sábado, 14 de junho de 2014

Opinião do dia: Dora Kramer

Impossibilitada de colher os louros de uma organização à altura das promessas feitas sete anos atrás pelo antecessor, Lula da Silva, Dilma opta por criminalizar o senso crítico da população em relação aos deveres do poder público e a consciência de que a realização da Copa do Mundo no Brasil não é uma dádiva merecedora de gratidão eterna.

Se alguém está misturando as estações - de propósito e convenientemente com sinal trocado - é a própria presidente, que vai à televisão dizer que há uma campanha contra a Copa que, na verdade, é uma campanha contra o governo. Só faltou dizer explicitamente, porque implicitamente deu a entender, que quem não vota nela não gosta do Brasil. Por esse raciocínio, sua queda nas pesquisas é grave crime de lesa-pátria.

Tudo fantasia, fruto de manipulação marqueteira. Na batata, como se dizia antigamente, agora todo mundo vai torcer. E, em outubro, votar como bem entender.

Dora Kramer, jornalista, no artigo “Mistura de estações”, O Estado de S. Paulo, 13 de junho de 2014.

Vaias a Dilma são reflexo da insatisfação com Copa, diz imprensa internacional

• Presidente evitou discursar na abertura do evento, mas isso não evitou a reação hostil dos torcedores

Carolina Lima – O Globo

SÃO PAULO — As vaias a presidente Dilma Rousseff e à Fifa durante o jogo de abertura da Copa do Mundo nesta quinta-feira entre Brasil e Croácia repercutiram nos jornais internacionais. A governante e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, evitaram discursar durante a estreia, depois que foram hostilizados na Copa das Confederações no ano passado. No entanto, a torcida não deixou de mostrar o descontentamento durante a partida em que o anfitrião derrotou o adversário por 3 a 1.

O “New York Times” destacou que a reação da torcida é um reflexo da ansiedade e insatisfação com a desaceleração econômica no país, os gastos com os estádios e denúncias de corrupção envolvendo a própria federação de futebol. O jornal também citou os protestos que ocorreram antes do jogo em várias cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, e a repressão policial.

As manifestações de ruas pelo país também foram destaque no “Washington Post”. Para o jornal americano, os protestos foram motivados pela irritação dos brasileiros com os custos da Copa — entre US$ 11 e US$ 14 bilhões — enquanto o país ainda têm muitas deficiências em áreas como habitação, educação e saúde. “A raiva era evidente no estádio, dirigida tanto à Fifa como ao governo brasileiro. Cerca de uma hora antes do apito inicial, os fãs no estádio gritavam o nome da presidente com um palavrão”, ressaltou a reportagem.

O espanhol “El País” afirmou que a presidente não discursou na abertura para não correr o risco de ser vaiada, como ocorreu na Copa dos Confederações no ano passado. No entanto, o jornal ressalta que mesmo com a manobra, ela não conseguiu evitar o grito contrário dos torcedores minutos antes do jogo começar.

O misto de vaias e cantos no primeiro dia do torneio é apontado pela “Bloomberg”, como o reflexo do “sentimento contraditório de muitos brasileiros sobre o Brasil sediar o evento que teve os preparativos marcados por atrasos e estouros de orçamento”. A agência inglesa relaciona as críticas da torcida com a queda de Dilma nas pesquisas de intenção de voto. A “Reuters” comentou que a presidente tem defendido a Copa já pensando na tentativa de reeleição no pleito presidencial deste ano.

O “La Nación” ressaltou que as reações hostis foram maneira que os torcedores encontraram para expressar a raiva com o governo brasileiro. O jornal argentino destacou que as as vaias não foram esquecidas pelos espectadores durante a partida e voltaram em alguns momentos do jogo, apesar da alegria presente no estádio. “A Copa do Mundo no Brasil começou e o futebol é percebido em cada esquina. Mas não se engane: ele também respira política”.

Depois de mandar o povo ir de ‘jumento’ aos estádios, Lula chama de ‘moleques’ os que xingaram Dilma

• Ex-presidente volta ao Piauí depois de três anos para lançar candidatura de petista ao governo do estado

Efrém Ribeiro – O Globo

TERESINA — O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva chamou de “moleques” os responsáveis pelos xingamentos à presidente Dilma Rousseff, ocorrido nesta quinta-feira durante a abertura dos jogos da Copa, em São Paulo. A afirmação foi feita por Lula durante discurso proferido na palestra no auditório do Teresina Hall, no lançamento da pré-candidatura do ex-prefeito teresinense Elmano Férrer (PTB) ao senado, e o lançamento da pré-candidatura do senador Wellington Dias (PT) ao governo do Piauí e da deputada estadual Margarete Coelho (PP) como sua vice.

— Os responsáveis por aqueles xingamentos contra uma mulher e uma presidente são moleques. Fiquei pensando em casa que não é dinheiro, nem escola, nem qualquer tipo de título que garante educação. A educação se aprende dentro de casa com o pai e com a mãe. Mesmo quando eu fazia oposição, nunca tive coragem de faltar com respeito a um presidente da República — disse o ex-presidente.

Lula declarou que assistiu ao jogo em casa, em São Paulo, reforçando que normalmente quem vai ao estádio durante a abertura do Mundial é o chefe de Estado, o que ele não é mais.

De volta ao Piauí depois de três anos, o ex-presidente lembrou que este era o período mais longo sem vir ao estado, e frisou que o país não pode mais retroceder e que a elite não aceita pobre:

— A elite não aceita um pobre chegar à Presidência. Mesmo assim, garanto que virei ao estado fazer campanha para o Wellington Dias. O que está em jogo aqui não é só eleição, mas o tipo de projeto que se quer para o país — defendeu.

'Imprensa fomentou xingamentos a Dilma', diz Lula

Ricardo Della Coletta e Angela Lacerda - Agência Estado

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, dia 13, durante encontro político do PT, que a imprensa fomentou os xingamentos feitos à presidente Dilma na abertura da Copa do Mundo, nesta quinta-feira (12). "Parte da imprensa incentivou o tempo inteiro essa reação da sociedade", afirmou Lula, sob aplausos de uma plateia de 2,5 mil pessoas, ao lado da presidente Dilma e dos pré-candidatos da chapa majoritária ao governo de Pernambuco - o senador Armando Monteiro Neto (PTB e o deputado federal João Paulo (PT).

Lula usou o evento para fazer "um desagravo" pela ofensa recebida pela presidente, o que considerou "um ato de cretinice". Para Lula, faltaram respeito e educação aos que gritaram palavrões (o coro dizia para Dilma tomar no c..) e lembrou que eles vieram da "parte bonita da sociedade". "Os que diziam que o Brasil ia passar vergonha na Copa deram o maior vexame", disse. "Respeito, educação, a gente aprende na casa da gente", observou. "Duvido que trabalhadores tivessem coragem de falar 1%" do que foi falado". "Nossa vitória será a nossa vingança", disse ele, depois de falar do seu temor de uma campanha eleitoral que corre o risco de ser "violenta". "A elite brasileira está conseguindo fazer o que nunca conseguimos: despertar o ódio de classes".

Ele destacou aos militantes que "se ofender a Dilma, estará ofendendo a cada um de nós". Não é uma briga dele, é uma briga de projeto", afirmou, referindo-se a um projeto de busca de igualdade e ascensão social. "Dilma é apenas a nossa porta-voz, que estará à frente da campanha". Ao falar sobre os avanços dos governos do PT, Lula disse ter dado o pontapé inicial para o Nordeste "deixar de ser tratado como a latrina desse País". A presidente recebeu flores e disse que Lula lhe aconselhou a não levar desaforo pra casa. Dilma também afirmou que a campanha será dura, mas que ela estará nas "boas mãos" da militância petista.

Vaia a presidente era esperada, diz Gilberto Carvalho

• Ministro da Secretaria-Geral da Presidência lembrou de outros políticos hostilizados em estádios, mas se disse surpreendido com um ‘certo rancor’ a Dilma

Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou na noite desta sexta-feira em entrevista à “Globonews” que o governo não se surpreendeu com a vaia, tida como esperada. Segundo Carvalho, motivo de espanto foi o “rancor” dos cidadãos que assistiam ao jogo. Para o ministro, desde as manifestações de junho do ano passado, há uma “pregação ideológica” raivosa, que busca dividir o país.

- Nelson Rodrigues já dizia que em estádio de futebol se vaiava até minuto de silêncio. Sabemos que vaia em estádio é normal. Lula foi vaiado no Pan, Aécio Neves foi vaiado em Minas no jogo Brasil e Argentina. É muito comum essa história de político ser vaiado. Já estava precificado que ela seria vaiada, nós não estranhamos. O que estranhamos um tanto foi a persistência e um certo rancor que se manifestou em alguns momentos durante o jogo. Há na sociedade brasileira um clima muito complexo nesse sentido, de desrespeito, que vai muito além do debate político, da divergência, que nos preocupa a todos, não apenas quem está no governo e a presidenta, e temos de cuidar desse processo – disse.

Para Carvalho, a vaia não foi dirigida a Dilma, mas sim à presidente do país, e seria feita a qualquer um que estivesse no cargo.

- Há, a partir de junho, uma contestação de qualquer padrão de autoridade, que tem de um lado um aspecto positivo, que é uma insurgência contra injustiças, um reclamo muito mais efetivo por serviços públicos de qualidade. Mas junto com isso há uma carga de uma certa pregação, que eu acho ideológica, de raiva, de demarcação de posições que levam a um processo que me preocupa muito, de uma espécie de divisão do país.

Líderes do PSDB e do DEM consideram que houve exagero nos xingamentos à presidente Dilma Rousseff, durante o jogo de abertura da Copa do Mundo, mas avaliam que a irritação dos torcedores é o sinal da desaprovação do governo petista. Para a oposição, há uma insatisfação com a condução do governo, já evidenciada pela queda nas pesquisas de opinião.

O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, esteve no estádio na quinta-feira e disse que as vaias surgiram assim que a imagem da presidente Dilma apareceu no telão. Para ele, houve exagero nas palavras utilizadas para hostilizar a presidente, mas ressaltou que o mais surpreendente foi a reação do público por apenas alguns segundos de exibição da imagem da presidente.

- Já se diz que em campos de futebol se vaia até minuto de silêncio. Mas os xingamentos são inaceitáveis. 

Os xingamentos foram constrangedores. Mas bastou a simples imagem da presidente, numa fração de segundo, para que o estádio passasse da euforia para uma vaia estrepitosa. Isso mostra o grau de irritação que os brasileiros estão com o governo do PT. É um sinal de que a desaprovação ao governo já atingiu o nível da irritação - disse Aloysio Nunes Ferreira.

Na mesma linha, o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), disse que o tom foi inadequado, mas que há ima insatisfação em especial da classe média - que era a maioria no estádio - com os rumos do governo petista. Para ele, a classe média é sempre hostilizada nos discursos de petistas e encontrou uma forma de reagir.

- A vaia é um princípio democrático, mas não vou comemorar o vocabulário usado. Não é aceitável. Mas há um sentimento de revolta muito grande da população. A classe média se sente atingida porque trabalha, é quem mais paga imposto e leva tapa na cara com o superfaturamento dos estádios, os serviços públicos de má qualidade. O problema é que o PT costuma dividir o país entre o bem e o mal e fazem da classe média um Satanás - disse Mendonça Filho.

PT diz que xingamentos foram baixaria
O presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão, classificou nesta sexta-feira de "baixaria" os xingamentos e vaias proferidas pelos torcedores brasileiros contra a presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa, no Itaquerão. Para ele, as vaias partiram "sintomaticamente" dos setores das numeradas, onde os ingressos são mais caros, não expressando o comportamento da grande maioria do brasileiro, que é bem educado e cordial.

— Os xingamentos começaram nas numeradas quando pediram para que os torcedores aplaudissem os operários que morreram nas obras dos estádios. Sintomaticamente as vaias começaram nas numeradas, cujos ingressos são mais caros e partindo de gente mal educada, que não expressa o comportamento da grande maioria do povo brasileiro, que é educado. A presidenta não estava no estádio como candidata, mas como presidente do país e como tal deveria ter sido respeitada. O que fizeram foi um mau exemplo e não reflete o povo brasileiro, que além de educado é cordial e carinhoso, que sempre recebe bem os visitantes —disse Falcão, que é coordenador da campanha de Dilma à reeleição.

Ele criticou também o "oportunismo" do candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, para quem Dilma está sitiada e que só vai a eventos públicos protegida por seguranças.

— Isso não é verdade. Dilma tem ida a todos os cantos deste país e tem sido bem recepcionada. Mas o próprio Aécio já foi vitima de vaias e xingamentos num estádio em Minas Gerais quando a multidão dizia que ele cheirava mais que Maradona. Eu não gostaria nem de reproduzir isso, mas mostra que ele foi igualmente desrespeitado. Dilma não está sitiada coisa nenhuma e na campanha vamos mostrar o que eles são ocultar, que é uma comparação com o que fizemos e com o que eles fizeram no governo — disse Falcão ao GLOBO.

O presidente do PT diz que os xingamentos e vaias não afastarão Dilma dos estádios ou de qualquer outro evento com multidões.

— Desde o início estava previsto que ela iria apenas à abertura e ao encerramento da Copa e os fatos de ontem (abertura no Itaquerão) não mudarão sua programação. Esses xingamentos não não estão sendo apoiados por ninguém. Nem pelos jornalistas que estão cobrindo a Copa e que tem posições mais críticas estão apoiando. Eu não estava no estádio, mas amigos me ligaram de lá relatando o que aconteceu e fiquei indignado — disse Falcão.

Campos diz ‘a gente colhe o que planta’; para Aécio manifestações não devem ‘ultrapassar limites’

• Presidenciáveis se posicionam sobre hostilização à presidente Dilma durante a abertura da Copa; tucano muda de opinião

Sérgio Roxo e Juliana Castro

SÃO PAULO e SÃO JOÃO DEL REI — Os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos repercutiram nesta sexta-feira as vaias e xingamentos sofridos pela presidente à presidente Dilma Rousseff na abertura dos jogos da Copa do Mundo. O pré-candidato do PSB Eduardo Campos afirmou que a hostilização da torcida à Dilma, durante a partida de abertura da Copa no estádio do Itaquerão, em São Paulo, é consequência de insatisfação da população com o governo federal.

— Quanto às manifestações dentro do estádio, a gente sabe que há na sociedade um mau humor, uma insatisfação, que se revela nesses momentos — afirmou o presidenciável, em entrevista à Rádio CBN Cascável.

Campos fez ressalvas à forma usada pela torcida para protestar:

— Talvez a forma possa não ter sido a melhor de expressar esse mau humor, essa discordância, mas o fato é que vale o ditado: na vida a gente colhe o que a gente planta — completou o pré-candidato do PSB.

No fim da tarde de hoje, o pré-candidato do PSDB Aécio Neves postou em sua página no Facebook afirmando que as manifestações não devem “ultrapassar os limites do respeito pessoal”. No texto ele afirma: 

“Ninguém mais do que eu tem criticado o governo da presidente Dilma. Uma crítica política de quem não concorda com os rumos que o governo vem dando ao país. Mas, por mais compreensível que seja o sentimento dos brasileiros, acredito que a sua manifestação deve se dar no campo político sem ultrapassar os limites do respeito pessoal. No que depender de mim, o debate eleitoral se dará de forma democrática e respeitosa”, finaliza o post. Mais cedo, em São João Del Rei, no interior de Minas, o tucano disse que as vaias e xingamentos são um sinal de que Dilma estaria sitiada e que ‘colhe o que plantou’.

— Ela (Dilma) colhe o que plantou ao longo dos últimos anos. (Ela é) Alguém que governou com um mau humor permanente, com enorme arrogância, sem dialogar com a sociedade, de costas para a sociedade brasileira, achando que ter a caneta na mão tudo pode, sem se preocupar com o que virou o governo do ponto de vista ético, com essas sucessivas denúncias de corrupção, querendo vender um Brasil que não existe, um país virtual, onde, na propaganda oficial a Petrobras é a melhor das empresa, a mais bem gerida do mundo, onde a saúde é de alta qualidade, onde não existe inflação — afirmou Aécio, dizendo que esse Brasil que a presidente mostra “não é real”.

PSDB lança Aécio e mira ‘territórios’ governistas

• Senador será aclamado em convenção; tática é investir no Nordeste e nas classes C e D

Débora Bergamasco e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

SÃO JOÃO DEL REY - O presidente do PSDB e senador Aécio Neves (MG) será referendado hoje como candidato à Presidência da República de seu partido convencido de que precisa investir suas fichas em dois territórios majoritariamente petistas para ser eleito: o Nordeste e as classes C e D. O nome de Aécio será aclamado na convenção nacional do PSDB, em São Paulo.

O mote interno daqui para a frente na seara tucana é “subir geograficamente e baixar socialmente”. Os operadores políticos do PSDB investirão a partir de agora na desconstrução do discurso do medo, que já foi usado pelo PT. Prevendo que a campanha será marcada por uma espiral de rumores sobre o fim de programas sociais criados no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em caso de uma vitória do PSDB, Aécio produziu um estoque de “vacinas”.

No Senado, o senador tucano apresentou dois projetos de lei para “fortalecer” o programa Bolsa Família. Um deles pretende ampliar o pagamento por mais seis meses ao beneficiário que conseguir um emprego.

A avaliação do partido é que Aécio entra oficialmente na disputa com o melhor cenário possível: unificou a sigla em torno do seu projeto, ultrapassou o patamar de 20 pontos nas pesquisas de intenções de votos, consolidou-se em segundo lugar na disputa e está à frente dos adversários no Estado de São Paulo.

Prevendo que a campanha será marcada por uma espiral de rumores sobre o fim de programas sociais criados no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em caso de uma vitória do PSDB, Aécio produziu um estoque de “vacinas”.

Discurso. No discurso que vai fazer neste sábado na capital paulista para um público estimado em 5 mil pessoas, Aécio baterá na tecla de que é novo, mas não novato. Um vídeo com forte tom emocional contará sua trajetória e reforçará os laços com o avô, Tancredo Neves. Em sua fala, ele vai reforçar a defesa e o aperfeiçoamento dos programas sociais petistas. A economia e a infraestrutura serão os ganchos para criticar Dilma.

Além dele, falarão o ex-governador José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Geraldo Alckmin.

No fim da manhã desta sexta, Aécio percorreu ruas de São João del Rey cercado por moradores e integrantes do PSDB mineiro. Ele recebeu a bênção na Capela de Santo Antônio, próxima à residência da família, e visitou o túmulo de Tancredo no cemitério nos fundos da Igreja de São Francisco.

Antes de iniciar a caminhada, o senador apareceu em uma das sacadas do Solar dos Neves ao lado de Maristela Kubitschek, filha do ex-presidente Juscelino Kubitschek, que leu uma carta declarando apoio ao tucano.

Aécio disse que acompanha as “dissidências” regionais de partidos da base aliada ao governo federal para definir o nome do vice em sua chapa.

PSDB lança hoje Aécio à Presidência como a 'mudança confiável'

• Na convenção em SP, tucano criticará o governo Dilma e defenderá uma gestão econômica 'firme e transparente'

• Antigo desafeto, Serra terá espaço destacado para seu discurso e dirá que senador é opção contra 'atraso' petista

Daniela Lima - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O senador mineiro Aécio Neves será indicado oficialmente pelo PSDB neste sábado (14) como candidato à Presidência da República, numa convenção partidária em que se apresentará como opção de "mudança confiável" para os eleitores insatisfeitos com a presidente Dilma Rousseff.

A convenção tucana será realizada em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, Estado governado pelos tucanos há quase duas décadas e onde a rejeição a Dilma é maior que em outras regiões do país.

Em seu discurso, Aécio planeja defender uma gestão "firme e transparente" da economia, fazendo ao mesmo tempo uma crítica à presidente e um aceno ao mercado financeiro e ao meio empresarial.

Aécio decidiu falar de improviso, mas as linhas gerais de seu pronunciamento indicam que ele se comprometerá com a manutenção e o fortalecimento de programas sociais que viraram marca registrada dos governos petistas, como o Bolsa Família.

A convenção terá pronunciamentos de vários líderes do PSDB, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, principal fiador político de Aécio, e o ex-governador paulista José Serra, que por vários anos foi o principal desafeto de Aécio no partido.

O senador mineiro fez questão de reservar espaço de destaque para a fala de Serra na programação da convenção. Segundo a Folha apurou, o ex-governador abordará lateralmente os desentendimentos públicos que teve com Aécio no passado.

Ele dirá que o partido precisa estar unido para por fim ao ciclo petista --que representaria o "atraso"-- e inaugurar uma nova era de "confiança". Serra enfatizará que a sigla pode contar com ele na caminhada, "cujo ponto alto será eleger Aécio Neves".

Sertanejo
A programação da convenção, coordenada pelo publicitário Paulo Vasconcelos, que chefia a equipe de comunicação de Aécio, alternará discursos e momentos emotivos. O evento será realizado no ExpoCenter Norte, onde houve um ensaio geral na sexta (13).

O hino nacional foi gravado com a participação do cantor sertanejo Zezé de Camargo, que participou da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Zezé declarou recentemente que neste ano votará em Aécio, que é amigo do seu genro.

Haverá durante a convenção diversas homenagens ao avô do senador, Tancredo Neves (1910-1985), o presidente eleito pelo Congresso Nacional no fim da ditadura militar e que morreu antes da posse.

O poeta Ferreira Gullar, colunista da Folha, lerá poema que escreveu após a morte de Tancredo, "Palavra Gasta", escrito em forma de carta endereçada ao político mineiro.

Serão exibidos ainda diversos depoimentos colhidos pelo Brasil, em que eleitores dizem o que esperam do país. O slogan da convenção --"Aécio, a gente quer você"-- será destacado num filme, em que dezenas de pessoas repetem a frase no meio de jingle.

Segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, concluída no dia 5, Aécio está em segundo lugar na corrida presidencial, com 19% das intenções de voto. Dilma tem 34% e o ex-governador Eduardo Campos (PSB) está com 7%.

Randolfe Rodrigues desiste de candidatura ao Palácio do Planalto

• Senador do PSOL deve se candidatar ao governo do Amapá; Luciana Genro (RS), que era cotada para vice, deve ser a substituta

João Villaverde - O Estado de S. Paulo

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) não é mais pré-candidato à Presidência da República e deve se candidatar ao governo do Amapá. Em seu lugar, o PSOL decidiu lançar Luciana Genro (RS), filha do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). Inicialmente, Luciana seria candidata à vice na chapa "puro sangue".

Em nota oficial, o presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Luiz Araújo, assinala que a desistência de Randolfe está "vinculada à necessidade de construir uma alternativa política contra o retorno das forças conservadoras no Estado do Amapá".

A decisão começou a ser costurada na quinta-feira, em reunião de lideranças nacionais do PSOL, como Marcelo Freixo (RJ), o deputado Ivan Valente (SP), o presidente Araújo e a própria Luciana Genro. Ficou decidido, então, que Luciana seria a indicada pela direção nacional do partido para a convenção nacional, que ocorre em Brasília nos dias 21 e 22.

"Agindo assim, o PSOL manterá a campanha no mesmo rumo que vínhamos trilhando e permitirá ao povo brasileiro o direito de escolher uma real alternativa de esquerda e socialista nestas eleições", afirmou o partido, em nota.

PT ignora pressão do PMDB sobre o Rio

Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - O PT não vai abrir mão de candidaturas como a do senador Lindbergh Farias ao governo do Rio a fim de ajudar o vice-presidente Michel Temer a ampliar a maioria pró-Dilma Rousseff no PMDB. "O que a gente puder ajudar nessa direção, sem prejudicar o PT, nós faremos, juntos com a presidenta", disse o presidente petista, Rui Falcão, "mas não vamos retirar a candidatura de Lindbergh de jeito nenhum".

Segundo o vice-presidente Michel Temer, a ajuda do PT seria "extremamente útil" para a recomposição do partido em torno da reeleição da presidente da República. Falcão não quis entrar em detalhes sobre as conversas que terá com o PMDB. Em tratamento fisioterápico devido a um pinçamento entre as vértebras da coluna, o presidente do PT passou os últimos dias isolado, sem acompanhar os desdobramentos da convenção do PMDB na terça-feira.

Segundo apurou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, no entanto, o PT e o comando da campanha da presidente avaliam que já fizeram as concessões necessárias para ganhar a convenção do PMDB, que assegurou a coligação e o tempo de rádio e de televisão do partido. No máximo, agora, as duas siglas podem conversar sobre um acordo de procedimentos.

Esse acordo seria especialmente necessário no Rio, a fim de evitar o agravamento dos ataques entre PT e PMDB. As queixas são mútuas. O PT não considera a hipótese de retirada da candidatura Lindbergh porque avalia que o senador pelo Rio tem tanta chance de vitória quando o governador pemedebista Luiz Fernando Pezão, além dos outros candidatos de partidos aliados competitivos.

Nas contas feitas nos comandos do PT e da campanha da presidente da República, os principais candidatos ao governo do Rio, no momento, estão todos abaixo dos 20% e acima dos 10% nas pesquisas eleitorais. Qualquer um pode ganhar. E a prioridade do PT é vencer em pelo menos um dos três maiores colégios eleitorais do país - São Paulo, Rio e Minas Gerais -, o chamado "Triângulo das Bermudas".

O PT cedeu a primazia ao PMDB nos Estados em que os eventuais candidatos do partido tinham "densidade eleitoral baixa", como Paraíba, Alagoas, Sergipe, Pará, Amazonas, Maranhão e Espírito Santos, entre outros. Segundo fontes da campanha da presidente, ainda há chances de entendimento em Rondônia e Tocantins.

No Ceará, outro caso citado por Temer, o apoio à candidatura do senador pemedebista Eunício Oliveira passa necessariamente - exigência de Dilma - por um entendimento com o governador Cid Gomes (Pros). Cid e Ciro, seu irmão, foram importantes para a presidente rachar o PSB de Eduardo Campos no Nordeste e no esforço para manter o Pros nacional na órbita governista.

O PT também se ofereceu para apoiar o ex-governador Iris Rezende em Goiás, mas os pemedebistas lançaram a candidatura do empresário Júnior Friboi. Depois voltaram atrás, mas então o PT já estava com uma candidatura própria na rua.

O PT, segundo seus dirigentes, se dispunha a apoiar um nome do PMDB para o governo do Estado de Santa Catarina, se o partido lançasse candidato próprio, o que não foi o caso. "O que estava ao nosso alcance nós fizemos", disse um integrante do comando da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Mais ajuda do que nós já demos é impossível", disse a mesma fonte.

No Espírito Santo, onde já está acertado o apoio do PT à candidatura do ex-governador Paulo Hartung, pelo PMDB, mas a situação pode mudar se o pemedebista rever a decisão de disputar novamente o governo estadual.

A cúpula do PT e o comando da campanha da presidente avaliam "de maneira pragmática" que não há volta para as seções do PMDB ou parte delas que já declararam apoio a outras candidaturas presidenciais, casos do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. Em São Paulo, onde os dois partidos disputam a cadeira de Geraldo Alckmin (PSDB), PT e PMDB mantêm abertos os canais de comunicação. Pelo menos até agora.

Apoio a tucanos em oito Estados gera tensão na aliança do PSD com Dilma

Raphael Di Cunto – Vallor Econômico

BRASÍLIA - A pressão para que o PSD abandone a presidente Dilma Rousseff e abra formalmente negociações para indicar o vice do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na corrida presidencial tem crescido na medida em que são fechados os palanques regionais. Levantamento do Valor PRO , serviço de notícias em tempo real do Valor, mostra o porquê: o PSD está praticamente fechado com candidatos tucanos em oito Estados, enquanto vai apoiar apenas um dos 13 petistas que pretendem disputar governos estaduais.

A diferença pode crescer mais ainda se o vice-governador da Paraíba, Rômulo Gouveia, decidir romper com o governador Ricardo Coutinho (PSB) para se lançar ao Senado na chapa do senador Cássio Cunha Lima (PSDB), e se for considerado o apoio do PSD do Rio de Janeiro ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) - que, apesar de dizer em público apoiar a presidente, vê sua base declarar voto em Aécio.

A pressão fez com que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, marcasse a convenção do partido para o dia 25, em Brasília, já com convite para a presidente Dilma participar. Kassab, fiador do apoio à presidente, tenta acabar com os rumores de que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles (PSD) poderia ser indicado a vice do PSDB.

O PSD foi o primeiro partido a declarar apoio à Dilma, ainda em 2013, como retribuição à ajuda do governo para aumentar a bancada de deputados federais, que virou a terceira maior da Câmara. O número de deputados é um ativo importante por ser a base de distribuição do fundo partidário e do tempo de propaganda eleitoral na TV.

Mas a formação dos diretórios estaduais teve forte influência de partidos conservadores como o DEM, do qual saiu o próprio Kassab, e do PP, que perdeu parte de sua bancada - e principalmente lideranças locais, como prefeitos e vereadores. A maioria era adversária do PT nas disputas regionais e assim permaneceu quando se filiou ao PSD.

"Na maioria dos Estados PSD e PT são como água e óleo, não se misturam", diz o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, ex-deputado pelo DEM que é um dos defensores do rompimento com Dilma dentro do partido. "É a história política de cada um, não tem como mudar", afirma.

A única exceção mais clara nesta relação é a Bahia, onde o governador Jaques Wagner (PT) foi o responsável por construir o PSD com apoio de seu vice, Otto Alencar, que se filiou à nova legenda. E é justamente neste Estado que está o único apoio certo do PSD ao PT, com o deputado federal Rui Costa (PT) ao governo e Alencar ao Senado.

Os petistas, por sua vez, vão inverter essa chapa no Rio Grande do Norte, ao dar apoio à candidatura do vice-governador Robinson Faria (PSD) em troca da deputada Fátima Bezerra (PT) concorrer ao Senado. Os dois partidos também discutiram se aliar em Santa Catarina em torno do governador Raimundo Colombo (PSD), mas, embora ainda seja possível de ocorrer, o histórico de enfrentamentos tornou essa coligação pouco provável.

Há, ainda, chance pequena do PSD apoiar a reeleição do governador Agnelo Queiroz (PT) no Distrito Federal. Contudo, o partido está mais próximo de fechar com o senador Rodrigo Rollemberg, correligionário do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), outro adversário de Dilma em outubro. Aliados de Campos ainda vão coligar com o PSD em dois Estados em que o PT tem candidato próprio.

O PSDB, por sua vez, tem acordos bem encaminhados para receber o apoio do PSD a seus candidatos no Acre, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rondônia e São Paulo. Nem todos estão fechados e em alguns casos dependem da definição de outras candidaturas, mas em seis desses Estados o PSD deve ter espaço na chapa majoritária dos tucanos, com o candidato ao Senado ou a vice.

"Quando o partido foi fundado, isso já estava dito. Ninguém foi eleito pelo PSD e, por isso, não haveria obrigação de seguir o posicionamento nacional nesta eleição. Cada diretório está livre para fazer as composições que melhor ajudarem o partido a crescer e eleger deputados", afirma o presidente do PSD no Paraná, deputado Eduardo Sciarra.

Se parte dos integrantes do PSD defende "pular o muro" e Aécio Neves estimula a traição, o PSDB não tem, entretanto, mostrado reciprocidade. Os tucanos vão lançar o senador Paulo Bauer contra Colombo em Santa Catarina e só discutem coligar com o PSD no Amapá, a despeito da vontade do diretório local do PSDB pedir votos para o PTdoB.

Oposição unida contra o PT no maior Estado do Nordeste

• O Ex-governador Paulo Souto (DEM) lidera pesquisas com folga na Bahia; ‘escudeiro’ de Jaques Wagner será o candidato petista

• Na mais recente pesquisa IBOPE sobre a eleição estadual, divulgada em 27 de maio, Souto lidera com 42% das intenções de voto. Lídice tem 11%, em empate técnico com Costa, que tem 9% das intenções de voto.

Tiago Décimo – O Estado de S. Paulo

Na Bahia, Estado onde a presidente Dilma Rousseff obteve sua maior vantagem de votos em 2010 (2,8 milhões), caberá a um neófito em disputas majoritárias tentar manter o domínio do PT no maior colégio eleitoral do Nordeste - com 10,1 milhões de eleitores - diante de uma oposição reforçada.

Após a celebrada vitória nas eleições municipais de 2012, nas quais conquistou o comando das duas maiores cidades do Estado, Salvador (com Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto) e Feira de Santana (com José Ronaldo), o DEM aposta na experiência e no amplo conhecimento do eleitorado sobre o ex-governador Paulo Souto, que parte para a quarta eleição consecutiva ao governo - ele venceu em 2002 e perdeu em 2006 e 2010.

Escolhido pelo governador Jaques Wagner (PT), o pré-candidato petista, Rui Costa, tem o desafio de se fazer conhecido e ainda patina nas pesquisas eleitorais, lideradas com folga por Souto.

O PSB terá como candidata a ex-prefeita de Salvador Lídice da Mata (PSB). Influenciada pela direção nacional de seu partido, a senadora deixou a base do governo baiano, apesar de ser aliada histórica do PT no Estado, para garantir palanque na Bahia ao presidenciável do partido Eduardo Campos.

‘União das oposições’. O bloco de apoio ao pré-candidato do DEM terá o reforço do PMDB. Rompido com o governo Wagner desde 2008, o partido lançou candidatura própria em 2010, com o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima. O líder local da legenda, porém, abriu mão de disputar o cargo novamente em prol da chamada “união das oposições”.

Geddel será o candidato ao Senado pela coligação, que dará palanque no Estado ao presidenciável tucano Aécio Neves. O PSDB vai ocupar a vice na chapa com Joaci Góes. A aliança ainda conta com o Solidariedade, PV, PPS, PRP, PSDC, PT do B, PPL, PTC, PMN, PEN e PHS. ACM Neto segue negociando, pessoalmente, os apoios de PRB e PSC à candidatura de Souto. “Existe um desejo de mudança na população e as condições desta campanha são melhores que as que tive, em 2010”, disse o prefeito de Salvador.

A principal diferença, de acordo com ele, está na divisão do tempo da propaganda eleitoral em rádio e TV. Na eleição de 2010, ACM Neto contava com cinco minutos para as inserções, enquanto seu principal adversário, o deputado Nelson Pellegrino (PT), tinha aproximadamente 14 minutos. As projeções indicam que, este ano, Souto terá em torno de seis minutos e Rui Costa, dez minutos.

O PSB tenta articular apoios no Estado - a vaga de vice segue aberta -, mas tende a ser um voo solo. A candidata ao Senado pelo partido é a ex-corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon.

A Bahia garantiu a Dilma uma vantagem de cerca de 2,8 milhões de votos sobre o tucano José Serra em 2010, a maior entre todos os Estados. Mas causou desconforto em parte do PT e em partidos aliados no Estado a escolha de Jaques Wagner. O governador, que completa seu segundo mandato, fez valer sua ascendência local sobre a legenda para impor o nome de Rui Costa, seu ex-secretário da Casa Civil.

Também disputavam a indicação o ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli, o preferido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o senador Walter Pinheiro. O Solidariedade deixou a coligação após a definição pelo nome de Rui Costa.

Escudeiro de Wagner desde os tempos em que o governador liderava o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petroquímica da Bahia (Sindipetro), na década de 1980, Rui Costa, de 51 anos, goza de sua total confiança. O jeito introvertido e os problemas de dicção não o auxiliam na missão de cativar a população. Para tentar driblá-los, o pré-candidato petista está recorrendo a sessões de fonoaudiologia e treinos de oratória - além disso, os até então inseparáveis óculos de grau foram tirados de seu figurino.

‘Pai do PAC na Bahia’. Deputado federal pelo PT que mais recebeu votos na última eleição (212 mil), Rui Costa tem assegurado o apoio de sete partidos (PSD, PP, PDT, PTB, PC do B, PRB e PSL) e está presente em praticamente todos os eventos oficiais do Estado desde meados do ano passado. Para vitaminar a candidatura petista, o governo tenta atribuir a Costa algumas das grandes obras realizadas na Bahia nos últimos anos, como a tão esperada inauguração do primeiro trecho do metrô de Salvador, realizada na quarta-feira passada, após 14 anos de construção. “Foi ele o principal responsável por destravar a obra”, garante Wagner. Durante o evento, Dilma reforçou o coro, e chamou Costa de “pai do PAC na Bahia”.

A mesma pesquisa, porém, dá ampla vantagem à candidatura de Dilma no Estado. A presidente, de acordo com o estudo, tem 50% das intenções de voto na Bahia, enquanto o tucano Aécio Neves tem 12% e Eduardo Campos, 7%. “Queremos aumentar a diferença de votos a favor da Dilma nesta eleição, para 4 milhões”, afirma Rui Costa.

“Metade da população ainda não conhece o Rui e essa taxa de desconhecimento é positiva em qualquer campanha”, argumenta o governador Jaques Wagner, que enfrentou um segundo governo conturbado - com direito a duas rumorosas greves da Polícia Militar, em 2012 e neste ano -, e fez malabarismos para tentar manter a base praticamente inalterada para a eleição. Entre outras articulações, ele abriu mão da disputa por uma vaga no Senado para acomodar o ex-vice-governador Otto Alencar (PSD). Quem ficou com a indicação para vice na chapa foi o PP, com o deputado João Leão.

Também apresentaram pré-candidaturas ao governo baiano Rogério da Luz (PRTB) e Marcos Mendes (PSOL). Segundo o Ibope, eles têm, respectivamente, 2% e 1% de intenções de voto. A pesquisa foi registrada sob o número 00130/2014 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Aécio aposta em dissidências da base aliada de Dilma nos estados para fortalecer sua campanha

• Tucano repete tradição do avô e visita São João Del Rei antes de convenção do PSDB, que acontece neste sábado

Juliana Castro – O Globo

SÃO JOÃO DEL REI — Às vésperas da convenção nacional do PSDB que confirmará o senador Aécio Neves como candidato à presidência, o tucano, viveu clima de campanha em sua visita, na manhã desta sexta-feira, à cidade São João Del Rei, a 184 km de Belo Horizonte. Em entrevista, ele disse que sua caminhada rumo ao Planalto se fortalecerá com as dissidências nos estados de partidos aliados à presidente Dilma Rousseff em nível nacional.

— No âmbito regional, a maioria dessas forças (PP, PMDB e PSD) estão se somando ao nosso lado. Elas querem mudanças. A presidente da República, com um esforço enorme com a oferta de cargos públicos a rodo hoje no Brasil, consegue ficar com mais tempo de TV, mas não ficará com o trabalho e com a crença desses partidos no seu projeto. Portanto, podem esperar que vamos ter dissidências cada vez mais amplas. Essas dissidências fortalecem a oposição porque elas representam o sentimento do Brasil, de uma mudança profunda — afirmou Aécio.

No Rio, por exemplo, Aécio conquistou o apoio da maior parte do PMDB, já que o partido não engoliu a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias. Aécio vai para a convenção do partido sem escolher o vice para sua chapa, embora muitos nomes sejam cotados, como o do senador Aloysio Nunes (PSDB). O tucano lembrou que a data para o fechamento dos nomes da aliança é o dia 30 de junho.

— Temos o tempo. Felizmente, nosso caso é de abundância de nomes qualificados. Como a legislação permite que até o dia 30 essa decisão possa ocorrer, como ainda existem instabilidades em outras forças políticas, nós estamos aguardando que o cenário se desenhe de forma mais clara para vermos qual é o perfil mais adequado — declarou o senador, afirmando que o PSDB nunca esteve tão unido em torno de uma candidatura.

Dilma colhe o que plantou, diz Aécio sobre vaias
Depois de falar ontem que as vaias e xingamentos à presidente Dilma ontem no Itaquerão são um sinal de que ela está sitiada, o tucano voltou a usar a mesma expressão e completou:

— Ela (Dilma) colhe o que plantou ao longo dos últimos anos. (Ela é) Alguém que governou com um mau humor permanente, com enorme arrogância, sem dialogar com a sociedade, de costas para a sociedade brasileira, achando que ter a caneta na mão tudo pode, sem se preocupar com o que virou o governo do ponto de vista ético, com essas sucessivas denúncias de corrupção, querendo vender um Brasil que não existe, um país virtual, onde, na propaganda oficial a Petrobras é a melhor das empresa, a mais bem gerida do mundo, onde a saúde é de alta qualidade, onde não existe inflação — afirmou Aécio, dizendo que esse Brasil que a presidente mostra "não é real".

Aécio lembrou que, ao longo do governo Dilma, sete ministros foram demitidos por denúncias de corrupção, e o governo não concluiu as investigações. E aproveitou o tema para falar novamente dos escândalos na Petrobras.

— Estamos vendo aí os sete ministros que foram afastados por denúncias de corrupção no início do governo. Estamos caminhando para o final e o que aconteceu? O que foi apurado pelo governo? Qual as consequências daquelas demissões? Estão aí as denúncias em relação à Petrobras que aviltam, trazem indignação para todos nós brasileiros. A nossa principal empresa pública hoje vale metade do que valia quando ela (Dilma) assumiu — declarou o candidato à presidência.

Tradição do avô
O pré-candidato esteve em São João Del Rei para seguir uma tradição do avô, Tancredo Neves, que visitava o município antes de suas grandes decisões. Neste sábado vai acontecer em São Paulo a convenção do PSDB que proclamará Aécio Neves candidato à Presidência da República.

O senador tem mantido as tradições do avô: participa da Procissão do Enterro, em que carrega a lanterna de prata que foi de Tancredo, visita São João Del Rei em datas simbólicas e vai ao santuário da Serra da Piedade.

No Largo do Rosário, onde fica a residência da família do tucano em São João Del Rei, mineiros se concentraram para ver Aécio. O tucano apareceu na sacada ao lado de Maristela Kubitschek, filha do ex-presidente Juscelino. Ela leu uma mensagem para Aécio.

— Hoje, Aécio, depositamos em suas mãos limpas nossa confiança e nossa esperança, de que finalmente, poderemos realizar o Brasil que tantas vezes foi sonhado pelos nossos e que ainda permanece intocado — afirmou Maristela, num trecho da mensagem.

Em seguida, o pré-candidato falou brevemente aos mineiros na sacada e disse que, em respeito à legislação eleitoral, não discursaria.

— Esse é um dos momentos mais emocionantes da minha história — afirmou ele. — Saio a partir de hoje para caminhar pelo Brasil levando Minas Gerais sempre.

Ao fim, os presentes ao Largo do Rosário gritaram "Aécio, guerreiro, orgulho dos mineiros". Nas casas e comércios em frente à residência da família Neves, haviam várias faixas de apoio, como: "Aécio é coragem para mudar o Brasil", "Aécio com Minas pelo Brasil" e "Aécio, o coração de Minas bate pelo Brasil". Moradores dos imóveis disseram ao GLOBO que a equipe que organizou o evento pediu autorização para colocar as faixas nas paredes.

Dois pequenos palcos foram montados no Largo e músicos tocaram algumas canções. Depois de fazer um breve discurso da sacada de sua casa, Aécio seguiu para a Igreja de Santo Antônio. Como faz em campanha, abraçou moradores e pegou crianças no colo. Na igreja, ganhou a bênção do padre. Depois, ele foi à Igreja de São Francisco e, em seguida, ao Teatro Municipal, onde encontrou amigos rapidamente.

De Minas, Aécio segue para São Paulo onde irá participar da convenção que legitimará sua candidatura.

Roberto Freire: Decreto de Dilma afronta a democracia representativa

- Brasil Econômico

Sob o pretexto de promover uma maior participação da "sociedade civil" em "todos os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta", o decreto assinado por Dilma afronta o fundamento básico da igualdade perante a lei e cria uma casta de cidadãos de primeira classe — os membros dos movimentos sociais — que estariam acima dos demais.

O texto define como sociedade civil "o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações". Diante de tamanha subjetividade e imprecisão caberá exclusivamente ao governo estabelecer o que é institucional e, portanto, parte integrante da "sociedade civil", e o que não é. A dedução lógica é de que todos aqueles que porventura não pertençam a movimentos sociais não poderão participar da " democracia direta" defendida pelo PT.

O decreto 8.243 não cria uma nova forma de participação, mas um sistema de tutela sobre os cidadãos ou movimentos organizados que poderão atuar em conjunto com o governo na administração do Estado. A Constituição brasileira já garante o direito à livre manifestação e consagra a democracia representativa com eleições livres em que a sociedade escolhe seus representantes no Parlamento. O grande mérito desse modelo é que todos os brasileiros têm exatamente a mesma importância no momento do voto, independentemente de suas condições econômicas ou sociais, de sua origem, da preferência partidária ou do grau de envolvimento com a política.

Além do viés profundamente antidemocrático do decreto, trata-se de uma clara tentativa de manipulação política. O texto constitucional de 1988 também incorporou o princípio da participação popular direta na administração pública graças a uma série de mecanismos — audiências públicas, referendos, plebiscitos e iniciativas de leis em prol da cidadania —, mas nenhum deles engessa o Poder Legislativo e subjuga os representantes eleitos pela sociedade.

Alguns defensores do decreto 8.243 parecem alimentar uma ilusão revolucionária da dualidade de poder, mas tal entendimento não se ampara na realidade atual. O intuito do PT é estabelecer um hegemonismo político no país, exercendo controle absoluto sobre os movimentos sociais e subalternizando o Congresso, o que fere de morte a democracia representativa. Infelizmente, nada que surpreenda vindo de um partido que se especializou em afrontar o Poder Judiciário e atacar a imprensa independente.

As forças democráticas não podem permitir mais este arroubo totalitário do governo petista. Os brasileiros esperam que o Parlamento, alvejado por um decreto indecoroso que mais parece um arremedo, reaja de forma altiva para impedir o descalabro institucional.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Merval Pereira: O sentido das coisas

- O Globo

Sem dúvida, é uma boa sacada de marketing atribuir os xingamentos à presidente Dilma no Itaquerão, na estreia do Brasil na Copa, a uma “elite intolerante”. E melhor ainda fazer-se de vítima, como tentou a presidente, misturando alhos com bugalhos ao lembrar as torturas que teria sofrido quando presa no regime militar.

Não havia apenas membros das elites brasileiras no estádio, não foram apenas as alas VIPs que xingaram a presidente, e não é nada desprezível o significado político do que aconteceu naquela tarde em São Paulo. A presidente Dilma tem um problema sério pela frente, pois é evidente a má vontade dos paulistas com seu governo e com o PT, provavelmente turbinado pela gestão medíocre do prefeito Fernando Haddad na capital paulista.

As pesquisas estão aí para mostrar que ela perde em São Paulo num hipotético segundo turno, tanto para Aécio Neves quanto para Eduardo Campos.

Os xingamentos à presidente tem um lado lamentável relacionado muito mais à nossa civilidade como sociedade do que com o respeito que se deve ter a um presidente da República.

Os xingamentos tornaram-se a maneira corriqueira de expressar desagrados nos campos de futebol do país inteiro, e está longe o dia em que chamar o juiz de ladrão, ou mesmo xingar sua mãe, eram maneiras de protestar. Hoje, qualquer criança, de qualquer nível social ou econômico, tem no xingamento mais vulgar a maneira corriqueira de expressar seu descontentamento nos campos de futebol.

A banalização dos xingamentos, uma violência verbal, juntamente com a violência física, são pragas do nosso futebol que precisam ser extirpadas, e a presidente Dilma foi vítima desse hábito nada educado e rigorosamente condenável. Mas os excessos da multidão, formada por pessoas de todos os níveis sociais, não eximem a presidente de ser merecedora do repúdio expresso pelas vaias e pelos xingamentos.

Claro que o melhor seria se esses excessos verbais não tivessem existido, e que as vaias, como na abertura da Copa das Confederações do ano passado, fossem o instrumento para exprimir o sentimento que domina parcela cada vez maior da população.

Dias antes, a presidente Dilma havia se aproveitado de seu cargo para, em cadeia nacional de rádio e televisão, num abuso de poder, defender- se das críticas a seu governo, sem que houvesse possibilidade de contestação. A conta chegou no jogo de estreia do Brasil, quando a multidão presente ao estádio soube distinguir perfeitamente o que é nacionalismo real daquele patriotismo forçado pelos políticos
que fez o escritor e pensador inglês do século XVIII Samuel Johnson dizer que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

A presidente Dilma havia mandado que sua imagem não aparecesse no telão do estádio, para não ficar exposta à ira dos torcedores. Mas, num gesto demagógico, colocaram-na no telão ao comemorar o gol de empate do Brasil, ao lado do vice Michel Temer. Foram impiedosamente vaiados.

O torcedor presente ao Itaquerão aplaudiu a bandeira do Brasil sempre que ela surgiu em campo, fosse na cerimônia de abertura ou na entrada dos times, cantou o Hino Nacional à capela num emocionante e espontâneo rasgo de patriotismo, e entoou cânticos populares exaltando o fato de ser brasileiro.

Com relação à presidente da República, autoemudecida pela previsão de que receberia uma imensa vaia caso sua presença fosse anunciada, o estádio inteiro demonstrou sua insatisfação com ela de maneira grosseira, porém sincera.

A grosseria é um problema nosso, de uma sociedade que precisa encontrar novamente o caminho da civilidade e da convivência pacífica entre os contrários.

Essa exacerbação dos sentidos não ajuda a democracia, mas é preciso salientar que esse clima de guerra permanente foi instalado pelo PT, que não sabe fazer política sem radicalização e que precisa de um inimigo para combater. A prática do “nós contra eles” acaba levando a radicalizações como a de quinta-feira.

A vaia é um problema da presidente Dilma e do PT. l

Fernando Rodrigues: Futebol e barbárie

- Folha de S. Paulo

No começo do primeiro mandato de Lula, há cerca de dez anos, havia uma propaganda paraestatal na TV cujo bordão era "o melhor do Brasil é o brasileiro". Sempre tive dúvidas a respeito desse slogan. Essa história de haver um "povo bom", "ruim" ou "melhor" é regressiva e preconceituosa.

Nesta semana, brasileiros presentes ao Itaquerão xingaram a presidente da República. Políticos de oposição e do governo condenaram o ato dos torcedores durante o jogo de estreia do Brasil na Copa do Mundo.

Nesta sexta-feira (13), a própria Dilma Rousseff falou sobre o assunto: "O povo brasileiro não sente da forma como esses xingamentos expressam. O povo brasileiro é um povo civilizado e é um povo extremamente generoso e educado".

Discordo da avaliação da presidente. Embora o xingamento ouvido por Dilma no Itaquerão seja um ato de extrema falta de educação ("ei, Dilma, vai tomar no c..."), trata-se de algo barbaramente comum em estádios de futebol e em alguns espaços públicos. Nesses momentos fica exposto o grau de atraso civilizatório dos brasileiros, ricos ou pobres.

Os governistas mais empedernidos dirão: mas nada justifica o xingamento à presidente da República na frente de um punhado de chefes de Estado e na abertura de um evento internacional como a Copa do Mundo. É verdade. Só que é então necessário completar: nada justifica esse tipo de xingamento contra ninguém num estádio de futebol.

Dilma deu azar. Com a popularidade em baixa (rejeição de 46% entre paulistas), teve de ir ao lugar errado e na hora errada.

O episódio não subtrai nem agrega votos à petista. Mas é útil para se constatar duas coisas. Primeiro, que a reeleição de Dilma nas redondezas do Trópico de Capricórnio será difícil. Segundo, que vigora uma barbárie mental latente nos estádios. Nessas horas, o slogan lulista se inverte: "O pior do Brasil é o brasileiro".

Cristovam Buarque: Dois legados da Copa

• Os que votam querem saber as prioridades de cada candidato

- O Globo

Ainda é cedo para saber qual legado da Copa ficará entre todos os que foram prometidos, mas é possível saber que um ficará: a percepção popular da corrupção nas prioridades. Faz anos, descobrimos a corrupção no comportamento dos políticos, mas ainda não tínhamos consciência da corrupção nas prioridades da política.

Horrorizamos-nos com o roubo de dinheiro público levado para o bolso de políticos, mas ainda não nos horrorizávamos com o desperdício de prioridades que desviam dinheiro sacrificando os interesses da população e do futuro. É muito possível que seja descoberto roubo de dinheiro público durante as obras da Copa, mas desde já é possível perceber que houve desvio de outras finalidades mais úteis ao futuro do país e ao bem-estar da população de hoje. Um exemplo é o estádio de cerca de R$ 2 bilhões em Brasília.

Foi preciso fazermos a Copa para descobrirmos que desviar dinheiro para prioridades menos importantes é também roubo: mesmo se não houver apropriação privada do dinheiro público.

A população brasileira — tolerante com a desigualdade social, com forte preferência pelo presente, habituada ao uso do artifício histórico da inflação para financiar os gastos, e submetida à manipulação facilitada pela pouca educação, mesmo entre aqueles com nível de instrução superior — não costumava fazer as contas de quanto custava cada obra, nem o que poderia ter sido feito de diferente.

Com os sucessivos escândalos, como os atuais da Petrobras e do metrô de São Paulo, a população tinha despertado sua indignação contra a corrupção no comportamento dos políticos, mas não tinha percebido a corrupção implícita nas prioridades definidas por eles, mesmo os honestos.

A Copa permitiu visualizar a corrupção nas prioridades, ao mostrar que o dinheiro que poderia ser usado na educação, na saúde, na segurança e no sistema mais amplo de mobilidade urbana foi desviado para obras definidas pela Fifa. Mesmo quando em nome da Copa se faz um BRT para levar torcedores ao novo campo de futebol, as pessoas se perguntam por que não se tomou essa decisão antes e independentemente da Copa e por que não usar o dinheiro dos estádios para fazer mais obras que facilitem a mobilidade.

Esse é certamente um legado da Copa. Mas parece que os políticos ainda não perceberam. As pesquisas mostram que os candidatos a presidente estão caindo na preferência dos eleitores. Provavelmente não perceberam que o imaginário do eleitor mudou graças à Copa. Agora os que votam querem saber quais são as prioridades de cada candidato para o futuro do Brasil, mas os presidenciáveis prometem apenas novos comportamentos, pequenos ajustes na economia, unidos nas mesmas prioridades. Não prometem novas nem dizem quais das atuais prioridades serão substituídas.

Um legado da Copa é a percepção da corrupção nas prioridades; outro é descobrir que os candidatos estão sendo incapazes de perceber essa novidade.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

A busca petista pela hegemonia: O Globo - Editorial

• Este também é o objetivo do decreto destinado a subordinar o Estado a comissões tripuladas por companheiros, em nome da ‘sociedade civil’

Não se pode deixar de reconhecer características do PT como as de organização e de capacidade de mobilizar a militância. A legenda mantém das origens sindicais o vigor nas ações e, desde a fundação, há quatro décadas, é considerado um partido político de fato, com programa e projeto de poder.

Por trazer no DNA traços de diversas ramificações da esquerda, da católica à stalinista, o partido, não poderia deixar de ser, carrega um ranço de autoritarismo. Mas descobriu, depois da terceira tentativa frustrada de Lula de chegar à Presidência, que deveria abrir-se a alianças à direita. A fórmula havia sido aplicada com êxito pelos tucanos, a partir da análise correta do sociólogo Fernando Henrique Cardoso de que a esquerda sozinha não conseguiria governar o Brasil.

O PT tentou e deu certo a partir das eleições de 2002, quando a Vice-Presidência foi cedida a um empresário, José Alencar, e a presidência do BC, ao ex-CEO de um banco internacional, Henrique Meirelles.

Mas o partido, mesmo que deseje, não pode renunciar às origens. O PT ou qualquer outro. Nesta campanha, tem ficado translúcida a tendência visceral do PT à hegemonia política. Talvez até pelos desgastes inerentes a uma aliança partidária mantida à base do toma lá dá cá do fisiologismo, por opção petista, o partido tem como projeto para 2014 eleger amplas bancadas no Congresso, para depender menos de aliados. No caso, o PMDB, uma frente de caciques regionais, e, por isso mesmo, pouco confiável para o PT.

Porém, como o objetivo do momento para o partido é somar minutos e segundos no programa eleitoral, finge-se internamente que não foi uma derrota política o fato de a aliança com o PT ter sido rejeitada por 41% da convenção nacional do PMDB, mesmo preservada a Vice-Presidência de Michel Temer.

O trabalho do PT para ampliar as bancadas no Congresso esbarra em interesses dos outros partidos aliados, o PMDB o maior deles. Peemedebistas sentem em suas bases efeitos da busca petista pela hegemonia política.

As desavenças no Rio de Janeiro são típicas. O lulopetismo apoia a candidatura do senador petista Lindbergh Farias ao Palácio Guanabara como forma de puxar mais votos para a legenda, e deixa em segundo plano a aliança que fez com o PMDB de Sérgio Cabral, um acerto político que facilitaria a eleição de Luiz Fernando Pezão, vice-governador e candidato à sucessão de Cabral.

Enredos semelhantes se repetem pelo país afora. O grupo que detém o controle do PT parece mesmo decidido a lutar pela hegemonia, e já trabalha para isso desde já. Outro objetivo não tem o Decreto-Lei 8.243, destinado a subordinar o Estado brasileiro a comissões, fóruns e “mesas” tripuladas por companheiros, rotulados de representantes da “sociedade civil”. Se não vai pelo voto, vai pelo decreto.

Rolf Kuntz: A tempestade perfeita sem ajuda externa


  • O aperto criado pelo Fed é fichinha. Muito piores são os problemas 'made in Brazil'

- O Estado de S. Paulo

Não subestimem o governo. A presidente e sua turma são capazes de criar por sua conta, sem ajuda estrangeira, a tempestade perfeita prevista no fim do ano passado por alguns economistas. A perfeição viria com a mudança da política monetária americana, até então muito folgada, e o consequente aperto do mercado financeiro internacional. Lá fora o dinheiro já encareceu e os donos do capital ficaram mais cautelosos, mas os danos causados pela mudança política do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, foram até agora muito limitados e absorvidos sem dificuldade especial. Enquanto isso, a economia brasileira continuou piorando. Foi mal no primeiro trimestre, com expansão de apenas 0,2%, e permanece estagnada no segundo. Tanto dados oficiais quanto do setor privado confirmam a deterioração. Na sexta-feira o Banco Central atualizou seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br): aumentou só 0,12% de março para abril e ficou 0,67% abaixo do anotado um ano antes. A média dos primeiros quatro meses foi 0,79% inferior à de janeiro a abril de 2013.

Se a tendência se mantiver, a expansão acumulada em 12 meses, 2,19%, será corroída. Para este ano as previsões do mercado financeiro e das consultorias têm caído e estão na vizinhança de 1,5%. Se mantiver o rumo, o governo poderá produzir um resultado tão ruim quanto esse ou, talvez, até pior.
Por enquanto, o caminho da perfeição está bem definido, mesmo sem a contribuição de problemas no mercado financeiro internacional.

O investimento recuou no primeiro trimestre e, se depender da confiança do setor privado, continuará diminuindo nos próximos meses. O consumo, alvo principal da política econômica desde a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perde impulso. O gasto público ainda se expande e o balanço das contas públicas, no fim do ano, deverá novamente mostrar um quadro fiscal precário. Nada autoriza, até agora, a expectativa de um surto de austeridade e competência no manejo do Orçamento federal.

Do lado externo o quadro continua sombrio. As exportações permanecem fracas. De janeiro até a primeira semana de junho, a receita do comércio exterior, US$ 95,39 bilhões, foi 2,4% menor que a de igual período de 2013, pela média dos dias úteis. Só a redução das importações, 3,2% menores que as de um ano antes, impediu até agora um resultado pior que o déficit de US$ 4,13 bilhões acumulado em cinco meses e uma semana.

O investimento global no primeiro trimestre ficou em 17,7% do produto interno bruto (PIB), por causa da insegurança do setor privado e da incapacidade gerencial do governo. A meta de investir 24% do PIB e chegar mais perto do padrão de outras economias em desenvolvimento parece cada vez mais distante.

Quanto a esse ponto, o resultado do segundo trimestre dificilmente será muito melhor que o do primeiro, se depender do setor privado. Segundo sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada na sexta-feira, 31% das empresas consultadas informaram ter investido mais que nos 12 meses anteriores e 24% indicaram ter investido menos. As proporções eram 37% e 18% no trimestre anterior. Os dados também apontam desaceleração nos próximos 12 meses. As empresas com planos de maior investimento diminuíram de 34% para 30%, enquanto passaram de 16% para 21% as indicações de menor investimento à frente.

Os investimentos sob responsabilidade do setor público devem continuar avançando com muita lentidão, como tem ocorrido há vários anos. As dificuldades são reconhecidas implicitamente pelo próprio governo, ao prometer maiores facilidades para atrair empresas privadas para os leilões de infraestrutura. Bancos federais anunciaram há poucos dias a disposição de financiar até 70% das obras e adiantar até 30% do dinheiro necessário. Os empréstimos, com custo equivalente a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais 2% e prazo total de até 25 anos com 5 de carência, serão obviamente subsidiados. Em suma, o Tesouro precisa pôr muito dinheiro para conseguir a participação do capital privado, porque as demais condições impostas pelo governo são pouco atraentes.

"Estamos escrevendo uma nova história de infraestrutura no Brasil", disse ainda na sexta-feira o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli. A declaração é parecida com as bravatas habituais da presidente Dilma Rousseff e de sua equipe, mas as palavras vieram acompanhadas de uma referência ao aprendizado necessário: "A lição de casa inclui juros, garantias e questões regulatórias". Falta verificar se a lição resultará em mais pragmatismo e menos preconceito na definição de todos esses requisitos.

Os dados do varejo também apontam um enfraquecimento do consumo, embora a demanda continue suficiente, até agora, para alimentar uma inflação bem acima da meta de 4,5% e muito alta pelos padrões internacionais. A política de crescimento baseado nos estímulos ao consumo - desonerações fiscais, crédito farto e elevação da renda familiar - está esgotada. Todos esses estímulos são importantes e têm melhorado o padrão de vida de milhões de pessoas, mas só podem funcionar quando acompanhados do aumento da oferta. A indústria depende de mais investimentos para produzir mais e acompanhar a demanda interna. Sem isso o resultado é inflação, atenuada, até certo ponto, pela oferta de bens importados. Também para isso há um limite.

A presidente e seus assessores deveriam examinar mais atentamente a expressão "produto interno bruto". A palavra mais importante é "produto". O estímulo ao consumo pode provocar o aumento da oferta durante algum tempo, mas a resposta se esgota quando faltam outras condições. No Brasil, o esgotamento já ocorreu. Falta o governo perceber e aceitar esse fato.

Jornalista

Brasília-DF - Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

A esperança...
O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), dedicará os próximos dias a tentar convencer o PT das dificuldades que terá em manter a máquina partidária trabalhando em favor da reeleição. O argumento será feito nos seguintes termos: o PT tem que decidir o que é mais importante para os petistas: reeleger Dilma ou preservar Lindbergh Farias no Rio. No Ceará, onde o senador Eunício Oliveira (PMDB) disputará o governo, a reclamação diz respeito à proximidade do PT com Cid Gomes (Pros).

...E o medo
Até aqui, o PT tem dito que deseja tudo isso. Há um receio de que o PMDB acabe abandonando Dilma à própria sorte, com ou sem o aval dos petistas a projetos estaduais do partido de Temer no Rio e no Ceará.

Presença de Tancredo
Depois das lembranças ontem, em São João del-Rei (MG), a memória do ex-presidente Tancredo Neves continuará presente hoje no vídeo a ser exibido na convenção que oficializará a pré-candidatura do neto dele, o senador Aécio Neves (PSDB), a presidente da República. Ontem à noite, em São Paulo, Aécio se dedicava a concluir o discurso. A ideia é não falar para dentro, ou seja, para os tucanos, e sim apresentar propostas aos pontos do governo que o partido tanto critica.

Palanque duplo
Aécio Neves (PSDB) terá que dividir o tucano Geraldo Alckmin com o adversário em São Paulo, justamente onde precisa de apoio dos tucanos. O PSB acertou com o comando de campanha da reeleição de Alckmin a montagem de 60 comitês Geraldo-Eduardo no estado.
Serão 40 espalhados pelas 29 regiões administrativas e outros 11 na capital e na grande São Paulo.

Volta Lula, fase 2
O PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, promete declarar guerra ao PSDB caso a turma do governador Geraldo Alckmin vença a queda de braço interna pela candidatura a vice na chapa que concorrerá à reeleição para a Palácio dos Bandeirantes" "Se for verdade que uma parcela do PSDB deseja vetar a presença do presidente do nosso partido na chana para governador de São Paulo, mudaremos totalmente o nosso rumo. Será guerra total ao PSDB", diz o secretário-geral do partido, Saulo Queiroz.

Em caso de "guerra total" ao PSDB, o PSD não cairá nos braços de Dilma Rousseff, a quem o partido de Kassab prometeu apoio.

A direção a que os peessedessistas se movimentam vai no sentido de recriar a onda do "volta, Lula". Afinal, todos os aliados acreditam que o PT não insistirá com Dilma se houver um grande risco de perder o condomínio Planalto-Alvorada em outubro.

CURTIDAS
Vítima, não! / Os oposicionistas não querem dar prosseguimento à sucessão de xingamentos ocorrida no Itaquerão.

Consideram que, nesse ritmo, Dilma pode acabar faturando eleitoralmente. Afinal, tudo o que passa do limite costuma ter efeito contrário.

Na duvida... / Basta o sujeito se enrolar que os aliados viram "ex" rapidinho.

Os petistas, por exemplo, estão meio constrangidos de comparecer ao Conselho de Etica da Câmara como testemunhas do processo contra André Vargas (sem partido-PR). "Fui convidado, não convocado", diz o líder do PT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.

Ela vai e ele falará / a senadora Ana Amélia Lemos, candidata ao governo do Rio Grande do Sul pelo PR irá à convenção nacional do PSDB hoje, em São Paulo.

Os discursos do horário nobre, aqueles feitos depois da chegada de Aécio, serão poucos. Entre eles, o de José Serra.

...Não ultrapasse / Como o relator do processo é o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos entusiastas da candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, tem petista achando que a inclusão no rol de testemunhas é apenas para desgastar o PT e lembrar a qual partido Vargas era filiado.

Uma crise a jato/ Duas fornecedoras da Petrobras são suspeitas de depositar recursos em contas do doleiro no exterior

Painel - Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Supersalários.sp
A Assembleia Legislativa de São Paulo paga a 298 funcionários salários iguais ou superiores ao teto determinado pela Constituição. Pela lei, ninguém deveria receber mais que R$ 20.042,34, subsídio dos 94 deputados estaduais. No entanto, as gratificações têm inflado os contracheques de assessores e ocupantes de cargos comissionados. Incluindo benefícios extras, como auxílios e licenças-prêmio, o número de funcionários que receberam mais que o teto chegou a 455 em abril.

Afortunados Os maiores salários, de R$ 26.589,68, são pagos a 76 procuradores da Casa. A Assembleia sustenta que eles têm direito ao teto pago pelo Ministério Público.

Show do Milhão Somando indenizações por férias e licenças vencidas, uma servidora aposentada chegou a receber R$ 132 mil em abril. Ela atuou na liderança do DEM.

Pago sim A Assembleia afirma que os supersalários, recém-divulgados na internet, estão dentro da lei. Diz que reduziu gastos e que não divulga os nomes dos servidores por ordem da Justiça.

Linha da cintura A cúpula do PT ficou muito irritada com a reação de Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) aos palavrões contra Dilma Rousseff no Itaquerão. Os dois escolheram a mesma expressão: disseram que ela "plantou o que colheu".

Outra face O presidente Rui Falcão afirma que o partido não festejou quando o tucano foi alvo de ofensas no Mineirão, em 2008. "Essa baixaria acaba se voltando contra quem a incentiva", diz.

Xarope nele Aliado de Campos, o governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), não discursou ao lado de Dilma no Recife. "Ele está com uma grande dor de garganta", justificou a petista.

Olho no lance Enquanto Dilma falava, muitos petistas preferiam acompanhar Holanda x Espanha no celular.

Recordar é viver Quando Aécio chegar à convenção do PSDB, hoje de manhã, o telão exibirá um vídeo com os principais momentos de sua vida política. O filme começa em 1981, quando ele foi assessorar o avô Tancredo.

Venho de longe O objetivo é mostrar que o tucano é "novo, mas não novato". A campanha teme que os petistas tentem apresentá-lo como um aventureiro.

Desfalque Convidado a discursar, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, não vai à convenção. Ele diz que não conseguiria voltar a tempo de assistir ao primeiro jogo da Copa na Arena Amazônia.

Sou você ontem O senador Randolfe Rodrigues, que desistiu de concorrer à Presidência por causa das divisões no PSOL, diz que agora entende Heloisa Helena. A alagoana só espera o registro da Rede para se desfiliar.

O samba acabou Randolfe, que não conseguia pontuar nas pesquisas, afirma que se libertou de um peso ao desistir. Mas diz que sentirá saudade das viagens ao Rio, onde costumava ser recebido com samba e chope.

Veja bem A assessoria de Marta Suplicy culpou a conexão lenta por sua "infelicidade" na estreia do Brasil na Copa. Assim que a Croácia fez o primeiro gol, ela divulgou foto em que aparece vibrando no estádio. O clique teria sido feito antes do início do jogo.

Visita à Folha Luis Campos Ferreira, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal, visitou ontem a Folha. Estava com Francisco Ribeiro Telles, embaixador no Brasil, Paulo Lourenço, cônsul-geral em São Paulo, Ives Gandra Martins, jurista, e Camila Vech, assessora de comunicação.

Tiroteio
"No início era o mesmo projeto, mas o PT não é mais o mesmo de 1989. Nos trocou por Sarney, Maluf e Eduardo Cunha. Que pena!"
DE ROBERTO AMARAL, vice do PSB e ex-ministro de Lula, sobre o petista defender que Eduardo Campos modere as críticas por ter integrado o governo.

Contraponto
O Maluf do bem

Salvador Zimbaldi, o presidente do diretório paulista do recém-criado Pros, foi convidado a discursar em um ato da campanha de Paulo Skaf (PMDB) ao governo do Estado. Como de praxe, citou todos os políticos que se espremiam no palanque. Em meio às autoridades, soltou:

-- Queria saudar o meu caro Maluf...

Em meio a caras de espanto, Zimbaldi explicou que se referia a Lúcio Maluf, secretário-geral do PDT paulista.

-- Calma gente, esse nosso Maluf é o Maluf do bem!

Paulo Maluf (PP), o deputado e ex-prefeito procurado pela Interpol, apoia o candidato Alexandre Padilha (PT).