domingo, 5 de junho de 2022

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Combustíveis viraram obsessão para Bolsonaro

O Globo

É tensa a relação entre governo e Petrobras. Enquanto a estatal, sujeita ao mercado, tem de manter vida independente do acionista majoritário, todo governo tenta usá-la como instrumento de política pública. É o que faz o presidente Jair Bolsonaro, na cruzada para que sua candidatura à reeleição não seja prejudicada pela alta dos combustíveis. Em estado hiperativo, ele troca presidente da estatal como se fosse zagueiro de futebol, a critica por “querer dinheiro do povo”, fala em privatizá-la, bufa, chia e esperneia. Tudo em vão, pois a causa da alta nas bombas está longe do alcance do Planalto.

A agressão da Rússia à Ucrânia provocou um choque no mercado global, trouxe volatilidade a preços e estoques no mundo todo. As reservas brasileiras dão para menos de 40 dias de consumo. Nos Estados Unidos, estão no ponto mais baixo desde 2008. Na Europa, no menor nível em dez anos. Restam Índia e Oriente Médio para compensar a escassez, a um custo de frete elevado, repassado ao preço. Contra essa realidade, Bolsonaro nada pode.

Opinião do Dia | Fernando Luiz Abrucio*: cidadania

"O Estado deve servir para impulsionar e proteger a cidadania. Essa máxima política foi construída ao longo de séculos na Europa e nos Estados Unidos e só muito recentemente foi incorporada à lógica política brasileira, a partir de 1988 com a chamada (não por acaso) Constituição cidadã. Nos últimos 30 anos essa ideia evoluiu no Brasil e, mesmo com percalços e lacunas, foi a principal bússola do debate público. E aqui entra mais um ineditismo negativo do governo Bolsonaro: sua visão sobre o papel do Estado o torna inimigo da cidadania democrática.

O conceito de cidadão supõe a busca da igualdade como norteadora de todas as dimensões públicas da vida social. É preciso garantir direitos básicos a todos e criar condições para que cada um possa usufruir o máximo possível de sua cidadania. Trata-se de uma ideia com múltiplos pais: republicanos, liberais, democratas, socialistas, social-democratas e ecologistas. Há consensos e nuances nas visões desses grupos, mas todos concordam que a reprodução cotidiana da desigualdade na esfera pública é um mal a ser combatido.

O bolsonarismo é inimigo da ideia de igualdade cidadã. Sua proposta é de manter a desigualdade prévia de cada um, a partir da qual, ilusoriamente, se poderia exercer uma liberdade quase irrestrita, com exceção dos limites impostos pelo exercício do poder do líder maior, o mito - isto é, o presidente da República.

Na via inversa, o igualitarismo democrático é uma construção contínua de direitos e capacidades, o que exige uma ação efetiva do Estado e, concomitantemente, o seu controle. Bolsonaro propõe exatamente o contrário: que o governo seja frágil nas políticas que criam oportunidades e a possibilidade do exercício da cidadania, ao passo que o aparato estatal deve ser forte na garantia das desigualdades prévias e no exercício do poder repressivo, tornando-o incontrolável pela sociedade."

*Fernando Abrucio, doutor em ciência política pela USP e professor da Fundação Getulio Vargas. ‘O Estado não é inimigo da cidadania’. Valor Econômico / Eu & Fim de Semana, 3/6/22

Merval Pereira: O populismo, de novo

O Globo

Mais uma vez o país está às voltas com a disputa entre populistas para a escolha do próximo presidente da República, como acontece desde a redemocratização. Antes, já tivéramos populistas históricos como Getulio Vargas, Jânio Quadros, Jango, Juscelino. De 1989 para cá, só os populistas foram eleitos: Collor, populista de direita, que disputou com outros dois populistas de esquerda, Lula e Brizola; o próprio Lula, Dilma, e depois Bolsonaro.

O único governante não populista eleito nesse período foi Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu derrotar Lula no primeiro turno duas vezes com base em um plano econômico que tocou o bolso do cidadão comum e logrou dar a ele o que os populistas de diversos matizes prometiam e não entregavam. O Plano Real acabou com a inflação e aumentou o poder aquisitivo do povo sem demagogias ou truques passageiros.

Já é famosa a definição de que num país desigual como o nosso, Getulio sempre vencerá o Brigadeiro. Em 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato a presidente pela UDN com vasta vantagem sobre o candidato getulista, o general Eurico Dutra, fez um duro discurso contra Getúlio.

Disse que não precisava dos votos “desta malta de desocupados que apoia o ditador”. Segundo relato da historiadora Alzira Alves de Abreu, no CPDOC da Fundação Getulio Vargas, o getulista Hugo Borghi descobriu no dicionário que “malta”, além de significar “bando ou súcia”, o que já era ofensivo, também denominava trabalhadores que levavam suas marmitas nas linhas férreas, o que atingia mais diretamente os eleitores pobres. Daí a dizer que o brigadeiro estava menosprezando os pobres foi um passo, e o general Dutra venceu uma eleição perdida.

Míriam Leitão: A demolição como projeto

O Globo

Na semana em que a economia colheu dois bons números, queda do desemprego e crescimento do PIB no primeiro trimestre, o governo chegou a pensar em decretar estado de calamidade. Só isso mostra como esta administração é completamente perdida, em todas as áreas, inclusive na economia. O governo roda em círculos. A ideia de apresentar uma PEC para criar subsídios de combustíveis surgiu em janeiro e reapareceu agora, seis meses depois. A ideia de aumentar apenas o vale-alimentação dos servidores foi ventilada em fevereiro e ressurgiu na semana passada.

O governo Bolsonaro não governa, improvisa. Não é capaz de se antecipar aos problemas, muitas vezes porque os nega. Na equipe econômica, a aposta era que no Brasil não haveria pandemia por ser um país “fechado comercialmente”. Eu mesma ouvi isso de uma autoridade no dia 5 de março de 2020. A pandemia já estava entre nós. Quem não vê o que vai acontecer não se antecipa às crises, não sabe administrar coisa alguma.

Todas as crises crescem quando este governo entra em ação. Normalmente tem que ser o contrário. Governos existem para reduzir o tamanho das crises ou resolvê-las. Na pandemia, o presidente aumentou a gravidade do problema —e da letalidade —ao se comportar daquela forma deplorável. Isso elevou o custo econômico e em vidas humanas. A equipe econômica foi empurrada a agir pelo Congresso e pela opinião pública, tanto na criação do auxílio emergencial quanto no socorro às empresas. O Pronampe que ajudou tantas pequenas empresas nasceu de iniciativa do Congresso.

Bernardo Mello Franco: Candidato de mentirinha

O Globo

Depois da série de desistências na chamada terceira via, a semana terminou com um novo presidenciável na praça. O deputado Luciano Bivar se lançou ao Planalto pelo recém-criado União Brasil. A candidatura serve a muitos propósitos. Curiosamente, nenhum deles envolve vencer a eleição.

Bivar é um homem de negócios. Em 1997, arrematou o nanico PSL da família Tuma. Virou dono de partido, uma atividade que sempre rendeu dividendos em época de eleição. Nove anos depois, resolveu testar sua popularidade numa aventura presidencial. Terminou em último lugar com 0,06% dos votos, atrás do folclórico Eymael.

O fiasco não convenceu o empresário a mudar de ramo. Em 2018, sua insistência seria recompensada. Numa tacada de sorte, Bivar alugou a sigla a um deputado do baixo clero que sonhava com a Presidência. Da noite para o dia, viu sua bancada na Câmara saltar de uma para 52 cadeiras.

A ruptura com Jair Bolsonaro não afetou o empreendimento. O deputado manteve o controle sobre a sigla, os recursos do fundão e o tempo de TV. No ano passado, fundiu o PSL ao DEM, formando o União Brasil. A nova legenda se tornou a maior máquina partidária do país. Receberá quase R$ 1 bilhão para gastar em 2022.

Dorrit Harazim: Não sois rei

O Globo

Faltam 16 domingos para os 150 milhões de eleitores brasileiros se engalanarem no papel de protagonistas da História do país. Por um breve momento — pelo menos enquanto deposita sua esperança na urna eletrônica —, o eleitor tem o direito de se sentir participante do futuro nacional. É uma sensação valiosíssima, mesmo depois de esmaecer com o tempo ou devido a tropeços da vida. O voto democrático e universal, por ser igualitário, não revela quem somos. Revela apenas que existimos como cidadãos, o que é crucial num país de tamanha maioria invisível. Vinte anos atrás, neste mesmo espaço, escreveu-se que eleições são a única coisa com fila única de verdade no Brasil. Não existe título de eleitor goldpremier ou VIP. Nem título “terrivelmente evangélico” ou reservado a militares. O garoto candidato ao desemprego, o idoso esquecido pela vida, a mulher que rala e vota sozinha, o influencer incensado no TikTok, o próprio candidato a presidente — todos valem o mesmo na contagem dos votos. Nenhum Estado de Direito verdadeiramente democrático sobrevive numa sociedade que não leva a sério elementos básicos da vida cívica, como o respeito à verdade, à razão como meio de busca da verdade e o compromisso com o princípio fundamental da igualdade humana.

Eliane Cantanhêde: Todos contra todos

O Estado de S. Paulo

Nunes Marques, o Pazuello do STF, dá munição a Bolsonaro contra TSE, urnas e democracia

São três guerras simultâneas: o ministro do STF Kassio Nunes Marques cerra fileiras com o presidente Jair Bolsonaro no ataque ao TSE, os ministros do governo Ciro Nogueira e Fábio Faria, do Centrão, partem para cima de Paulo Guedes, da Economia, e o filho 02, Carlos Bolsonaro, bombardeia o marqueteiro do pai já na primeira peça de TV. Todos contra todos, sem essa de “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”.

Nunes Marques é para o deputado estadual Fernando Franceschini o que Bolsonaro foi para o deputado federal Daniel Silveira. Anular a condenação de um corresponde ao indulto presidencial do outro, com os mesmos objetivos: animar bolsonaristas que atacam as eleições, manter a campanha de descrédito das urnas eletrônicas e deixar as fake news correndo soltas.

Luciano Huck: Há muito jogo pela frente nestas eleições

O Estado de S. Paulo.

Uma frente programática contra a fome e para gerar oportunidades precisa surgir da energia de nossa indignação

Aos que teimam em dar as eleições como liquidadas, sugiro dar uma olhada no que aconteceu na Colômbia

O campo democrático deve reagir e apresentar ideias concretas para o País. Algo transformador precisa surgir da eletricidade de nossa indignação.

Era uma terça-feira aparentemente comum quando a bala perdida atravessou a janela da casa e matou a cabeleireira Gabrielle, moradora da comunidade da Chatuba, na cidade de Mesquita, Baixada Fluminense. Com 180 mil moradores, Mesquita tem dois dados reveladores: uma das maiores taxas de mortes por intervenção policial e uma das menores coberturas de serviço de esgoto do Rio de Janeiro.

É nessa mesma comunidade que mora em uma casa simples a Dona Zilda. Aos 62 anos, ela sustenta a família com a renda proveniente da coleta de recicláveis, somada aos bicos como pedreiro que vez ou outra pintam para o seu filho Carlos. Eu visitei a Dona Zilda no mês passado, atrás da história de uma bailarina.

A bailarina, Camila Moreira, de 16 anos, é neta da Dona Zilda e estudante da Escola de Dança do Theatro Municipal do Rio. Ela deu seus primeiros passos no balé aos 7 anos, em um projeto da ONG Instituto Novo Mundo, que a duras penas sobrevive na Chatuba. Quando a conheci, ela tinha um sonho e um problema. O sonho: conhecer Ingrid Silva, bailarina brasileira, negra como ela, que hoje integra o prestigioso Dance Theatre of Harlem, de Nova York. O problema: não ter dinheiro nem sequer para ir de ônibus diariamente para as aulas e os ensaios no Theatro Municipal. Os detalhes desta história convido você a conhecer numa das próximas edições do Domingão, se juntando aos mais de 40 milhões de brasileiros que me dão a honra da companhia toda semana na TV Globo.

A casa da jovem bailarina é típica dos recortes periféricos dos grandes centros urbanos. Muita gente, pouco espaço. Reboco por fazer, móveis simples e cortinas onde faltam portas aos batentes. Mas um detalhe chama a atenção: a cozinha, linda, com pisos e paredes recém-revestidos com cerâmica, uma reluzente bancada de inox, um fogão de seis bocas novinho em folha e uma imponente geladeira de duas portas. Dona Zilda, orgulhosa, dispara que tudo aquilo foi proporcionado pelo auxílio emergencial que amparou a família ao longo da pandemia.

Elio Gaspari: O saque na educação pública

O Globo / Folha de S. Paulo

O que acontece com o dinheiro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação é uma covardia

Houve tempos em que se roubava na licitação de plataformas da Petrobras. Bolsonaro insiste que em seu governo não há corrupção, mas o que acontece com o dinheiro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação é uma covardia. Avançam no dinheiro da educação pública. Em alguns casos, os mecanismos de controle do Estado impedem a consumação dos crimes. Em todos, ninguém é responsabilizado. O último ataque foi revelado pelos repórteres Patrik Camporez, Paula Ferreira e Aguirre Talento. A Controladoria-Geral da União pescou um edital para a compra de dez milhões de mesas e cadeiras escolares com um sobrepreço que poderia chegar a R$ 1,59 bilhão. O total da fatura chegaria a R$ 6,3 bilhões.

A CGU mostrou que oito empresas disputavam o negócio. Uma não tinha empregados e funcionava num condomínio residencial; uma segunda pertencia à filha do dono de outra participante do certame.

Desde 2020 o FNDE faz parte da reserva de caça do Centrão. Quem reclama dessa apropriação é o ex-ministro e Madalena Arrependida Abraham Weintraub. O atual presidente do Fundo chefiou o gabinete do senador Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil da Presidência.

Vinicius Torres Freire: Quanto vale o show do sertanejo

Folha de S. Paulo

Veja quanto cidades gastam em cultura e o peso dos eventos nos orçamentos

Um show sertanejo pode custar R$ 1,2 milhão para uma pequena prefeitura, soubemos por estes dias. Em alguns casos extremos, o gasto em uma noite de cantoria chega a quase R$ 100 por habitante da cidadezinha. Noutras, o cachê per capita é mais modesto, entre uns R$ 20 e R$ 60.

É muito dinheiro? Das cerca de 4.900 prefeituras que declararam gastos na "função cultura" em 2021, apenas 510 gastaram mais de R$ 1,2 milhão no ano passado. Em apenas 159 delas o gasto anual per capita em "cultura" foi maior do que R$ 100. São dados pescados no Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro.

O show parece caro, pois. Para fazer uma dessas comparações aleatórias das estatísticas da administração pública, um aparelho de ultrassom "seminovo" custa uns R$ 300 mil. Um trator superfaturado desses de emenda parlamentar do centrão custa R$ 500 mil (mas vale R$ 200 mil).

Janio Freitas: A feijoada de festa

Folha de S. Paulo

Licenciosidade antidemocrática faz do país um grande fim de festa

O esquisito regime brasileiro, feijoada institucional que leva pedaços de democracia e sobras variadas de ditadura, não é o mesmo dos três anos anteriores. Sendo brasileiro, muda para pior. Piorado, adquire desproporção crescente entre a vontade de democracia e o vício do autoritarismo. É a assimilação, como práticas normais no exercício de funções públicas, da licenciosidade de Bolsonaro ante os limites legais, morais e políticos.

Uma aberração assim veio em nome do Supremo. O guarda-costas de Bolsonaro no tribunal, Kassio Nunes Marques, cumpriu essa função como só na ditadura alguns ousaram. Sua pretensa argumentação para invalidar decisão do Tribunal Superior Eleitoral é muito mais do que anular a cassação de um deputado bolsonarista, por falsear notícias de fraude eleitoral.

Esse ocupante de uma cadeira no Supremo, por nomeação de Bolsonaro e aprovação do Senado, faz na decisão escancarada defesa de fake news como costume e como ativismo antidemocrático. Para isso, mente com a negação de efeitos maléficos das falsificações informativas, que não quer ver "demonizadas". Um juiz do tribunal constitucional contrário à Constituição e a eleições limpas.

Bruno Boghossian: A máquina da reeleição engasgou

Folha de S. Paulo

Humor atual do eleitor de baixa renda é quase tão ruim quanto antes do Auxílio Brasil

Seis meses depois de lançar seu programa social, Jair Bolsonaro colheu uma silenciosa indiferença dos eleitores que recebem o Auxílio Brasil. Apesar dos bilhões de reais em benefícios, o presidente enfrenta alguns de seus piores índices de popularidade nos grupos mais pobres do país.

A máquina da reeleição engasgou. A versão turbinada do Bolsa Família ainda deixa Bolsonaro muito distante da lua de mel que ele viveu em 2020, quando o governo pagou parcelas de R$ 600 do auxílio emergencial. Na época, o presidente alcançou um pico de aprovação e chegou a ter o apoio de 37% dos brasileiros de baixa renda. Hoje, a popularidade dele no segmento é de apenas 20%.

Muniz Sodré*: Novas astúcias para novos golpes

Folha de S. Paulo

Para Dussel, evangélicos seriam nova arma dos EUA para golpes na América Latina

Interlocutor expressivo de filósofos europeus contemporâneos, o argentino-mexicano Enrique Dussel é um dos maiores pensadores vivos da América Latina.

Extensa para um resumo, sua obra poderia, porém, ser caracterizada como uma reinterpretação dos Evangelhos pelos pontos de vista do que chama genericamente de "pobres", isto é, não apenas os destituídos de bens, mas também os que foram postos à margem das decisões constitutivas da história. Dussel enuncia agora, em termos bem claros, uma hipótese politicamente delicada: os evangélicos seriam a nova arma dos EUA para golpes de Estado na América Latina.

Isso viria de um novo tipo de olhar para a periferia dependente latino-americana após o fracasso das tentativas de dominação americana no Oriente Médio. Exemplo da mudança teria sido dado na Bolívia com a derrubada de Evo Morales.

Apesar de ter superado índices históricos de pobreza por meio de governos progressistas, o país também despertou para outras aspirações, que, para Dussel, confluem para uma mudança na subjetividade: "Passa-se à subjetividade consumista, que acredita que certos projetos de direita poderiam solucionar suas novas aspirações".

Alberto Aggio*: Colômbia sinalizará para a América Latina

Revista Será?

Penso, logo duvido (PE)     

Primeiro foi março desse ano que anunciou a vitória de Gabriel Boric nas eleições presidenciais do Chile. Em maio, com Gustavo Petro a esquerda conquista um posto no segundo turno nas eleições presidenciais colombianas. Petro recebeu 40% dos sufrágios, dobrando a votação de 2018, quando foi derrotado. Mais à frente, em outubro, todos os olhos estarão voltados para o Brasil, com Luiz Inácio Lula da Silva voltando a concorrer à presidência nas eleições de outubro.

O subcontinente latino-americano está em ebulição, mas certamente não em chamas. Há muito a esquerda abandonou as armas, “desceu a serra” ou deixou para trás a selva e optou pela democracia. Mas, como se sabe, a democracia é mais ampla e mais complexa do que apenas eleições. E, na sua complexidade, é preciso reconhecer que há entre nós diversas esquerdas. Boric, Petro e Lula são tão semelhantes quanto diferentes entre si, da mesma maneira que são as forças políticas que os apoiam, no governo ou fora dele, e a situação específica de cada um dos países em questão.

Poesia | Graziela Melo: Saudade eterna

Minha fantasia,

minha tristeza,

minha poesia!

Meu desespero,

minha agonia

 

Há um pranto

que choro

de noite,

 

O mesmo

que choro

de dia!!!

 

Alma dolorida,

desesperada,

sofrida!

 

Saudade

do filho

amado,

 

saudade

do filho

querido!

 

Se foi,

para não voltar

jamais,

 

viver

num mundo

distante,

num mundo

abstrato,

obscuro,

perdido!!!

Música | Elba Ramalho, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo: Asa Branca (Luiz Gonzaga)