Acusação de golpe é a mais grave numa democracia
O Globo
Investigação da conspiração para manter
Bolsonaro no poder deve prosseguir com o máximo rigor — e com serenidade
Uma investigação da Polícia
Federal (PF), conduzida com autorização do Supremo Tribunal
Federal (STF), apresentou evidências convincentes de que Jair
Bolsonaro, quando presidente, alguns de seus ministros, assessores
próximos, funcionários do governo e militares tramaram contra a soberania do
voto popular, preparando um golpe de Estado. São áudios, vídeos, mensagens de
texto e documentos que dão muita consistência às acusações. Não existe acusação
mais grave numa democracia. Por isso a investigação deve prosseguir com o maior
rigor — mas também com a máxima serenidade.
A Operação Tempus Veritatis, deflagrada ontem
pela PF com autorização do ministro Alexandre de
Moraes, do STF, investiga um grupo acusado de tramar um golpe de
Estado para manter Bolsonaro no poder desde quando era antevista a possível
derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva nas eleições de 2022. Segundo a PF, caso a derrota se concretizasse, um
plano previa a prisão de Moraes, do decano do STF, Gilmar Mendes, e de Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.
A PF diz que mensagens apreendidas na investigação mostram que Bolsonaro recebeu a minuta do decreto da prisão e a editou para retirar da lista de presos Gilmar e Pacheco — é a primeira vez que se menciona uma ação direta do então presidente nas tramas golpistas. Também sustenta que Bolsonaro convocou os comandantes das Forças Armadas ao Palácio da Alvorada para “pressioná-los a aderir ao golpe de Estado”. Suspeito de ter desempenhado papel central na trama em novembro de 2022, Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, foi um dos alvos da operação, e sua prisão preventiva foi decretada.