade acadêmica, seja criando institutos fora das universidades, a exemplo do Cebrap. "Houve uma protelação, uma resistência passiva. Alguns atos punitivos acabaram não saindo e os órgãos de repressão ficaram frustrados, porque queriam um expurgo maior", afirma Motta. A escolha dos professores a serem expurgados estava a cargo de um órgão obscuro, a Comissão de Investigação Sumária do Ministério da Educação e Cultura (Cismec), encabeçada por Jorge Boaventura de Souza e Silva, que, na juventude, havia sido militante integralista.

Em seguida aos expurgos, todo o sistema universitário brasileiro foi reformulado, em parte, seguindo um acordo fechado entre o regime militar, através do então Ministério da Educação e Cultura (MEC), e o governo americano, através da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês). O sistema de pós-graduação brasileiro data desse período e o sistema de créditos também. O acordo MEC-Usaid, porém, não foi aplicado integralmente, por efeito da pressão da opinião pública. "Mesmo em uma ditadura, a opinião pública era capaz de forçar o governo a não renovar um acordo como esse", comenta Motta. Em 1979, com a Lei de Anistia, os professores expurgados puderam escolher se voltariam ao trabalho ou se contariam o período do expurgo para cálculo de aposentadoria. Motta calcula que cada opção foi escolhida por aproximadamente metade dos demitidos.

A memória da ditadura é cada vez mais presente no debate público brasileiro, sobretudo desde a instituição da Comissão da Verdade, em 2012, que colhe depoimentos de vítimas de tortura e familiares de desaparecidos políticos e deverá produzir um relatório final até 16 de dezembro. Comissões estaduais, municipais ou ligadas a universidades foram instaladas em seguida. Enquanto isso, ativistas em diversas cidades pressionam pela mudança de nomes de ruas e logradouros públicos que homenageiam personagens centrais do período autoritário.

Elementos do dia a dia político brasileiro são frequentemente associados a resquícios do período autoritário, como o poder de legislação nas mãos do Executivo (por meio de medidas provisórias) e a divisão das polícias estaduais entre civil e militar. Para Napolitano, "se existem fantasmas da ditadura, estão concentrados em alguns legados que não conseguimos superar, como na área de segurança pública, na qual impera uma visão militarizada de controle social do crime".

Argentina e Uruguai, que também passaram por períodos de ditadura, já haviam instalado seus órgãos de apuração e punido responsáveis por atrocidades patrocinadas pelo Estado quando o Brasil criou sua Comissão Nacional da Verdade, em 2011. Para Miriam, a instalação tardia da comissão brasileira resulta do processo de redemocratização do país, obtida graças a um acordo com os militares. "O simples fato de existir a comissão é da maior importância, porque é indispensável que o Estado reconheça os crimes que cometeu", afirma Angela Alonso.

Há também uma reavaliação da figura de João Goulart, que entrou para a história como um presidente vacilante e influenciável. Sua queda, como é mais comum ouvir, teria resultado da incapacidade de controlar a radicalização da esquerda, comandada por Leonel Brizola, então deputado federal, ou da vacilação em levar adiante tanto o projeto de reforma agrária quanto o plano trienal formulado pelo economista Celso Furtado e pelo ministro da Fazenda, San Tiago Dantas, que deveria estabilizar a economia e abrir caminho para reformas estruturais. Retratos mais nuançados mostram um Jango conciliador e inclinado a longas negociações, que, no fim, presidiu com dificuldades um país radicalizado e sucumbiu à intransigência de seus opositores.

Napolitano evoca uma frase de Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil de Jango, segundo a qual o presidente caiu mais por suas virtudes do que por seus defeitos. Entre essas virtudes estaria o esforço por mudar a pauta política brasileira, "questionando dois eixos fundamentais da nossa exclusão secular: as restrições à posse de terra e ao direito do voto". Jango teria sido um presidente que tentava reformar o capitalismo brasileiro, "um projeto muito ambicioso para seu perfil moderado e para a difícil conjuntura econômica e política", em plena Guerra Fria.

Para Ferreira, autor de uma biografia de Goulart publicada pela editora Civilização Brasileira, Jango cometeu dois grandes erros, que comprometeram seu governo. O primeiro foi o abandono do Plano Trienal, cuja primeira etapa incluía aumento de juros e cortes de subsídios. Na segunda etapa, o crescimento seria retomado com a reforma da posse fundiária. Goulart não resistiu às pressões dos sindicatos e dos empresários, afetados, respectivamente, pelo arrocho salarial e pelo aperto no crédito. O segundo erro ocorreu em 1963, quando os movimentos sindical e estudantil já tomavam as ruas e as forças da direita conspiravam. San Tiago Dantas percebeu os riscos da radicalização e propôs a formação de uma Frente Progressista, reunindo o PSD (Partido Social Democrático, centrista) e a ala moderada do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro, de esquerda), para dar apoio a Jango. Brizola formou a Frente Única de Esquerda, que incluía o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro). "Ao comparecer ao comício na Central do Brasil, Jango demonstrou que tinha fechado com Brizola. Ele sela publicamente essa aliança", diz Ferreira. "Essa foi a senha para as direitas partirem para o golpe."

Goulart poderia ter cumprido seu mandato, não fosse a precipitação de uma série de eventos, que contaram com a participação de lideranças intransigentes à esquerda e à direita, financiamento estrangeiro e escolhas equivocadas. Ele presidiu de fato a partir de janeiro de 1963. Em 1961, quando Jânio Quadros renunciou à Presidência, Goulart, que era vice-presidente e estava em visita oficial à China, pôde assumir com o apoio da Campanha da Legalidade, liderada por seu cunhado, Brizola, que governava o Rio Grande do Sul. Às pressas, o Congresso aprovou emenda constitucional que instituiu o regime parlamentarista, evitando o risco iminente de guerra civil. Em janeiro de 1963, um plebiscito para decidir se prosseguiria o parlamentarismo ou voltaria o presidencialismo terminou com 82% dos votos para a segunda opção.

Anunciado em dezembro de 1962, o Plano Trienal estaria no centro dos debates no Congresso nos meses seguintes. Jango desistiria de medidas de austeridade então propostas, com o que, se atendia a pressões de seus aliados à esquerda, sobretudo os sindicalistas, o fez perder o apoio de parte significativa das lideranças empresariais. Mesmo o governo de John Kennedy era simpático a Goulart, no início.

Uma revolta de sargentos, em setembro de 1963, impedidos pelo Judiciário de se candidatar a cargos legislativos (assim como suboficiais e cabos), colocou a cúpula militar em alerta. O impasse que envolvia os principais partidos da base governista, PTB e PSD, nos debates sobre a proposta de reforma agrária do governo era engrossado pela disputa de influência, na mesma discussão, por militares abaixo do oficialato, sindicalistas e estudantes. Com a aproximação das eleições de 1965, os possíveis candidatos a ocupar a cadeira presidencial - Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e Magalhães Pinto -tinham pouco interesse em fortalecer o presidente.

Na espiral de radicalização, destacava-se Carlos Lacerda, governador da Guanabara (Estado que abarcava o atual município do Rio de Janeiro), personagem de relevo entre os civis que se envolveram na trama anti-Goulart. Lacerda tinha ambições presidenciais, mas passou para a oposição quando o regime militar suspendeu as eleições. Em 1966, com Juscelino e Goulart, formou a chamada Frente Ampla, de oposição ao regime, extinta em abril de 1968 por portaria do ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva.

Na esquerda, Brizola, então deputado federal pela Guanabara, tentava capitalizar o prestígio adquirido à frente da Cadeia da Legalidade, movimento de resistência que, como governador do Rio Grande do Sul, organizara para garantir a posse de Jango em 1961 - com o qual contribuiu para que, afinal, se fizesse o plebiscito. Depois do golpe, tentou organizar a resistência armada no Sul, mas Jango preferiu evitar um provável derramamento de sangue. Brizola exilou-se no Uruguai, para onde Goulart já partira. Voltou ao Brasil em 1979, e elegeu-se duas vezes governador do Rio.

Após o Brasil recusar-se a participar de um ataque a Cuba, como queriam os Estados Unidos, durante a chamada crise dos mísseis, em 1962, Washington passou a financiar a oposição a Goulart, por meio de organizações como o Ibade (Instituto Brasileiro de Ação Democrática). Com a chegada de Lyndon Johnson ao poder, passou-se à pura incitação ao golpe, que culminou com o envio de uma força-tarefa naval para as proximidades de Santos, com a missão de garantir sustentação aos insurretos em caso de reação do governo. Mas o general Olímpio Mourão Filho pôs suas tropas em movimento na noite de 31 de março, de Minas para o Rio, antes do combinado com outros líderes da conspiração. Os navios americanos deram meia-volta. O golpe se consumava.



A história de quem perdeu

Almino: "O golpe fez parte da história do século XX, capítulo do entrechoque entre Estados Unidos e União Soviética. Sem considerar a Guerra Fria não se entende o golpe no Brasil"

Os comunistas não tinham como chegar ao poder. Por eleições, nem falar; por luta armada, nem falar; muito menos em aliança com Jango

Paulo Totti

SÃO PAULO - Em 10 de abril de 1964, o Brasil soube que Almino Monteiro Álvares Affonso era o inimigo público número 14 da República. Esta foi sua posição na lista de 102 brasileiros que tiveram direitos políticos suspensos por integrar, ou apoiar, segundo registros da época, o governo "comuno-petebo-sindicalista" deposto pelas Forças Armadas entre os dias 31 de março e 2 de abril. João Goulart foi o primeiro. Seguiam-no Jânio Quadros, Luiz Carlos Prestes, Miguel Arraes, Leonel Brizola. O sexto era Rubens Paiva. Celso Furtado, o décimo. Em 9 de abril, o golpismo vitorioso se considerou "autêntica revolução" e se investiu em poder constituinte, conforme o Ato Institucional assinado nesse dia pela junta militar.

O Ato ficou sem número porque os autores não pensaram na hipótese de uma sequência. Mas, em outubro de 1965, veio o AI-2. Depois, o AI-3, o feroz AI-5, até o AI-17, em 1969, além de 104 Atos Complementares, com anexas cassações de mais políticos eleitos, ministros do STF, militares dissidentes e de potenciais candidatos à Presidência, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek e até o ex-governador Carlos Lacerda, líder civil, nos primórdios, do que também se chamou "redentora".

Almino Affonso testemunhou em Brasília a agonia do regime constitucional. Em 44 horas, ruiu um governo que se considerava forte, confiado em apoio popular despido de organização para a resistência e em dispositivo militar que não agiu nem reagiu.

Aos 85 anos, Almino diz que o golpe foi mais que simples quartelada. "Fez parte da história do século XX, capítulo do entrechoque entre Estados Unidos e União Soviética. Sem considerar a Guerra Fria não se entende o golpe no Brasil." O ex-deputado amazonense, na época líder do PTB, partido de Jango, rejeita a versão de que o país foi salvo do comunismo iminente. "Os comunistas não tinham como chegar ao poder. Por eleições, nem falar; por luta armada, nem falar; muito menos em aliança com Jango. A que título um proprietário de terras faria aliança que levasse ao comunismo?"

Sobre o fato de Jango abandonar o poder sem luta, é incisivo: "Não se pode chamar de covarde a quem, tendo um canivete, não reage ao ataque de alguém armado com metralhadora".

- Houve traição, incompetência? O general Argemiro Assis Brasil, chefe da Casa Militar, dizia que armara invencível dispositivo militar para repelir tentativas golpistas.

- Não tenho condições de dizer se houve omissão traiçoeira. Mas houve, no mínimo, incompetência.

As reflexões de Almino estão no livro "1964: Na Visão do Ministro do Trabalho de João Goulart", a ser lançado em noite de autógrafos na Livraria Cultura, em São Paulo, no dia 31. Passados 50 anos, uma conversa com Almino é sempre uma revisita - com redescobertas - à história recente do país.

Bigodes e cabelos levemente grisalhos, glicemia sob controle, ainda vigoroso no vozeirão, no sorriso e na memória, indicou o Ristorante Santo Colomba para este "À Mesa com o Valor". É casa de comida italiana na região dos Jardins, decoração transplantada de antigo bar do Jockey Club do Rio, com a peculiaridade de não aceitar cartões de crédito ou débito. Almino e o proprietário-chefe-de-cozinha, José Alencar de Souza, mineiro de Montes Claros, são amigos de longa data. Encontram-se no corredor e ali mesmo, de pé, decidem que se servirá no jantar arroz com frutos do mar para três. A fotógrafa Ana Paula Paiva e o repórter assistem. Alencar sugere vinho branco. Almino discorda: "No Chile, virei 'tintero', só tomo vinho tinto". Chegam a feliz acordo. O arroz, perfeito no cozimento, e a textura suave do polvo, dos camarões, da lula, conviveriam em harmonia com o Carmenère.

Traçar o perfil de Almino requer recursos de "flashback", recuos e avanços. Líder estudantil, candidato a vereador em São Paulo, deputado federal pelo Amazonas, ministro do Trabalho no governo Goulart, cassado, exilado, secretário de Negócios Metropolitanos no governo de Franco Montoro em São Paulo, vice no de Orestes Quércia, candidato a governador, novamente deputado federal e candidato ao Senado. Vitórias e derrotas nas passagens por siglas como PSB, PST, PTB, MDB, PMDB, PSDB e PDT. Às quais se agregaria PT, se frutificasse o flerte com Luiz Inácio Lula da Silva, em 1979/80 - "diálogos com Lula, razão talvez para outro livro". Aposentado pelos três mandatos de deputado, vive em São Paulo. Sem partido e "inquieto com a falta de representatividade e respeitabilidade de todos os partidos".

"Fale do que viveu, viu e ouviu naqueles dias", pede o repórter.

31 de março. O líder do PTB chega à Câmara pela manhã e surpreende-se com tantos deputados nos corredores. "Não sabe? O general Olímpio Mourão Filho, comandante da guarnição de Juiz de Fora, desde as seis horas está em marcha para derrubar o Jango." Almino liga para o líder do PTB no Senado, Artur Virgílio, pai do hoje prefeito de Manaus. O senador também nada sabe e convida Almino a ir até seu apartamento. De lá, Virgílio telefona para o Palácio das Laranjeiras, no Rio. Almino ouve na extensão. Jango diz que é tudo boato e faz uma pausa. Ouve-se alguém entrar no gabinete. "General", diz Jango, "o que há de verdade sobre sublevação do Mourão?" Uma voz responde: "Nada, presidente, é um movimento de rotina, comum". O interlocutor era o general Assis Brasil. "Nada mais, general?". "Nada mais, presidente, é só isso". Jango ao senador: "Ouviste, Artur? É mais uma falsidade dessa oposição".

À tarde, a Câmara inteira está nos corredores. "Entro numa daquelas rodas e digo: 'De onde vocês tiram tanta fantasia?' E contei o que ouvi. O sobrinho do Juscelino, deputado Carlos Murilo, me tira da roda e diz: 'Se o que você disse é jogada do presidente para criar um clima de distensão, não sei se tem utilidade. Mas, se diz isso porque acredita, está perdido. Belo Horizonte está em pé de guerra. O governador Magalhães Pinto assumiu o comando civil do que chamam de revolução, o general Carlos Luiz Guedes, comandante da IV Infantaria Divisionária, sediada em BH, é o comandante militar. Como é que o presidente não sabe disso?"

O presidente não sabia. A conversa com Virgílio foi ao meio-dia e o presidente só soube oficialmente da sublevação às seis da tarde, quando o ministro da Justiça, Abelardo Jurema, interrompeu um despacho e entregou-lhe um bilhete. A essa altura, Mourão estava às portas do Rio. Ainda agora, Almino se exaspera: "Do meio-dia às seis da tarde! Como é que o Assis Brasil, questionado por Jango ao meio-dia, não tomou providências, não se informou? Ligasse a um compadre. 'Me conta aí, está havendo algo em Minas?'"

À noite, Jango recebe políticos, Juscelino entre eles, que aconselham recuos: "Rompa com os sindicatos", "demita ministro tal", "feche a UNE [presidida por José Serra]". Jango se negava. Na manhã do dia 1º, voa para Brasília, depois de saber que o general Amaury Kruel, comandante do II Exército, até então amigo, além de compadre, aderira à sedição. O general Armando Âncora, substituto do ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro, operado de câncer, alega não poder garantir a segurança do presidente no Rio.


Às duas da tarde, Jango chama a uma reunião na Granja do Torto o senador Artur Virgílio e os deputados Tancredo Neves, Doutel de Andrade, Temperani Pereira, Luiz Fernando Bocayuva Cunha e Almino. "Vi o presidente com fisionomia abatida, barba por fazer, terno amarfanhado. Telefona o general Ladário Pereira Teles, comandante do III Exército, e recomenda a ida imediata para Porto Alegre, onde imaginava poder resistir. Jango pede nossa opinião. Tancredo e sucessivamente os demais são a favor. Jango concordou, mas deixou claro que não queria dividir o país e repetiu o que já dissera: 'Não suporto a hipótese de derramar sangue do povo em nome do meu mandato'".

Conseguiram o avião mais moderno do país, o Convair 990 da Varig, conhecido como Coronado, 920 quilômetros por hora em voo cruzeiro. Com ele, Jango iria depressa para Porto Alegre. Era começo da noite, aeroporto cheio de aliados civis.

"Detalhe inquietante, o general Nicolau Fico, comandante militar de Brasília, chega de cara amarrada, mal cumprimenta o presidente e retira-se." Jango vai para o avião, aos poucos as pessoas deixam o aeroporto. "Ficamos, Tancredo, Bocayuva, grande pessoa, meu irmão, e eu. E o avião enorme ali, todo iluminado, não saía do lugar. Já eram dez horas, e nada. Soldados da Aeronáutica fecham o acesso ao pátio do aeroporto. Fiquei com dor no estômago. 'Tancredo, minha sensação é que vão prender o presidente aqui, na cara da gente'. Disse o Tancredo: 'Vamos lá falar com o presidente, tomar alguma providência'".

"Os soldados puseram baioneta na nossa cara. Aí, o Tancredo: 'Abaixem as armas, somos representantes do povo'. Um coronel nos deixa passar. Jango, com Assis Brasil atrás dele, já descia a escada do avião. Abraça-nos e diz: 'Pois é, houve uma pane. É o que dizem'. Levaram Jango para um Avro da FAB, turbo-hélice, um aviãozinho. E naquilo foi Jango para Porto Alegre".

À saída do aeroporto, Tancredo disse: "Há dez anos, participei da última reunião presidida pelo doutor Getúlio. Agora me pergunto se a história se repete e foi a última vez que abracei Jango como presidente".

"Ô, Tancredo, por que tanto pessimismo?", disse Almino.

"Vocês são jovens. Acreditam que o Rio Grande tem condições de resistir sozinho."

À meia-noite, vem o aviso de que o presidente do Senado, Auro Moura Andrade, convocava o Congresso para sessão extraordinária à uma da manhã. "Sentei na primeira fila, ao lado de Tancredo. Auro abre a sessão e lê uma carta do Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil, em que este informava ter o presidente viajado para o Rio Grande do Sul. Encontrava-se, portanto, em território nacional. Ato contínuo, Auro faz o discurso que todos conhecem, diz que o governo está acéfalo e pronuncia as frases célebres: 'Declaro vago o cargo de presidente da República... O presidente da Câmara dos Deputados, Rainieri Mazilli, assume a Presidência da República'".

"Tancredo se levanta e grita: "Canalha! Canalha!" E o deputado Rogê Ferreira, do PSB de São Paulo, porte atlético, empurra os seguranças, vai até Auro e cospe nele duas vezes. Desde então, chamo isso de cusparada cívica. Aconteceu entre uma e meia e duas da madrugada de 2 de abril. Esta é a data do golpe".

Jango chega a Porto Alegre às 3h15. Reúne-se com Ladário e constatam que também as guarnições do III Exército, no interior do Estado, em Santa Catarina e no Paraná, estavam com o golpe. O governador Ildo Meneghetti, golpista, fugira para Passo Fundo, mas controlava a Brigada Militar. Ladário ainda insiste: "Vamos lutar". Jango é o mais sensato, conclui que, ante a total desarticulação, ou inexistência, do "dispositivo", a luta seria suicida. Às 11h45 do dia 2, parte para o Uruguai.

- Onde entra a Guerra Fria nisso?

- A política externa não agradava aos americanos. O Brasil reatou relações com a União Soviética, foi contra a expulsão de Cuba da OEA. Na crise dos mísseis, Kennedy mandou uma carta que era verdadeira convocação para o Brasil acompanhar os Estados Unidos num ataque a Cuba. Lembro a data: 22 de outubro de 1962. Jango reuniu, no Palácio, Francisco Clementino de San Tiago Dantas, chanceler; Evandro Lins e Silva, procurador-geral da República; Antônio Balbino, ex-consultor geral da República; general Albino Silva, então chefe da Casa Militar, e este jovem. Jango mostra a carta e já traz sua opinião, com anotações à mão, uns garranchos. A opinião dele era o respeito ao princípio de não intervenção. San Tiago escreveu o texto da recusa. Em Genebra, numa conferência sobre desarmamento, o Brasil anuncia que é não alinhado, não se subordina a nenhum bloco militar. Tudo isso contrariava a estratégia dos Estados Unidos, que tinham a América Latina como território seu. Daí o apoio aos golpes em todo o continente. No caso do Brasil, está provado, tropas americanas desembarcariam em Pernambuco se houvesse resistência. Jango já sabia disso, avisado pelo ex-chanceler Afonso Arinos. Não precisaram intervir, pois o financiamento a entidades como Ibad e Ipes, a campanha massiva anti-Jango na imprensa, acabaram por convencer os militares de que o governo ia comunizar o país.

- Um ano depois, o Brasil invade a República Dominicana para derrubar o presidente Francisco Camaño, tido como castrista. Mas não foi só para alinhar o Brasil aos Estados Unidos que aconteceu o golpe.

- Claro que não. A crise social e econômica foi fator propiciatório. A inflação era galopante e havia greves. Em São Paulo houve uma greve de 700 mil trabalhadores, sem intervenção do Ministério do Trabalho. Imagine o que a Fiesp achou disso. As Ligas Camponesas assustavam os latifundiários com o radicalismo da reforma agrária "na lei ou na marra".

Fonte: Valor Econômico