A presidente, Lula e o PT apostam no constrangimento de aliados que cogitem aderir a projetos alternativos liderados pelo governador Eduardo Campos e pela ex-ministra Marina Silva.
Estratégia de Dilma é constranger os aliados
No jogo da corrida pelo Planalto, PT promoverá eventos com objetivo duplo: exaltar as realizações dos governos petistas e fazer com que a base aplauda as conquistas. Dessa forma, a presidente terá munição contra quem cogitar desembarcar do projeto da reeleição
Denise Rothenburg, Helena Mader
Um evento para comemorar os 10 anos de governo do PT nesta quarta-feira é considerado por aliados e até adversários como a largada da campanha reeleitoral de Dilma Rousseff em duas frentes. A primeira, é propagandear as realizações desse período. A outra, começar a constranger os integrantes da base governista que cogitem aderir projetos alternativos. Em conversas reservadas, estrategistas ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Dilma consideram que, no momento em que um aliado aplaude o que vem sendo feito na gestão petista e tudo é devidamente registrado, fica mais difícil alguém da base sair desse projeto, porque estará sem discurso. E é esse jogo que começa esta semana.
Até agora, há dois potenciais adversários fora da oposição tradicional que preocupam o PT. O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, e a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que, no sábado, lançou as bases de seu novo partido — a Rede Sustentabilidade —, num encontro que reuniu cerca de 1,5 mil pessoas em Brasília. “Marina não nos mete medo. Nossa prioridade é reeleger a Dilma e fortalecer o PT. Quem quiser ser candidato, tudo bem. Marina não tem nada na cabeça, não tem ideologia. Eduardo Campos tem. É nosso aliado. Tem o direito de querer ser candidato. No entanto, precisa saber que o mesmo risco que corre o pau, corre o machado”, diz o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP).
O parlamentar é um dos poucos a dizer abertamente o que pensa a respeito das duas pré-candidaturas. Ele não acredita que petistas migrarão para o partido de Marina, embora muitos tenham desfilado no evento de lançamento da Rede. A aposta de Devanir, entretanto, faz sentido, porque, a esta altura do campeonato, ainda é incerto que Marina consiga vencer os entraves burocráticos para formalizar a Rede até setembro deste ano, ganhando, assim, passe-livre para concorrer às eleições de 2014.
O presidente do PT de São Paulo, deputado estadual Edinho Silva, vai na mesma linha de Devanir: “Estou entre os que defendiam que havia espaço no PT para a volta da Marina, porque o debate que ela propõe, de sustentabilidade, é uma das grandes prioridades do PT atualmente. Temos que respeitar a opção dela, mas não acredito que o nosso partido perderá quadros”, avalia. Edinho, no entanto, vê com mais naturalidade do que outros petistas o surgimento de novas apostas na política. “O partido não pode reagir às movimentações políticas. O PT tem a sua lógica, e não deve tomar atitudes que sejam de reação. Nossa prioridade é avançar na construção do governo Dilma e priorizar o fortalecimento nos estados”, garante.
Edinho Silva sonha com a manutenção da aliança com o PSB de Eduardo Campos. “Acho difícil que haja uma ruptura entre o PT e o PSB para 2014. O Eduardo Campos deve continuar na coalizão do governo Dilma, porque é uma liderança reconhecida e valorizada pelo PT, uma liderança muito leal a tudo o que o PT construiu, especialmente ao (ex) presidente Lula. Vejo Eduardo Campos como um grande aliado.” O petista nega que o evento em comemoração aos 10 anos do partido no governo, marcado para a próxima quarta-feira, em São Paulo, tenha como objetivo fortalecer a legenda para fazer frente ao crescente número de rivais em potencial. “Isso aqui não tem nada a ver com eleição, queremos comemorar os 33 anos do partido e os 10 anos de governo do PT”, diz.
O evento de São Paulo, entretanto, será o primeiro de uma série que o partido fará Brasil afora, com destaque para a Região Nordeste, sede da primeira reunião nacional do PT este ano (leia quadro ao lado). O ex-presidente Lula pretende aproveitar o encontro no Ceará — governado por Cid Gomes (PSB) — para atrelar o socialista à reeleição de Dilma. A iniciativa servirá para tirar fôlego de uma pré-campanha de Eduardo Campos no plano interno.
Infiltrados
Dentro do PT, há o receio de que Eduardo Campos acabe sendo levado a admitir uma candidatura com o discurso do tipo “meu partido deseja e esse projeto não é meu, é do partido”. Para evitar que isso ocorra, a ideia de Lula é cercar o PSB desde já. Iniciativas semelhantes a essa com Cid Gomes devem se repetir ainda no Piauí, também governado pelo PSB. Em breve, deve ser agendada ainda uma visita a Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo. Casagrande está no primeiro mandato e é candidato à reeleição no ano que vem. Há quem diga que, embora seja um dos mais próximos a Eduardo Campos, a aposta do PT é a de que Casagrande pode jogará contra a candidatura própria da sigla a presidente em 2014, de forma a segurar seu projeto estadual.
Esses três casos indicam que o PT buscará formas de encantar os socialistas nos estados a seguir no projeto da reeleição Dilma Rousseff. Assim, Eduardo Campos passaria a ter, dentro de “casa”, aliados infiltrados especialmente para defender a candidatura da presidente Dilma Rousseff. Os socialistas, entretanto, duvidam que o PT tenha sucesso nessa empreitada, e não tratam a presidente Dilma como adversária. “Não somos adversários da reeleição de Dilma. Os adversários são as circunstâncias que estão aí. O PT precisa saber que tem gente torcendo que ela vá mal, mas não é esse o nosso caso. O PT tem que se preocupar menos conosco e mais com os problemas do Brasil”, responde o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), com um alerta direto aos petistas no sentido de trabalhar mais e fazer menos política para manter os aliados.
Pé na estrada
Confira a programação partidária de Dilma e Lula prevista para as próximas duas semanas
São Paulo
Na próxima quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff desembarca em São Paulo. Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela participará de um evento em comemoração pelos 10 anos do PT no governo federal e pelos 33 anos do partido. O encontro vai reunir integrantes do diretório nacional da legenda, além de cerca de mil militantes de todo o Brasil. A celebração do PT é vista como uma oportunidade para reafirmar publicamente a união da legenda em torno de Dilma e refutar as suspeitas de que haveria uma crise ética na sigla por conta do julgamento do mensalão.
Ceará
Em 1º e 2 de março, haverá uma reunião do diretório nacional do PT em Fortaleza. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é esperado para a reunião e existe uma grande expectativa de que Dilma também compareça ao evento. Assim como o encontro em comemoração aos 10 anos do PT no governo, que será realizado em São Paulo, o evento de Fortaleza também deve celebrar a data.
“Marina não tem nada na cabeça, não tem ideologia. Eduardo Campos tem. É nosso aliado. Tem o direito de querer ser candidato. No entanto, precisa saber que o mesmo risco que corre o pau, corre o machado” (Devanir Ribeiro, deputado do PT-SP)
“Não somos adversários da reeleição de Dilma. Os adversários são as circunstâncias que estão aí. O PT precisa saber que tem gente torcendo que ela vá mal, mas não é esse o nosso caso. O PT tem que se preocupar menos conosco e mais com os problemas do Brasil” (Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara)
Fonte: Correio Braziliense